Roxie Rivera - 09 - Ivan 2

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Nix

Aine/Hígia

Taciana/Afrodite

Kytzia/Cibele

12/2020



Depois de um ano cheio de drama e perigo, Erin e Ivan estão prontos para se concentrar no que eles mais desejam - começar uma família. Quando ela tem outro teste negativo, Erin se preocupa que haja algo errado com ela. Ivan diz a sua esposa para não se preocupar, porque isso vai acontecer quando for para acontecer. Ele odeia vê-la estressada e faz de tudo para fazê-la feliz. Mas, quando a irmã rebelde de Erin é libertada da prisão, ele hesita em permitir que Ruby more em sua casa. Ele está preocupado que ela não tenha mudado e que Erin acabe se machucando novamente. Os problemas seguem Ruby ao sair da prisão, e Ivan se vê diante de um problema intransponível. Se ele não puder salvar a vida de Ruby, ele vai perder tudo, inclusive Erin


CAPÍTULO 01 Passo. Juntos. Passo. Toque. Tentando manter minha coluna alongada e meus pés ágeis, eu dançava pela barra de madeira reluzente no estúdio. Estávamos na metade do nosso treino e eu já estava suando através da minha camiseta e legging. A mistura de cardio e trabalho de perna estava me matando. —E vamos adicionar um arabesco! —Mitzi gritou da frente do estúdio, onde deslizava de lado a lado com a facilidade de uma dançarina profissional. Passo. Juntos. Passo. Em cima. Quando eu era uma garotinha na aula de balé, esse era um dos meus movimentos favoritos, e eu sorria com o esforço, levantando os braços no alto como se estivesse voando. Meus pensamentos voltaram naturalmente aos recitais de infância, o nervosismo e a excitação de deslizar pelo palco em um tutu fofo e coque polvilhado com glitter. Memórias de Ruby, memórias incríveis, voltaram enquanto eu espelhava Mitzi para a próxima sequência de movimento. Plié. Relevé. Ruby e eu tínhamos participado de diferentes aulas de dança. Ela gravitou em torno do hip hop e do jazz enquanto eu era uma garota de balé desde a primeira vez que nossa mãe me levou ao estúdio, aos quatro anos de idade. Enquanto eu era uma dançarina forte, Ruby era uma estrela. Como toda irmã mais nova que admirava sua irmã mais velha, eu adorava observá-la e imitá-la. Naquela época, Ruby recebia minha atenção. Éramos muito unidas – duas irmãs que compartilhavam tudo. Até as drogas.


—Vamos para a primeira posição. —Mitzi gritou sobre a música. —E agora, sauté! Ao meu lado, Zoya saltou como a mais graciosa bailarina russa. Lancei um olhar irritado para minha amiga enquanto ela executava cada movimento na barra com a perícia de uma dançarina que tinha sido treinada classicamente quando criança. Meus saltos não eram tão altos quanto os dela, provavelmente porque eu tinha cerca de sete quilos extras de biscoitos e tortas de Natal pesando sobre mim. Fiz uma careta para o meu reflexo nos espelhos da sala de aula, certa de que conseguiria ver o peso extra balançando enquanto aterrissava. Eu queria culpar Vivian por oferecer o melhor jantar de Natal que eu já tinha ido, mas minha força de vontade foi a culpada. Eu tinha cedido aos meus sentimentos e enfiado duas porções de recheio e caçarola de batata doce na minha boca antes de atacar a mesa de sobremesas e beber Hot Toddies1 e vinho com especiarias. Dois dias depois, eu ainda estava inchada. Parte disso era provavelmente pelo meu ciclo menstrual, mas a maior parte era devido ao álcool e carboidratos destruindo meu sistema digestivo. Quando Mitzi nos dirigiu para a barra, afastei os fios de cabelo soltos da testa e os coloquei de volta sob a faixa de cabelo. Eu tinha decidido deixar meu cabelo crescer, e estava naquele estágio estranho em que não era longo o suficiente para um rabo de cavalo ou coque. Holly sempre me oferecia para colocar apliques, e eu estava muito tentada a agendar um horário antes da festa de gala de arrecadação de fundos Jeans e Diamantes, na véspera de Ano Novo. Talvez eu devesse perguntar a Zoya o que ela pensa. —Primeira posição. —Anunciou Mitzi. —E battement frontal. Dois. Três. Quatro. Lado. Dois. Três. Quatro. E volta. Dois. Três. Quatro.

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O Hot Toddy é basicamente um quentão de whisky.


Com o padrão de movimento explicado, acompanhei enquanto tentava manter minha postura. Eu tendia a inclinar meus quadris para frente e curvar minhas costas, então fiz um esforço consciente para me manter ereta e alta e apontar minha perna corretamente. Depois de algumas rodadas, minha coxa estava queimando com o esforço. Eu queria abaixá-la um ou dois centímetros para aliviar a dor, mas a voz rouca de Ivan me veio de repente à mente, me persuadindo a continuar, da mesma forma que ele fazia com seus lutadores. A imagem dele parado ao lado de uma aula de barras, os enormes braços tatuados cruzados enquanto ele gritava em uma mistura de russo e inglês, me fez sorrir. Seu estilo de treinamento extremamente disciplinado e cheio de energia era um contraste completo com os métodos amigáveis e instrutivos de Mitzi. Ela gostava de conversar conosco enquanto entrávamos para a aula e lentamente começávamos a fase de alongamento. De jeito nenhum Ivan aceitaria seus alunos entrando lentamente e conversando. Ele estaria no corredor, batendo palmas enquanto gritava: — Davai! Davai! Davai! (Vamos lá! Vamos lá! Vamos lá!) —O que é tão engraçado? —Zoya perguntou enquanto trocávamos as pernas. —Imagine Ivan como nosso professor de barra. —Eu ofeguei. Ela bufou de brincadeira. —Ele nos faria balançar kettlebells2 na barra. Nós compartilhamos uma risadinha particular e continuamos a dançar. A queimadura diminuiu na minha perna apoiada no chão, mas logo se transferiu para o outro lado. Tentei me concentrar no

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Kettlebell é um equipamento utilizado no mundo antigo para exercícios musculares. Trata-se de uma bola de ferro fundido com uma alça.


resultado, pernas firmes, mas magras, e uma bunda tonificada e empinada. Em nunca seria uma atleta como Ivan, mas gostava de ficar em forma e ficar bem. Eu também queria estar saudável para quando tivermos um bebê. Se algum dia tivermos um bebê... A nuvem negra de infertilidade pairava sobre mim enquanto eu seguia as instruções de Mitzi para o novo movimento, combinando plié, coupé e attitude. Ainda tendo vinte e poucos anos, meu médico não me indicou um especialista antes de tentarmos por mais de um ano. Este último ciclo fracassado cumpria este prazo, e eu já havia conseguido um encaminhamento para a clínica de minha escolha. Meus ciclos vinham como um relógio e Ivan era insaciável, então eu não conseguia entender por que não estava funcionando. Era difícil ver meus amigos tendo bebês com tanta facilidade. Benny, Vivian e Bianca não tiveram problemas para engravidar. Fiquei muito feliz por eles, adorava a filhinha de Benny e mal podia esperar os bebês de Vivian e Bianca chegarem. Mas isso doía. Eu odiava me sentir assim. A culpa de ser tão invejosa era difícil de lidar. Graças a Deus pude sempre contar com o apoio de Lena. Ela nunca me e julgou e sempre soube exatamente o que dizer. Ela até mesmo se ofereceu para ser uma barriga de aluguel. Ivan era igualmente doce. Ele não fazia nenhum tipo de pressão e eu realmente acredito que ele não me culpava de forma alguma. Obviamente, ele queria um bebê tanto quanto eu, mas me deixou definir o ritmo e tomar as decisões. Ele estava disposto a ir tão longe quanto eu quisesse – até mesmo a fertilização in vitro – e deixou claro que não queria que eu sequer pensasse no custo. Então, eu não pensava. Eu tinha escolhido o melhor especialista em reprodução em Houston e planejava que meu médico atual me encaminhasse para ele. —Cuidado com a postura. —Mitzi colocou a mão nas minhas costas e deu um empurrão suave para realinhar minha coluna. —


Mantenha o queixo erguido. Pulmões abertos. Bem desse jeito. Bom. Muito bom. Tirada dos meus pensamentos perturbadores, concentrei-me no restante da aula. Quando chegamos a um passé, certifiquei-me de deslizar as pontas dos meus dedos ao longo da minha panturrilha até que descansassem um pouco acima do meu joelho, ao mesmo tempo mantendo meu peso totalmente na minha perna de pé. Depois de alguns segundos exaustivos mantendo a posição, passamos do passé para um lunge. O ritmo deliberado fez minhas coxas tremerem e meus músculos abdominais protestarem quando terminamos com todas as repetições dos dois lados. Quando finalmente chegou a hora de terminar a sessão com alongamentos lentos e fáceis e um pouco de ioga, quase gritei de alívio. De costas, inspirei profundamente e exalei todo o estresse da lista de tarefas aparentemente interminável que nunca saía da minha mente. Eu queria ficar no momento. Eu queria aproveitar a onda de endorfinas de um treino completo e uma sensação de realização. —Senhoras, que ótima aula tivemos hoje! —Mitzi bateu palmas na frente da classe enquanto nos levantávamos. Seu rabo de cavalo loiro balançou quando ela disse: —Vamos fazer uma grande reverência a nós mesmas. Nós merecemos esta manhã! Depois de nossas reverências graciosas, a aula terminou. Zoya puxou o elástico de cabelo do rabo de cavalo frouxo e o prendeu em um coque mais firme. —Quer tomar um café? —Claro. —Enrolei meu tapete de ioga, calcei meu tênis, vesti o agasalho com capuz muito grande que roubei do lado do closet de Ivan e peguei minha garrafa térmica de água rosa flamingo. Saímos da sala de aula juntas, parando na porta para agradecer a Mitzi por mais uma ótima aula. Lá fora, no saguão do estúdio, meu olhar se desviou para o quadro de avisos e um folheto amarelo brilhante para uma nova turma. Fui até ele enquanto Zoya falava com


Mitzi sobre os cursos de pilates e lia as informações impressas no folheto. —Ioga para casais? —Zoya leu ao se juntar a mim no quadro de avisos. —Se você convencer Ivan a ir e tirar uma foto, vou projetar uma placa comemorativa especial e uma moldura para a foto de prova. Eu ri e tirei uma foto do panfleto para mais tarde. — Combinado. —Eu adoraria criar algo diferente de anéis de noivado e pulseiras para mães. —Disse ela enquanto nos dirigíamos para as portas duplas. —Perdi a conta de quantas peças de última hora vendemos para clientes no período que antecedeu o Natal. Por um lado, é incrível saber que tantas pessoas querem usar minhas joias. Por outro lado, estou exausta. —Então, tire férias. —Sugeri enquanto saíamos para a manhã fria e chuvosa. Eu enruguei meu nariz com o tempo sombrio. — Pegue um voo para algum lugar tropical. Aproveite o sol e a areia enquanto o resto de nós lida com isso. —Eu gostaria, mas não posso deixar meu pai aqui. Ele odeia praias. —Ela explicou enquanto caminhávamos pela passarela coberta do shopping center. —Ele também odeia tirar qualquer folga da loja. Sabendo o quanto ela era próxima de seu pai, decidi não apontar que ele era um homem adulto que conseguia cuidar de si mesmo. Ela e seu pai haviam fugido de Moscou no meio da noite, quando ela era apenas um bebê, depois que sua mãe testemunhou um assassinato e foi morta para ser calada. Pelo que Ivan me contou, eles mal escaparam a tempo, e de alguma forma conseguiram cruzar para a Estônia antes de fazer a viagem para a Finlândia e depois para os EUA, para a família em New York.


—Bem, talvez tirar algumas horas dos dias? Ir a um spa? Fazer uma massagem? Fazer algum autocuidado? Ela ergueu a mão e examinou o esmalte lascado. —Eu preciso mesmo de uma manicure. —Aí está. —Peguei a maçaneta da porta do café que gostávamos de ir. —Agende um horário no Allure. Holly e sua equipe cuidarão bem de você. —Eu preciso de um corte antes da festa de gala. —Ela disse, me seguindo até a loja deliciosamente perfumada. —Estou pensando em apliques. —Admiti enquanto entrávamos na fila do balcão. —O que você acha? Eu devo? Ela estudou meu cabelo por um momento. —Eu acho que você fica linda com o cabelo curto, e tenho certeza que ficará linda com o cabelo mais comprido. —Você realmente é a mais doce. —Eu disse, sorrindo para ela. —Não tão doce. —Ela riu e entrou na minha frente para fazer seu pedido. Antes que eu pudesse pegar meu telefone para pagar, ela tocou o dela no leitor de cartão e pagou meu café açucarado e um muffin gigante de chocolate. Quando nos sentamos perto da janela, ela olhou para minhas escolhas extraordinariamente ricas em carboidratos e calorias. —Você não estava reclamando do ganho de peso do feriado antes da aula? —Bem, quero dizer, sim, mas as festas ainda não acabaram, certo? Ainda temos o Ano Novo, então realmente não faz sentido começar a fazer dieta agora. —Raciocinei antes de dar uma enorme mordida no muffin delicioso. Ela bufou com diversão e tomou um gole de seu Café Americano escaldante. —Certifique-se de tirar os restos de todas as migalhas de chocolate antes de chegar ao Armazém.


Agora, foi minha vez de bufar com diversão. —Você está brincando comigo? Ivan sabe que não deve falar nada sobre o que como. —Presumo que ele aprendeu isso da maneira mais difícil? —Seu coração estava no lugar certo, mas sua mente? —Eu balancei a cabeça. —Nós concordamos que, desde que eu tenha um almoço e jantar saudáveis, o que eu faço no café da manhã e lanches não é da conta de ninguém, apenas minha. E, de qualquer maneira. —Eu disse com um encolher de ombros. —A ideia dele de um café da manhã saudável é uma dúzia de ovos, uma jarra de liquidificador cheia de algum shake de proteína bruta e, tipo, quatro galões de água. —Eu fiz uma careta. —Não, obrigado. —Eca! Ele realmente come uma dúzia de ovos todas as manhãs? —Não, não realmente. —Eu admiti. —Ele faz um shake de proteína e toneladas de água antes de sair para a corrida matinal. Em seguida, são quatro ou cinco ovos mais um salmão ou bife e uma pilha de vegetais como couve, tomate ou batata-doce. Ele come algum tipo de iogurte grego com frutas no meio da manhã. Depois almoça, faz o lanche da tarde e jantar. O queixo de Zoya caiu. —Quanto custa alimentá-lo por mês? —Uma quantia obscena. —Murmurei e bebi meu café. —Mas, toda vez que rosno para ele sobre a conta do supermercado, ele encontra maneiras de me distrair. —Uh-huh. —Disse ela com conhecimento de causa. — Aposto que sim. Nós rimos, mas deixamos o assunto terminar aí. Um café movimentado não era o lugar para discutir esses tipos de detalhes obscenos.


—Então, eu ouvi de um amigo que trabalha em certa empresa de relações públicas que a academia de Ivan está sendo considerada o acampamento anfitrião para a próxima temporada daquele programa de luta amadora. —Disse Zoya em um tom de fofoca. —Verdade? Eu ri. —Pelo bem do seu amigo, espero que Lena não descubra que alguém está contando segredos. Ela vai liberar seu lado de mulher dragão. Zoya sorriu. —Eu nunca revelo minhas fontes. —Uh-huh. —Bebi minha bebida agradavelmente quente. — Verdade. —Emocionante! Dei de ombros. —Está no início do processo. Ivan ainda não tem certeza se concordará em deixá-los usar a academia. Ele é muito protetor com o Armazém e seus lutadores. Além disso. —Eu suspirei. —Há todo aquele, bem, você sabe, não ângulo da vida dele. Ele não quer chamar a atenção para isso. —Compreensível. —Odeio como as escolhas que ele fez quando era jovem – realmente muito jovem – estejam impactando-o agora de uma forma que ele nunca poderia ter previsto naquela época. —A vida é uma merda. —Ela comentou, não de forma grosseira. —Mas as pessoas perdoam e o campo em que ele está não se afasta exatamente dos arruaceiros. Isso pode torná-lo ainda mais popular como treinador. —Talvez. —Sem muito mais o que dizer sobre isso, perguntei a ela sobre a próxima festa de gala Jeans e Diamantes e as peças que Zoya havia doado para o leilão silencioso. Ela foi bastante modesta sobre o fato de suas joias terem sido exibidas em todas as promoções do evento.


—Você pode minimizar o quanto quiser. —Eu disse enquanto separava nossos recicláveis do lixo nas lixeiras perto da porta. —Mas Savannah usou suas joias por um motivo. Ela sabe que é um chamariz e que haverá lances acalorados para cada peça. Você deveria usar isso em seu benefício. Atrair mais clientes. —Temos uma forte base de clientes. —Ela comentou e abriu a porta. —Não sei se posso lidar com muito mais encomendas. —Você e seu pai já pensaram em expandir? Adicionar mais funcionários na produção? —Falamos sobre isso o tempo todo, mas ele hesita em trazer qualquer outra pessoa para nossa pequena empresa. É frustrante, especialmente quando estamos atolados de trabalho, mas entendo por que ele quer assim. Ele está protegendo o que construiu e garantindo que continue sendo algo pequeno e íntimo. Há uma razão pela qual podemos cobrar o que cobramos por nossas peças. —Isso é verdade. —Puxei o capuz do meu moletom emprestado sobre a minha cabeça como uma proteção contra a garoa fria e fiz uma careta. Como se estivesse lendo minha mente, ela disse: —Pelo menos não está nevando. —Graças a Deus. —Eu concordei. —Não fomos feitos para dirigir no inverno por aqui. —Você deveria ouvir meu pai quando ele está dirigindo e há gelo. Sempre tenho medo de que ele tenha um derrame gritando com os outros carros. —Eu posso imaginar. —Uma lembrança de Ivan enlouquecendo me veio à mente. —Durante a tempestade de gelo do inverno passado, Ivan estava nos levando para jantar, e a merda que saía de sua boca era espantosa. Sério, foram muitos palavrões russos saindo de sua boca em combinações que eu nunca tinha imaginado. Eu queria anotá-los, mas ele me proibiu.


Ela riu. —Tenho certeza que sim. Fazendo minha melhor e profunda imitação de meu marido, eu disse: —Não, nunca repita isso! Essas palavras são muito desagradáveis para sua boca bonita. Zoya deu uma risadinha. —É uma imitação muito boa dele. —A da minha irmã é melhor. —Comentei. —Claro, ela geralmente faz isso para me irritar. Zoya sorriu com simpatia. —Quando ela sai? —Alguns dias depois do Ano Novo. —Tão rápido? —É mais tarde do que esperávamos. —Expliquei. —Ela se meteu em problemas alguns meses atrás, e isso significou que ela teve que cumprir mais de sua sentença atrás das grades. Ela ainda tem muito tempo de liberdade condicional, no entanto. —Você acha que ela vai ficar bem agora? Ficar limpa? —Não sei. —Admiti com relutância. —Espero que sim. Eu quero que ela seja saudável e feliz novamente. Do jeito que ela era antes das drogas. —Acrescentei. —Mas sei que isso pode não ser possível. Tenho ido a reuniões para familiares de viciados em drogas. Para me preparar para quando ela sair. —Expliquei. —E uma das coisas que aprendi é que preciso deixar de lado a ideia de que ela é a mesma pessoa que era antes das drogas. Ela foi mudada pelas experiências, e eu tenho que me lembrar disso e aceitar e amar essa nova versão mudada dela. —Espero, pelo bem dela e do seu, que ela esteja num caminho melhor. —Disse Zoya com sinceridade. —Ela vai para uma casa de recuperação? —Não, vamos deixá-la ficar conosco até que ela se recupere. —Meu estômago se apertou de ansiedade. O atrito antecipado entre


meu marido e minha irmã fez meu coração disparar e aquela dose de cafeína que eu tinha acabado de ingerir não estava ajudando em nada. —O que foi? —Ela perguntou enquanto cruzávamos o estacionamento para nossos veículos. —Ivan e Ruby não se dão bem. —Na verdade, eles se odeiam e eu odeio estar no meio disso. —Ah, não. —Ele a culpa por todos os problemas que ela causou e pela maneira como ela quase me matou, e ela o culpa por me arrastar para o meio de suas conexões e pelo meu sequestro. —Caramba. —Sim. —Abri minha bolsa e comecei a procurar minha chave. —Ivan prometeu que fará o possível para não responder quando ela tentar arranjar brigas, e ela prometeu que não cutucará o urso, por assim dizer. —Quanto tempo você acha que essas promessas vão durar? —Ivan nunca quebrou uma promessa para mim, mas Ruby quebrou tantas que perdi a conta. —Aborrecida por minha felicidade pós-treino ter sido esmagada por pensamentos de minha irmã e marido na garganta um do outro, continuei procurando em minha bolsa pela minha chave. —Mas estou empenhada em dar a ela uma segunda chance. Vou virar a página e tentar lembrar que ela está recomeçando depois de uma experiência traumática. —Ela pode te surpreender. —Sugeriu Zoya. —Ela pode ter mudado para sempre desta vez. Algumas pessoas mudam depois de chegar ao fundo do poço. —Espero que sim. —Eu finalmente encontrei minhas chaves no fundo da minha bolsa de couro muito grande e abarrotada. Olhei para cima para perguntar a Zoya se ela gostaria de almoçar no final da


semana e imediatamente notei os dois homens com máscaras de esqui pretas caminhando em nossa direção. —Zoya! Corra! Eu a agarrei pelo braço antes mesmo que ela registrasse minha instrução e a puxei para longe dos homens que agora corriam em nossa direção. Ainda segurando seu braço, me virei para correr em direção ao estúdio – e bati direto no peito de um homem maior usando uma máscara semelhante. Eu congelei enquanto os flashbacks do meu sequestro me vinham à mente. Foi apenas tempo suficiente para os outros dois homens nos alcançarem. Um homem me agarrou por trás, mas as lições de defesa pessoal que Ivan me deu desde o meu sequestro começaram a funcionar no piloto automático. Abaixei meu queixo, impedindo que ele pressionasse seu antebraço em minha garganta, e dei um passo para o lado. Ele tentou me puxar com mais força, mas eu agarrei seu pulso com minha mão direita e arranhei seu braço. Cerrei meu punho esquerdo e o joguei para trás o mais forte que pude, batendo em sua virilha duas vezes. —Cadela! —Ele rosnou, inclinando-se para frente com dor. Lembrei-me exatamente do que Ivan tinha me ensinado e joguei meu cotovelo no rosto do meu agressor. Ele gritou de dor e cambaleou para longe de mim. —Zoya! —Gritei o nome dela enquanto a via tentando lutar contra seus dois agressores. Sentindo-me encorajada depois de derrubar um homem, eu me lancei no homem à direita dela, pulando em suas costas e socando-o no pescoço e na lateral do rosto. Ele gritou e tentou me jogar do chão, sacudindo violentamente de um lado para o outro enquanto estendia a mão para trás para acertar em minhas mãos e rosto. Ele fez uma boa conexão, batendo com os nós dos dedos na minha bochecha logo abaixo do meu olho, e me derrubou. Com um grito de dor alto, bati com força no pavimento. Estendi a mão para tocar meu rosto latejante e senti sangue. Ele já tinha voltado a tentar arrastar Zoya com seu


amigo. Furiosa por ele ter conseguido me machucar, eu me levantei, agarrando minha bolsa caída e a lancei nele com cada grama de força que pude reunir. Ela o acertou na cabeça e ele caiu como um saco de pedras. Pela primeira vez, minha bolsa cheia demais tinha sido útil. Corri para o homem que tentava jogar Zoya no chão e o chutei entre as pernas, acertando a ponta do meu tênis em seu ponto mais vulnerável. Ele fez um som como nada que eu já tinha ouvido, uma mistura de choro e grito, e desabou. Zoya cambaleou para longe dele e veio em minha direção. Mas minha onda triunfante de adrenalina durou pouco. Não havia como confundir a sensação do toque frio de aço na minha nuca. O homem contra quem eu havia lutado primeiro tinha recuperado o equilíbrio e pressionava uma arma na minha pele com tanta força que estremeci. Não ousei tentar escapar, não com uma pistola carregada tão perto do meu cérebro. Quando ele me empurrou contra a porta do meu carro, eu não lutei contra ele. Ele pressionou seu corpo contra o meu, empurrando sua virilha contra minha bunda de uma forma que fez meu estômago embrulhar. Zoya foi empurrada para o meu lado e trocamos olhares de pânico. O som de vozes gritando vindo das empresas atrás de nós me deu uma explosão de esperança, mas foi rapidamente apagada quando o terceiro homem disparou vários tiros para o ar. —Dê-me suas joias. —O homem que me segurava rosnou. Com as mãos trêmulas, estendi a mão e soltei os brincos de diamante em minhas orelhas. Eu os entreguei, e ele agarrou minha mão esquerda, empurrando o joelho entre minhas pernas para me segurar no lugar. Quando percebi que ele estava tentando tirar minha aliança de casamento e anel de noivado, comecei a lutar. —Não! Esses não!


Ele bateu na parte de trás da minha cabeça e fui lançada para frente, batendo meu rosto na estrutura da porta do meu carro. —Vou levar o que eu quiser, porra. Com força suficiente para me fazer gritar de dor, ele arrancou os anéis da minha mão esquerda e depois agarrou a minha direita para tirar os dois anéis de ouro que eu usava juntos no meu dedo anelar. Ivan tinha me pedido em casamento com cinco anéis de ouro, um pedido doce e romântico enquanto minhas canções de Natal favoritas tocavam, e eu geralmente usava pelo menos dois deles todos os dias. Fiz uma oração silenciosa de agradecimento por ter deixado dois em casa naquela manhã. Colocando a boca perto da minha orelha, meu agressor sibilou: —Diga à sua irmã para manter a porra da boca fechada ou estaremos de volta atrás de vocês duas. Ruby, o que diabos você fez agora? Enquanto tentava entender sua ameaça, eu tremia com soluços de repugnância quando ele apalpou minha bunda e deslizou a mão em direção à minha virilha, passando os dedos por partes que pertenciam apenas ao meu marido. Sabendo o quão possessivo Ivan poderia ser, afastei meu rosto e assobiei: —Meu marido vai matar você por isso. O homem riu. —Ele pode tentar. De repente, fui jogada para longe do meu carro, caindo em minhas mãos e arranhando-as. Zoya foi jogada ao meu lado. Eu a agarrei, arrastando-a para mais perto e atrás de mim. Enquanto um homem apontava a arma para o shopping atrás de nós, outro pegou nossas bolsas e telefones. Aquele que me apalpou quebrou as janelas do meu carro e, em seguida, enfiou a mão na mochila que um deles tinha trazido e tirou um par de garrafas com trapos enfiados dentro. Quando ele tirou um isqueiro do bolso, empurrei Zoya para trás. —Vá! Corra!


Com uma explosão de calor e vidros estilhaçados, meu carro pegou fogo e os agressores fugiram de cena. Atordoada com o ataque violento, agarrei-me à Zoya enquanto observava o carro que eu trabalhei tanto para pagar sendo engolido por um inferno escaldante. Minhas preocupações em trazer Ruby para casa não pareciam mais tão importantes. Havia algo muito, muito pior vindo para mim – e para o homem que eu amava.


CAPÍTULO 02 De braços cruzados, Ivan observava Boychenko tentar um estrangulamento D'Arce3 no topo da meia-guarda. O garoto tinha um talento natural, mas parecia distraído esta manhã. Balançando a cabeça, Ivan caminhou pelo tatame. —Não. Não. Não. —Não? Por quê? —Boychenko soltou Kir, seu parceiro de luta pela manhã, e se agachou. —Sua posição é uma merda. —No tatame, Ivan fez um sinal para Kir ajudar a demonstrar os movimentos adequados. Com a perna travada entre as de Kir, Ivan deslizou seu braço direito sob o esquerdo de Kir até que pudesse agarrar a parte de trás da cabeça dele. Ele repetiu o movimento e perguntou: —Está vendo a posição do meu pulso antes de eu agarrar a cabeça dele? —Sim. —Você está virando seu pulso para fora e isso facilita a luta de Kir. —Abaixo dele, Kir relaxou seu braço e jogou a cabeça para trás, habilmente saindo do estrangulamento. —Está vendo? Boychenko acenou com a cabeça. —Eu vejo. —Quando você entrar com o braço direito, mova o esquerdo assim e use a mão para puxar a cabeça dele em sua direção. —Ele mostrou o movimento duas vezes. —Você não pode estrangular nesta posição, certo? Você continua levantando o braço esquerdo longe de Kir, mas precisa mantê-lo pressionado contra a cabeça

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O triângulo de braço é uma das finalizações mais eficiente do Jiu-Jitsu. A técnica é muito utilizada principalmente em torneios sem quimono e em lutas de MMA.


dele. Está vendo? Você passa o braço pela nuca dele, empurra-o contra o peito e depois figure four4. Basta esmagá-lo com força, sim? Kir grunhiu com desconforto embaixo dele, mas não bateu. Ivan afrouxou um pouco e disse: —Então você o leva de volta ao tatame. —Por que não posso simplesmente estrangular aí? —Porque você não é grande o suficiente. —Ele respondeu com naturalidade. —Lembra quando conversamos sobre biomecânica? Era isso que eu queria dizer. Veja. Kir prendeu a perna de Ivan entre as suas, e Ivan avançou com a finalização, demonstrando os passos no ritmo regular de luta. Quando ele empurrou Kir de volta para o tatame, levou apenas um segundo para que o outro homem batesse em seu braço. Ivan o soltou imediatamente e se agachou. —Viu a diferença? —Sim. —Mostre-me. —Ordenou Ivan, permanecendo no chão enquanto Boychenko provava que estava prestando atenção. Quando o garoto mostrou um melhor entendimento do movimento, ele começou a mostrar como usar o estrangulamento vindo da montada lateral. Ele estava deixando Kir demonstrar sobre ele quando Paco, seu treinador de boxe de longa data, correu o mais rápido que suas velhas pernas permitiam. —Vanya! —Ele acenou com um iPhone no ar. —Acho que você precisa atender seu telefone. Tem tocado sem parar na sua mesa. Franzindo a testa, ele se afastou de Kir e pegou o telefone de Paco. Havia onze chamadas perdidas de números que ele não

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Nome de um golpe de luta.


reconhecia, três de Nikolai e uma de Besian. Havia uma mensagem do albanês que dizia simplesmente: Ligue para mim agora! Ele olhou para a hora e percebeu com um baque nauseante que Erin estava atrasada para voltar de sua aula de barra. Mesmo se ela tivesse ido para o seu café habitual depois da aula com Zoya, ela já deveria ter voltado, e ela sempre mandava mensagens para ele se fosse se atrasar. A falta de contato dela, os números desconhecidos, a ligação de Nikolai e a mensagem de Besian fizeram seu coração disparar em seu peito. Ele teve flashbacks repentinos da noite em que descobriu que ela havia sido sequestrada e sentiu um pânico frio dominá-lo. O telefone tocou novamente, tirando-o de suas memórias perturbadoras. Ele atendeu rispidamente. —Alô? —É o Sr. Markovic? Ele não reconheceu a voz da mulher do outro lado da linha e começou a correr em direção ao escritório que dividia com Erin. — Sim. —Sr. Markovic, sou a sargento Levy do Departamento de Polícia de Houston. Estou ligando para informar que sua esposa esteve envolvida em um assalto e agressão. Seu coração acelerou dolorosamente no peito. Ele agarrou o telefone com força. —Ela está machucada? —Sim, mas não é sério. —A sargento assegurou-lhe rapidamente. —Ela e sua amiga foram levadas de ambulância para o HCA Houston, na Hermann. —HCA Houston, na Hermann. —Ele repetiu, pegando as chaves e a carteira da gaveta da mesa. Ele tentou afastar as imagens horríveis de Erin sangrando e ferida de sua mente e se concentrar no que a sargento estava dizendo a ele.


—Em relação ao carro, o incêndio foi apagado pelo Corpo de Bombeiros de Houston. Vamos rebocá-lo para o lote de evidências, por enquanto. Um policial está esperando para falar com sua esposa e a amiga dela no pronto-socorro. Ele pode fornecer as informações de que você precisa sobre como essa situação irá progredir. —Sim. Tudo bem. —Ele calçou os tênis e tirou o agasalho da cadeira onde o havia jogado antes. —Estaremos acompanhando quando informações das testemunhas no local...

tivermos

mais

Ele nem estava prestando atenção enquanto saía correndo da academia. Ele reagiu como um robô, respondendo à sargento quando necessário enquanto corria para seu SUV. Ele acelerou para fora do estacionamento recém reformado, outra das mudanças muito necessárias de Erin no armazém, e foi para a rua, sinalizando rapidamente e mudando para a faixa de conversão para que pudesse seguir para o hospital. A culpa azedou seu estômago ao pensar em todas as chamadas perdidas. Há quanto tempo eles estavam tentando falar com ele? Erin tinha perguntado por ele? Seu estômago apertou quando ele pensou nela sozinha e chorando na parte de trás de uma ambulância. O que diabos significava não é sério? Ossos quebrados? Um ferimento aberto na cabeça? Um olho roxo? Uma mandíbula quebrada? Ele tinha visto o resultado de lutas o suficiente para saber quão pouca força era necessária para esmagar um corpo humano. Erin tinha o corpo de uma dançarina, pequeno com curvas que ele tinha memorizado com as mãos e boca, e ela não era páreo para qualquer homem em uma luta. Ele a ensinou como se defender para que ela pudesse fugir, não ficar e lutar. Ela teria se lembrado de suas aulas? Ela teria conseguido se libertar? E por que seu carro tinha sido queimado? Ele se lembrou de como ela estava orgulhosa na manhã em que fez o pagamento final daquele carro. Ela o comprou no início de seu segundo ano de


faculdade e se recusou a deixá-lo pagar quando se casaram ou que o trocassem por outro melhor. Eles até comemoraram o recebimento do título do banco com uma garrafa de seu champanhe rosé favorito. Todas as horas que ela havia trabalhado em diferentes empregos durante a faculdade, depois na academia dele, e fazendo trabalhos paralelos como organizadora de festas, tinham ido para aquele carro e seus empréstimos estudantis – outra coisa que ela se recusou a deixá-lo pagar por ela. Por que isso continua acontecendo com ela? Ela tinha testemunhado tanta violência e dor desde que entrou em sua vida. Ela tinha sido protegida do pior na noite em que sua casa foi invadida por homens tentando encontrar as drogas e o dinheiro que sua irmã roubou, mas ele não estava lá para protegê-la no dia em que ela foi sequestrada. Ela tinha sido forçada a ver Artyom sangrar nos degraus da frente enquanto os homens a arrastavam para um caminhão de entrega. Ele ainda conseguia se lembrar do cheiro da velha fazenda de gado leiteiro onde ela havia sido mantida como refém com Bianca. A memória dela finalmente segura em seus braços era uma que nunca o deixava. O medo e o pânico de ser informado que ela havia sido sequestrada sempre pairava no fundo de sua mente, muitas vezes o acordando no meio da noite. Quantas noites ele se levantou abruptamente suando frio, com medo de estender a mão tocá-la e a cama estaria vazia? Quantas noites ele foi obrigado a andar pela casa, verificando as janelas e portas e as câmeras de segurança? Ele tinha prometido que iria cuidar dela, amála, protegê-la – mas ele continuava falhando. Quando encontrou uma vaga no estacionamento do hospital, ele já tinha praticamente decidido que iria contratar um motorista para ela. E um guarda-costas. Talvez dois.


Ele controlou seu pânico ao entrar na sala de emergência e caminhar em direção ao balcão da recepção. A mulher na frente dele estava terminando, então ele não teve que esperar muito pela sua vez. —Posso ajudar? —A mulher mais velha atrás do balcão perguntou sem sequer tirar os olhos da tela do computador —Minha esposa foi trazida aqui de ambulância. —Nome? —Erin Markovic. —Data de nascimento dela? Endereço? —Ela digitou as informações que ele deu e depois o instruiu a encontrar uma cadeira e esperar. Ele não queria esperar. Ele queria ver Erin já, mas conteve o desejo de exigir que fosse levado até ela. A última coisa que ela precisava era que ele fizesse uma cena, então ele sentou-se em frente à porta dupla de entrada da sala de emergência. Quase imediatamente, ele percebeu os olhares estranhos e ousados enviados em sua direção. Ele olhou para o short e as pernas nuas e fez uma careta. Ele tentava manter as evidências de seu passado criminoso cobertas em público, mas estava com tanta pressa para chegar aqui, que foi a última coisa que passou por sua mente. Havia apenas alguns centímetros de pele desde suas unhas dos pés até o pescoço que não estavam tatuados, e tudo estava à mostra para qualquer pessoa curiosa o suficiente para olhar. As portas duplas se abriram e a enfermeira chamou: — Sr. Markovic? Ele se levantou rapidamente e se juntou a ela à porta. Não havia como não perceber a maneira como seu sorriso suave endureceu quando ela viu suas mãos e pernas tatuadas. Isso não o incomodava, mas ele odiava saber que Erin seria tratada de forma


diferente quando as pessoas percebessem que ela era casada com um criminoso. Ex-criminoso, ele silenciosamente corrigiu enquanto seguia a enfermeira até a sala de emergência. Sem palavras, a enfermeira puxou uma cortina para revelar Erin sentada em uma cama de hospital parecendo impossivelmente pequena e vulnerável. Ela tinha um de seus velhos moletons enrolado nas pernas. Um pequeno corte em sua bochecha tinha sido fechado com esparadrapo e outro em sua têmpora tinha sido fechado da mesma maneira, mas o corte próximo ao seu couro cabeludo tinha sido suturado. Havia sangue seco em seu queixo, pescoço e sob seu nariz. Seu lábio superior estava inchado e as alças finas de sua regata de treino tornavam fácil ver os grandes hematomas vermelhos em seus braços e ombros. A raiva queimou por ele. Algum merda ousou colocar as mãos nela. Ele jurou então que encontraria aquele idiota e o faria pagar. —Ivan! Suas lágrimas e a maneira como ela disse seu nome foram como uma faca no peito. Correndo em direção a ela, ele cuidadosamente segurou sua nuca e beijou sua testa e então ambas as bochechas. —Estou aqui, baby. Estou aqui. —Ele envolveu os braços em torno dela e a segurou com força. —O que aconteceu? —Eles surgiram do nada! —Ela se agarrou ao agasalho dele e se afundou nele. —Eu vi os dois primeiros caras atrás de Zoya e depois havia outro cara atrás de mim. Tentei lutar contra eles. Lembrei do que você me ensinou e me afastei dele, mas aí começamos a lutar e o outro me jogou no chão. Eles roubaram meus anéis e queimaram meu carro. —Ela balbuciou entre soluços. A mente de Ivan girou enquanto Erin descarregava seus pensamentos em pânico sobre ele. Ele olhou para as mãos dela e notou a pele ferida onde seus anéis foram arrancados com força de


seus dedos. A ideia de que algum idiota tivesse roubado seu anel de noivado e anéis de casamento o enfureceu. A ideia de que seriam vendidos e derretidos o enojou. —Ele disse que se Ruby não mantiver a boca fechada, eles voltarão. —Ela soluçou asperamente. —E então ele me tocou. —Ela chorou, pressionando o rosto em seu peito. —Ele colocou a mão entre as minhas pernas, e ele... ele... —Ela soluçou alto, incapaz de continuar sua descrição do ataque. —Eu disse a ele que você iria matá-lo por me tocar daquela maneira. Eu vou. Lentamente. Dolorosamente. Maldita Ruby. Aquela garota era uma maldita ameaça. Ele nem queria imaginar em que tipo de merda ela tinha se metido enquanto cumpria sua pena. Ela não poderia passar um único maldito ano sem colocar Erin em perigo? Ele conteve a fúria que ameaçava explodir e focou apenas em Erin. Ela não precisava do lado mau e selvagem dele no momento. Ela precisava de conforto e amor e da proteção e segurança de seus braços ao redor dela. Puxando-a para mais perto, ele acariciou sua orelha e pescoço. Ele faria qualquer coisa para fazêla parar de chorar. Ouvir isso e saber que ela estava tão assustada e tão magoada era como arrancar seu maldito coração. Ele se moveu para a desconfortável cama de hospital e a arrastou para seu colo, colocando as pernas dela de lado em suas coxas. Ele a embalou bem próximo, puxando o moletom que ela havia pegado emprestado de seu armário sobre as pernas para mantêla aquecida. Enquanto ele acariciava suavemente suas costas, ela se aninhou, deslizando os braços em volta de seu pescoço e chorando baixinho. Ele não conseguia parar os pensamentos dolorosos que corriam por sua mente. Tendo sido abandonado quando criança, ele sempre foi atormentado pela crença muito real de que não era bom o suficiente para que alguém o amasse. Ele sempre acreditou que algo


dentro dele era podre e detestável. Ele se considerava indigno de uma esposa e família. Até Erin. Ela o amava incondicionalmente. Desde o primeiro momento em que ela entrou em sua vida, ela o aceitou, com seus defeitos e seu passado obscuro. Ela acalmou aquela ferida crua e purulenta dentro dele e o ajudou a acreditar que era digno de todas as coisas que sempre quis. Mesmo assim, ele não conseguia se livrar da sensação de que havia arruinado a vida dela. Ele a havia arrastado para o submundo do qual ele nunca poderia escapar, e agora ela estava sofrendo as consequências de se associar a ele. Como se o universo quisesse chutá-lo nas bolas e fazê-lo se sentir ainda pior, a cortina que fechava o cubículo da sala de emergência foi deslocada para o lado e ninguém menos que o detetive Eric Santos entrou no espaço. Ivan amaldiçoou silenciosamente a chegada do detetive intrometido. A última coisa que Erin precisava era ser questionada incansavelmente por alguém que o odiava e à família do crime que ele um dia serviu. —Erin. —O Detetive Santos cumprimentou com um aceno de cabeça. Ele olhou brevemente na direção de Ivan. —Ivan. Ivan nunca quis estar familiarizado o suficiente para ser tratado pelo primeiro nome por um policial, mas aqui estavam eles. — Detetive. —Disse ele com um grunhido de aborrecimento. —Sei que você está prestes a receber alta, mas gostaria de fazer algumas perguntas antes que você saísse. —Explicou o detetive Santos. —Tudo bem? Erin acenou com a cabeça. —Claro. O olhar de Eric foi para Ivan, que ainda segurava sua esposa em seu colo. —Eu quero falar com ela à sós.


Ivan começou a protestar, mas Erin tocou sua mandíbula. Ela sustentou seu olhar, silenciosamente se comunicando com ele da maneira que maridos e esposas costumavam fazer. Ele entendeu e acenou com a cabeça rigidamente antes de movê-la de seu colo para a cama. Ele a beijou ternamente. —Estarei lá fora se você precisar de mim. Enquanto saía da sala, ele olhou fixamente para o detetive com um olhar de advertência. Ele fechou a cortina atrás de si e encostouse à parede, os braços cruzados enquanto ouvia o que Santos tinha a dizer à esposa. —Por que você está aqui? —Erin perguntou irritada. —Já falei com os policiais que atenderam e com o outro detetive de roubos que veio me ver. Eu pensei que você estivesse encarregado de armas e gangues ou algo assim. —Eu estou. —Confirmou Santos. —Suspeito que este roubo e agressão possam ter ligações com uma gangue. Ou... —Acrescentou ele. —Que possa estar ligado aos laços de seu marido com uma determinada organização criminosa. —Meu marido é dono e dirige uma academia e campo de treinamento de MMA de elite, Detetive Santos. Não há nada de criminoso em nosso negócio. —Se é o que você diz. —Respondeu Santos naquele seu jeito rude. —Já falei com sua amiga, Zoya. Ela não tinha nada a acrescentar ao depoimento que deu à polícia no local, mas mencionou que um dos homens parecia estar falando com você quando pressionou você contra o carro. Você pode me dizer o que ele disse? —Eu prefiro não dizer. —Por quê? —Porque não.


—Porque você está tentando proteger seu marido? Ou talvez suas amigas e seus maridos? —Não. —Erin retrucou. —Prefiro não reviver o momento em que um estranho nojento colocou a mão entre minhas pernas e me disse o que ia fazer comigo. Santos ficou em silêncio por um longo momento. —Sinto muito, Erin. Eu não sabia sobre essa parte do ataque. Não estava no relatório que recebi dos policiais no local. —Bem, agora você sabe. —Ela suspirou alto. —Ouça, não há nada sinistro ou nefasto acontecendo aqui. Ok? Foi apenas um roubo. Eu estava no lugar errado, na hora errada. —Se foi apenas um roubo, por que eles queimaram seu carro? —Provavelmente porque colocaram as mãos em cima dele? Eles queriam destruir as evidências. Eu não sei. Não sou uma criminosa. Não tenho respostas para o comportamento deles. —Mentira. —Protestou Santos. —Acho que você está mentindo para mim, Erin. Acho que algo mais aconteceu naquele estacionamento. O que quer que você esteja escondendo – quem quer que esteja tentando proteger – eu vou descobrir. Eu posso te prometer isso. Quando você estiver pronta para falar, para ser honesta comigo, você sabe onde me encontrar. A cortina se abriu enquanto Ivan se empurrava da parede, pronto para dizer poucas e boas a Eric. O detetive se virou para Erin e disse: —Diga a sua irmã que eu disse 'Oi'. Tenho certeza de que a verei novamente em breve. Pelo que ouvi sobre seu tempo na prisão, ela está a um passo de pegar aquele péssimo hábito. —Vá se foder. —Erin olhou para o detetive. —Chegue perto da minha irmã ou tente assediá-la de alguma forma, e eu vou fazer da sua vida um inferno. Santos riu. —Tenho certeza que você vai tentar.


