CASTELAO CONFIANDO NA FORcA DO NOSSO POVO
XIV EDIÇOM DIA DA GALIZA COMBATENTE 11 DE OUTUBRO DE 2014
Castelao. Confiando na força do nosso povo Textos políticos de análise e documentaçom nº14
Imprime: Setedous Comunicaçom Primeira ediçom: outubro 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORcA DO NOSSO POVO
XIV EDIÇOM DIA DA GALIZA COMBATENTE 11 DE OUTUBRO DE 2014
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
INTRODUÇOM Afonso Daniel Rodrigues Castelao é um mito de todos e todas aquelas que consideramos a Galiza a nossa única naçom, é um mito daquilo que chamamos projeto nacional galego. Um mito para o bom é para o mau, sendo um referente inescusável para o conjunto da política deste país. E como mito que é, atualmente é um fenómeno que caminha de forma independente em relaçom à sua própria obra. Castelao nom é Afonso Daniel Rodrigues Castelao, mas umha construçom simbólica levantada de forma compartilhada na concorrência entre diversas visons, tendências e formas de ver a emancipaçom nacional da nossa pátria. Castelao é para os e as patriotas galegas a voz emocionada de Tareixa Navaza enquanto o sinal autonómico da TVE mostrava as imagens tingidas polo castanho e as porras do regresso do rianjeiro para a Galiza pós-franquista em junho de 1984. Castelao é esse facto fundacional da consciência coletiva da esquerda nacional e é lugar de divergências e campo de batalha ideológica. Na prática importa pouco o que dixou ou pensou, importa é a etiqueta que cada qual queira atribuir. Castelao pode legitimar a aliança com o espanholismo ou a auto-organizaçom nacional, tal como a assunçom da autonomia e o rejeitamento da mesma, porque afinal também dá nome a um reconhecimento honorífico que detém grande parte dos maiores criminosos deste país. Na sua funçom simbólica, atribuir qualquer postura política concreta a Castelao é absurdo, tal como é absurdo definir-se ideologicamente em torno dele. Castelao pertence ao conjunto do nosso projeto de emancipaçom nacional, independente da divergência ou nom com o seu pensamento original, pois o homem de carne e osso se converteu numha outra cousa. Hoje, ao pensarmos em Castelao, nom visibilizamos nengumha vertente concreta da sua polifacética personalidade. Nom pensamos nem no genial artista nem no político brilhante, e sim numha figura enxuita e inclinada, com uns óculos grossos e um chapéu, assim como umha terrível história cantada por Suso Vaamonde. Talvez a principal figura de Castelao fosse a de propagandística, conseguindo converter-se ele mesmo em propaganda histórica. TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 05
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
Agora bem, Castelao como mito nom é qualquer cousa que deva ser interpretada negativamente. É possível que Castelao represente o protótipo de inteletual galeguista com a formalidade estética e retórica que aprisiona a esquerda nacional. Porém, também o padrinho dos fihos do nacionalismo popular que reclamavam “vingança e novo estado” na Transiçom, ou objetivo frustrado dumha das principais operaçons propagandísticas do EGPGC. A chave situa-se em que Castelao simbólico e mitológico deve revindicar a esquerda independentista, situando-se afastada das leituras reducionistas da sua potencialidade política. Necessitamos um Castelao que posiciona a Galiza como centro de todas as suas atividades, como um patriota integral que contribui no maior número de ámbitos possiveis para a libertaçom da nossa pátria. Castelao como construtor nacional nas artes plásticas e literárias, na política institucional e no verbo fero do mitim, o artigo e a banda desenhada. Mas também um Castelao que configura a língua como umha das prioridades do movimento nacional galego e assume umha ótica radicalmente reintegracionista. E um Castelao de esquerda e democrático, um defensor da batalha sem quartel ao fascismo, sem metáforas literárias, mas nos campos de batalha. Um Castelao como figura patriótica, reintegracionista e combatente. Um ARENGA EM MONTEVIDEO, ABRIL DE 1944 reduçom nom espúria e sim simbólica, como o resto de interpretaçons ideológicas que circulam pola superestrutura que é a política galega. Assumindo abertamente que é umha simplificaçom que nom recolhe nem pretende a totalidade complexa da figura de Daniel Alfonso Castelao, mas que se fundamenta numha realidade histórica. Na Galiza do século XXI, o verdadeiramente importante e necessario é o Castelao icónico e nom o AlfonsoDaniel Rodrigues Castelao histórico, que nom pode ser umha resposta ao reptos que enfrenta o nosso povo trabalhador. Esta é impossibilidade lógica que configura qualquer aproximaçom política a Castelao como um mero ponto de partida. Nom podemos fundamentar a nossa praxe política no Sempre em Galiza como se este fosse umha Biblia, porque o nosso país afronta problemas novos, diferentes e agravados. Mas também porque o desenvolvimento social, económico e político que sofreu a nossa pátria possibilita abordagens muito mais avançadas que no primeiro terço TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 06
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
do século XX. Nos dias de hoje, a confluência entre socialismo e libertaçom nacional que em vida de Castelao só se enxergava nas margens dos seu próprio espaço político, é hoje umha realidade com umha imperiosa necessidade de vencer. Além de mais, o patriarcado como instituçom opressora de mais de metade de populaçom conforma umha tripla opressom nacional e social de género que nom existe na obra de Castelao. E nom existe porque é impossível que exista, mas por isso mesmo devemos ir além deste patriota exemplar. A realidade muda a cada passo, mudando também as análises e construçons políticas fundamentadas nela. As demandas, as táticas e as estratégias que povo galego precisa nom se acham petrificadas em nengum autor ou personagem galego, umha vez que as nossas próprias formulaçons políticas avançam e retrocedem. Castelao é um dos nossos, porque a sua perícia vital é fundamental na construçom das visons políticas hoje assentes no independentismo revolucionário galego. E é-o porque o seu próprio pensamento historiza-se consoante o agravamento da opressom espanhola sobre a Galiza. Nom podemos fazer o que fijo Castelao no ano 36, porque seguramente o próprio Afonso Daniel nom o repetiria. A mímese é absurda, mas nom por isso devemos deixar de estudar a biografia de Castelao, nom por obrigatória fidelidade com a sua obra, e sim como mostra concreta da evoluçom do nosso movimento nacional e da existência de pontos de ruptura fundamentais com o pensamento anterior.
