Livro 'Minotauro, do Teatro para a Vida'

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Núcleo de Mídia e Conhecimento

1.a edição

Curitiba 2019


Gabriela Barbosa do Vale Aluna da Turma 2.o B

APRESENTA

PATROCÍNIO

PATROCÍNIO

PATROCÍNIOPATROCÍNIO

APOIO

APOIO

APOIO

APOIO

REALIZAÇÃO

REALIZAÇÃO REALIZAÇÃO

REALIZAÇÃO

Agradecimentos especiais ao patrocinador e aos apoiadores.



expediente Coordenação e produção editorial Núcleo de Mídia e Conhecimento

Edição e curadoria Fábio André Chedid Silvestre

Assistente de edição e curadoria Fernanda Cheffer Moreira

Capa e projeto gráfico GÜS Strategic Design

Textos Associação Ricardo Gadotti Feldmann Danielle Dalavechia Fábio André Chedid Silvestre Fernanda Cheffer Moreira

Revisão João Batista Ribeiro

Fotografias Associação Ricardo Gadotti Feldmann Fábio André Chedid Silvestre Fernanda Cheffer Moreira GK Produções Culturais Luiz Gustavo Schmoekel

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) N964s

Núcleo de Mídia e Conhecimento (Org.) Minotauro, do teatro para a vida. Curitiba: Núcleo de Mídia e Conhecimento, 2019.

Realização

120 p.

Associação Ricardo Gadotti Feldmann GK Produções Culturais Núcleo de Mídia e Conhecimento

ISBN: 978-85-69126-07-2 1. Teatro. 2. Formação de plateia. 3. Minotauro.


sumário PARTE 1

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Projeto Minotauro – do Teatro para a Vida Arigaf – Renascer em Outros Corações Mito do Minotauro O Teatro – A Vida nos Palcos

PARTE 2

54 Metodologia do Projeto – Aprender Fazendo 58 Fazendo Amigos – Grupo de Teatro 76 O Caminho – Elenco 102 Produzindo Arte – A Estreia da Companhia Teatral


apresentação QUANDO ENTRAMOS PELA PRIMEIRA VEZ NOS PORTÕES DA ARIGAF E DESCEMOS A LONGA ALAMEDA ATÉ CHEGAR AO ESTACIONAMENTO, PERCORREU-NOS UM RASTILHO DE DÚVIDA! Conseguiríamos construir a empatia necessária para desenvolver um projeto cultural tão audacioso? Levar jovens alunos inexperientes a tornarem-se um grupo teatral capaz de se apresentar em diversos palcos e estrear em alguns meses, com meta de formação de plateia? Logo teríamos uma bela surpresa e dúvidas não mais persistiriam. Na entrada da secretaria, entre sorrisos de boas-vindas, uma imagem impactou a cena. O quadro na parede ao fundo, uma composição de pintura e colagem, marcaria toda a nossa trajetória de projeto. Um rosto de menino, com olhar meigo e um tanto distante, estilizado e integrado à partitura e letra da canção Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin. Era a fusão do estado da arte que nos serviria de guia e inspiração, o espírito iluminado que representava a mentora daquela escola, Carmen Dolores Gadotti Feldmann. A Associação Ricardo Gadotti Feldmann (Arigaf) nasceu há vinte anos, mobilizada por uma perda familiar convertida em um ganho para a sociedade. É hoje uma bela instituição educacional de contraturno, com objetivos de ampliar o repertório de aprendizado, cultural, cívico e moral de alunos da rede pública de ensino, selecionados por suas aptidões pessoais e a intenção de evoluir. Nesta medida, o corpo docente é tão envolvido e motivado quanto sua líder, voltados para uma pedagogia eficiente e humana. Descobrimos isto desde o momento em que visitamos a biblioteca para primeira reunião de estratégias, onde o respeito ao plano de aulas e a grade curricular foram a linha mestra para a operação cultural que se pretendia. O mito do Minotauro foi absorvido como fio condutor de uma série de interações: desde a sala de aula até o desenvolvimento da peça teatral, passando por uma profunda catarse dos alunos, conduzidos pelos professores das disciplinas padrão até a preciosa direção do brilhante diretor (professor) de teatro Mauro Zanatta, da Escola do Ator Cômico.


Enquanto as ações de produção teatral foram se desenrolando, as interações digitais também tiveram espaço nas redes sociais e na TV Minotauro, um outro ponto de referência para expressar a dinâmica do projeto. Contudo a revelação do potencial dos jovens é sempre uma vitória, uma energia que motiva os adultos a perseverarem em suas tarefas exigentes. Do primeiro ao último momento, cada participante da trupe deu aula de superação, pessoal e coletiva. O Minotauro revelou os monstros que habitam nas entranhas do medo juvenil, mas que também lhes é a manifestação da força vital que, levada aos palcos, fez um teatro autêntico, da criação à representação, uma obra de conjunto. Do Teatro para a Vida! Os Curadores


prefácio SER CIDADÃO DE FATO IMPLICA CUMPRIR COM SEUS DEVERES E FAZER VALER SEUS DIREITOS, VISANDO O BEM COMUM INDIVIDUAL E COLETIVO. Não basta, entretanto, só enxergar os problemas da sociedade que atingem o bem-estar de outros cidadãos e nada fazer ou delegar aos outros a sua parte. É preciso que cada um assuma o que lhe cabe, ou seja, a sua tarefa. Aqui, cabe perfeitamente a frase do filósofo e sociólogo Gustave Le Bon, pintada em letras grandes e vistosas no muro da Arigaf, para ser vista e refletida:

“As vontades fracas traduzem-se em discursos; as vontades fortes, em ações!” O que eu posso fazer para me tornar uma cidadã de fato, em ações? Qual é o meu papel diante dos desafios e necessidades que minha comunidade tem? Tenho observado ao meu redor, como alguém participativo, ou julgado somente as coisas que não estão corretas? Estes foram e ainda são questionamentos que faço a mim mesma.

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Como perguntas e repostas não solucionam problemas, resolvi, portanto, agir guiada pela minha vontade, pela intuição e pelo meu coração, pois, quando se deseja fazer o bem, não há por que se explicar. Fazer o bem é uma motivação interna, irresistível. Foi deste sonho de viver num mundo melhor que nasceu o projeto Arigaf. Acredito que é possível modificar vidas, sem partir de um sonho utópico de transformação do mundo, mas fazendo “a diferença” na vida de alguns adolescentes, propiciando a eles a chance de um futuro melhor, assumindo um compromisso público como agente transformadora de parte da sociedade, resgatando a cidadania destes jovens que participam do programa Arigaf. Mas por que encarar o desafio de um projeto teatral com nossos alunos? Mais um questionamento, outra profunda reflexão e mais uma ação. Se a arte imita a vida, e a vida imita a arte, entendo que a influência do teatro tem valor inestimável, moldando o mundo em que vivemos. Estava ao nosso alcance o uso de mais uma ferramenta social poderosíssima, a qual nos faz refletir sobre nosso comportamento sem nos darmos conta. Encaramos o desafio e demos vida, com muito carinho, dedicação e profissionalismo ao projeto Minotauro, do Teatro para a Vida. Este projeto é então mais uma materialização destas vontades fortes, agora também protagonizada pelos alunos que participam da Arigaf. Foram eles que traduziram seus medos e suas vontades em ações inseridas na simbólica linguagem teatral e transformaram suas vidas e as de outros jovens expressando seus temores e criando, para si e para outros, uma oportunidade para compreender melhor seus conflitos e ressignificá-los. Por fim, esta é uma oportunidade para incentivar outras entidades, escolas, comunidades a investir também na criação de um espetáculo cultural, pois os benefícios são maiores que as dificuldades, as habilidades cênicas serão importantes no futuro de cada um e a experiência de enfrentar ensaios, muitas resenhas, as alegrias e frustrações na construção da peça, para enfim estrearem, tudo isso constitui uma experiência que nunca será esquecida e, melhor, marcará de uma maneira profunda e positiva cada um dos envolvidos, os atores no palco, nós nos bastidores e o público na plateia. Carmen Dolores Gadotti Feldmann Diretora-Presidente da Arigaf

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PROJETO MINOTAURO

do Teatro para a Vida

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Acreditar nas Pessoas O desafio posto ao produtor cultural Carlos Guilherme Klopffleisch decorreu de sua jornada no segmento de marketing cultural, onde já havia desenvolvido diversas formas de produtos culturais e para múltiplas finalidades e organizações. Em certo momento o Ministério da Cultura apresentou a formação de plateia como um grande objetivo para justificar o investimento de recursos de incentivo cultural, e um desafio foi lançado entre diversos agentes promotores. Seria possível construir um projeto que desenvolvesse concomitantemente os indivíduos que agissem na cena do produto cultural e o público com quem eventualmente fossem interagir, tudo deduzido desde o “estado da arte”? Certo de que seria possível, convocou dois profissionais para colaborarem em frentes diferentes. O primeiro, responsável pela estruturação multimídia do projeto operacional, Fábio Chedid, do Núcleo de Mídia e Conhecimento. O segundo, Mauro Zanatta, da Escola do Ator Cômico, responsável pelo desenvolvimento teatral pleno. Nesta medida um projeto de teatro na escola foi a solução deduzida, e não seria por outros motivos que os de natureza essencial, posto que: “Não deixa de espantar o fato de o teatro permanecer tão vivo como nos seus inícios, afirmando sua vocação de atuar no espaço público, mobilizando afetos e ensinamentos, deslocando-se da ética à política, investindo desejos e utopias. Parece que a sua versatilidade para configurar os estados e modos de vida não cessa de produzir efeitos, mesmo quando, como hoje, outros dispositivos parecem lançar este modo de representação, ou de apresentação, dos movimentos humanos ao ostracismo, quando não na obsolescência. Falamos das, assim chamadas, novas tecnologias de produção e difusão de imagens, ideias e comportamentos, que, ao acenarem para uma mutação do humano, parecem indiciar que alguma coisa como o teatro e também a literatura estariam superados, por serem inatuais. E, no entanto muito vivos, literatura e teatro continuam agindo culturalmente, motivando reiteradas experiências, artísticas e educativas.” DESGRANGES, Flávio. A Pedagogia do Espectador. São Paulo: HUCITEC, 2003.

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É que, além do teatro profissional de grupos e de equipamentos especializados, o grupo de profissionais reunidos já vinha trabalhando com a utilização do teatro como ferramenta ativa de motivação e mobilização de comunidades identitárias, com projetos culturais que carregam também outras linguagens interativas. Este tipo de ação tem funcionado com o teatro de rua e também com o histórico. Porém, outra vertente fundamental tem sido um tanto negligenciada na cena teatral brasileira (pelas possibilidades que contém), notadamente aquela que envolve a qualificação pedagógica de grupos específicos e, aqui, nos referimos a dois deles: o estudante e a plateia. Para o estudante, as possibilidades de inserção do teatro na escola, a saber, curricular ou extracurricular, tem seu assento na Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da arte em toda a educação básica, inclusive no currículo do nível médio, podendo organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de língua estrangeira, artes ou outros componentes curriculares (art. 24, IV). Para a plateia, a pedagogia do espectador reativa e decodifica as estratégias, já clássicas, do teatro épico em seus usos educativos, através de uma ação crítica e criativa contemporânea, com vista a certas experiências inovadoras, através de atividades educativas em torno dos espetáculos. O objetivo é a formação de espectadores atuantes, visando, ao final, como resultante, uma intervenção reflexiva nos modos de estar e atuar culturais dos participantes dessas experiências. Esta posição estética leva ao destaque do diálogo na construção da cena e ao dialógico na relação de participação do espectador com um espetáculo que lhe é exterior, mas passa a fazer parte de seu universo. Assim, pelo que se passa na escola brasileira, seja devido aos problemas de formação específica dos professores que nelas trabalham com teatro ou seja porque as condições institucionais não permitem experiências no tempo escolar e expandidas na vida social dos jovens, há um grande lapso na implantação destas práticas educacionais, nas quais a arte é referencial e não apenas circunstância. Por este conjunto de elementos que relacionam o teatro com a escola, notadamente a formação do estudante e da plateia, é indispensável compreender as possibilidades estéticas e educativas que se apresentam na teatralidade contemporânea. Tal posição pauta a discussão sobre os conceitos e as teorias de arte e educação, inclusive o processo de criação teatral como fundamento de questões estéticas, éticas e políticas que justificam a prática artística e o seu ensino, em face das plateias que se pretendem parte do público.

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Ana Maria Resende Aluna da Turma 2.o B

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“Portanto, a pedagogia do teatro e os processos de criação estão intrinsecamente ligados aos verbos fruir, realizar e criticar, e estes compõem os principais parâmetros e diretrizes educacionais que indicam os procedimentos e os objetivos do teatro na educação, pois trata-se de uma linguagem que está relacionada com a ideia de agir, uma arte de ação, do movimento, da efervescência de ideias e da intervenção crítica na sociedade.” (Pedagogia do teatro: processos de criação e a experiência estética. Abimaelson Santos Pereira. VI Congresso de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas).

Foi nesta medida que, interpretando o art. 57 da IN 01/2017, projetou-se a possibilidade do teatro como ferramenta pedagógica escolar e essencialmente de formação de plateias, e não apenas como um produto secundário ou incidental obrigatório, considerando: “Formação de plateia: ações presenciais e gratuitas destinadas a alunos de instituições de ensino de qualquer nível que visem a conscientização para a importância da arte e da cultura, por intermédio do produto do projeto cultural.”

Neste ponto seria necessário encontrar o agente catalizador convergente, na qual as ideias de projeto e a práxis do teatro pudessem ganhar foros de realidade, a escola. A busca selecionou em Curitiba uma entidade de ensino, com ênfase no contraturno e que possuía as características adequadas à implementação do projeto, estabelecendo parceria que atendeu aos objetivos comuns, pois contava com as características adequadas para a empreitada: a) Era sociedade civil sem fins lucrativos, de assistência sócio-educacional e cultural a menores carentes e/ou de baixa renda; b) Oferecia perspectiva do universo socioambiental, político, artístico e cultural; c) Promovia o aprimoramento da língua portuguesa e outra estrangeira; d) Promovia um senso cultural e artístico para desenvolvimento da sensibilidade e criatividade através de aulas de artes, literatura e música; e) Desenvolvia uma visão dos direitos e deveres na sociedade reconhecendo um cidadão consciente, criativo e produtivo; f) Oferecia a perspectiva de integração com as novas tecnologias; g) Possuia uma rede de relacionamento com outras escolas para difusão do projeto especialmente na formação de plateia.

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Contudo, mais adiante, outro desafio deveria ser vencido. O texto da peça, a ser aprimorado em conjunto (curador, instituição educacional-cultural parceira, diretor artístico), deveria conter base sinóptica para estabelecer o empoderamento do estudante, assim: a) Minotauro Mito Grego – fundamento na literatura clássica. b) Valores: • Respeito à palavra emprenhada; • Beleza das coisas criadas pelos “deuses” – natureza; • Tentativa de intervir na natureza – cria “monstros”; • Labirinto como desafio invencível – metáfora com a dimensão da vida adulta; • Teseu e a superação (amadurecimento) – o compromisso, a criatividade e a coragem do jovem; • Saída do labirinto que prende e confunde/Encontro com o amor/Libertação de antigos conceitos. c) Linguagens: • Teatro como ambiente; • Artes, literatura, filosofia, ciências, línguas e música como multilinguagens de apoio; • Cidadania como objetivo para que a arte se relacione ao “outro”. O objetivo final seria mobilizar outros jovens, além daqueles envolvidos com a produção teatral, gerando um espelho de experiências que podem ser apreendidas por outros estudantes, que se tornam o público alvo da mensagem. Ao final ficou claro que o projeto pode colaborar para o desenvolvimento de um senso crítico construtivo acerca da cultura e das artes, como ambiente para o desenvolvimento pleno da cidadania, através da experimentação criativa-participativa e da tarefa de levar aos demais estudantes a valorização da plateia como parte integrante do processo de desenvolvimento pessoal e coletivo. Mas tudo foi possível somente depois de construídos os laços de confiança e credibilidade com o parceiro ideal, a entidade educacional parceira, a Arigaf – Associação Ricardo Gadotti Feldmann e seus maravilhosos profissionais e alunos.