Ivan cerrou os punhos ao lado do corpo. Ele não queria nada mais do que dar um soco no rosto presunçoso de Eric, mas lutou contra o desejo e simplesmente olhou para o detetive até que ele girou sobre seus calcanhares e saiu. A última coisa que ele precisava era receber uma acusação por nocautear um detetive. Assim que Eric saiu, Ivan entrou na sala e fechou a cortina. Erin estendeu a mão e ele a pegou. —Sinto muito, moy anjo. —Não se sinta mal por ele. Ele é um idiota. —Ele é, mas está descontando sua frustração comigo em você. Isso não está certo. —Não, não está, mas é o que é. —Ela colocou as mãos na cintura dele e o puxou para mais perto. Ela encostou a bochecha contra o peito dele e correu os dedos para cima e para baixo na parte inferior da coluna. —Por favor, não me peça para colocar Ruby nas ruas em vez da nossa casa quando ela for solta. Pego de surpresa, ele disse: —Eu não pediria que você fizesse isso. —Eu sei o quanto vocês dois não gostam um do outro. —Ela respondeu, acalmando-o com as carícias de seus dedos. Antipatia era uma palavra suave para o que ele sentia pela irmã mais velha dela. Ainda assim, ele disse: —Você deixou Ten ficar conosco mesmo depois que eles invadiram a casa e destruíram o quarto dele. —Eu estava muito chateada. —Ela o lembrou. —É hipocrisia da minha parte pedir a você que não se recuse a deixar Ruby ficar conosco. —Você é irmã dela. Você é família. —Ele ergueu o queixo dela e olhou em seus lindos olhos. —Somos uma família. Ela sorriu para ele, sua expressão era suave e amorosa. — Obrigada.


Ele roçou o polegar ao longo de sua bochecha. Mesmo que o irritasse que mais uma vez eles tivessem que resolver uma das bagunças de Ruby, ele disse: —Porque somos uma família, vou descobrir em que encrenca ela está metida e lidar com isso, se puder. —Ivan, você não precisa fazer isso. Você já fez muito por ela e por mim. —Você é minha esposa, Erin. —Ele traçou o lábio inferior dela com o polegar, pousando-o sobre o inchaço e sentindo outra onda de raiva por alguém ter ousado tocar nela. —Farei o que for necessário para mantê-la segura. Jurei a você depois do sequestro que essa merda nunca mais aconteceria, mas aqui estamos. —Isso não é culpa sua. —É. —Como? —Se eu ainda estivesse dentro, ninguém pensaria em vir atrás de você. —Se você ainda estivesse dentro. —Ela enfatizou para que ele soubesse que ela entendia que ele se referia à máfia. —Nós não estaríamos juntos. Você nunca teria me deixado chegar perto de você. Ela estava certa. Ele não teria. Ele a teria ajudado com Ruby e depois a mandado embora. Ele a teria vigiado de longe e fantasiado sobre que tipo de vida poderia ter com uma garota como ela. —Talvez seja um esquema. —Ela ofereceu, arrastando-o para longe daqueles pensamentos sentimentais. —Talvez o que aconteceu hoje seja alguém tentando montar um cenário de chantagem para tirar dinheiro de nós. —Você acha que sua irmã estaria envolvida em algo assim? — Ele absolutamente pensava que Ruby tentaria fodê-lo dessa forma, mas não tinha certeza de que ela teria permitido que alguém


machucasse Erin dessa maneira. Ao longo de seu tempo na prisão, Ruby havia demonstrado verdadeiro remorso pela maneira como havia colocado Erin em perigo. —Não. —Erin respondeu imediatamente. —Quaisquer que sejam seus defeitos – e ela tem muitos – ela nunca faria algo assim por dinheiro. Ela viria diretamente e pediria. —Não é nenhum segredo que ela é da nossa família. —Ele argumentou. —Se alguém que ela conheceu lá dentro acha que pode usar sua ligação conosco para conseguir dinheiro, pode tentar. As pessoas fazem loucuras por dinheiro. —Isso é verdade. —Ela concordou. Um momento depois, ela disse: —Ou... —Ou? —Ele se afastou para que pudesse olhar para ela. —O que você está pensando? —E se alguém estiver tentando nos separar? E se alguém quiser nos envenenar contra Ruby? Ou me virar contra você usando minha irmã? Talvez algo realmente ruim esteja chegando, e eles nos querem vulneráveis. Ele iria começar a descartar as preocupações dela, mas a experiência o fez reconsiderar. Seu passado era obscuro e sombrio, repleto de crimes e erros terríveis. O passado de Ruby não era tão ruim quanto o dele, mas ela havia irritado muitas pessoas no submundo de Houston. Não faltavam pessoas más que queriam machucá-lo ou a Ruby. Machucar Erin era a maneira mais fácil de conseguir isso. A pequena mão de Erin tocou sua mandíbula, atraindo sua atenção de volta para ela. Ela sorriu para ele. —Me leva para casa? Assentindo, ele abaixou a cabeça e reivindicou sua boca em um beijo gentil. Uma vez que ele a tivesse em segurança em casa, começaria a cobrar favores até que conseguisse os nomes dos idiotas


que a machucaram. Depois disso, impossível saber o que iria acontecer.


CAPÍTULO 03 —Estou bem! —Protestei enquanto Vivian se agitava ao meu redor, enrolando um cobertor em volta da minha cintura depois de me entregar uma xícara do meu chá de canela favorito. Ela chegou à minha porta quase ao mesmo tempo que nós e imediatamente começou a agir como se fosse minha mãe. Se havia uma mulher que tinha nascido para cuidar das pessoas, era Vivian. —Se há alguém que precisa descansar, é você. Ela seguiu meu olhar até sua barriga de grávida. —Estou descansando tanto que estou ficando louca. Nikolai tem estado impossível nos últimos dias. —Ele só quer que tudo seja perfeito. —Lena saltou de seu lugar perto do fogo. Ela havia pegado uma Sophia muito agitada de uma Benny preocupada e brincava com ela no tapete branco fofo ali. —Com tudo o que aconteceu este ano, nossos homens estão no limite. —Ela fez uma careta para Sophia, que riu alegremente e fez sons bobos de bebê. —Yuri mal me deixa sair de sua vista quando estamos aqui. Terei mais liberdade de movimento quando estivermos de volta à Rússia. —Dimitri adicionou mais câmeras à nossa casa. —Benny degustou sua xícara de chá enquanto se recostava na cadeira mais próxima de sua filha. —Ele colocou mais na padaria também. Ele basicamente está de olho em mim e em Sophia dia e noite. —Parece o enredo de um suspense policial de marido psicopata no Lifetime5. —Comentou Lena. —Acho que parece um pai e marido amoroso fazendo o possível para manter sua família segura. —Vivian insistiu antes de lançar um olhar irritado para Lena. 5

Lifetime é uma rede de televisão por assinatura, estado-unidense de entretenimento.


—Foi estranho, no início. —Admitiu Benny. —Mas há aplicativos em nossos telefones que nos permitem checá-las durante o dia. Se estou na padaria, posso abrir o aplicativo e ver os dois tomando café da manhã ou brincando. Se chegar atrasado em casa, ele pode verificar todas as portas e janelas e passar no quarto das crianças para observar nossa rotina de hora de dormir. —Viu? —As sobrancelhas de Vivian se arquearam enquanto ela prendia Lena no lugar. —Dimitri é um bom pai e marido. Lena fez uma careta para Vivian, fazendo Sophia rir. Distraída com a bebê, ela disse: —Ivan vai permitir que sua irmã venha para cá quando ela sair da prisão? Lembrando-me do olhar chocado no rosto dele quando fiz essa pergunta mais cedo no pronto-socorro, assenti. —Nós conversamos sobre isso e concordamos que ela ainda virá para cá. —Acho que você está cometendo um erro. —Lena puxou gentilmente o cabelo da mão de Sophia e deu a ela o bracelete grosso de madeira de seu pulso. —É um risco deixá-la voltar para sua vida. —Ela é da família. —Vivian argumentou. —Não damos as costas à família. Se fizéssemos isso, todos nós estaríamos sozinhos agora. Todos nós tivemos problemas com nossos irmãos ou pais. Nenhum de nós é perfeito. Ruby cometeu um erro. Ela foi para a cadeia. Cumpriu sua pena. Ela merece uma chance de provar a si mesma. —Meu irmão mudou sua vida. —Benny interrompeu. —Se ela tiver o sistema de apoio certo, Ruby pode mudar para melhor. —Claro. —Lena concordou. —Mas Erin foi atacada hoje por causa de algo que sua irmã fez ou sabe. Isso não vai acabar apenas porque Ruby deu um jeito em sua vida. —E é isso que nossos homens estão discutindo agora. — Vivian declarou de forma bastante imperiosa. —Eles vão descobrir a melhor maneira de lidar com isso. —Ela enfiou a saia em torno dos


joelhos em um gesto cerimonioso. —Agora. —Ela disse em um tom que sinalizava o fim daquela linha de discussão. —O que vamos fazer sobre os hematomas e suturas de Erin? Ela não pode ir ao Jeans e Diamantes parecendo que lutou em uma gaiola. Grata por Vivian desviar o foco de nossa discussão de Ruby, eu disse: —Estive pensado em colocar apliques. Talvez, se um dos cabeleireiros da Allure puder me ajudar, eu consiga antes do baile. —Você pode ficar com meu horário amanhã à tarde com Nisha. —Lena ofereceu. —Eu posso adiar meu corte e tingimento até a próxima vaga. —Tem certeza? —Eu sabia como era difícil conseguir horário com Nisha, e Lena se cuidava com ela há anos. —Certeza total. —Disse ela com um aceno de mão. —Vou ligar para ela. Se estiver tudo bem para ela, o horário é seu. —Obrigada. —Aqui. —Lena se levantou e empurrou Sophia para mim. — Você é a responsável pela bebê enquanto eu faço essa ligação. Sophia alegremente subiu no meu colo, ficando em minhas coxas para examinar meu rosto. Seus olhos grandes observaram meus hematomas e ela pareceu decidir que puxar meu cabelo ou me cutucar não era a melhor ideia. Em vez disso, ela se agitou e se jogou no meu colo, soprando e fazendo barulhos com a boca e chutando seus pezinhos. Seu cabelo macio cheirava a frutas cítricas e baunilha enquanto eu gentilmente percorria meus dedos pelos cachos ondulados. Depois de toda a brincadeira com Lena, Sophia estava com sono e se virou. Aproveitando cada momento de aconchego do bebê, fiquei escutando Vivian e Benny conversarem sobre seus trajes de gala. Meus pensamentos se voltaram para Ivan e os homens em seu escritório. O que quer que eles estivessem discutindo, ele tentaria esconder de mim. Ele sempre tentou me proteger desse lado de sua


vida, e depois do sequestro que aconteceu bem aqui nos nossos degraus da frente, ele estava paranoico sobre me manter segura. Considerando o que havia acontecido hoje, ele provavelmente estaria consumido pela preocupação. Meu olhar desviou do pequeno braço de bebê aconchegado contra mim até a porta de entrada da casa. Tentei não pensar no dia em que Artyom foi baleado e eu fui levada. As memórias me deixaram em pânico e ansiosa. Elas faziam eu me sentir desconfortável e nervosa em nossa casa. Naquele primeiro dia de volta a nossa casa após o sequestro, eu imediatamente queria vendê-la. Eu queria sair daqui. Queria um novo começo em um novo lugar, sem nenhuma lembrança ruim, mas não consegui reunir coragem para dizer a Ivan como me sentia. Eu não queria colocar mais culpa em seus ombros e não tinha certeza se ele entenderia por que eu queria ir para outro lugar. Ele era o tipo de pessoa que sempre enfrentava seus medos. Ele não tinha medo de enfrentar nenhum inimigo ou situação ameaçadora. Suspeitei que sua infância extremamente difícil que o tinha tornado tão corajoso e decidido. Era uma das coisas que eu mais amava nele. Ele era totalmente firme e verdadeiro. Não havia nada e ninguém contra quem ele não lutasse por mim. Só que eu não queria que ele tivesse que lutar com ninguém nunca mais. Assim como ele queria me manter segura, eu queria o mesmo para ele. Eu queria que ele deixasse aquela parte de sua vida onde ela pertencia: no passado. Se ele fosse à procura de problemas, ele os encontraria – e depois? O que aconteceria com a vida que estávamos construindo juntos? Com nosso casamento? Nossos negócios? Os filhos que queríamos? Eu não poderia viver com um pé em ambos os mundos do jeito que Vivian vivia. Ela parecia ter nascido para ser esposa de um mafioso. Ela se movia com elegância e facilidade em sua vida como esposa de um rico empresário em um minuto e como mulher de um chefe da máfia impiedoso no minuto seguinte. Ela mantinha uma bela


casa, pintava obras incríveis e amava o marido com o tipo de ferocidade que poderia ser aterrorizante. Havia uma dureza nela que outras pessoas não viam. Nikolai podia ser aquele que era conhecido por seu controle impiedoso do submundo, mas era Vivian quem representava o maior perigo para quem ameaçasse sua família. —Nisha vai atender nós duas ao mesmo tempo. —Lena disse enquanto deslizava para o sofá ao meu lado. —Ela tem uma nova garota que está treinando que vai fazer a maior parte do trabalho em mim. Ela trabalhou no meu cabelo da última vez que estive na cadeira de Nisha, então estou confortável com isso. —Obrigada, Lena. Eu realmente agradeço. —É o mínimo que posso fazer. —Ela estendeu a mão para deslizar um dedo muito bem cuidado pela bochecha gordinha de Sophia. —Acho que posso realmente querer ter mais de um destes. Eu bufei suavemente. —Você não consegue nem dizer a palavra bebê? —Eu não quero me azarar. —Ela segurou a mão de Sophia e pareceu se maravilhar com seus dedinhos. —Prefiro não entrar na igreja com a barriga de bola de praia. —Você ainda seria uma noiva linda. —Mas eu não caberia no vestido que escolhi, e é o vestido. A viagem turbulenta a New York para encontrar aquele vestido de alta-costura foi das mais divertidas que tive em anos. Yuri tinha esbanjado com o melhor de tudo, nos colocando em uma cobertura com uma vista incrível do Central Park, arranjando os ingressos mais difíceis de conseguir para shows da Broadway e reservas nos restaurantes mais badalados. Estremeci ao pensar o quanto deve ter custado a ele bancar as cinco garotas assim. A etiqueta do preço do vestido já era assustadora o suficiente!


—E quanto a sua...? —Seu olhar baixou para minha barriga lisa. —Algum progresso? Balancei minha cabeça. —A visitante do mês está aqui. —Sinto muito. —Ela disse suavemente e apertou minha mão. —Minha oferta ainda está de pé. Alguns meses antes, ela havia se oferecido para ser barriga de aluguel se o problema que nos impedia de engravidar fosse algo relacionado ao meu útero. Não foi uma oferta que ela fez levianamente, e eu não tinha dúvidas de que se eu fosse até ela e pedisse que carregasse um bebê para mim, ela largaria tudo para que isso acontecesse. Era em momentos como este que ela provava quão grande e altruísta era seu coração. —Benny acaba de ter uma ótima ideia. —Vivian anunciou. — Devemos todos nos encontrar para um brunch na manhã após o baile. —Não no Samovar. —Disse Lena, franzindo o nariz. —Por que não? —Vivian se eriçou. —Nós sempre comemos no seu restaurante. —Não, não é sempre. —Vivian argumentou. Lena dramaticamente revirou os olhos e começou a listar todas as vezes que nos encontramos no famoso restaurante de Nikolai. Enquanto as duas discutiam, compartilhei um sorriso divertido com Benny e deixei meus pensamentos se voltarem para Ivan e a reunião em seu escritório. Do que diabos eles estavam falando lá?


CAPÍTULO 04 Preocupado com a possibilidade de Erin ficar sobrecarregada com todas as pessoas que haviam ido para sua casa, Ivan olhou para o relógio pela segunda vez nos últimos dez minutos e se perguntou o quão rápido ele poderia dispensar todos sem ser um idiota rude. —Ela conseguiu dar uma boa olhada neles? —Dimitri perguntou, tirando Ivan de seus pensamentos. —Eles estavam todos de preto. Máscaras. Camisas. Calças. Botas. Ela acha que todos eram homens brancos. Dois deles tinham olhos verdes. Ela se lembra disso muito claramente. Eles estavam em forma e eram mais baixos do que eu. Foi tudo que consegui dela. —Provavelmente aconteceu tão rápido que ela não teve tempo para observar detalhes. —Dimitri raciocinou. —Ainda bem que você ensinou autodefesa a ela. —Eu não deveria ter que ensiná-la a lutar. —Ele rosnou, odiando que sua esposa fosse forçada a lutar em uma fodida rua para se defender. —Ela deveria poder caminhar até seu carro sem ser atacada. —Sim, ela deveria. —Dimitri concordou. —Mas o mundo é um lugar fodido e perigoso. Você deu a ela as habilidades de que ela precisava para se proteger. Você deveria se orgulhar dela por não congelar. —Estou orgulhoso dela. —Ele nem mesmo tinha a palavra certa para descrever o quão orgulhoso estava de sua esposa. —O que você acha que eles queriam dizer? —Yuri perguntou enquanto se servia de uma dose de uísque canadense. —Manter a boca fechada sobre o quê?


—Foda-se se eu sei. —Ivan respondeu, abanando a mão no ar quando Yuri fez um gesto em direção a ele com a garrafa. Ele não estava com humor para uma bebida agora. —Tem que ser algo que Ruby viu na prisão. —Raciocinou Nikolai. —Nós nos certificamos de que todas as dívidas de Ruby e outros problemas estavam resolvidos antes de você se casar com Erin. Não há mais nada lá fora. —Ela pode ter visto algo em uma das casas de drogas que costumava visitar. —Dimitri sugeriu. —Ter visto um assassinato ou algum outro crime? —Talvez. —Ivan disse de forma incerta. Ele pegou o olhar de Nikolai. Ambos os homens haviam passado um tempo em prisões, e ambos entendiam mais do que Yuri ou Dimitri jamais entenderiam sobre o tipo de merda horrível que acontecia atrás das grades. —Eu me preocupo que ela tenha visto algo acontecer na prisão. —Tipo prisioneiro com prisioneiro? —Yuri sentou-se e tomou um gole de seu uísque. —Ou algo pior? Os guardas fazendo algo que não deveriam? —Se for esse o caso, vamos ter muito trabalho para descobrir o que foi. —Dimitri comentou. —Quando Kostya volta? —Yuri perguntou. —Isso é o que ele faz de melhor. —Ele quase morreu. —Dimitri disse com irritação. —Seu coração realmente parou. Você realmente vai sentar-se aí e perguntar quando ele voltará do México para começar a perseguir pistas perigosas? —É o trabalho dele. —Yuri respondeu com naturalidade. —Era. —Nikolai interrompeu. —Era o trabalho dele.


—E o que exatamente faz um limpador aposentado? —Yuri se perguntou. —Você realmente acha que ele vai deixar de ser o que é? Um solucionador? Um espião? Um assassino? —Yuri balançou a cabeça. —Ele vai voltar quando estiver pronto e vai querer fazer o que faz de melhor. —Não para mim. —Declarou Nikolai. —Ele pode trabalhar como freelancer se quiser, mas seus dias de limpar nossas confusões acabaram. —É melhor você encontrar uma nova governanta então. — Yuri aconselhou. —O submundo é um lugar sujo e bagunçado. Você não quer rastrear toda aquela sujeira de volta para sua casa limpa e arrumada. —Não preciso que você me diga como as coisas são, Yuri. — Os olhos de Nikolai endureceram de uma forma que teria feito homens menores desviarem seus olhares e se desculparem. Mas não Yuri. Ele pressionava Nikolai desde que eram crianças. Claramente não querendo discutir, Nikolai encerrou a discussão com um simples: —Está tudo sendo tratado. —Talvez eu possa conseguir algumas informações sobre a prisão. —Dimitri disse, seu olhar focado em seu telefone. —Um dos nossos homens é casado com uma mulher que trabalhava lá como agente de detenção. Vou ver se ela está disposta a falar comigo sobre sua experiência lá. Ela pode saber algo útil. —Ele colocou o telefone de volta no bolso da calça jeans. —Vou ser vago. Cuidadoso. — Acrescentou. —Até que saibamos mais, não quero levantar suspeitas. —E quanto ao nosso amigo detetive? —Yuri perguntou, sua expressão severa e irritada ao mencionar Eric. —Ele estava no hospital. —Ivan sustentou o olhar de Nikolai, notando o leve estreitamento em seus olhos. —O que ele queria? —Dimitri parecia preocupado. —Ele não trabalha em roubos.


—Ele acha que Erin e Zoya estão mentindo e escondendo o verdadeiro motivo do ataque. Ele acha que tem algo a ver com meu passado. —Isso é tudo que precisamos. —Yuri resmungou. —O fodido Eric Santos revirando nossas vidas novamente. Se ele for atrás de Ruby... Ele deixou o pensamento pairar inacabado. Não era segredo para ninguém na sala que Ruby era o elo mais fraco. —Não há nada com que se preocupar. —Decidiu Nikolai. — Ela não é nada para mim ou qualquer um dos meus soldados e capitães. O que quer que ela pense que sabe é uma besteira completa. Se ela contar uma história para Eric, deixe-o perder tempo perseguindo-a. —E quanto a Zoya? —Yuri incessantemente provocava, trazendo à tona mais uma complicação. —Ela sabe mais sobre ficar calada do que a maioria de nós. — Observou Nikolai. Ele não precisava dizer nada mais do que isso. Todos conheciam a terrível história da mãe de Zoya. —Além de perseguir algumas pistas, o que mais podemos fazer para ajudar, Vanya? —Dimitri perguntou. —Você quer que eu envie alguns dos meus homens para proteger Erin? Fazer com que eles a sigam, se você preferir manter isso discreto? Ele esfregou o rosto e admitiu: —Erin vai perder a cabeça se eu contratar um guarda-costas sem perguntar a ela. Eu queria ligar para você do hospital e contratar alguém naquele momento mesmo, mas não queria aborrecê-la. —Fale com ela. —Dimitri pediu. —Se ela concordar, podemos encontrar alguém de quem ela goste. —Eu vou. —Ele já sabia qual seria a resposta dela. —O mais importante para ela é recuperar os anéis.


Dimitri estremeceu. —Duvido que seja possível. —Eu sei. —Ele concordou. —Mas tenho que tentar. Já falei com Besian. Ele usou sua conexão com a loja de penhores para espalhar a notícia de que eu os quero de volta. Se alguém tentar se livrar deles em uma loja de penhores ou de ouro na cidade, eu vou descobrir. —Se esses idiotas forem espertos, vão derretê-los ou jogá-los fora. —Advertiu Yuri. —Se eles fossem espertos, não teriam atacado a esposa de um dos meus melhores amigos. —Nikolai olhou para seu relógio. —Por falar em esposas, preciso levar a minha para casa. Dimitri seguiu o exemplo de Nikolai e se levantou. —É hora de minhas meninas tirarem a soneca da tarde. —Achei que Benny tivesse parado de abrir a padaria? —Yuri perguntou antes de terminar o uísque em seu copo. —Houve uma emergência familiar com um de seus funcionários de longa data. —Explicou Dimitri. —Ela está indo no início da manhã até que a mãe de Connie saia da unidade de AVC e vá para um centro de reabilitação. —Ele fez uma careta. —Mas, porra, aquele alarme às três da manhã é difícil. —Ela precisa delegar para outro funcionário. —Yuri aconselhou, segurando seu copo em uma das mãos e batendo nas costas de Dimitri com a outra. —Entendi. Ela tem orgulho de seu negócio. Ela protege o que sua família construiu, mas ela merece desfrutar das vantagens de ser a proprietária... Ivan observou Dimitri e Yuri saírem do escritório. Nikolai tinha ficado para trás, claramente esperando pegá-lo em um momento privado. Preocupado em não gostar do que o chefe tinha a dizer, ele suspirou e perguntou: —O quê?


—Apesar do que eu disse antes, se essa garota vai ser um problema, espero que você cuide disso. Ivan soltou um suspiro ruidoso. —Você está falando sobre a irmã da minha esposa. Os olhos de Nikolai estavam frios como gelo. —Eu sei exatamente o que estou dizendo. Ivan cerrou os dentes e não discutiu. Ele acenou com a cabeça rigidamente. —Eu vou cuidar disso. —Eu sei que você vai. —Sinalizando que havia terminado de discutir o assunto, Nikolai se levantou e abotoou a frente do paletó. Lutando contra o desejo de mostrar o dedo a Nikolai por ser tão arrogante, ele o seguiu de volta à sala de estar onde suas esposas estavam reunidas. Ele encontrou Erin sentada no canto de seu sofá favorito com a pequena Sophia aconchegada em seus braços. Seus olhares se encontraram, e sua irritação anterior com Nikolai desapareceu. Vê-la com a garotinha de Dimitri o encheu de um desejo que ele não conseguia articular. A ideia de que um dia em breve Erin seguraria seu bebê, seu filho ou filha, fez seu coração palpitar de uma forma diferente no peito. Depois de compartilhar sorrisos ternos e privados, ele conduziu todos até a porta em grupos de dois e três, até que apenas Vivian e Nikolai permanecessem. Ela havia desaparecido na cozinha e voltou pouco tempo depois. Enquanto Nikolai a ajudava a vestir o casaco, ela disse: —Coloquei o almoço no forno. Retire o papel alumínio quando o temporizador desligar e deixe mais uns vinte minutos. Tem salada e sobremesa na geladeira. Lena deixou uma garrafa de vinho no balcão. —Obrigada. —Erin abraçou Vivian. —Me ligue mais tarde. —Eu vou.


—Vanya. —Nikolai acenou com a cabeça, silenciosamente comunicando que estaria a um telefonema de distância se eles precisassem de alguma coisa. Ele seguiu o casal até a porta da frente e a trancou atrás deles, verificando o sistema de segurança antes de retornar à sala de estar. Erin tinha se sentado no sofá de dois lugares mais perto do fogo. Ele se agachou para adicionar outro tronco e reorganizar as brasas ardentes. Quando o fogo estava queimando do jeito que ela gostava, ele se juntou a ela no sofá, afundando nas almofadas aveludadas macias e abrindo os braços. Ela se aninhou em seu abraço, colocando a cabeça contra seu peito e se aconchegando mais perto. Ele a segurou com força, sabendo que ela precisava se sentir segura. Enquanto passava os dedos pelo cabelo dela, ele disse: — Quando Ruby ligar para você, não diga nada sobre o que aconteceu hoje. Ela não pareceu surpresa com seu pedido. —Eu não estava planejando. —Ela respondeu. —Eu... eu quero ver o rosto dela quando ela descobrir. É a única maneira de saber se ela... bem... você sabe. —Eu sei. —Ele entendeu sua reticência. Ela não queria acusar a irmã de armar uma cilada para ela, especialmente quando era provável que Ruby fosse vítima de algo terrível. —Sobre o que você acha que eles querem que ela fique calada? —Erin perguntou, sua voz cheia de preocupação. —Tipo... um assassinato? Ele estremeceu com a possibilidade. —Porra, espero que não. —Drogas? Talvez algum tipo de negócio dentro da prisão? —Provavelmente. —Ele não queria dizer a Erin que temia que pudesse ser algo pior do que drogas. Cadeias e prisões aqui eram diferentes das que existiam em seu país, mas não tão diferentes


assim. Havia uma boa chance de que algum tipo de prostituição forçada ou coerção sexual estivesse acontecendo por trás das paredes da prisão. Os tipos de homens que queriam ser guardas pareciam ter atração por jogar jogos de poder com os presos. Ele já tinha visto isso muitas vezes durante seus curtos períodos enquanto era um adolescente e depois como jovem adulto. O que quer que acontecesse nas prisões femininas tinha que ser cem vezes pior do que o que acontecia no lado masculino. —Vou arrumar meu cabelo com Lena amanhã. Seu comentário o afastou daquelas velhas e horríveis lembranças. —Sim? —Vou colocar apliques. Em todo o tempo que estiveram juntos, ele nunca a tinha visto com cabelo comprido. Seria uma novidade vê-la com um visual tão diferente tão rapidamente. Interpretando mal o silêncio dele, ela olhou para ele com dúvida nos olhos. —Tudo bem? —Erin. —Ele inclinou seu queixo e reivindicou sua boca. Sustentando o olhar dela para que ela soubesse que ele falava sério, ele disse: —Você poderia raspar a cabeça amanhã e ainda seria a mulher mais linda que eu já vi. —Com um sorriso, ele acrescentou: —Eu sentiria falta de puxar seu cabelo quando estivéssemos na cama, mas tenho certeza de que poderia encontrar outra coisa que faria você gritar. Ela bufou com a brincadeira e deu um beijo ruidoso em sua mandíbula. —Uau. Tão romântico! —Certifique-se de pedir a eles para colocar esses apliques bem apertados. —Ele brincou. —Se você quiser que durem mais do que uma noite. —Ivan! —Rindo, ela o golpeou. —Pare!


—Sem chance. —Ele murmurou contra sua boca, tomando cuidado com seu lábio inferior machucado. Quando ele a arrastou para seu colo, puxando suas coxas sobre as dele até que ela o montasse, ela suspirou feliz e balançou contra ele. Não querendo forçá-la a intimidades depois do que ela tinha experimentado naquela manhã, ele perguntou: —Você ainda quer que eu pare? —Não. —Ela agarrou a nuca dele enquanto ele depositava uma trilha de beijos do pescoço até a curva do ombro espreitando para fora do enorme suéter dela. —Mas... —Mas? —Estou menstruada. —Como se isso já tivesse me impedido antes. —Ele murmurou e mordiscou sua pele. —Você está usando aquilo? Antes de Erin, ele nunca havia pensado muito nos ciclos das mulheres ou na maneira como elas lidavam com eles. Depois que ela foi morar com ele, ele se familiarizou rapidamente com coisas como coletores e discos menstruais6 e todos os benefícios interessantes que eles tinham – incluindo permitir que eles tivessem intimidades sempre que quisessem. —Sim. —Ela sussurrou, sua voz trêmula enquanto ele traçava os dedos ao longo da costura de sua legging, bem entre suas nádegas redondas. —Bom. Ela cravou suas unhas curtas na nuca dele enquanto ele enfiava a mão na calça dela. Exalando de necessidade, ela implorou: —Façame esquecer o quão nojenta aquele outro cara me fez sentir quando ele me tocou. Leve-me lá para cima e me foda. Lembre-me que eu pertenço a você – e somente a você. 6

O disco menstrual tem os mesmos benefícios do coletor menstrual, e coleta a menstruação, mas o grande diferencial é o local onde ele fica posicionado, no fundo do canal vaginal, junto ao colo do útero, enquanto o coletor fica logo na entrada do canal, ou seja, o canal vaginal fica “livre”.


—Você está certa, porra. —Ele rosnou e capturou sua boca. Superado pela necessidade de reivindicá-la, marcá-la como uma fera selvagem faria com sua companheira, ele empurrou sua língua contra a dela. Enquanto ele segurava sua esposa em seus braços, as coxas dela ao redor de sua cintura, o lado animalesco dele entretinha pensamentos violentos de retaliação e vingança contra aquele pedaço de merda que a tinha atacado. Minha. Ela é minha. E vou matar o próximo homem que se atrever a tocá-la. Levando-a para o quarto, ele jurou silenciosamente que os homens que a machucaram se arrependeriam do dia em que decidiram ameaçar sua família. Eles não tinham ideia do que estava por vir para eles.


CAPÍTULO 05 Aproximando-me do espelho de corpo inteiro no canto do nosso closet, estudei minha aparência. Os hematomas do que aconteceu fora do estúdio de ballet haviam desaparecido o suficiente para que a aplicação cuidadosa do corretivo de pele os fizesse desaparecer sob minha base. A maquiagem tinha ficado um pouco mais pesada com a sombra e o delineador para desviar a atenção das áreas que eu havia camuflado. Colocando de lado minha franja recém-cortada, eu relutantemente admiti a mim mesma que a insistência de Lena e Nisha de que eu precisava disso estava correta. Ela emoldurou meu rosto e destacou o formato dos meus olhos e minhas maçãs do rosto. Penteei com os dedos as ondas de cabelos castanhos sedutores que caíam sobre meus ombros, alguns deles meus e alguns deles apliques, e fiquei maravilhada com o quão diferente minha aparência estava. Os preços de Nisha eram exorbitantes, mas valeram cada centavo. —Eu tenho que usar isso? Calcei meus saltos e saí do closet para encontrar Ivan já vestido com seu smoking e parado na frente do espelho, puxando sua gravata bolo tie7. Afastei gentilmente suas mãos. —Pare. Levei uma eternidade para amarrar isso da maneira certa. —Eu pareço ridículo. —Ele resmungou, olhando seu reflexo com desgosto.

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—Você está sexy. —Espalmei minhas mãos em seu peito largo, sentindo o tecido branco engomado de sua camisa antes de deslizar minhas mãos para cima sobre o paletó do smoking preto. — O código de vestimenta não é negociável para o Jeans e Diamantes. —Eu pareço um figurante no Urban Cowboy8! Incorporando nossa noite de cinema dos anos 80, eu respondi com atrevimento: —Bem, dê um tapa na minha bunda e me chame de Sissy porque estou prestes a escalar você como um touro mecânico. Ele fez aquele som rosnando que fazia minhas entranhas se agitarem antes de bater na minha bunda com uma de suas grandes mãos. Eu gritei, e ele engoliu meu grito de protesto com um de seus beijos punitivos, me deixando muito grata por ter usado uma cor à prova de manchas esta noite. Quando ele se afastou, disse: —Você pode subir em mim a qualquer hora. —Mais tarde. —Podemos nos atrasar. —Não. —Mesmo que meu corpo estivesse em chamas e gritando sim, recusei sua oferta tentadora de uma rapidinha no banheiro. —Este é o nosso primeiro ano e quero causar uma boa impressão. Ele franziu a testa. —Por quê? Quem se importa com o que essas pessoas pensam? —Eu me importo. —Eu gentilmente ajustei o colarinho de sua camisa. —Nosso negócio está crescendo. As propriedades que você possui...

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Urban Cowboy é um filme de drama romântico de 1980 dirigido e escrito por James Bridges e protagonizado por John Travolta. No Brasil: Cowboy do Asfalto.


—Nós possuímos. —Ele corrigiu, me lembrando que ele insistia que tudo o que ele possuía antes de nos casarmos era meu a partir do momento que compartilhei seu sobrenome. —As propriedades que nós possuímos estão subindo de valor, e algumas delas estão ao longo da nova expansão da I-45. Vamos querer diversificar como falamos há algumas semanas. Precisamos de conexões com pessoas fora de nosso grupo de amigos. Se quisermos alcançar todos os objetivos que discutimos, isso faz parte. Precisamos socializar. —Você socializa. —Ele correu a mão ao longo da curva da minha coluna e a deixou descansar na minha bunda. —Essa não é a minha praia. —Eu sei. —Realmente não era. Ele odiava eventos sociais, mas ele iria esta noite porque me amava e sabia o quão importante era para mim. Não consegui esconder minha empolgação quando recebemos o convite para a festa de gala anual de arrecadação de fundos, organizada todas as vésperas de Ano Novo pela organização de ex-alunos da fraternidade de Holly. Embora fosse superficial pra caralho, eu queria fazer parte do grupo - estar dentro. Ivan roçou os nós dos dedos ao longo da minha bochecha e eu virei minha cabeça para beijar seus dedos com cicatrizes e tatuados. Sua expressão ficou sombria e ele perguntou: —Você quer que eu cubra isso? Odiando que ele ficasse tão constrangido sobre a maneira como as pessoas me julgavam por ser casada com ele, beijei cada nó do seu dedo. —Não. —Tem certeza? —Ele olhou para as marcas verde-azuladas e pretas. —Eu não me importo. —Eu me importo. —Fiquei na ponta dos pés e me inclinei em direção à sua boca. —Não tenho vergonha de você. —Ele começou a protestar e eu o beijei novamente. —Eu te amo. Tudo em você.


Ele segurou meu rosto e esfregou seu nariz contra o meu antes de capturar minha boca em um beijo lento e suave. —Você é boa demais para mim. —Não, somos apenas perfeitos um para o outro. — Determinada a um dia convencê-lo de que ele era absolutamente bom e digno de amor e de uma família, deslizei meus braços em volta de sua cintura e pressionei minha bochecha em seu peito. Ele me abraçou com força e me perguntei, não pela primeira vez, se deveríamos procurar algum tipo de terapia para seus profundos sentimentos de desmerecimento. Ser abandonado tão jovem e deixado para se defender sozinho em um orfanato que era mal administrado, negligente e abusivo o arruinou por dentro. Eu desejava que meu amor bastasse para colar aqueles pedaços dele que sua infância havia partido, mas estava percebendo que não era. —Eu tenho algo para você. Olhando para ele, estudei seu rosto por um momento, tentando decidir se ele estava prestes a fazer uma piada sobre sexo. Estreitando os olhos com desconfiança, perguntei: —Tenho que colocar a mão no seu bolso para encontrá-lo? Ele riu. —Você pode colocar a mão no meu bolso a qualquer hora, mas não. —Ele apontou para o closet espaçoso que compartilhávamos. —A gaveta de cima onde guardo meus relógios. Amando suas pequenas surpresas, corri de volta para o closet e abri a gaveta. A caixa distinta da loja de Zoya estava ali, diante dos meus olhos, e eu olhei para ele com um sorriso no rosto. Ele me seguiu até o closet e encostou-se no batente da porta, sorrindo amorosamente enquanto eu abria a caixa e ofegava com a visão dos diamantes brilhantes cravados em ouro rosa. —Ivan! —Você ficou tão animada quando o convite chegou. — Explicou ele, aproximando-se. —Eu queria que você tivesse algo bonito e novo para esta noite. —Ele roçou a ponta dos dedos sobre


meu ombro nu e me inclinei para seu toque. —Quando você me mostrou o vestido que escolheu, fui direto para Zoya. —Aquela pequena sorrateira não disse uma palavra! —Eu estava um pouquinho irritada por ela ter mantido isso em segredo. Eu gostei tanto da surpresa que não conseguia culpá-la. —Você pode falar com ela quando a vir mais tarde. —Ele sugeriu, tirando o colar da caixa. Ele afastou o cabelo sedoso de meus apliques recém-colocados e colocou o colar em volta do meu pescoço. —Espero que o pai dela não jogue uma bebida na minha cara. Olhei para ele e franzi as sobrancelhas. —Espero que você esteja brincando. Seu foco permaneceu no fecho do colar quando ele admitiu: —Kazimir ainda estava zangado quando eu peguei isto esta manhã. —Zangado? Com você? Por quê? O que aconteceu fora do estúdio de ballet não foi sua culpa! —O pai de Zoya sabe o que sou e o que fiz. Ele nunca vai acreditar que o que aconteceu com você e Zoya não foi minha culpa. Eu bufei. —Isso não é justo. Talvez eu deva falar com ele. —Não. —Ele finalmente conseguiu enganchar o fecho e se abaixou para beijar a lateral do meu pescoço. —Deixe que ele fique com raiva de mim. —Isso não está certo, Ivan. Você não fez nada. —Não desta vez. —Respondeu ele, tirando os brincos da caixa. Quando ele os colocou em minha mão, eu peguei seu olhar. Comecei a dizer que ele não precisava suportar a ira de Kazimir como penitência por algo que tinha feito anos atrás, mas decidi deixar para lá – por enquanto.


Quando terminei de colocar os brincos, fui até o espelho de corpo inteiro no canto da minha área de vestir. Ivan estava atrás de mim, suas mãos grandes e fortes sobre minha cintura. Nosso reflexo fez meu coração palpitar descontroladamente. Seu smoking elegante e feito sob medida lhe caía perfeitamente, destacando seus ombros largos, e o ouro rosa cintilante e os diamantes se destacavam contra a simplicidade do meu vestido preto ombro a ombro. Meu olhar se fixou nas reluzentes botas de couro de crocodilo pretas que escolhi para ele. Ele as tinha usado pela casa nas últimas semanas para amaciálas e, embora ele jurasse que as odiava, eu poderia dizer que secretamente gostava delas. Ele me puxou de volta contra seu corpo rígido e beijou minha bochecha ruidosamente. —Pronta para o baile, Cinderela? —Sim. Ele pegou o chapéu de cowboy preto personalizado que eu insisti que ele mandasse fazer e o colocou no lugar. Eu não pude evitar o sorriso que puxou os cantos da minha boca. Ele estreitou os olhos. —O quê? —Você vai usar esse chapéu novamente em março. —Decidi, me aproximando e deslizando os braços em volta de sua cintura. — Você vai usar essas botas, jeans e uma camisa engomada e me levar para comer um bife com uísque antes de irmos para o rodeio para assistir o touro sendo montado. —E depois? —Ele perguntou, inclinando-se para roubar um beijo. —E então você vai me trazer para casa, me inclinar sobre o sofá e... Ele riu sombriamente contra meu pescoço e beliscou um ponto sensível que me fez estremecer. —Acho que sei o que vem a seguir.


—Espero que sim. —Eu disse com uma risadinha entre os beijos leves que ele colocou ao longo do meu pescoço e ombro. Quando suas mãos começaram a levantar as laterais do meu vestido, eu as cobri com as minhas. —Não. —Sim. —Ele resmungou. —Mais tarde. —Eu insisti e acariciei sua mandíbula. — Quando chegarmos em casa, você pode fazer o que quiser comigo. Seu olhar escureceu com luxúria, mas seu sorriso de lobo parecia sugerir um segredo. —Não vamos voltar para casa esta noite. Uma onda de excitação e surpresa me percorreu. —Não? —Não. —Seu sorriso deixou claro que ele não iria me dizer quais eram seus planos para depois da festa de gala. Decidindo me divertir com a antecipação do que ele tinha arranjado, segurei firme em sua mão enquanto ele nos conduzia para fora de casa até seu SUV. Meu olhar permaneceu no local vazio onde meu carro normalmente ficava. A memória do incêndio e do ataque no estacionamento do estúdio de ballet passou diante de mim como um flash, e eu a afastei, irritada que aqueles pensamentos horríveis estavam tentando arruinar minha noite. —Falei com Alexei esta manhã. —Disse Ivan enquanto me ajudava a entrar no banco da frente, segurando minha saia para ter certeza de que não estava presa na porta. —Ele nos convidou para ir a uma de suas concessionárias quando você estiver pronta. Eu fiz uma careta. —Os carros dele são tão caros. —E? Reconhecendo aquele tom, eu sabia que era inútil discutir com ele. Em vez disso, coloquei meu cinto de segurança. —Podemos ver isso mais tarde.


Ele bufou, plenamente ciente de que eu iria resistir à ideia de gastar uma quantia obscena e desnecessária de dinheiro em uma marca de luxo, mas o brilho em seus olhos advertia que ele tinha métodos – métodos muito deliciosos e maliciosos – de me persuadir a ver as coisas do jeito dele. Enquanto ele saía da garagem, me permiti imaginar como seria dirigir um Audi, Jaguar ou Mercedes. Seria um grande avanço em relação ao meu carro modelo básico, mas muito confiável. Talvez algo com mais espaço nos bancos de trás para acomodar uma cadeirinha e algum espaço extra no bagageiro para um carrinho de bebê... A mão grande e quente de Ivan agarrou a minha enquanto estávamos parados no sinal vermelho. Apreciei a sensação de seus dedos e deixei meus pensamentos vagarem sobre o futuro maravilhoso e excitante que esperava que o próximo ano reservasse para nós. Eu queria isso para minha irmã também. Eu queria que Ruby saísse da prisão e prosperasse, deixasse para trás as decisões erradas que ela tinha tomado e começasse um capítulo novo e melhor em sua vida. Eu queria construir uma família com Ivan que incluísse Ruby como uma tia amorosa e presente. Mas, primeiro, eu tinha que tirá-la de qualquer problema que ela tivesse tropeçado desta vez.