UMHA DAS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS DO PATRIÓTA GALEGO
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 07
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
BIOGRAFIA DE CASTELAO Afonso Daniel Castelao nasceu 30 de janeiro de 1886 na vila de Rianjo, sendo o primogénito dumha família de extraçom popular naquele momento. Aginha sofreu o drama da emigraçom, ao se dirigir o pai para a Argentina, tal como muitos outros compatriotas, convertidos em força de trabalho para a exportaçom. Isto provocou que Castelao fosse criado por seus avós maternos, num ambiente popular enquanto o seu progénitor ascendia socialmente na emigraçom.
COM SEIS ANOS
Porém, a ponto de fazer os dez anos partiu, acompanhando a sua mae, à Pampa argentina, para se instalar numha “pulperia”, ou o que é o mesmo, umha loja de produtos variados e álcol a serviço das bravas gentes que habitavam aqueles lares (e onde um quarto de século depois outro galego –António Soto-, dirigiria umha rebeliom popular de amplas consequências). Castelao experimenta assim nas suas próprias carnes umha das principais problemáticas da Galiza da mudança de século e que refletiria com grande dimensom na sua obra artística. Mas nom só, a emigraçom que padece Castelao é mais um fator na construçom nacional galega, constituindo-se num drama coletivo que, assim como as epopeias, reforça a consciência comum. Castelao é parte disto e, com certeza, esta experiência tivo um correlato na sua trajetória posterior. TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 09
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO COM A SUA FAMÍLIA EM BUENOS AIRES, DIAS ANTES DE RETORNAR À GALIZA
E ainda que esta experiência nom tivesse um influência direta na sua evoluçom posterior, o certo é que mudou a sua condiçom social para sempre. Castelao é filho dum novo rico produzido pola emigraçom, dum desse “rara avis” do modo de produçom capitalista que na Galiza condicionárom grande parte da formulaçom da política de elites locais. Na prática, isto traduziu-se em duas circustáncias interrelacionadas. Por um lado, a realizaçom por parte de Castelao de estudos universitários; e por outro, a entrada de seu pai em política, através do conservadorismo maurista. Assim, Castelao regressa à Pátria nem 1900 para estudar o Bacharel e começar em 1903 (ano em que o seu progenitor regressa com o capital acumulado na Pampa) o curso de Medicina na Faculdade de Compostela. Ora bem, o período universitário de Castelao nom se pode destacar polo seu compromisso social ou político, nem tam sequer polo seu patriotismo. Sendo honestos, o Castelao universitario é o paradigma de filho de novo rico, pertencendo àquela juventude “valleinclanista” que Manoel Antonio e Álvaro Zebreiro tam bem definírom, e que se caraterizava pola tuna, o fular e o esperpento. Castelao é assim um tipo popular, em quem rebenta o talento para a arte plástica com o dom da caricatura. Este é um talento que desenvolve em Madrid, cidade aonde acode para realizar o doutoramento, ao concluir, em 1909, os estudos de Medicina, mas onde o único que desenvolve é a sua perícia plástica. Isto supom-lhe um pequeno confronto familiar, ao subordinar a Medicina à arte, mas regressa a Rianjo para exercer de médico. Neste momento aparecem-lhe as primeiras crises de saúde ao padecer de tuberculose. Na prática, a primeira participaçom política de Castelao produz-se no seio do conservadorismo maurista no qual militava seu pai e liderava em Rianjo. Assim, Daniel Rodrigues Castelao colabora no fundaçom do semanario “El Barbero Municipal”, órgao de expressom do Partido Conservador de Rianjo, no qual coincide com Eduardo Dieste. A partir TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 10
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
daqui é que Castelao começa a confluir com o agrarismo e a se formar a sua figura anticaciquista. Isto, que pode parecer paradoxal, está plenamente inserido na dinámica política da época, na qual o maurismo se apresentava continuamente como remédio contra o caciquismo e perante um agrarismo que nom era per se um movimento de matriz popular, constituindo antes um amálgama social com diversos interesses e que as elites rurais costamavam hegemonizar. Nom sabemos porque Castelao assume com tanto vigor estas duas frentes, se por mero acidentalismo ou por umha preocupaçom sincera, mas o importante é a continuaçom. E em Castelao o anticaciquismo e o agrarismo configuram-se como os dous elementos referências na primeira etapa política do rianjeiro.
Problemas de saúde e nova vida em Ponte Vedra E a partir delas evolui até participar das Irmandas da Fala, já em 1916. Porém, em 1914 tem grande importáncia umha questom de saúde: a sua primeira crise de visom devido a um despreendimento de retina. Esta circustáncia diminu-lhe a visom para sempre, estando a ponto de ficar cego, e levou-no a potencializar a vertente literária sobre a pictórica, assim como a reforçar uns traços de personalidade mais intimistas. Porém, com certeza, a conseqüência mais importante foi a sua decisom de se apresentar à vaga de funcionário público no Instituo Geográfico Estatístico, ganhando-a e sendo destinado a Ponte Vedra. Estabelecer a sua morada na cidade do Leres também supom a meio prazo umha localizaçom determinada dentro do nacionalismo galego organizado nas Irmandades, devido a que se aproxima da inteletualidade do galeguismo conservador nucleada à volta de Antom Lousada Diegues. Isto, além de umhas certas consequências de temática cultural (entre elas a criaçom em 1927 do Museu de Ponte Vedra), supom o enquadramento de Castelao na vertente mais política, mas também na mais conservadora do nacionalismo galego da altura. Nas Irmandades da Fala confluíam duas tendências políticas com diferentes visons sobre a questom nacional galega e com umha série de táticas diferentes em torno da forma de atuaçom. Este foi umha divisom que marcou todo o nacionalismo galego da pré-guerra, constituindo umha divisom dicotómica que a progressiva apariçom de pequenos setores que TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 11
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
unificavam socialismo e nacionalismo, ou assumiam posturas claramente independentistas nom dérom diluído. Estamo-nos a referir à existência dum grupo de tendência democráticoliberal com epicentro na Irmandade de Corunha, caraterizado polo seu republicanismo e a consideraçom inicial do galeguismo como umha questom fundamentalmente cultural; e outra com um claro ressaibo tradicionalista e conservador, que pretendia para o nacionalismo um espaço político autónomo, mas que situava como elementos basilares do mesmo fatores claramente organicistas, como o território ou a raça.