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ARIGAF

Renascer em Outros Corações

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A Associação Ricardo Gadotti Feldmann é fruto de um sonho altruísta de sua diretora, Carmen Dolores Gadotti Feldmann, que sempre acreditou na educação como ferramenta de revolução humana e social. Em uma sociedade que limita o acesso à educação de qualidade para muitos, ela acreditou – e ainda acredita – no poder do ensino como meio de subverter o status quo, transformando a vida de uma pessoa de cada vez. Assim, Carmen arregaçou as mangas e em 1999 começou a pesquisar e planejar a fundação de uma instituição educacional, voltada ao apoio e à complementação da educação formal durante o contraturno escolar de alunos do ensino público. Para concretizar esse sonho, a empresária reuniu um time de

MISSÃO “Ministrar aulas de

profissionais da educação, psicologia, filosofia e administração para elaborar uma linha de abordagem educacional totalmente inovadora e interdisciplinar. Assim, em 2001, a trajetória de ensino da Arigaf começou com 46 alunos, divididos nos períodos

Informática, Inglês, Literatura

matutino e vespertino. A sede, desde então, é no bairro São Lourenço, em Curitiba, local cedido pela

e cultura geral, propiciando

fundadora. A instituição conta com uma ampla área verde, que permite o contato dos alunos com a natureza

o acesso do aluno ao

e a realização de atividades didáticas ao ar livre. Na área construída, encontram-se salas de aula, biblioteca,

conhecimento, visando

refeitório, sala de música, galeria de artes visuais, laboratório de informática, piscina coberta e aquecida,

formar cidadãos respeitáveis,

dois vestiários (masculino e feminino) e os espaços dedicados a coordenação pedagógica, professores,

conscientes de seus direitos

recepção de visitantes, administração e manutenção.

e deveres, contribuindo assim

Focado em proporcionar o máximo de aproveitamento, o programa de contraturno escolar da Arigaf

para sua conquista de um

não pretende ser apenas um complemento à educação formal. Com uma visão amplificada e dinâmica de

lugar no futuro mercado de

ensino, a instituição busca desenvolver o potencial humano, social, criativo, produtivo, pessoal e cognitivo

trabalho e de uma chance de

dos seus alunos, com disciplinas e práticas que possibilitam a formação cidadã, intelectual, ética e moral.

modificar seu destino.”

Um dos maiores desafios do contraturno escolar é fugir do lugar-comum e não se contentar em oferecer meramente o complemento ao ensino regular. A Arigaf é feliz nesse ponto, pois apresenta um quadro de disciplinas equilibrado e inovador, que difere de outras propostas de contraturno, permitindo aos alunos a produção do conhecimento e não apenas a reprodução. Os alunos edificam, participam, refletem, produzem, argumentam. Uma experiência completa, capaz de contribuir para a elevação do pensamento crítico e formação cidadã.

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Proposta Pedagógica Depois de alguns anos de caminhada pedagógica, a equipe Arigaf sentiu a necessidade de formalizar aquilo que era vivido no dia a dia, fruto de uma sintonia natural entre um grupo que compartilhava os valores da instituição. Era chegado o momento de ter em seus arquivos o registro dessa vivência, para quando ocorresse troca de professores ou de outros colaboradores ou para quando houvesse uma apresentação da Arigaf para seus parceiros. No início de 2008 houve um primeiro movimento entre corpo docente, coordenação e diretoria para a elaboração do projeto político-pedagógico da instituição. Naquela oportunidade, foi iniciado um estudo das tendências pedagógicas, em busca de uma linha próxima à identidade da Arigaf. Algumas delas causaram interesse (as progressistas críticas), nas quais era possível encontrar ressonância com as práticas da instituição, enquanto outras foram rejeitadas total ou parcialmente (as crítico-reprodutivistas), embora também nestas houvesse pontualmente reflexos de algumas práticas da escola. As teorias crítico-reprodutivistas levam em conta as condicionantes sociais que influenciam a educação e percebem a íntima relação entre escola e sociedade. Entretanto, como afirma Saviani (2002, p. 16), “postulam não ser possível compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociais”. Por isso suas análises sempre chegam à conclusão de que a função da educação consiste na reprodução da sociedade em que ela se insere. Dessa maneira, tais teorias trazem dentro de si mesmas a impossibilidade de promover qualquer transformação social, possuindo, portanto, um caráter marginalizador e segregador. Segundo Saviani (2002), são três as manifestações das teorias crítico-reprodutivistas: “a teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica”, “a teoria da escola enquanto aparelho ideológico de estado” e “a teoria da escola dualista”. A primeira – enquanto violência simbólica – manifesta-se como uma indústria cultural que tem a função de formar opinião nos grupos dominados, empregando para isso os meios de comunicação de massa, como jornais, televisão, rádio, instituições

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religiosas, entre outros. Desse modo, a escola reproduz a cultura dominante, contribuindo para reproduzir a estrutura das relações de força, numa formação social em que o sistema de ensino dominante tende a assegurar o caráter da violência simbólica legítima da camada dominante. “Portanto, a teoria não deixa margem a dúvidas. A função da educação é a reprodução das desigualdades sociais. Pela reprodução cultural, ela contribui especificamente para a reprodução social.” (SAVIANI, 2002, p. 20).

Na teoria da escola enquanto aparelho ideológico de estado são reproduzidas as relações capitalistas. O marginalizado é a camada trabalhadora, e a escola – enquanto aparelho ideológico do estado – constitui um mecanismo construído pela burguesia para garantir e perpetuar seus interesses. A camada trabalhadora é sufocada pelo poder estatal, que se limita a cumprir o seu papel através de normas e leis vindas do grupo dominante. Na teoria da escola dualista, o papel da escola é basicamente reforçar e legitimar a marginalidade que é produzida socialmente. A escola assume a missão de impedir o desenvolvimento da ideologia do proletariado e a luta revolucionária, tornando-se um instrumento da burguesia na luta ideológica contra o proletariado. Para Saviani, na verdade, estas teorias não contêm uma proposta pedagógica. Elas se empenham tão somente em mostrar o mecanismo de funcionamento da escola tal como está constituída. Na questão da marginalidade, ele aponta o seguinte resultado: “Enquanto as teorias não críticas pretendem ingenuamente resolver a questão da marginalidade através da escola, mesmo não conseguindo êxito, as teorias críticoreprodutivistas mostram a razão do suposto fracasso.” (SAVIANI, 2002, p. 29-30) Entretanto, para a superação dessas teorias, Saviani indaga se é possível uma teoria da educação que capte criticamente a escola como instrumento capaz de contribuir para a superação da questão da marginalidade. Após leituras, análises e conversas entre a equipe, A Arigaf optou pela tendência histórico-crítica proposta por Saviani, que está dentro da teoria crítica pertencente à pedagogia progressista.

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[...] trata-se de retomar vigorosamente a luta contra a seletividade, a discriminação e o rebaixamento de ensino das camadas populares. Lutar contra a marginalidade através da escola significa engajar-se no esforço para garantir aos trabalhadores um ensino da melhor qualidade possível nas condições históricas atuais. O papel de uma teoria crítica da educação é dar substância concreta a essa bandeira de luta de modo a evitar que ela seja apropriada e articulada com os interesses dominantes. (SAVIANI, 2002, p. 31).

Essa pedagogia é tributária da concepção dialética, especificamente na versão do materialismo A Arigaf foi fundamental na minha vida para uma mudança de perspectiva. A Arigaf não só ensina diversos conteúdos específicos que capacitam e te fazem entregar um trabalho melhor no futuro, como também é uma experiência pessoal e social, que me ensinou os valores que hoje carrego como pessoa e profissional e, também, a me preocupar com uma visão de comunidade, com a visão do que pode ser bom para mim e para os outros.”

histórico, tendo fortes afinidades, no que se refere às suas bases psicológicas, com a psicologia histórico-

Gabriel A. C. dos Santos Advogado

tendência pedagógica, por melhor retratar o dia a dia e também pela identificação ideológica, a Arigaf

cultural desenvolvida pela “Escola de Vigotski”. Esta visão de educação, com relação aos conhecimentos produzidos pela humanidade, “considera a difusão de conteúdos, vivos e atualizados, uma das tarefas primordiais do processo educativo em geral e da escola em particular” (SAVIANI, 1984, p. 68). O acesso a estes conteúdos culturais, que são históricos e cujo caráter revolucionário está vinculado à sua historicidade, é justamente o caminho para se atingir uma igualdade real em termos sociais. Em outros termos, isso significa que a educação é entendida como mediação no seio da prática social global. A prática social coloca-se, portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada da prática educativa. Daí decorre um método pedagógico no qual professor e aluno se encontram igualmente inseridos, ocupando, porém, posições distintas, condição para que travem uma relação fecunda na compreensão e no encaminhamento da solução dos problemas postos pela prática social, cabendo aos momentos intermediários do método identificar as questões suscitadas pela prática social (problematização), dispor os instrumentos teóricos e práticos para a sua compreensão e solução (instrumentação) e viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos alunos (catarse). Após a escolha desta chegou a um impasse entre como fazer o projeto político-pedagógico e como levar a cabo tal tarefa. Concomitantemente ao estudo de um planejamento para elaboração do projeto político-pedagógico, três alunas do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná, Cândida Bittencourt, Vanessa Iplinski e Yoshiko Sakamoto, deram início, no dia 19 de março de 2008, ao estágio na Arigaf, em cumprimento à disciplina Prática Pedagógica C: Estágio em Docência, orientado pela Professora Sandra Guimarães Sagatio.

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Por cursarem Pedagogia, as alunas participaram de diversos bate-papos sobre o processo de construção de Projeto Político-Pedagógico da Arigaf. No dia 30 de setembro de 2008, elas convidaram a coordenadora pedagógica da Arigaf, Ariana Bordinhão, para participar de uma aula da disciplina Concepções e Métodos do Trabalho Pedagógico A, com a professora Martha Christina Ferreira Zimermann Bueno de Morais, em que se tratou da elaboração de projetos político-pedagógicos em escolas regulares. Após contato com a professora, foi apresentado à diretora da Arigaf, Carmen Dolores, uma proposta de trabalho para a elaboração do projeto político-pedagógico sob a orientação da professora Martha. Carmen aprovou o projeto e o grupo deu início aos encontros, estudos e trabalhos. A primeira reunião ocorreu no dia 6 de abril de 2009, na sede da Arigaf. O professor de Literatura João Batista Ribeiro foi escolhido como relator e foram apresentados, pela professora Martha, alguns modelos de questionários, que foram adaptados segundo a realidade da Arigaf, destinados aos diferentes grupos que compõem a comunidade da escola: pais e alunos, professores e quadro administrativo. Este primeiro passo foi para determinar onde estava a Associação e discutir para onde ela deveria ir.

PREMIAÇÕES 2005 (29 de Março) O título de Consagração Pública Municipal é conferido pela Câmara Municipal de Curitiba em razão da atuação e qualidade de ensino da Arigaf. 2005 (11 de Abril) A Câmara Municipal de Curitiba confere o título de UTILIDADE PÚBLICA MUNICIPAL à Arigaf. 2007 (29 de Junho) A Assembleia Legislativa do Paraná confere o título de UTILIDADE PÚBLICA ESTADUAL à Arigaf. 2011 Arigaf recebe o Prêmio Ecologia da Câmara de Vereadores de Curitiba. 2016 Arigaf é selecionada para o Projeto Legado.

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Um dos ensinamentos da Arigaf que eu levo para minha vida é ser persistente. Eu sou muito orgulhosa de ter participado desse processo, de ter estudado, me formado e me tornado uma profissional capacitada e eu tenho consciência que isso só aconteceu porque eu vim para a Arigaf. É espetacular como a Arigaf transforma as pessoas em cidadãos responsáveis e conscientes.” Gabriela C. T. Meister Designer de interiores

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O segundo encontro foi entre os membros da Arigaf e ocorreu no dia 24 de abril de 2010, quando foram apresentadas as pesquisas respondidas pelos diferentes grupos. Nesta reunião foram analisadas as respostas dadas e foi possível constatar que se conciliavam as expectativas da comunidade com os objetivos estipulados na missão da instituição. Esta pesquisa, da qual participaram os diferentes atores da escola, permitiu o alcance de uma visão mais precisa dos sujeitos envolvidos no contexto escolar. Há pelo menos quatro pontos de vista a serem considerados para se compreender a realidade da instituição, são eles que compõem a comunidade: os alunos, seus pais ou responsáveis, os professores e os empregados. Do ponto de vista do primeiro grupo, a Arigaf é um lugar onde eles gostam de ficar, pois sugeriram em pesquisa que fosse aumentada a carga horária, seja no tempo de duração da formação, seja na quantidade de horas-aulas durante a semana. Temos aí uma das primeiras características a apontar na identidade desta instituição: ser um lugar agradável, ser um lugar bom de estar. Na pesquisa feita com os pais, a percepção mais recorrente sobre a Arigaf foi que ela proporciona uma formação para além da ofertada pela escola regular, uma formação


com a qual estes pais sempre sonharam para seus filhos, mas que, por limitações econômicas, jamais puderam oferecer-lhes. Esta é, portanto, a segunda característica da identidade da Arigaf. Com relação ao corpo docente, uma outra marca desta instituição que se pôde observar na pesquisa feita é haver entre os professores uma identificação muito grande, seja pedagógica ou ideológica, seja política ou filosófica ou até mesmo artística. Além disso, os professores também apontaram que este projeto representa um sonho de educação, sendo de certa forma uma escola em que sempre sonharam trabalhar. E, do ponto de vista da equipe administrativa, os adjetivos que se destacaram são responsabilidade e profissionalismo. Então, de maneira abrangente e subjetiva, pode-se dizer que a Associação Ricardo Gadotti Feldmann é uma escola dos sonhos, onde se trabalha com profissionalismo e responsabilidade.

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Processo Seletivo e Currículo Escolar Para participar da Arigaf, os alunos devem estar matriculados no 6.o ano do Ensino Fundamental e passar por um processo seletivo que considera a renda familiar de até um salário mínimo per capita, o rendimento escolar igual ou acima da média em todas as disciplinas e o desempenho obtido em uma prova de conhecimentos gerais. Ao todo, o processo seletivo é realizado em três etapas. Primeiro ocorre uma seleção prévia com base na situação escolar, realidade socioeconômica familiar e documentação apresentada. Depois, os inscritos realizam um teste de conhecimentos gerais, que considera os conteúdos da grade curricular do ensino formal, sendo Português, Matemática, História, Geografia, Ciências e Inglês. Por último, os alunos aprovados no teste e suas respectivas famílias participam de uma entrevista psicopedagógica. Ao ingressar na Arigaf, os selecionados recebem todo o apoio necessário, desde o atendimento pedagógico até o material escolar, didático, uniformes e alimentação. Em contrapartida, o aluno precisa se comprometer em aproveitar ao máximo esta oportunidade e frequentar de forma ativa a Arigaf, pois cada turma que começa é única e o período completo de atendimento compreende três anos.

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Nesse período, são desenvolvidas abordagens que dialogam com o conteúdo da educação formal, mas que também proporcionam a expansão dos horizontes, além da experiência em aulas que, na maioria das vezes, este aluno não frequentaria fora da Arigaf. É o caso das aulas de Música, que proporcionam um aprofundamento em flauta, teclado e violão, bem como o entendimento de figuras rítmicas, cifras, composições, sonoridades. Nas aulas de Artes Visuais, os alunos realizam uma imersão na história da arte, com um aprofundamento em gêneros e períodos artísticos, o que não faz parte da grade curricular do ensino formal. Eles também participam de aulas práticas, nas quais aprendem técnicas de desenho, gravura, modelagem com argila, pintura com lápis de cor e materiais naturais, mosaico, desenho de figura humana e pintura em tela. Como atividade física da grade curricular da Arigaf, os alunos participam de aulas de Natação, um esporte especial com benefícios que vão além do condicionamento físico, como o tratamento e prevenção de doenças respiratórias, cardíacas e até psiquiátricas. Nas aulas, são ensinadas diversas modalidades de nado, técnicas cardiorrespiratórias e até mesmo de sobrevivência. Estão presentes no programa pedagógico as matérias de Literatura e Filosofia. Aliadas ao objetivo de ensino da Arigaf, ambas buscam um mergulho profundo em obras e teorias que contribuem para o desenvolvimento de um pensamento e análise críticos da sociedade, do comportamento humano e da história. As aulas de Filosofia apresentam as escolas filosóficas e propõem a leitura de obras clássicas, assim como o debate filosófico de temas políticos, sociais e morais. Já em Literatura, os alunos também são apresentados a diversos gêneros literários, coesão e coerência textual, técnicas de contação de história e redação. É um dos objetivos da disciplina, assim como de Filosofia, desenvolver uma leitura crítica, capaz de auxiliar os alunos no momento do vestibular.