CAPÍTULO 06 Depois de deixar o SUV com o manobrista, Ivan pegou meu braço e me conduziu até o Hotel Post Oak. Sorri para Ivan quando entramos na área de recepção fora do grande salão de baile e nos juntamos à fila para nossas designações de assento. Quando entramos no salão, era tudo o que eu tinha imaginado que seria e agarrei a mão de Ivan, praticamente arrastando-o para a festa. Lena e Yuri nos encontraram quase assim que entramos no salão. Vivian e Nikolai chegaram pouco tempo depois com Alexei e sua nova esposa, Shay. Tínhamos estado com eles em Vegas alguns meses antes e tínhamos estado em sua casa para o Dia de Ação de Graças. Shay estava rapidamente se tornando uma de minhas novas amigas favoritas. Enquanto bebíamos champanhe e saboreávamos os aperitivos oferecidos pelos garçons que passavam, examinamos as mesas de itens do leilão silencioso. —Nenhuma surpresa aqui. —Comentou Vivian, tocando a lista de lances para um dos colares de Zoya. —Não. —Eu concordei e bebi meu champanhe. Ao nosso lado, Lena enfiou o braço por baixo do braço de Shay e perguntou: —Vê alguma coisa que você quer que seu homem compre para você? Shay balançou a cabeça timidamente. —Eu tenho tudo que preciso. —Sim, mas o que você quer? —Lena insistiu enquanto conduzia Shay para a mesa seguinte, carregada de pacotes de férias absurdamente caros. —Devemos intervir ou deixá-la corromper Shay? —Vivian perguntou com um sorriso enquanto ficávamos para trás.


—Deixe-a corromper. —Eu ri baixinho. —Alexei é como Yuri. Ele mostra seu amor com presentes. Ele ficará maravilhado se ela lhe pedir algo caro. —Segui em direção a uma mesa diferente onde peças de lembranças esportivas chamaram minha atenção. Sabendo o quanto Ivan amava os Rockets, eu não poderia deixar passar a oportunidade de dar um lance em alguns itens de jogadores que ele assistia quase religiosamente. Vivian tocou meu braço, me avisando que estava saindo para se juntar ao marido, e eu sorri para ela antes de voltar minha atenção para os itens que eu queria. Depois de anotar meus lances e anotar a hora de fechamento de cada peça, vaguei pelas mesas restantes em busca de qualquer outro item interessante. Eu diminuí a velocidade e parei para ler a descrição de um pacote de férias em Napa Valley que incluía um passeio de balão de ar quente. Meus pensamentos se afastaram do glamour chique da festa de gala para minha irmã sentada em sua cela fria, contando os dias e horas até sua libertação. Ruby sempre quis dar uma volta em um balão de ar quente. Ela costumava pedir um passeio todos os anos em seu aniversário, mas nossos pais nunca tinham providenciado isso. Mas eu poderia. Teria de esperar até que ela completasse sua liberdade condicional e pudesse viajar para fora do condado. Poderíamos fazer uma viagem só para meninas e nos reconectar longe de nossas vidas cotidianas. Talvez não Napa Valley. Ela costumava falar sobre Sedona, então talvez Arizona... —Erin? A voz familiar do meu ex-namorado Teague interrompeu meus pensamentos. Tínhamos terminado bem as coisas quase um ano antes de eu conhecer Ivan e ainda gostava de sua companhia nas poucas vezes em que nos cruzamos. Virando-me, sorri para ele. — Olá, Teague.


Quando ele se aproximou para um abraço, eu permiti porque ele nunca tinha sido nada além de respeitoso com os limites de nossa amizade desde o rompimento de nosso relacionamento. Fiquei surpresa com o cheiro de bourbon e cigarros impregnado nele quando nos abraçamos. Ele nunca tinha fumado e raramente tomava uma cerveja quando namorávamos. Quando nos afastamos, notei as linhas de tensão ao redor de seus olhos e boca. Considerando as longas horas que seu trabalho exigia, não fiquei muito surpresa. Gentilmente, perguntei: —Está difícil no trabalho? Ele pareceu envergonhado e esfregou o queixo. —Os cigarros, não é? Acenei com a cabeça. —E o bourbon. Ele fez uma careta. —Desculpe. Eu, uh, comecei um pouco mais cedo este ano. —Ele esfregou a nuca. —Os cigarros são um péssimo hábito que peguei de alguns dos caras do meu andar na empresa. —Bem, eu não vou aborrecer você sobre eles. —Eu prometi. —Esta noite, pelo menos. Ele riu. —Graças a Deus, você está em um clima festivo esta noite. —Existem outras empresas nas quais você poderia trabalhar. —Sugeri. —Não ganhando o quanto estou agora. —Sua resposta não me surpreendeu. Na verdade, foi um lembrete claro do motivo de não termos dado certo. —Eu gosto de onde estou, e há alguns caminhos claros para o grupo de executivos seniores na minha empresa. Os bônus são imbatíveis. —Contanto que você esteja feliz. —Respondi, optando por não dizer o que realmente estava pensando. Seus problemas com seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal não eram mais problema meu.


—E você? Está feliz trabalhando para o seu marido? —Seu tom era mais um lembrete de por que não tínhamos funcionado juntos. —Parece um desperdício de seu diploma e todas aquelas certificações trabalhar como secretária dele. —Em primeiro lugar. —Dei um passo em sua direção. — Trabalho com meu marido. Em segundo lugar, estou usando meu diploma. —E terceiro? —Ele arqueou suas sobrancelhas loiras. —Eu não tenho que justificar minhas escolhas profissionais para ninguém. —Entregando a ele minha taça de champanhe vazia, me virei e me afastei dele. Irritada por tê-lo deixado me atingir, expirei minha frustração. Antes mesmo de lançar um olhar ao redor da sala para encontrar Ivan, senti sua mão reconfortante pousar contra minhas costas. Seu calor familiar irradiou pelo meu vestido e na minha pele. Meus olhos se fecharam por um breve e perfeito momento enquanto ele beijava ternamente minha bochecha e depois meu pescoço. —Você quer que eu dê uma surra nele? —Sua voz profunda e grave mal era alta o suficiente para eu ouvir. Ele deslizou seu braço em volta da minha cintura e me puxou com força para o seu lado. — Eu conheço essa expressão em seu rosto. O que ele disse? —Nada importante. —Assegurei a ele. —Ele só queria me lembrar de por que eu terminei com ele. Ele resmungou algo baixinho e apertou minha mão. —Vamos encontrar nossos lugares. O jantar está prestes a começar. Encontramos nossa mesa no meio do salão. Já havia um casal que eu não reconheci sentado lá, mas o repentino aperto da mão de Ivan na minha me disse que ele sim. Não houve tempo suficiente para que ele me dissesse o que estava errado, porque o casal se levantou e se apresentou.


—James. —Disse Ivan, estendendo a mão para apertar a mão do homem. —Esta é minha esposa, Erin. —Prazer em conhecê-la, Erin. —Seu aperto era forte ao redor do meu, e tive a sensação imediata de que ele estava escondendo algo. Ele soltou minha mão e gesticulou para a linda loira ao lado dele. —Esta é minha esposa, Missy. —Prazer em conhecê-la, Missy. —Apertei sua mão e notei a saliência de sua barriga sob o vestido vermelho brilhante, mas não a parabenizei por medo de cometer uma gafe terrível. —Oh, você pode dizer isso. —Disse Missy, notando claramente o meu olhar. —Cinco meses. —Ela esclareceu. —Nosso sexto. —Outro menino. —Disse James com orgulho e beijou a têmpora de sua esposa. —Parabéns. —Eu disse com um sorriso genuíno. —É uma bênção incrível. —Vocês dois têm filhos? —Missy perguntou, e a mão de Ivan se moveu para meu quadril, me dando um aperto reconfortante. —Ainda não. —Eu sorri para Ivan. —Mas estamos trabalhando nisso. —A prática leva à perfeição. —Disse James enquanto segurava a cadeira de sua esposa. Ivan espelhou seus movimentos e segurou a minha, as pontas de seus dedos roçando meus ombros nus enquanto ele sentava-se ao meu lado. Outros casais começaram a se dirigir para as cadeiras vazias da nossa mesa e para as que nos rodeavam. Notei Lena e Yuri caminhando em direção à frente, onde se sentaram perto de Vivian e Nikolai. Alexei e Shay estavam bem ao nosso lado em uma mesa cheia de casais que ele claramente conhecia muito bem a julgar por todos os sorrisos e risadas.


Ivan se endireitou com óbvio interesse quando o último casal se juntou à nossa mesa e sentou-se nas duas últimas cadeiras ao lado dele. Reconheci o jogador de basquete, Amos, e Karima, sua esposa, advogada de sucesso, da TV e das redes sociais. James e sua esposa tiveram uma reação estranha ao ver o casal se juntando ao nosso grupo de oito. Seus sorrisos pareciam tensos e obviamente forçados, e seus apertos de mão foram rápidos. Ivan, por outro lado, nem mesmo escondeu seu entusiasmo ao cumprimentá-los, e eu não fiquei nem um pouco surpresa que Amos imediatamente começou a perguntar a ele sobre vagas de treinamento abertas no armazém. —Então, você trabalha com seu marido? —James perguntou enquanto se inclinava para o lado para permitir que um garçom servisse vinho em sua taça. —Sim. —Cobri minha taça com a mão, indicando que queria água com minha refeição. Minha cabeça já estava um pouco leve depois do champanhe. —Eu cuido do lado comercial da academia. —Você também treina com ele? —Missy perguntou. —É que percebi que você tem alguns pontos. —Disse ela, apontando para minha linha do cabelo. —Achei que poderia ter sido um acidente de treino. —Oh. Não. —Eu ajeitei minha franja conscientemente para cobri-los novamente. —Na verdade, fui assaltada na saída de um estúdio de ballet. Um roubo aleatório. Eu caí e bati com a cabeça. — Expliquei, mantendo os detalhes para mim mesma e descartando a preocupação deles. —Estou totalmente bem, no entanto. —O que está acontecendo com esta cidade? —Missy perguntou com uma bufada. —Juro que sempre que ligo o noticiário é uma história sobre um roubo, um assassinato ou algum tipo de agressão. —Ela balançou a cabeça. —Precisamos de mais policiais nas ruas para lidar com essas gangues e bandidos. Não querendo debater com ela sobre os tópicos de policiamento, violência de gangues ou ciclo da pobreza, fiquei aliviada


quando seu marido redirecionou a conversa, depois de um olhar severo para ela. —Então, você não treina na academia? —Ele perguntou, sua expressão suavizando quando ele olhou para mim. —Não o Jiu Jitsu. —Esclareci. —Eu uso a academia para exercícios aeróbicos e alguns levantamentos leves, mas é isso. Não há nenhum lutador na academia com meu peso ou tamanho para ser seguro lutar no tatame. —Nenhuma mulher na academia? —Missy franziu a testa. —Apenas eu. —Era uma das questões sobre as quais discutíamos regularmente. Eu queria abrir a academia para as mulheres, mas Ivan recusava porque não se sentia confortável em treiná-las. —Parece que você está perdendo uma grande fatia dos negócios. —Observou James. —Muitas mulheres estão no MMA atualmente. —Elas com certeza estão. —Eu concordei. —Os irmãos Connolly têm muitas aulas para mulheres e crianças. Há algumas outras academias na área que também as oferecem. Nós simplesmente não somos uma delas. —Ouvi dizer que havia algum interesse sobre o armazém hospedar um acampamento para aquele programa de luta da TV. — Disse James, claramente ciente de que era mais do que simples interesse. —Tivemos algumas discussões. —Não querendo entrar em detalhes sobre um negócio que ainda não havia sido fechado, mudei de assunto. —Então, o que vocês dois fazem? —Eu sou dona de casa. Eu também ensino os meninos em casa e tenho um blog e um canal no YouTube.


—Oh, uau! Você deve estar exausta quando chega a hora de dormir. —Eu disse, incapaz de me imaginar lidando com cinco garotos indisciplinados enquanto estava grávida e trabalhando. —Estou, mas vale a pena. Meus meninos merecem o melhor. —Ela sorriu calorosamente e esfregou o braço de seu marido. — Queremos que eles sejam criados em um bom lar cristão com valores familiares tradicionais. Não os queremos expostos a ideias erradas. Suspeitei que as ideias erradas poderiam ser coisas como evolução, mas não queria entrar em uma discussão tão profunda em um jantar beneficente. Em vez disso, eu disse: —Tive amigos na faculdade que foram educados em casa. Todos eles se saíram extremamente bem. —Você estudou nas escolas públicas aqui? —Ela perguntou. Eu balancei a cabeça. —Eu fui para St. John's. Minha irmã e eu fomos pra lá. —Eu esclareci. —Nossa mãe era a diretora financeira da escola. —E seu pai? —Perguntou James. —Ele era sócio da Ernst & Young. —Expliquei, esperando que deixassem o assunto de lado. Eu não estava com disposição de falar sobre meus pais já falecidos esta noite. —E o que você faz, James? —Estou no ramo imobiliário. Eu possuo uma empresa de desenvolvimento comercial com sede em Dallas, mas abri uma nova filial aqui. —Você está trabalhando no projeto de ampliação da I-45? —Nós estamos. —Ele confirmou. Então, com um sorriso conhecedor, ele perguntou: —Por quê? Você tem alguma propriedade que deseja desenvolver?


—Talvez. —Respondi timidamente. —Eu sei que esta noite não é a hora de falar de negócios, no entanto. —Não. —Ele concordou. —Mas é um bom momento para fazer conexões. Poderíamos agendar uma reunião ainda esta semana? Você pode encontrar meus dados em nosso site comercial. —Claro. —Afastei-me de James por um breve momento enquanto Ivan apertava minha coxa sob a mesa para chamar minha atenção. Compartilhamos um olhar que comunicou facilmente o que ele queria que eu soubesse. Esse homem é perigoso. Não prometa nada a ele. Encontrei sua mão sob a toalha de mesa e a apertei para que ele soubesse que eu tinha entendido. Com a chegada dos aperitivos, as anfitriãs da noite subiram ao palco. Olhei ao redor da sala, esperando ver Holly em algum lugar, mas a mesa onde sua mãe estava sentada tinha duas cadeiras vazias. Talvez ela não estivesse com vontade de comemorar depois de sua provação no México... Quando a dança começou depois do jantar, Ivan não perdeu tempo e me puxou para o centro do salão. Estávamos trabalhando em seu two-step9 desde que o convite chegou, e ele provou como dominou rapidamente novas habilidades enquanto nos conduzia pelo salão onde uma banda tocava cover de George Strait. Não dançávamos tanto desde o casamento de Bianca e Sergei, e era muito bom nos soltar e nos divertir. Pouco depois das onze, parei nas mesas de leilão para ver se meus lances haviam vencido. Consegui conter meu grito de empolgação quando vi que havia ganhado dois dos itens que queria para Ivan. Agora eu só tinha que descobrir como surpreendê-lo com eles. —Acho que vamos para casa. —Disse Vivian ao se juntar a mim perto da mesa de itens de lembranças esportivas. Ela pousou as mãos em sua barriga muito grávida e suspirou. —Estou exausta. 9

Dança country de casal, coreografado, dançado livre ou em círculos, como em uma quadrilha.


—Vá para casa. Faça Nikolai massagear seus pés. —Olhei para seus saltos e balancei a cabeça. —Não sei como você está andando nessas coisas. —Com muito cuidado. —Ela disse com uma risada. Ela me deu um abraço de boa noite e se virou para sair. —Vejo você amanhã no brunch. —Sim. —Procurando por Ivan na sala, eu o encontrei conversando com alguns tipos igualmente altos e fortes. Atletas. Provavelmente interessados em entrar na academia e rolar no tatame com Ivan e sua equipe. Como se pudesse sentir meu olhar, ele olhou na minha direção e toquei o lóbulo da minha orelha, nosso sinal secreto de que eu estava correndo para o banheiro feminino. Ele acenou com a cabeça e eu soprei para ele um beijo dramático. Ele sorriu, e eu me virei, caminhando com um pequeno balanço extra nos meus quadris. A noite estava terminando e eu conhecia meu marido bem o suficiente para esperar uma travessura selvagem quando ele me tivesse sozinha novamente. A fila para o banheiro estava mais longa do que eu esperava e tive alguns minutos para abrir minha bolsa e verificar meu telefone. Havia as notificações costumeiras de rede social e mensagens de textos me desejando um feliz ano novo. Uma chamada perdida chamou minha atenção. Não reconheci o número. Havia um correio de voz também. Certa de que era algum bêbado que tinha discado o número errado, fechei e coloquei meu telefone de volta na minha bolsa. A fila se moveu mais rapidamente e, em pouco tempo, eu estava de pé na pia lavando as mãos. Segurei minha toalha de papel quando cheguei à porta, usando-a para agarrar a maçaneta e segurando a porta com a ponta do meu sapato antes de jogar a toalha de papel no lixo próximo. No corredor estreito, mas bem iluminado, desviei de um trio de mulheres consolando uma quarta que estava chorando e desviei o olhar quando passei por um casal mais velho se beijando como adolescentes em um canto escuro. O álcool fluía livremente a noite


toda e as pessoas estavam começando a se soltar. Era engraçado, para dizer o mínimo. —Erin. Eu me encolhi por dentro ao som da voz de Teague. Com um suspiro contrariado, virei-me para ele. —Teague. Ele cambaleou em seus pés, e eu me preocupei que ele estivesse prestes a cair de cara. Ele havia perdido a gravata borboleta e o colete em algum momento durante a noite, e seu chapéu de cowboy estava amassado em sua mão esquerda. Suas bochechas estavam vermelhas e seus olhos vidrados quando ele deu um passo em minha direção com um dedo acusatório. —Eu sei o seu segredo. Pega de surpresa, perguntei: —Que segredo? —Sobre sua irmã. —Ele disse arrastadamente. Revirei meus olhos. —Você está bêbado. Ligue para uma carona. Vá para casa. Dormir. —É melhor você fazer o que eles disseram, querida. Diga a sua irmã para manter a boca fechada – ou então. Um calafrio percorreu meu corpo, congelando-me bem no lugar onde eu estava. —O que você disse? —Você me ouviu. —Ele cutucou meu ombro com força suficiente para que eu vacilasse, e dei um passo para trás para me afastar dele. Ele deu um passo à frente, me encurralando contra a parede. Seu hálito azedo agrediu meu nariz quando ele se inclinou e sussurrou: —Você pode mentir o quanto quiser para a polícia, mas eu sei a verdade. Eu sei o que sua irmã fez e sei o que eles vão fazer com você se ela falar. —Sua expressão mudou quando ele ficou repentinamente triste. —A mesma coisa que eles vão fazer comigo. Ignorando os sinos de alerta dentro da minha cabeça que me incitavam a fugir, perguntei: —Quem são eles?


Ele balançou a cabeça e sacudiu o dedo bem na minha cara. — Não, senhora. Não vou dizer uma palavra. —Ele fez o sinal de passar o fecho nos lábios. —Ou então eles vão realmente me foder. —Estou a dois segundos de te foder. —Ivan rosnou, parecendo surgir do nada. Ele agarrou o ombro de Teague e o girou, empurrando-o contra a parede. Olhando para Teague, ele rosnou: — Se você tocar na minha esposa de novo, vou cortar suas duas malditas mãos. Compreendeu? Teague empurrou Ivan, mas era inútil contra um homem muito mais forte e mais alto. —Vá se foder, seu grande idiota russo. —Ele então empurrou Ivan com as duas mãos desta vez, mas Ivan não se mexeu. —Eu coloquei minhas mãos em toda a sua esposa antes de você. —Ele se dirigiu a mim. —Não apenas minhas mãos. Meu pau estava... Ele não teve a chance de terminar sua declaração imunda. Em um flash, Ivan o girou e puxou seu braço para trás das costas. Ele usou toda sua altura e força para empurrar Teague contra a parede, esmagando o lado de seu rosto contra o papel de parede dourado brilhante. Ele aproximou a boca do ouvido de Teague e disse algo que não consegui ouvir. O que quer que tenha sido, Teague empalideceu e assentiu rapidamente. Um segundo depois, Ivan o puxou para longe da parede e o empurrou pelo corredor. Ele cerrou os punhos ao lado do corpo e eu coloquei a mão em seu peito, sentindo seu coração batendo forte e seus pulmões se expandindo com a respiração acelerada. Esfreguei seu peito e desviei sua atenção de Teague, que estava fugindo correndo, para mim. Ele cobriu minha mão com a dele e eu sorri gentilmente. —Vamos. Ele não teve que ser perguntado duas vezes. Deixando para trás o chapéu em algum lugar do salão principal, ele me levou não para o manobrista do lado de fora como eu esperava, mas para o elevador. Lancei a ele um olhar questionador, e ele encolheu os ombros como se dissesse: —Confie em mim. —Então eu confiei.


Entramos no elevador seguinte e ele enfiou a mão no paletó do smoking para pegar a carteira. Ele puxou uma chave de cartão de hotel e a passou no leitor. As portas do elevador se fecharam e começamos a subir em direção aos andares exclusivos do hotel. Quando o elevador parou, ele deu um puxão brincalhão na minha mão e me levou a uma das duas portas em todo o andar. Ele destrancou nosso quarto e gesticulou para que eu entrasse primeiro. Tonta de expectativa, entrei na antessala opulenta e me virei para encarar meu marido sorridente. —Ivan! —Então você gostou? —Sim! —Bom. —Ele fechou a porta e trancou-a atrás de si antes de se aproximar com passos longos e determinados. As solas de suas botas bateram contra o piso de mármore e meu coração disparou enquanto seu olhar aquecido prometia uma noite de êxtase selvagem. Suas mãos pousaram em meus quadris e ele se abaixou para acariciar minha bochecha e depois meu pescoço. —Por quê? —Porque você merece. —Ele respondeu com naturalidade. Suas grandes mãos se moveram para o lado do meu vestido, que ele tinha me ajudado a fechar o zíper mais cedo. Ele abaixou-o lentamente, enquanto salpicava beijos suaves ao longo do meu ombro nu. —Eu sei que tem sido difícil para você. O roubo. Sua irmã. —Ele hesitou. —Nosso projeto de bebê. Meus olhos se fecharam enquanto ele empurrava meu vestido pelos meus braços. Mesmo que eu quisesse me perder no momento romântico, percebi que tínhamos que conversar sobre o que havia acontecido lá embaixo. —Sobre Teague... —Não. —Ele interrompeu bruscamente. —Não quero ouvir o nome dele de novo.


—Mas ele disse... Ivan se afastou o suficiente para olhar nos meus olhos. —É algo que podemos consertar esta noite? Eu balancei minha cabeça. —Não. —Então vamos deixar para amanhã. —Ele pediu e, em seguida, me beijou, deixando de lado a questão. Ele empurrou o vestido pelo meu corpo, deslizando as mãos sobre a pele nua que ele descobriu. Ele soltou um grunhido apreciativo quando eu estava de pé usando apenas minha calcinha, sutiã, joias e saltos. —Não se mova. Eu não ousei. Parada ali na entrada, eu o observei se despir, tirando camada após camada até que ele estava descalço usando apenas sua cueca boxer. Ele me lembrou um leão enquanto caminhava em minha direção. Eu tremia por dentro, tentando decidir se deveria correr e fazê-lo me perseguir ou ficar ali e deixá-lo me devorar. Eu escolhi o último. Ele me empurrou contra a parede mais próxima e arrastou minha pequena calcinha pelas minhas coxas e pernas até que eu pudesse sair dela. Ele não perdeu tempo em conseguir o que queria depois disso. Levantou minha perna esquerda e colocou-a sobre seu ombro, dando-lhe o acesso de que precisava. Ele atacou minha boceta como um homem faminto, me chocando com o golpe insistente de sua língua. Comecei a balançar e ele agarrou minha outra perna, levantando-a por cima do ombro. Ele agarrou minha bunda com uma mão enquanto a outra acariciava entre minhas nádegas e, em seguida, mergulhou em meu calor úmido. Sua língua fez coisas incríveis comigo, lambendo e sacudindo meu clitóris com a velocidade e pressão certas. Ele havia compreendido e dominado meu corpo e usava esse conhecimento para me deixar louca.


—Não! —Eu gritei em protesto quando ele afastou sua boca de mim. Eu estava tão perto que minhas pernas tremiam. Ele sorriu para mim e enxugou a boca molhada na minha barriga. Ele abaixou minhas pernas e levantou-se, elevando-se sobre mim e me lembrando quão grande e forte ele é. Como se quisesse deixar claro esse ponto, ele me pegou em seus braços e me carregou como uma noiva para o incrível quarto da suíte. Champanhe. Rosas. Petiscos. Frutas. Ele tinha organizado um cenário romântico, e meu coração quase explodiu com meu amor por ele. —Ivan! —Eu planejava beber champanhe primeiro, mas mal posso esperar. —Admitiu. —Vamos continuar. —Eu assegurei a ele. Ele sorriu com meu entusiasmo e me abaixou cuidadosamente na cama. Ele cobriu meu corpo com o dele, compartilhando seu calor e me aquecendo. Suas mãos percorreram meu corpo, acariciando e apertando até que eu estava ofegante de necessidade. Seus dedos grossos traçaram minha boceta, mergulhando e girando em torno do meu clitóris. Ele deslizou um dedo e depois mais dois dentro de mim, me esticando e acariciando por dentro a procura daquele ponto que me fazia ofegar. Quando ele encontrou, eu arqueei para fora da cama. —Ivan! —Eu quero que você goze para mim. —Ele ordenou antes de capturar minha boca. —Eu quero que você molhe minha mão com seu gozo. Que fique tão molhada que meu pau vai deslizar facilmente, para que você possa recebê-lo todo, até as bolas. —Ivan! —Eu agarrei seu pulso enquanto ele me dedilhava cada vez mais rápido. Ele moveu o polegar sobre o meu clitóris, deixando-o esfregar contra meu ponto sensível com cada impulso de seu pulso. Eu estava obscenamente molhada, meu corpo gotejando por ele e a promessa daquele pau enorme. Minhas coxas tencionaram e eu afundei meus dedos do pé na cama macia. Ele me beijou


rudemente, forçando sua língua entre meus lábios, e eu perdi o controle. Com um gemido gutural, fiz exatamente o que ele pediu. Eu gozei forte e encharquei sua mão. Eu ainda estava tremendo com as réplicas do meu orgasmo quando ele me virou, me jogando na cama e empurrando meus joelhos para frente para inclinar minha bunda para cima. A cama se moveu quando ele puxou para baixo sua cueca boxer e a jogou. Eu gritei em choque quando senti sua língua, não seu pau, na minha boceta. —Ivan! Ele agarrou a parte de trás das minhas coxas e enterrou o rosto em mim. Meu constrangimento por ser lambida assim desapareceu rapidamente quando sua língua pousou sobre meu clitóris. Na hora, perdi toda a inibição. Ele poderia fazer o que quisesse, contanto que continuasse agitando sua língua ali mesmo. Quando comecei a ofegar e tremer, ele afastou o rosto de mim, fazendo com que um gemido de protesto saísse da minha garganta. Ele agarrou meus quadris e esfregou seu pau contra meu calor escorregadio. Com um impulso forte, ele enterrou todo seu comprimento dentro de mim. Eu gritei com o choque e o alívio de ser preenchida por ele. —Ivan! Por favor! —Por favor, o quê? —Ele agarrou meu cabelo com uma grande mão e puxou minha cabeça para trás. —Por favor, o quê? —Foda-me. —Eu implorei. —Foda-me com força. —Estendi a mão e arranhei sua coxa, desesperada para levá-lo mais fundo. — Destrua-me. Ele rosnou como um urso e me deu exatamente o que eu queria. Ele assumiu o controle completo, liberando aquela fera dentro dele que eu desejava mais do que qualquer outra. Eu ficaria dolorida pela manhã e provavelmente teria hematomas nos quadris e ombros por causa de seu aperto. Eu os queria. Queria ver meu reflexo no espelho e saber que Ivan gostava tanto do meu corpo que deixou sua marca em mim.


Seu polegar de repente se afundou em minha bunda e eu ofeguei com a sensação selvagem de ser penetrada em ambos os lugares. Eu não pude evitar. Alcancei entre minhas pernas e corri minha mão ao longo da minha boceta e, em seguida, sobre seu pau até seus testículos. Ele praguejou em russo, palavras sujas soando de sua língua enquanto eu o deixava louco por tocá-lo de uma forma tão inesperada. Pronta para gozar e esperando que ele estivesse pronto para ir comigo, movi meus dedos para o meu clitóris e me toquei. Não demorou muito para chegar perto e menos ainda para me empurrar para o limite. Gritei o nome do meu marido, implorando para que ele não parasse, implorando para ele continuar, e ele obedeceu. Ele agarrou meus ombros com as duas mãos e se afundou em mim, me empurrando contra o colchão enquanto perseguia sua própria liberação. —Erin. —Ele rosnou. —Solnyshka. Anjo. (Raio sol em russo) —Ele empurrou profundamente e ficou imóvel, seu pau pulsando dentro de mim enquanto ele me enchia com sua liberação. Eu ofeguei embaixo dele, completamente relaxada e satisfeita. Incapaz de me mover, eu deixei que ele me virasse e me arrastasse para seu peito. Estremeci com os tremores secundários e ele acariciou minhas costas e meus cabelos. —Feliz Ano Novo, querida. Sonolenta e satisfeita, murmurei: —Feliz Ano Novo, Ivan.


CAPÍTULO 07 Mesmo em um dia em que deveria estar desfrutando de um merecido relaxamento, Ivan não conseguia dormir depois das sete. Seu relógio interno não permitia. Não pronto para sair da cama ainda, ele se virou de lado e encarou Erin. Ela estava em um sono profundo. Ele jurou que um trem poderia passar por seu quarto e ela nem mesmo se mexeria. A névoa matinal em sua mente se dissipou quando ele se lembrou do encontro com Teague. Sua mandíbula apertou com a memória daquele idiota forçando Erin contra a parede e confrontando-a, isso fez seu estômago queimar de raiva. Foi preciso cada grama de contenção para não bater nele na noite passada. Se ele fosse mais jovem e selvagem, menos temeroso das consequências, teria arrebentado a cara de Teague, mas ele estava mais velho agora, casado e entendia que tinha muito a perder. O que quer que Teague tenha dito a Erin, a deixou abalada. Ele sentiu um pouco de culpa por não deixá-la dizer a ele na noite passada, mas ele havia planejado tudo para uma fuga romântica para fazê-la se sentir especial. Ele não queria que Teague arruinasse o resto da noite deles. Agora, porém, ele queria saber o que Teague havia dito. Ele também queria saber se Teague a tratava assim quando eles estavam juntos. Nenhum deles falou muito sobre seus amantes do passado. Nenhum de seus relacionamentos antes de Erin durou mais do que algumas semanas, e ela confessou nunca ter amado ninguém até ele. Ela havia cuidado dos homens em seu passado, mas jurou que ele foi o único que despertou sentimentos de amor verdadeiro. Ele acreditou nela. Perder os pais e ter uma irmã mais velha que lutava contra o vício tinha a deixado arredia e com medo de ser vulnerável. Talvez ela tivesse sentido a mesma coisa nele. Talvez


tenha sido isso que os aproximou naquele dia fatídico em que ela entrou em sua academia e pediu sua ajuda. Não querendo acordá-la, ele descansou a cabeça na palma da mão e simplesmente apreciou a vista. Em momentos de silêncio como aquele, ele não conseguia acreditar que ela pertencia a ele. Ele não conseguia entender como uma mulher como esta poderia amá-lo. Ela merecia muito mais do que ele era capaz de dar a ela, mas ela parecia estar inteiramente satisfeita com a vida que eles estavam construindo juntos. Ele tentou não duvidar do amor dela por ele. Ele tentou não permitir que as feridas de sua infância estragassem o maravilhoso presente que ele havia recebido. Ele tinha passado tanto tempo de sua vida sendo indigno, indesejado e não amado que ainda era difícil se ajustar a Erin dizendo a ele todos os dias o quanto ela o amava e se importava com ele. Saber que uma pessoa tão doce, gentil, generosa e não marcada pelas trevas da vida pudesse querê-lo – pudesse apreciá-lo e amá-lo – era chocante. Mas ela queria. As pequenas coisas que ele fazia para fazê-la sorrir e se sentir especial, os presentes inesperados ou saídas surpresa como aquela, eram como uma apólice de seguro. O menino assustado dentro dele, que temia ser abandonado, acreditava que dar presentes a ela e tornar sua vida confortável equilibraria qualquer uma das coisas estúpidas que ele pudesse dizer ou fazer para diminuir o amor dela por ele. Ele odiava se sentir assim. Ele acreditava nela quando ela dizia que não precisava ou queria coisas caras, mas isso não o impedia de desfrutar de seu sorriso entusiasmado ao receber algo bonito. A alegria dela em receber seus presentes se igualava à alegria dele em dá-los. Superado pela necessidade, ele se inclinou e beijou suavemente seus lábios. Ele roçou os dedos ao longo de sua bochecha e queixo e deu outro beijo na lateral de sua boca. Ela inalou profundamente e se aconchegou contra ele, suas mãos elegantes alcançando a cintura e ombro dele. Ele passou os dedos pelos cabelos dela e capturou sua


boca em um beijo mais determinado. Ela choramingou contra sua língua, e seu pau pulsou para vida. Ela suspirou feliz quando ele a rolou sobre suas costas, cobrindo seu pequeno corpo e afastando suas pernas com os joelhos. Ele correu a mão pelo lado dela até o quadril e, em seguida, deslizou-a ao longo da parte interna da coxa até chegar à sua boceta. Ela se arqueou com seu toque e ele sorriu contra a boca dela. Com a facilidade praticada de um homem que conhecia o corpo de sua esposa, ele acariciou entre suas coxas até que seus dedos estivessem cobertos com seu calor úmido. Ela ficou impaciente e enganchou os calcanhares contra a parte de trás das coxas dele, puxando-o em sua direção. Ele não precisava ser perguntado duas vezes. Ele se abaixou e se guiou para dentro dela, e ela gemeu com necessidade. Suas unhas curtas arranharam os ombros dele enquanto ela se agarrava a ele, levando seus golpes lentos e constantes. Era o tipo de fazer amor sem pressa que ele nunca tinha imaginado que desfrutaria até ela. Ele gostava de levar seu tempo e extrair os prazeres de ambos. Ela trouxe sua própria mão entre seus corpos. A visão de seus dedos finos esfregando círculos rápidos em torno de seu clitóris o fez perder o fôlego. Normalmente ela gostava quando ele a tocava, mas esta manhã ela estava tão animada que mal podia esperar. Ele moveu a mão de seu seio para o pescoço, correndo o polegar pela frente de sua garganta de uma forma que fez as pupilas dela dilatarem. Ele nunca iria além de uma carícia gentil em seu pescoço – nunca – mas ela gostava do leve lembrete do comando e poder que ele tinha sobre ela. Ele deixou sua mão flutuar mais alto até que seu polegar estava entre os lábios dela, e o resto de seus dedos se curvaram ao redor de sua mandíbula e bochecha. Suas coxas se apertaram em volta da cintura dele e ela se acariciou mais rápido. Um rubor se espalhou por seu peito e penetrou em seu pescoço e rosto enquanto ela arfava. Seus olhos se fecharam brevemente e então ela ofegou. —Ivan!


Senti-la desfeita sob ele matou seu controle. Ele caiu para frente, apoiando o braço próximo à cabeça dela e usando a outra mão para agarrar sua bunda e mudar o ângulo. Ela gritou de prazer, e ele apertou seus quadris, fodendo-a enquanto ela agarrava seus quadris, cintura e ombros. —Eu te amo. —Ela sussurrou contra a bochecha dele. Seus lábios tocaram a pele dele, e ele estremeceu com os sentimentos selvagens que ela evocava. —Eu te amo muito. Isso foi o suficiente para empurrá-lo até o limite. Ele agarrou a nuca dela, enrolando os dedos em seu cabelo, e capturou sua boca em um beijo punitivo enquanto gozava. Ela gemeu e acariciou suas costas, aliviando-o do torpor de seu clímax. Relutante em se afastar dela, ele ficou enterrado dentro dela até que escorregasse para fora, aproveitando sua proximidade para beijá-la até que seus lábios estivessem inchados. Ele caiu de lado e passou o braço por baixo da cintura dela, arrastando-a pela cama até que ela ficasse presa em seu abraço. Ela riu com o movimento do homem das cavernas e beijou sua mandíbula. —Essa foi a maneira perfeita de começar este novo ano. Ele sorriu enquanto passava os dedos pelos cabelos dela. — Eu me sinto culpado por acordar você cedo. —Está tudo bem. Eu posso tirar uma soneca mais tarde. —Temos o quarto até amanhã. Você deveria visitar o spa. —Posso ver se eles têm vagas após o nosso brunch. Ele gemeu com o lembrete. —É no Samovar? Ela bufou e deu um tapinha em seu peito. —Não. Lena recusou e Vivian finalmente concordou em deixar Benny escolher o local. —Finalmente. —Ele resmungou.


Ela riu e esfregou levemente as unhas no peito dele até logo abaixo do umbigo e depois voltou a subir. Depois de alguns momentos de carinho ocioso, ela perguntou gentilmente: —Podemos falar sobre Teague? —Sim. —Ele cobriu a mão dela com a sua e se virou para olhar para ela. —O que ele disse que te aborreceu? —Ele sabia. —Sobre? —Sobre o estacionamento. —Eu não entendo. —Ele sabia o que me disseram. —O coração dele deu um salto e ele estudou seu rosto. Medo e confusão se refletiam em seus olhos. —Como ele poderia saber disso se não estivesse lá presente ou envolvido de alguma forma? —Ele não faria isso. —Ivan concordou, sua mente correndo com possibilidades. —Eu não quero que você o veja novamente. Ele é perigoso. —Eu não quero vê-lo novamente. —Ela o assegurou. —Havia algo... estranho nele na noite passada. —Estranho? Como? —Ele estava bêbado. Ele cheirava a cigarro. Ele parecia estressado. —O que ele faz? Algo com dinheiro? —Banco de investimento. —Ela esclareceu. —Ele é ótimo. — Ela enfatizou. —Ele tem afinidade com isso. Pelo risco. —Ela explicou. —Talvez ele tenha se arriscado muito com o dinheiro de outra pessoa. —Ele sugeriu.


—Provavelmente. —Ela concordou. —Mas como diabos o trabalho dele está conectado a Ruby na prisão? —Eu não sei. —Ele não gostava de não saber. Isso o deixa inquieto e tenso. —Mas eu vou descobrir. —Eu posso buscar algumas informações. —Ela ofereceu. — Um dos meus amigos da faculdade trabalha na empresa. Ele queria proibi-la, mas ela só iria pelas costas dele e isso a colocaria em ainda mais perigo. —Com cuidado. —Ele disse finalmente. —Muito, muito cuidado. —Eu prometo. —Ela se moveu para mais perto até que sua bochecha estava contra o peito dele. Depois de um momento, ela perguntou: —Qual é o problema com os Muellers? —Ele é o chefe de um grupo de supremacia branca. —O quê? —Horrorizada, ela ergueu a cabeça e franziu a testa. —Sério? Ele assentiu. —Ele é o lado respeitável daqueles idiotas malucos e odiosos. O lado com o dinheiro e as conexões que os torna todos perigosos. Ela se encolheu e gemeu. —Meu Deus! Não é à toa que eles fizeram aquela cara quando Amos e Karima se sentaram! —Ela olhou para a própria mão e fez uma careta. —Ai, credo! Eu toquei nos dois! —Eu não acho que você pode pegar o ódio como um germe, anjo moy. Ela revirou seus lindos olhos. —Obviamente! Só quero dizer que eu meio que gostei da companhia deles. Não que eu queira ser amiga ou algo assim, mas achei que eles eram boa gente. Agora, eu


descubro que eles são esquisitos de poder branco empunhando tochas tiki10! —Bem, nunca mais teremos que vê-los novamente. —Teremos. —Ela rebateu. —Se você deseja desenvolver alguma de sua propriedade, M ' —Nossa propriedade. —Ele corrigiu. —Nossa propriedade. —Ela amenizou. —Talvez tenhamos que lidar com ele. Já disse que faria uma reunião com ele. —Vá para a reunião. Veja o que ele tem a dizer. Quando acabar, finja que está pensando sobre. Dê um ou dois dias para pensar no assunto e diga não. Diplomaticamente. —Acrescentou ele. —A última coisa que precisamos é de problemas com alguém assim. —E quanto a Ruby? Estou preocupada. Ainda não tive notícias dela. —Ela provavelmente está sendo mudada entre partes da prisão. —Ele queria acalmar seus medos, mas secretamente, se preocupava que algo ruim tivesse acontecido com sua irmã. —Muitos prisioneiros que chegam ao fim de sua pena são movidos de um bloco de celas para outro ou para uma ala reservada. —Tenho certeza que é isso. —Erin disse suavemente. — Ficarei feliz quando a levarmos para casa. Ele não compartilhava desses sentimentos. —Eu sei que você vai.

10

Grupos supremacistas brancos tem o costume de realizarem marchas empunhando esse tipo de tocha.


Ela deu um beijo em sua mandíbula e lentamente se desvencilhou de seus braços e do lençol. —Quer tomar um banho comigo? —Como se você tivesse que perguntar? —Ele lançou as pernas para o lado da cama e se levantou. Ele se espreguiçou e seu estômago roncou alto. Esfregando a mão sobre o abdômen, ele admitiu: —Estou morrendo de fome. —Claro que você está! Você não tem seu copo gigante de lama de proteína, seu galão de água e vinte ovos. —Não é lama. —Ele resmungou. —E eu nunca comi vinte ovos de uma vez só. Ela deu um tapinha em seu estômago vazio e então deu um tapa em sua bunda. —Vou pedir serviço de quarto antes de entrar com você. Estaremos vestidos quando chegar aqui. Ele roubou um beijo rápido e beliscou a bunda dela em retribuição pelo golpe. Ela gritou e bateu na mão dele de brincadeira. Rindo, ele caminhou até o banheiro e ligou o chuveiro, ajustando a temperatura das várias duchas até que estivesse confortável. Ele aproveitou a privacidade para fazer suas necessidades e entrou no chuveiro. Ele mal tinha molhado a cabeça e os ombros quando Erin invadiu o banheiro. —Ivan! —O que há de errado? —Ele empurrou para o lado a porta de vidro deslizante e pisou no tapete do banheiro, onde ela estava com o telefone na mão. —Ontem à noite, recebi uma ligação de um número que não reconheci. Presumi que fosse um erro de discagem ou uma chamada de spam, mas ouça. —Ela estendeu o telefone e tocou no ícone do alto-falante na tela. Ele recuou ao som de uma mulher gritando. Sua suposição inicial de que era Ruby gritando foi rapidamente eliminada quando a mulher começou a implorar por ajuda em espanhol. Seus gritos de


dor e o som de batida de alguma coisa – um cinto, ele pensou – contra seu corpo, ecoaram no banheiro. Não havia como confundir o grunhido no fundo. Seu estômago revirou ao perceber que eles estavam ouvindo um estupro. O correio de voz terminou no meio de um grito. A mão de Erin tremia enquanto ela abaixava o telefone. Ela parecia prestes a desfalecer, e ele rapidamente a agarrou pela cintura, puxando-a contra seu corpo molhado para mantê-la em pé. Ele pressionou o rosto no dela e apressadamente assegurou: —Não é Ruby. Você sabe disso, certo? —Eu sei. —Disse ela, começando a chorar. —É apenas um idiota tentando assustar você. —Está funcionando. Ele apertou a mandíbula, odiando que sua esposa estivesse sendo atormentada dessa maneira. —E se isso estiver acontecendo com Ruby? Ao ouvir a voz dela, sua preocupação não tornou mais fácil para ele dizer: —É possível. —Você acha que foi isso que ela viu? Que é sobre o que eles querem que ela fique quieta? —Pode ser. —Ele confirmou relutantemente. —Ou, pode ser algum bastardo doente que está provocando você. —Eu preciso ligar para o advogado dela. Ele começou a dizer a ela que não havia nada que o advogado de Ruby pudesse fazer. Não havia como provar que a chamada tinha qualquer ligação com sua irmã. Ruby iria sair em menos de quarenta e oito horas. Seu advogado não seria capaz de libertá-la mais cedo, não importava o escândalo que Erin fizesse. Em vez de dizer isso a


ela, ele disse: —Se isso vai fazer você se sentir melhor, ligue para ele. Veja o que ele diz. Ela começou a se afastar, mas ele a segurou firme. —Depois do nosso banho. Ainda não são oito horas. Ele provavelmente está dormindo e pode nem mesmo atender tão cedo no feriado. Ela cedeu e colocou o telefone no balcão. Segurando com força a mão dela, ele a levou para o chuveiro. Ele queria ancorá-la de volta à realidade, tirar seus pensamentos das imagens horríveis que o correio de voz havia gerado. Cuidadosamente, ternamente, ele lavou seu cabelo e seu corpo. Não havia nada de sexual no ato. Era simplesmente um marido limpando a esposa da maneira mais gentil possível. Mas mesmo enquanto ele a tocava com compaixão e amor, sua mente estava voltada para a escuridão e a violência. Quando ele pusesse as mãos no monstro que estava atormentando Erin, iria liberar o lado odioso e cruel dele que estava enjaulado por tanto tempo.