CARIMBO DA IRMANDADE NAZONALISTA GALEGA À QUE CASTELAO PERTENCEU. 1922
Artísta orgánico do nacionalismo Castelao situa-se em primeira instáncia próximo dos primeiros mas a influência de Antom Lousada, assim como outros elementos de difícil quantificaçom (como pode ser o conservadorismo familiar ou o seu patriotismo por cima de todo), conduzem-no paulatinamente para o segundo. Na prática, Afonso Daniel Rodrigues Castelao converte-se numha sorte de “artista orgánico” ao serviço deste setor mais conservador, circustáncia que se verá claramente quando comece a fazer parte do grupo fundador da revista “Nós”, nucleada por Outeiro Pedraio e Vicente Risco, considerado por Castelao considera como referente político. Esta evoluçom continua com a divisom das Irmandades da Fala na IV Assembleia de Monforte de Lemos, em 1922, na qual Castelao toma partido pola postura mais política e conservadora, que dá passagem à fundaçom da Irmadade Nazonalista Galega, liderada por Vicente Risco. Ora, essa posiçom mais claramente favorável a um auto-organizaçom política do nacionalismo galego tem pouco percurso, ao começar a Ditadura de Primo de Rivera e com a qual grande parte dos dirigentes da ING colaboram ativamente. Nom é este o caso de Castelao, que com estes factos começa a afastar-se paulatinamente desta tendência e aproximando-se daquela que podemos situar mais à esquerda. Porém, mais umha crise de visom em 1927 e a morte do seu único filho em 1929, reproduz nele outra vez o estado de angústia e crise existencial que com certeza o condiciona politicamente.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 12
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
CELEBRAÇOM DO DIA DA PÁTRIA DE 1930 EM VIGO
Fundaçom do Partido Galeguista Assim, depois da queda da ditadura primoriverista, surgem a começos de 1930 os primeiros movimentos de reorganizaçom do galeguismo político. Assim, a Irmandade corunhesa participa da constituiçom da Organizaçom Republicana Galega Autónoma, a qual, apesar das iniciais declaraçons de intençons, acabará convertendo-se na sucursal galega do azañarismo, fundamentalmente através do seu principal lider, o timorato Casares Quiroga. Porém, a principal modificaçom estrutural do espaço político galego produz-se com o Compromisso de Barrantes, no qual as duas tendências do nacionalismo confluem com o republicanismo atuante na Galiza, para se coordenarem com o fim de establecer um estatuto de autonomia na II República espanhola. Isto, entre outras cousas, significou para Castelao atingir ata de deputado nas Cortes Constituintes Republicanas, sendo o deputado mais votado na “província” de Ponte Vedra. Porém, o avanço fundamental para a causa galega produz-se com a constituiçom do Partido Galeguista a 6 de dezembro de 1931, no qual confluem organicamente as velhas Irmandades divididas, criando-se um cenário perfeito para o crescimento social e continuado. Aqui Castelao age já como um claro dirigente político, longe do seu perfil dum simples artista genial que adere à causa para se conformar como um quadro político que desenvolve o seu trabalho em diversas frentes, sempre com a mesma mensagem: Galiza. Além do mais, o PG é em parte reflexo da postura ideológica de Castelao naquele momento, umha auto-organizaçom do nacionalismo como força política dentro do republicanismo.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 13
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
Porém, o Partido Galeguista também era aguilhoado por diversas contradiçons e complexos. Com umha democratizaçom orgánica a respeito da ING, mas configurando-se como um partido de elites que nom recolhia na sua filaçom as grandes massas camponesas e operárias que naquele momento se punham a andar, nom era capaz de abandonar grande parte dos complexos anteriores. O nacionalismo ou o galeguismo continuavam em grande parte sendo ideologias tradicionalistas, que apostavam na República por mero acidentalismo, mas que reservavam para a religiom e a idealizaçom de antigos tempos sem contradizaçom de classes, lugares fundamentais do seu sistema ideológico. É complicado saber a postura concreta de Castelao naquela altura, mas nom fica duvida que a evoluçom das contradiçons durante a República espanhola forom situando-o cada vez mais à esquerda.
RASCUNHO DE CARTAZES DE PROPAGANDA PARA O ESTATUTO DE AUTONOMIA. FEVEREIRO DE 1933
Evoluçom ideológica progressista Fundamental nisto é o Biénio Negro republicano, que congela os estatutos de Autonomia e desterra Castelao para Badajoz (lugar onde começa a escrever os artigos de opiniom conhecidos com o sugestivo título de “Verbas de Chumbo” (Palavras de Chumbo) que constituirám posteriormente o “adro” do “Sempre em Galiza”). Isto provoca o escoramento de Casteao para posturas cada vez mais próximas da esquerda e inclusive da retórica socialista, afastando-o cada vez mais do núcleo tradicionalista de Risco e Outeiro Pedraio. Especialmente, quando vislumbra que a necessidade de pactuar com a esquerda republicana e socialista na que se conhecia como Frente Popular é prioritária para o nacionalismo galego. O Partido Galeguista finalmente acode às eleiçons dentro da Frente Popular, o que provoca duas cisons pola direita da organizaçom (umha delas semanas antes do golpe de estado) e que Castelao saia mais umha vez deputado nas cortes madrilenas. Estas eleiçons constituem na Galiza um sucesso notável da Frente Popular na Galiza e servem de impulso para a reativaçom do Estatuto que é plesbiscitado a 28 de junho de 1936.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 14
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
ENTREGA DO ESTATUTO DE AUTONOMIA DE GALIZA NAS CORTES ESPANHOLAS EM JULHO DE 1936