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Sem a Arigaf, talvez, eu não tivesse o estímulo para buscar conhecimento, crescer, enfrentar coisas maiores. Eu acredito que esse é um dos principais fatores da Arigaf: tirar esse medo de buscar o conhecimento. Reconhecer essas oportunidades e tentar fazer isso pelas outras pessoas é um dos valores que eu carrego comigo e o que me fez voltar para ajudar na Arigaf.” Lucas Fabbris Médico Voluntário na Arigaf

Desde o primeiro ano, os alunos participam de aulas de Educação Financeira, com a introdução a conceitos financeiros, econômicos e comerciais. A disciplina visa equipá-los com conhecimentos que permitam o controle acerca das próprias finanças, por meio do entendimento de planejamentos financeiros, sustentabilidade econômica, conceitos de poupança, taxas, juros, orçamento, bolsa de valores, inflação, aplicações, valorização de moedas e outros. Ainda na disciplina de Educação Financeira são introduzidos conceitos do mundo empresarial, como consumidor, comportamentos de consumo, técnicas e marketing de venda, economia criativa e colaborativa, cooperativas de crédito, administração e empreendedorismo. Por fim, no último ano de Arigaf, os alunos desenvolvem um planejamento financeiro, no qual devem simular a abertura de uma empresa, gerenciamento, orçamento, plano de ação, produtos e/ou serviços e controle do negócio. Em aulas da disciplina de Informática, os alunos são apresentados aos conceitos de hardware e software, sistemas operacionais (Windows e Linux), armazenamento em nuvem, provedores gratuitos, aprendem a realizar configurações, formatar planilhas, criar apresentações multimídia e desenvolver projetos de design gráfico. Ao fim do curso, no terceiro ano, os conhecimentos desenvolvidos são aplicados para a elaboração de documentos, planilhas e peças gráficas para a empresa fictícia, criada nas aulas de Educação Financeira. O trabalho realizado no último ano, em sinergia entre as disci­plinas de Educação Financeira e Informática, é apresentado formalmente para uma banca, que avalia a aplicabilidade da proposta, formato da apresentação, originalidade, realidade financeira e outros. O objetivo da realização do projeto é verificar a capacidade dos alunos de replicar os conceitos aprendidos e prepará-los para apresentações nesse formato, tão constantes na vida adulta. O estudo da Língua Inglesa na Arigaf é considerado também um saber importante para o exercício pleno da cidadania, pois o aluno vive em um mundo globalizado e precisa ter acesso às informações necessárias para usar uma língua que não é dele. Ensinar e aprender línguas é também ensinar e aprender percepções de mundo e maneiras de atribuir sentidos, é formar subjetividades, é permitir que se reconheça no uso da língua os diferentes propósitos comunicativos,

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independentemente do grau de proficiência atingido. O ensino da Língua Inglesa relaciona-se com a cultura e para tanto nos utilizamos de um aprendizado envolvendo situações significativas e relevantes, nas quais os alunos se deparam com realidades cotidianas. Trata-se da inclusão social do estudante numa sociedade complexamente diversa no que diz respeito a valores socioeconômicos, culturais e identitários. Para contribuir com a cooperação entre as disciplinas e a atuação social, os alunos participam ainda de aulas de Cidadania. No primeiro ano, a matéria apresenta conceitos de práticas, deveres, direitos, relações e comportamentos humanos, leis e política no Brasil. A partir do segundo ano, conceitos mais ligados à conscientização são abordados, como questões ambientais, de consumo, desenvolvimento, sustentabilidade, origem de produtos e indústria cultural. No terceiro e último ano, a disciplina foca nas questões humanas, como infância, adolescência, gênero, sexualidade, identidade, estereótipos, tribos urbanas e relacionamentos interpessoais. Por meio da somatória das disciplinas e sinergia entre elas, a Arigaf busca aparamentar seus alunos com saberes, práticas e valores que, na maioria das vezes, só seriam obtidos através de uma educação privilegiada. Com esse aporte, os jovens abandonam qualquer ideia conformista e são capazes de escolher onde e como desejam atuar e contribuir com a sociedade.

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Léa Gascoin Aluna da Turma 2.o B

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NA VIDA COTIDIANA, AS PESSOAS AFIRMAM, NEGAM, DESEJAM, ACEITAM OU RECUSAM COISAS, PESSOAS E SITUAÇÕES.

Geovana de Araújo Pereira Aluna da Turma 2.o B

Perguntas são feitas: “que horas são?” ou “que dia é hoje?”. Avaliam-se coisas e seres humanos, dizendo, por exemplo, “esta casa é mais bonita do que a outra” e “Maria está mais jovem do que Glorinha”. Numa disputa, quando os ânimos estão exaltados, um dos contendores pode gritar ao outro: “Mentiroso! Eu estava lá e não foi isso o que aconteceu”, e alguém, querendo acalmar a briga, pode dizer: “Vamos ser objetivos, cada um diga o que viu e vamos nos entender”. Quando alguém pergunta “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, a expectativa é a de que alguém, tendo um relógio ou um calendário, entregue a resposta exata. Em que alguém acredita quando faz a pergunta e aceita a resposta? Acredita que o tempo existe, que ele passa, que pode ser medido em horas e dias, que o que já passou é diferente de agora e o que virá também há de ser diferente deste momento, que o passado pode ser lembrado ou esquecido; e o futuro, desejado ou temido. Assim, uma simples pergunta contém, silenciosamente, várias crenças não questionadas.

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E, se, alguém, tomando uma decisão muito estranha, começasse a fazer perguntas inesperadas. Ao invés de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: o que é o sonho? A loucura? A razão? Em vez de gritar “mentiroso!”, questionasse: o que é a verdade? O que é o falso? O que é o erro? O que é a mentira? Quando existe verdade e por quê? Quando existe ilusão e por quê? Se, ao invés de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que é o amor? O que é o desejo? O que são os Abner Carvalho Aluno da Turma 2.o B

sentimentos? Se, em lugar de discorrer tranquilamente sobre “maior” e “menor” ou “claro” e “escuro”, resolvesse investigar: O que é a quantidade? O que é a qualidade? E se, ao invés de afirmar que gosta de alguém porque possui as mesmas ideias, os mesmos gostos, as mesmas preferências e os mesmos valores, preferisse analisar: O que é um valor? O que é um valor moral? O que é um valor artístico? O que é a moral? O que é a vontade? O que é a liberdade? Alguém que tomasse essa decisão, estaria tomando distância da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam silenciosamente a existência. Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que crê, no que crê, por que sente o que sente e o que são as crenças e os sentimentos. Na ânsia de compreender estas e outras perguntas, o ser humano formulou inúmeras perspectivas pelas quais procurou interpretar e fundamentar suas respostas sobre o mundo. O mito é uma “primeira fala sobre o mundo”, uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre a qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel, e cuja função principal não é explicar a realidade, mas sim acomodar e tranquilizar o ser humano frente ao mundo assustador. Ele nasce do desejo de entender o mundo e da necessidade de segurança diante do medo das forças naturais que são assustadoras. A partir da consciência mítica surge a consciência filosófica. No interior dos mitos está o trabalho da filosofia, que, percebendo suas contradições e limitações, foi reformulando essas narrativas míticas, transformando-as numa nova versão à luz da razão. Vale lembrar que a filosofia, a princípio, utilizou-se dos mitos para somente depois romper com eles lentamente.

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Marcelino Gabriel Carvalho dos Santos Aluno da Turma 2.o B


Assim, uma resposta à pergunta “como surge a filosofia?” poderia ser: surge com a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos da existência cotidiana; jamais aceitar sem antes haver investigado e compreendido. Então, a filosofia surge com a finalidade de não dar aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações. É importante esse entendimento para não ser enganado pelo preconceito que diz que a mitologia é sem importância.

Maria Clara Rielli Aluna da Turma 2.o A

Afinal, foi o desenvolvimento do mito a base fundamental para dar origem ao conhecimento filosófico, a mãe de todas as ciências. Assim, a mitologia possui uma certa razão, principalmente a grega. O primeiro filósofo, Tales de Mileto, idealizador do Princípio Universal, no século VI a.C., procurou construir uma cosmologia – explicação racional e sistemática das características do universo. Ele queria, com base na razão, descobrir o princípio substancial existente em todos os seres materiais, isto é, encontrar a matériaprima de que são feitas todas as coisas. Este princípio era encontrado na physis, ou seja, na natureza. Por isso, para Tales de Mileto o princípio natural que deu origem a todas as coisas é a água. Neste contexto, o Logos (a razão) se desprende do mito para fluir como amor à sabedoria (Filosofia). O mito do Minotauro especificamente teria surgido à época em que Creta era a principal potência política e cultural do mar Egeu. Ali desenvolveu-se, a partir de 2600 a.C., a civilização minoica – nome derivado de Minos, o mítico rei de Creta. Entre 2000 e 1450 a.C., a civilização minoica viveu seu período de maior prosperidade, dominando cidades gregas continentais de quem cobrava tributos.

Construindo o Mito Então, agora, imagine como se estive com seus olhos fechados. Respire fundo e pense que, ao inspirar, nariz e boca são inundados pelo cheiro de mofo, água úmida e, pior ainda, o que é inconfundivelmente cheiro de sangue. Você está no labirinto. A luz em seus corredores vertiginosos é turva, quase inexistente, e a combinação de medo e escuridão dificulta a sua movimentação – mas você tropeça e se leventa de

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qualquer maneira, o mais rápido possível, sua respiração aguda e dolorida na garganta, porque em algum lugar na escuridão atrás de você, há passos... pesados. Você está sendo caçado. Minos, o poderoso rei de Creta, orou a Poseidon, pedindo que o deus do mar lhe enviasse um touro branco. A criatura era para ser um sinal do apoio do deus e aprovação do governo de Minos, e era dever do rei sacrificar o animal em nome de Poseidon, a fim de mostrar sua gratidão pelo endosso divino. O touro, no entanto, era incrivelmente bonito – tão bonito que Minos decidiu mantê-lo. Ele sacrificou um touro diferente, esperando que Poseidon não percebesse a diferença. Certamente, o deus não poderia ser tão facilmente enganado. Para puni-lo, Poseidon fez com que a esposa de Minos, Pasífae, se apaixonasse pelo touro. Encantada pelo animal, a mulher pediu que Dédalo, um mestre inventor, construísse uma espécie de vaca de madeira oca na qual pudesse se esconder. Pasífae colocou essa vaca falsa no pasto onde o touro pastaria, e o animal, enganado pelo disfarce, montou na engenhoca de madeira – com Pasífae dentro dela. Alguns meses depois, ela deu à luz o Minotauro: um filho meio humano e meio touro – e cuja única fonte de alimento parecia ser carne humana. Minos, enfurecido e um pouco envergonhado por toda a situação, Leonidas Gonçalves Rodrigues Aluno da Turma 2.o B

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decidiu aprisionar a criatura para sempre. Ele fez Dédalo construir um labirinto – tão grande e confuso do qual era praticamente impossível escapar – e abandonou o Minotauro em suas profundezas.


Anos mais tarde, o filho legítimo de Minos, Andrógino, foi morto pelos jovens de Atenas, que estavam com ciúmes de sua brilhante atuação no Festival Panathenaico (uma espécie de pré Jogos Olímpicos). Creta e Atenas entraram em guerra. Creta emergiu vitoriosa (o mito se passa durante um período da história em que Atenas ainda era um pequeno conglomerado desorganizado de cidades e Creta era bem organizada e com uma impressionante marinha). Vitorioso, mas ainda não satisfeito, Minos forçou Atenas a lhe enviar uma homenagem a cada nove anos de sete moças virgens e sete rapazes virgens – os quais seriam sacrificados ao Minotauro. Quando chega o momento da terceira “prestação de contas", Teseu, que já era reconhecido por grandes atos de heroísmo, convenceu seu pai, Egeu, rei lendário de Atenas, para ser um dos jovens enviados como sacrifício. Quando o navio chegou a Creta, os jovens e donzelas desfilaram diante do rei Minos, sua esposa Pasífae e sua filha Ariadne. Influenciada por Afrodite, Ariadne se apaixonou pelo herói e decidiu ajudálo, dando-lhe uma espada e uma bola de barbante. Em troca ela esperava que Teseu a levasse com ele a Atenas e se casasse com ela. Teseu entrou no labirinto, prendeu a corda na entrada e a desenrolou enquanto caminhava pelos corredores. Ele matou o Minotauro com a espada e depois usou a corda para escapar do local. Teseu levou Ariadne consigo, como prometido. No entanto, ele a deixou em Naxos, ao invés de levá-la até Atenas. Em sua partida de Atenas, Teseu havia prometido ao pai substituir as velas pretas do navio por velas brancas, se sua missão tivesse sucesso, mas acabou esquecendo de fazer isso. Quando seu pai, Egeu, viu o navio retornando com velas pretas, perdeu toda a esperança e se suicidou pulando no mar. Esse mar foi doravante conhecido como o mar Egeu.

Vinicius Reis Cordeiro Aluno da Turma 2.o B

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Heloise Kretzchemer dos Santos Aluna da Turma 2.o A

Desconstruindo o Mito Mas o que acontece quando você desconstrói o mito? Rastrear a lenda de volta às suas origens certamente vale a pena, no mínimo para que possamos ter uma melhor visão do clima cultural da época. A primeira coisa importante a ter em mente é que o mito do Minotauro é inteiramente ateniense. Em algum nível, então, o mito pode ter sido uma maneira de os cidadãos atenienses processarem seus sentimentos em relação aos minoicos em Creta (seria algo como: “bem, eles podem ter sido mais poderosos que nós, mas sua rainha teve um filho com um touro e eles fizeram coisas terríveis, como alimentar um monstro com pessoas”). Isso é apoiado pelo fato de o rei Minos, em outros mitos e fontes, ser famoso por sua sabedoria, julgamento perspicaz e uma regra que levou ao florescimento da cultura em Creta. Isso contrasta bastante com os mitos atenienses, que pintaram Minos como um ditador aterrorizante enquanto cantavam louvores a heróis atenienses (como Teseu). Os atenienses poderiam ter inventado qualquer boato para difamar os minoicos. No entanto, por que eles pensaram em um monstro-touro, que se alimentava de carne humana, vivendo em um labirinto, especificamente?

Os Cretenses Objetos produzidos por artesãos cretenses foram encontrados no Egito, em Chipre, na costa fenícia (Biblos e Ugarit), na Grécia, nas costas da Ásia Menor (atual Turquia). Foi a primeira civilização do Mediterrâneo a se lançar às atividades marítimas (os fenícios foram seus sucessores). Comercializavam vinhos, azeite e cerâmica produzidos na ilha e objetos de metais. Foram pioneiros na metalurgia do bronze e produziam joias e armas de luxo incrustadas com pérolas e pedras raras que eram vendidas no Mediterrâneo Oriental. Possuíam um sistema de pesos e medidas composto por lingotes e discos de cobre. Os cretenses construíram estradas pavimentadas que cruzavam a ilha de ponta a ponta. Suas moradias possuíam canalização para distribuição de água e coleta de esgoto.

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O fim da civilização minoica foi violento. Entre os anos 1450 e 1400 a.C., a ilha sofreu a invasão dos dórios, povo guerreiro da Grécia continental. Eles destruíram os palácios e submeteram a população minoica, impondo-se como seus governantes. Pouco depois, ocorreu uma violenta erupção vulcânica na ilha de Tera (atual Santorini), próxima a Creta. O terremoto e o maremoto que se seguiram atingiram Creta com tamanha força que as construções foram ao chão e seus barcos e o próprio porto foram para o fundo do mar. A escrita minoica permanece indecifrada. As fontes escritas para se conhecer a civilização minoica são indiretas, sendo a maioria delas relatos deixados pelos antigos gregos, entre os quais, o mito do Minotauro. O nome de Minos ainda é um mistério. Desconhece-se se era o nome de um governante, de uma dinastia de Cnossos ou um termo minoico para designar rei. De qualquer forma, Minotauro significa “o touro de Minos”, uma alusão à dominação exercida pelo governante de Cnossos, para quem os povos dominados Alessandra Lopes Ribeiro Pinto Aluna da Turma 2.o B

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deviam pagar pesados tributos. Nesse sentido, a decisão de Teseu de eliminar o Minotauro é uma oposição à dominação exercida por Minos sobre os atenienses.


Gabriel Boron Raksa Aluno da Turma 2.o B

O Labirinto do Minotauro As escavações realizadas em Creta durante 30 anos por Arthur Evans (18511941)

revelaram

muitas

evidências

que remetem ao mito do Minotauro. O gigantesco Palácio de Cnossos, com seu intrincado desenho arquitetônico não tinha corredores, cada cômodo era conectado por pequenas passagens e milhares de salas, o que resultava em uma estrutura labiríntica bastante escura. Para os gregos do continente (como os atenienses), esse estilo de arquitetura teria parecido mais do que bizarro – provavelmente teria sido ameaçador. Não é difícil acreditar que isso possa ter inspirado o mito de um labirinto sombrio e semelhante a uma masmorra em Creta. O símbolo sagrado minoico, um machado de dois gumes que decorava as colunas e as paredes do palácio, era chamado de labyrs, palavra que identificava o palácio de Cnossos como o “palácio do labyrs” o que acabou por associá-lo a “labirinto”. Outra referência ao mito são as numerosas pinturas e esculturas de touros e touradas encontradas nas escavações. O touro era considerado um animal sagrado e a tauromaquia ou taurokathapsia (“jogo do touro”) representada nos afrescos devia fazer parte de uma festividade religiosa. Este jogo, uma espécie de tourada sem que o animal fosse morto, consistia em perigosas acrobacias feitas por homens e mulheres. Os participantes deviam agarrar-se nos chifres do touro, dar um impulso e saltar sobre as costas do animal, caindo de pé atrás dele.