CAPÍTULO 08 Com um nó de ansiedade apertando o estômago, entrei no quarto de hóspedes uma última vez. Puxei as pontas do edredom, alisei os poucos vincos e afofei todos os travesseiros. Ajeitei a almofada na cadeira de leitura que tinha escolhido para Ruby e rearranjei o cobertor de chenille e plush. Entrei no closet e fiz uma contagem mental do que havia colocado nos cabides e nas gavetas. Outro arrepio de ansiedade passou por meu estômago enquanto eu temia que Ruby enlouquecesse quando percebesse que eu tinha ido fazer compras para ela. Depois que ela foi para a prisão, eu fui para o apartamento que ela dividia com o namorado. Àquela altura, a administradora já os havia despejado e tudo tinha sido jogado em sacos de lixo no depósito. Lena e Vivian me ajudaram a separar os sacos, vasculhando o conteúdo absolutamente imundo para encontrar o pouco que poderia ser recuperado. Ivan levou as coisas de Adrian para sua família – algumas fotos, sua carteira, seu equipamento de luta, seu violão – e todo o resto foi direto para o lixo. A memória de como minha irmã estava vivendo doía só de lembrar. Tomando pílulas e metanfetamina e tudo o mais que tivesse em mãos, ela não estava comendo nem tomando banho. Havia pilhas de lixo podre e torres de refrigerantes vazios e latas de bebidas energéticas por todo o lado. O apartamento havia sido tão danificado que a empresa de administração estava se preparando para processála. Eu tinha cuidado discretamente da conta com meu pagamento HEMS11 do curador, que nossos pais deixaram. Lena queria que eu enviasse uma conta ao administrador para obter o dinheiro da parte de Ruby, mas não me importei com a questão jurídica de tudo isso. Eu 11

O padrão HEMS é uma cláusula fiduciária usada para transmitir a intenção de um instituidor em relação às distribuições aos beneficiários. HEMS significa saúde, educação, manutenção e suporte. Os curadores são frequentemente orientados a distribuir o principal e / ou renda do fideicomisso em quantias que possam ser necessárias para a saúde, educação, manutenção e suporte de um beneficiário ou beneficiários.


só queria que tudo acabasse para que pudéssemos seguir em frente como uma família. —O quarto está perfeito. —Comentou Ivan quando saí do closet. Ele se encostou no batente da porta, os braços grossos cruzados na frente do peito enquanto me observava. Em vez de seus shorts e camiseta habituais, ele usava jeans escuro e uma camiseta cinza. Empurrando a porta, ele disse: —Se ela não gostar, ela pode pegar um Lyft12 no Motel 613 mais próximo. —Ivan! —Eu bati em seu peito. —Seja legal. Ele resmungou e baixou sua boca para a minha. —Eu serei legal se ela for legal. Revirei os olhos e me afastei de seu beijo. —Não somos crianças, Ivan. Podemos ser legais mesmo que ela seja uma idiota. E ela provavelmente vai ser difícil. —Acrescentei. —O livro que tenho lido sobre o reencontro com um ente querido após a prisão diz que o período inicial de adaptação à vida fora do confinamento pode ser muito estressante. Posso te mostrar o trecho. —Tenho certeza que você o destacou. —Ele provocou. — Seria fácil encontrar se eu quisesse ler. —Mas você não quer ler? —Não preciso de um livro para me falar sobre a vida depois da prisão. —Respondeu ele, irritado. —Eu também não precisaria se você falasse comigo sobre o seu tempo lá dentro. —Isso não é algo que você quer ouvir. —Sim, é.

Empresa de transporte por aplicativo. O Motel 6 é uma empresa privada de hospitalidade com uma cadeia de motéis econômicos nos Estados Unidos e no Canadá. 12 13


—Não é algo que eu queira compartilhar. Eu mordi de volta o desejo de ser rude. Em vez disso, respondi calmamente: —O livro diz que a maioria das pessoas que passam um tempo na prisão não quer falar com seus entes queridos sobre sua experiência. Eles não querem se sentir fracos ou vulneráveis. Eles não querem ser forçados a justificar suas ações lá dentro, especialmente se tiveram que fazer escolhas difíceis para sobreviver por tempo suficiente para serem libertados. Ele franziu a testa. —Isso não é o que... —Se você quiser falar sobre essa parte da sua vida. — Interrompi, determinada a dizer: —Vou ouvir tudo o que você tiver a me dizer. Sem julgamento ou expectativa. —Acrescentei como uma promessa. Ele gentilmente cobriu minha mão, prendendo-a sobre seu coração. Sua expressão suavizou enquanto sua outra mão segurava minha nuca. —Obrigado pela oferta. Desta vez, quando ele se inclinou para um beijo, dei boasvindas à sua boca na minha. Eu entendi que ele provavelmente nunca falaria comigo sobre o que tinha sofrido. Provavelmente havia partes de seu encarceramento que ele prometeu nunca revelar como parte de seu juramento à família do crime que ele servia desde a adolescência. Fiquei feliz por ele ter entendido que eu ouviria se ele algum dia quisesse desabafar. —Nós devemos ir. —Ele consultou o relógio. —O advogado dela disse para chegarmos cedo. —Estou pronta. —Depois daquela mensagem de voz horrível, entrei em contato com o advogado de Ruby para fazer uma verificação do bem-estar dela. Ele cobrou uma taxa de feriado exorbitante para fazer isso, mas conseguiu entrar para vê-la naquela tarde. Ele relatou que ela parecia saudável e segura e estava pronta


para sair de lá. Fui tranquilizada por seu relatório, mas não relaxaria até que ela estivesse em segurança em nosso SUV. —É a bolsa? —Ele gesticulou em direção à sacola que eu tinha embalado para Ruby. —Sim. Ele a pegou e olhou dentro. Com uma risada, ele puxou uma caixa e perguntou: —Biscoitos Pop Tarts são essenciais? —Sim. —Peguei a caixa dele e coloquei de volta dentro da sacola. —Ela não conseguia mirtilo lá dentro. —E refrigerante Dr. Pepper? —É o favorito dela. —Esse é um dos nossos moletons? —Ela pode estar com frio quando sair. —Raciocinei. —E, de qualquer maneira, nós temos uma caixa deles. Não é como se eles fossem colecionáveis ou algo assim. —Você se lembrou de carregar o novo telefone dela? —Sim. —E o antigo? —Está no quarto dela. —Venha aqui. —Ele estendeu sua mão com cicatrizes e tatuada e me chamou para mais perto. Eu o deixei me puxar, ainda me sentindo irritada com sua provocação. Ele me abraçou com força e beijou o topo da minha cabeça. —Você e esse seu grande coração. —Ele beijou minha bochecha. —Ruby tem sorte de ter você como irmã. —Ele beijou a ponta do meu nariz, me fazendo sorrir. —Tenho sorte de ter você como esposa.


—Maldição, você está certo. —Eu resmunguei antes de deixálo me beijar com paixão. Quando finalmente nos separamos, ele deslizou a mão nas minhas costas e me levou em direção ao hall e para a garagem. Ele abriu a porta do passageiro atrás do meu assento para que eu pudesse guardar a sacola lá e depois me ajudou a sentar, mantendo sua mão na minha bunda por mais tempo do que o necessário. —Mantenha suas mãos para si mesmo, senhor. —Sem chance, porra. —Ele disse com a voz rouca, o que fez meu coração disparar e meu estômago dar cambalhotas de excitação. Ele me deu mais um beijo rápido antes de fechar minha porta e caminhar para o lado do motorista. —Você sabe para onde estamos indo? —Perguntei depois de afivelar meu cinto de segurança. —Posso usar o Waze para nos guiar. Ivan me lançou um olhar divertido. —Milaya moya, sério? (Minha querida) —Oh. Certo. —Envergonhada, guardei meu telefone. — Obviamente, você sabe para onde ir. —É no Commerce, perto do rio Buffalo Bayou. —Ele saiu da garagem e esperou que a porta fechasse antes de se afastar da casa. — É um prédio feio de tijolos vermelhos. Há um porto sally por onde ela sairá quando a soltarem. —O que é um porto sally? —É como uma doca de carga ou a entrada de uma garagem para uma prisão ou algum outro lugar fortemente protegido. — Explicou ele. —Acho que começou há muito tempo com fortes e castelos. Era uma forma de controlar quem entrava e saía da sua fortaleza. —Isso significa que não poderei esperar por ela? Ele balançou sua cabeça. —Achei que você soubesse. —Ele se desculpou. —Vamos esperar no SUV ou na calçada. Ela irá até nós.


—Vai haver policiais lá? Guardas, quero dizer? Ele encolheu os ombros. —Talvez? Nunca os vi lá quando peguei um dos caras. —Mas, eles podem estar lá hoje para intimidá-la? Ele assentiu. —Podem. Notando o tom estranho de sua voz, perguntei: —O quê? Ele coçou a mandíbula ao parar em uma placa de pare e disse: —E se estivermos nos concentrando na prisão, quando deveríamos estar nos concentrando em algo que ela viu antes de ser presa? Quando ela era uma viciada? —Mas você disse que investigou tudo antes de nos casarmos. —Eu o lembrei. —Você pagou as dívidas de drogas dela e de Adrian. Você disse que não havia mais nada que pudesse nos prejudicar. —Eu poderia estar enganado. Poderia ter perdido alguma coisa. Ou talvez alguém manteve sua dívida para usar contra ela mais tarde. —Como chantagem? —Sim. Considerei isso por um momento. —Se estivermos errados e a confusão do estacionamento e o do correio de voz forem de antes de ela ir para a cadeia, pode ser qualquer um. —Teague usava drogas? Talvez ele e Ruby se cruzaram quando ela estava usando. Talvez seja assim que ele saiba o que foi dito a você quando você foi atacada. —Ele nunca usou quando estávamos juntos. O que ele tem feito desde então? —Encolhi os ombros. —Suponho que tudo é possível.


Enquanto esperávamos para virar à esquerda para entrar em uma longa fila de carros, ele fez um som frustrado e bateu os dedos no volante. —Eu não deveria estar estressando você com "e se". — Assim que Ruby estiver segura em casa, podemos questioná-la e obter as respostas de que precisamos. —Você não está me estressando. —Estendi a mão e a coloquei em sua coxa. —E, talvez, devamos apenas perguntar a ela. Não questionar. Isso parece muito policial. Se tentarmos interrogá-la, ela ficará na defensiva. Ele grunhiu, mas acenou com a cabeça. —Certo. Esperando que as coisas corressem bem entre Ruby e Ivan, mantive minha mão em sua coxa enquanto ele dirigia para o centro. Rolei a tela do meu telefone com a outra mão, digitando rapidamente as respostas para meus amigos. Imaginando se Lena tinha as informações de contato atualizadas de nosso amigo em comum que trabalhava na empresa de Teague, perguntei: —Que horas são na Rússia? —Qual parte? —Quando viu a expressão em meu rosto, ele riu. —Estou falando sério! —Ele olhou para o relógio do painel. — São 20h em Novosibirsk. Dez da noite em Yakutsk. Bem na costa, perto do Alasca, passa da uma da manhã. —Moscou. —Eu esclareci. —Onde mora um de seus melhores amigos. —Já passa das quatro. —Ele olhou para mim com um de seus sorrisos divertidos. —Da tarde. Enquanto eu digitava uma mensagem para Lena e me desculpava se estivesse incomodando-a de seu cochilo devido ao jetlag, perguntei: —Como você se lembra de todos esses fusos horários? Ele encolheu os ombros. —Da mesma forma que você sabe que horas são em LA ou NY. É algo que aprendi quando criança.


—Você já foi a esses lugares? —Coloquei meu telefone no porta-copos e foquei minha atenção nele. —Novosibirsk? Sua boca se contraiu. —Novo-SI-birsk. —Ele corrigiu gentilmente. —Uma vez. Tínhamos um amigo que nos arranjou passagens de trem roubadas. Viajamos durante todo aquele verão. — Ele sorriu para o que provavelmente era uma de suas melhores memórias de infância. —Há um zoológico lá. Em Novosibirsk. — Explicou. —Você iria gostar. —Talvez você possa me levar algum dia. E nossos filhos. — Acrescentei com um sorriso esperançoso. —Algum dia. —Ele respondeu, cobrindo minha mão com a sua por um momento. —Mas terá que ser uma viagem de verão. Nossos filhos não saberão como lidar com o frio depois de crescerem com esta umidade e calor. —Está frio agora. —Gesticulei para o céu nublado. Ele bufou. —Isso não é frio. Revirei meus olhos. —Oh, aqui vamos nós. —Imitando sua voz, eu disse: —Sou forte como um urso polar. Nadei em lagos congelados e brinquei pelado na neve quando tinha quatro anos! —Eu não sou assim. —Ele protestou. —E nunca nadei em um lago congelado. —Mas você brincou pelado na neve? —Provavelmente. —Ele admitiu. —A casa em que morei nessa idade não era muito atenciosa. Nós corríamos como loucos. Ele não gostava de falar sobre sua infância, e eu odiava ter trazido à tona algumas memórias ruins. —Sinto muito, Ivy. Eu não queria trazer isso à tona. —Não se desculpe. Está tudo bem. —Ele olhou para mim e sorriu. —Se nossos filhos forem parecidos comigo, vamos ficar


exaustos no final do dia. Eu era um pequeno maníaco, escalando, pulando, cavando e destruindo tudo em meu caminho. —Eu posso ver isso. —Não era difícil imaginar uma versão menor dele correndo por aí, causando confusão em um playground. —Ruby também sempre foi de se arriscar. —Aposto que você seguiu todas as regras e era a aluna favorita do seu professor. Eu me irritei com seu palpite, mas tive que admitir que ele estava certo. —Sim. A maior parte do tempo. —Bem, vamos esperar que nossos filhos saiam mais a você mais do que a mim. —De jeito nenhum! Há tanto sobre você que eu quero que nossos filhos herdem. —Como? —Sua tenacidade. Sua lealdade. Sua generosidade. A maneira que você me ama. —Acrescentei, pensando em como ele se comprometeu completamente comigo. Ele pareceu um pouco envergonhado com meu elogio e pigarreou. —Eu... agradeço. —Ele olhou de relance e pegou meu olhar. —Agradeço que você pense assim. Satisfeita com sua gratidão e aceitação de um elogio, inclineime e levantei-me do meu banco para beijar rapidamente sua bochecha. —De nada. —Sente-se. —Ele repreendeu com uma risada estrondosa. — Estamos no trânsito matinal com todos esses motoristas malucos. Ele tinha razão, então sentei-me adequadamente em meu banco. —Falando em carros e motoristas... —Sim?


—Eu estava pensando em levar Ruby comigo para fazer um test drive na concessionária de Alexei. —Acho que parece uma boa ideia. Estreitei meus olhos para sua resposta muito rápida. —Sério? —Sim. Sério. —Uh-huh. —O quê? —Ele riu e balançou a cabeça. —Estou sendo legal e concordando que sua irmã merece uma tarde agradável com você, e agora sou suspeito? —Quero dizer... —Erin. —Ele olhou para se certificar se eu entendia que ele estava falando sério. —Eu sei que você sentiu falta de sua irmã. Eu sei que você quer consertar seu relacionamento. Eu quero que você tenha isso com ela. Se isso significa que vocês duas vão comprar um carro? Bom. Não havia dúvidas quanto à verdade refletida em seus olhos. Ele realmente queria isso para mim. —Bem, obrigada. Ele assentiu. —De nada. Provocando, eu disse: —Olhe para nós! Comunicando-nos como adultos! Falando sobre nossos sentimentos! Ele bufou. —Não espere isso com muita frequência. Tenho uma reputação a manter. —Sim, como meu grande e doce marshmallow. Ele gemeu. —Espero que você não diga isso para outras pessoas. —Nunca. —Respondi apressadamente, escondendo meu sorriso.


—Erin! —O quê? —Nada. —Ele estendeu a mão e agarrou a minha, levantandoa e beijando-a ruidosamente as costas. —Eu te amo. —Mesmo se eu sair por aí dizendo a todos que você é um marshmallow? Ele grunhiu. —Mesmo se você fizer isso. Seguimos o resto do caminho em silêncio, eu sorrindo, e ele ainda segurando minha mão. Enquanto ele conduzia pelas ruas movimentadas, tentei controlar minhas expectativas para o dia. Eu precisava estar atenta a tudo que Ruby tinha sofrido. Ela havia passado de uma viciada furiosa para limpa e sóbria e não totalmente por sua escolha. Ela havia perdido o homem que amava e sua liberdade. Ela passou por só Deus sabe o que atrás das grades. Quando ela saísse do centro de processamento de presidiários, ela não seria a irmã que eu conheci por toda a minha vida. Ela seria diferente, provavelmente mais dura e desconfiada, e eu tinha que compreendê-la. A descrição que Ivan fez do edifício estava correta. Era feio e muito simples. Do outro lado da rua, havia um prédio alto feito de pedra cor de trigo. —O que é isso? —Tribunal. —Disse ele, parando em um estacionamento público ao lado do prédio. Ele pegou sua carteira do console central e tirou uma nota de dez dela. Ele abaixou a janela e entregou ao atendente de aparência entediada. —Fique com o troco. —Obrigado, cara. —Onde você quer estacionar? —Ele perguntou enquanto sua janela terminava de subir. Havia dezenas de espaços vazios no início da manhã, então podíamos escolher.


—Que tal esta primeira fila? Ao lado do prédio? Ela vai nos ver quando sair, certo? —Acho que sim. —Ele escolheu um lugar naquela fila e estacionou. —Agora, vamos esperar. —Não sou boa em esperar. —Eu sei que você não é. —Ele correu os dedos ao longo do meu queixo. —Mas você esperou todos esses meses para tirá-la de lá, então o que são mais alguns minutos? —Acho que quando você coloca assim... Como se fosse uma deixa, vi a figura familiar de minha irmã virando a esquina. Destravei meu cinto e praticamente caí do banco da frente antes de pular em direção a ela como uma criança emocionada. Ela enrijeceu quando me viu correndo, provavelmente por instinto depois de estar encarcerada e no limite o tempo todo, mas relaxou quando percebeu que era eu. —Rubi! —Jesus, Erin! —Ela exclamou com uma risada de descrença quando me lancei contra ela. —Nos vimos há uma semana! —Não é a mesma coisa! —Eu a abracei com força, não querendo soltá-la. Somente naquele momento, sentindo os braços da minha irmã em volta de mim, foi que entendi o quanto eu sentia falta dela. Desde o momento em que ela caiu no vício das drogas, ela se perdeu para mim, entrando e saindo da minha vida quando precisava de algo. Pelo menos, quando ela estava na prisão, eu não precisava me preocupar onde ela estava dormindo, se estava comendo ou mesmo se estava viva. Consegui deixar essa ansiedade passar, mas a substituí pela preocupação com o que estava acontecendo com ela lá dentro. Ela estava sendo machucada? Assediada? Intimidada? Espancada? Era horrível não saber, pular de um telefonema para uma visita e depois para um telefonema em um ciclo interminável de contato intermitente.


Mas ela estava fora agora. Ela estava voltando para casa. Eu já havia perdido meus pais e jurei naquele momento, ao me recusar a largar meu abraço, que não perderia minha irmã também.


CAPÍTULO 09 —Então, você quer ir direto para casa ou parar para tomar o café da manhã em algum lugar? —Ajoelhei-me em meu assento, de frente para ela no banco do meio, enquanto ela vestia o moletom da sacola que eu havia preparado. —Ivan e eu temos o dia de folga, então podemos fazer o que você precisar. Ruby fez uma careta. —Vocês dois não precisavam tirar o dia de folga. —Eu precisava de um motorista. —Expliquei. —Por quê? —Ela perguntou, franzindo a testa. —Por que você acha? —Ivan perguntou, ignorando diretamente as gentilezas. Eu me encolhi e Ruby olhou para mim confusa. —Que diabos isso significa? —Ivan. —Eu implorei baixinho. —Nós conversamos sobre isso. Ele apertou a mandíbula e voltou o olhar para a janela. — Desculpe. —Não, não, não. —Ruby interrompeu, inclinando-se para a frente e agarrando agressivamente a manga do casaco dele. Ela sacudiu com força suficiente para fazê-lo balançar e exigiu: —Se você tem algo a me dizer, seja um homem e diga. —Ruby! —Chocada com seu comportamento, agarrei seu braço e de repente ela cerrou o punho como se fosse me bater. —Não. Ouse. —Ivan rosnou ameaçadoramente. —Se você tocar em sua irmã, por mim, vai morar sob uma maldita ponte.


—Ivan. —Eu sussurrei asperamente. —Por favor. Sua mandíbula permaneceu cerrada quando ele encontrou meu olhar suplicante. —Estou falando sério, Erin. Se ela bater em você, é isso. —Eu sei. —Coloquei uma mão calmante em seu ombro e me virei para encarar minha irmã. Ela parecia tão surpresa com seu comportamento quanto eu. Ela havia deixado cair as mãos e parecia atordoada. Odiando que ela se sentisse tão fora do lugar e tão nervosa depois de seu tempo lá dentro, eu cuidadosamente peguei sua mão. — Ruby, sinto muito. Eu não deveria ter agarrado você assim. Pelo canto do olho, pude ver Ivan olhando com descrença. Eu praticamente podia ouvi-lo perguntando por que que diabos eu estava fazendo me desculpando por quase ter sido golpeada pela minha irmã. —Não. —Ruby baixou o olhar e balançou a cabeça. —Sinto muito. Eu só... é reflexo agora. —Ela engoliu em seco. —Foi difícil nas últimas semanas, e não tenho dormido muito. —Está tudo bem. —Assegurei a ela. —Sério. Sei que vai ser difícil para você se ajustar a tudo. —Arriscando um olhar para Ivan, silenciosamente implorei a ele para deixar para lá. Ele balançou a cabeça rigidamente e voltou sua atenção para o para-brisa. Apertando gentilmente a mão de Ruby, eu disse: —Talvez devêssemos ter uma regra de sem nos tocar por um tempo? Ela assentiu. —Sim. Isso é... sim. —Certo. Ótimo. —Soltei sua mão e ela se acomodou em seu banco e afivelou o cinto. Com a acusação equivocada de Ivan, não adiantava esperar até mais tarde para perguntar a ela. —Então, a questão é. —Comecei com cuidado. —Na semana passada, eu estava saindo da minha aula de barra e, bem, fui assaltada. —Atacada. —Ivan corrigiu rispidamente. —Ela foi atacada por homens com máscaras de esqui. Eles a roubaram e incendiaram seu carro.


O rosto de Ruby se contraiu de choque e horror. —O quê? Por quê? Quem? —Você realmente não sabe? —Ivan a observou pelo retrovisor e pareceu convencido por sua reação. —Claro que eu não sei quem atacou minha irmã! —Ela retrucou com raiva. —Eu sei que sou uma idiota, mas não ficaria parada e deixaria isso acontecer. —Eu sei que você não faria isso. —Assegurei-lhe apressadamente. —É só que... bem... —O quê? —Ela exigiu. —O que é? Segurando seu olhar, expliquei: —O cara que me empurrou contra o carro disse que se você não mantivesse a boca fechada, eles voltariam atrás de nós duas. Houve um lampejo de compreensão em seu rosto, tão rápido e tênue que pensei ter imaginado. Antes que eu pudesse perguntar se ela sabia o que ele queria dizer, Ruby disse: —Não tenho ideia do que isso significa. Não sei de nada que possa prejudicar alguém. —Se você estiver mentindo. —Ivan interrompeu. —Você está arriscando sua segurança e a de sua irmã. —Obviamente. —Ela respondeu. —Eu não estou mentindo. Não sei sobre o que aqueles homens querem que eu fique quieta, Erin. Você está mentindo. Eu queria gritar com ela, exigir que ela me contasse a verdade, mas eu a conhecia muito bem para isso. Ela se fecharia e se tornaria obstinada. Em vez disso, assenti calmamente. —Eu acredito em você, Ruby. Sei que você não mentiria sobre algo tão sério. Algo que poderia nos matar.


—Eu não faria isso. —Ela insistiu, mentindo descaradamente na minha frente. Então, com um olhar desagradável, ela olhou para Ivan. —Se alguém tem um motivo para te machucar, é por causa dele. Antes que Ivan pudesse se virar em sua cadeira para repreendêla, coloquei uma mão calmante no braço dele e a prendi no lugar com um olhar severo. —Ruby, nem tente. Não somos seus inimigos e você não vai nos colocar um contra o outro. Somos todos uma família e estamos todos juntos nisso. Ela revirou os olhos. —Sim. Tanto faz. Sentindo a irritação pulsando de Ivan em ondas, me virei em meu banco e deixei minha mão deslizar por seu braço até sua mão. Ele imediatamente enrolou seus dedos nos meus, me mostrando que estávamos bem e que falaríamos sobre toda essa confusão mais tarde. Ele ergueu minha mão e beijou as costas dela, tirando um barulho enojado de Ruby no banco de trás. A ansiedade começou a crescer no meu estômago, girando como um nó de cobras. Nauseada e à beira das lágrimas quando minhas esperanças para o dia foram frustradas em minutos, ainda assim coloquei um sorriso no rosto e perguntei: —Você gostaria de tomar o café da manhã antes de voltarmos para casa? Ou talvez parar na Target ou em algum outro lugar que você precise visitar? —Quando você encontra seu agente de condicional? —Ivan perguntou, chocando-se como um carro em fuga em minha tentativa desesperada de colocar o dia de volta nos trilhos. —É sem agendamento a primeira entrevista ou tem horário marcado? —Horário marcado. —Disse Ruby antes de rasgar o papel alumínio do Pop-Tart com os dentes. —Eu quero ir para casa. Eu preciso tomar um banho e dormir. Relaxando, mantive meu sorriso no lugar e acenei com a cabeça. —Está bem. Vamos para casa.


Ivan tentou segurar minha mão enquanto saía da nossa vaga de estacionamento, mas eu a puxei e entrelacei meus dedos no meu colo. Meus piores temores sobre nossa situação de vida estavam se tornando realidade. Ivan e Ruby se detestavam tanto que brigariam sem parar. Imaginar eles na garganta um do outro por meses me deixou doente. O dano que a incapacidade deles de se darem bem infligiria em nosso casamento e em meu relacionamento com minha irmã não era nada comparado ao risco de ela ter uma recaída e usar drogas novamente para lidar com o estresse. A tensão no SUV era insuportável. Quando finalmente estacionamos em nossa garagem, eu desci primeiro, incapaz de passar mais um momento com os dois. Ruby me seguiu e Ivan a seguiu. Na cozinha, tudo veio à tona antes que eu pudesse tentar evitar o desastre iminente. —Vamos deixar essa merda clara. —Ivan anunciou, cortando a mão no ar. Ruby cruzou os braços, pronta para a luta que estava por vir, e eu prendi a respiração e esperei pela explosão. —Você é uma convidada em nossa casa. Não esperamos que você pague aluguel. Não esperamos que você compre seus próprios mantimentos ou outras necessidades. O que esperamos é que você mantenha seu quarto limpo, consiga um emprego e vá a todas as suas consultas e aulas de liberdade condicional. Se você se meter em confusão, está fora daqui. Se fizer algo que coloque Erin em perigo, está fora daqui. Se você continuar agindo assim, está fora daqui. Ruby olhou para mim com descrença. —Ele é sempre esse idiota controlador? —Ruby! —Se você não gostar das regras em minha casa... —Sua casa? —Ruby interrompeu. —Pensei que esta era a casa de Erin também.


—Parem! —Eu me coloquei entre eles como um árbitro, meus braços abertos para mantê-los separados. —Ivan, pare de antagonizála. —Ele franziu a testa, mas não disse nada em protesto. Voltandome para Ruby, disse: —Deixe-me mostrar o seu quarto. Você pode tomar um banho e tirar a soneca que deseja. Não fiquei por perto para ver se ela faria uma careta como uma criança para ele. Girei nos calcanhares e saí da cozinha, confiando que ela iria me seguir. Ela me alcançou na sala de jantar, e eu rapidamente apontei os outros cômodos do andar principal enquanto caminhávamos para a escada. Ela caminhou ao meu lado enquanto subíamos as escadas para o segundo andar e parecia surpresa com o tamanho da casa. Crescemos como classe média alta e nossos pais viviam muito bem, mas nunca com o tipo de luxo que Ivan preferia. Ele trabalhou muito para ganhar seu dinheiro e, depois de estudar suas – nossas – finanças, ficou claro que poderíamos pagar o nível de vida que ele desejava para nós. —Então, nós estamos do outro lado do corredor. —Gesticulei em direção à suíte master. —Coloquei você aqui para que você tenha mais privacidade. As janelas dão para o quintal. É uma vista muito tranquila. Empurrei a porta de seu quarto e me afastei para que ela pudesse entrar primeiro. Ela caminhou até o centro do quarto e girou em um círculo lento enquanto estudava o espaço. Ela cedeu à curiosidade e deu uma olhada no closet e no banheiro. Querendo que ela se sentisse bem-vinda e confortável, eu disse: —Eu mantive a decoração simples para que você pudesse adicionar ou alterar coisas. Trouxe suas coisas do apartamento. Algumas delas estão penduradas no closet ou estão nas estantes. Há uma caixa no closet com coisas para você arrumar quando estiver pronta. Quando ela não disse nada, acrescentei nervosamente: — Podemos ir às compras mais tarde para conseguir o que você precisar. —Por quê? Aí você pode esfregar todo o seu dinheiro na minha cara?


Qualquer que fosse a resposta que eu esperava dela, não era essa. —O que você quer dizer? Ela revirou os olhos. —Vamos lá, Erin. Não aja de forma tão inocente. Você sabe o que eu quero dizer. Você tem tudo isso. —Ela abriu os braços. —E eu não tenho nada. —Isso não é verdade. Você terá seu fundo fiduciário quando fizer trinta anos, assim como eu. Ignorando esse fato, ela continuou despejando suas frustrações em mim. —Tenho que admitir que estou realmente surpresa com você, Erin. Achei que você fosse o tipo de garota que queria construir seu próprio caminho na vida. Lembra-se de como você falava sobre ir para a faculdade, comprar sua própria casa e seu próprio carro e fazer seu próprio caminho? Olhe para você agora. —O que tem eu agora? Ela gesticulou em minha direção. —Roupas de grife. Bolsa de designer. Sapatos de estilista. Diamantes e ouro. Vivendo nesta porra de mansão obscena, sozinha com seu marido. —Nossa casa não é obscena. —A casa dele, você quer dizer. —Ela corrigiu, cruelmente apontando as palavras de Ivan de antes. —Sabe, todo esse tempo eu pensei que você era tão entediante e simples. Você era apenas uma boa menina irritante que fazia tudo o que mamãe e papai queriam. Quem teria acreditado que você era apenas uma garimpeira de ouro em treinamento o tempo todo? —Com um sorrisinho nos lábios, ela perguntou: —Qual é o seu segredo, irmãzinha? Hã? Como você consegue que um homem tão rico como Ivan mantenha alguém como você? Você é tão boa assim chupando um pau ou você tem algum tipo de boceta mágica que ele não consegue... —Eu não estou ouvindo isso! —Eu a cortei com raiva. Com a boca seca e a cabeça latejando, me virei e me dirigi para a porta. Eu


me virei de volta para ela. —Quando você estiver pronta para agir como minha irmã... Ruby bateu a porta na minha cara, encerrando nossa conversa de forma desagradável. Chocada com a merda horrível que ela havia me dito, desci as escadas com as pernas trêmulas. Minha decisão de trazê-la para casa conosco parecia muito estúpida agora. Eu deveria saber que estava criando problemas para minha vida e meu casamento. Ela é minha irmã. Eu tenho que ajudá-la. Mas não às custas do meu casamento. Esfregando o rosto, voltei para a cozinha, pronta para falar com Ivan sobre a reviravolta que aconteceu em nossa manhã. Tudo o que havíamos discutido sobre os primeiros dias de Ruby conosco foi por água abaixo no momento em que ele a acusou de saber sobre o ataque ao estacionamento. Por que diabos ele simplesmente não manteve a boca fechada? —Ivan? —Eu gritei quando entrei na cozinha. Não o vendo lá, saí da cozinha e segui para seu escritório, verificando em outras salas e espaços no caminho para ter certeza de que ele não estava neles. Ao ver que seu escritório estava vazio, procurei em nossa academia em casa, mas ele também não estava lá. Uma sensação estranha invadiu meu estômago e fui até a garagem para confirmar minha suspeita. Seu SUV não estava lá. Ele tinha ido embora. Entorpecida e sentindo-me dolorosamente sozinha, vaguei pela casa até chegar ao pé da escada. Minhas pernas finalmente se dobraram e eu sentei no primeiro degrau. Eu nem sequer tentei segurar minhas lágrimas. A voz de Ruby ecoou em minha cabeça. Ela estava certa. Eu costumava ter muitas ideias e planos para o meu futuro.


Mas então conheci Ivan, e tudo parecia tão perfeito e natural, e meus planos mudaram. Eu gostava de trabalhar com ele, e estava orgulhosa de tudo o que havia realizado no Armazém para expandir o negócio. Eu estava orgulhosa da maneira como assumi o controle de sua carteira de investimentos para diversificar e ajustar suas participações mais arriscadas para pessoas com rendimentos mais estáveis que nos protegessem financeiramente. Eu estava orgulhosa da casa que eu havia decorado e transformado em um lar acolhedor e convidativo e um lugar de descanso para nós. Eu estava orgulhosa de nossa vida. Então, por que as palavras feias de Ruby me fizeram sentir tão mal?


CAPÍTULO 10 Irritado com a forma como a manhã tinha se transformado em uma merda, Ivan esperou na fila do local favorito de Erin para comer tacos no café da manhã. O mínimo que ele poderia fazer era levar para casa algo que ela gostasse para que ela estivesse de estômago cheio quando brigasse com ele por ser um completo idiota. Por que você apenas não manteve a porra da boca fechada? Ponderando sobre isso, ele examinou a área na parte de trás da fila. A caminhonete pintada em cores vivas das irmãs Jimenez estava sempre parada no estacionamento do Armazém às sextas-feiras, e Erin era sempre uma das primeiras na fila para conseguir seu taco e chocolate quente mexicano. Esta manhã, ele as localizou usando o Instagram e as encontrou em um terreno vazio cercado por construções e demolições. As irmãs tinham um talento especial para encontrar o melhor lugar para estacionar e alimentar um fluxo constante de trabalhadores famintos. Seu telefone começou a vibrar no bolso de trás. Ele o pegou e olhou para a tela, esperando ver Erin ligando, mas era Dimitri. — Dima? —Você está ocupado? —Seu amigo perguntou. —Não. —Ele respondeu, deslizando facilmente para o russo. —Escute, eu tive a chance de falar com aquela conexão que mencionei outro dia. —E? —E ela não está interessada em nos falar sobre seu tempo trabalhando em correções. Merda. Sua hesitação não era um bom sinal.


—Há algo que eu possa fazer para persuadi-la a falar conosco? Ou com Erin? Dinheiro? —Não, ela deixou bem claro que nunca mais gostaria de ser questionada sobre esse período de sua vida, e eu concordei em deixar isso passar e nunca mais tocar no assunto. Ele suspirou. —Compreendo. —Sinto muito, Vanya. —Está bem. Obrigado por tentar. —Claro. —Um bebê gritou de frustração ao fundo e Dimitri riu. —Eu tenho que ir. Sophia está exigindo que eu a pegue e a conduza pela casa como se fosse um avião. Ivan riu. —É melhor você ir então. Depois que a ligação terminou, ele colocou o telefone de volta no bolso e se perguntou onde poderia ir para obter respostas. Ele estava extremamente tentado a quebrar a ordem de Nikolai de deixar Kostya em paz. Diziam que o limpador estava de volta à cidade, se escondendo com Holly Phillips, de todas as pessoas. Havia uma história ali, algum tipo de segredo que Nikolai estava escondendo, sobre Holly. Ele tinha suas próprias suspeitas, mas não se atrevia a perguntar. Quando Nikolai estivesse pronto para que as pessoas conhecessem a história de Holly, ele contaria. —Ei, Judy, olha! El Russo nos encontrou aqui do outro lado de Houston! —Angie Jimenez, a mais jovem das duas irmãs, inclinouse sobre os cotovelos na janela de pedidos e sorriu para ele. Ela colocou a cabeça para fora da janela e olhou em volta como se estivesse tentando encontrar Erin. —Onde está sua esposa? —Em casa.


—Uh-huh. —Disse Angie, claramente acreditando que havia mais nessa história. Ela pegou seu bloco de pedidos e um lápis. —O de costume? —Sim. Enquanto rabiscava no bloco, ela gritou: —Dois barbacoa14! Dois chouriços, batata e ovo! Um feijão com queijo. Chocolate quente grande. Garrafa de suco de laranja. Com pico15 extra. —Adicione dois bacon, ovo e queijo. —Ele instruiu, pensando que era a opção mais segura para Ruby. —E outro chocolate quente. Angie gritou os acréscimos e então rasgou a nota de pedido. Ela empurrou para ele. —Diga a Erin que tenho uma nova receita de chocolate quente que quero que ela teste na sexta-feira. —Obrigado. Eu vou. —Ele foi até a janela para pagar e esperou nas proximidades que seu nome fosse chamado. Pensamentos de Kostya e Nikolai circulavam em sua mente. Diante da escolha entre irritar Nikolai ou obter ajuda para manter Erin e Ruby seguras, ele escolheu a última opção. Nikolai o perdoaria. Eventualmente, ele entenderia por que Ivan tinha feito isso. Ele ligou para o número mais recente que tinha do limpador, não ficando nem um pouco surpreso quando o redirecionou para uma caixa de correio de voz. —É Vanya. Me ligue. —El Russo! —A caixa gritou o apelido que as irmãs haviam dado a ele e colocou o pedido na janela. Ele pegou o saco de papel e o porta-bebidas e voltou para o SUV. Seu telefone começou a vibrar em seu bolso e ele mordeu o 14

Tradicionalmente, o barbacoa é uma preparação de carne (geralmente ovelha, cabra ou vaca) que é cozida a vapor em um forno subterrâneo até ficar bem tenra e suculenta. Hoje o termo também é usado às vezes para uma preparação similar feita em um fogão ou em um fogão lento. 15 Pico de Gallo: mistura do tipo vinagrete, com tomate, cebola, coentro e limão, usada para acompanhar ou preparar vários pratos mexicanos.


saco de papel para liberar a mão e abrir a porta e, em seguida, o pegou de volta. Ele colocou o saco em seu assento e atendeu. —Alô? —Não posso acreditar que você demorou tanto tempo para me ligar. —Kostya cumprimentou com divertimento em sua voz rouca. —Disseram-me que você está de férias ou talvez aposentado. —Ele passou a comida e as bebidas para o banco do passageiro e subiu no SUV. —Maldito Nikolai. —Kostya rosnou. —Ele não é minha mãe. Ele não pode decidir o que eu faço. —Holly? —Ivan se atreveu a perguntar. Kostya ficou em silêncio. Depois de um longo momento, ele admitiu: —Sim. —Bem-vindo ao clube. —Ele grunhiu e apertou o botão de ignição. —Escute, você sabe por que estou ligando, certo? —Ataque no estacionamento. Irmã ex-presidiária. Exnamorado com problemas financeiros. Um monte de problemas. — Ele listou todos os problemas na vida de Ivan. —Você quer que eu lide com isso? Ivan franziu a testa. —Não, eu não quero que você lide com ninguém. —Bem. —Kostya parecia quase triste. —Suponho que você queira que eu investigue por aí para ver o que encontro? —Sim. —Eu posso colocar algumas das minhas aranhas em Erin, se você quiser. —Kostya ofereceu. —Eles são muito discretos, mas também muito mortais, se a situação assim exigir.


Erin ficaria furiosa quando percebesse que estava sendo seguida, mas ele não podia arriscar que nada acontecesse com ela. — Discreto é bom. —Você quer que eu grampeie seu telefone e e-mail? —Não. —Mantê-la segura era uma coisa. Invadir sua privacidade era outra. —GPS no telefone e no veículo dela? —Sim, mas ela ainda não escolheu um carro para substituir. —Ela está indo para Alexei? —Sim. —Eu tenho tudo sob controle. —Kostya parecia estar passando por uma lista de verificação. —Ela tem uma bolsa favorita? Um par de óculos escuros? Algo que ela carrega todos os dias? —Ela tem dezenas de ambos e os troca o tempo todo. Você não pode rastreá-la dessa maneira. —Telefone, então. —Kostya murmurou. —E quanto à irmã? Você quer o mesmo com ela? —Sim. —Ele hesitou. —Algo aconteceu dentro da prisão. Acho que foi algo ruim. Algo muito ruim. —Há rumores. —Kostya admitiu. —Uma das minhas aranhas os ouviu há alguns meses, mas eles não conseguiram encontrar nenhuma prova. —Rumores de? —Tráfico sexual. —Dentro da prisão?


—Sim. Isso acontece o tempo todo. Se você passar algum tempo nas partes mais sombrias da internet, encontrará todo tipo de merda filmada dentro de prisões. A clientela de alto padrão encomenda certos tipos de cenas ou atos. É um bom dinheiro para distribuidores e produtores. —Explicou, com repugnância em sua voz. —Houve uma mensagem no correio de voz na noite daquela festa de caridade. —Disse Ivan, incapaz de esquecer os gritos horríveis. —Havia uma mulher. Latina. Não mexicana. Ela parecia hondurenha, talvez. —Você sempre teve ouvido para sotaques. —Observou Kostya. —O que ela estava dizendo no correio de voz? —Ela estava gritando. Estava sendo espancada. —Um aviso para Erin. —Kostya adivinhou. —Ou para a irmã. —Ele emendou. —Ela pode ter visto algo enquanto estava cumprindo sua pena. —Ele hesitou. —Ou ela está em uma daquelas filmagens. Ivan apertou o volante enquanto a raiva o dominava. Se isso fosse verdade, se Ruby tivesse sofrido abusos na prisão, Erin nunca se perdoaria por ter deixado sua irmã ir para a prisão para aprender sua lição. —Se Ruby tiver sido abusada, você sabe que terei... —Eu sei. —Kostya o interrompeu. —Eu sei. Se chegar a esse ponto, não tenho nenhum problema em fazer isso acontecer. Essa era a vantagem de trabalhar com Kostya. Ele não piscava com a perspectiva nem mesmo dos atos mais ilegais. —Vou mandar um número para você por mensagem. Use-o para entrar em contato comigo. Entrarei em contato. A ligação terminou e ele largou o telefone no portacopos. Quando ele estendeu a mão para ajustar o porta-bebidas para se certificar que ele não tombaria enquanto dirigia, ele viu o telefone


rosa choque de Erin no chão. Sentindo-se um completo idiota, ele o pegou e o moveu para um porta-copos. Ele havia saído sem dizer uma palavra e, sem saber, havia levado o telefone dela, impedindo a maneira mais fácil para ela entrar em contato com ele. Ele afivelou o cinto apressadamente e deu ré para sair de seu lugar, o tempo todo se perguntando o quão furiosa ela ficaria quando ele voltasse. Mesmo entrar em casa com tacos nas mãos poderia não ser suficiente para acalmá-la. Se ele não terminasse com uma xícara de chocolate quente despejada em sua cabeça, consideraria isso uma vitória. Ele entrou na garagem e não perdeu tempo pegando a comida, as bebidas e o telefone dela. Pronto para enfrentar a esposa e se desculpar, ele entrou na casa pelos fundos e seguiu para a cozinha. Ele parou na porta em forma de arco com a visão de uma Erin de olhos vermelhos e fungando de pé em frente à ilha de mármore e comendo punhados de cereais açucarados direto da caixa. Ela enfiou a mão de volta na caixa e então congelou, finalmente notando-o na porta. Hesitantemente, ele ergueu o saco de papel e o portabebidas. —Fui pegar tacos e chocolate quente. Seu lábio inferior tremeu quando ela colocou a caixa de lado. —Você saiu sem dizer nada. —Eu sei. Porra. Sinto muito. —Ele aproximou-se e colocou o saco e o porta-bebidas na bancada. Ele deslizou os braços ao redor dela e puxou-a para um abraço. Pressionando os lábios no topo de sua cabeça e depois em sua bochecha, ele repetiu: —Sinto muito. Eu me senti tão estúpido por ter fodido tudo, e queria fazer algo que tornasse tudo melhor. Achei que o café da manhã ajudaria. —E ajuda. —Ela fungou contra seu peito. —Mas ainda estou brava com a maneira como você agiu no estacionamento! —Eu sei. Eu mereço. —Ele fechou os olhos e inspirou o cheiro familiar de seu shampoo. —Não sei por que agi daquele jeito. Eu estive preocupado com quem te machucou por dias, e ela


estava sentada lá, agindo como se não tivesse ideia do que você tinha passado, e eu perdi o controle. —Você tem que se esforçar mais, Ivan. —Ela pediu, inclinando-se para trás para olhar para ele. Seus lindos olhos imploraram silenciosamente a ele. —Você tem que tentar não antagonizá-la. Ela sabe como provocar você. Até que ela perceba que não estamos tentando controlá-la, mentir ou traí-la, ela será difícil. Você é um adulto. Você pode controlar seu próprio comportamento. Devidamente castigado, ele assentiu. —Eu sei. Vou tentar. Eu vou. —Ao soltar Erin, ele disse: —Vou me desculpar com sua irmã. —Ela pode não atender a porta. Ela estava... —Erin fez uma pausa como se procurasse a palavra correta. —Irritada mais cedo. Ele tinha a sensação de que havia muito mais nessa história. A culpa se apoderou dele com a ideia de Erin estar aqui sozinha enquanto sua irmã a açoitava com qualquer bobagem rancorosa que ela tenha decidido cuspir. Ele pegou dois dos burritos e o segundo chocolate quente do saco e do porta-bebidas. —Estarei de volta em alguns minutos. Você deveria comer comida de verdade. —Ele olhou para a caixa de cereais ricos em carboidratos com desdém. —Essa merda vai te dar diabetes. —E esses tacos vão entupir minhas artérias com toda a gordura deliciosa envolvida neles. —Ela respondeu antes de pegar sua bebida e o saco de tacos e se retirar para o recanto de café da manhã. Enquanto subia as escadas, ele considerou que não há muito tempo, ele nem sabia o que diabos era um recanto de café da manhã. Ou uma parede de galeria, ele pensou enquanto seu olhar se movia para as fotos e pinturas artisticamente dispostas de cada lado da ampla escadaria. Ele nunca tinha pensado muito em paletas de cores ou coisas como uma casa de campo moderna ou chique industrial até que Erin se mudou e começou a mostrar a ele coisas que ela tinha salvo no Pinterest ou capturado no Instagram. Ela o tinha


atraído para assistir programas como Fixer Upper 16e o convenceu a levá-la ao Round Top17, onde ele a seguiu de bom grado enquanto ela escolhia móveis e decoração nas barracas dos vendedores. Ele nem mesmo se importou com a pequena fortuna que gastou no envio de coisas que não cabiam no SUV. Ele gostou da maneira como ela transformou sua casa em um lar de verdade. Ele não se importava muito com as cores nas paredes, as almofadas nos sofás ou os padrões dos tapetes. O que realmente importava era a maneira como se sentia ao caminhar pela casa. Ele nunca havia se sentido tão confortável e à vontade como agora, cercado por todas as peças cuidadosamente escolhidas que Erin havia comprado e arranjado para sua casa. Ele podia sentir seu amor por ele e sua empolgação por seu futuro e por sua vida juntos em cada pequena coisa que ela tinha feito. Do lado de fora da porta de Ruby, ele suspirou. Isso iria terminar com uma trégua ou uma disputa de gritos. Esperando a trégua, ele bateu com força na porta e deu um passo para trás, certificando-se de dar a ela bastante espaço. A porta se abriu para revelar Ruby com o cabelo molhado e roupas diferentes, coisas que ele reconheceu de uma das viagens de compras de Erin. Carrancuda, ela perguntou: —O que diabos você quer? Ele teve que conter o desejo de repreendê-la. Em vez disso, ofereceu o café da manhã que havia trazido para ela. —É do caminhão de tacos favorito de Erin. Achei que você estava com fome de algo que não tivesse ovos em pó e bacon falso. Ela olhou para a comida com desconfiança. —Como posso saber se não está encharcado de polônio? —Sério? Você acha que vou envenenar você? Se eu quisesse me livrar de você, Ruby, teria feito isso enquanto você estava na prisão, e eu tinha bastante cobertura. —Ele empurrou a comida para ela. —Pegue. Coma. Jogue no lixo. Eu não me importo. 16 17

Fixer Upper é um reality show americano sobre design e reforma de casas. Round Top é uma cidade localizada no estado norte-americano de Texas, no Condado de Fayette.