Em Madrid no dia do levantamento fascista Porém, este Estatuto considerado insuficiente desde o inicio por Castelao, nunca chegaria entrar em vigor porque dias depois da sua entrega ao Governo espanhol se produz o golpe de estado fascista. Esta circustáncia, junto com a sua condiçom de deputado, situárom fisicamente Castelao em Madrid, o que com certeza lhe salvou a vida, junto com um tremendo sentimento de dívida com os que ficárom na Pátria e fôrom selvagemente assassinados. Castelao já nunca voltou para a Galiza e, neste contexto, pom a sua pena e o seu prestígio ao serviço dumha República que encarnava a resistência ao fascismo numha retórica cada vez mais impulsionada polo PCE. Esta realidade leva a umha aproximaçom de Castelao em relaçom ao mesmo, nom fundamentada em parámetros ideológicos, mas pola simples necessidade e um certo sentimento do dever. Assim, Castelao contribui para organizar em Madrid umhas milícias galegas, em colaboraçom com PCE. Mas nom só. Castelao dedica-se durante a guerra a promover nas Cortes a aprovaçom do Estatuto e a tentar mobilizar os galegos e galegas em prol do bando republicano. Converte-se num hábil propagandista que utiliza diversos meios para o seu fim, voltando a exibir um hábil talento plástico, agora ao serviço da vitória contra o fascismo e da vingança polos mártires caídos. Porém, junto com a sua entrega absoluta à vitória republicana vai decaindo nele umha clara deceçom com a natureza claramente espanholista dumha II República que responde ao fascismo com o reforçamento de umha “unidade nacional” em que a Galiza era pouco menos que um incómodo. Isto é claramente PORTADA DO SEMPRE EM GALIZA dececionante para Castelao, que o reflete com toda a crudeza em dúzias de páginas do Sempre em Galiza.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 15
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
Propagandista antifascista O seu labor de propagandistica também o levou além dos Pireneus, chegando a visitar, acompanhado por Luis Soto, a URSS entre 20 de abril e 20 de maio de 1938, deixando-lhe umha grata impressom e conseguindo expor lá umha obra sobre o martírio da Galiza. Também visitou Nova Iorque, sendo o início dumha tourné de campanha em favor da República que o levou polas principais cidades dos Estados Unidos da América e também de Cuba, onde colaborárom com ele ativamente as coletividades emigradas. Nestas tournés, nas quais já na prática exerce como um “derrotado” mostra umha grande ligaçom com os trabalhadores e trabalhadoras da nossa emigraçom, que se estende às camadas mais baixas das sociedades estado-unidense e cubana e que reflete em forma de desenhos sobre negros e asiáticos.
CASTELAO NUMHA CONFERÊNCIA EM BUENOS AIRES EM 1938
Exilado e emigrado na Argentina Porém, a sua situaçom nos EUA é precária e procura a viagem a um lugar com umha maior coletivadade galega como é a Argentina, onde Castelao exerce já nom só como refugiado mas também como emigrado, situando na emigraçom galega o epicentro do seu agir político. Funda assim o Conselho da Galiza, que consegue a aprovaçom do Estatuto de Autonomia polas Cortes republicanas reunidas no México, e viaja a Paris em 1946 para participar no governo do exílio presidido por José Giral como Ministro em representaçom da Galiza. Esta, se calhar é a última participaçom ativa com os restos da República espanhola, com a qual fica amplamente dececionado, mostrando a sua desilusom em forma de lamento ao longo dumha dura viagem de volta no paquebote Campana, como reflete no Sempre em Galiza. E é aqui, na França, onde começam a se manifestar os primeiros sintomas do cancro que portava no seu interior. Umha doença que iria a mais até se desenvolver completamente em forma de cancro de pulmom a começos de 1949. Reclui-se cada vez mais desde esta data, para morrer 7 de janeiro de 1950 no Sanatório Galego de Buenos Aires, sendo enterrado no Cemitério da Chacarita. Porém, este funeral nom foi o único, pois 34 anos mais tarde os
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 16
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
CONTRADIZENDO A ÚLTIMA VONTADE DE CASTELAO, OS SEUS RESTOS SOM TRANSFERIDOS À GALIZA 28 DE JUNHO DE 1984. CENTENAS DE PESSOAS PROTESTAM PRODUZINDO-SE COMBATIVOS CONFRONTOS COM A POLÍCIA ESPANHOLA
responsáveis do seu exílio pretendêrom voltar a enterrá-lo no cemitério compostelano de Bonaval para matar o símbolo. Parece que nom o conseguírom e continuam na tática de o reduzirem a um simpes literato e caricaturista, tal como o fascismo no momento da sua morte: “Habiendo fallecido en Buenos Aires el político republicano y separatista gallego Alfonso Rodríguez Castelao se advierte lo siguiente: La noticia de su muerte se dará en páginas interiores y a una columna. Caso de insertar fotografía, esta no deberá ser de ningún acto político. Se elogiarán únicamente del fallecido sus características de humorista, literato y caricaturista. Se podrá destacar su personalidad política, siempre y cuando se mencione que aquella fue errada y que se espera de la misericordia de Dios el perdón de sus pecados. De su actividad literaria y artística no se hará mención alguna del libro "Sempre en Galiza" ni de los álbumes de dibujos de la guerra civil. Cualquier omisión de estas instrucciones dará lugar al correspondiente expediente”.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 17
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
Principais traços do seu pensamento Como expressamos anteriormente, reduzir o pensamento de Castelao (ou de quaquer outra figura) a umha série de traços fixos e inmutáveis é impossível. Porém, sim é factivel destacarmos umha série de constantes ou linhas evolutivas da sua açom teórico-prática, fundamentalmente a partir de como evolui a partir das contradiçons do discorrer da história do primeiro quartel do século XX lhe ocasiona.
-Conceçom Nacional: Para Castelao, a Galiza é a umha naçom, sendo a sua única Pátria. Isto é inegável, mas é preciso pontualizar a ideia que Castelao possuía sobre o que é umha naçom e como se desenvolvia a respeito dos projetos nacionais em disputa. Em síntese, Castelao defendia umha conceçom organicista da naçom, como um ente existente em si mesmo a partir dumha série de carateres eternos. A essência é a mesma que a filosofia risquiana, que fundamentava na raça a essência nacional galega, porém substiuindo este aspeto fundamental por umha série de caraterísticas determinadas por Estaline. De Risco a Estaline, sem mudar a conceçom, devido às condiçons dumha época em que acabou publicando para a CNT e o PCE ao mesmo tempo, e tendo Luís Soto como secretário pessoal. Recalcamos isto, porque esta visom da naçom como um ente físico que existe independentemente da vontade concreta dos seus nacionais, tem umhas claras consequências na visom política da emancipaçom nacional no território da Península Ibérica. Para Castelao, existiam 5 naçons na Peninsula Ibérica (Galiza, Euskadi, Catalunya, Castela e Portugal) e a sua proposta era um Estado Federal no qual a hegemonia de Castela se visse superada. Substituir Espanha por Hespanha e ser Hespanhóis, mas nom castelhanos. Na prática isto deve-se à umha visom fixa e a duas dimensons da realidade como resultado desligar a problemática nacional do confito político, mas como ente a redimir.