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O labirinto é, essencialmente, um entrecruzamento de caminhos que constituem impasses, dificuldades que retardam a chegada do viajante ao centro que deseja atingir. Seu desenho era conhecido no Egito Antigo, estava representado no oráculo de Cumas, nos petroglifos de Nazca e nas lajes das catedrais góticas simbolizando o caminho percorrido pelo eleito, aquele que é digno de chegar ao centro, isto é, à revelação misteriosa. Uma vez atingido o centro, o eleito está consagrado e introduzido nos mistérios aos quais fica ligado pelo segredo. O labirinto é, também, o símbolo da autorreflexão: concentrar-se em si mesmo, não se Henrique Lopes Haas Aluno da Turma 2.o A

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deixar desviar por outras escolhas ou ideias (caminhos) para atingir o centro. O labirinto conduz o homem ao interior de si mesmo onde reside um tesouro: a essência de sua humanidade.


Touro de Cnossos Então, por que o touro? Tradicionalmente, nas sociedades antigas, o touro era frequentemente visto como um símbolo sagrado de poder, força e virilidade masculina. Consequentemente, a adoração de touros parece ter sido um aspecto central da vida religiosa em Cnossos. Numerados entre os artefatos encontrados durante as escavações do local estão vários touros, chifres de touros e afrescos representando touros. Como foi dito anteriormente, também é possível que os minoicos participassem de um esporte perigoso chamado taurokathapsia, algo como “salto em touros”. Em teoria, os jovens corajosos (ou estúpidos) o suficiente para participar desse esporte dariam um salto em corrida em um touro atacante, agarrando seus chifres e usando o movimento instintivo da cabeça do touro para se impulsionar a um salto acrobático nas costas do touro. Um famoso afresco na parede do palácio em Cnossos parece apoiar essa teoria, mas também pode representar uma variedade de coisas diferentes, e simplesmente não há evidências suficientes para provar que o esporte foi realizado dessa maneira ou mesmo se realmente existiu. O que está claro é que os touros eram importantes para os minoicos e que esta civilização tinha um relacionamento

Jean Vitor Brun Ruzza Aluno da Turma 2.o B

interessante, sagrado e quase pessoal com o animal. Esse amor por touros poderia ter sido transportado para o boato ateniense e poderia ser considerado uma fonte para a ideia da luxúria incomum de Pasífae e a ideia do próprio Minotauro. A noção de que jovens homens e mulheres foram sacrificados ao Minotauro também poderia ter surgido de uma prática cultural factual em Creta. Escavações nos anos 80 em vilarejos nos arredores de Cnossos levaram à descoberta de sepulturas em massa cheias de ossos – que eram, de fato, de crianças. Marcas nos ossos indicam não apenas que as crianças sofreram uma morte violenta, mas também que foram massacradas da mesma maneira que alguém mataria um cordeiro. Todas as evidências parecem apontar para o sacrifício humano ritual.

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Ariadne e a Sociedade Matriarcal O fio de Ariadne, por sua vez, é o fio dourado que conduz Teseu para chegar ao seu destino e depois sair da escuridão e retornar à luz. Metáfora da sabedoria, da luz interior, da intuição, do autoconhecimento ou do amor (foi por amor que Ariadne ajudou Teseu), o simbolismo do fio de Ariadne inspirou poetas, escritores e filósofos em todas as épocas. Na filosofia, a linha de Ariadne é a denominação de um método de resolução de problemas que permite seguir vestígios e ordenar a pesquisa para atingir um ponto de vista final desejado. Quanto à Ariadne, trata-se de uma representação do mundo matriarcal. Na sociedade cretense, a mulher ocupava uma posição de relevo e gozava de uma liberdade desconhecida em outras culturas da época. As pinturas mostram mulheres fora de casa, em praça pública, no teatro, na arena de acrobacias. As divindades mais representadas são femininas, cabendo às sacerdotisas o principal papel nas cerimônias. Segundo Arthur Evans, tratava-se de uma sociedade matriarcal – hipótese aceita por outros especialistas. Teseu, por sua vez, é um herói representante do mundo patriarcal e da “pólis”. Em sua mitologia, ele é tido como aquele que reuniu poderosos “genos” em uma só “pólis”, promulgou leis, fundou a Boulé e adotou o uso da moeda. Ele é o herói fundador da sociedade masculina e patriarcal grega que exclui a mulher da cidadania. Teseu e Ariadne representariam dois mundos inconciliáveis àquela altura. O abandono de Ariadne em Naxos seria, assim, a explicação mítica do fim da sociedade matriarcal.

Emma Gascoin Aluna da Turma 2.o B

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A Realidade do Mito Considerando todos esses aspectos da vida em Cnossos, não é difícil acreditar que os atenienses, que estiveram firmemente sob o polegar de Creta, teriam pegado o pouco de informação que possuíam, misturado com boatos e inflado até que, em sua tradição de contar histórias, Creta havia se tornado um lugar de irreverência para os deuses, bestialidade, sacrifício humano, labirintos horríveis e monstros. Para os atenienses, que valorizavam a razão acima de quase qualquer outra coisa, era uma maneira de provar a si mesmos que, apesar de suas origens humildes, sua razão e civilidade não podiam fazer nada além de triunfar sobre o animalismo e a grosseria percebidos de Creta. A razão é sempre a arma mais poderosa. O próprio mito nos dá pistas que levam a essa conclusão. Enquanto o Minotauro é a besta, o instinto animal e a paixão que vivem no fundo do labirinto da mente de todas as pessoas, Teseu é a razão, poderosa o suficiente para subjugar aquelas qualidades bestiais remanescentes.

Milena Mendes Repinoski Aluna da Turma 2.o B

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Analice Santos Silva Aluna da Turma 2.o A

O labirinto, em particular, continua sendo um motivo popular em histórias de terror e suspense psicológico. Há algo na ideia de ficar preso em um labirinto, todo senso de direção perdido, o que desencadeia um medo instintivo em nós. Acrescenta-se um monstro sedento de sangue e obtém-se um pesadelo. A bola de barbante que Teseu usa para conquistar o labirinto (amarrando-o à porta e depois seguindo-o para sair novamente) representa uma resposta lindamente simples para um problema aparentemente intransponível. Eis o mito Teseu e o Minotauro. Um mito cheio de razão. E a razão, então, sempre vencerá. É a arma mais poderosa que se tem contra o monstro que está enterrado em algum lugar profundo dentro de todos os seres humanos.

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Então, imagine-se novamente com os olhos fechados.

Você está no labirinto. Você está sendo caçado. Você está pronto? A disputa de labirintos é travada entre dois reis. E como diz o Minotauro a Teseu: “Olha, só há um meio para matar os monstros: aceitá-los”. Para a construção, desconstrução e nova construção, o desafio Minotauro foi lançado: é instigante lançar ideias e ver quais leituras diversas são possíveis de serem realizadas do mito à luz das questões que atormentam o homem.

REFERÊNCIAS CORNFORD, F. M. Principium Sapientiae: As Origens do Pensamento Filosófico Grego. Tradução de Maria Manuela Rocheta dos Santos. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. Enciclopédia Moderna. Minotauro. Encyclopaedia Britannica. 2011. Minotaur. Greek Mitology. Encyclopaedia Britannica. Atualizado em 2019.

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O TEATRO

A Vida nos Palcos

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Surgimento Acredita-se que o teatro tenha surgido em várias sociedades antigas, como forma de expressão religiosa. Antes mesmo do seu aparecimento na Grécia, onde ganhou destaque, já havia registros de representações teatrais no Egito, a fim de exaltar as divindades Osíris e Ísis. O termo teatro, designado para identificar o gênero artístico e também o local onde ocorrem espetáculos, provém do grego “theatron”. A palavra deriva do verbo “ver” (thaomai) e do substantivo “vista” (thea), que indica um panorama. Foi em território grego, a partir do século VI a.C., que o teatro se tornou uma expressão cultural relevante. Lá, o teatro era uma parte importante do festival anual dedicado ao deus Dionísio, durante a colheita da uva, onde também eram realizados recitais, procissões e rituais sagrados. A representação teatral nos festivais dionisíacos era realizada por meio de um coro, que cantava, dançava e apresentava algumas cenas de Dionísio, sempre em uníssono. Neste período, e por muito tempo ainda, apenas homens participavam das produções teatrais.

CORO CÊNICO Na Grécia antiga, o coro cênico era formado por diversos atores que, coletivamente e de forma homogênea, representavam uma cena dramática, falavam e cantavam sempre em uníssono.

Conta-se que em uma destas procissões do festival, conhecidas como Ditirambos, o jovem Téspis, então diretor do coro da procissão de Atenas, inovou ao vestir uma máscara ornamentada com cachos de uva, subir em um tablado e declarar ser Dionísio, em resposta ao coro. A partir de então, os diálogos foram incorporados e Téspis foi considerado o primeiro ator grego. As produções teatrais dos festivais eram financiadas pela elite de cada região e os autores eram reconhecidos e premiados. O prestígio fomentou a produção de textos teatrais, divididos em tragédia e comédia, dando origem aos grandes autores gregos e a produções que são encenadas até os dias atuais, como o Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, Édipo Rei, de Sófocles, As Troianas, de Eurípedes, e Lisístrata, de Aristófanes. Apenas uma parcela das produções teatrais gregas da antiguidade sobreviveu integralmente ao passar dos séculos. Dos textos remanescentes do período, é possível constatar a profundidade do pensamento sobre o homem, suas aflições e medos. As produções tinham ainda uma função de educação social, para promover valores democráticos, respeito e civilidade.

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Os autores eram responsáveis por todo o espetáculo, desde a fase de pré-produção. Muitos deles dirigiam, atuavam, faziam a cenografia e a coreografia. Em Atenas, por exemplo, as peças eram encenadas em teatros circulares, com a elevação da plateia. Com a consequente profissionalização do gênero, a estrutura dos teatros foi sendo modificada e surgiu o palco elevado. A partir de 146 a.C., com o advento do Império Romano, o teatro entrou em declínio. Os espetáculos populares de prestígio passaram para as arenas, com embates entre gladiadores, animais e esquetes circenses, com finais trágicos e sanguinários. Plauto e Terêncio, anteriores a este período, são autores romanos de destaque, que gravaram seus nomes na história da arte teatral. Na Idade Média, período de predominância do Cristianismo, a Igreja classificou o teatro como uma expressão profana, causando a sua quase extinção. Coincidentemente, o teatro ressurgiu justamente como ferramenta religiosa, quando, a partir do século XI, a igreja o resgatou para representar cenas bíblicas, como a ressurreição de Cristo, divulgando assim seus dogmas e valores.

Teatro Renascentista A busca por valores clássicos, propagada pelo Renascimento a partir do século XIV, atingiu não apenas a pintura, a escultura, a música, a arquitetura, mas também os formatos teatrais. O resgate do classicismo grego fez ressurgir o prestígio do teatro e trouxe novamente o homem para o centro das produções, distanciando-se do modelo teatral praticado, até então, pelo cristianismo. O teatro renascentista, ou teatro erudito, tinha uma linguagem refinada, era acadêmico e apresentava poucas inovações em relação ao que foi feito na antiguidade grega. Era uma arte, essencialmente, destinada para as elites. Foi então que se passou a cobrar o ingresso para os espetáculos teatrais, prática inexistente até então. Na Itália, berço do movimento renascentista, surgiu no século XV a Commedia dell’Arte, também conhecida como comédia italiana. Foi uma vertente de oposição ao formato do teatro renascentista que estava sendo realizado até então. Popular, distanciava-se da erudição e era itinerante, levando o teatro para todas as partes e classes sociais.

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De criação coletiva, a Commedia dell’Arte possuía personagens fixos, como o Arlequim, e muitas vezes os atores improvisavam os textos durante as apresentações. É desse período o texto Mandrágora, de Maquiavel, considerada uma das melhores comédias italianas do período. Foi também na comédia italiana que, pela primeira vez, as mulheres foram aceitas nos palcos e essa democratização atingiu, aos poucos, os países vizinhos. Incentivado pela Rainha Elizabeth I (1558-1603), que gostava particularmente do teatro popular, o formato se expandiu na Inglaterra por meio dos grupos teatrais mambembes itinerantes. Chamado de teatro elisabetano, as trupes teatrais da época fixavam-se nas cortes reais e domínios de nobres senhores, sendo uma das atrações locais e opção de entretenimento local. De caráter amador, a maioria dos atores exercia também outras profissões. O crescente apreço da nobreza pelo teatro levou à sua profissionalização. Nas cortes inglesas e espanholas, havia diretores e atores financiados diretamente pelo poder público, como foi o caso de William Shakespeare (1564-1616). A ascensão levou à construção de teatros e à estruturação de novos formatos de palco, como o palco elisabetano, que contava com três níveis, possibilitando a apresentação simultânea de várias cenas. Shakespeare foi o maior nome do período e é considerado um dos maiores dramaturgos da história, com produções de tragédias e comédias que exploram os dramas humanos com lirismo e sagacidade. Ele produziu dezenas de peças que são referência até hoje, como Hamlet, Otelo, Sonho de uma Noite de Verão, Romeu e Julieta, A Megera Domada e Péricles.

Teatro no Brasil Inicialmente, o teatro foi introduzido no Brasil pelos padres Jesuítas, a partir do século XVI, como ferramenta didática destinada à educação religiosa, moral e civil para os indígenas, especialmente para a catequização. Os principais autores do período foram os padres José de Anchieta e Antônio Vieira. Os textos teatrais da época apresentavam grande carga dramática e os espetáculos contavam com efeitos cênicos, destinados a enfatizar as lições religiosas representadas e torná-las o mais simples possível de compreender, já que, muitas vezes, era necessário transpor barreiras linguísticas.

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Com o declínio do teatro jesuítico a partir do século XVII, as manifestações teatrais passaram a ser utilizadas como elementos das comemorações cívicas e religiosas. Foi um período de escassa produção nacional, no qual as produções realizadas apresentavam pouca originalidade, importando conceitos e textos do teatro espanhol. Ainda com forte influência europeia, dessa vez do teatro francês e italiano, no século XVIII o teatro tornou-se uma arte regular, com o estabelecimento das primeiras casas de espetáculos e a formação de companhias teatrais estáveis. Deste período, destaca-se o autor Antônio José (1705-1739), também conhecido como O Judeu, que contribuiu para a formalização do teatro brasileiro. Com o Romantismo, a partir de 1838, o teatro brasileiro ganhou forças e pluralidade, por meio de textos originais e de cunho nacionalista. São dessa época os textos dramáticos de Gonçalves de Magalhães e as comédias de costume de Martins Pena. Alguns autores românticos, como José de Alencar, passaram a escrever também para o teatro, tornando o formato ainda mais atrativo ao público. Os gêneros se tornaram cada vez mais amplos e foram eliminados os elementos de fala portuguesa dos textos teatrais. Em busca da identidade brasileira nas artes cênicas, foram fundadas a Ópera Lírica Nacional, em 1857, e, posteriormente, a primeira Escola de Arte Dramática, em 1861, no Rio de Janeiro. Nas próximas décadas, o teatro brasileiro focou nas comédias de costumes e não acompanhou os movimentos artísticos que atingiam os demais formatos artísticos, como a Semana de Arte Moderna de 1922. Apesar da existência de uma vertente teatral anarquista em São Paulo, entre 1917 e 1920, que foi porta-voz de lutas classistas, o gênero se absteve de grandes participações políticas. Ainda que a grande parte das produções desta época seja classificada como comercial, algumas escandalizaram o público por tratar de divórcio, moral e religião, como a peça O Baile do Deus Morto (1933), de Flávio de Carvalho, que foi fechada pela polícia em sua terceira noite de apresentação, e a primeira montagem de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, em 1943. O teatro brasileiro assumiu uma nova estética em 1953, com a fundação do Teatro Arena de São Paulo, cujo objetivo era apenas fornecer uma solução espacial. Ligando diversas companhias e atores, o Teatro Arena passou a olhar de forma crítica para as produções. Os grandes clássicos foram remodelados e adaptados à realidade brasileira, criando, assim, uma linguagem inédita, capaz de aproximar o gênero do público.

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Durante a ditadura militar, especialmente na década de 1970, a dramaturgia brasileira recorreu a metáforas para denunciar o governo e criticar o conformismo da sociedade diante dos horrores da ditadura. Esse período ficou registrado na obra Palco Amordaçado, do teatrólogo polaco-brasileiro Yan Michalski. Atualmente, uma série de vertentes teatrais integram o leque de produções nacionais, com estéticas e linguagens singulares. O teatro

Teatro de arena (anfiteatro)

foi oficializado como profissão por meio da ampla oferta de cursos de ensino superior destinados ao gênero. Congressos, festivais, seminários e discussões, dentro e fora do ambiente acadêmico, contribuem para a construção científica acerca do gênero e dão voz aos diversos formatos teatrais presentes no Brasil.