Ela arrancou a comida dele. —Bem. Tanto faz. Ele colocou a mão na porta para evitar que ela a batesse em sua cara. —Não, ainda não. —Ele manteve a porta aberta. —Sua irmã fez mais do que você pode imaginar para tornar as coisas melhores para você. Ela foi até aquele chiqueiro de apartamento que você deixou para trás e separou toda aquela comida podre e lixo e as pilhas de roupas sujas e mofadas para encontrar coisas para salvar para você. Ela pagou a quebra de contrato, o aluguel atrasado e os danos com seu próprio dinheiro. Ela está usando seu salário da academia para cobrir seus honorários advocatícios, os reparos na casa que você destruiu e sua restituição porque ela não queria que você fosse sobrecarregada com o valor total quando saísse. Ela parecia assustada com essa informação, mas ele ainda não estava pronto para parar. —Ela tem feito terapia para aprender a como ajudá-la a se ajustar e ser bem sucedida. Ela tem uma pilha de livros ao lado da cama que está lendo e estudando porque quer fazer tudo certo. —Ele empurrou a porta o suficiente para apontar para a pasta verde na mesinha ao lado da cadeira de leitura que Erin havia escolhido. —Ela passou dias nisso, juntando todas as informações de que você precisará para fazer essa segunda parte de sua vida funcionar. Então, talvez, você pudesse mostrar um pouco de gratidão pelo que ela fez. —Ele respirou pesadamente. —Ela ama você. Você é irmã dela. Você é a família dela. Ela acredita em você da mesma forma que acredita em mim. Se você deixar que ela a apoie, não há nada que você não possa realizar, mas se você lutar com ela a cada passo do caminho, você vai acabar de volta de onde começou. Ruby engoliu em seco e finalmente assentiu. —Sim. —Ela disse suavemente. —Certo. Feliz por isso ter sido feito, ele gesticulou para a mesa de cabeceira. —Eu deixei para você algumas coisas que você vai precisar naquela gaveta de cima. O dinheiro é seu para cobrir suas despesas


até você encontrar um emprego. Os fones de ouvido com cancelamento de ruído devem ser autoexplicativos. Quando a compreensão lhe atingiu, ela fez uma careta. —Que nojo! —Pelo menos, eu te avisei. —Ele se afastou da porta e voltou em direção à escada. Ruby fechou a porta atrás dele. O fato de ela não ter batido o surpreendeu. No andar de baixo, ele encontrou Erin rolando a tela de seu telefone e mordiscando um de seus tacos coberto com pico de gallo. Ele não sabia como ela conseguia comer algo tão apimentado e nunca ter azia. Sentando-se ao lado dela, ele pegou um de seus tacos de café da manhã e tirou o alumínio. —Tudo certo? —Ela perguntou cautelosamente quando ele deu sua primeira mordida. Ele acenou com a cabeça enquanto mastigava, e ela relaxou visivelmente. —Bom. Seu telefone vibrou no bolso de trás e ele se mexeu na cadeira para pegá-lo. Ele olhou para a tela e franziu a testa. —É o Paco. —É melhor você atender. Ele não ligaria no seu dia de folga, a menos que o inferno estivesse acontecendo na academia. Concordando com ela, ele deslizou o dedo pela tela. —Paco? —Ele atendeu com aspereza. —Chefe, eu sei que você está no seu dia de folga, mas temos um problema com o aquecedor. —Paco falou rápido como um raio, em espanhol. —Liguei para a empresa que fez a instalação e o serviço, mas eles não podem mandar ninguém aqui até amanhã. Tentamos desligar o sistema, mas ele ainda está soprando ar quente. Está trinta e dois graus aqui. —Feche a academia e mande todos para casa se achar que é o melhor. —Ivan sugeriu. —Estarei aí assim que puder.


—O que há de errado? —Erin perguntou entre goles de chocolate quente. —O sistema de aquecimento na academia. —Ele resmungou e enfiou o resto do taco na boca. —Você vai se engasgar comendo assim. —Ela advertiu com um aceno de cabeça. —E, não sendo esse tipo de esposa, mas eu disse a você que o sistema de climatização estava agindo de forma estranha em novembro e você disse... Ele gemeu. —Eu sei. Eu sei. —Bem, desde que você saiba. —Desculpe-me por ter que sair em nosso dia de folga. —Ele se desculpou enquanto pegava o resto do café da manhã e seu suco de laranja. —Não se preocupe com isso. —Ela pediu. —Esta é a realidade de possuir um negócio. —Você vai ficar bem? —Ele olhou para o teto. —Se ela começar a merda com você... —Eu cuido disso. —Ela assegurou a ele. —Mas, eu não acho que ela vai. Ela precisa de tempo para relaxar. Eu não vou incomodála. Ela pode me encontrar quando estiver pronta. —Essa é uma boa ideia. Dê a ela um pouco de espaço. —Você vai estar em casa para o jantar? —Ela perguntou quando ele se levantou e colocou o telefone no bolso. —Talvez? Eu comunico a você. —As informações sobre nosso contrato de serviço de climatização estão na pasta vermelha nas prateleiras atrás da minha mesa. A cópia de nosso contrato com a tabela de taxas está atrás do


documento HVAC tab18 com o restante dos contratos de gerenciamento de projetos. Há também alguns folhetos que recebemos de outras empresas que estão interessadas em nossos negócios. Se você achar que precisamos mudar de fornecedor, há opções. Divertido com seu sistema perfeitamente organizado, ele se inclinou e a beijou. —Vou compensar você. —Você não precisa. —Eu quero. —Ele a beijou novamente. —Ya tebya lyublyu. (Eu te amo) —Eu também te amo. Pensamentos de como ele iria compensá-la agitaram-se em sua mente enquanto ele dirigia para o Armazém. Quando ele parou no estacionamento, a maioria dos lutadores que treinavam diariamente como parte equipe profissional em tempo integral da academia estava fazendo seus treinos ao ar livre. Ele parou algumas vezes enquanto caminhava em direção à entrada para corrigir posturas ou dar treinamentos. Assim que entrou no prédio, ele fez uma careta. Paco não estava exagerando. Estava tão quente quanto uma sauna ali dentro. Ele encontrou seu co-treinador de longa data na sala de serviço na parte de trás do armazém, gritando todos os tipos de palavrões para o sistema de aquecimento. Ele se levantou ao lado de Paco e tentou algumas coisas diferentes, mas quando nenhuma delas funcionou, ele foi até o painel elétrico na parede oposta e virou o disjuntor do HVAC, desligando-o por enquanto. Eles tentaram reiniciá-lo, esperando que resolvesse o problema, mas quando isso falhou, ele acionou o disjuntor novamente e foi para o escritório que compartilhava com Erin. 18 Teste, Ajuste e Balanceamento (TAB) em instalações de HVAC (Heating, Ventilation and Air Conditioning). O TAB conclui a instalação do sistema, dando-lhe o desempenho requerido pelo projeto, assegurando a qualidade quanto ao consumo de energia, conforto térmico, custos de operação, renovação do ar interno, distribuição do ar e da água e pressurização entre salas.


Enquanto folheava seu fichário de manutenção bem organizado, Paco parou na frente dos monitores alinhados na parede que faziam parte do sistema de segurança recentemente atualizado da academia. Ele fez um barulho estranho, e Ivan ergueu os olhos da pasta para perguntar: —O que há de errado? —Esta caminhonete tem passado pela academia duas ou três vezes por dia há pelo menos uma semana. —Paco apontou nos monitores. —Esta aqui. É uma Silverado do final dos anos 90. Bege. Com compartimento para armas. Ivan se aproximou e observou Paco rebobinar a filmagem. Não querendo tirar conclusões precipitadas, ele disse: — Pode ser alguém trabalhando nas proximidades. Talvez nos apartamentos em construção alguns quarteirões abaixo? —Talvez. —Paco respondeu, não parecendo convencido. — Pode ser alguém nos vigiando para roubo. —Eles não iriam receber muito. —Ivan grunhiu. —Carregar o equipamento levaria horas e não temos dinheiro em caixa. —Talvez estejam procurando por alguém. Essa sugestão chamou sua atenção. Seria um dos homens que atacou Erin e Zoya? —Você pode salvar isso? Imprima algumas cópias e coloque-as no vestiário. Tente obter a placa, se puder. Vamos pedir a todos para verificarem isso. —Claro, chefe. Enquanto Paco cuidava disso, Ivan ligou para o empreiteiro do HVAC. Sete horas e milhares de dólares depois, ele tinha um novo sistema programado para ser instalado no dia seguinte. Quando o técnico apontou que o problema com o sistema antigo poderia ter sido reparado quando começou a apresentar problemas, Ivan gemeu interiormente. Erin nunca o deixaria esquecer isso. Ela não mencionaria de forma maliciosa ou cruel. Ela simplesmente teria que olhar para ele, e ele saberia que ela estava pensando na vez em que


pediu a ele para fazer algo que ele se esqueceu de fazer e custou a eles uma quantia absurda de dinheiro. Quando ele entrou na garagem, eram quase oito da noite. Erin tinha mandado uma mensagem mais cedo, informando-o que o jantar estava na geladeira. Ela estava feliz em informar que Ruby finalmente tinha saído de seu quarto e compartilhado uma refeição com ela. Parecia que não havia pequenas vitórias no que dizia respeito à irmã. A casa estava silenciosa quando ele entrou. Pensando na caminhonete que estava passando pela academia, ele percorreu todo o primeiro andar, verificando janelas e portas e ligando o alarme para a noite. Ele já havia enviado uma foto da caminhonete e as informações da placa para Kostya. Tudo o que ele podia fazer agora era esperar por alguma notícia a esse respeito. Ele rapidamente comeu o jantar que ela havia deixado para ele e colocou os pratos na máquina de lavar antes de subir as escadas. Ele foi até os quartos extras no andar de cima, verificando as fechaduras nas janelas. Quando se aproximou do quarto de Ruby no final do corredor, percebeu que a porta estava fechada e as luzes acesas. Ele bateu levemente na porta. —Ruby? —Sim? O quê? —Ela respondeu de dentro do quarto. —Você pode verificar suas janelas? Certificar-se de que estão todas trancadas? A porta se abriu de repente. Ela estava lá, em um pijama de flanela xadrez combinando que Erin tinha escolhido, e com os braços cruzados. —O que há de errado? —Nada. —Ele a assegurou. —Gosto de me certificar de que a casa está trancada à noite. Ela estreitou os olhos. —Há algo que você não está me dizendo?


Pensando que era uma ironia que ela perguntasse, quando provavelmente estava mentindo sobre saber o que tinha acontecido com Erin, ele virou isso contra ela. —Há algo que você não está me dizendo? Talvez por que você deveria manter a boca fechada? Seus lábios se achataram em uma linha sombria. —Não, não há. Com um suspiro, ele admitiu: —Nossas câmeras de segurança na academia pegaram uma caminhonete passando várias vezes por dia durante a última semana. Estou preocupado que possa ser alguém vigiando Erin – ou você. Ela engoliu em seco e balançou a cabeça. —Eu não sei sobre ninguém com uma caminhonete. —Eu acredito em você. —Disse ele, certo de que ela não sabia dos veículos específicos usados pelas pessoas que queriam mantê-la em silêncio. —Quando você estiver pronta para confiar em mim, posso ajudá-la. Ambos sabemos que estou conectado a pessoas que podem mantê-la segura. Que podem manter sua irmã segura. —Como eles a mantiveram segura quando ela foi sequestrada na sua varanda alguns meses atrás? A declaração doeu, mas era uma pergunta justa. —Um daqueles homens quase morreu tentando manter Erin segura. —Sim, bem, eu não quero que ninguém morra por mim. — Ela fechou a porta sem outra palavra, deixando-o parado ali e se perguntando como diabos ele iria chegar até ela. Quando ele finalmente entrou na suíte master, encontrou Erin esparramada no sofá da sala de estar de seu quarto. Embora ela tivesse pilhas de pijamas, ela usava uma das camisetas velhas e desbotadas dele. Seus tornozelos estavam cruzados e descansando na outra ponta do sofá, e ela assistia a um de seus reality shows favoritos na TV sobre a lareira. Ela sorriu ao vê-lo. —Ei!


—Ei. —Ele cruzou a sala e se inclinou para beijá-la. — Obrigado pelo jantar. —Claro. —Ela deu um pequeno puxão na barra da camisa dele. —Então? Quais foram os danos à nossa conta comercial? Ele fez uma careta. —Podemos conversar sobre isso pela manhã. Ela riu. —Muito ruim, hein? Ele suspirou. —Vá em frente e atire. —Não, estou guardando este eu-te-disse para nossa próxima discussão. —Ela decidiu. —Vou guardá-lo até que seja útil. —Você é tão má. —Disse ele, inclinando-se para beijá-la mais uma vez. —Vou tomar banho. Ele não perdeu tempo e cumpriu sua rotina noturna em tempo recorde. Ele tinha outros planos para esta noite. Planos que não incluíam um programa estúpido na TV ou discutir a confusão com o sistema de aquecimento da academia. Ele nem se preocupou com roupas. Assim que estava seco e seus dentes estavam escovados, ele desligou a luz e caminhou até onde Erin ainda estava deitada no sofá. Ela o olhou com um brilho divertido, certamente reconhecendo que ele estava com disposição para apenas uma coisa. Ele se abaixou e a puxou para fora do sofá, jogando-a por cima do ombro e dando um bom tapa em seu traseiro nu. —Ivan! —Ela gritou em meio a gargalhadas. —O que você está fazendo? —Compensando você, lembra? —Ele a colocou ao lado da cama e puxou a camiseta por cima de sua cabeça. Ele a jogou de lado, sem se importar onde caiu. Tirou um momento para apreciar a visão


de seu corpo nu. Ela era tão linda e sexy. Ele achava que nunca se cansaria de olhar para ela assim. Ele a pegou novamente e a colocou no meio da cama antes de rastejar sobre ela. Ele agarrou os dois pulsos finos com uma das mãos e os segurou sobre a cabeça dela. Capturando sua boca, a beijou até que ela estava ofegante e esfregando as coxas sob ele. Ainda segurando seus pulsos, ele mordiscou e sugou enquanto descia em seu corpo, fazendo todo o caminho até o umbigo antes de viajar de volta para sua boca. —Ivan. —Ela suspirou feliz. Mas ele não queria suspiros e gemidos suaves. Ele a queria implorando e gritando. Ele queria que ela ficasse louca e o usasse para seu próprio prazer. Ele queria fazê-la gozar com tanta força e tantas vezes que ela cairia sem forças e exausta na cama e dormiria com um sorriso no rosto. Usando suas habilidades de luta, ele a virou por cima dele enquanto rolava de costas. Ela riu com o movimento repentino e depois ofegou quando ele agarrou suas coxas e a puxou para cima em seu corpo. Ele estendeu a mão para pegar o travesseiro sob a cabeça e jogou-o do outro lado do quarto, ouvindo-o bater na parede com um baque. Deitado de costas, ele estava em uma posição melhor para o que mais queria – um gostinho de sua esposa. —Você não precisa me compensar assim. —Erin disse, mordendo o lábio enquanto olhava para ele entre suas coxas. Ela estremeceu quando ele beijou e mordiscou a pele sensível ali. —Quer dizer, você pode se quiser... —Tenho pensado nisso desde que saí. —Ele se aninhou mais perto de onde realmente queria estar e deslizou as mãos de sua cintura até sua bunda, levantando-a um pouco mais e puxando-a para baixo em seu rosto.


—Espere! —Ela tentou fechar as coxas, mas ele as manteve abertas com seus ombros largos. —Minha irmã pode nos ouvir! —Não por muito tempo. —Disse ele antes de percorrer sua boceta com a língua. —Deixei um par de fones de ouvido com cancelamento de ruído no quarto dela. —Graças a Deus pela tecnologia. —Ela choramingou e então relaxou. Ela colocou as palmas das mãos na cabeceira estofada para se apoiar e gemeu enquanto ele lambia para cima e para baixo em sua fenda. Quando ele agitou a língua sobre seu clitóris, ela jogou a cabeça para trás e gritou: —Ivan! Sorrindo, ele deixou sua língua reparar todo o estresse e aborrecimento que ele tinha causado a ela naquela manhã. Ele sugou e lambeu, superado com seu sabor e cheiro. Memórias da primeira vez que ele se afundou nela, bem aqui nesta casa, surgiram em destaque em sua mente. Ele sempre gostou de dar prazer a uma mulher, mas nunca tinha iniciado um relacionamento tão cedo. Ele nem mesmo a havia convidado para um encontro antes de enterrar o rosto entre as pernas dela, descobrindo todos os seus segredos com a língua. Mesmo então, naquela primeira noite, ele sabia que era ela. Era como se ela tivesse sido feita para ele, como se ele tivesse esperado todos aqueles anos para encontrá-la. Sua vida estranha e dura o havia trazido da Rússia para Houston, colocando-o bem no meio da jornada da vida dela. A forma como suas vidas haviam se cruzado não podia ser casual. Sempre foi destinado a ser. —Ivan. Ivan. Ivan. —Suas coxas se apertaram, e ela pressionou contra a boca dele, buscando sua língua com seus movimentos. —Por favor. Oh, por favor, não pare. Não pare. Não! Ela gozou com um grito estrangulado, e ele segurou firmemente seu quadril e bunda, segurando-a bem ali em seu rosto enquanto a fazia gritar. Cada vez que ela tentava se afastar, ele a puxava de volta, usando sua força para prolongar as ondas de seu


orgasmo. Ela soltou a cabeceira da cama, colocando as mãos em cada lado de sua cabeça, e balançou os quadris para frente e para trás em sua boca, enlouquecendo quando um segundo e mais intenso clímax a dominou. Ele bateu em sua bunda – com força – a palma da mão saltando de uma nádega a outra. Ela gritou com uma mistura de alegria e dor e então gritou o nome dele. Sorrindo contra a parte interna de sua coxa, ele a soltou, e ela dramaticamente caiu de cima dele, caindo em uma pilha enquanto ofegava para recuperar o fôlego. Ele nem mesmo teve a chance de tentar fazer outro movimento antes que ela o surpreendesse, empurrando-o agressivamente de volta para a cama. Ela jogou o cabelo para trás e apoiou ambas as mãos em seu peito antes de jogar a perna sobre seus quadris e montá-lo. Ela colocou a mão entre eles, agarrou seu pau duro em sua mão macia, e acariciou o comprimento dele, apertando enquanto alcançava a ponta. Ele gemeu e tentou colocá-la em posição, mas ela não o deixou. Em vez disso, ela começou a salpicar beijos ao longo de seu rosto e peito enquanto o acariciava lentamente, apenas o suficiente para mantê-lo no limite. Quando ela começou a lamber sua barriga, ele estremeceu e apertou os lençóis com os dois punhos. Ela tomou seu tempo, deslizando mais e mais até que sua boca pairou sobre o pau dele. Com um sorriso malicioso, ela disse: —Minha vez. No segundo em que seus lábios envolveram a cabeça de seu pau, ele rosnou: —Foda-me. Ela parou de sugar apenas tempo suficiente para prometer: — Esse é o plano. Ele enfiou os dedos nos cabelos dela e ergueu a cabeça para ver como ela o deixava louco com a língua. Ela cumpriu seu plano, eventualmente, mas foi um longo e muito torturante tempo depois.


CAPÍTULO 11 —Este lugar é chocante. —Ruby assobiou enquanto caminhávamos pelo showroom da concessionária principal de Alexei na manhã seguinte. —Seis dígitos para um carro? —Eu sei. —Eu concordei, estremecendo com o preço no adesivo do cupê esportivo na nossa frente. —É um pouco demais. —Um pouco? —Ela repetiu sarcasticamente. —Ok, muito. —Meu olhar desviou dos veículos do showroom para aqueles estacionados em fileiras organizadas do lado de fora. Havia alguns modelos recentes de SUVs de médio porte que chamaram minha atenção. Seus preços pareciam mais palatáveis. —Erin! —Alexei cumprimentou enquanto se aproximava. — É bom te ver. Sorrindo, eu balancei a cabeça para ele. —Bom dia, Alexei. —Você sabe que me venceu naquela bola de basquete que eu queria. —Disse ele. —Espero que Vanya goste. —Tenho certeza que ele vai. Por falar em licitações, até que ponto Lena corrompeu Shay? Ele riu. —Nem mesmo o suficiente para me fazer piscar. Percebendo seu olhar para Ruby, eu os apresentei. —Alexei, esta é minha irmã, Ruby. Ruby, este é Alexei Sarnov. Ele é um dos amigos mais antigos de Ivan. —Prazer em conhecê-la. —Disse ele, apertando a mão dela. —Sim. —Ruby respondeu, seu olhar demorando em suas tatuagens desbotadas na mão. —Um daqueles amigos, eu vejo.


Para seu crédito, Alexei lidou bem com o comentário dela. — Todos cometemos erros em nosso passado. —Com certeza. —Disse ela, aparentemente divertida com sua pequena alfinetada. —Vejo que vocês duas estão olhando nossos modelos mais recentes. —Ele deslizou direto para o modo de vendedor de carros. —Você está querendo mudar de tipo de veículo? Vanya disse que você estava com um sedan menor. Você está pensando em escolher algum semelhante ou gostaria de algo com mais espaço? Um SUV de tamanho médio, talvez? —Eu quero mais espaço. Estou entrando em uma nova fase da vida e quero estar pronta para cadeirinhas e carrinhos de bebê. — Senti uma vibração de excitação com a ideia de expressar meu maior sonho na vida Alexei sorriu. —Você e Vanya vão formar uma linda família juntos. —Ele olhou ao redor do showroom. —Que tal um desses? —É bom. —Eu disse, incerta. —Talvez um pouco caro demais? —Pode ser. —Ele concordou. —Mas eu acho que você deveria ir para trás do volante. Um preço é apenas um número até que você tenha uma ideia da sensação de dirigi-lo. Atrás dele, Ruby revirou os olhos e comecei a questionar minha decisão de trazê-la comigo nesta visita. Ela controlou sua expressão quando Alexei se virou para ela e disse: —Por que não pego as chaves e vocês duas podem dar um passeio? —Certo. Parece bom. —Eu respondi, esperando que ele não tivesse notado o olhar de Ruby. —Aquele Q8 é, tipo, noventa mil. —Ruby sussurrou asperamente quando ele estava fora do alcance da voz. —Você vai


realmente gastar essa quantia em algo que se desvaloriza assim que você sai da concessionária? Em vez de ficar irritada, sorri. —Você parece a mamãe. Ela reagiu com surpresa. —O quê? —Você se lembra de quando mamãe e papai nos levaram com eles para comprar um carro novo? Você tinha uns doze anos? Eu tinha oito. —Como se eu pudesse esquecer! —Ela riu. —Mamãe estava com a calculadora e a caneta vermelha, e papai falava sem parar sobre depreciação, taxas de juros e taxa de porcentagem anual até você adormecer com aquela casquinha de sorvete derretendo por toda a sua camiseta. Eu me encolhi. —Eu esqueci tudo sobre a parte do sorvete. —Você espalhou tudo sobre os novos assentos no caminho para casa. —Ela lembrou com outra risada alegre. —Foi a única vez que vi papai tão perto de perder a paciência. —Nunca gostei de como eles eram calmos. —Admiti, permitindo-me sentir-me um pouco sentimental. —Agora, eu sei melhor. Eles eram pais realmente maravilhosos. —Eles eram. —Ruby concordou sem nenhum de seus sarcasmos habituais. Depois de um momento, ela confessou: —Às vezes, me pergunto o que eles pensariam de nós. Sobre mim. Aproximando-me, eu gentilmente peguei sua mão, dando-lhe tempo suficiente para se afastar se ela não estivesse confortável. Ela me deixou segurar sua mão e eu disse: —Ruby, eles te amavam. Eles teriam movido céus e terra para ajudá-la. Eles teriam ficado muito orgulhosos de ver que você assumiu a responsabilidade, pagou suas dívidas e está tentando recompor sua vida.


Sentindo que ela estava um pouco desconfortável, acrescentei: —Mas eles provavelmente não gostariam muito de Ivan. Ela franziu o cenho. —Você acha? Quero dizer, sim, as tatuagens e toda aquela coisa do que ele era antes, mas ele é dono de um negócio de sucesso e ama você. Não posso imaginar que eles iriam querer mais do que isso para você. Eventualmente, eles teriam aprendido a gostar dele. Ouvir seus elogios sobre Ivan me surpreendeu. — Espere. Quando você decidiu que gostava de Ivan? Ela revirou os olhos. —Eu nunca não gostei dele. —Mas você... —Ele estava levando você para longe de mim. —Ela deixou escapar. —Eu estava... —Ela desviou o olhar brevemente e suspirou. —Eu estava com medo, ok? Eu estava confusa com as drogas e Andrei estava morto. Eu estava sozinha e indo para a cadeia. De repente, esse cara aparece e você fica obcecada por ele. Tive medo que você me esquecesse. Tive medo de que você parasse de se importar. Tive medo de que você percebesse o quão horrível eu era e o quanto tinha me aproveitado de você e te machucado. Ele ia roubar você, e eu seria deixada para trás. —Ruby. —Eu disse, meu coração doendo por ela. —Nunca iria ser assim. Nunca. —Eu sei. —Ela apertou minha mão. —Você ia todas as semanas para me visitar. Você sempre atendia meus telefonemas. Você voltava mesmo quando eu era uma vadia completa. Você me convidou para ficar com você antes mesmo que eu pudesse reunir coragem para pedir. Eu nunca... Eu não deveria ter duvidado de você. —Está tudo bem. Sério. —Eu enfatizei, vendo seus olhos brilhando com lágrimas por derramar. Incapaz de me conter, envolvi meus braços em torno dela. Se as pessoas estivessem nos encarando


por nos abraçarmos no meio de uma concessionária, eu não me importava. Esta era uma conversa que eu queria muito ter com minha irmã e, finalmente, tinha acontecido. Pela primeira vez em anos, senti muita esperança em nosso relacionamento como irmãs. Quando nos separamos, Alexei estava por perto, seu olhar desviado enquanto nos dava algum espaço. —Se você estiver pronta, podemos ir lá fora e escolher um para um test drive. Peguei as chaves de três acabamentos diferentes. Lá fora, na fria manhã de janeiro, escolhi o acabamento top de linha para meu test drive. Alexei parecia feliz com a escolha e deslizou para a fileira do meio dos bancos de passageiros para o passeio. Ele não se preocupou com táticas de vendas de alta pressão. Ele me deixou aproveitar o passeio e fazer perguntas que ele respondeu facilmente, provando que era um proprietário presente de seu império de vendas de automóveis. —Você sentiu que este poderia ser o escolhido? —Alexei perguntou quando voltamos para a concessionária. —Ou você gostaria de olhar outro? —Gosto do tamanho e de como é dirigi-lo, mas não estou muito entusiasmada com o preço. —Eu disse enquanto entregava a chave. —Não é que eu esteja tentando negociar. Estou me perguntando se poderíamos encontrar algo com um preço de tabela que não seja tão desanimador. Ele considerou por um momento e então sorriu. —Eu tenho algo que você vai gostar. Chegou ontem da minha concessionária em Conroe. —Ele nos conduziu em direção a uma fila de veículos ao lado da parte traseira do edifício. —Eles ainda não foram colocados em nosso sistema local. É por isso que estão aqui. —Ele parou na frente de um GLS prata brilhante. —Tem dois anos. Um proprietário. Menos de dezesseis mil quilômetros. Basicamente, ficou guardado na garagem com temperatura controlada o tempo todo que sua dona o possuiu.


—Por quê? —Eu me perguntei enquanto abria a porta do motorista para ver melhor. —Meu gerente me disse que ela mudou de emprego depois que comprou o carro e começou a trabalhar fora do país. Ela decidiu se mudar para o exterior, e esta foi uma das últimas coisas que ela vendeu. —Ele gesticulou para que explorássemos o veículo. —Vou pegar a chave, e você e sua irmã podem dar algumas voltas no quarteirão. —Eu gosto deste. —Ruby anunciou depois de sentar-se no banco do passageiro. —Parece um pouco mais espaçoso. —Ela se virou em seu assento para olhar a fileira do meio e a área de carga. — Você provavelmente poderia colocar duas cadeirinhas confortavelmente ali. Você não teria que trocar por uma minivan até ter três filhos. Fiz uma careta com a ideia de três pequenos Ivans correndo soltos em nossa casa. —Vamos começar com um. Ela riu. —A menos que você tenha gêmeos na primeira tentativa. —Não sei se estou pronta para passar de nenhuma criança para duas ao mesmo tempo. —Eu não conseguia nem imaginar a logística disso. Dois berços, duas cadeirinhas para carro, o dobro das mamadeiras e fraldas, e lavanderia e banhos. —Você vai ter que ficar conosco para sempre. Ela bufou. —Sem chance. Estou planejando ser a tia que os enche de açúcar e brinquedos barulhentos e depois os deixa de volta em casa. —Uau. prestativa.

Obrigada. —Eu respondi secamente. —Tão

—Aqui está, Erin. —Alexei voltou com a chave. —Quando você voltar, podemos falar sobre números, se você quiser, ou eu posso encontrar outro para você ver.


Não precisamos ver outro veículo. Após o test drive, decidi que o queria. A negociação foi rápida e indolor. O preço que ele ofereceu era justo, de acordo com o que Ruby havia encontrado na internet enquanto estávamos em nosso test drive, e o desconto na garantia e no pacote de serviços que eu queria fez com que eu não tivesse dúvidas. Só quando chegamos ao financiamento foi que discordamos. Ivan havia instruído Alexei a faturá-lo a vista, mas eu queria financiá-lo em meu próprio nome para continuar construindo meu perfil de crédito. Outros dez minutos de mensagens de texto furiosamente trocadas com Ivan terminaram em mim, para a diversão de Alexei. —Obrigada por me trazer. —Ruby disse pouco tempo depois, quando saímos da concessionária. —Foi bom fazer algo normal. —Há mais alguma coisa que você gostaria de fazer hoje? Podemos almoçar mais tarde depois da sua consulta. —Eu ofereci. —Bife? —Ela perguntou hesitantemente. —Não consigo me lembrar da última vez que comi um bife realmente bom. —Então nós definitivamente iremos para uma churrascaria. — Eu decidi. —Alguma em particular? Enquanto debatíamos onde conseguir os melhores bifes em um restaurante não muito lotado, segui as instruções de navegação no meu telefone. Ao meu lado, Ruby irradiava nervosismo. Mesmo tendo cumprido sua pena na prisão, ela tinha meses e meses de liberdade condicional. Se ela cometesse algum erro, eles poderiam mandá-la de volta para a prisão. —Você quer que eu entre com você? —Perguntei depois de encontrar um lugar para estacionar. —Acho que eles não vão deixar você entrar na reunião. —Ela disse, parecendo decididamente ansiosa. —Não me importo de ficar sentada na sala de espera.


—Não? —Não. Quando entramos no prédio austero, fomos encaminhadas a um posto de controle de segurança e, em seguida, aos elevadores. Todo o edifício tinha um cheiro rançoso e ligeiramente azedo. A iluminação era fraca e as cadeiras na área de espera dos escritórios de admissão da liberdade condicional rangiam e balançavam precariamente. Enquanto Ruby se registrava para sua consulta, peguei alguns folhetos da mesinha ao lado da minha cadeira e os folheei. —Por que será que eles mudaram de liberdade condicional para supervisão comunitária? —Mostrei o folheto para ela enquanto ela sentava-se. —Alguém provavelmente fez um estudo que dizia que era melhor para a autoestima de um ex-presidiário. —Ela desenrolou o elástico que prendia os cabelos ruivos do rosto e, em seguida, penteou o cabelo para trás com os dedos antes de enrolá-lo em um coque frouxamente enrolado. —Havia muita daquela besteira de psicologia lá dentro. —É útil? Ela gargalhou. —Sério? —Sim. Ela encolheu os ombros. —Acho que para algumas pessoas é. —Mas não era para você? —Não do jeito que eles queriam. —Ela respondeu enigmaticamente. Antes que eu pudesse perguntar o que ela quis dizer com isso, seu nome foi chamado. Ela pegou sua bolsa de couro surrada, uma


das poucas coisas que eu tinha conseguido salvar de seu apartamento. —Me deseje sorte. —Boa sorte, mana. Ela sorriu para isso e me deixou para trás na sala de espera. Não pude deixar de me maravilhar com a reviravolta que nosso relacionamento havia tomado. Talvez tudo que ela precisasse era de uma boa noite de descanso em um lugar seguro. Seja qual for o motivo, eu não iria questionar. Contanto que estivéssemos avançando e nos aproximando, isso era tudo que importava. Colocando os folhetos na bolsa, peguei meu telefone e abri as mensagens de Ivan. Ele tinha me enviado uma selfie no espelho, nu da cintura para cima, flexionando seus músculos incríveis para se desculpar por nossa pequena rixa sobre o financiamento do veículo. Enviei de volta um convite para uma rapidinha no trabalho, seguida por uma série de emojis maliciosos. Ele respondeu rapidamente – estava no intervalo do almoço – com seus próprios emojis para confirmar. Escondendo meu sorriso e o flash de excitação que nossas mensagens causaram, eu deslizei para fora da mensagem e notei algumas mensagens mais abaixo na lista de um número que eu não reconheci. Apreensiva após a mensagem de voz inquietante que recebi na festa de gala, relutantemente abri as mensagens e fui recebida com um conjunto de fotos assustadoras. Alguém tinha estado perto o suficiente para tirar fotos minhas e de Ruby na concessionária. Mas foi a minha foto, sentada exatamente onde eu estava naquele momento, que fez meu estômago revirar de medo. Eu engoli nervosamente e olhei ao redor da movimentada sala de espera, meio que esperando ver homens mascarados olhando para mim. Meu olhar permaneceu nos homens que esperavam por seus compromissos. Os que não eram brancos, eu desconsiderei imediatamente. Havia sete que se encaixavam na descrição dos homens do ataque no


estacionamento, mas eu não poderia exatamente marchar até cada um deles e exigir que me mostrassem seu telefone. Meu olhar desviou para o corredor e os elevadores. O homem que tirou essas fotos já poderia ter saído. Eu não estava prestando atenção antes, então teria sido fácil tirar uma foto rápida e desaparecer. Ou talvez não fosse um homem. Talvez fosse uma mulher. Tentando não perder o controle, afastei os sentimentos naturais de pânico e tentei pensar de forma lógica. Ninguém ia tentar machucar Ruby ou a mim no meio de um prédio repleto de policiais e seguranças. Eles talvez tentassem nos pegar lá fora, mas eu estava pronta para isso e estaria prestando atenção. Não, era alguém tentando me assustar. —Você está bem? —Ruby perguntou quando voltou para o meu lado. —Veja. —Estendi meu telefone e ela o arrancou da minha mão, percorrendo as fotos e, em seguida, olhando ansiosamente ao redor da sala. —Precisamos sair daqui. —Ela empurrou meu telefone de volta para mim. —Envie uma mensagem para Ivan. Diga a ele que vamos para a academia. Encaminhe essas fotos para ele. Aliviada por sua resposta objetiva, segui suas instruções e acompanhei seus passos até o elevador. Entramos nele sozinhas e descemos em um silêncio tenso. Quando saímos do prédio, ela perguntou: —Ivan já respondeu a mensagem? Eu verifiquei meu telefone. —Não, mas o horário de treinamentos da tarde já começou. O telefone dele está sobre a mesa ou foi jogado para o lado dos tatames. Ele não pode... Parei no meio da frase quando Ruby de repente agarrou minha mão. Segui seu olhar até o fim da calçada, onde um homem alto e loiro estava encostado no prédio. Eu não conseguia ver seus olhos


por trás de seus óculos escuros de aviador, mas havia algo anormalmente familiar nele. —Vamos. —Ruby insistiu e puxou minha mão. —Pegue suas chaves. Enquanto ela nos guiava pela rua até o estacionamento, tirei minha chave da bolsa e destravei as portas quando estávamos perto. Entramos rapidamente no SUV, e eu travei as portas imediatamente, trancando nós duas lá dentro, onde esperançosamente estaríamos seguras. Liguei o motor e, sem sequer colocar o cinto de segurança, saí do estacionamento. Ruby se esticou e agarrou o cinto de segurança da minha mão direita e o prendeu no lugar. —Vá! Acelerei para fora do estacionamento com o máximo de segurança que pude e dirigi para longe do escritório de liberdade condicional onde estávamos sendo perseguidas pelo próprio Diabo. —Quem era aquele? Ruby parou de roer a unha do polegar por tempo suficiente para dizer: —Um guarda. —Vou presumir que há algum tipo de história com ele? —Sim. —Ela roeu a unha do polegar novamente, um hábito nervoso que tinha desde que éramos crianças. —É complicado, e se eu contar tudo, você estará em sério perigo. —Tenho quase certeza de que já estou correndo sério perigo. —Mais perigo do que você pode imaginar. —Ela emendou. —Estou imaginando o pior, Ruby. —Olhei no espelho retrovisor e notei uma caminhonete que eu tinha visto mais cedo naquela manhã e depois novamente no estacionamento do escritório de condicional. —Está vendo aquela caminhonete bege alguns carros atrás de nós? Um modelo mais antigo. Com o capô amassado.


Ela se virou em seu assento. —Sim, estou vendo. Antes que eu pudesse pedir a ela para tirar uma foto, ela usou seu novo telefone para tirar algumas. —Acho que peguei a placa. —É ele? O guarda? —Eu não sei dizer. —Ela estudou a tela de seu telefone. — Talvez? —Qual o nome dele? Ele era um de seus guardas? —Desviei o olhar da estrada e percebi como ela parecia perturbada. Minha boca ficou seca. —Ele te machucou? Ela reuniu coragem para assentir. Minha respiração ficou mais rápida quando percebi que minha irmã havia sido abusada. —Ele estuprou você? Ela assentiu novamente. —Não apenas eu. —É sobre isso que eles querem que você fique calada? Os guardas estão abusando das prisioneiras? —Isso é só uma parte disso. —Tem mais? —Exclamei, enojada ao perceber que minha irmã tinha ficado presa em um lugar horrível e traumatizante por todos aqueles longos meses. —Ruby? Ela balançou a cabeça. —Eu não posso, Erin. Não agora. —OK. Está bem. Você não precisa dizer mais nada até que esteja pronta. —Peguei a mão dela, e ela entrelaçou nossos dedos, segurando firmemente. —Quando você estiver pronta, estarei aqui e ouvirei. —Obrigada. —Ela sussurrou, sua mão tremendo na minha. Ela olhou pela janela e disse: —Você pode contar a Ivan, mas a mais ninguém.


Ivan. Assim que descobrisse o que havia acontecido, ele ficaria louco. Não haveria como parar sua necessidade de vingança por sua família. Ele arriscaria outra pena de prisão para garantir que Ruby recebesse a justiça que merecia. Meus pensamentos mudaram do choque de descobrir que minha irmã tinha sido estuprada – provavelmente mais de uma vez – por um guarda penitenciário para uma fúria incandescente. Fui dominada por pensamentos violentos. Eu queria matar aquele merda. Queria trancá-lo em uma gaiola com Ivan e deixar meu marido ensinar àquele verme nojento e inútil o que era a verdadeira dor. Pela primeira vez na minha vida, eu queria explorar todas as conexões de Ivan. Queria fazer coisas horríveis e terríveis com o homem que machucou minha irmã. Eu queria sangue. E, se eu conhecesse meu marido, ele se certificaria de que eu teria.


CAPÍTULO 12 —É a sétima vez que você checa seu telefone desde que terminou nossa papelada. —Ivan comentou, enquanto esperávamos ser chamados para nossa consulta de fertilidade alguns dias depois. Ele estava com o braço apoiado nas costas da minha cadeira e esfregou suavemente meu braço. —Ruby vai ficar bem. —Como você pode ter certeza? —Ela tinha ficado em casa enquanto íamos à nossa consulta e, mesmo com o sistema de segurança ativado, eu estava nervosa por ela estar sozinha após a ameaça inquietante no escritório de liberdade condicional. Não tínhamos visto ou ouvido falar de Jodi Kavanaugh desde aquele dia, mas eu fiquei nervosa, esperando que ele saltasse como o bicho-papão onde quer que eu fosse. Ele se deslocou ligeiramente e acariciou meu pescoço. —Kir e Stas estão de guarda em casa. Os dois homens treinavam em nossa academia, mas também faziam parte da equipe de Nikolai. —Por que não contratar um ou dois seguranças de Dimitri? —Porque eles vão querer seguir as regras. —Ele respondeu honestamente. —E Stas e Kir não vão. —Exatamente. Decidindo que este não era o lugar para discutir profundamente seus motivos, perguntei: —O que faremos sobre Ruby encontrar um emprego? Ela pode ficar algum tempo sem um, desde que prove que está ativamente procurando trabalho, mas e se ela não conseguir ser contratada em nenhum lugar?