-Reintegracionismo lingüistico: Para Castelao era fundamental a língua como garantia de sobrevivência nacional e considerava o futuro desta como umha questom claramente política e de vontade. Realmente isto relativiza um pouco o expressado no anterior ponto, ao ser a língua um caráter fundamental para a existência da nacionalidade segundo Castelao. E para Castelao, a emancipaçom nacional passava obrigatoramente pola dignificaçom lingüística da que nom encontrava prova mais evidente que além do Minho. Afonso Daniel Rodrigues Castelao observava a partir da língua umha identidade entre as duas bandas da “Raia” e aguardava umha reintegraçom através da dignificaçom do galego a partir da política. Mas nom só, pois achava no português um apoio fundamental na recuperaçom lingüistica, assim como umha janela ao mundo. O patriota de Rianjo era um reintegracionista integral.
-Proto-independentismo: Na maior parte da sua vida, Afonso Daniel Rodrigues Castelao apostou na via federalista para a Galiza, inclusive poderia afirmar-se que morreu desejando umha “Hespanha Federal”. Ora bem, existe umha cumulativa e constante deceçom com a esquerda espanhola que atinge o grau máximo durante a Guerra Civil espanhola, com o maltrato constante à causa galega. Castelao denuncia o vexame que sofrem as Milícias Galegas por afirmarem orgulhosas que avançárom 500 metros em direçom à Galiza. Reage contra aqueles que acusavam as Autonomias de dividirem, ataca todos aqueles que desconfiavam da lealdade democrática do povo galego e acaba por afirmar que “Nom temos nengumha fé nos espanhóis; mas temo-la em nós mesmos e nas ideias que professamos”. TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 18
ESCUDO NACIONAL DESENHADO EM 1937 PARA UM ESTADO GALEGO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
ORIGENS DO DIA DA GALIZA COMBATENTE Em julho de 2001, a Direçom Nacional de NÓS-Unidade Popular acorda instaurar o 11 de outubro como Dia da Galiza Combatente. Até esse ano, a esquerda independentista coincidia com o nacionalismo e o galeguismo na celebraçom a 17 de agosto do Dia da Galiza mártir, aniversário do assassinato de Alexandre Bóveda polo fascismo espanhol. Também a 12 de agosto honramos a morte em combate em 1975 do militante comunista e independentista Moncho Reboiras, num confronto com a polícia espanhola. Mas ambas datas fôrom parcialmente disvirtuadas e desprovistas do seu conteúdo genuíno até se converterem em atos nostálgicos. Despreendidos da mística reivindicativa e da vigência da luita pola qual ambos patriotas, com as suas diferenças ideológicas e temporárias, entregárom a sua vida, era necessário delimitar também neste ámbito o nosso projeto revolucionário do que representa o nacionalismo. Para homenagear num só dia todas as galegas e galegos que em diferentes etapas históricas e projetos políticos fôrom represaliados ou perdêrom a vida pola sua entrega à causa de umha Galiza mais justa e soberana, a nova esquerda independentista decidiu instaurar esta nova data. Na madrugada de 11 de outubro de 1990, Lola Castro Lamas “Mariana” e José Vilar Regueiro “Marcos”, membros do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 21
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
(EGPCG), morriam ao fazer-lhes explosom acidentalmente um artefacto destinado a combater os interesses do narcotráfico na Galiza. Tal como manifestou NÓS-UP em 2001 na primeira ediçom do Dia da Galiza Combatente “enquanto outros luitadores e luitadoras passárom à nossa História por direito próprio, sobre Lola e José semelha pairar um manto de silêncio e esquecimento. Manto que é a nossa obriga destruir para restituí-los ao lugar que merecem. A nós unicamente nos corresponde a homenagem, o reconhecimento político à sua generosidade e combatividade nesta luita que continuamos e, finalmente, o compromisso coletivo de que as suas vidas, como a de Moncho, as de Amador e Daniel, as do “Piloto”, Zélia, “Foucelhas”, Benigno Álvares, Alexandre ou os fusilados em Carral, nom cairám no esquecimento nem passáram a ser as últimas expressons de rebeldia de um povo que existiu”. Nesta primeira efeméride, NÓS-UP deixava claro que “nom está na nossa intençom consolidar umha data para um calendário reservado a independentistas com cartom militante”. Desde que em 2001 NÓS-UP celebra o Dia da Galiza Combatente, a data foi-se socializando e consolidando-se na agenda política da esquerda independentista.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 22
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
AS EDIÇONS PRECEDENTES 2001 Tem lugar na praça do Concelho de Culheredo, a terra natal de José Vilar, a primeira ediçom da efeméride convocada como “Concentraçom e ato político em lembrança d@s noss@s compatriotas caídos e represaliad@s na luita pola liberdade da Galiza”. “Dim que nom se perde um direito enquanto houver alguém que o reclama. Quando em junho passado constituíamos em Compostela esta emergente organizaçom de massas para a libertaçom nacional, sabíamos que nom partíamos de zero: desde os textos dos cronistas da Antigüidade, que nos falam de um povo combativo e de mulheres indomáveis, até a morte num operativo militar de Lola e José em 1991, ou a luita em prisom dos presos e presas independentistas em 2001, a nossa história foi a de um povo capaz de impulsionar as primeiras revoltas populares da Europa moderna, capaz de desenvolver resistências para enfrentar o processo de “Doma y Castración del Reino de Galicia” impulsionado pola Coroa de Castela. Um povo que, já bem entrado o século XIX, tinha militares insurgentes que afirmavam, de jeito provavelmente rudimentário, a existência da Galiza como sujeito de direitos nacionais. Esse mesmo povo sustentou política e materialmente desde 1936 umha guerrilha urbana e rural antifascista cujo último resistente caía em 1965, articulou na clandestinidade organizaçons nacionalistas de massas e desenvolveu, no último quartel do século XX, três projetos político-militares para a sua própria libertaçom nacional e social”.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 23
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
2002 Sob a legenda “Para que Galiza viva” a cidade de Ponte Vedra acolhe a segunda ediçom. O ato político decorre na praça de Curros Henriques, onde Alexandre Bóveda conta com umha modesta estátua. “Aqui nom estamos para chorar quatro mortes, mas para recolher quatro fusis e quatro exemplos. Hoje mais que nunca, é necessário rachar o véu da “normalidade democrática” com que o poder espanhol quer ocultar o caráter conflituoso e violento da opressom. A Galiza combatente está viva. Está-o nas luitas vicinais, nos conflitos operários, nas greves gerais, nos enfrentamentos populares à ordem vigente, na resistência estudantil, nas respostas à polícia e nas sabotagens anónimas aos interesses turísticos, comerciais e financeiros do inimigo que se venhem produzindo nos últimos meses. Está-o nas ruas, nas paróquias, nas aulas, nas fábricas e nos centros de trabalho da nossa naçom. Segue a está-lo nos coraçons e na vontade dos melhores filhos e filhas do povo trabalhador galego, na sua dignidade inquebrantável, no seu valor, no seu amor sem limite à Terra e à Liberdade”.