Como Funciona o Teatro Para os espectadores, o teatro se resume ao palco, cortina e jogos de luzes. Mas, para os profissionais desse universo, o teatro é repleto de corredores, passagens, salas, cordas e estruturas que precisam funcionar perfeitamente para que o espetáculo seja um sucesso. O trabalho do

Palco elizabetano

backstage é intenso, essencial e começa muito antes da abertura das cortinas. Existem alguns tipos de configuração teatral, definidos pela posição do palco e da plateia: • ARENA: geralmente redonda e cercada pela plateia, teve origem na Grécia antiga. • ELISABETANO: surgiu no século XVI. Parte do palco adentra o espaço da plateia, também chamado de proscênio. • ITALIANO: criado entre os séculos XV e XVI, é o mais comum, por propiciar as melhores condições de visibilidade. Palco italiano

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OS OFÍCIOS, ATIVIDADES, OBJETOS E TERMOS QUE COMPÕEM UM TEATRO. Ato Divisões de uma peça de teatro. Anfiteatro Teatro com palco central e duas arquibancadas opostas. Boca de cena Parte da frente do palco. Cena Onde acontecem as ações da peça. Cenografia Ambientação que designa o espaço do teatro. Contrarregra Gerencia os cenários, objetos e atores de cada cena. Gambiarra Jogo de luzes que iluminam a cena. Indumentária Figurinos e objetos que compõem a cena.

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Leitura de mesa Reunião do elenco para fazer a primeira leitura do texto. Marcação Indicação para as entradas, saídas, movimentos e posições dos atores. Plano da peça Quadro detalhado dos atos e das cenas da peça. Ritmo de jogo cênico Ritmo que desenvolve todo espetáculo, dentro de um tempo determinado para seu acontecimento. Som e luz Sala onde trabalham os técnicos, sempre com boa visão do palco. Teto de varas Composto de barras de metal ou madeira, nas quais são pendurados os equipamentos de luz e partes do cenário. Para movê-las, são utilizados contrapesos, como sacos de areia.

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METODOLOGIA DO PROJETO

Aprender Fazendo

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A lógica operativa desenvolvida para o Projeto Minotauro previa uma sequência de ações, assim segmentadas: a) Aprovação do projeto e fomento; b) Seleção e convênio com instituição educacional; c) Inserção do tema nos fundamentos pedagógicos da instituição educacional; d) Execução do programa de construção teatral com os alunos: pesquisa, textualização, produção cenográfica/figurinos, ação digital em redes sociais/site, treinamento e ensaios em teatro, apresentação do espetáculo, dinâmica de experienciação e feedback; e) Finalização das mídias e produção do livro. Assim, o Projeto Minotauro é essencialmente uma ação de formação de plateia, que propõe o envolvimento e o desfrute das artes cênicas por meio do elo entre a ação educativa já desenvolvida na Arigaf e os estudantes da rede pública de ensino que frequentam a instituição no contraturno escolar. A proposta foi a de fortalecer o elo e criar uma interseção sistemática entre ação educativa e ação artística, convidando o público escolar a vivenciar espetáculos cênicos e depreender dessa vivência novos saberes e diferentes referências estéticas, o que contribui para o seu aperfeiçoamento ético e cultural. O Projeto Minotauro considera formação de plateia o processo de sensibilização, integração e compreensão dos estudantes frente ao universo da produção artística. Vários são os cenários em que se pode observar os estudantes como plateia, inclusive no espaço físico escolar tradicional, a sala de aula cotidiana, na disposição dos objetos nela existentes, na construção do ouvir e falar sendo intercalado e respeitado entre professores e estudantes. Nesse espaço cotidiano, vale enfatizar a necessidade de mutação do personagem plateia entre todos que a fazem. Ora professores são protagonistas, ora são plateias de estudantes que defendem ideias e/ou questionamentos. Todos trabalham juntos, de forma interdisciplinar. Muitos são os termos que sugerem a atuação coletiva entre disciplinas e professores sobre um mesmo conteúdo didático. Sabemos que todo trabalho realizado de forma coletiva tende a alcançar maior êxito, sobretudo quando nos referimos às questões educacionais, e que a junção de ideias e abordagens de diferentes vertentes do conhecimento promove melhor amplitude na aprendizagem do que estudos realizados de maneira isolada.

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Dos termos pluridisciplinaridade, transdisciplinaridade e interdisciplinaridade, este último é o mais utilizado, seja na escrita ou na verbalização. Sobre isso, é possível observar que, no caso do ensino interdisciplinar, dois ou mais campos do saber estão reunidos e voltados para análise e verificação do mesmo objeto de estudo. Os professores fazem um planejamento conjunto com objetivo de propor discussões que levem os alunos a estabelecer relações entre o que estão pesquisando nas diversas disciplinas em relação a um tema em questão. No trabalho interdisciplinar, uma área enriquece o conhecimento sobre a outra e o resultado é a construção de um saber mais complexo e menos fragmentado, que buscará trazer mais nexos para o estudante, visto que será pesquisado e discutido sob diferentes pontos de vista. Há a presença de conteúdos de “formação de plateia” nas diferentes disciplinas trabalhadas na Arigaf e relacionadas com o projeto “Minotauro, do Teatro para a Vida”. Para Filosofia, por exemplo, foi possível analisar o cotidiano dos gregos e sua ligação com as crenças mitológicas, a fim de verificar a influência

GK Espaço

Arigaf

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Metodologia de Projetos


que os mitos exercem na organização política e social dos povos primitivos. Foram abordadas, ainda, as funções sociais dos mitos primitivos e buscou-se na atualidade os elementos que comprovam que eles continuam presentes nas sociedades modernas. Nesta medida, a pedagogia de projeto foi a metodologia utilizada para o desenvolvimento do processo construtivo, porque era evidente que as fases posteriores dependeriam intrinsecamente das anteriores, sucedendo-se e fundamentando-se de forma consequente, tanto no material de conteúdo como na psique dos participantes. A evolução no relacionamento humano dos participantes permitiria a evolução no processo coletivo de formação de um grupo coeso e reciprocamente comprometido, cada um cresce individualmente enquanto se descobre em grupo. Tal perspectiva refletiu também no desenvolvimento dos conteúdos e mídias de apoio como redes sociais e a TV Minotauro, o que em lógica esquemática ficou assim modelado:

FASE 1

Pedagogia da Arte

Grupo Teatral 10/MAR/18 7/JUL/18

Orientações pedagógicas

FASE 2

Relação com a Arte

Elenco 23/JUL/18 24/NOV/18

Aulas de Teatro

Interdisciplinaridade Formação de plateia

FASE 3

Espaço Teatral

Cia. de Teatro 2/DEZ/18 12/JUL/19

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FAZENDO AMIGOS

Grupo de Teatro

No dia 10 de março de 2018, um grupo de jovens matriculados na Arigaf deu início ao grupo de teatro do projeto Minotauro, coordenado pelos professores Mauro Zanatta e Mayra do Carmo. Nas primeiras aulas, promoveram atividades lúdicas, com o objetivo de despertar os alunos para uma experiência conjunta, permeada pela criatividade e pelo dinamismo do teatro. Para difundir a experiência de criação teatral, na última semana de abril foi constituído um grupo de alunos para representar o projeto na web, por meio da TV Minotauro. Em seguida, os alunos começaram a produzir seus diários de bordo, nos quais foram orientados a registrar referências, percepções e reflexões sobre as aulas e o mito do Minotauro. Logo, os diários de bordo foram utilizados nos encontros do grupo de teatro: no dia 5 de maio, além da prática teatral, os alunos apresentaram as referências sonoras que reuniram em seus diários. A partir de maio, as aulas foram voltadas ao desenvolvimento da postura cênica e à prática teatral dos alunos.

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10 de março de 2018 Aula inaugural do Projeto Minotauro. Com a presença da equipe pedagógica, todos se reuniram em uma grande roda e conversaram sobre a Arigaf, sobre o projeto do Minotauro e sobre as expectativas em relação A ele. Os presentes fizeram uma breve apresentação individual e, depois, participaram do jogo teatral pega-pega com nomes.

PEGA-PEGA COM NOMES: a base do jogo é o pega-pega, porém não se pode correr e quando o pegador estiver perto de tocar alguém, quem está para ser pego pode falar um nome e esta pessoa se torna o próximo pegador. O jogo é utilizado para o aquecimento e tem como base um jogo tradicional que desenvolve o raciocínio rápido, a atenção e a percepção do movimento corporal.

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YASMIN E se n in me ace guĂŠm itar do jeito que eu sou?

er e viv n i g Ima odo je t o h o dia.

ANNA

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17 de março de 2018 Os alunos escolheram figuras e objetos relacionados ao Minotauro. Cada um expôs os motivos pelos quais consideravam que aqueles itens estavam associados ao mito. Solicitou-se, para o próximo encontro, que cada um trouxesse referências da figura do boi em culturas diversas. Neste encontro, foram aplicados os jogos teatrais.

PEGADOR COM EXPLOSÃO Inicia-se com o jogo tradicional de pegador. Com o jogo iniciado, acrescenta-se a orientação que estabelece que quem for pego deve explodir. Cada um explode da forma que quiser. Importante haver o gesto e o som. A explosão torna-se uma ação espontânea no momento de ser pego. O jogo é utilizado para o aquecimento e para desinibir o jogador.

CONVERSA ESPELHADA Formam-se times de dois jogadores que devem escolher um tema para conversar. Um dos jogadores inicia a conversa em voz alta. O outro jogador reflete e espelha em voz alta as palavras do iniciador. Assim como no jogo da continuidade da história, a conversa espelhada trabalha a narrativa, o processo de perceber a informação que o outro me fornece, a familiarização e a flexibilidade com as palavras auxiliando posteriormente no desenvolvimento da leitura e da escrita, além de fazer com que o jogador vá perdendo o medo do contato visual.

CONTINUIDADE DA HISTÓRIA o grupo senta-se em círculo e alguém inicia uma história dizendo apenas uma palavra. A história deve ser continuada com cada jogador da sequência dizendo apenas uma palavra. É importante que as preposições sejam utilizadas. Caso alguém erre ou diga mais do que uma palavra, o jogo deve continuar aceitando-se o erro como algo natural. Quando a história travar, inicia-se novamente o jogo. Entre as áreas de experiência, pode-se destacar a narrativa, o processo de perceber a informação que o outro fornece, a familiarização e a flexibilidade com as palavras auxiliando posteriormente no desenvolvimento da leitura e da escrita.

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22 de março de 2018 Cada participante trouxe referências sobre o boi em culturas diversas e relatos de como cada um se relaciona com esta figura. Foram realizados vários jogos teatrais, para aprimorar a percepção corporal, concentração e expressão.

MACACO Os jogadores devem movimentar-se como macaco utilizando a seu favor as possibilidades motoras que o corpo lhe oferece. Como posso me movimentar sem sobrecarregar minha coluna e minha bacia? Como movimento meus braços? Como posso sentar e levantar utilizando melhor minhas articulações?

ZIP ZAP ZUM Em roda, os jogadores são orientados a passar um movimento de palma e som para outros jogadores da roda. Zip passa para a direta; Zap para a esquerda; Zum para a pessoa que está em sua frente. Caso alguém erre o lado ou o som, o jogo deve seguir normalmente. É necessário aprender a lidar com o erro com naturalidade. O jogo trabalha a atenção, a visão periférica, a lateralidade e a concentração.

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7 de abril de 2018 Os alunos participaram de vários jogos, entre eles o jogo da corda e o de materialização do objeto, que estimulam a comunicação não verbal e a interação. Depois, os participantes apresentaram referenciais do que consideram que era o medo para o Minotauro. Entre as referências, surgiram algumas ideias de músicas que impulsionaram o pedido para a próxima aula.

JOGO DA CORDA Enquanto dois participantes batem a corda, o restante do grupo deve passar iniciando do zero, passando pela corda sem pular até o 5, quando devem pular 5 vezes. Todos os participantes devem passar pela corda em cada uma das sequências, inclusive os batedores. Quando alguém erra, inicia-se a contagem novamente. Após todos finalizarem, o jogo é repetido, mas agora sem a corda. O objetivo é manter a corda no espaço e fora da cabeça. O foco do jogo está no fato de tornar o objeto visível a partir do gesto, possibilitando a comunicação não verbal dos participantes.

MATERIALIZAÇÃO DO OBJETO Em duplas os participantes escolhem um objeto entre eles e iniciam uma atividade determinada por ele, como empurrar um carro, por exemplo. O jogo desenvolve a interação entre o grupo, a comunicação não verbal, a materialização do objeto.

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14 de abril de 2018 Diversos jogos foram propostos, como o “Quem iniciou o movimento”, que propõe o uso de comunicação não verbal e movimentação corporal.

ESPELHO Em duplas, os jogadores definem quem é o espelho, o restante assiste e deve tentar perceber quem está conduzindo a ação. O jogo desenvolve o reconhecimento do outro e a percepção visual.

QUEM INICIOU O MOVIMENTO os jogadores permanecem em círculo. Um jogador sai da sala enquanto os demais escolhem alguém para iniciar o movimento. Todo o grupo deve seguir o movimento iniciado. Quem estava fora volta e tenta descobrir quem é o iniciador. Durante esse período os movimentos devem ser trocados. Se o iniciador for descoberto, vai para fora da sala, caso não seja, o jogador que deveria descobrir o movimento sai da sala e outro jogador inicia o movimento. O jogo desenvolve a comunicação não verbal, o sensorial e o movimento corporal.

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12 de maio de 2018 A improvisação como fundamento para o ator foi o foco da aula. Os primeiros exercícios trabalharam sobre a construção de um olhar externo. Aprender a jogar com o outro, a ouvir, a estar disponível ao jogo que se apresenta. O jogo pega-pega com nomes, que trabalha a prontidão, a escuta, o risco e o envolvimento não racional, foi jogado nessa aula. Na sequência, foi proposta a construção de um diário de bordo individual, onde ficariam registrados os medos e sonhos, com o propósito de aproximar cada participante do mito do Minotauro.

cer onte om a c a E se coisa c e O qu ma u ? g a i l a míl er? a fa minh vou faz eu

LEONARDO

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19 de maio de 2018 A partir de seus medos, os alunos produziram cenas em pequenos grupos, que foram apresentadas e debatidas. Depois de uma conversa as cenas foram representadas, com o objetivo de aprofundar as sensações de medo e fortalecer a relação entre os atores.

CAMINHADA Inicia-se o jogo caminhando pelo espaço e sempre olhando nos olhos de quem encontra. Concentrar-se na respiração. Respirar fundo e permitir que ao sair, o ar produza um som.

TOQUE Em duplas, paradas de frente com a distância de um braço, um jogador de cada vez deve tocar o seu colega nos pontos do quadril e do ombro buscando causar desequilíbrio. Os pés não podem ser tirados do chão.

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9 de junho de 2018 O encontro começou com o Jogo dos 5 bancos, em que o objetivo é ampliar a comunicação entre os atores, fundamental para não colocar o outro ator em situação difícil. Depois do aquecimento, os professores buscaram trabalhar a expressão individual dos atores, com posicionamento no palco e relação com plateia.

JOGO DOS 5 BANCOS um banco no centro e os outros quatro distribuídos a uma distância de aproximadamente 4 metros um do outro formando um quadrado. O objetivo é que os que estão nos bancos de fora troquem de lugar sem permitir que quem está no meio sente nos bancos externos. Quando levantar, não pode sentar novamente no mesmo banco.

POSICIONAMENTO Início com uma caminhada, ocupando os espaços. Quando bater uma palma o ator deve posicionarse como se estivesse no palco (presença de palco). Percebe o posicionamento dos pés, alinhamento da coluna, o olhar. Continua caminhando após a orientação. O exercício é repetido algumas vezes. Após, na primeira palma, o ator posiciona-se como se estivesse no palco, na outra, no chão, sem movimentos bruscos.

eio Tá m aqui, tado ? aper acham o ã n

VINICIUS

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16 de junho 2018 Os Professores Mayra e Mauro Zanatta ministraram uma aula especial para os alunos do Projeto Minotauro. Primeiro, os adolescentes participaram de uma atividade de aquecimento, que consistia em seguir com o olhar a mão de um colega, exercitando e mantendo o foco. Posteriormente, foi realizado o jogo gato e rato, onde a mudança entre perseguir e ser perseguido alterna com muita rapidez, estimulando o raciocínio rápido e a coordenação motora. Na sequência, os alunos formaram duplas para conversar sobre suas histórias de vida, família, hobbies, sonhos e características pessoais. Para encerrar a atividade, cada dupla apresentou para toda a turma um resumo da conversa.

GATO E RATO Formam-se duplas que devem permanecer com os braços enganchados e espalhadas pela sala. Uma das duplas é selecionada para um ser o gato e o outro o rato. Durante a perseguição é necessário imitar o som e a movimentação dos animais. Quem está no papel de rato pode escapar enganchando em um dos participantes das duplas que estão paradas e espalhadas pela sala. Nesse momento, o gato passa a ser o rato e o participante que não foi escolhido como par torna-se o gato. O jogo é uma forma de aquecimento e desenvolve o raciocínio rápido, a agilidade de movimento e reduz a inibição do participante que aos poucos não se sente mais constrangido em imitar um animal.