Até a experiência de minha irmã, eu nunca havia pensado muito em como os criminosos encontravam trabalho após a soltura. Vendo quantos empregadores nem sequer olhavam para o formulário de um criminoso, de repente entendi melhor por que tantos criminosos voltavam às drogas ou à prisão. Ruby teve mais sorte do que a maioria. Ela tinha um lugar seguro para ficar, toda a comida que pudesse desejar e acesso a todos os confortos e necessidades da vida moderna. E quanto a todos os prisioneiros recém-libertados que não tinham um sistema de apoio como o dela? —Tive uma ideia. —Disse Ivan. —Ela provavelmente vai odiar, mas é a melhor oferta que ela vai receber. Antes que eu pudesse perguntar sobre sua ideia, uma enfermeira nos chamou para nossa consulta. Meu estômago retorcia de ansiedade, e eu silenciosamente rezei para que este fosse o início de uma jornada bem-sucedida de fazer bebês. Com a mão na parte inferior das minhas costas, Ivan caminhou ao meu lado pela sala de espera e pelo corredor cheio de lindas fotos emolduradas de pais sorridentes e seus bebês. Em vez da esperada sala de exames, fomos levados a um consultório para nossa consulta, o que me ajudou a relaxar um pouco mais. Nancy, a enfermeira especialista em orientações aos pacientes, sentou-se conosco e explicou o processo de trabalho com a clínica. Depois de explicar brevemente o lado médico das coisas, incluindo alguns dos exames que faríamos e as opções para conseguir uma gravidez saudável, ela disse: —Temos terapeutas e conselheiros licenciados na equipe, para o caso de você querer falar com alguém durante esta jornada. Ivan estava novamente com o braço apoiado nas costas da minha cadeira, e eu podia senti-lo ficar tenso com a menção de aconselhamento. Eu esperava que ele mantivesse a mente aberta sobre isso, mas não iria forçar isso no início do processo. Nancy não pareceu notar sua reação, ou talvez ela tenha visto isso com tanta frequência nos pacientes que mal registrava mais. Em


vez disso, ela perguntou: —Você falou com nosso departamento financeiro? Seu seguro provavelmente cobrirá os exames, mas os procedimentos e medicamentos geralmente não são cobertos. Temos acesso a empréstimos, cartões de crédito médicos e até subsídios, se isso for algo que você quiser investigar com um de nossos consultores financeiros. Totalmente ciente de que tínhamos muita sorte quando se tratava de dinheiro, tive um momento de culpa ao dizer: —Isso não é um problema para nós. Pagaremos por conta própria tudo o que nosso seguro não cobrir. —Bem, isso torna as coisas mais simples. —Respondeu Nancy, fechando a pasta cheia de formulários e folhetos. Ao entregála, ela disse: —Dra. Tafesh chegará para vê-los em alguns minutos. Ela está terminando com outro paciente. Sozinhos no consultório, Ivan falou primeiro. —Eu vou, se você quiser. —Ele pigarreou. —Para a terapia. Eu me virei na cadeira e toquei seu queixo. Ele parecia tão desconfortável neste espaço, cercado por modelos de plástico e peças bem construídas dos sistemas reprodutivos masculino e feminino. — Eu aprecio isso, Ivan. Ele grunhiu daquele jeito adorável de urso mal-humorado que ele tinha. —É o mínimo que posso fazer. —Realmente não é. —Eu rebati e acariciei sua mandíbula, sentindo o leve arranhão da barba sob meus dedos. —Sei que não era assim que queríamos que fosse, e gostaria que meu útero se comportasse e fizesse seu trabalho porque... —Pare. —Ele me silenciou com um beijo carinhoso. Pressionando sua testa contra a minha, ele disse: — Aconteça o que acontecer, o que quer que esteja errado, vamos resolver juntos, certo?


Apreciando seu amor por mim, acenei com a cabeça e roubei um beijo rápido quando a porta se abriu atrás de nós. Nós dois nos levantamos para cumprimentar a Dra. Tafesh, apertando sua mão e nos apresentando. Ela tinha os olhos fulvos19 mais incríveis e um sorriso amigável que me deixou à vontade. Seus brincos chamaram minha atenção, e eu não pude deixar de tocar em meus próprios brincos de ouro semelhantes. —Zoya? —Sim! —Dr. Tafesh respondeu com entusiasmo. —Vejo que você também é uma fã. —Sim. Muito mesmo. —Mal podia esperar para contar a Zoya que tinha visto seus designs por aí. —Por que não nos sentamos e conversamos sobre seu histórico médico? Depois que nos sentamos, Ivan manteve um braço em volta dos meus ombros, e esticou o outro para alcançar minha mão, segurando-a enquanto esperávamos a Dra. Tafesh rolar a tela do tablet. —Vocês estão ambos com a saúde muito boa. Erin, você está em seus melhores anos reprodutivos, e Ivan. —Ela pronunciou seu nome da maneira correta com um longo som do "e". —Você está um pouco mais velho, mas ainda está dentro da faixa ideal para a concepção. A mandíbula de Ivan se contraiu com o comentário —Um pouco mais velho. —Afinal, ele era quase dez anos mais velho do que eu. —Ivan, você parece se exercitar bastante. —Comentou a Dra. Tafesh enquanto lia nossos formulários de admissão. —Um mínimo de vinte e quatro horas por semana! Você é um atleta profissional? —Eu administro uma academia de artes marciais mistas. — Explicou. —Então fico em forma para lutar.

19

Cor que apresenta uma tonalidade entre o dourado e o castanho.


—Eu vejo. —Ela olhou de volta para o tablet. —Erin, parece que você tem uma abordagem mais moderada. —Apenas barra e um pouco de levantamento de peso e cardio em casa. —Eu confirmei. —Seus ciclos são regulares. —Ela comentou. —Baixos níveis de dor quando menstrua. Sem cólicas fortes ou sangramento? —Não. —Você tem um histórico familiar de endometriose. —Ela murmurou. —Mãe e avó? —Sim. —E você nunca esteve grávida e abortou? —Não. —Bem, vocês dois são um quebra-cabeça. —Dra. Tafesh anunciou com um sorriso. —Eu gosto de um bom quebra-cabeça. — Recostando-se na cadeira, ela colocou o tablet no colo. —Então, eu gostaria de começar com uma ampla gama de exames de sangue para vocês dois e depois alguns exames de imagem para Erin. Ivan, vamos precisar de uma amostra sua. Os resultados desses testes me ajudarão a ter uma ideia melhor de qual pode ser o problema e a melhor forma de resolvê-lo. Vocês dois têm alguma pergunta para mim? Eu tinha, claro, e abri a lista no aplicativo de notas do meu telefone. Perguntei a ela uma por uma, e a Dra. Tafesh respondeu a cada uma de uma forma fácil de entender e que me deixou à vontade. Depois de nossa consulta, fomos levados a uma sala de imagens do outro lado do corredor para meus ultrassons e, em seguida, para o laboratório para nosso exame de sangue. Tive que reprimir uma risada ao ver a cara de poucos amigos de Ivan quando o técnico de laboratório lhe entregou um saco de papel com um copo de amostra dentro.


—No final do corredor, à direita. —Disse o técnico, gesticulando na direção. —Escolha uma sala. Leia as instruções no pacote ou nos cartazes na parede. Depois de depositar sua amostra, feche a tampa, escreva o horário no rótulo, coloque o copo no saco e deixe-o na janela de amostra. Feito isso, você está livre para ir. —Ele está falando sério? —Ivan sibilou quando estávamos no corredor. Ele olhou para o saco em sua mão como se estivesse cheio de algo ofensivo. —Eles querem que eu... —Ele nem conseguiu terminar o pensamento. —Aqui? Pegando sua mão, sorri timidamente e o puxei para frente. — Vamos. —Erin. —Ele protestou, mas seguiu adiante de qualquer maneira. —Vai ficar tudo bem. —Assegurei a ele. —Você vai ver. Ele resmungou algo em russo que não consegui entender e caminhou atrás de mim até chegarmos a uma das salas reservadas para coletar amostra. Eu o puxei para dentro e tranquei a porta atrás de nós. Encostando-me contra ela, eu sorri. Enquanto eu estava me preparando para nossa primeira consulta, entrei em um grupo de infertilidade no Facebook. Estava repleto de ótimas informações e dicas para momentos como este. Temendo que Ivan se sentisse desconfortável em um ambiente como este, eu havia pedido algo muito especial e novo para a ocasião. Eu tinha quase certeza de que ele iria gostar. Ele estava parado no centro da sala. Toda a sua postura estava rígida, como se ele estivesse pronto para fugir da sala e nunca mais voltar. Ele fez uma careta quando notou a TV na parede em frente a um sofá baixo coberto por um vinil azul marinho brilhante e de fácil limpeza. —Não vou assistir pornografia e me acariciar em um sofá que range.


—Não posso fazer nada sobre o sofá que range. —Eu disse, ainda encostada à porta. —Mas posso ajudar com a outra parte. Os olhos de Ivan se estreitaram com suspeita. —Como? Sem palavras, me abaixei e agarrei a bainha da minha saia lápis preta. Eu estava usando uma roupa de trabalho típica hoje – saia lápis, blusa coral transpassada de seda e salto alto – mas por baixo eu tinha um segredo escondido. Mantendo seu interesse despertado, puxei a bainha da minha saia cada vez mais alto, não parando até que estava enrolada em volta da minha cintura. O olhar aquecido de Ivan queimou em mim enquanto ele engolia em seco ao ver minhas meias 7/8 pretas e a cinta-liga combinando. A minúscula calcinha mal tinha tecido. Quando desamarrei os laços de seda em minha cintura e abri minha camisa para revelar um sutiã balconet, ele jogou o saco de papel no sofá e veio em minha direção. Eu ri animadamente contra seus lábios quando ele capturou minha boca e depois gemi quando ele me levantou em seus braços e segurou minha bunda. Ele riu baixinho e gesticulou em direção à placa na parte de trás da porta. —Nós devemos ficar quietos. —Certo. —Eu sussurrei, agarrando seu pescoço e sua nuca para beijá-lo agressivamente. Ele rosnou profundamente em seu peito, e eu já podia sentir o comprimento rígido de seu pau crescendo entre nós. O mais suave e silenciosamente possível, ele me colocou no sofá e se ajoelhou entre minhas coxas abertas. Eu descansei minhas panturrilhas em seus ombros e levantei minhas costas para liberar o saco de papel e o copo de amostra presos embaixo de mim. Ele tirou o copo e o colocou em cima do sofá, encostando-o na parede onde poderia pegá-lo facilmente quando chegasse a hora certa. —Não podemos trocar nenhum fluido corporal lá embaixo. —Eu o lembrei e apontei para o cartaz na parede acima de nós. —Isso não é problema. —Ele me assegurou enquanto tirava seu pau das calças. Ele acariciou seu eixo grosso e longo com sua mão


tatuada e cheia de cicatrizes. Seu pau monstro parecia normal em suas mãos grandes, mas quando eu o alcancei, envolvendo meus dedos finos em torno dele, parecia obscenamente enorme. Esfreguei meu polegar ao longo da parte inferior da cabeça rosada, empurrando para trás seu prepúcio, e ele gemeu, empurrando seu pau contra minha mão para mais estimulação. —Espere. —Eu instruí sem fôlego. —Há algo mais para você. Seus olhos brilharam de necessidade. —Mostre-me. Afastando minhas coxas ainda mais, corri meus dedos ao longo do fino triângulo de tecido que cobria minha boceta. Empurrando o tecido, sussurrei: —Olha. —Onde diabos você conseguiu isso? —Ele aproveitou o tecido dividido para traçar meus lábios e, em seguida, mergulhou seus dedos em mim. —Isso é segredo. —Eu respondi, começando a ofegar enquanto seus dedos se movimentavam sobre meu clitóris. —Você vai comprar mais destas. —Ele decidiu. —E vai usálas para trabalhar para que eu possa incliná-la sobre a mesa em nosso escritório e foder você sempre que eu quiser. Minha boceta apertou com a imagem dele invadindo o escritório, fechando a porta e me empurrando de cara na minha mesa. A ideia de ter minha saia empurrada para cima e seu pau me fodendo enquanto eu agarrava minha mesa me deixou muito molhada. Ele gemeu e pressionou seus dois grandes dedos dentro de mim, bombeando para dentro e para fora enquanto eu acariciava seu pau. Ele se inclinou sobre mim e reivindicou minha boca, enredando sua língua com a minha até que ambos estivéssemos tremendo e ofegantes. —Estou perto. —Ele disse. —Muito perto, porra.


Mantive uma mão em seu pau e peguei o copo com a outra. Com cuidado para não colocar meus dedos dentro, removi a tampa e a coloquei de lado. Foi um pouco complicado segurar o copo no lugar enquanto movia minha mão mais rápido e mais apertado sobre seu eixo e logo abaixo da cabeça, onde ele era mais sensível. — Vamos, baby. —Eu implorei, minha língua traçando meu lábio superior. —Dê-me seu esperma. —Porra. —Ele rosnou e empurrou para frente na minha mão. —É isso. —Eu murmurei sem fôlego. —Foda minha mão. Mostre-me o quanto você quer colocar um bebê em mim. Seu ritmo vacilou. Asperamente ele sussurrou. —Porra. Porra! —É isso aí. Dê-me até a última gota. —Eu insisti, masturbando-o com movimentos controlados até que toda sua amostra estivesse no copo. Ele ainda estava tremendo quando peguei a tampa e selei cuidadosamente o copo. Eu mal tinha colocado de lado o copo quando ele puxou para baixo os dois bojos do meu sutiã, expondo meus mamilos duros para seu olhar faminto. Ele lambeu os dois enquanto empurrava três dedos em minha boceta e circulava meu clitóris com o polegar. Quando ele beliscou meu mamilo, eu arqueei meus quadris com o choque selvagem de dor e prazer. No momento em que ele beliscou meu outro mamilo, vi estrelas. De alguma forma, consegui conter um grito de prazer, permanecendo completamente em silêncio enquanto um orgasmo incrível me dominava. Ele caiu para frente em cima de mim, sua testa entre meus seios. Eu o abracei e o segurei perto, apreciando o calor e o peso dele. Depois de um tempo, quando ambos paramos de ofegar, ele me beijou ternamente e acariciou meu rosto. —Obrigado. —Não, não, não. —Respondi, ainda brilhando depois do meu clímax. —Eu que agradeço. Ele riu e me beijou novamente. —Vamos sair daqui.


Feliz pelo banheiro anexo, nós rapidamente nos arrumamos e etiquetamos o copo. Ele o colocou de volta no saco de papel antes de deixarmos a sala de amostra e o deixou na pequena janela discretamente rotulada. De mãos dadas, saímos da clínica pela sala de espera e pegamos o elevador até o estacionamento. —Então. —Eu disse quando ele pegava a Fannin St. saindo do estacionamento. —Qual é a sua ideia sobre o trabalho de Ruby. Sua boca se curvou com um sorriso infantil. —Ela vai trabalhar para mim. Eu pisquei. —Você não pode estar falando sério. —Eu estou. —Ivan. —Erin. Minha boca se estabeleceu em uma linha irritada. —Você e Ruby trabalhando juntos será um desastre. —Provavelmente. —Ele concordou. —No início, mas acho que será bom para ela. —Isso depende do que você espera que ela faça. —Limpeza de equipamentos, organização de pesos, lavanderia de ginástica, agendamento, inventário e qualquer outra coisa que ela possa fazer para tirar um pouco do peso de seus ombros e dos meus. —Disse ele. —Ela pode vir comigo de manhã para abrir enquanto eu malho. Eu bufei. —Você sai de casa antes das cinco. —Sim. E? —Ela é como um urso hibernando dormindo. Boa sorte para tirá-la da cama a tempo.

quando

está


—Ela vai se levantar e ir trabalhar, ou vai ter que lidar com seu agente de condicional. —Ele respondeu com naturalidade. —Ela é adulta. Pode programar seu próprio alarme e assumir a responsabilidade por si mesma. —Ele olhou para mim antes de mudar de faixa. —Ela não tem muitas opções. Pode conseguir um emprego temporário por meio de um dos programas que contratam ex-presidiários ou pode trabalhar conosco no negócio da família. Talvez não seja a carreira que ela deseja, mas é um trabalho estável. A remuneração será justa. Ela terá seguro... —E ela estará segura. —Eu interrompi, finalmente entendendo por que ele a queria na academia conosco. —Nós duas estaremos seguras com você o dia todo. Você não terá que se preocupar tanto porque estaremos na sua linha de visão. —Exatamente. —Ele respondeu. —Preciso de vocês duas por perto até que consigamos resolver esta situação. —Nós tipo você, eu e Ruby? Ou estamos nos referindo a você, Nikolai e os outros? —Sim. —Ele respondeu, me lançando um sorriso brincalhão. —Ivan! —Eu bufei. —Erin. —Ele disse mais sério. —Esta é uma situação muito delicada, certo? Estamos falando de uma conspiração criminosa dentro da prisão – estupro e quem sabe o que mais, porque Ruby não nos conta o resto. Não sabemos até que ponto essa coisa vai. Se Ruby não estiver disposta a ir às autoridades e apresentar queixa – e eu não a culpo – estamos limitados no que podemos fazer e como podemos nos proteger. —Eu sei. —Concordei, exausta. —É uma grande confusão. —Mordi meu lábio inferior. —O que ela nos contou – o pouco que ela nos contou – é tráfico sexual. É ilegal pra caralho. Talvez. —Eu


hesitei. —Talvez devêssemos levar isso para os Texas Rangers20 ou o FBI. Ivan olhou para mim como se de repente eu tivesse três cabeças. —Por favor, me diga que você está brincando. —Eu não estou. Os Texas Rangers investigam esse tipo de coisa. Faz parte das atribuições deles, não é? Investigar a corrupção? —O que te faz pensar que eles também não são corruptos? Dei de ombros. —Eles são os Texas Rangers. Eles são os mocinhos. —Por mais que eu queira acreditar em histórias românticas como essa, acho melhor não fazermos algo tão drástico ainda. —Com um aceno de cabeça, ele acrescentou: —Não é nossa decisão. Ruby tem que decidir a quem ela quer contar e quando. Não podemos forçá-la a isso. —Não, você está certo. —Ruby tinha deixado claro que não queria levar a público sua experiência. —Você está certo. —Erin, olhe para mim. Eu olhei. —Não me importa quanto custa ou quantas linhas eu tenho que cruzar. Eu vou conseguir justiça para sua irmã. Pode não ser do tipo legal, mas ela vai conseguir. —Ele prometeu. Eu só podia esperar que as linhas que ele poderia ter que cruzar não o mandassem para a prisão.

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A Texas Ranger Division, comumente chamado de Texas Rangers, é uma agência de aplicação da lei com jurisdição em todo o estado do Texas nos Estados Unidos, com sede na capital Austin.


CAPÍTULO 13 Ivan estava no balcão na manhã seguinte, despejando colheres de proteína em pó no liquidificador, quando Ruby, infeliz, entrou se arrastando na cozinha. Ele colocou a tampa no liquidificador e apertou o botão. —Bom dia! Franzindo a testa, Ruby grunhiu e abriu a geladeira. Ela pegou uma garrafa de suco de laranja e olhou com uma carranca para o liquidificador até que ele desligou. Ela torceu o nariz quando ele começou a despejar no copo. —Que diabo é isso? —É o meu shake de proteína. Ela largou a garrafa de suco de laranja e pegou a lata gigante de proteína em pó. Ao ler os ingredientes, ela fez uma careta. —Como você pode beber essa porcaria? Vegan? E o que diabos é um BCAA21? —Eu bebo porque é uma maneira rápida e consistente de obter proteínas suficientes em minha dieta. Uso vegan porque os ingredientes são de qualidade superior e eles fazem mais testes de segurança. —Ele pegou a lata dela e a colocou de volta no armário. — Aminoácidos da cadeia ramificada. —O quê? —BCAA. —Ele esclareceu. —São os aminoácidos que nosso corpo não consegue produzir. Só podemos obtê-los a partir de alimentos ou suplementos. Ela pareceu surpresa ao admitir: —Eu não tinha ideia de que você, você sabe, entendia de nutrição.

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BCAA que traduzido significa aminoácidos de cadeia ramificada. São Eles: Leucina, Isoleucina, Valina são parte dos 9 aminoácidos essenciais para os seres humanos, ou seja não são produzidos de forma endógena, por conseguinte têm que ser consumidos na dieta.


—Eu consigo até contar até vinte sem tirar os sapatos e as meias e usar os dedos dos pés para somar. —Com um aceno de cabeça, ele começou a beber seu shake de proteína. —Sim? Mas que tal vinte e um? Você tem que tirar as calças para contar até lá? Ivan se engasgou com a boca cheia do líquido espesso com sua brincadeira inesperada. Ela riu da situação dele e pegou um pano de prato ao lado da pia. Ela o golpeou com ela. —Aqui. —Obrigado. —Ele enxugou o rosto e depois a bateu de volta com o pano. —Eu poderia ter morrido engasgado. Ela revirou os olhos. —Eu teria virado você de lado e ligado para o 9-1-1 assim que terminasse meu suco. —Uau. Tanta compaixão e carinho. —Ele grunhiu. —Foi você quem me fez levantar a esta hora ímpia. Você fica com a Ruby insensível a esta hora da manhã. —Você é mais do que bem-vinda para voltar para a cama e passar o resto do dia tentando conseguir um emprego lavando pratos de restaurantes ou esfregando banheiros de hotéis. —Passo. —Ela abriu um armário e pegou um copo antes de despejar suco de laranja nele. —Quando você come comida de verdade? —Erin traz o café da manhã, ou eu faço na cozinha nos fundos da academia. —Ele gesticulou para a despensa. —Você pode levar as coisas que gosta e deixá-las lá. Diga a Erin o que você gosta e ela se certificará de que seja estocado na academia. Para o almoço, saímos ou mandamos entregar alguma coisa. Deixo isso para Erin. —Você realmente gosta de deixá-la mandar em você, hein? — As sobrancelhas de Ruby se ergueram enquanto ela bebia seu suco


em goles pouco femininos. Seus olhos se estreitaram. —É esse seu lance? —Meu lance? —Sim. —Ela fez um gesto com a mão. —Seu fetiche. Ter uma coisinha bonita te dando ordens e, bem, você sabe. Ele bufou um suspiro irritado. —Não vamos falar sobre isso. —Eu sabia! —Ela declarou triunfantemente. —Você não sabe porra nenhuma. —Respondeu ele, pegando a garrafa de suco de laranja e devolvendo-a à geladeira. —Uh-huh. —Ela sorriu como se tivesse descoberto um enigma difícil. —Veremos. —Vá em frente e pergunte a Erin. —Ele agarrou seu copo e engoliu o que restava de seu shake. —Esteja certa de que você realmente deseja saber. —Ele advertiu. —Pode ser que você não seja capaz de esquecer as imagens mentais que ela pinta. —Que nojo. —Ruby agiu como se estivesse fazendo vômito. Ela colocou o copo vazio na prateleira superior da máquina de lavar louça e pegou o copo dele, colocando-o lá também. —Já é ruim o suficiente eu poder ouvir vocês dois se não colocar meus fones de ouvido rápido o suficiente. —Ela estufou o peito e imitou dramaticamente a voz dele. —Oh, Erin. Oh, anjo moy. —Oh, vá se foder. —Ele xingou, apesar de rir de si mesmo. — Eu não sou assim. —Cara. —Ela disse com seriedade. —Eu mentiria? Ele bufou. —Você quer que eu responda isso? Ela mostrou o dedo para ele. —Vamos trabalhar ou não? —Vamos.


A viagem para o trabalho foi surpreendentemente agradável. Foi o tempo mais longo que ele esteve sozinho com Ruby sem a barreira de Erin entre eles. Ele tinha que se perguntar se confessar a Erin sobre o que tinha acontecido com ela na prisão havia de alguma forma libertado a verdadeira Ruby. Ela parecia muito mais com a mulher mais jovem que Erin havia descrito para ele. —Você já agendou suas aulas? —Os infratores da legislação antidrogas? —Sim. —Ainda não. —Ela admitiu, coçando o joelho através de sua legging preta. —Há uma aula no final de fevereiro. Acho que vou tentar entrar nessa. —Quanto tempo é? —Cinco dias. Três horas por dia. Ele franziu a testa. —É uma merda de cronograma. —Não é? —Ela balançou a cabeça. —Como as pessoas que acabaram de sair da prisão podem se dar ao luxo de tirar cinco dias de folga do trabalho ou pedir para serem substituídas se acabaram de conseguir um novo emprego! —As pessoas que fazem essas leis nunca tiveram que lidar com esse tipo de situação. Eles tomam suas decisões no vazio. —Claramente. —Ela concordou. —Então, chefe, vou precisar de cinco dias de folga em fevereiro e de uma carona de ida e volta para a aula. —Fale com minha supervisora. —Ele aconselhou. —É assim que vai ser? Tipo – não estou brincando agora.


—Odeio a parte comercial da academia. —Admitiu. —Erin tem uma habilidade natural para tudo isso. Trazê-la para o negócio foi a segunda decisão mais inteligente que já tomei. —E a primeira? —Me casar com ela. —Ele esperava que ela o provocasse ou zombasse dele, mas ela não fez isso. Ela pareceu ficar satisfeita com sua resposta. —Sempre pensei que ela acabaria seguindo os passos de papai. Acho que é por isso que ela gostava do Teague. Ele a lembrava de papai. No início. —Ela acrescentou. —Mas depois? —Mais tarde, ela descobriu que idiota colossal ele era. Não que ela vá admitir isso. —Ruby insistiu. —Ela odeia falar mal das pessoas. Ela sempre quer acreditar no melhor delas. Ela se esforçou para terminar as coisas em termos amigáveis com ele. —Alcançando sua bolsa, ela disse: —Estou feliz por ela ter encontrado você. Ela merece estar com alguém que a ama do jeito que você ama. Ele não tinha certeza de como responder ao elogio inesperado dela. Finalmente, ele disse: —Eu faria qualquer coisa por ela. —Eu sei que você faria. —Ela desembrulhou um chiclete e o enfiou na boca. Voltando sua atenção para fora da janela, ela olhou para a escuridão da manhã. —Andrei me amava da mesma forma. — Disse ela, sua voz tão suave que ele mal ouviu as palavras. Ela olhou para ele e aconselhou: —Lembre-se de como nossa história terminou. Pelo resto da viagem, ele não conseguiu pensar em mais nada. Ela não se referia à parte do vício em drogas de sua história. Ela se referia à parte em que Andrei morreu e a deixou para trás. Ele não podia permitir que sua história com Erin terminasse dessa forma. Ele se recusava.


Quando chegaram ao Armazém, ele mostrou a ela sua rotina matinal para abrir a academia. Em alguns dias, ele esperaria que ela assumisse esse dever. Ele mostrou a ela o armário de suprimentos e as listas de controle plastificadas que Erin montou para organizar a limpeza do equipamento, a lavagem das roupas e muito mais. —As toalhas são lavadas três ou quatro vezes por dia, dependendo da rapidez com que os cestos do lado de fora dos vestiários se enchem. —Ele mostrou a ela a programação correta para a lavadora e secadora, bem como os tipos e quantidades de sabão, alvejante e tudo o mais que Erin tinha na lista de controle da lavanderia. —Vassouras e esfregões estão ali. —Eu preciso esfregar todo o lugar? —Ruby perguntou, os olhos arregalados com a perspectiva de ter todo aquele espaço para limpar. —Não, só limpamos se alguém passar mal ou derramar uma bebida ou algo parecido. Temos uma equipe de limpeza que vem todas as noites para limpar e higienizar os pisos, tatames, equipamentos e vestiários. Paco fica até tarde para isso. —Ele a levou ao banheiro privativo que havia instalado para Erin quando ela começou a trabalhar na academia. —Há uma chave extra para esta porta na gaveta de cima de Erin. Certifique-se de tranca-lo quando terminar. Os caras aqui são malditos animais. —Devidamente anotado. —Disse ela, fazendo uma careta. —A cozinha e a sala de descanso estão aqui. —Ele mostrou a ela o amplo espaço de descanso na parte de trás da academia. — Geladeira. Água. Café. Copas. Pratos. Talheres. Potes. Panelas. —Ele abriu e fechou armários e gavetas para mostrar a ela onde encontrar as coisas. Ele bateu em uma placa na geladeira sobre rotulagem de alimentos. —Erin limpa a geladeira toda semana. Ela mantém etiquetas e marcadores aqui. —Ele apontou para a cesta de metal fixada na lateral do eletrodoméstico. —Se não estiver etiquetado com um nome e a data em que entrou na geladeira, é jogado fora.


—Bom. Deus. —Ruby balançou a cabeça. —Eu pensava que ela era mandona quando éramos crianças, mas isso é palhaçada. —Em sua defesa, este lugar era um chiqueiro antes de ela entrar e estabelecer a lei. —Ele esfregou a nuca, fazendo uma careta com a memória dela quase vomitando na primeira vez que abriu a geladeira aqui. —Suas regras e organização podem ser um pouco exageradas às vezes, mas seu sistema funciona. Olhe para este lugar. Está impecável. —Muito justo. —Disse Ruby. Ele continuou o passeio levando-a a cada equipamento, a todas as estações de peso, aos tatames, aos ringues de luta e às gaiolas. — Todo mundo que treina aqui deve limpar. A maioria deles faz isso, mas eles se cansam e esquecem. Se você vir uma estação que foi usada e não limpa, borrife e limpe. —Ele apontou os frascos de limpador e as pilhas de toalhas de papel colocadas perto de cada estação. —O maior problema para a academia é prevenir o estafilococos. Essa merda é perigosa. Existem lutadores que morreram por causa de infecções por estafilococos que começaram em um corte ou arranhão e se espalharam. A limpeza é a primeira e a melhor defesa. —Certo. —Disse ela, acenando com a cabeça e levando a sério. —Houve um surto de estafilococos em um dos blocos de celas quando entrei pela primeira vez. Uma das garotas acabou com isso no rosto. —Ela estremeceu. —Ela quase perdeu o olho. Ele não ficou surpreso ao ouvir isso. Ele tinha visto coisas ainda piores na prisão, mas não estava disposto a compartilhar essas histórias com ela. Em vez disso, ele perguntou: —Alguma pergunta? —Nyet, camarada. (Negativo) —Disse ela com uma saudação zombeteira. —Oh, pelo amor de Deus. —Ele resmungou e se afastou dela. —Já estou arrependido de ter contratado você.


—Ei, posso receber um adiantamento no meu primeiro cheque? —Ela gritou enquanto ele destrancava o escritório que dividia com Erin. —E qual é o plano de aposentadoria aqui? Durante o resto da manhã, ele ficou de olho nela. Erin só iria depois do almoço porque tinha reuniões no banco, com o contador e Mueller. Isso significava que Ruby era a única mulher no Armazém, e ele temia que pudesse gerar atrito. As poucas vezes em que pegou alguns de seus lutadores tentando chamar a atenção de Ruby, ele se certificou de que eles não olhassem para ela uma segunda vez. —Por que você simplesmente não coloca vendas nos olhos deles? —Ruby perguntou quando ela entrou na cozinha um pouco mais tarde. —A quantidade de suor pingando no chão das voltas que você está fazendo-os correr está dando mais trabalho para mim. —Mais trabalho significa estabilidade no emprego. — Respondeu ele, pegando uma dúzia de ovos da geladeira bem abastecida. —Você quer um? Ela balançou a cabeça. —Eu fiz um pouco de mingau de aveia enquanto você esticava o pescoço naquela máquina de tortura. —É para fortalecer o pescoço. —O que você disser. —Ela se jogou em uma cadeira e o observou quebrar os ovos em uma tigela para seus ovos mexidos de costume. —Você sabe quantas vezes eu ouvi as palavras 'peitos de cadela' esta manhã? Ele franziu a testa. —Vou falar com eles sobre o linguajar. —Você deveria pedir a Erin para fazer uma lista. —Ela brincou. —Você pode imaginar? Ela precisaria de, tipo, vinte folhas de cartolina para listar todas as palavras proibidas. —Em inglês. —Ele comentou, ainda quebrando ovos. —Ela precisaria de ainda mais para todo o espanhol e russo que é falado aqui.


—Quantos ovos vão nisso? —Ruby perguntou em um tom escandalizado. —É quando você começa a cantar e me diz como come cinco dúzias de ovos para ficar do tamanho de uma barcaça? Sua testa franziu e ele se virou para encará-la. —Que diabos isso significa? Ela parecia surpresa. —Gaston? Bela? Le Fou? Ele balançou sua cabeça. —Sério? —Ela reagiu com descrença. —Eu devo acreditar que minha irmã se casou com você, mas ela nunca fez você sentar para ver A Bela e a Fera tantas vezes que as letras e a música ficam gravadas em sua mente por toda a eternidade? —É um filme? —É o filme favorito dela. A versão do desenho animado da Disney. —Ela esclareceu. —Ela assistia todos os dias depois da escola desde o jardim de infância até, tipo, a quinta série. Ela assistia ao filme pelo menos uma vez por semana depois disso. Queimou dezenas de cópias da fita e do DVD. —Sua expressão ficou melancólica. — Fomos à Disney World quando éramos crianças e achei que ela fosse desmaiar quando viu a Bela. Deveríamos voltar depois que eles adicionaram todos os restaurantes e show ao Magic Kingdom, mas mamãe e papai... —Ela deixou o pensamento desvanecer. —Bem. De qualquer forma. —Ela se levantou e olhou para o relógio. —Eu preciso trocar a roupa suja. Depois que ela saiu, ele terminou de preparar seu café da manhã e usou o telefone para procurar o filme. Ele adicionou à sua lista e, em seguida, mandou uma mensagem de texto para Erin para saber como estavam indo as reuniões matinais. Ela havia levado Kir com ela, mas ele ainda estava ansioso que algo acontecesse. Ela respondeu com uma selfie da área de espera do banco e garantiu que estava tudo bem.


De volta ao andar da academia, ele notou a maneira como Ruby se portava enquanto se movia pelo espaço. Ela mantinha as costas contra a parede. Seus olhos continuamente verificavam a sala, procurando potenciais ameaças e saídas. Ele entendeu aquele comportamento temeroso e defensivo. Ele tinha sido da mesma forma uma vez. Era difícil voltar à vida cotidiana depois de todo aquele tempo em alerta máximo. Ele esperou até que ela se aproximasse do tatame onde dois de seus lutadores lutavam e sinalizou para que ela se juntasse a ele. Ela parou ao lado dele e os observou. Ele olhou para ela e perguntou: — Você quer aprender? Aparentemente chocada com sua pergunta, ela olhou para ele confusa. —O quê? —Você quer aprender a lutar? Ela olhou em volta como se achasse que estava sendo preparada para uma brincadeira. —Mas... você não treina mulheres. —Você é da família. É diferente. —Ele manteve os braços cruzados e a mandíbula cerrada. —Seria bom para Erin ter alguém mais próximo do tamanho dela. —Por quê? —Por que Erin precisa de um parceiro menor do que eu? Ruby revirou os olhos. —Por que você está se oferecendo para me ensinar? —Porque você precisa saber como se defender. —De...? —De qualquer pessoa estúpida o suficiente para importunar você. —Ele respondeu, olhando para ela com um sorriso irônico. Ela retribuiu o sorriso. —OK. Estou dentro.


Ele assentiu. —Bom. Começaremos pela manhã.


CAPÍTULO 14 —Tem certeza que quer entrar aí sozinha? —Kir perguntou enquanto pegávamos o elevador para o último andar da sede de James Mueller. —Sim. Kir parecia inquieto. —Eu prometi ao Ivan que não iria deixála fora da minha vista. —Tenho certeza que ele não quis dizer isso literalmente. —Prefiro não descobrir se estou errado. —Eu vou ficar bem. —Assegurei a ele. O enorme lutador e executor de Nikolai grunhiu infeliz com a minha decisão, mas não discutiu mais quando saímos do elevador e entramos na área de recepção da empresa. Depois de falar com a recepcionista, ela nos direcionou para uma área de espera privada fora do escritório de Mueller. No momento em que nos sentamos nas elegantes poltronas de couro de zibelina, um grito indignado penetrou da porta do escritório à nossa frente. Kir e eu trocamos olhares surpresos enquanto os gritos raivosos continuavam. Não fui capaz de decifrar nenhuma das palavras reais. A sala era muito bem construída e a porta era espessa e pesada. O que quer que estivesse sendo dito, não era bom. A porta se abriu de repente, e fiquei chocada ao ver Teague saindo do escritório. Ele deve ter ficado igualmente chocado ao me ver, porque congelou bem na frente da porta aberta. Percorri meu olhar em seu terno amassado e sua camisa manchada. Seu cabelo estava uma bagunça e seus olhos estavam injetados, com círculos profundos. Ele parecia à beira de enlouquecer.


Quando Teague deu um passo em minha direção, Kir imediatamente se levantou de sua cadeira e se colocou entre nós. Com um ranger de seus dentes, Kir apontou para o elevador. —Continue caminhando. Teague não tinha energia para discutir. Ele baixou o olhar como um cão ferido e saiu sem dizer uma palavra. Fiquei olhando para ele, me perguntando em que diabos ele havia se metido e o que isso tinha a ver com Mueller. A ideia de que Mueller pudesse estar ligado ao ataque a Zoya e a mim começou a crescer. Foi assim que Teague soube o que me foi dito durante o ataque? Mueller o tinha encomendado? Ou havia alguma outra mão sombria trabalhando? Não tive tempo de pensar em todas essas possibilidades. As portas do elevador tinham acabado de fechar quando Mueller saiu de seu escritório para me cumprimentar. Seu olhar saltou para Kir e depois de volta para mim. Ele estendeu a mão para mim e se desculpou. —Desculpe-me por isso. Teague está passando por semanas difíceis. —Claramente. —Respondi secamente. —Este é Kir. Ele é um bom amigo. —Kir. —Mueller estendeu a mão e estremeceu brevemente quando Kir apertou sua mão em um aperto de torno. Ele deu um passo para o lado e gesticulou para que eu entrasse em seu escritório. —Quando você estiver pronta. Não deixei de perceber a maneira como ele tentou esconder a flexão de seus dedos ao seu lado. Com sorte, Kir não tinha realmente quebrado nenhum deles. Dando uma olhada em Kir, indiquei o assento que ele tinha acabado de desocupar e ele sentou-se relutantemente. Entrei no escritório e fui imediatamente atraída para as janelas do chão ao teto com vista para o Discovery Green. —É uma bela vista, Sr. Mueller. —James. —Ele insistiu. —E, sim, é. —Ele parou ao meu lado para apreciar a vista. —Entrei nesta sala, olhei por essas janelas e


decidi que não precisava perder tempo olhando nenhum outro edifício. Este era o perfeito para a minha expansão em Houston. —Você escolheu bem. —Um homem inteligente pega o que quer quando vê. Um arrepio de mal-estar percorreu minha espinha. Eu cuidadosamente ignorei seu olhar de soslaio, não querendo confirmar minha suspeita sobre seu significado. Se ele tivesse alguma ideia maluca sobre mim, poderia ir se foder imediatamente. Dando um adiante, vaguei até um modelo detalhado do desenvolvimento que ele estava propondo. Era muito ambicioso, combinando recreação e entretenimento com luxo e habitação acessível e espaços verdes. Um conjunto emoldurado de infográficos mostrava as finanças do projeto, bem como as referências para cada etapa do empreendimento. —Você conhece Teague há muito tempo? —Mueller se juntou a mim no modelo e limpou um pouco de poeira com o polegar. —Seis anos. —Respondi, continuando minha caminhada ao redor da maquete para manter o espaço entre nós. —Nós nos conhecemos na faculdade. —Ex namorado, eu entendo. —Sim. Resumidamente. —Eu menti, não querendo entrar em qualquer tipo de discussão sobre minha história de namoro com um homem que eu mal conhecia. —E você? Há quanto tempo você o conhece? —Toda a sua vida. Pega de surpresa, não consegui esconder minha surpresa. — Sério? —Seu pai e eu servimos juntos.


A conexão finalmente fez sentido. —Ranger22 do Exército, certo? —Sim. —Ele apontou para algumas fotos atrás de sua mesa. —Duas viagens ao Iraque e uma ao Afeganistão. —Você estava com o pai dele quando o explosivo...? Mueller acenou com a cabeça solenemente. Ele puxou para baixo o colarinho de sua camisa para revelar uma cicatriz feia que eu suspeitei que descia por seu peito. —Eu estava perto o suficiente para receber os estilhaços, mas longe o suficiente para sobreviver. —Sinto muito. Deve ter sido um dia terrível. —Foi. —Um telefone tocou e ele enfiou a mão no bolso para pegá-lo. Ele olhou para a tela. —Eu preciso atender isso. —Eu posso sair. —Ofereci. —Não, você fica. —Ele deslizou a tela e levou o telefone ao ouvido enquanto caminhava em direção a uma porta do outro lado de seu escritório. —Espere um pouco... A porta se fechou atrás dele e eu me entreguei à minha curiosidade sobre as fotos atrás de sua mesa. Havia as fotos usuais de sua família, incluindo seus filhos muito fofos. Ao que parecia, eles eram uma família que gostava de atividades ao ar livre. Havia fotos de acampamentos e caminhadas e fotos da manhã de dois de seus filhos em trajes de caça camuflados no que parecia ser uma cabana de caça. Ver Teague com Mueller e sua família em tantas fotos me fez questionar tudo que eu sabia sobre ele. Ele nunca – nem uma vez – havia dito nada racista na minha presença. Ele tinha mais amigos negros, do Oriente Médio ou asiáticos do que brancos. Sua irmã se converteu ao judaísmo para se casar com seu namorado de longa 22

Um dos principais grupos de elite do exército estadunidense, os Rangers (também conhecidos como boinas-pretas) foram utilizados como tropas para ações especiais e perigosas que ficaram notórias na história militar dos EUA.


data. Ele não tinha feito nada além de apoiar Abby, e era um tio amoroso para as filhas de Abby e Jacob. Era possível que ele realmente acreditasse na merda que Mueller fez? Era possível que alguém escondesse esses sentimentos tão bem? Eu tinha namorado um homem com tanto ódio em seu coração? Perturbada com a ideia de nunca ter conhecido Teague, mudei para as outras fotos. Havia uma seleção de seus anos no exército, algumas nos Estados Unidos e outras no exterior. Alguns dos mesmos rostos de seu tempo no Exército reapareceram em fotos mais recentes no mesmo acampamento para onde ele levou sua família. Ao olhar mais de perto, notei os detalhes quase ocultos esculpidos no parapeito que revestia a varanda da frente da cabana rústica. Estão de brincadeira comigo? Não havia dúvidas sobre o que eu estava vendo. Relâmpagos, runas, águias e outros símbolos de ódio foram usados de tal forma que pareciam inócuos. Quase bonito, eu admiti com relutância. Se eu não tivesse pesquisado o mundo ao qual Mueller pertencia na preparação para esta reunião, não teria sabido que havia outros significados para esses símbolos. Outra foto mostrava o nome do acampamento ribeirinho privado. Meu estômago embrulhou quando li a placa. Wannsee River Camp. Que tipo de monstro deu ao acampamento o nome da infame Conferência de Wannsee23? —Desculpe por isso. —Mueller se desculpou ao retornar para o escritório. —O que você acha do acampamento?

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Em 20 de janeiro de 1942, 15 altos funcionários do Partido Nazista e do governo alemão se reuniram em uma vila no subúrbio de Wannsee, em Berlim, para discutir e coordenar a implementação do que eles chamaram de "Solução Final da Questão Judaica".


—É muito bonito. —Eu disse, pensando que era uma pena que uma paisagem natural tão imaculada tivesse sido manchada por suas ideias horríveis. —Hill Country? —Imaginei. —Bandera County. —Ele confirmou. —Você e Ivan deveriam ir e ficar conosco algum fim de semana. —Ele fez o convite quando veio ficar ao meu lado. Eu contive um estremecimento com sua proximidade. —Não somos pessoas de atividades ao ar livre. —Você pode mudar de ideia na empresa certa. —Ele olhou para mim, seu sorriso irritantemente encantador. —Acho que vocês dois se encaixariam perfeitamente com nosso tipo de pessoal. —E que tipo é esse? —Ousei questionar, me perguntando se ele estava prestes a recitar seu discurso do orgulho branco. —Pessoas com valores compartilhados. —Disse ele, contornando a questão real. —Amamos a Deus, nosso país, nossas famílias e nossas comunidades. Trabalhamos duro. Contribuímos para a sociedade. Somos o melhor que esta nação tem a oferecer. — Claramente tentando me testar, ele perguntou: —Você acredita nessas coisas, não é? —Sim, claro. Embora não sejamos religiosos. —Talvez você ainda não tenha encontrado a igreja certa. —Não, esse não é o problema. —Antes que ele pudesse tentar me puxar para uma discussão teológica, deixei a parede de fotos e voltei ao modelo de desenvolvimento. Na esperança de voltar sua atenção para o projeto à nossa frente, tracei uma área em branco em seu plano de desenvolvimento entre dois edifícios maiores. Isso confirmou o que eu havia suspeitado. Ele precisava de nossa propriedade para garantir que seu desenvolvimento tivesse um fluxo ininterrupto. —Nossa propriedade é bem aqui. Uma delas. —Eu emendei. —Uma que talvez estejamos dispostos a vender.