2003 “A luita é o único caminho” foi a palavra de ordem que comemorou a data em Ferrol, com umha concentraçom na rua da Terra, ao lado da casa onde caiu abatido Moncho Reboiras por balas espanholas. “O MLNG reivindica em solitário esta data porque só ele reconhece a sua carga política, o seu sentido atual: a existência dumha linha e a obrigaçom de continuá-la por ser a única garantia de avanço. Eis a nossa transcendência e a nossa responsabilidade. Há ainda muit@s denominad@s nacionalistas que temem umha aproximaçom sincera à nossa história e ocultam ou maquilham capítulos e figuras imprescindíveis da nossa luita. Som aqueles/as, e nom por acaso, que mais temem a auto-organizaçom, a construçom e o combate; @s submid@s num pesimismo ou cobardia crónicas que os fam pospor indefinidamente o compromisso e o ativismo, tentando contagiar com autismos paralisantes. Enquanto Espanha e o Capital apertam as gadoupas sobre o nosso povo trabalhador, se desenvolve umha gravíssima involuçom fascistoide e se consuma o processo de destruiçom nacional, patriotas de cartom e pseudonacionalistas de distintas cores procuram sucedáneos, entretenhem-se em milagres e jogam de maneira hipócrita à desorientaçom e o confusionismo”.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 24
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO 2004 Na praça do Toural do bairro de Teis de Vigo, celebramos a quarta ediçom. “PSOE-PP a mesma merda é. Adiante a luita obreira e nacional”. “Aqui em Vigo, tivo lugar o nascimento da primeira organizaçom independentista de pós-guerra. O Partido Galego do Proletariado foi concebido no Vigo obreiro de 1976-77 e fundado em março de 1978. Aqui foi onde a esquerda independentista apresentou a sua primeira candidatura eleitoral com Galiza Ceive nas municipais de 79. Daqui eram muitos dos detidos na batida contra a LAR em
setembro de 1980. Este é o Vigo de que nós nos reclamamos e sentimos continuadoras/es. O Vigo das três greves gerais de 1984 contra a reconverson industrial do PSOE. O Vigo das dúzias de moços insubmissos que se negárom a participar no exército espanhol na década de noventa. O Vigo das luitas estudantis contra Vitrasa. O Vigo solidário e internacionalista. O Vigo ecologista contra o cemitério nuclear da fossa atlántica. O Vigo que em junho acolheu dezenas de milhares de mulheres na maior mobilizaçom feminista da Galiza. O Vigo que defende o seu litoral, o Vigo que se opom a “ronda”. O Vigo que ainda acolhe perseguidos e clandestinos como nos anos trinta”.
2005 Ao pé do monumento aos mártires de Carral reivindicamos “Galiza por umha política de esquerda”. “Desde o primeiro momento em que NÓS-UP decidiu marcar esta data como Dia da Galiza Combatente, a ideia foi fazer dela um referente aberto que incluísse todo o leque de iniciativas das mais diversas formas de luita que o nosso povo tem desenvolvido ao longo de todos estes anos como forma de autodefesa frente às políticas assimiladoras do nosso inimigo histórico, o Estado espanhol e as suas classes dirigentes. Ao contrário do que fam outras organizaçons que enaltecem figuras históricas, amiúde limando-lhes as arestas mais incómodas e contraditórias com a sua prática política actual, chegando à ocultaçom e a manipulaçom, nós nom temos nengum reparo em fazer público o reconhecimento de todas essas formas de resistência que definírom a história do nosso nacionalismo. Umha história que é também a história da repressom e a conculcaçom de direitos, por isso sempre havemos de estar do lado galego e popular neste longo confronto que mantemos em defesa do nosso direito à existência como naçom diferenciada e classe emancipada.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 25
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
O contexto atual da luita de libertaçom nacional galega, que no nosso caso está indissoluvelmete ligada à luita social pola emancipaçom do nosso povo trabalhador e o combate ao patriarcado como forma de submetimento de metade da populaçom galega, responde a umhas coordenadas novas que nos obrigam a reorientar tacticamente o nosso trabalho político”.
2006 No Alto do Furriolo, na Terra de Cela Nova, NÓS-UP realiza umha “Homenagem nacional às vítimas do holocausto galego. 1936-2006 a luita continua!”. “Hoje estamos aqui porque recolhemos os ideais de liberdade e emancipaçom do movimento operário e popular galego de 1936, cujo horizonte nom era, nem muitíssimo menos, como falsamente historiadores e politicos pogres afirmam, consolidar a democracia burguesa republicana, mas sim, tal como hoje modestamente fai a esquerda independentista representada por NÓS-Unidade Popular, acumular forças sociais necessárias, mediante a luita política, social e ideológica, para mudar de raíz este regime injusto e opressor empregando a imensa torrente da razom e da consciência livre e plenamente assumida pola maioria social que num abrente de alegria e amor denominamos Revoluçom Socialista. Só cretinos e canalhas podem afirmar que os objetivos de boa parte das forças organizadas ou que apoiárom eleitoralmente a vitória de Fevereiro de 1936 da Frente Popular se reduziam a manter a anémica “ditadura” da burguesia liberal encabeçada por Casares Quiroga”.