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23 de junho de 2018 Depois dos exercícios de aquecimento, os atores trabalharam na construção de narrativas vinculadas ao debate da aula anterior. Os alunos fizeram a apresentação desta narrativa com o objetivo de demonstrar um hobbie ou habilidade pessoal. Em seguida tomaram tempo para a construção de uma cena em duplas, na qual os atores se apoiavam dentro de suas narrativas.

CAMINHADA EM TRÊS TEMPOS Caminhar pelo espaço. Quando o orientador disser 1 andar o mais devagar possível, 2 na velocidade normal e 3 o mais rápido possível, sem correr.

Ao final da aula, o Professor Mauro Zanatta deixou uma questão em aberto para os alunos refletirem:

qual a diferença entre fazer algo em que você é bom e fazer algo de que você gosta?

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7 de julho de 2018 A aula foi ministrada pelos professores Mauro e Mayra. Além da dinâmica dos bancos, brincadeira que incentiva a comunicação falada e gestual, os alunos se dividiram em grupos de três e quatro pessoas para a criação de uma cena, com o objetivo de retratar um encontro com o Minotauro. Os alunos contaram com liberdade total de escolha do discurso para a cena e desenvolveram representações do Minotauro que foram executadas por mais de uma pessoa.

Após as atividades, o grupo reuniu-se para um bate-papo no qual os professores deram um feedback sobre o encerramento da primeira fase do Projeto, já que no próximo encontro o roteiro da peça teatral começará a ser trabalhado.

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Sinergia com Outras Matérias O Projeto Minotauro foi relacionado diretamente com a maioria das disciplinas da Arigaf, sendo que em algumas delas o mito já estava presente no conteúdo programático, caso da disciplina de literatura. A criação dos diários de bordo explorava ainda a capacidade de expressão, uso de linguagem e a interpretação, promovendo a sinergia entre outras disciplinas. A faixa etária dos alunos e ex-alunos que participaram do projeto, entre 12 e 18 anos, foi determinante para a maneira como o mito do Minotauro foi enxergado. Nessa idade, os jovens estão em uma fase de muitas escolhas, são empáticos, identificam-se e defendem suas ideologias.

Literatura na Arigaf O objetivo final das aulas de literatura é tornar alunas e alunos autores, atores e protagonistas de sua própria história, do seu próprio destino. No meio do caminho, são promovidos encontros entre estudantes e títulos clássicos da literatura mundial, como, por exemplo, As Mil e Uma Noites, Odisseia, Divina Comédia, e autores consagrados como Monteiro Lobato, Edgar Allan Poe, Goethe, Rilkhe, Cervantes, Mário de Andrade, Manoel Antônio de Almeida, Anne Frank. Esses encontros também possibilitam a inserção destes jovens nas referências culturais em que estamos mergulhados. O percurso escolhido para a disciplina de literatura inicia com o estudo da linguagem, abordando conhecimentos sobre coesão textual, o que permitirá aos alunos ler e escrever melhor. O próximo passo é aproximar, de maneira lúdica, os discentes e as produções literárias. A estratégia escolhida para isso é a contação de histórias — com narrativas da mitologia grega —, que tanto promove um conhecimento das estruturas narrativas quanto amplia a capacidade de expressão, oral e gestual, dos alunos e permite a muitos superar seu medo de falar em público. Depois disso, passa-se para uma apropriação da linguagem literária erudita, começando por um texto de Monteiro Lobato, O Minotauro, que conta a viagem da turma do Sítio do Pica-pau Amarelo para a Grécia Antiga com o objetivo de resgatar a personagem Nastácia, depois para a leitura da Odisseia, de Homero. Com isso, tem-se uma amostra de obras produzidas ou ambientadas na Idade Antiga. O próximo passeio passa pela Idade Média, quando os alunos leem histórias de cavalaria da corte do Rei Artur, a Divina Comédia de Dante, As Mil e Uma Noites, Novelas Exemplares, de Cervantes.

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Neste momento é possível estabelecer a primeira compreensão de que somos os responsáveis por nosso próprio destino graças à mudança proposta pelo cristianismo com o conceito de livre arbítrio. Se os gregos da antiguidade entendiam que a vida era predestinada e por isso responsabilizavam os deuses pelo que lhes acontecia, as almas condenadas que Dante encontra no inferno são as responsáveis por suas escolhas e estão ali porque optaram pelo pecado. É neste contexto histórico que eles discutem, em sala de aula, a alteridade, pois o inimigo do cristão medieval é o protagonista das histórias contadas por Sherazade em Mil e Uma Noites. Esta também é uma oportunidade para abordar o gênero dramático, com a leitura do Auto da Barca do Inferno, e conhecer a origem do teatro na civilização ocidental.

Diário de Bordo Este elemento gráfico foi utilizado como plano de pesquisa, no qual cada aluno desenvolveu os seus recortes e aglutinou as experiências, textualizando, desenhando e colando referências, estabelecendo uma mostra da trajetória de desenvolvimento individual.

Diário da Eloiza.

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A criação do canal de YouTube TV Minotauro reuniu seis integrantes do grupo de teatro, que passaram a registrar momentos decisivos do projeto, eventos e a realizar entrevistas com os professores e colegas. A participação dos alunos foi voluntária, motivada pelo interesse de interagir e explorar novos formatos de mídia. Um dos objetivos da TV também era contribuir para a interdisciplinaridade de linguagem do projeto, assim como para a multiplicação de plataformas utilizadas acerca do mesmo tema. O episódio inaugural da TV Minotauro foi ao ar em 8 de junho de 2018. Nele, a dupla Leonardo Bueno e Larissa Pinheiro entrevistaram a professora de teatro, Mayra, com o objetivo de entender a paixão dela pelas artes cênicas e apresentar o Projeto Minotauro. Ao total, foram produzidos sete episódios.

Episódio #1 No episódio de estreia, Larissa e Leonardo entrevistam a professora de teatro e uma das coordenadoras do projeto Minotauro, Mayra Inês do Carmo.

Episódio #2 Neste episódio, o nosso grupo de apresentadores descreve a primeira parte da história por trás do mito do Minotauro.

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Episódio #3 Nossos alunos nos apresentam suas percepções sobre a primeira fase do trabalho realizado e trazem suas expectativas para a sequência do projeto.

Episódio #4 Larissa e Leonardo (e seus alter egos) revelam seus Diários de Bordo e como isso contribuiu para a reflexão e o registro de construção da peça teatral baseada no mito do Minotauro.

Episódio #5 Os professores de teatro Mauro Zanatta e Mayra do Carmo fizeram um balanço do primeiro semestre de atividades, comentaram sobre as expectativas atendidas e as surpresas que encontraram nas aulas.

Episódio #6 Os apresentadores contam a parte final da história do mito do Minotauro, revelando a história do embate entre o jovem Teseu e o Minotauro.

Episódio #7 A TV Minotauro levou a apresentadora Larissa, nossa Princesa Leia, para o maior evento dedicado à cultura nerd e geek do sul do Brasil.

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O CAMINHO Elenco ENSAIOS A partir de 23 de julho, o grupo de teatro passou a exercitar práticas e aprimorar fundamentos teatrais com a finalidade de aproveitá-los na peça teatral, objetivo central do Projeto Minotauro. Este momento de transição é marcado pela preocupação com o espetáculo final: aqui, o grupo de teatro se tornou elenco, ao dedicar-se exclusivamente a uma ideia central, elaborada a partir de reflexões e experiências dos alunos.

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Plano de Trabalho A partir da segunda fase, os professores Mauro Zanatta e Mayra do Carmo iniciaram o trabalho de produção de material para a construção do roteiro. O ponto de partida foram as histórias pessoais do universo adolescente. Partiu-se do conceito de “pequenas tragédias pessoais”, desenvolvido pela Escola do Ator Cômico, no qual, depois de passar por uma fase inicial em que o grupo trabalha com jogos e exercícios de improvisação para estabelecer um estado de confiança, suficiente para ampliar a exposição pessoal, em etapas gradativas, os atores contam uma situação de suas vidas, um momento pessoal em que encontram dificuldade ou alguma dificuldade de relacionamento em sociedade. Com este material, buscou-se ampliar os exercícios de escrita, nos quais as histórias pessoais passam a ser histórias coletivas, fazendo um cruzamento entre fatos comuns entre os atores. Estes, então, iniciam um processo de construção livre sobre as histórias, gerando material para a construção de um rascunho de roteiro. É a partir deste rascunho que a roteirista, Julia Vidal, trabalhou no roteiro final da peça Minotauro, do Teatro para a Vida. Foi também nesse ponto que a equipe técnica passou a atuar no espetáculo.

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23, 24 e 25 de julho de 2018 Os encontros foram iniciados com um exercício para estimular a percepção do movimento coletivo em cena. Exercícios de duplas com a criação de histórias coletivas deram a noção da potência gerada pelo coletivo. Os professores Mayra do Carmo e Mauro Zanatta introduziram o conceito de coro e corifeu, técnica proveniente do teatro grego, que seria a base de construção da movimentação cênica. Numa sequência de jogos, todos passaram pelas duas posiçõES, coro e corifeu, percebendo que em alguns momentos pode-se ser o protagonista, em outros momentos os coadjuvantes, respondendo assim em nome do grupo.

Divididos em trios, os alunos criaram cenas com diversas variações do tema medo, apresentando para seus colegas. Em seguida participaram de um bate-papo de introdução ao desenvolvimento do roteiro da peça teatral.

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11 de agosto de 2018 Os atores exercitaram conceitos para utilização na peça teatral, como o do coro/coletivo, que atuará como um agente cênico no espetáculo. Algumas cenas criadas anteriormente foram refinadas e ensaiadas considerando os novos elementos do roteiro proposto pelos professores.

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22 de agosto de 2018 Com a participação da roteirista Julia Vidal, foram apresentadas aos atores onze cenas selecionadas e que fariam a base para a construção do roteiro. Em conjunto, todos se dedicaram à limpeza das cenas, afinando a relação dos atores. Foi realizado um exercício costurando as cenas, buscando posicionamento de palco e alimentando a roteirista com percepções e ideias.

Casar ? Deus me livre!

RENATA

ém ingu n e E s tar de gos im. m

GABRIELA

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27 de agosto de 2018 O ensaio contou com a participação do sonoplasta Célio Savi, que conversou com os alunos explicando a função da sonoplastia no teatro e sobre o olhar dele na montagem do espetáculo final do projeto. Posteriormente, os professores Mauro e Mayra estimularam o trabalho de cena com a prática de dinâmicas e do coro.

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29 de setembro de 2018 Com a orientação dos professores-diretores, os atores ensaiaram cenas em pequenos grupos, em que exploraram seus medos, preconceitos e inseguranças. Uma conversa ampliou o olhar dos atores para as cenas e algumas foram selecionadas e reensaiadas.

RAFAELA Eu es to sentin u do meu c oraçã o parar .

que Será r de o é am ade? verd

CAMILY

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23 de outubro de 2018 O elenco PARTICIPOU de aulas de música com a Professora Dori, da Arigaf, para estruturar a entonação da canção-tema “Believer”, da banda Imagine Dragons, que neste dia foi amplamente utilizada em cenas já estruturadas da peça.

tá a rua Aquel cura, s meio e ha? a não c

GIULIANA

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HIVA Eu acho que vou m e machucar.. .

de zes ô o v As ut o! E uca! v o n lo ndo fica

LARISSA

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27 de outubro de 2018 os ensaios já eram feitos com base nas marcações cênicas de posicionamento dos atores e dos objetos. os últimos ajustes na adequação do roteiro ao processo de comunicação teatral estavam em andamento, refinando-se falas e qualificando-se o arco cênico. o nível de dramaticidade já era alto, e os papéis haviam sido incorporados pelos atores, ainda que alguns precisassem ser substituídos em algumas ocasiões.

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Eu nĂŁo acredito q ue eu fracas sei!

ELOIZA

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10 de novembro de 2018 A figurinista Maria Beatriz acompanhou o ensaio e definiu a roupa dos atores. Com base na abordagem proposta pelo professor Mauro Zanatta, a opção foi para que o olhar dos atores fosse levado em consideração na construção do figurino. O que eles vestiam no seu cotidiano e o que gostariam de vestir? Uma visão sobre pertencimento foi debatido durante a criação do conceito sobre figurino.

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15 e 16 de novembro de 2018 Em Um intensivo de dois dias, a equipe técnica e todo o elenco reuniram-se para ensaiar, pela primeira vez, o espetáculo “Minotauro, do Teatro para a Vida” em sua totalidade. O iluminador Lucas Amado foi introduzido ao grupo e apresentou seus conceitos, visão e contou sobre importância da iluminação cênica. Os atores receberam informações sobre percepção da presença da luz cênica e como posicionar-se nela.

se Tira es de bicho ! de mim perto

GIAN

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24 de novembro de 2018 Um ensaio com toda a equipe, já com a definição da sonoplastia do espetáculo, deixou o elenco afinado para a estreia, que estava marcada para o dia 2 de dezembro de 2018.

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OS PERSONAGENS ANNA

CAMILY

A Anna interpreta uma garota introspectiva, com talento para escrever e que não tem os mesmos interesses dos seus amigos. Apesar disso, ela tem uma personalidade forte e é consciente das suas capacidades, podendo ser confundida com alguém arrogante e desinteressada.

A peça é composta de várias esquetes, por isso a Camily participou de duas tramas: na primeira, ela é uma aluna que tenta convencer a nerd da turma a fornecer cola; na segunda, é uma avó, em um lar só de mulheres, que prestigia uma neta em detrimento da outra.

ELOIZA A Eloiza atua em um dos momentos cômicos da peça. Ao escutar uma confidência, inverte o seu jogo de placas de “amiga” para “fofoqueira”. Em outro momento, sofre preconceito da própria avó, por não tirar notas tão boas quanto a sua irmã, mas com a ajuda de uma colega da escola ela consegue reverter esse quadro.

GABRIELA/ANNELISE

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Originalmente vivida pela Gabriela e, após a estreia, interpretada pela annelise, a personagem passa pelas descobertas da sua sexualidade enquanto lida com o consequente julgamento da própria família.


GIAN

GIULIANA

O Gian interpreta um dos valentões da peça. Porém, é atormentado por um monstro que o assombra. Ao ser obrigado a confrontar a criatura, ele descobre que ambos são muito parecidos e podem conviver em harmonia, desde que respeitando as diferenças e o espaço de cada um.

A Giuliana participa de duas esquetes bem diferentes na peça. Ela é a mãe de um menino que tem problemas para dormir À noite e, em outro momento, uma aluna bolsista que sofre discriminação na escola.

HIVA A personagem da Hiva é uma aluna dedicada e estudiosa. Por pressão de uma colega de classe, ela empresta suas anotações para outros alunos e se vê envolvida em um esquema de cola. Em uma segunda esquete, a Hiva é mãe de duas jovens com desempenhos escolares distintos.

LARISSA a Larissa tem o desafio de cuidar da sua família exercendo o papel duplo de mãe e pai. Envolta nos conflitos dos filhos, ela precisa encontrar o equilíbrio entre os seus próprios valores morais.

LEONARDO Na peça “Minotauro, do Teatro para a Vida”, o Leonardo interpreta um valentão que pratica bullying com uma aluna bolsista da sua escola. Ao cometer um delito, ele é flagrado por essa aluna, que o confronta.

RAFAELA/LIA Como toda menina popular da escola, a Rafa é alvo de fofocas. Sob os olhares atentos dos seus colegas de classe, ela precisa convencer a sua namorada de que o relacionamento delas vale a pena, apesar do preconceito alheio. Criada e interpretada inicialmente pela Rafa, a personagem foi vivida pela LIA após a estreia.

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RENATA A personagem da Renata na peça “Minotauro, do Teatro para a Vida” ajuda a espalhar uma fofoca na escola, sem considerar a consequência dessa ação para as pessoas envolvidas.

SAULO/JACKSON O Saulo participa de duas esquetes na peça. Ele interpreta um professor que ensina seus alunos sobre mitologia, especificamente o Mito do Minotauro. Como professor, ele precisa punir alguns deles por um esquema de cola e incentivar uma outra aluna, que possui um grande potencial para escrever. Em outra esquete, o Saulo interpreta um pai ausente, que não sabe lidar com a homossexualidade da filha. após a estreia, os paPéis foram assumidos pelo jackson.

VINICIUS O VinIcius é um mistério no espetáculo. Ora monstro, ora menino, o seu personagem representa os fantasmas e medos humanos que, de tão particulares, contribuem para a composição singular de cada indivíduo.

YASMIN

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A personagem da Yasmin na peça “Minotauro, do Teatro para a Vida” é uma menina paparicada pela avó e que se esforça para agradar a garota popular do colégio. Em outro momento, participa de um esquema de cola e é descoberta, precisando encarar as consequências em casa.