—Se? —Ele sondou. —Se o preço for justo, claro. E eu quero dizer justo. — Adicionei com um olhar aguçado. —Está claro que este é um terreno importante em seu empreendimento proposto. Não vamos abrir mão dele por nada menos do que o valor de mercado. —Talvez eu possa lhe oferecer algo mais em troca de um preço de venda mais baixo. —Sugeriu. —Talvez uma participação no capital? —Isso pode ser algo que interessa a Ivan. — Respondi. Embora fosse uma oferta tentadora e que aumentaria substancialmente nosso patrimônio líquido, Ivan tinha deixado bem claro que não tinha absolutamente nenhuma intenção de fazer qualquer tipo de negócio com Mueller. Eu deveria vir aqui, ser gentil e, em seguida, recusar a oferta de fazer negócios. Mueller sorriu como se já tivesse vencido. —Tenho certeza de que podemos chegar a um acordo que você fique satisfeita. Peguei um cartão de visita da minha bolsa e entreguei a ele. — Envie-me alguns números e conversaremos. —Estou ansioso para negociar com você. —Veremos. —Peguei um dos folhetos brilhantes do final da mesa e enfiei-o na minha bolsa no caminho para a porta. Kir se levantou assim que me viu, e fomos direto para o elevador, nenhum de nós olhando para trás. Enquanto o elevador descia, eu não conseguia afastar a sensação estranha de ter estado sozinha com um homem que parecia tão tediosamente normal, mas que tinha ideias tão odiosas e malignas. Com quantas outras pessoas eu cruzava todos os dias que acreditavam nas mesmas coisas vis?


—Então. —Kir disse depois que estávamos em segurança dentro do meu SUV. —Era como Berghof24 lá? Eu lancei a ele um olhar estranho. —Você com certeza sabe muito sobre nazistas. —History Channel25. —Ele explicou. —Tenho problemas para dormir, e geralmente essa é a única merda interessante na televisão. É tudo sobre a Segunda Guerra Mundial, alienígenas antigos e teorias da conspiração. —Bem, desculpe desapontá-lo, mas o escritório dele era exatamente o que você esperaria de qualquer CEO. Couro preto. Muito metal. Tons de madeira clara. Sem graça como o inferno. —Huh. —Kir observou, aparentemente perplexo. —Acho que pensei que ele seria mais... —Ele parou enquanto procurava a palavra certa. —Vilão. Eu bufei com diversão. —Você quer dizer, tipo, Dr. Evil? Um covil ou algo assim? —Eu não sei. Talvez. —Ok, Kir, espero que se Ivan lhe pedir para trabalhar como minha babá novamente, você aceite porque as conversas que tivemos hoje foram um verdadeiro deleite. —O dia todo ele me surpreendeu com observações espirituosas e histórias engraçadas. —Conte-me sobre esses antigos alienígenas... Kir iniciou com entusiasmo uma palestra sobre o Livro do Gênesis, o Livro de Ezequiel e Urim e Tumim. Ele tinha evidências circunstanciais para sustentar suas teorias loucas, coisas como as Linhas de Nazca e pictogramas nos Urais. Quando chegamos ao

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Berghof foi a antiga casa-refúgio de Adolf Hitler em Obersalzberg, nos Alpes Bávaros, perto de Berchtesgaden, na Baviera, Alemanha. Foi também um de seus mais conhecidos quartéis-generais, os quais eram situados por toda a Europa. 25 The History Channel, é uma rede de televisão por assinatura americana cuja programação é focada essencialmente em conteúdo de teor histórico e científico.


Armazém, eu estava honestamente começando a duvidar da história aceita das pirâmides. —Vou mandar alguns links. —Ele prometeu. —Prepare-se para cair na toca do coelho alienígena. —Ele gritou antes de entrar em sua caminhonete e ir para casa. Divertida com suas teorias ligeiramente confusas, mas também um pouco ansiosa que os alienígenas realmente andassem entre nós, entrei no Armazém e tirei meus óculos de sol. Os blocos de treinamento da tarde estavam bem encaminhados e os sons de homens lutando, treinadores gritando ordens e a música agressiva que Ivan preferia depois do almoço ecoavam nos tetos altos. Ivan foi fácil de encontrar. Sua voz profunda se sobrepunha aos outros sons enquanto ele batia palmas e pedia uma parada para a luta acontecendo nos tatames. Descalço, ele pisou no tatame e deu um tapinha no ombro do mais novo lutador que se juntou à nossa equipe. Davor tinha vindo para Houston com seu irmão mais velho, Dragan, que assinou contrato para jogar com os Rockets. Ambos os irmãos eram grandes. Dragan, o jogador de basquete, era mais alto do que Ivan, Sergei e Ten. Ele às vezes vinha ao Armazém para malhar ou assistir ao treino de Davor. Cody, o lutador que treinava com Davor, fez uma pausa para tomar água. Ivan deslizou para seu lugar e começou a ensinar e corrigir Davor. Em momentos como este, observando a maneira como ele pacientemente explicava e praticava com seus lutadores, tive um vislumbre de nosso futuro como pais. Ivan estava pronto para ser pai, e eu esperava com cada fibra do meu ser que um dia eu estaria aqui na beira do piso da academia vendo-o ensinar nosso filho ou filha como se defender. Vi Ruby saindo da despensa com uma pilha de toalhas recémlavadas. Ela as colocou nas prateleiras do lado de fora dos vestiários e levou o cesto cheio de toalhas sujas de volta às lavadoras. Agradavelmente surpresa por vê-la trabalhando tanto, atravessei a academia até o escritório.


Meus pés doíam, e me joguei na cadeira da mesa de escritório e tirei os saltos de camurça vermelha. Era um belo par de sapatos, mas eles mataram meus arcos e dedinhos do pé. Flexionei meus pés e suspirei de alívio, o tempo todo me perguntando se poderia convencer Ivan a massagear meus pés mais tarde. Claro, ele começaria com meus pés e terminaria com as mãos em algum lugar muito mais alto. —Ei! Você voltou. —Ruby entrou no escritório. Ela pegou minha bolsa da cadeira onde eu a havia deixado e sentou-se com ela em seu colo. —Como foram todas as suas reuniões? —Chatas, mas pelo menos, eu tinha Kir comigo para me divertir. —Ele é engraçado? —É. —Ele fala? —Ela estreitou os olhos. —Tipo, palavras reais? —Sim. —Você tem certeza? Porque quando eu o conheci outro dia, ele grunhiu e pronto. Dei de ombros. —Isso parece mais você do que ele. —O que ele poderia ter para falar que você acharia interessante? —Antigos astronautas. —Oh, vamos lá! —Ruby riu. —Sério? —Sim. Ele vai me enviar alguns links mais tarde. —Oh, Senhor! Por favor, me prometa que você não vai se transformar em um daqueles lunáticos da Área 5126! 26

A Área 51 é uma região onde fica uma base da Força Aérea dos Estados Unidos fica no lago Groom, um leito de lago seco no deserto de Nevada, a 85 milhas (135 km) ao norte de Las Vegas e foi batizada


—Sem promessas. Ele tinha alguns argumentos convincentes. Ela balançou a cabeça. —E assim começa. Rindo, eu entrei no e-mail da academia e comecei a verificar minha caixa de entrada. —O que você acha de trabalhar aqui? —Está tudo bem. Eu poderia dizer que ela estava tentando ir com calma, então eu não forcei. —Ninguém incomodou você? Ela revirou os olhos. —Ivan estabeleceu a lei. Eu sorri. —Sim, ele é assim. —Superprotetor? —Sim. —Tentei me concentrar nos e-mails da minha caixa de entrada, mas não conseguia parar de pensar no Teague. Precisando contar a alguém, eu disse: —Eu vi o Teague. Ela franziu o cenho. —Onde? —No escritório de Mueller. —Teague estava com aquele aspirante a Himmler27? —Sim! Quer dizer, isso é estranho, certo? Você já...? Tipo... eu simplesmente não vi? —Eu disse a você que ele era um problema. Você se lembra? Seu segundo encontro, certo? Eu disse que ele estava escondendo algo e você não quis ouvir. —Para ser justa, seu julgamento não era exatamente o melhor na época.

popularmente com esse nome. O que se passa lá dentro é extremamente secreto. O público em geral é mantido afastado da região por sinais de alerta, vigilância eletrônica e guardas armados. 27 Comandante do exército de Reserva de Hitler.


—Nem o seu, considerando como Teague se saiu. —Ela atirou de volta. Em vez de ficar com raiva, sorri. —É muito bom estar sentada aqui com você jogando seu sarcasmo. Ela revirou os olhos. —Você é tão sentimental. —E? —Não espere que eu comece a falar sobre meus sentimentos. —Nem sonharia com isso. Ela se levantou, colocou minha bolsa de volta na cadeira e foi até os monitores do sistema de segurança. —Você acha que ele está metido nisso? —Quem? Teague? Ela assentiu. —Você me disse que ele sabia o que aqueles homens disseram a você no ataque no estacionamento. Ele não estava lá, obviamente, porque você o teria reconhecido, mas ele pode conhecer os caras que fizeram isso. Talvez sejam os caras de Mueller. —Talvez. —Eu disse, pensando que ela provavelmente estava certa. —Você acha que o guarda que machucou você, Kavanaugh, faz parte da organização de Mueller? Ela se virou, colocando toda sua atenção nos monitores. Depois de um momento tenso, ela disse: —Ele tem um par de raios em seu peito e 1488 em seu pescoço, sob o colarinho. Havia algo mais em sua perna, mas nunca tive uma visão clara disso. Ela nunca teve uma visão clara disso enquanto estava sendo estuprada. Meu coração se partiu e meu estômago apertou dolorosamente pela maneira como minha irmã havia sofrido. Levantei-me da cadeira e atravessei o escritório para ficar ao lado dela. Ela bruscamente


enxugou as lágrimas dos olhos, mas me deixou abraçá-la. Eu não sabia o que dizer. Não havia palavras que pudessem tirar sua dor e o trauma. Eu só podia esperar que mostrar meu amor aliviasse alguns de seus sofrimentos. —Havia outros. —Ela sussurrou, agarrando-se a mim com tanta força que eu sabia que haveria hematomas onde seus dedos estavam. —Outras mulheres e outros guardas. Eu não tinha contado a ela sobre o correio de voz ainda. —Na véspera de Ano Novo, enquanto estávamos na Jeans e Diamantes, recebi uma mensagem de voz de um número que não reconheci. Não a ouvi até a manhã seguinte, mas era uma mulher. Ela estava chorando e implorando por ajuda e misericórdia. Ela estava apanhando, eu acho, e provavelmente pior. Seus braços se apertaram ainda mais, me apertando com tanta força que eu mal conseguia respirar. Tremendo, ela confessou: —Eles filmavam. Meu coração batia de forma errática. —Filmavam os estupros? —Sim. —Ela respondeu, chorando ainda mais. —Para vender. No mercado negro. Eu não conseguia nem imaginar que tipo de mente depravada gostava de assistir a estupros e espancamentos. —Mas apenas das mulheres que estavam esperando pelo 28

ICE . —O que você quer dizer? —Consegui me libertar o suficiente para olhar em seu rosto. —Você quer dizer, tipo, imigração? —Sim. —Ela enxugou o rosto. —Eu ouvi sobre isso quando estava na enfermaria. Havia duas mulheres nas camas ao lado da 28 O Immigration and Customs Enforcement (ICE) dos EUA é uma agência federal de aplicação da lei subordinada ao Departamento de Segurança Interna dos EUA. A missão declarada do ICE é proteger os Estados Unidos do crime transfronteiriço e da imigração ilegal que ameaçam a segurança nacional e pública.


minha, e elas estavam falando sobre uma de suas amigas ter desaparecido em algum lugar da prisão. Elas estavam falando espanhol, então talvez elas presumissem que eu não entenderia, ou talvez estivessem esperando que eu entendesse, para que outra pessoa soubesse. —Como você desaparece na chamadas? Câmeras monitorando tudo?

prisão?

Não

—Acho que é por isso que eles ficam com as mulheres que estão esperando para serem transferidas para a imigração para serem deportadas —Ela explicou. —É mais fácil perder alguém assim. —E então essas mulheres são mandadas para casa, e ninguém nunca vai ouvir suas histórias. —Exatamente. —Eles visavam apenas aquelas mulheres? Por que ele foi atrás de você? Ela parecia hesitar entre dizer a verdade e se recusar a falar. Fechando os olhos, ela confessou: —Eu fiz algo muito estúpido. —Ei. —Eu disse, esfregando suas costas. —Está tudo bem, Ruby. O que quer que tenha sido, não importa. Ok? Eu só me preocupo em mantê-la segura e colocar um fim ao que está acontecendo dentro da prisão. —Você vai ficar tão brava comigo. —Ela gemeu e começou a chorar mais. —Você tem me apoiado tanto e se orgulhado tanto de mim, eu fodi tudo e menti o tempo todo. Por cima do ombro dela, notei Ivan entrando no escritório. Ele deu um passo para dentro da sala, viu a situação e levantou as duas mãos. Silenciosamente, ele recuou e fechou a porta com o menor indício de um clique quando a fechadura travou. Seguras ali dentro e com nossa privacidade garantida, agarrei sua mão e a levei para o pequeno sofá na parede oposta do escritório. Puxando-a para baixo


ao meu lado, segurei as duas mãos e esperei que ela me olhasse nos olhos. —Ruby, ainda vou te amar e te apoiar e ter orgulho de você, não importa o que você me diga. Ela fungou e enxugou os olhos novamente. Demorou um pouco para ela criar coragem, mas não me importei. Segurei suas mãos e esperei. Eventualmente, ela ergueu a cabeça e admitiu: —Eu estava me drogando lá dentro. O alívio tomou conta de mim. —Isso é tudo? —Isso é tudo? —Ela repetiu. —Estou lhe dizendo que usei drogas lá dentro depois que fui forçada a ficar limpa, e você não acha que isso é tão importante assim? —Sinto muito. —Respondi apressadamente, não querendo irritá-la e fazê-la se calar novamente. —Eu esperava algo muito pior, mas uma recaída no início da sua recuperação não é inesperada, especialmente em um ambiente de alto estresse. Ela olhou para mim de forma estranha. —Ivan não estava brincando. Você tem lido uma tonelada de livros sobre o vício. —Quero entender o que você está passando e como te ajudar, Ruby. Eu te amo e quero que você seja feliz e realizada e não tenha esse maldito demônio te seguindo pelo resto da sua vida. —Sempre estará lá, Erin. O vício não vai embora. É uma doença. Fica mais fácil não pensar em usar e não ansiar pelo entorpecimento, mas está sempre lá no fundo da minha mente. —Sinto muito. Você está certa. Não entendo da maneira como você entende, mas vou tentar. Se você compartilhar comigo quando estiver lutando, eu ajudarei no que puder. Eu prometo, Ruby. —Eu apertei suas mãos. —Não vou te decepcionar nunca mais. —O quê? Erin! Você nunca me decepcionou!


—Sim, Ruby. —A culpa que eu carregava há muito tempo desabou ao meu redor. —Eu estava muito envolvida em minha própria vida, em curtir a faculdade, namorar e sair com amigos. Eu não queria lidar com seus problemas. —Odiando a mim mesma pelo que estava prestes a admitir, comecei a chorar também. —Eu culpei você por mamãe e papai. Eu estava com tanta raiva de você. Então, disse a mim mesma que não me importava e que você não era problema meu. Eu deveria ter sido uma irmã melhor. —Não, não, não. —Ruby disse, jogando os braços em volta de mim. —Você sempre foi a melhor irmã. Eu me culpei por mamãe e papai. Claro, você também fez isso! Éramos tão jovens e não tínhamos ideia de como lidar com o trauma de perdê-los assim. Eu me perdi em comprimidos e cocaína, e tudo o mais que pudesse encontrar para me fazer esquecer e entorpecer minha dor. Você se perdeu na escola, no trabalho e nos amigos. —Tentei me manter ocupada para não ter tempo de pensar nisso. —Percebi, juntando de repente todas as peças. —E fico feliz que tenha sido esse o caminho que você tomou. —Ruby insistiu. —Estou feliz por você ter ficado longe da merda que quase me matou. —Ela esfregou o rosto com as duas mãos. —A merda que me meteu em todos esses problemas em que estou agora. —Abaixando as mãos, ela explicou: —Uma das garotas do meu bloco de celas tinha uma conexão interna. Tenho quase certeza de que é um dos guardas que traz as drogas, os celulares e o contrabando. Ela me ofereceu para experimentar de graça e eu resisti – no início. Então, um dia, apanhei pra caralho de uma grande vadia valentona, e comecei a pensar em quantos meses mais eu teria que viver lá, e perdi o controle. Eu queria esquecer tudo. —Então, você aceitou a oferta dela? —Sim. —E depois?


—Não eram os comprimidos que eu preferia. Era fentanil29. Foi uma fodida grande dose, pelo menos para a primeira vez. —Envergonhada, ela balançou a cabeça. —Fizemos o negócio em um almoxarifado perto da lavanderia, e eu desmaiei assim que coloquei a pílula debaixo da língua. Quando acordei, estava sozinha no escuro – e então ele me encontrou. —Kavanaugh? —Sim. —E ele...? Ela assentiu. —Duas vezes. —Ela fechou os olhos e expirou lentamente. —Depois disso, ele me tirava da minha cela sempre que queria. Algumas semanas atrás, antes de eu ser transferida para o centro de processamento para deixar a prisão, ele me levou para uma sala que eu nunca tinha visto. Era em uma parte da prisão onde eu nunca tinha estado ou sequer sabia que existia. Quando ela parou, entendi que ela precisava de um momento para se recompor. Segurei sua mão e ela começou a falar novamente. —Havia uma câmera em um tripé. Do tipo que os influenciadores de beleza usam para filmar seus tutoriais de maquiagem. —Explicou. —O que ele fez comigo antes disso foi terrível, mas a ideia de ele gravar para poder assistir ou compartilhar me arruinou. Eu nem tentei lutar contra ele, e isso só o deixou mais furioso. —Ela estremeceu. —Eu mal conseguia andar na manhã seguinte. —Oh, Ruby. —Eu chorei. —Meu Deus. Ela inalou uma respiração instável. —Ele me manteve na sala por muito tempo. Ouvimos vozes masculinas e ele me arrastou para um depósito. Ele usou fita adesiva para envolver meus pulsos e tornozelos e cobriu minha boca com ela para que eu não pudesse 29

Fentanil é um opioide sintético utilizado contra dores intensas e, em conjunto com outras substâncias, para anestesias. A substância pode ser entre 50 a 100 vezes mais forte que a morfina e entre 30 a 50 vezes mais potente que a heroína.


fazer nenhum barulho ou tentasse chamar a atenção de alguém. — Ela esfregou a boca como se lembrasse da sensação da fita. —Os homens estavam com uma das meninas retidas pelo ICE. Ela era mais jovem que você. Havia quatro ou cinco homens. Talvez mais. Eu não consegui vê-los. Eu só podia ouvi-los. Tentei visualizar o quadro que ela pintou com sua descrição. Deve ter sido assustador, como algo saído de um filme de terror. Parte de mim queria pedir a ela para parar com sua história, que a deixasse inacabada para que eu não tivesse o resto da imagem na minha mente, mas eu não fiz isso. Eu a deixei expurgar todas as coisas terríveis que haviam acontecido. —Eles brutalizaram aquela garota. Foi vil. Ela gritou, chorou e implorou. Eu não pude fazer nada. Eu era inútil. —Não havia nada que você pudesse ter feito. —Eu tentei desesperadamente amenizar sua culpa. —Você era uma mulher contra todos aqueles homens. —Eu sei, mas ainda posso ouvi-la chorando. —Ela soluçou. —Foi horrível, Erin. Horrível demais. —Ela fungou ruidosamente. —E então... —Então? —Ela mordeu um deles. Seu pau. —Ela esclareceu. —Ele gritou, e então o inferno começou. Eu não vi, mas ouvi. Eu ouvi o que eles fizeram com ela. —Ela esfregou o rosto agressivamente. — Ainda consigo ouvir. —Ela soltou um suspiro trêmulo. —E então tudo ficou quieto. Muito quieto. —Eles a mataram? —Eu perguntei horrorizada. —Eles a assassinaram na prisão? —Sim. Eles entraram em pânico. Eu podia ouvi-los brigando uns com os outros e falando sobre o corpo. Kavanaugh estava igualmente assustado. Ele estava com medo de que eles nos encontrassem no depósito. Ele colocou as mãos sobre a minha boca


com tanta força que o interior dos meus lábios estava sangrando com a pressão dos meus dentes contra eles. —Ela traçou sua boca como se estivesse revivendo a memória. —Quando eles terminaram, e tudo ficou quieto, ele me tirou da sala e me levou de volta para a minha cela. Ele me avisou para não dizer uma palavra – senão. Tentei processar tudo. —O que aconteceu com a garota que eles mataram? —Na manhã seguinte, durante a chamada, eles a encontraram pendurada em sua cela. —Eles fingiram suicídio? —Sim. —Puta merda. —Sentei-me no sofá e exalei lentamente. — OK. Então. Kavanaugh deve ter denunciado, certo? Porque se ele quisesse mantê-la calada, teria vindo atrás de mim sozinho. —Mas toda uma equipe veio atrás de você. —Ela murmurou, seguindo minha linha de pensamento. —Provavelmente foram os outros guardas de sua quadrilha de estupro. —Um deles colocou a mão entre minhas pernas. —Revelei. — Ele era nojento. Posso acreditar que ele é um predador. —Então, o que estamos dizendo, Erin? Que Teague está ligado a uma quadrilha de estupro que opera dentro de uma prisão? Que ele conhece um daqueles guardas? —Ela estremeceu. — Ou talvez ele seja um de seus clientes? Talvez ele compre seus filmes doentios? —Oh, Deus. —Eu disse, me sentindo nauseada. —Espero que não. —Isso é realmente complicado, Erin. —Ruby parecia sobrecarregada com tudo isso. —Teague. Os guardas. A garota morta. O ângulo neonazista.


—De alguma forma, tudo se encaixa. Sentamos ombro a ombro, ambas contemplando em silêncio o que diabos deveríamos fazer a seguir. Teríamos que começar contando tudo a Ivan. Ele ficaria furioso ao saber de toda a história. Até mesmo o assassinato. A possibilidade de Ivan rastrear Kavanaugh e fazê-lo desaparecer não me incomodou tanto quanto provavelmente deveria. Pelo que ele havia feito à minha irmã, Kavanaugh merecia ser punido – e muito mais duramente do que o sistema de justiça permitiria. —Você quer vir comigo para uma reunião? —Ruby perguntou inesperadamente. Surpresa com sua pergunta, perguntei: —Sério? —Sim. Sério. —Ela parecia mais calma ao explicar: —Acho que seria uma boa ideia ir a uma reunião hoje. Estou me sentindo estressada e ansiosa, e sei para onde meus pensamentos irão mais tarde, quando estiver sozinha. Pronta para fazer qualquer coisa para ajudá-la a manter sua sobriedade, me levantei e peguei minha bolsa. —Vamos. —Agora? —Sim. Agora. Não sei onde são as reuniões, então você terá que encontrar uma que comece logo. —Eu agarrei sua mão e a puxei para fora do sofá. —Vamos. Havíamos dado menos de dez passos antes de Ivan nos interceptar. Preocupado, ele perguntou: —Tudo bem, zolotse? (meu ouro) —Sim. —Eu respondi brilhantemente. Ele percebeu a bolsa na minha mão. —Onde você vai? —Para uma reunião.


—Reunião? —Sim. —Onde? —Não temos certeza ainda. —Olhei de volta para Ruby, que estava com o telefone na mão para encontrar uma. —Mas, provavelmente é em uma igreja. —Uma igreja. —Ele olhou entre nós como se tivéssemos perdido o juízo. —Tem certeza de que está bem? —Sim. Ele olhou ao redor da academia. —Deixe-me pedir a Paco ou Ken que assumam o comando. Eu levo vocês duas. —Não. —Foi surpreendentemente bom dizer isso. —Não? —Ele franziu a testa. —Por que não? —Porque estou cansada de deixar esses idiotas covardes controlarem minha vida. —Expliquei com naturalidade. Uma onda de bravura me fez levantar o queixo. —Não vou mais andar por aí com medo da minha sombra. Não vou me limitar ou arrastar uma babá. A boca de Ivan se estabeleceu em uma linha sombria. Ele parecia estar lutando contra o desejo de discutir comigo. Eu não poderia culpá-lo. Ele me amava tanto quanto eu o amava, e eu também não o queria em perigo. Finalmente, ele exalou asperamente. —Tudo bem. Surpresa, repeti: —Tudo bem? Ele assentiu. —Da. Você está certa. Eu não posso mimar você. Não posso cortar suas asas e colocá-la em uma gaiola. —Ele se aproximou, deslizando uma mão da minha cintura para a parte inferior das minhas costas e segurando minha nuca com a outra. —


Seja cuidadosa. Fique alerta. Tente estar em casa antes de escurecer. Se você vir algo que a deixa nervosa, ligue para o 9-1-1 imediatamente. —Eu vou. —Fiquei na ponta dos pés para beijá-lo. Suas mãos quentes me seguraram no lugar por mais alguns segundos antes de ele, relutantemente, afastar sua boca da minha. —Vejo você em casa mais tarde. —Envie-me mensagens com atualizações. —Eu vou. —Eu me afastei dele e acenei. —Ya lyublyu tebya. (Eu amo você) Ivan sorriu para meu russo surpreendentemente bom. —Eu te amo, querida. No meu SUV, esperei Ruby terminar de afivelar o cinto. Quando engatei a ré, disse: —Vamos abraçar nosso Stabler e Benson30 interiores. Vamos investigar Mueller, Teague, Kavanaugh e todos os seus amigos idiotas. Vamos desenterrar tudo o que pudermos sobre eles. Vamos construir o maior, mais desagradável e feio relatório – e depois vamos usá-lo para foder com eles. Os olhos de Ruby se arregalaram e ela sorriu. —Porra. Sim.

30

Comandante do exército de Reserva de Hitler.


CAPÍTULO 15 Ivan observou Erin e Ruby saírem da academia. Ele sentiu uma ponta de culpa por saber que as aranhas de Kostya estavam seguindo Erin e sua irmã. Ele estava feliz que Erin estava se sentindo capaz, que ela não iria se acovardar, mas ele não a teria deixado sair sem um segurança se não soubesse que Kostya estava mantendo-a sob vigilância. Segundos depois que Erin e Ruby saíram da academia, seu telefone vibrou em sua mão. Ele olhou para ele e leu os dois emojis na mensagem das aranhas de Kostya – um par de olhos e um carro. Era uma maneira simples de dizer a ele que eles estavam de olho nela. Sua preocupação diminuiu para um nível aceitável, e ele voltou ao trabalho. Ele e Ken, o treinador de condicionamento, discutiram algumas mudanças nos planos de treinamento para três de seus lutadores com as lutas que se aproximavam, enquanto eles estavam na beira dos tatames. —Você teve notícias dos produtores? Ivan balançou a cabeça. —Eles disseram que pode ser que até março eles decidam. —E se eles nos pedirem para ser o acampamento desta temporada? Ivan encolheu os ombros, ainda sem saber o que queria fazer. —Eu ainda não decidi. —Compreendo. —Ken e Paco eram os únicos dois na academia que entendiam. Eles eram os únicos que não pediam atualizações constantemente. —Você falou com Erin sobre a contratação de fisioterapeutas?


Ivan fez uma careta. —Merda. Eu esqueci. Sinto muito. Vou falar com ela esta noite. —Sem pressa. —Disse Ken com um aceno de mão. —É apenas algo que eu acho que iria elevar nosso campo de treinamento. Se pudermos oferecer fisioterapia internamente, podemos recrutar talentos de alto nível para lutar por nós. —Erin tem alguns planos de expansão nos quais ela está trabalhando. —Ivan disse antes de pisar no tatame para ajustar a posição do antebraço de Davor e o ângulo de suas costas. Quando ele voltou para a beira do tatame, ele continuou: —Ela acha que deveríamos trazer um nutricionista, um especialista em medicina esportiva e um compliance officer31 para lidar com a agência antidoping dos Estados Unidos, o Departamento de Licenciamento e regulamentação do Texas e todos os outros grupos de licenciamento e regulamentação. —Parece um plano sólido. —Comentou Ken, cutucando-o com o ombro. —Você precisa me ensinar seus truques para encontrar uma mulher assim. —Assim, como? —Inteligente, ambiciosa, linda. —Ken listou. —A maioria dos caras aqui estão apaixonados por ela. Ouvimos aqueles saltos batendo no chão da academia e... —Ei! —Ivan avisou, franzindo o cenho para Ken, que riu e ergueu as duas mãos em sinal de rendição. —Vá encontrar algo construtivo para fazer, sim? Sozinho na beira do tatame, Ivan observava seus lutadores e tentava não pensar em quantos dos homens que ele treinava queriam foder sua esposa. Ele não era cego. Ele via os olhares e a adoração aberta a Erin. Ele não podia culpá-los. Ele fez a mesma coisa. Nas 31

O compliance officer é o profissional responsável por garantir que todos os regulamentos internos e externos à empresa sejam cumpridos.


poucas vezes em que um homem ousou flertar com ela, ele controlou seu ciúme lembrando a si mesmo que ela era honesta e leal. Ela o havia escolhido, entre todos os homens do mundo, para ser seu homem. Certo de que se esqueceria de mencionar a questão do fisioterapeuta, escreveu um bilhete e colou no monitor do computador dela. Ele ficou surpreso ao ver que ela não havia limpado a mesa como normalmente fazia no final do dia de trabalho. O que quer que ela tenha descoberto, o que quer que tenha feito Ruby chorar daquele jeito, tinha que ser terrível. Tinha sido tão chocante que interrompeu a rotina de trabalho normal de Erin. Ele moveu o mouse para colocar o computador na tela de descanso, mas o e-mail aberto chamou sua atenção. Ela classificava e esvaziava sua caixa de entrada todos os dias. Ela era meticulosa em manter uma caixa de entrada organizada, então ver muitas mensagens aguardando sua resposta era estranho. Querendo ajudar se pudesse, ele olhou para os assuntos para ver se poderia responder a algum deles. Mas ele não foi além do primeiro e-mail. Havia sido enviado há menos de dez minutos da clínica de fertilidade. O assunto deixou claro que eram os resultados preliminares de ambos. Ele hesitou antes de clicar para abrilo. Preocupado que os resultados pudessem perturbar Erin se confirmassem seus temores, ele decidiu que era melhor ler primeiro para que pudesse entregar a informação de uma forma que protegesse seu coração gentil. Ele não conseguia suportar a ideia de que ela chorasse ou se culpasse por ser incapaz de ter um filho com ele. Ele quis dizer o que disse centenas de vezes diferentes. Ele não havia se casado com ela por seu útero. Ele se casou com ela por seu coração, sua bondade e pela maneira como ela o amava. Havia vários relatórios de laboratório anexados, mas ele ignorou o download e leu a mensagem da enfermeira. Ele não


entendeu o que estava lendo no início. Os termos médicos se destacaram para ele. Volume. Morfologia. Motilidade. Contagem total. Ele desabou na cadeira do escritório quando seu cérebro chocado finalmente compreendeu. Ele leu a mensagem da enfermeira repetidas vezes. Volume normal de ejaculação. Baixa motilidade. Contagem de espermatozoides muito baixa. Morfologia normal. Baixa motilidade. Muito baixo. Sou eu. Eu sou a razão pela qual Erin não pode engravidar. Seu estômago afundou com a realidade que ele nunca tinha considerado jogada sobre ele como ácido. Ele nunca teve problemas para ficar duro. Ele nunca teve problemas para ejacular. Ele nunca teve uma DST. Ele estava em forma e saudável. Isso não pode estar certo. Eu não sou estéril. Ele leu os resultados novamente e encontrou o relatório de análise de sêmen anexo. Ele leu cada linha e as considerações do laboratório. Cada resultado era como uma faca torcendo em seu estômago. Ele podia sentir sua vida feliz e futuro com Erin escapando com cada palavra e número da análise. Ele voltou ao e-mail e leu até o fim. A médica queria que ele repetisse o exame mais duas vezes e o encaminhasse a um urologista. Ela suspeitava que ele poderia ter sofrido um ferimento em algum momento no passado que havia causado seus problemas. Memórias de golpes na virilha no calor do combate e golpes acidentais nas bolas durante o treinamento passaram por sua mente. O jeito despreocupado como ele ria daqueles ferimentos, a maneira como ele descuidadamente se expôs a danos por dinheiro e orgulho, o deixava doente agora. As escolhas estúpidas que ele havia


feito quando era mais jovem estavam lhe roubando o futuro que ele desejava com sua esposa. Erin. Oh, porra. Erin. Tomado pelo pânico, ele se levantou. Todo esse tempo ela havia sofrido e se repreendido por não conseguir engravidar, e o tempo todo ele era o problema. Ele era a razão pela qual ela não podia ter um bebê. Ele era a razão de ela estar infeliz e com o coração partido. Ela vai embora. O pensamento o atingiu friamente. Erin queria uma família mais do que tudo. Ela nasceu para ser mãe, e se ele não pudesse lhe dar isso, ela teria todo o direito de partir e encontrar um homem melhor. Um homem completo. Um homem de verdade. Um nó invisível apertou seu peito com tanta força que ele não conseguia respirar. Por um momento, ele pensou que poderia estar tendo um ataque cardíaco. Ele se inclinou para frente, ambas as mãos sobre a mesa dela, e fechou os olhos. Ele tentou acalmar seu coração acelerado e respirar profundamente, mas seu corpo lutou com ele a cada passo – seu corpo estúpido e inútil. —Ivan? —Paco perguntou preocupado. —Estás bien? —Eu... preciso...... ir. —Ele falou pausadamente, cada palavra uma batalha para sair entre sua mandíbula cerrada. —É Erin? —Paco correu para o escritório. —Aconteceu alguma coisa com ela? Ele balançou a cabeça e exalou um suspiro trêmulo. —Não, ela está bem. Sou eu.


O rosto de Paco ficou sombrio de preocupação. —O que há de errado? —Eu não posso. —Ele engasgou. —Eu simplesmente não posso. Sobrecarregado, ele desligou o monitor de Erin. —Estou indo embora. —Está bem. Certo. Nós podemos lidar com isso. Não se preocupe. —Paco o seguiu pelo escritório até a academia. Ele esfregou a mão nas costas de Ivan de maneira paternal. —Seja o que for, você vai superar. Você sempre consegue. —Não desta vez. —Ivan respondeu, derrotado. —Não desta vez, Paco. Depois disso, tudo foi um borrão. Ele cambaleou até seu SUV e saiu do estacionamento. Ele não tinha um destino em mente. Ele apenas dirigiu. Sua mente não parava de provocá-la com visões de Erin segurando um bebê que não era dele ou Erin se casando com outra pessoa, alguém que era perturbadoramente parecido com Teague. Todas as vezes que ele a imaginou cantando para seu bebê, alimentando seu bebê e trazendo seu bebê para a academia foram substituídas por imagens dela fazendo isso para outro homem, um homem melhor. Um homem de verdade que poderia dar a ela a família que ela merecia. Pela primeira vez na vida, Ivan enfrentava um problema que não conseguia resolver com os punhos. Ele não poderia matar este monstro. Ele era o monstro. Todos os seus maiores medos estavam vindo à tona. Ele sempre teve medo de arruinar a vida de Erin. Ele era um expresidiário, um ex-mafioso, um lutador premiado. Ele não era educado. Ele estava coberto pela evidência de seus pecados, tatuagens que faziam as pessoas julgarem Erin por amá-lo.


E agora? Agora, ele não podia dar a ela o que ela mais queria. Se ela ficasse com ele, ela se perguntaria para sempre sobre a vida que ela poderia ter tido. A vida que ela havia perdido ao se casar com ele. A vida que ele roubou dela. Mesmo enquanto tentava se preparar para perdê-la, seu coração não estava pronto para desistir. Suas mãos apertaram o volante, os nós dos dedos ficando brancos enquanto ele segurava como se sua vida dependesse disso. Por favor, não me deixe.


CAPÍTULO 16 Enquanto ouvia uma mãe em recuperação com quatro filhos pequenos contar sua história, decidi que essa foi a melhor decisão espontânea que tomei em muito tempo. As reuniões de que eu havia participado para os entes queridos dos viciados foram úteis, mas esta foi uma experiência totalmente diferente. Foi revelador ouvir esses estranhos discutirem seus problemas e descreverem suas lutas para permanecerem sóbrios. Isso me deu uma compreensão melhor do que estava acontecendo dentro da cabeça de Ruby. Agora que o choque inicial de ouvir sobre o abuso sexual que acontecia dentro da prisão havia passado, eu estava com raiva. Furiosa, na verdade. Eu queria queimar aquele maldito lugar. Queria que todos os envolvidos fossem presos, exibidos em público, envergonhados e enviados para a prisão. Eu queria exibir a horrível corrupção e forçar o governo local a consertá-la. Eu precisava de provas antes de fazer isso. Precisava de provas irrefutáveis do que estava acontecendo. Será que Ivan me ajudaria a obtê-las? Ele marcaria um encontro com Kostya? Se eu conseguisse a prova, precisaria de uma estratégia. Lena seria a melhor pessoa para pedir ajuda nisso. Ela era assustadoramente inteligente e sorrateira como o inferno e sabia como trabalhar a mídia para obter o máximo impacto. Uma exposição na mídia provavelmente levaria a prisões e mudanças mais rápidas do que entregar as provas a alguém como Eric Santos, que, apesar de suas melhores intenções, não tinha o poder necessário para uma questão como essa. Após o término da reunião, deixei a sala ao lado de Ruby. Pulamos a mesa de refrescos com donuts questionáveis e o café ruim. —Essas reuniões precisam de um serviço de buffet melhor. Ruby bufou. —Sério, mana?


—Só estou dizendo. —Respondi com uma voz cantada. — Que se eles tivessem um bar de tacos, eu ficaria para socializar. —Você é ridícula. —Ruby respondeu com um divertido balançar de cabeça. —Na verdade, estou morrendo de fome. —Admiti. —Eu pulei o almoço por causa das minhas reuniões e depois me distraí na academia, e agora estamos aqui, então... —Você quer parar para comer tacos no caminho de volta para a academia? —Você quer? Ela revirou os olhos. —Eu perguntei primeiro. —Sim. Ela abriu a porta e pulou em seu assento. —Foi tão difícil assim? —Obviamente. —Eu murmurei enquanto pegava meu telefone no fundo da minha bolsa. —Vou ver se Ivan quer que eu pegue algo para ele comer também. —Eu vi o cara comer cinquenta ovos no café da manhã. Tenho certeza de que sua resposta a essa pergunta é sempre sim. —Geralmente. —Eu concordei com um sorriso. Levantei meu telefone para desbloqueá-lo com meu rosto e percebi as dezenas de mensagens de Benny e Lena. —Meu Deus! —O quê? —Vivian está em trabalho de parto! —Digitei rapidamente uma mensagem no bate-papo em grupo. Segundos depois, Benny respondeu com uma atualização. —Isso é tão emocionante! —É? —Ruby parecia incerta.


—Claro que é! Os bebês são sempre emocionantes. —Se você diz. —Respondeu ela, ainda não convencida. — Preciso passar na academia ou pedir a Ivan para trazer a minha bolsa para casa. Eu deixei na sala de descanso. —Eu direi a ele. —Deslizei a tela do meu telefone e toquei seu número na minha lista de chamadas recentes. O toque repetiu quatro vezes antes de ir para o correio de voz. —Ei, sou eu. Estamos voltando para o Armazém. Ruby deixou sua bolsa. Nós vamos jantar depois, se você quiser venha conosco ou podemos pegar comida para levar para casa. Me ligue de volta. Te amo. Ao meu lado, Ruby estava em seu telefone. Enquanto eu atravessava o estacionamento da igreja, ela disse: —Estou fazendo uma lista de todos os guardas de que me lembro e aqueles que acho que estavam na sala naquela noite. Você acha que Ivan conhece alguém que pode entrar nos registros de funcionários da prisão? Alguém que consiga obter cópias dos horários de trabalho? Poderíamos descobrir quem estava trabalhando naquela noite e fazer uma lista dos possíveis agressores naquela sala. Então, poderíamos ver se algum deles tem laços com Mueller ou Teague. —Ele conhece alguém. —Eu disse, pensando em Kostya. —Bom. Eu não disse a ela que poderia haver outro ângulo que poderíamos trabalhar para conseguir mais ajuda da antiga equipe de Ivan. Se Mueller e seus comparsas estivessem tentando entrar em Houston e se tornarem jogadores maiores na cena do submundo, Nikolai iria querer detê-lo. Se pudéssemos descobrir conexões entre Mueller e o que estava acontecendo na prisão, Nikolai poderia usar isso para expulsar Mueller da cidade. —Onde está o SUV do Ivan? —Ruby perguntou quando entramos no estacionamento do Armazém.


—Não faço ideia. —Estacionei no meu lugar de costume. — Ele provavelmente teve que sair correndo para fazer alguma coisa. Mas, ao entrar na academia e chamar a atenção de Paco, percebi que algo estava muito errado. Ele veio afoitamente em minha direção, suas pernas artríticas se movendo tão rápido quanto podiam, e meu estômago se apertou de ansiedade. Corri para encontrá-lo e perguntei: —O que há de errado? —Ivan. —Ele disse apressado. —Aconteceu algo no escritório. Ele estava perturbado. Ele parecia estar tendo um ataque cardíaco. Ele disse que ia sair e foi embora. —Ele disse para onde estava indo? Ao hospital? —Eu perguntei, começando a tremer de medo. —Você acha que foi um ataque cardíaco? —Não sei, Erin. —Paco admitiu, tão chateado quanto eu. — Ele parecia mal. Pálido, suando, respirando com dificuldade. —Foi um ataque de pânico? —Ruby perguntou depois de ouvir a descrição. —Você disse que ele estava no meu escritório? —Perguntei ao Paco. —Fazendo o quê? —Ele estava atrás de sua mesa. Ele poderia estar lendo emails? Sem outra palavra, corri para o meu escritório, meus saltos estalando enquanto mantinha o equilíbrio precariamente. Ruby passou correndo por mim e disse: —Vou pegar minha bolsa. Eu volto já. No meu escritório, fui para a cadeira atrás da minha mesa e me sentei para ver se algo estava diferente ou faltando. Notei um bilhete com a caligrafia terrível de Ivan para perguntar a Ken sobre um fisioterapeuta. Eu rapidamente liguei meu computador e me encontrei olhando fixamente para minha caixa de entrada. Meu olhar se


concentrou naquele e-mail lido no topo da caixa de entrada. Era da clínica de fertilidade. Meu coração disparou no meu peito. Foi isso que o fez entrar em parafuso? Era o que eu mais temia? Eu era completamente infértil? Ou pior? Eles encontraram algo seriamente errado comigo nos ultrassons e exames de sangue? Abri o e-mail e rapidamente li a mensagem da enfermeira. Minhas pernas ficaram bambas e fiquei feliz por estar sentada enquanto relia a parte sobre a análise do sêmen de Ivan. Ah, não! Oh, Deus! Não é de admirar que ele tenha entrado em pânico e saído. Todo esse tempo, presumimos que o problema era comigo. Ele deve ter sido pego de surpresa ao saber que era quase estéril. Ele era um homem orgulhoso, alfa, agressivo e protetor, mas sob aquele exterior duro, ele tinha um coração gentil e amoroso. Ele havia passado grande parte de sua vida sentindo-se indigno e indesejado. Descobrir que ele era a razão pela qual não concebíamos deve ter sido como uma faca no peito. E então ele estava lá fora, sozinho, em pânico e provavelmente imaginando o pior. Com certeza ele estava pensando em todas as possibilidades catastróficas. Ele tinha medo de que eu o deixasse? Que eu quisesse outra pessoa se ele não pudesse me dar filhos? Certamente, ele se lembrou do que sempre me disse sobre não se casar comigo pelo meu ventre. Eu não tinha casado com ele por causa de seu esperma. Eu queria uma família com ele, mas havia muitas maneiras de construir uma. Mais do que tudo, eu queria estar com ele. Ele era minha família. Ele era o amor da minha vida. —Tenho que encontrá-lo. —Fechei minha caixa de entrada e desliguei meu computador. Saindo correndo do meu escritório, praticamente corri para o fundo da academia para encontrar Ruby. Ela tinha ido à sala de descanso para pegar sua bolsa, mas eu


não a vi quando enfiei minha cabeça pela porta. Sua velha bolsa carteiro ainda estava em uma cadeira, e a lata de lixo estava fora do armário e vazia. Ela tinha levado o lixo para fora? Precisando que ela se apressasse, segui pelo depósito dos fundos e sala de suprimentos, contornei a despensa e empurrei a pesada porta dos fundos. —Ruby? —Ela não respondeu, então eu entrei no beco – e congelei. O saco de lixo tinha sido rasgado e o lixo estava espalhado pelo beco. Havia marcas pretas de pneus na calçada e um dos tênis de Ruby estava no chão. As evidências me diziam tudo. Ela tinha sido levada. Tomada pela raiva, voltei correndo para o Armazém e fui para o escritório, empurrando Ken e Paco para entrar nele. Fui direto para os monitores de segurança e bati no teclado até encontrar a imagem da câmera que precisava. Rebobinei a gravação até que vi uma caminhonete saindo do beco e continuei até que Ruby estava saindo pela porta dos fundos. Deixei a imagem rodar em velocidade normal e vi quando aquele filho da puta do Kavanaugh se atreveu a sequestrar minha irmã bem ali atrás da nossa academia. Ela tentou lutar com ele, mas ele a atingiu com o punho fechado, bem no rosto, e ela cedeu. —Seu filho da p... —Rosnei com raiva, sem terminar a palavra enquanto a adrenalina inundava meu sistema. Girando, caminhei até a mesa de Ivan e alcancei a gaveta de cima. Peguei a caixa de grampos e a abri, fazendo grampos voarem por toda parte. A chave que eu procurava caiu sobre a mesa. Eu a peguei e me agachei para destrancar a gaveta de baixo. Lá dentro, encontrei o que precisava – a VP9SK que ele mantinha por segurança. —Ei! Ei! Ei! —Ken balbuciou apressadamente. —O que você está fazendo com isso? Pistola e pentes extras em mãos, afirmei o óbvio. —Atirar em alguém, se for preciso.


