BIOGRAFIA DO FOUCELHAS Benigno Andrade Garcia nasce em 1908 no lugar de Foucelhas (Cabrui-Mesiacomarca de Ordes), do qual adotaria a alcunha com que se converteu num dos guerrilheiros antifascistas mais conhecidos da Galiza, se bem na década de 1930 reside junto com a sua companheira, Maria Peres, na vila de Cúrtis. A sua formaçom académica era básica, sabendo ler e escrever. Trabalha principalmente como jornaleiro agrícola, ainda que também trabalhasse na minaçom do carvom no Berzo e numha serraria de Cúrtis, entre outros ofícios. Os inícios do seu envolvimento em política estám muito vinculados à figura de Isabel Rios e do seu companheiro, o médico Manuel Calvelo (assassinado polos fascistas em Compostela em 1936), militantes comunistas de Cúrtis que em 1934 organizam um núcleo do PCE da localidade. Célula da qual farám parte tanto Benigno Andrade como Maria Peres, quem também trabalhava no negócio-morada do matrimónio Calvelo-Rios. Também se envolve na militáncia sindical, integrando-se no Sindicato de Ofícios Vários de Cúrtis, igualmente impulsionado por Isabel Rios e por Benjamim Nunes (presidente da Cámara Municipal). Em 1936, participa nos atos das eleiçons que ganhará a Frente Popular. Esta etapa de incipiente militáncia comunista chega até o golpe de Estado militar que dá início à Guerra Civil. Nos dias que se seguem ao 18 de julho, Foucelhas participa em açons como a requisa de armas e explosivos ordenada por Benjamim Nunes em Cúrtis e na tentativa de derrotar a rebeliom militar-fascista na Corunha. Assim, a 20 de julho é um dos militantes que se dirigem a esta cidade para combater os
sublevados, ainda que finalmente decidam retirar-se ao considerarem que a açom era já inútil. Foucelhas volta a Cúrtis e, temendo pola sua vida, decide como tantos e tantas compatriotas fugir ao monte para se salvar da selvagem perseguiçom fascista.
CASA NATAL DO FOUCELHAS EM CABRUI
Foucelhas fugido Nestes primeiros anos no monte, Foucelhas, com boa parte dos seus camaradas mortos (Manuel Calvelo e Manuel Sanches) ou no cárcere (Isabel Rios), conta com a ajuda de familiares e amizades para sobreviver, com destaque para a sua mae, Francisca Garcia, a sua companheira Maria e a sua irmá Consolo, que trabalhava no quartel da Guarda Civil de Cúrtis, o que lhes permitia informá-lo dos movimentos planeados polo corpo repressivo. Nesta etapa, Foucelhas é chamado a filas polo bando fascista, sendo declarado prófugo ao nom se apresentar perante as autoridades espanholas. Oculta-se em diferentes casas durante longas temporadas e, quando suspeita que está em perigo, volta ao monte, do qual é um bom conhecedor. Consegue tecer umha ampla rede de apoios, de casas seguras; umha infraestrutura para a clandestinidade que posteriormente lhe será vital.
A integraçom na guerrilha Durante estes primeiros anos, Benigno Andrade ainda nom é o guerrilheiro Foucelhas e, apesar da sua situaçom de fugido, segue a trabalhar como jornaleiro e como cesteiro sob um nome falso. Parece ser que até 1941 as informaçons policiais nom o situam ainda como combatente. Nesse ano, já o consideram chefe de umha milícia assente na zona de Sobrado dos Monges e Arçua. No entanto, a verdadeira integraçom MANUEL PONTE “XASTRE”, GRAVURA DE LUÍS SEOANE na luita guerrilheira produz-se no contexto do final da Segunda Guerra Mundial, quando a provável vitória aliada leva o PCE e outras forças políticas a procurarem organizar e ativar a guerrilha para desestabilizar o franquismo e forçar umha intervençom que acabe com a ditadura de Franco. É entre finais de 1944 e começos de 1945 quando Manuel Ponte “Xastre”, o asturiano Marcelino Rodríguez Fernández “Marrofer” e Elisardo Freixo “Tenente Freixo” contatam com o Foucelhas e este passa a fazer parte da IV Agrupaçom Guerrilheira da Galiza, que age no território da província da Corunha sob influência comunista e que é o germolo do Exército de Libertaçom da Galiza e posteriormente do Exército Guerrilheiro da Galiza. Mais em concreto, Foucelhas integra-se no Destacamento “Santiago Álvares”, que compunha esta agrupaçom junto com os destacamentos “Líster” e “Manuel Botana”. À frente do “Santiago Álvares” está o Tenente Freixo. O processo de configuraçom do EGG completa-se posteriormente com a organizaçom da III Agrupaçom, com ámbito de atuaçom na província de Lugo, a II Agrupaçom, no território da província de Ourense e as comarcas do Berzo e da Cabreira, e a V Agrupaçom, que opera na província da Ponte Vedra. Aos poucos meses de ser recrutado pola guerrilha, Foucelhas é ferido num joelho, após um disparo fortuito com o seu próprio fusil. Será atendido, primeiro em Compostela e depois na Corunha, dando entrada com nomes falsos em dous sanatórios. A sua recuperaçom demora vários meses, ocultando-se em diversas casas, enquanto é buscado pola Guarda Civil na comarca de Ordes.