EQUIPE TÉCNICA COORD. PEDAGÓGICA Ariana Bordinhão DIRETOR ARTÍSTICO

Mauro Zanatta

CODIRETORA Mayra Inês do Carmo PRODUÇÃO

Guilherme Kloppfleisch

CURADORIA

Fábio André Chedid Silvestre

COMUNICAÇÃO Fernanda Cheffer Luiz Gustavo Schmoekel ROTEIRO

Julia Vidal

SONOPLASTIA

Célio Savi

CENOGRAFIA Fernando Marés FIGURINO

Maria Beatriz Roorda

ILUSTRAÇÕES Ivana Lima ILUMINAÇÃO Lucas Amado ASSISTENTE DE SOM

Pedro Melo

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O ROTEIRO PRÓLOGO Todos os atores no palco com placa em branco. Um ao lado do outro em um agrupamento ao fundo. Há caixas de papelão espalhadas pelo palco.

LEONARDO Cadê todo mundo?

LEONARDO E se acontecer alguma coisa com a minha família? O que eu vou fazer?

LARISSA Eu não acredito que perdi vocês.

LARISSA As vozes de novo! Eu tô ficando louca!

ANNA Imagine viver o hoje todo dia.

ANNA Eu se eu perder a minha vó!

ELOIZA Eu não acredito que esse é meu boletim.

ELOIZA Eu não acredito que eu fracassei!

CAMILY Será que é amor de verdade?

CAMILY Eu não gosto de passar vergonha!

RAFAELA Eu estou sentindo meu coração parar.

RAFAELA Tem alguém vindo atrás de mim.

GIAN Ah não! Eu quebrei!

GIAN Tira esse bicho de perto de mim!

RENATA Casar? Deus me livre!

RENATA Tá um pouco alto aqui!

GABRIELA E se ninguém gostar de mim?

GABRIELA Se eu dormir, será que vou acordar?

YASMIN Se eu tirar zero, eu estou frita!

YASMIN E se ninguém me aceitar do jeito que eu sou?

GIULIANA Eu preciso aumentar as minhas notas!

GIULIANA Aquela rua tá meio escura, não acha? HIVA Eu acho que vou me machucar… SAULO E se eu não atingir meus objetivos? VINICIUS Aranha é um bicho muito asqueroso!

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Atores se espalham pelo palco. Dizem suas falas e assumem nova formação no proscênio.

MENINO QUE NÃO CONSEGUE DORMIR – CASA

FILHO – LEONARDO Já, mãe?

MONSTRO (Vinicius) está debaixo da cama. FILHO (Gian) deitado na cama sem conseguir dormir. MÃE (Giuliana) faz carinho em seus cabelos. Ao fundo do lado esquerdo há uma estrutura vazada montada com caixas de papelão em forma de pirâmide. As mãos dos atores atrás delas aparecem pelos buracos e se ocultam criando uma aparência surreal.

MÃE – LARISSA Sim, já terminei de comprar as coisas pro bolo.

MÃE – GIULIANA Não fique com medo. Eu não quero que você falte aula amanhã. Você tem prova. E você já faltou essa semana. Se estiver com medo, me chama no quarto. Tudo bem? Boa noite. Sussurros iniciam. As mãos reaparecem. CORO Embaixo da cama. Olha debaixo da cama. Embaixo da cama... Shhhhh! Mãos se recolhem novamente. MONSTRO (Vinicius) se ergue por detrás da cama e aparece por um instante. FILHO sente sua presença. Monstro se oculta. FILHO grita por socorro. FILHO – GIAN Mãe!

HIVA Por que física existe!

Atores desmontam a estrutura de pirâmide e montam uma estrutura de caixa de supermercado.

SAULO Como será a minha morte?

ROUBO DO CHOCOLATE – SUPERMERCADO

VINICIUS Tá meio apertado aqui, não acham?

MÃE (Larissa) e FILHO (Leonardo) indo para a fila do CAIXA (Renata).

Cantam a música “Believer” do Imagine Dragons.

MÃE – LARISSA Vamos filho!

FILHO – LEONARDO Tá bom, mãe. CAIXA – RENATA Próximo! MÃE – LARISSA Esqueci a farinha! FILHO – LEONARDO Ah, mãe! MÃE – LARISSA Fica na fila pra mim. Fica aí. MÃE deixa filho sozinho. FILHO – LEONARDO Tá, mas se eu ficar aqui posso pegar um chocolate? MÃE – LARISSA Não, eu já vou fazer bolo pra você. CAIXA – RENATA Próximo! Mãe sai para pegar a farinha. A fila do mercado continua andando. FILHO passa perto da prateleira com chocolate. CORO Hum... Chocolate. Vai lá. Pega um! Não vai fazer mal a ninguém. Vai logo! Coloca no bolso. Rápido! Ninguém viu. MÃE volta para a fila. MÃE – LARISSA Filho, você ainda quer um chocolate?


FILHO – LEONARDO (Assustado) Não, mãe! CAIXA – RENATA Dinheiro ou cartão? MÃE – LARISSA Dinheiro. CORO Admite! Admite! MÃE – LARISSA Leonardo, tá tudo bem com você? CORO Uhum. FILHO – LEONARDO Tudo sim. FILHO se vira para sair junto com a MÃE. CORO Mentiroso. Ladrão. Mentiroso. Ladrão. FOFOCA – LADO DE FORA DA SALA DE AULA AMIGA (Rafaela) chega e encontra FOFOQUEIRA (Eloiza). AMIGA – RAFAELA Amiga, tudo bem?! FOFOQUEIRA – ELOIZA Tudo! AMIGA – RAFAELA Amiga do céu, você nem sabe. Lembra que eu te falei que eu tava superapaixonada e tudo mais? FOFOQUEIRA – ELOIZA Sim, eu lembro! AMIGA – RAFAELA Então, a gente tá namorando! FOFOQUEIRA – ELOIZA Que legal! AMIGA – RAFAELA Eu nem acredito ainda! Mas, assim, ninguém pode saber! Nossos pais não sabem ainda e a gente também tem medo do que a galera vai pensar... Eu só contei porque você é minha melhor amiga! Fica só entre a gente!

FOFOQUEIRA – ELOIZA Pode deixar!

AMIGA – YASMIN Você vai?

AMIGA – RAFAELA Tchau!

AMIGA – ANNA Não, né?

FOFOQUEIRA – ELOIZA Tchau!

AMIGA – YASMIN Vai comigo!

SALA DE AULA – PRIMEIRA PARTE

AMIGA – ANNA E quem disse que ela vai nos convidar?

PROFESSOR (Saulo) dá aula. Os alunos estão sentados e não respondem nem interagem. PROFESSOR – SAULO Então, o que vocês sabem me dizer sobre o Minotauro? Alguém? O Minotauro é um monstro terrível da mitologia grega, que morava em um labirinto na ilha de Creta… Minos queira se tornar rei de Creta e por isso rezou para que Poseidon, o deus do mar, lhe desse um sinal divino. Poseidon enviou das ondas um lindo touro branco, como um sinal para o mundo inteiro que apoiava este reinado. Minos havia prometido em troca sacrificar imediatamente o animal ao deus. Porém a ganância e a vaidade fizeram com que o rei tentasse enganar Poseidon, sacrificando outro touro no lugar daquele vindo do mar. Mas esse erro lhe custou muito caro. O deus ficou furioso e como castigo fez com que Pasífae, esposa de Minos, se apaixonasse loucamente pelo touro saído do mar. Como resultado dessa união, surgiu o Minotauro, um monstro metade touro, metade homem que se alimentava de carne humana. Para esconder essa criatura vergonhosa, Minos encomendou um labirinto. Alguém sabe o nome do famoso arquiteto que criou o labirinto? Alguém? Nenhum aluno responde. Toca o sinal. CELULAR/CONVITE PARA A FESTA – SALA DE AULA AMIGA (Yasmin) e AMIGA (Anna) conversam em sala de aula. AMIGA – ANNA O que é? AMIGA – YASMIN Você ficou sabendo da festa? AMIGA – ANNA Daquela ali? Fiquei sim.

AMIGA – YASMIN Todo mundo tem uma chance! AMIGA – ANNA Todo mundo menos eu e você! AMIGA – YASMIN Você vai comigo nem que seja arrastada! Vai ter bebida! AMIGA – ANNA Você acha que meus pais vão me deixar ir?

AMIGA – YASMIN Então... E aí, eu soube que vai ter aquela festa… Será que rola um convite? POPULAR – RAFAELA Sabe que vai ter bebida, né? AMIGA – YASMIN Sei sim. POPULAR – RAFAELA Aquela sua amiga também vai? AMIGA – YASMIN ...Não. POPULAR – RAFAELA Então te arranjo um convite sim... Acho que vou baixar esse aplicativo depois. AMIGA (Yasmin) volta para perto da AMIGA (Anna) sorridente. AMIGA – YASMIN Eu vou na festa!

AMIGA – YASMIN Eu falo com teus pais!

AMIGA – ANNA Eu não acredito que você fez isso.

AMIGA – ANNA Você já perguntou se eu quero ir? Se eu vou me sentir bem indo lá?

FOFOCA – LADO DE For a DA SALA DE AULA

AMIGA – YASMIN Você vai ficar isolada pra sempre? AMIGA – ANNA Eu prefiro ficar isolada do que em um lugar que vou me sentir mal! AMIGA – YASMIN Quer saber? Fica aí. Olha e aprenda! AMIGA (Yasmin) levanta e vai falar com POPULAR (Rafaela). AMIGA – YASMIN Oi. POPULAR – RAFAELA Oi. AMIGA – YASMIN Hã... Você viu esse novo aplicativo de editar foto? Ele tem uns efeitos muito legais! POPULAR – RAFAELA Que aplicativo? Ah! Posso ver? Nossa, que massa! Que celular legal, é quase igual ao meu. É novo?

FOFOQUEIRA (Eloiza) encontra outra FOFOQUEIRA (Renata). FOFOQUEIRA – ELOIZA Amiga! Vem cá! Preciso te contar uma coisa! CORO É segredo. Não conta. FOFOQUEIRA – ELOIZA Aliás... melhor não... FOFOQUEIRA – RENATA Conta! FOFOQUEIRA – ELOIZA Eu não posso! FOFOQUEIRA – RENATA Começou, termina! FOFOQUEIRA – ELOIZA Tá... Sabe a menina que vai dar a festa? FOFOQUEIRA – RENATA A Rafa?

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FOFOQUEIRA – ELOIZA Sim, a minha amiga. Ela me contou que está namorando! Legal, né? FOFOQUEIRA – RENATA Sim. FOFOQUEIRA – ELOIZA O problema é que ninguém sabe! Nem os pais!

FOFOQUEIRA – RENATA Mas ninguém sabe. Isso fica só entre a gente. Prometem que não vão contar pra ninguém?

ALUNA (Camily) vai falar com a NERD. ALUNA – CAMILY Oi... CORO Iiiiiiih...

ALUNO – LEONARDO Uhum...

NERD – HIVA Oi.

FOFOQUEIRA – RENATA Ninguém sabe?

ALUNO – VINICIUS Prometo!

ALUNA – CAMILY Eu estava te procurando...

FOFOQUEIRA – ELOIZA E é bom continuar assim. Promete que não vai contar pra ninguém? Fica só entre a gente!

ALUNA – CAMILY Pode deixar!

CORO Lá vem ela...

Entra ALUNA (Yasmin) esbaforida.

FOFOQUEIRA – RENATA Prometo.

ALUNA – YASMIN Gente, gente! Vocês fizeram a redação?

ALUNA – CAMILY Estou precisando de um favor seu.

NERD ISOLADA – LADO DE FORA DA SALA DE AULA

ALUNA – CAMILY Era pra hoje?

Três ALUNOS jogam uma brincadeira de dar tapas. ALUNA chega esbaforida.

ALUNO – VINICIUS Que redação?

FOFOQUEIRA – RENATA Gente! Eu tenho uma fofoca pra contar pra vocês!

ALUNO – LEONARDO Ah, não!

ALUNO – LEONARDO Gostamos! ALUNO – VINICIUS Conta aí! ALUNA – CAMILY O que é? FOFOQUEIRA – RENATA Sabe a Rafa? ALUNO – LEONARDO A metidinha? ALUNO – VINICIUS A da festa? ALUNA – CAMILY Sei, a Rafa.

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ALUNA – CAMILY Com quem será?

CORO Sabia.

VALENTÃO 1 – LEONARDO Eu achei muito fácil aquela prova. VALENTÃO 2 – GIAN Sim. Vem aluna BOLSISTA (Giuliana) caminhando e se aproximam dela. VALENTÃO 1 – LEONARDO Olha ela ali... VALENTÃO 1 – LEONARDO Não corre, não. VALENTÕES cercam a BOLSISTA. VALENTÃO 1 – LEONARDO Olha só. Aquela aluna nova. Além de ser bolsista, é negra. VALENTÃO 2 – GIAN Olha essa roupa...

ALUNA – CAMILY Sabe aquela lição que o professor passou?

VALENTÃO 1 – LEONARDO Olha esse cabelo...

NERD – HIVA Sei, sim.

VALETÃO 1 (Leonardo) toca no cabelo da BOLSISTA com desprezo. Ela o empurra.

ALUNA – RENATA Esqueci!

ALUNA – CAMILY Será que você tem como emprestar pra gente dar uma olhada?

VALENTÃO 1 – LEONARDO Quem você pensa que é pra me empurrar? Sua ralé.

ALUNA – YASMIN Ninguém fez?

CORO Não, não quero...

VALENTÃO 2 – GIAN Você nem devia estar aqui.

TODOS negam com a cabeça.

ALUNA – CAMILY Eu já te devolvo depois!

VALENTÃO 1 – LEONARDO Cai fora, seu lixo. Vamos, Gian.

CORO Não sei...

VALENTÕES vão embora. BOLSISTA fica caída no chão. Coro se divide.

ALUNA – CAMILY Só pra dar uma olhada se a gente fez certo...

CORO Tadinha! Bem–feito!

ALUNA – YASMIN Quem será que fez? ALUNO (Leonardo) olha na direção da NERD (Hiva). Os outros acompanham seu movimento. Depois olham entre si. ALUNO – LEONARDO Eu não vou! ALUNO – VINICIUS Nem eu!

FOFOQUEIRA – RENATA Ela tá namorando!

Antes que ALUNA (Camily) fale, é empurrada por ALUNA (Yasmin) e pelo grupo.

ALUNO – LEONARDO Não acredito!

ALUNA – YASMIN Vai você!

ALUNO – VINICIUS Sério?

ALUNA – CAMILY Tá bem, eu vou!

NERD – HIVA Tá bom... ALUNA – CAMILY Obrigada! Você é um amor de pessoa! CORO Como eu sou trouxa!

BOLETIM – CASA AVÓ (Camily) está cochilando no sofá. MÃE (Hiva) está apreensiva esperando a chegada de suas filhas. MÃE – HIVA Mãe... Mãe... Dolores!

VALENTÕES E BOLSISTA – CORREDOR

AVÓ – CAMILY Carmen! Você me respeite! Eu sou sua mãe.

Dois VALENTÕES (Leonardo e Gian) caminham pelos corredores da escola.

MÃE – HIVA Elas devem estar chegando! Elas recebem o boletim hoje!


MÃE – HIVA Filha, eu não acredito que você tirou essas notas!

PAI – SAULO Como isso foi acontecer? Eu vou falar com ela.

MÃE – LARISSA Talvez, se você estivesse em casa, teria percebido.

FILHA 2 – ELOIZA Eu tento melhorar, mas eu não consigo!

PAI e MÃE levantam e vão para o quarto da FILHA.

AVÓ – CAMILY Você deveria ser mais como a Yasmin! Ela só tira notas boas!

PAI – SAULO Gabriela! Que história é essa de sair com meninas?

PAI – SAULO Claro, eu trabalho o dia inteiro para trazer sustento para essa casa.

FILHA 1 – YASMIN Nem parece que somos irmãs...

MÃE – LARISSA Nós já sabemos de tudo.

PAI – SAULO É papel de mãe cuidar dessas coisas.

MÃE – HIVA Yasmin!

FILHA – GABRIELA Desculpa...

MÃE – HIVA Você deveria se importar com ambas!

FILHA 2 – ELOIZA Eu te odeio!

PAI – SAULO Como isso foi acontecer...

MÃE – LARISSA Você nunca está em casa. Eu tenho que fazer papel de pai e de mãe o tempo todo.

AVÓ dá de ombros. Antes que a MÃE continue falando, chegam as meninas.

MÃE – HIVA Eloiza!

MÃE – LARISSA Você não é mais a nossa princesinha...

FILHA 1 – YASMIN Boletiiim!

FILHA 2 (ELOIZA) sai de cena correndo.

FILHA – GABRIELA Eu ainda sou a mesma pessoa!

AVÓ – CAMILY Bom pra elas. MÃE – HIVA Você não se importa com o futuro das das suas netas? AVÓ – CAMILY Me preocupo com o futuro da Yasmin! MÃE – HIVA E a Elô? AVÓ – CAMILY Você sabe que a Yasmin é muito melhor que a Eloiza!