—Mi'ja. (Minha filha) —Paco insistiu, à sua maneira paternal. —Você não pode sair daqui com essa arma. —Na verdade, eu posso – e vou. Os dois pularam para fora do caminho quando eu saí do escritório, meus ombros elevados e minhas pernas surpreendentemente fortes. O medo e o pânico de antes haviam desaparecido. Enfurecida, eu era uma mulher em uma missão. Eu iria trazer minha irmã de volta e encontrar meu marido, e seria um dia muito ruim para qualquer um que se metesse no meu caminho.


CAPÍTULO 17 Ivan estava dirigindo sem rumo há pelo menos duas horas quando finalmente percebeu que seu telefone estava vibrando no assoalho do banco do passageiro. Ele não se lembrava de tê-lo jogado no banco do passageiro, mas deve ter feito isso. De que outra forma ele teria acabado no chão? Incapaz de alcançá-lo enquanto dirigia, ele pegou a via de saída mais próxima e se juntou à longa fila para sair da pista. Quando finalmente estava livre do tráfego congestionado, ele parou no posto de gasolina mais próximo e estacionou. Ele pegou seu telefone, olhou para a tela e ficou surpreso com o número de chamadas perdidas e mensagens. Foi um déjà vu da manhã em que Erin foi atacada. Mais duas mensagens de Ken apareceram na tela. Ele abriu e leu da mais nova para a mais antiga. AGORA. ME LIGA! Me liga! Onde diabos você está? IVAN ATENDA SEU TELEFONE! Chamamos a polícia? O que nós fazemos? Ruby foi levada.


Ivan QUE PORRA! ATENDA O TELEFONE. Erin pegou algo da sua mesa. Erin está com problemas. Ivan! Me liga!

Ele podia sentir a veia em seu pescoço saltando quando chegou ao final das mensagens. Minha arma. Merda. Porra. Desesperado para encontrar Erin, ele chamou a única pessoa que poderia ajudá-lo agora. Kostya atendeu ao primeiro toque. — Onde você está? Estou tentando entrar em contato com você há... —Eu sei. —Ivan interrompeu asperamente. —Eu sei, ok? Você sabe onde ela está? —Ruby ou sua esposa? —Ambas, mas minha esposa primeiro. —O GLS de Erin está estacionado em frente à casa de seu exnamorado. —Porra. —Ele esfregou a testa. —Ela deve pensar que ele está com a Ruby. —Ele não está. —Você tem certeza? —Sim. —Porra. —Ele apertou a ponte do nariz. —Erin está com minha arma. —Ela é boa com isso?


—Porra, fala sério, Kostya. —Ivan rosnou. —Eu estou. Soltando uma respiração ruidosa, ele disse: —Sim, ela realmente é. Ela tem uma licença. Pratica naquela área coberta. A rosa, para mulheres. —Bom. Contanto que Teague diga a ela o que ela quer saber, ele ficará bem. —E se ele não souber o que ela quer saber? —Então, ele está fodido. —E minha esposa irá para a prisão por matar um homem inocente. —Gritou ele com raiva. —Ele não é inocente, e nunca deixaríamos Erin ser presa. — Kostya insistiu. —Os caras da academia. —Disse ele, pensando nas mensagens. —Eles provavelmente já chamaram a polícia. —Não, eles não chamaram. Uma das minhas aranhas cuidou disso. Você não precisa se preocupar com isso. —Kostya disse enquanto parecia estar se movendo. —Escute, acabei de voltar para a cidade com Nikolai. Uma das minhas aranhas está vigiando Erin e a outra, Mueller. —E a respeito... —Ruby está com Mueller. —Interrompeu Kostya. —Ela foi levada por Kavanaugh. Nós o seguimos até a área de Cedar Port, onde Mueller tem um depósito sob uma de suas empresas de fachada. Estou enviando o endereço para você. Encontro você lá. Não entre sem mim. —Por que não posso... —Ele grunhiu quando Kostya desligou sem qualquer outra explicação. Ainda preocupado com a


possibilidade de Erin realmente matar Teague, ele ligou para ela. Ele desabou contra o assento quando ela atendeu no terceiro toque. — Erin! —Ivan! Onde você está? Você está bem? Sei que você viu o email e precisa saber... —Agora não, anjo moy. Agora não. —Ele disse firmemente. — Falaremos sobre isso mais tarde. Você está com o Teague? —Como você sabe? —Ela ofegou e sibilou: —Você está me seguindo? —Claramente, eu tinha razão para isso. —Ele retrucou irritado. —Por favor, me diga que você ainda não atirou nele. —Claro que não! Eu não precisei. —Ela adicionou, sua voz tensa. —O quê? Por que não? —Ele já está morto.


CAPÍTULO 18 De todas as coisas que eu esperava encontrar quando entrei na casa do Teague, esta não era uma delas. Talvez eu devesse ter considerado o telefonema que fiz à sua empresa. Liguei primeiro para seu escritório, pensando que ele estaria trabalhando, mas a recepcionista rudemente me informou que ele não trabalhava mais lá. Ficou claro pelo seu tom que a decisão de deixar a empresa não tinha sido do Teague. A porta da frente de sua casa estava destrancada. Não sei que compulsão me fez tentar a maçaneta quando ele não atendeu a campainha ou a minha batida insistente. Talvez fosse um sexto sentido de que algo estava errado dentro da casa. Tudo parecia normal quando entrei. Chamei seu nome algumas vezes, mas não houve resposta. Andar por sua casa bem iluminada e lindamente decorada sem sua permissão parecia muito intrusivo. Eu deveria ter parado. Eu deveria ter dado meia volta e ido embora. Mas eu não fiz isso. Continuei indo até chegar ao seu escritório em casa. E lá estava ele. A princípio, pensei que ele tivesse adormecido na cadeira do escritório. Sua cabeça estava inclinada para trás e seus olhos estavam fechados. Foi só quando percebi o respingo na parede atrás dele e a estranha mancha escura em seu paletó que entendi que ele não estava dormindo. Ele estava morto. Com o coração martelando no peito, aproximei-me mais da mesa até poder ver a arma no chão ao lado de sua mão esquerda. Ele tinha dado um tiro no peito, bem sobre o coração. Não achei que


fosse a vaidade que o fez poupar o rosto. Deve ter sido uma decisão significativa dar a sua mãe a chance de dizer adeus a ele com um caixão aberto. Olhando ao redor da cena, ficou claro que ele havia planejado isso. Ele havia tomado banho, seu cabelo estava bem penteado e seu rosto barbeado. Seu terno estava bem passado. Seus sapatos estavam engraxados. Ele tinha o relógio de bolso do avô se destacando sobre o colete. A corrente brilhava sob as luzes. Até seu lenço de bolso estava perfeitamente dobrado. Ele tinha um bilhete escrito com capricho e assinado à sua frente. Eu li e comecei a lacrimejar quando cheguei na parte sobre seu amado cão bloodhound32 Ranger que estava hospedado em seu spa favorito para cães. Teague não tinha valorizado sua própria vida o suficiente, mas ele amava aquele cachorro e se assegurado que ele não estivesse ali para testemunhar o fim. Li o bilhete novamente, prestando atenção às suas razões para acabar com sua vida. Ele mencionou uma má decisão levando a outra e que ele deixou a ganância governar e arruinar sua vida. Ele se desculpou por todos que havia ferido e avisou que sua história completa seria contada em breve. O que isso significava? Ele tinha falado com alguém? Um jornalista? Um detetive? O FBI? Havia uma investigação em andamento? Meu telefone tocou e me assustou. Colocando minha mão sobre a boca para abafar meu grito de choque, tentei parar meu coração acelerado. Peguei o telefone na bolsa, o olhar fixo no rosto estranhamente pacífico de Teague, e atendi sem olhar para a tela. Mal coloquei o telefone no ouvido quando ouvi a voz de Ivan. —Erin!

32

Raça de cachorro também conhecida por cão de santo Humberto.


—Ivan! Onde você está? Você está bem? —Meu medo anterior por seu bem-estar superou o fato de que eu estava no meio de uma cena de suicídio. —Sei que você viu o e-mail e precisa saber... —Agora não, anjo moy. Agora não. —Ele insistiu. —Falaremos sobre isso mais tarde. Você está com o Teague? —Como você sabe? —Ofegando quando a compreensão me atingiu, eu me virei, esperando que um guarda-costas sombrio estivesse em algum lugar atrás de mim, e sibilei: —Você está me seguindo? —Claramente, eu tinha razão para isso! —Ele exclamou. — Por favor, me diga que você ainda não atirou nele. —Claro que não! —Ele realmente achava que eu planejava entrar aqui e começar a atirar? Olhando para trás, para o corpo de Teague, eu disse: —Eu não precisei. —O quê? Por que não? —Ele já está morto. Houve um longo momento de silêncio antes que Ivan enlouquecesse. —Saia daí agora, Erin. Vire-se e corra. —Você vai se acalmar? Ele não foi assassinado. Ele se matou. —Pelo amor de Deus. —Disse ele em voz alta. Eu podia apenas imaginá-lo enxugando o rosto com a mão, em exasperação. Ele resmungou algo em russo, lembrando-me mais uma vez que eu realmente precisava me dedicar ao curso que havia comprado, e depois voltou a falar em nossa língua. —Chame a polícia. Relate o suicídio. Eu não esperava esse conselho dele. —Você tem certeza? Normalmente, você me diz para não falar com a polícia. —Isso é diferente. Ele pode ter um sistema de segurança de vídeo. Se ele não tiver, seus vizinhos podem. Você está aí. Mal está


escurecendo. As pessoas estão voltando do trabalho. Alguém já te viu. Se você fugir agora, se não denunciar, ficará sob suspeita. —Ele ficou quieto e rosnou baixinho. —Eto piz 'dets. (Isto é fodido) Ele estava certo. Isso era fodido. Com um suspiro cansado, ele instruiu: —Ligue para Eric. Eu tinha certeza que o tinha ouvido mal. —Você quer que eu chame Eric Santos. Eric, primo de Vivian. Eric, o detetive que odeia você e quem você odeia também? —Sim, Erin, aquele detetive. Ele é um idiota, mas é honrado. Ele é honesto. Você não pode confiar em mais ninguém agora. Não sabemos até onde vai a corrupção na prisão, zvyozdochka33. Ele estava certo. Não havia mais ninguém no departamento em quem pudesse confiar. —Ok. Estou ligando para Eric agora. —Vá para o seu carro. Entre. Tranque as portas. Mantenha-o ligado. —Eu vou. —Olhei de volta para Teague. —E quanto a Ruby? Kavanaugh a levou. —Eu sei. Estou indo buscá-la de volta. —Como? —Kostya. —Ele disse – e isso era tudo que ele precisava dizer. —Por favor, tenha cuidado, Ivan. —Eu vou ter. Te vejo o mais breve possível. E, Erin, se você vir alguém que pareça uma ameaça, vá embora. Você entendeu? Vá embora e dirija até a casa de Nikolai. Você estará segura lá. —Oh! —Lembrei-me de repente. —Vivian está tendo o bebê! Zvyozdochka é uma localidade urbana no distrito de Ust-Maysky da República de Sakha, na Rússia 33


—O quê? Agora? Blyad (porra). Você ainda estará segura lá, mesmo se Vivian e Nikolai estiverem no hospital. Sua casa estará cheia de seus soldados. Quando você terminar com Eric, peça a ele para acompanhá-la até a casa de Nikolai. Ok? —Ok. —Erin? —Sim? —Eu te amo. Fechei meus olhos e me deixei sentir sua voz, me acalmando e me centrando. —Eu também te amo. —Desligue. Faça exatamente o que eu disse. Desliguei e tirei o cartão de Eric da minha carteira. Estava amassado, mas legível. Disquei o número e caminhei até a frente da casa do Teague, parando para espiar pelas cortinas antes de abrir a porta e pisar na varanda. —Eric Santos falando. —Eric? É Erin Markovic. —Erin. —Ele pareceu surpreso ao ouvir meu nome. —Você está bem? O que há de errado? Você está em apuros? —Não, não estou em apuros. —Ainda. —Na verdade, estou na casa de um amigo e, hum. —Minha garganta apertou quando a realidade do que eu estava prestes a dizer me atingiu. —Ele está morto. —Onde você está? O endereço. —Espere, Eric! Por favor, não chame ninguém. Por favor! —Por que não? O que está acontecendo, Erin?


—Escute, você se lembra no hospital quando me acusou de esconder a verdade sobre o ataque? —Sim. —Você estava certo. —Eu disse com pressa enquanto corria para o meu SUV e nervosamente verificava cada janela para ter certeza de que ninguém estava dentro. —Eu estava escondendo algo, mas não é o que você pensava. —O que era? Uma mulher montada em uma motocicleta no final do quarteirão interrompeu minha linha de pensamento. Ela usava um capacete, então não pude ver seu rosto, mas ela acenou para mim para comunicar que era amigável. Eu mantive meus olhos nela quando entrei no meu veículo e tranquei as portas. Observando-a pelo espelho retrovisor, finalmente respondi a Eric. —Os homens que me atacaram estavam tentando assustar Ruby e a mim. —Ruby? O que diabos ela tem a ver com alguma coisa? —Alguma coisa está acontecendo dentro da prisão, Eric. Algo muito, muito ruim. —Eu disse e liguei meu motor. — Estupro. Assassinato. Tráfico sexual. Ruby foi uma das vítimas. Ela estava na sala quando alguns guardas assassinaram uma prisioneira. Uma prisioneira do ICE. —Expliquei. —Eles tinham como alvo essas mulheres porque ninguém as ouvia, e elas seriam deportadas de qualquer maneira. —Porra! —Eric gritou. —Eu ouvi um boato. —Ele admitiu. —Mais de um. Sobre sexo dentro da prisão. Achei que fosse a besteira usual de guardas trocando favores por sexo. Eu não pensei... —Sua voz sumiu. —O padre da igreja da minha mãe me disse que trabalhadoras ilegais estavam desaparecendo. Eu os pesquisei e eles eram todos presos do ICE. Presumi que eles foram deportados e deixei por isso mesmo. —Ele parecia angustiado ao confessar: —Não me importei. Elas não estavam metidas em


problemas com armas ou gangues. Eram apenas lavadoras de louças e empregadas domésticas. Porra. —Eric, ouça, você pode se repreender mais tarde, mas agora, preciso de ajuda. —Onde você está? —Depois que passei a ele o endereço, ele disse: —Fique aí no seu carro. Se alguém mais em um carro de polícia aparecer, me ligue e mantenha as portas trancadas. Não saia. Espere por mim. —Sem problemas. —Assegurei a ele. A mulher na motocicleta ainda estava lá. Ela pegou o telefone e parecia estar apontando para o meu veículo. Um segundo depois, meu telefone apitou. Olhei para a tela para ver uma mensagem de um número desconhecido. Deslizei para abri-la. Número desconhecido: Meu nome é Sunny. Eu trabalho para Kostya.

Afundei de alívio contra o assento e digitei uma mensagem para ela. Estou esperando o detetive Santos. Sunny: Boa escolha. Ele é um dos poucos em quem confio.

Sentindo-me muito mais segura com uma das associadas de Kostya tão perto, deixei meus pensamentos voltarem-se para Ruby, Ivan e Teague. Meu coração estava pesado quando me lembrei da última vez que vi Teague. Eu deveria saber então? Eu deveria ter reconhecido a escuridão assombrada em seu rosto como um sinal de que ele iria acabar com sua vida? Eu não tinha certeza de como responder a essa pergunta. Suspeitei que nada do que eu pudesse ter dito ou feito teria mudado sua decisão. Ele estava longe demais para ajudar. O que quer


que tenha feito, ele devia saber que seria morto para garantir seu silêncio, ou passaria o resto de sua vida na prisão. Kavanaugh. Fiz uma careta ao pensar naquele idiota. Eu não tinha certeza de como as coisas iriam se desenrolar quando Ivan fosse resgatar Ruby, mas se eu conhecesse Ivan, ele não iria deixar Kavanaugh fora de sua vista até que pagasse caro – e com muita dor – por seus crimes contra minha irmã.


CAPÍTULO 19 Kostya acompanhou Ivan até o depósito não muito longe do aterro sanitário de Baytown. O cheiro de lixo podre estava pesado no ar quando ele saiu de seu SUV. Se estava tão ruim em uma noite fria de janeiro, ele não conseguia nem imaginar o quão nojento deveria ser o cheiro durante o verão. —Você pensaria que um magnata do mercado imobiliário se lembraria de localização, localização, localização. —Kostya brincou antes de lançar uma espingarda para ele. —Está carregada, mas você pode precisar disso. —Ele bateu uma caixa de cartuchos contra o peito de Ivan. —E isto. —Ele entregou a ele um colete à prova de balas. —Não vai adiantar muito para essa sua cabeça de batata gigante. —Não vou atirar em ninguém. —Ele devolveu a espingarda, cartuchos e colete. —E nem você. —Eu não vou? —Kostya pareceu surpreso ao ouvir isso. — Não é por isso que estou aqui? —Não vamos atirar nos rivais de Nikolai enquanto sua esposa está em trabalho de parto de seu primeiro filho. —Decretou Ivan. — Vamos conversar com Mueller da maneira que ele entende melhor. —Dinheiro? —Kostya perguntou com uma carranca. Como uma criança petulante, ele jogou as armas e coletes de volta no portamalas. —Você sabe há quanto tempo eu não faço nenhum trabalho? —Não tempo suficiente. —Observou Ivan, notando a forma como Kostya usava mais uma perna para poupar a outra. —Você precisa de reabilitação. Kostya suspirou e esfregou o rosto com as duas mãos. —Você também não.


—O quê? —Holly. O dia todo. Ela está exigindo que eu vá para a reabilitação. Ele observou a maneira rígida como Kostya se movia e disse: —Se você está fodendo como está andando, posso ver por quê. Kostya deu um tapa na nuca dele. —Vá se foder. —Eu duvido que você consiga mover seus quadris o suficiente para conseguir foder. —Ivan provocou. —Sabe, para alguém que precisa da minha ajuda, você é realmente um idiota. Ivan agarrou o ombro de Kostya e deu um aperto encorajador. —Pare de ser um idiota teimoso e vá para a fisioterapia. Kostya encolheu os ombros e fechou o porta-malas do carro. —Ser um idiota teimoso é tudo que me resta. Ivan não tinha dúvidas disso. Holly tinha que amar Kostya tanto quanto Erin o amava para suportá-lo quando ele estava assim. Dando um passo atrás dele, Ivan examinou o edifício sem janelas. Parecia qualquer outra instalação de armazenamento e centro de distribuição ao longo do canal. A maioria estava cheia de cargas que vinham do porto próximo. Móveis, eletrônicos, veículos, roupas – o que cruzasse o oceano em um navio, acabaria em depósitos ao longo das docas e baías. —Quantos homens estão aqui? —Ivan tinha a sensação de que eles estavam em grande desvantagem numérica. —Não muitos. —Kostya respondeu e estendeu a mão para ajustar a pistola enfiada na cintura de sua calça jeans. Ele levantou sua jaqueta de couro para cobri-la. —Mas o suficiente para nos matar, se eles quiserem.


—Esperemos que não. —Ivan resmungou quando Kostya abriu a porta e entrou no prédio bem iluminado. Ivan deixou seus olhos se ajustarem da escuridão do lado de fora para a luz fluorescente brilhante acima. Kostya fez uma pausa, deixando-o assumir a liderança. Ele adentrou mais no armazém, surpreso com o quão vazio parecia por dentro. Apenas um quarto do espaço estava cheio de paletes e contêineres. Não havia como aquele lugar estar ganhando dinheiro. Tinha que ser uma fachada. —Ivan! —Mueller cumprimentou com um sorriso nauseante. —Que bom que você veio! Eu não tinha certeza se você aceitaria o convite. Algum dia, ele jurou silenciosamente, vou arrancar esse sorriso da cara estúpida de Mueller. —Eu teria vindo antes se você tivesse enviado um convite diretamente para mim. —Ele parou alguns metros na frente de Mueller. —Onde está minha cunhada? Mueller assobiou e dois homens a trouxeram de uma sala do lado direito do prédio. Seu rosto estava inchado e seu nariz parecia quebrado. Fervendo de raiva, Ivan rosnou para Mueller: —Quem diabos bateu nela? —Eu não. —Mueller assegurou, suas mãos levantadas dizendo que ele era inocente. —Eu disse a ele para pegá-la sem causar nenhum ferimento, mas ele não me escuta muito bem. —Ele? —Kavanaugh, é claro. —Disse Mueller e indicou o homem que a segurava pelo braço direito. —Ele gosta muito de colocar as mãos em sua cunhada. As narinas de Ivan dilataram-se com a observação nojenta. — Espero que ele tenha gostado de usar essas mãos. Quando eu terminar com ele, ele não será sequer capaz de coçar sua bunda.


Mueller riu. —Sabe, Kav, acho que ele está realmente falando sério. Kavanaugh, estúpido como era, sorriu. —Ele pode tentar. —Eu não tentarei nada. —Ivan prometeu, olhando para Kavanaugh até que ele abaixou seu olhar como o idiota covarde que ele era. Voltando sua atenção para Mueller, ele perguntou: —O que diabos você quer? —Bem, o que eu realmente quero, não posso ter. —Mueller respondeu enigmaticamente. —Quer dizer, eu poderia ter, mas não acho que minha esposa apreciaria esse flerte mais do que você. Assim que a fala de Mueller fez sentido, as mãos de Ivan se fecharam em punhos ao lado do corpo, mas ele controlou seu temperamento. Fazê-lo engolir seus dentes não resolveria nada. Pelo menos, não esta noite. —A propriedade. —Disse Mueller finalmente. —Eu quero sua propriedade. De graça. —Ele acrescentou, como se Ivan precisasse de esclarecimentos. —Preciso daquele terreno para garantir os direitos de desenvolvimento e para colocar as mãos naquela grande pilha de dinheiro do governo. —Você fez isso. —Ele apontou para o rosto de Ruby. —Por causa de uma maldita propriedade? —Eu tentei comprá-la de você, mas percebi quando Erin saiu do meu escritório que vocês dois não iriam vender. Eu teria tentado melhorar o negócio para obter sua cooperação, mas minha mão foi forçada devido a circunstâncias imprevistas. Então aqui estamos nós. —Teague? —Ele perguntou, imaginando como Mueller sabia sobre o suicídio do homem. —Sim. —Disse Mueller com um suspiro exagerado. —Ele ter sido demitido esta manhã por causa da auditoria da empresa e do dinheiro desaparecido causou problemas significativos para meus


investidores e para mim. Os auditores passarão suas conclusões ao conselho, e o conselho da empresa iniciará uma investigação que provavelmente chamará a atenção dos federais. Apenas alguns passos e os federais perceberão que Teague tentou substituir sua enorme perda lavando dinheiro no exterior. África. —Disse ele com uma expressão de nojo no rosto. —Eu o avisei sobre tocar aquelas pessoas e em seu dinheiro. —Ele se virou em direção ao canto do armazém e os paletes ali. —E suas armas. Ivan olhou para os paletes e contêineres de transporte. — Aquele bastardo estúpido trabalhava com traficantes de armas? Mueller encolheu os ombros. —Ele é inteligente com os livros, não nas ruas. Isso será um problema quando ele estiver na prisão. Ivan escondeu o choque ao perceber que Mueller não sabia sobre o suicídio. Ele pensava que Teague ainda estava vivo. —A menos que ele fale. —Ivan avisou. —Negocie um acordo com os federais. —Ele sabe o que acontece com os homens que delatam. — Respondeu Mueller com segurança. —Ele permanecerá leal e cumprirá sua pena. —Parece que você tem tudo planejado. —Ivan disse, o tempo todo imaginando o quão bravo Mueller ficaria quando percebesse que tinha tudo errado. —Planeje seu trabalho, trabalhe seu plano. —Mueller repetiu presunçosamente. —Então, nós temos um acordo? A irmã em troca do terreno? Ivan balançou a cabeça. —Não. Ruby choramingou em choque. Ela lhe lançou um olhar suplicante, implorando silenciosamente para que ele a salvasse. Ela realmente achava que ele a deixaria?


—Não? —Mueller ecoou. —O que você quer? —Você pode ficar com essas duas propriedades e três outras que me pertencem. —Em troca de? —Ruby. —Obviamente. —E ele. —Ivan apontou para Kavanaugh. O rosto de Kavanaugh ficou inexpressivo. Ele voltou sua atenção para Mueller e finalmente pareceu entender que ele era dispensável. —Senhor, você não pode ser... Mueller encolheu os ombros. —Certo. Pegue-o. Ele é substituível. —Espere! Senhor! Sr. Mueller! —Ele largou Ruby e tentou falar com Mueller, mas dois de seus antigos amigos mostraram a pouca lealdade que tinham quando o bloquearam. —Foi bom fazer negócios com você, Ivan. —Mueller ignorou os contínuos gritos e súplicas de Kavanaugh. —Mandarei meus advogados entrarem em contato amanhã. Sem nem mesmo olhar para Kavanaugh, Mueller se afastou, provando o que Ivan sempre soube. O homem era um pequeno covarde odioso. Falando em covardes... Ivan caminhou em direção a Kavanaugh, que parecia pronto para fugir. Kostya o impediu de correr levantando sua arma e avisando: —Vou atirar no seu pau se você me obrigar a persegui-lo. Com Kavanaugh sob controle, Ivan estendeu a mão para Ruby e puxou-a para um abraço fraternal. Ela cedeu de alívio e se agarrou


a ele. —Por um segundo, eu pensei que você iria deixar que eles ficassem comigo. —Eu te disse antes. —Disse ele, rispidamente. —Você é família. —Jesus, você quase soa como se realmente gostasse de mim. —Disse ela com uma fungada e uma risada. —Bem, você está subindo no meu conceito. —Ele admitiu e desajeitadamente deu um tapinha nas costas dela. —Como um cogumelo. —Idiota! —Ela o socou com o punho cerrado, mas ele mal sentiu. —Pois fique sabendo que se eu fosse um cogumelo, seria uma trufa branca, cara e rara. —E amada por porcos. —Kostya comentou. Ruby franziu a testa para ele. —Quem te perguntou? —Ninguém. —Disse Ivan, colocando-se entre eles antes que começassem a discutir. Ele voltou sua atenção para Kavanaugh, que parecia que estava prestes a mijar nas calças. —Não é tão fácil agora, hein? —O que vamos fazer com ele? —Kostya perguntou, um brilho voraz em seus olhos. Ele tinha sido posto de lado por muito tempo e precisava voltar a fazer o que fazia de melhor. —Onde está seu black site mais próximo? —Cerca de dez minutos daqui. Ivan gostou do olhar petrificado no rosto de Kavanaugh. — Vamos. Pouco tempo depois, Ivan e Ruby estavam lado a lado em uma garagem à prova de som, atrás de um pequeno trailer velho e enferrujado. Ele havia enfaixado o nariz dela com suprimentos do kit


de primeiros socorros de Kostya. Ele a levaria para uma consulta com um médico particular pela manhã, mas ele já tinha visto narizes quebrados o suficiente para saber quando precisavam de cirurgia e quando não. Silenciosamente, eles admiraram a habilidade de Kostya com cordas. Nu, amordaçado e pendurado pelos pulsos amarrados, Kavanaugh parecia exatamente a cobra branca que era. O ódio patético que sentia por pessoas que não se pareciam com ele estava em plena exibição nas tatuagens estampadas em sua pele. Ele finalmente parou de chorar, mas tinha uma trilha de ranho escorrendo pelo rosto. —Então, quem é o primeiro? —Kostya perguntou, entregando-lhe um pedaço de tubo. Ivan segurou o tubo, testando o peso dele contra a palma da mão. Era de bom tamanho, grande o suficiente para causar danos, mas não tão grande a ponto de causar ferimentos fatais, desde que ficasse longe da cabeça e órgãos principais dele. Ele olhou para Ruby e estendeu o tubo. —Damas primeiro. Ela olhou para o tubo e mordeu o lábio inferior. Quando ela não o pegou, ele gentilmente pegou seu pulso, girou sua mão e envolveu seus dedos em torno dele. Ela o agarrou com força, segurando-o em sua mão trêmula, e então olhou para Kavanaugh. Ele podia sentir a raiva vibrando sob sua pele. Sem dúvida, ela estava revivendo a dor e a humilhação que ele infligira a ela. Dando um passo à frente, ela disse: —Sessenta e três. —Sua voz vacilou enquanto ela repetia o número. —Sessenta e três. —Seu braço flexionou. —Foi o número de vezes que você me tirou da cela e me estuprou. Quantas vezes você me usou como se eu fosse uma boneca inflável descartável sem sentimentos. —Ela ergueu o braço bem alto e perguntou: —Você acha que eu consigo bater com este cano sessenta e três vezes antes que meu braço ceda?


Kavanaugh gritou em sua mordaça, mas seus gritos de misericórdia foram ignorados por Ruby. A primeira batida do tubo contra a parte externa de sua coxa fez Kavanaugh uivar de dor. Ruby soltou um grunhido primitivo de dor, raiva e vingança e o atingiu novamente. E, no fim das contas, ela conseguiu usar o braço para bater com o tubo sessenta e três vezes.


CAPÍTULO 20 No momento em que Ivan e Ruby finalmente chegaram à casa de Nikolai e Vivian, eu tinha praticamente aberto um buraco no piso de madeira por andar ansiosamente de um lado para o outro. Boychenko havia me tirado da proteção de Eric e não me deixou sair de sua vista desde que cheguei em casa. Ele tentou me distrair, mas eu não conseguia me concentrar em nada. Assim que os vi caminhando pela calçada, saí apressadamente da casa, Boychenko logo atrás, e corri para encontrá-los. Alcancei Ruby primeiro e agarrei-a em um abraço cheio de medo. Eu a examinei, observando o nariz quebrado e a mão inchada. Ela estava protegendo seu braço direito, provavelmente de um ferimento sofrido durante seu sequestro, e suas roupas eram diferentes. —Estou bem. —Ruby me assegurou. —Sério. —Ela gesticulou para seu rosto. —Parece pior do que é. Eu a abracei novamente. —Eu estava com tanto medo. —Sinto muito. —Não se desculpe. —Eu a apertei com força. —Estou feliz que você voltou. —Só por causa de Ivan. —Ela disse, dando um passo para trás para nos dar algum espaço. Seu olhar terno pousou em mim, e ele colocou sua mão grande e quente sobre meu rosto. Eu me aninhei em seu toque e o deixei me puxar para seus braços. Como Ruby, ele cheirava a um sabonete barato e estranho e tinha vestido roupas diferentes. Decidi que era melhor não perguntar por quê. Não agora, pelo menos.


—Podemos ir para casa? —Eu perguntei, desesperada para me sentir segura em minha própria casa, com meu marido e minha irmã por perto. Atrás de nós, Boychenko disse: —Levo seu carro para casa amanhã, Erin. Virei-me para agradecê-lo e vi que ele estava com a minha bolsa e o casaco nas mãos. —Você é um amor. —Eu disse a ele, ficando na ponta dos pés para lhe dar um beijo rápido na bochecha. —Obrigada. Ele desviou o olhar e pigarreou. —De nada. A mão de Ivan pousou na parte inferior das minhas costas. Ele acenou com a cabeça para Boychenko e nos conduziu até seu SUV estacionado. Voltamos para casa em silêncio, nenhum de nós pronto para falar sobre o que havia acontecido hoje. Ivan segurou minha mão, mantendo-nos conectados, e olhou para mim de vez em quando para sorrir. No banco de trás, Ruby parecia estranhamente serena. Algo havia acontecido enquanto eles estavam fora, algo que a ajudou a encontrar um pouco de paz. Quando finalmente chegamos em casa, entramos logo, todos os três completamente sem energia depois de nosso longo e difícil dia. Ruby me abraçou mais uma vez e apertou o braço de Ivan antes de nos dar boa noite e subir as escadas para seu quarto. Sozinha na cozinha com meu marido, olhei fixamente para ele, tentando decidir o que perguntar primeiro. Decidi começar com a pergunta mais segura possível. —O que Mueller queria em troca de Ruby? Foi por isso que ele a levou, não é? Para obter vantagem sobre você? —Ele pensa que é um maldito gênio. —Ivan rosnou. —Ele acha que nos enganou, trocando Ruby pela propriedade, mas ele nem sequer sabia que Teague estava morto. —Eu não acho que Teague foi descansar silenciosamente. — Coloquei minha mão no peito de Ivan e apreciei a dureza de seus


músculos sob meus dedos. —Acho que ele colocou algo em movimento que Mueller não será capaz de impedir. —Bom. —Ivan baixou a cabeça e procurou minha boca. Eu relaxei em seu abraço e em seu beijo, segurando sua camisa com as duas mãos e me recusando a deixá-lo ir. Ele deve ter percebido que eu ainda estava chateada por ele ter saído da academia daquele jeito. Ele encostou sua testa na minha. —Desculpe ter corrido como um covarde. —Oh, Ivan. —Eu disse apressadamente e o beijei novamente. —Sinto muito por você ter descoberto assim. — Lágrimas arderam em meus olhos e tentei contê-las, mas imaginar sua dor naquele momento me partiu meu coração. —Eu sinto muito. —Por favor, não chore. —Ele implorou, sua voz rouca. —Por favor, Erin. —Ele disse asperamente. —Eu não aguento quando você chora. —Sinto muito. Estou simplesmente sobrecarregada. —Não, está tudo bem. Eu sou um idiota. Você pode chorar. Você pode até me bater se isso te fizer sentir melhor. —Ele estremeceu e então implorou fracamente: —Por favor, não me deixe. —O quê? —Eu recuei em choque. Seu rosto tinha uma expressão de dor tão profunda que me doía ver. —Ivan! —Eu segurei seu rosto e o forcei a olhar para mim. —Eu não vou a lugar nenhum. —Eu entendo se você... Eu o beijei, interrompendo qualquer coisa terrível que ele estivesse prestes a dizer. —Eu não vou. —Eu o beijei novamente. — Ir. —Outro beijo. —A qualquer lugar. —Outro beijo. —Sem você. —Mas você quer um bebê... —Sim, eu quero, e teremos um algum dia. —Prometi a ele. — Talvez não da maneira tradicional. Talvez não um bebê que cresça na


minha barriga. Mas seremos pais. Teremos uma família. Juntos. — Acariciei seu rosto e rezei para que ele entendesse o quão profundamente eu o amava. —Ivan, você é mais importante para mim do que qualquer coisa neste mundo. Você. Assim como você é. —Eu te amo muito, Erin. —Ele disse em uma onda de emoção. —Nunca pensei que pudesse me sentir assim. Nunca pensei que pudesse ser tão feliz. —Ele bateu sua boca na minha, suas mãos se enredando no meu cabelo enquanto ele perdia o controle para a paixão. —Tudo que eu sempre quis foi te fazer feliz. Dar a você tudo que você deseja na vida. —E você faz. —Assegurei a ele. —Você faz, Ivan. —Virei meu rosto e beijei a palma de sua mão. —Você é tudo que eu preciso para ser feliz. Só você. Nós compartilhamos um beijo profundo e amoroso. Foi um momento que eu lembraria para o resto da minha vida. Apenas nós dois, em nossa cozinha, fazendo a promessa de nos amarmos, não importa o que aconteça. Foi um momento de ternura que me encheu de muita esperança para o nosso futuro. Não ia ser fácil. Provavelmente haveria mais lágrimas e tristeza, mas eu não tinha medo de lágrimas ou tristeza. Enquanto estivéssemos juntos, poderíamos enfrentar qualquer coisa.


CAPÍTULO 21 Nove semanas depois —Afaste-se. —Ivan pediu enquanto ele se arrastava de nosso banheiro principal de volta para a cama. Ele estava ligeiramente curvado na cintura e fez uma careta de desconforto quando finalmente chegou à cama e teve que subir nela. —Eu disse que esta cama era muito alta. Ele revirou os olhos para mim. —Sim. Sim. Sim. —Você precisa de ajuda para se sentir confortável? Posso mover alguns travesseiros para você. —Não! Fique bem aí. Plana com as pernas para cima, lembra? Então fui eu quem revirou os olhos. —Dra. T disse para fazer isso por quinze minutos após o procedimento! Não por um dia inteiro! —Eu não quero arriscar. —Ivan respondeu e então apontou para a frente de seu short. —Estou fora de serviço por pelo menos um mês. Se isso não funcionar, você terá que esperar até que eu esteja de volta à forma. Naquela manhã, segurei a mão de Ivan antes de ele ser levado para a cirurgia. Seu especialista havia diagnosticado uma varicocele grave e suspeitava fortemente que a cirurgia melhoraria a saúde e o número de seus espermatozoides. Ivan concordou imediatamente com o procedimento e ambos esperávamos que tivesse um efeito positivo. Depois que ele teve alta de seu procedimento ambulatorial, sentou-se ao meu lado e segurou minha mão quando fizemos nossa


primeira inseminação artificial. Ele tinha fornecido amostras na clínica nos últimos dez dias para obter o suficiente de seus nadadores para um procedimento de inseminação. Foi um processo complicado de coleta, separação e escolha do espermatozoide mais forte para injetar diretamente no meu útero. Eu havia feito um ciclo de drogas injetáveis para preparar meu corpo para o bebê. Eles me fizeram uma bagunça hormonal, mas valeu a pena por ter uma chance melhor de conceber. —Tudo bem. —Ruby anunciou ao entrar no quarto com uma cesta. —Eu tenho uma bolsa de gelo, três bolas de sorvete de morango, um carregador de telefone, um Gatorade e uma Cherry Coke. Esqueci alguma coisa? —Não! —De bom grado, peguei a tigela de sorvete e o refrigerante. Ivan pegou as outras coisas e se acomodou, levantando o lençol e colocando cuidadosamente a bolsa de gelo nas suas joias de família. —Obrigado. Ruby fez uma careta. —Sim, vou limpar minha mente agora. Se vocês dois precisarem de mais alguma coisa não relacionada às bolas inchadas dele, me mande uma mensagem. Ivan fez um som gutural de irritação. —Espero que ela se lembre disso da próxima vez que precisar de ajuda. —Tenho certeza de que ela está fazendo tudo o que pode para nunca se lembrar de ter visto você colocando um saco de gelo em seu... —Sim. —Ele me interrompeu com uma carranca. —Entendi. Decidindo que não era bom provocá-lo, inclinei-me e beijei sua bochecha. —Eu te amo. Ele pigarreou e soltou um suspiro ruidoso. —Eu também te amo, mesmo que você esteja gostando um pouco demais da minha situação.


—Olha, se isso funcionar. —Gesticulei para minha barriga. — Estarei em um mundo de dores daqui a nove meses, quando o seu bebê de cabeça gigante nascer. Ele pareceu considerar isso. —Ok. Isso é justo, eu acho. —Acho que sim. —Eu esfreguei seu braço. —Sei que toda essa experiência tem sido difícil. Ir às consultas na clínica, deixar aquele médico acariciar você com as mãos frias e enrugadas e optar por fazer essa cirurgia hoje. Sei que não foi fácil e sei que você está sofrendo. —Vale a pena. —Ele me assegurou. —Eu faria tudo de novo. —Bem, esperamos que você não precise passar por isso novamente. —Voltei meu olhar para a televisão, onde o noticiário noturno estava começando. As últimas semanas tinham sido de uma cobertura completa da corrupção, o aumento do nacionalismo branco na cidade e a rede de tráfico sexual operando dentro da prisão. Cinco guardas foram presos e indiciados pelo assassinato de Maria del Carmen Riojas. Kavanaugh, que havia sido despejado em frente a um pronto-socorro com vários ossos quebrados e duas mãos gravemente fraturadas, estava na prisão aguardando julgamento por seus ataques a minha irmã e uma dezena de outras ex-prisioneiras que se apresentaram. —Ele fez uma coisa boa, sabe? —Ivan gesticulou para a televisão. —Teague. —Ele esclareceu, como se eu não soubesse. Eu levantei uma sobrancelha para isso, me perguntando quantos analgésicos ele havia tomado. Antes que eu pudesse perguntar, ele disse: —Você acha que ele sabia? Que enviar a você aquela caixa de arquivos e discos rígidos levaria a isso? Na manhã seguinte à provação de Ruby e ao suicídio de Teague, nós três estávamos tomando café da manhã quando a campainha tocou. Eu esperava encontrar a polícia ou o detetive Santos para fazer perguntas, mas era apenas uma caixa endereçada a mim pelo Teague. Ele a tinha enviado pelo correio na manhã em que


se suicidou. Havia apenas um pequeno bilhete de duas palavras dele lá dentro. Sinto muito. Seu pedido de desculpas fez mais sentido quando percebi que ele tinha sido o distribuidor dos filmes feitos dentro da prisão. Era ele quem recebia os pedidos e administrava todo o dinheiro da operação, dinheiro esse que voltou para o grupo de ódio que Mueller controlava. Não havia ligações diretas com Mueller, é claro. Ele era inteligente demais para isso e usava empresas de fachada e atravessadores, mas havia pontos suficientes para serem ligados que deixavam bem claro que ele estava envolvido. Não demorou muito para Ruby e eu decidirmos o que fazer com todas as informações lá dentro. Entramos em contato com Lena, que nos deu os nomes de jornalistas e influenciadores da área social em quem confiava para lidar com a história corretamente. Ruby insistiu em fazer cópias para enviar aos jornalistas e influenciadores. Colocamos os originais e nosso próprio conjunto de documentos em dois cofres diferentes, apenas por precaução. Não demorou muito para a primeira história ser publicada. Assim que chegou aos jornais e à internet, o inferno começou. Houve protestos, demissões em massa e vergonha pública diferente de tudo que eu já tinha visto. Mueller perdeu o direito de desenvolver a área ao longo da expansão proposta para a I-45. Yuri e um grupo de desenvolvedores e empreiteiros locais de Houston que ele escolheu a dedo montaram uma oferta relâmpago que garantiu o direito ao projeto. Nosso terreno estava amarrado no negócio por causa do acordo de Ivan com Mueller, mas trabalhar com Yuri era uma situação muito mais aceitável e altamente lucrativa. —Acho que Teague esperava que sim. —Respondi finalmente. —Acho que ele confiou em mim para fazer a coisa certa.


—Como você sempre faz. —Ivan disse, levantando minha mão para beijar as costas dela. Seu olhar voltou para a televisão. — Podemos assistir a outra coisa? —O que você gosta? —Algo não tão sério. —Ele disse, estremecendo enquanto se mexia. Um pensamento pareceu atingi-lo porque ele sorriu. —A Bela e a Fera! Vamos assistir isso. —O quê? Por quê? Ele bocejou e mexeu os dedos dos pés, confirmando ainda mais minha suspeita de que ele estava chapado com os analgésicos. — Ruby disse que eu como ovos como um dos caras do filme. Eu comecei a rir. —Meu Deus! É verdade! Você é o Gaston! —Bem, vamos ver. —Ele gesticulou para a televisão. —OK. —Encontrei o filme em nosso aplicativo Disney + e cliquei em reproduzir. Quando começou, aninhei-me mais perto de Ivan e comi meu sorvete. Quando terminei, coloquei minha cabeça em seu peito. Ele começou a pentear meus cabelos com os dedos da maneira mais suave. Havia algo muito maravilhoso nesses momentos felizes e tranquilos do casamento. Não que aqueles momentos de silêncio alguma vez tenham durado muito nesta casa. —Blyad. (Vadia) —Ele exclamou enquanto Le Fou e Gaston cantavam sobre luta livre e mordidas e dançavam pela taverna. —Eu sou o fodido Gaston. Dominada pelas risadas, enterrei meu rosto contra seu braço forte e musculoso. Ele podia ter os modos agressivos e a dieta exagerada de Gaston, mas seu grande e amoroso coração era todo como a Fera. E era tudo meu.

FIM


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