2007 À beira do monumento a Simón Bolívar, na rua Venezuela de Vigo, comemoramos a sétima ediçom sob a legenda “Até a vitória sempre. A solidariedade é a ternura dos povos”. “Nom renunciamos à longa trajetória combativa de nosso povo, e aspiramos a continuá-la ao longo da espiral da história que deve projetar-nos para um futuro de liberdade nacional, situando-nos do lado dos povos que luitam por superar o capitalismo e fazer do mundo um lugar mais habitável e justo do que hoje é. E é nesse ponto que ligamos a convocatória deste ano com o quadragésimo aniversário da morte do que foi paradigma da luita nacional e internacional por um outro mundo: Che Guevara, argentino entregado à causa do povo cubano até a vitória e posteriormente comprometido com as luitas de
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 26
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
outros povos africanos e latino-americanos, fusilado extra-judicialmente por ordem da CIA estado-unidense, representa como ninguém as virtudes do militante integral polo socialismo e a independência dos povos. Porém, ele nom é um caso único ou isolado. Milhares de trabalhadores e trabalhadoras, de homens e mulheres militantes de causas justas morrêrom no último século e meio em luita pola derrota do capitalismo e pola conquista da verdadeira soberania para os povos. E muitos deles figérom-no, como o Che, alinhando com movimentos revolucionários noutras latitudes diferentes às dos seus lugares de nascença. Dentre eles e elas, salientamos na comemoraçom de hoje os galegos e galegas que entregárom as suas vidas à causa do internacionalismo”.
2008 No farol de Meirás, em Valdovinho, sob a legenda “A luita pola independência também tem nome de mulher” organizamos a oitava ediçom. “Convocamos a VIII ediçom do Dia da Galiza Combatente conscientes de que a luita pola independência também tem nome de mulher. E é por isso que, fartas de tantas mentiras e tantas ocultaçons históricas, somos nós as mulheres revolucionárias galegas que temos a responsabilidade de contribuir para mudar isto. Hoje, à beira deste mar de dias bravos como as jornadas de luita nosso povo, a esquerda independentista e socialista desta naçom com nome de mulher chamada Galiza queremos e devemos projetar luz sobre as mulheres que ao longo da história participárom nos mais diversos episódios de rebeldia contra a dominaçom e as injustiças que padecemos como povo, classe e género, nas luitas pola liberdade da Galiza e a superaçom da exploraçom do capitalismo. Por todas essas mulheres que padecêrom as mais cruéis e diversas formas de brutalidade, o que as levou a ser torturadas, degradadas, humilhadas, exiladas, encarceradas ou assassinadas, é que estamos hoje aqui. Mulheres que som um verdadeiro exemplo de dignidade militante para todas nós. Mulheres galegas que abrírom a empurrons os caminhos que hoje somos quem de percorrer. Mulheres que levam séculos a viver sob múltiplas identidades, mas com um só intuito, o de trazer a justiça para este país e para a classe trabalhadora, traçárom o caminho”.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 27
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
2009 No cemitério de Miranda, Castro Verde, sob a legenda “Henriqueta Outeiro, comunista, guerrilheira e feminista galega indomável”, coincidindo com XX aniversário do seu falecimento, tivo lugar a nona ediçom. “Henriqueta Outeiro nos momentos cruziais, nos que há que escolher, nos que a maioria opta polo caminho mais fácil, sempre se inclinou por continuar avante: seguir no Madrid assediado e bombardeado de finais do verao do 36, após o golpe militar casadista da primavera de 39, ficar no interior da Península, voltar para a Galiza após a derrota da República e nom ser evacuada para França via Levante, participar ativamente como Maria das Dores na reorganizaçom do PC na Galiza e na organizaçom da luita guerrilheira, dar batalhas nas prisons que foi percorrendo entre 1946 e 1960, voltar entre silêncios, incompreensons e hostilidades, para a paróquia natal de Miranda, seguir intervindo publicamente, orientando-se na difusom dos valores feministas, na defesa das mulheres, fomentando a cultura de base, a educaçom popular. A esquerda independentista galega organizada em NÓS-Unidade Popular decidiu dedicar a nona ediçom do Dia da Galiza Combatente, coincidindo com o XX aniversário do seu falecimento, a homenagear quem por méritos próprios atingiu elevadas responsabilidades políticas e militares na guerrilha galega. Tanta constáncia, tanta audácia, tanto sacrifício, coragem, coerência, valor, é um orgulho para o povo trabalhador combatente. A sua intensa vida, o seu nome representa para nós, luitadores e luitadoras de umha Galiza livre, vermelha e lilás, um exemplo para o sucesso da Revoluçom Galega”.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 28
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
2010 A X ediçom do Dia da Galiza Combatente foi organizada a rua da Terra de Ferrol coincidindo com a queda em combate de dous militantes do EGPGC, sob a legenda “Lola Castro e José Vilar o povo nom vos esquece”. “Nom seremos nós que realizemos umha homenagem como esta com fins meramente funerários; se hoje recordamos Lola e José é porque achamos que a sua experiência, com os seus erros e acertos, é útil para afrontar a realidade que nos arrodeia. Os motivos que as/os levárom a pegar nas armas e entregar a vida continuam hoje vigentes, e nom só, mas agravados a cada dia que passa. A nossa cultura e o nosso idioma acham-se em perigo de morte sob o jugo espanhol, as agressons som diárias e a sua intensidade nom deixa de crescer. É evidente que Espanha tem a firme resoluçom de nos liquidar como Povo. As crises que golpeiam o Capitalismo a nível planetário estám a significar para nós, para as trabalhadoras e trabalhadores, mais miséria, mais desemprego, mais horas de trabalho por menos dinheiro, mais mortes no posto de trabalho. E como há vinte anos, as mulheres continuam a levar a pior parte, a receber os trabalhos pior remunerados, sendo as primeiras a irem à rua ou caírem na mesquindade da economia submersa, condenadas a viver dos refugalhos deixados polos homens, a servi-los e a deslombar-se sem cobrar um cêntimo para que toda a maquinaria continue a funcionar”.