MÃE – HIVA Que notas ótimas, filha! FILHA 1 – YASMIN Obrigada!

PAIS EMPURRANDO A RESPONSABILIDADE SOBRE A FILHA – CASA

PAI – SAULO Saindo com meninas? Isso é uma aberração!

PAI (Saulo) está sentado lendo o jornal. MÃE (Larissa) vai conversar com ele. FILHA (Gabriela) está em seu quarto.

MÃE – LARISSA Eu te criei mulher e você vai ser mulher!

MÃE – LARISSA Saulo. Nós precisamos conversar.

FILHA – GABRIELA Mãe!

PAI – SAULO Oi.

PAI – SAULO Filha minha não vai ser sapatão!

MÃE – LARISSA Larga esse celular e fala comigo!

FILHA – GABRIELA Mãe... eu gosto da Rafa…

PAI – SAULO Sobre o quê?

MÃE – LARISSA Isso é culpa da televisão.

MÃE – LARISSA É sobre a Gabi. A nossa filha não é mais nossa princesinha.

FILHA – GABRIELA Isso não é culpa de ninguém. Eu sou assim.

PAI – SAULO Como assim?

PAI – SAULO Chega! Eu vou te tirar daquele colégio!

FILHA 2 – ELOIZA Me devolve!

MÃE – LARISSA Ela está namorando com uma menina.

FILHA – GABRIELA Eu vou embora dessa casa!

AVÓ – CAMILY Que notas terríveis são essas Eloiza? Está manchando o nome da família!

PAI – SAULO O quê?

FILHA (Gabriela) sai correndo.

AVÓ – CAMILY Que notas excepcionais! Tinha que ter puxado o meu lado da família! Enquanto FILHA 1 (Yasmin) é elogiada, FILHA 2 (Eloiza) tenta entrar de fininho sem ser percebida. MÃE – HIVA Ei, ei, ei... E o boletim? FILHA 2 – ELOIZA Ah... É que eles não entregaram para mim hoje... Eu vou pro meu quarto... FILHA 1 (Yasmin) pega o boletim que FILHA 2 (Eloiza) estava escondendo atrás das costas. Mostra para a avó.

FILHA 2 – ELOIZA Não estou!

MÃE – LARISSA É isso mesmo.

PAI – SAULO Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer.

MÃE – LARISSA É papel de pai estar presente.

PAI – SAULO O que você está falando! Isso tudo é culpa sua. MÃE – LARISSA É culpa minha? Talvez a Gabi não seja a única que precise ir embora dessa casa. SALA DE AULA – SEGUNDA PARTE PROFESSOR (Saulo) continua narrando o mito do Minotauro. Faz uma pergunta para a turma. PROFESSOR – SAULO Voltando ao conteúdo da aula sobre o Mito do Minotauro. Dédalo foi o arquiteto que construiu o labirinto para aprisionar o monstro. O labirinto tinha inúmeros corredores, salas e galerias, de onde ninguém conseguia sair sem ajuda. Os anos se passaram e o Minotauro cresceu no labirinto, longe de outras pessoas. Após a batalha entre Creta e Atenas, o rei Minos exigiu um tributo dos perdedores: todos os anos Atenas deveria enviar sete rapazes e sete moças para serem devorados pelo Minotauro no labirinto. Diante desse fato, um herói se ofereceu no lugar de uma das vítimas para poder derrotar o Minotauro. Alguém sabe o nome desse herói que foi enfrentar o terrível monstro? Nenhum aluno responde. PROFESSOR – SAULO Gian? ALUNO (Gian) está dormindo. PROFESSOR – SAULO Acorda o coleguinha, por favor.

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ALUNO – GIAN Eu tô acordado... ALUNO (Gian) volta a dormir. ALUNO (Vinicius) levanta a mão. ALUNO – VINICIUS Alguém viu minha lapiseira? ALUNO – LEONARDO Eu não peguei! PROFESSOR – SAULO Ninguém tá acusando. Vamos concentrar aqui. Teseu, filho de Egeu, foi o herói que se voluntariou como vítima para ter a chance de enfrentar o Minotauro. Quando chegou a Creta, Teseu conheceu Ariadne, filha de Minos e Pasífae. Anotem, por favor... PROFESSOR continua dando aula e escrevendo no quadro negro de costas para os alunos. Ao fundo ALUNA (Anna) chama ALUNA (Yasmin) ALUNA – ANNA Quer ir lá em casa depois? ALUNA (Yasmin) faz sinal de “não quero falar” enquanto mexe no celular. Nas mesas da frente os ALUNOS envolvidos na cola (Leonardo, Vinicius, Camily e Renata) copiam a tarefa da NERD (Hiva). A cola chega para ALUNA (Yasmin) que deixa de mexer no celular e copia. ALUNA (Rafaela) tenta colocar a mão em cima da mão da ALUNA (Gabriela). Ela puxa a mão.

PROFESSOR – SAULO Eu vou dar a chance de alguém me contar o que aconteceu. Silêncio. PROFESSOR – SAULO Hiva? CORO Não fala. Você vai se dar mal. Fica quieta. PROFESSOR – SAULO Pois bem. Se ninguém tem nada a dizer: todas as redações foram zeradas. Vejo vocês na recuperação. ALUNOS saem reclamando e frustrados. NERD fica em silêncio em sua carteira alguns momentos antes de levantar. CONVERSA ENTRE NAMORADAS – CORREDOR NAMORADA (Rafaela) procura NAMORADA (Gabriela) que está sentada em um banco da escola. CORO passa comentando. As duas conversam. A reprimida pelos pais quer negar que há qualquer coisa entre elas. CORO Hum... vocês duas de novo... NAMORADA – RAFAELA O que tá acontecendo?

NAMORADA– RAFAELA Já não basta todo mundo cochichando sobre de mim pelas costas, você não quer falar comigo cara a cara! NAMORADA – GABRIELA Eu preciso de um tempo. NAMORADA – RAFAELA Eu não estou te reconhecendo. AMIGA (Gabriela) sai. AMIGA (Rafaela) fica sozinha. ELOGIO DA REDAÇÃO – SALA DE AULA Professor chamando a ALUNA (Anna). Elogia sua escrita. Ela confessa que sempre quis ser escritora. ALUNA – ANNA Me chamou? PROFESSOR – SAULO Sim, eu queria elogiar sua redação. Achei muito bem escrita. Tem um trecho que você diz: “E sem saber porque fui trancafiado, vago por este labirinto procurando uma saída”. Foi uma ótima ideia escrever do ponto de vista do monstro. Mostrou criatividade. ALUNA – ANNA É que... eu gosto muito de escrever. Sempre quis ser escritora. PROFESSOR – SAULO Você devia se dedicar a isso. Tem talento. ALUNA – ANNA Obrigada.

ALUNO (Leonardo) derruba o caderno da ALUNA (Giuliana).

NAMORADA – GABRIELA Nada.

PROFESSOR – SAULO Por favor, chame teus colegas que vamos começar a aula de recuperação.

PROFESSOR – SAULO Certo. Este foi o conteúdo da aula de hoje. Semana que vem continuamos. Antes de irem, entreguem suas redações sobre o Minotauro.

NAMORADA – RAFAELA Você tá me evitando o dia inteiro.

ALUNA – ANNA Recuperação!

NAMORADA – GABRIELA Eu não quero mais te ver.

RECUPERAÇÃO – SALA DE AULA

PROFESSOR (Saulo) recebe as redações. Olha e percebe que algumas são copiadas.

NAMORADA – RAFAELA Como assim? E a gente?

PROFESSOR – SAULO Fiquem na sala: Leonardo, Vinicius, Camily, Yasmin, Renata e Hiva.

CORO Não é mais a princesinha.

SALA DE AULA – PROFESSOR EXIGINDO A VERDADE SOBRE A COLA

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PROFESSOR (Saulo) dá a chance para que ALUNOS (Yasmin, Leonardo, Vinicius e Camily) confessem que colaram. NERD (Hiva) também está sendo acusada. Ninguém se manifesta.

NAMORADA – GABRIELA Eu não consigo.

ALUNOS que colaram (Yasmin, Leonardo, Vinicius, Camily e Rafa) estão sentados juntos. ALUNA (Eloiza) está na primeira carteira, perdida. NERD (Hiva) está sentada ao fundo. ALUNO (Gian) está dormindo em uma carteira ao fundo. PROFESSOR (Saulo) dá as indicações.

PROFESSOR – SAULO Esta é a folha de exercícios de revisão que eu quero que vocês façam. Todos começam a resolver a tarefa. ALUNA (Eloiza) vira a folha, perdida, sem saber por onde começar. NERD (Hiva) senta na carteira ao lado dela. ALUNO (Gian) está dormindo em uma carteira. NERD – HIVA Quer ajuda? ALUNA (Eloiza) faz que sim. NERD – HIVA Olha, se você começar por aqui fica mais fácil... ALUNOS fazem a tarefa. PROFESSOR – SAULO Certo. É isso por hoje. Estão dispensados. Todos se levantam e vão embora. Exceto ALUNO (Gian) que ficou dormindo em sua carteira. SONHO Fuga do monstro. Coro cercando e limitando a movimentação do ALUNO (Gian). Segura em seus braços e pernas impedindo que ele se mova como se fosse um pesadelo. ALUNO (Gian) consegue se desvencilhar e sair correndo. Esbarra em uma parede de caixas que desmorona. Ao outro lado está o MONSTRO (Vinicius). Ambos se assustam um com o outro. ALUNO – GIAN Um monstro! MONSTRO – VINICIUS Um monstro! Ambos circulam ao redor um do outro com desconfiança. ALUNO – GIAN Por que você estava embaixo da minha cama? MONSTRO – VINICIUS Por que você estava em cima da minha? ALUNO – GIAN Eu só queria dormir, mas eu estava com medo de você!


MONSTRO – VINICIUS Eu também só queria dormir, mas estava com medo! ALUNO – GIAN Ah... MONSTRO – VINICIUS Ah…. MONSTRO (Vinicius) e ALUNO (Gian) fazem movimentos espelhados. Eles se acalmam. Ficam parados se olhando por um momento. Confronto com o monstro. Percepção de que não o monstro também tem medo. ALUNO – GIAN Você não é tão monstro assim. MONSTRO – VINICIUS Pois é, você também não. CONFRONTO ENTRE BOLSISTA E VALENTÃO – CORREDOR BOLSISTA (Giuliana) encontra o VALENTÃO 1 (Leonardo) sozinho. Confronta-o e diz que sabe do roubo do chocolate. VALENTÃO 1 – LEONARDO E aí, pobretona? BOLSISTA – GIULIANA Eu sei o que você fez. VALENTÃO 1 – LEONARDO Como assim, sabe o que eu fiz? BOLSISTA – GIULIANA Me dá um chocolate. VALENTÃO 1 – LEONARDO Tenho cara de mercado? BOLSISTA – GIULIANA Não. Tem cara de ladrão de mercado. VALENTÃO 1 – LEONARDO Você não sabe o que tá falando. BOLSISTA – GIULIANA Não sei? Seu ladrãozinho de chocolate.

BOLSISTA – GIULIANA É, vá embora! Ladrão! Ladrão! CORO Ladrão. Ladrãozinho. Ladrão. CENA DAS NOVAS NOTAS DO BOLETIM – CASA FILHA 1 (Yasmin) volta com o zero por ter colado e a FILHA 2 (Eloiza) com notas melhoradas. MÃE – HIVA Ligaram do colégio... AVÓ – CAMILY Aposto que foi pra falar da Yasmin! FILHA 1 (Yasmin) e FILHA 2 (Eloiza) chegam. MÃE – HIVA Fiquei sabendo que você tirou um zero em redação, Yasmin… AVÓ – CAMILY O quê? Um zero? Yasmin, onde já se viu isso... MÃE – HIVA E você, Eloiza, soube que foi bem na prova de recuperação. FILHA 2 – ELOIZA Sim, eu tirei um oito. Uma amiga me ajudou a estudar. MÃE – HIVA Que bom, filha! FILHA 1 – YASMIN Ah, que chato! FILHA 1 (Yasmin) sai revoltada reclamando. AVÓ (Camily) sai “gralhando” atrás dela. AVÓ – CAMILY Onde já se viu isso, Yasmin! Que vergonha! Achei que você era melhor que isso! MÃE – HIVA Viu, filha? Quando você se dedica, é capaz de tudo!

VALENTÃO 1 – LEONARDO Eu não roubei nada.

MÃE E FILHA FAZENDO AS PAZES – CASA

VALENTÃO 1 (Leonardo) fica acuado e vai embora.

MÃE (Larissa) bate na porta do quarto da FILHA (Gabriela) está sentada na cama.

MÃE – LARISSA Filha... eu só queria entender melhor o que você está sentindo... FILHA – GABRIELA Mãe... FILHA (Gabriela) se joga nos braços da MÃE (Larissa). Ela faz um carinho no cabelo da FILHA. MÃE – LARISSA De um jeito ou de outro, você vai sempre ser a minha filha, a princesinha... ADMISSÃO DO ROUBO DE CHOCOLATE – CASA MÃE (Larissa) sai do quarto. Na sala se encontra com FILHO (Leonardo). Este mostra um pacote de chocolate. FILHO – LEONARDO Mãe... MÃE – LARISSA De onde veio isso? FILHO – LEONARDO Do mercado. MÃE – LARISSA Eu não acredito que você fez isso. FILHO – LEONARDO Desculpa... MÃE (Larissa) pega o chocolate da mão do FILHO (Leonardo).

PROFESSOR – SAULO E o que aconteceu depois? ALUNA – ELOIZA Teseu utilizou a espada de seu pai, Egeu, para matar o monstro! ALUNO – VINICIUS E, graças ao fio que havia desenrolado ao percorrer o labirinto, achou o caminho de volta! ALUNA – HIVA Teseu liberta os jovens atenienses que seriam sacrificados. ALUNA – GABRIELA E volta para sua terra, como um grande herói! Toca o sinal. O professor está orgulhoso da turma. PROFESSOR – SAULO Muito bem, turma! Estão dispensados! MENINO INDO DORMIR – CASA FILHO (Gian) se prepara para dormir. Desta vez ele não está com medo. Ele fica sozinho no quarto. FILHO – GIAN Boa noite, monstro. MONSTRO – VINICIUS Boa noite, monstro.

MÃE – LARISSA A gente precisa ter uma conversa. FILHO – LEONARDO Tá. SALA DE AULA – TERCEIRA PARTE Alunos na sala de aula discutindo e interagindo. Final do mito do Minotauro. O professor faz perguntas e cada um deles responde uma frase. PROFESSOR – SAULO Muito bem, alguém sabe me dizer como Ariadne ajudou Teseu? ALUNA – GIULIANA Ela lhe deu um novelo de lã para que ele pudesse marcar seu caminho encontrar um jeito de sair do labirinto!

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PRODUZINDO ARTE A Estreia da

Companhia Teatral

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Após uma jornada intensa, experimental e totalmente colaborativa, finalmente ocorreu a estreia do espetáculo teatral no dia 2 de dezembro de 2018. A partir de então, uma série de apresentações gratuitas marcaram a difusão do espetáculo do Projeto Minotauro. O preparo dessas apresentações ocorreu em 2019, quando o elenco se tornou companhia teatral, focada na difusão da peça “Minotauro, do Teatro para a Vida”.

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OUTRAS APRESENTAÇÕES Após a estreia, uma série de apresentações gratuitas marcaram a difusão do espetáculo do Projeto Minotauro. O preparo dessas apresentações ocorreu em 2019, quando o elenco se tornou companhia teatral, focada na difusão da peça “Minotauro, do Teatro para a Vida”.

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14 de maio de 2019 O espetáculo teatral “Minotauro, do Teatro para a Vida” realizou uma apresentação como parte da programação da Semana Cultural de Curitiba. Além do público do evento, estiveram presentes os alunos do Colégio Estadual Campos Sales, de Campina Grande do Sul.

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18 de maio de 2019 A plateia da Escola do Ator Cômico, em Curitiba, estava lotada para receber o espetáculo teatral “Minotauro, do Teatro para a Vida”! Foi uma apresentação especial.

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28 de maio de 2019 O espetáculo foi muito bem recebido no Colégio Expoente — Boa Vista, de Curitiba. As duas apresentações foram realizadas de manhã, totalizando um público de 120 alunos. O elenco testou, pela primeira vez, o roteiro em um público essencialmente adolescente, familiar aos dramas retratados na peça, e o resultado foi excelente.

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5 de junho de 2019 A Escola Municipal Julia Amaral di Lenna recebeu o espetáculo teatral “Minotauro, do Teatro para a Vida”. Foram duas apresentações, totalizando 300 espectadores.

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12 de julho de 2019 O Projeto apresentou-se no 1.o Festival de Artes Cênicas de Colombo, concorrendo na categoria estudantil. Esta apresentação marca o encerramento do ciclo da peça teatral “Minotauro, do Teatro para a Vida”.

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e, t i o n a o B o! monstr

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Boa noite, monstro!



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