2011 No cemitério da paróquia chantadina de Sam Fiz de Asma, tivo lugar o ato central da XI ediçom do Dia da Galiza Combatente sob a legenda “Piloto, exemplo de coragem, tenacidade e resistência”. “Por méritos próprios José Castro Veiga, mais conhecido como Luís ou Piloto, forma parte de um dos episódios mais heroicos da recente história contemporánea da Pátria. Foi o último combatente guerrilheiro antifranquista abatido pola Guarda Civil. Durante vinte anos mantivo incólume a reivindicaçom de liberdade e justiça social. Nunca aceitou a rendiçom, nem nengumha forma de conciliaçom com os responsáveis do holocausto galego iniciado em 1936. Negou-se a arriar as bandeiras do socialismo e morreu com as armas na mao. A fotografia escolhida para esta homenagem, possando para a cámara no que semelha umha corte, orondo, com
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 29
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
chapeu, camisa branca, correagens no peito e apontando com umha pistola-ametralhadora, é um indelével retrato emblemático da resistência nacional e popular, da Galiza que nunca se rendeu, dessa parte do País que nem o franquismo nem a posterior operaçom de maquilhagem do atual regime monárquico espanhol nunca logrou ocultar. A esquerda independentista e socialista galega nom só queremos render-lhe o merecido homenagem, reivindicamos a sua trajetória de incansável luitador, de comunista exemplar, de galego coerente, o profundo amor pola terra à que serviu sem mais contrapartidas que o respeito, admiraçom e carinho do seu povo, sem o qual nom teria sido possível ter superado a implacável perseguiçom a que foi submetido por falangistas, somaténs, exército e basicamente da brutal Guarda Civil”.
2012 Nos jardins de Sam Carlos da Corunha, mui perto de onde Espanha tem sequestrado o fusil de combate do Foucelhas, tivo lugar o ato central da XII ediçom do Dia da Galiza Combatente, sob a legenda “Benigno Andrade Foucelhas exemplo de resistência popular”. “A 7 de agosto de 1952, por meio do garrote vil, o combatente antifascista é assassinado no centro penitenciário próximo da Torre de Hércules, polo regime que desde 1936 desatara o terror sobre o povo trabalhador galego. Umhas semanas antes, o último responsável simbólico do Exército Guerrilheiro da Galiza, Melchor Diaz “Pepito”, que detinha a secretariageral do PC na Galiza, tinha sido abatido pola Guarda Civil. O franquismo buscou, com a sua captura, julgamento e execuçom um golpe propagandístico definitivo contra a esmorecente luita guerrilheira. A férrea censura que pretendia ocultar as açons da guerrilha ao povo foi substituída por umha grande difusom do seu processo na imprensa. O lendário Foucelhas, um dos guerrilheiros mais conhecidos e admirados, o que sempre conseguia esquivar a perseguiçom fascista, aquele a quem se atribuiam dúzias e dúzias de açons, caía também, marcando simbolicamente o fim de umha das mais heroicas experiências de luita desenvolvidas polo nosso Povo, apesar da admirável resistência de alguns combatentes mesmo até a década de 1960, como no caso do Piloto ou Corujás”.
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 30
DIA DA GALIZA COMBATENTE 2014
CASTELAO CONFIANDO NA FORÇA DO NOSSO POVO
2013 XIII ediçom do Dia da Galiza Combatente decorreu na Praça da Constiuiçom de Redondela sob a legenda “Maria Araújo, dous combates umha luita” “Nesta nova ediçom da Galiza Combatente, queremos honrar na figura de Maria Araújo a Galiza rebelde e combativa, a melhor tradiçom de luita deste povo, do nosso povo, da nossa classe. A ligaçom da Maria com Redondela foi o combate clandestino e desigual realizado nestes montes na guerrilha antifranquista. Maria Araújo, Maria “a guerrilheira”, tal como centenas de milhares de compatriotas, tivo que emigrar, expulsa pola pobreza e atraso a que o imperialismo espanhol nos condena. Em Cuba, formou-se como militante e aprendeu as artes da luita revolucionária. Maria voltou decidida a luitar na sua terra, como antes figera em Cuba. Este país irmao, com o que a Galiza mais popular tem íntimos vínculos, este país irmao, a Cuba de José Martí, do Che e de Fidel, soubo reconhecer a entrega da Maria Araújo à Revoluçom Cubana. Quando o Povo Trabalhador Galego for soberano, fará o próprio com as suas luitadoras e luitadores. Hoje, esta XIII ediçom do Dia da Galiza Combatente é um adianto da homenagem que a Pátria tem pendente com geraçons de combatentes pola liberdade.”
TEXTOS POLÍTICOS DE ANÁLISE E DOCUMENTAÇOM | 31
XIV EDIÇOM DIA DA GALIZA COMBATENTE 11 DE OUTUBRO DE 2014
Afonso Daniel Rodrigues Castelao é um mito de todos e todas aquelas que consideramos a Galiza a nossa única naçom, é um mito daquilo que chamamos projeto nacional galego. Um mito para o bom é para o mau, sendo um referente inescusável para o conjunto da política deste país. Na prática importa pouco o que dixou ou pensou, importa é a etiqueta que cada qual queira atribuir. Castelao pode legitimar a aliança com o espanholismo ou a auto-organizaçom nacional, tal como a assunçom da autonomia e o rejeitamento da mesma, porque afinal também dá nome a um reconhecimento honorífico que detém grande parte dos maiores criminosos deste país. Na sua funçom simbólica, atribuir qualquer postura política concreta a Castelao é absurdo, tal como é absurdo definir-se ideologicamente em torno dele. Castelao pertence ao conjunto do nosso projeto de emancipaçom nacional, independente da divergência ou nom com o seu pensamento original, pois o homem de carne e osso se converteu numha outra cousa. Hoje, ao pensarmos em Castelao, nom visibilizamos nengumha vertente concreta da sua polifacética personalidade. Nom pensamos nem no genial artista nem no político brilhante, e sim numha figura enxuita e inclinada, com uns óculos grossos e um chapéu, assim como umha terrível história cantada por Suso Vaamonde. Talvez a principal figura de Castelao fosse a de propagandística, conseguindo converter-se ele mesmo em propaganda histórica. Castelao é um dos nossos, porque a sua perícia vital é fundamental na construçom das visons políticas hoje assentes no independentismo revolucionário galego. E é-o porque o seu próprio pensamento historiza-se consoante o agravamento da opressom espanhola sobre a Galiza. Nom podemos fazer o que fijo Castelao no ano 36, porque seguramente o próprio Afonso Daniel nom o repetiria. A mímese é absurda, mas nom por isso devemos deixar de estudar a biografia de Castelao, nom por obrigatória fidelidade com a sua obra, e sim como mostra concreta da evoluçom do nosso movimento nacional e da existência de pontos de ruptura fundamentais com o pensamento anterior.
Textos políticos de análise e documentaçom nº14