FOLHA DO FICHEIRO DA GUARDA CIVIL
A participaçom de Maria Peres na luita guerrilheira Também Maria Peres passa a fazer parte da estrutura guerrilheira, intergrando-se no Serviço de Informaçom Republicano (SRI), na guerrilha da chaira, encarregado das funçons de informaçom, de logística e de apoio aos guerrilheiros e guerrilheiras do monte. O SRI era umha peça fundamental da guerrilha, ao ponto de os destacamentos militares nom poderem agir nem persistir no tempo sem o arriscado apoio das pessoas, na sua maioria mulheres, que sustentavam a sua luita nas aldeias, vilas e cidades galegas. Pessoas ligadas aos/às combatentes antifascistas por laços ideológicos ou afetivos e que cada vez mais se convertêrom no alvo da repressom espanhola, conhecedora da sua importáncia para a continuidade da oposiçom armada que constituia a guerrilha galega. Foi Isabel Rios quem, após sair do cárcere, contatou com a companheira do Foucelhas para lhe solicitar a sua participaçom na rede de “enlaces” articulada nessa zona da Galiza por ela e pola comunista compostelana Carme Valboa Lopes. Umha das funçons desta rede era servir de ligaçom entre a guerrilha e as potenciais incorporaçons de militantes do PCE à luita armada.
Apesar de estar estreitamente vigiada pola Guarda Civil, Maria Peres consegue realizar o seu labor com eficácia, até que no ano 1946, após umha delaçom, a Guarda Civil regista a sua casa, encontrando cartas dirigidas a Manuel Ponte. Maria é detida, junto com o seu primo Ramom Gonçales, e ingressa na prisom da Corunha. Será julgada e condenada ao desterro em Tordesilhas, onde ao pouco tempo morre por causa de um aneurisma. Na mesma operaçom da Guarda Civil, produz-se a queda do núcleo comunista de Compostela. Volta ao monte Superada a sua convalescença, Foucelhas reincorpora-se à atividade da IV Agrupaçom do Exército Guerrilheiro da Galiza. Som os anos de maior atividade, com açons como assaltos, sabotagens, choques armados, execuçons, atos de captaçom e propaganda...
BENIGNO ANDRADE FOUCELHAS
Porém, em junho de 1946, dous dos chefes da IV Agrupaçom, “Marrofer” e “Tenente Freixo”, morrem num confronto com a Guarda Civil em Aranga e a agrupaçom fica desorganizada durante uns meses, até que os destacamentos e a direçom (com Manuel Ponte à cabeça) se vam recuperando. Foucelhas é destinado à milícia que opera na zona de Cúrtis. Já em 1947, numha reuniom do Exército Guerrilheiro da Galiza decorrida em Bergondo, Foucelhas é proposto para encabeçar a V Agrupaçom. Com o apoio de “Tino” e José Ramunhám Barreiro “Ricardito”, Foucelhas centra-se em organizar umha boa rede de apoios na zona e em realizar golpes rápidos longe dos seus escondedouros. A boa marcha inicial da agrupaçom fai com que esta se divida em duas unidades, mas a queda do chefe de umha delas, o guerrilheiro estradense Corcheiro, leva o Foucelhas a reunificar as suas forças. A V Agrupaçom levará a cabo diversas açons em comarcas como o Deça, Tabeirós, Barbança, Caldas ou Compostela, até maio de 1948. Nesse mês de maio, após um confronto com a Guarda Civil em Luou (Teu), morrem em combate quatro guerrilheiros do destacamento. Foucelhas, mais umha vez,
consegue sair com vida e refugia-se de novo na zona de Cúrtis. Este golpe dos repressores consegue desmantelar o destacamento. A esta queda, soma-se a de Gomes Gaioso e Seoane na Corunha, no mês de julho, ficando a guerrilha debilitada e sem a sua máxima direçom política e militar. O seu substituto à cabeça da guerrilha e do PCE na Galiza será Manuel Fernandes Souto “Coronel Benito”, que imprime um caráter mais militarizado aos destacamentos armados. Mas o “Coronel Benito” morre numha cilada a maos de um infiltrado, em junho de 1949, na Pena de Remessar, Bóveda. Nessa altura, a direçom do PCE já decidira abandonar a luita armada desenvolvida pola guerrilha e o movimento tem cada dia mais dificuldades. Apesar disto, há umha tentativa de reorganizar a guerrilha por parte dos combatentes que seguem no monte, entre eles o Foucelhas, que se integrará no grupo liderado por Adolfo Alhegue “Riqueche”, o Destacamento “Artur Cortiças”, denominado assim na honra de outro guerrilheiro torturado até morte pola Guarda Civil. Mas é umha fase em que a falta de apoio político e a crescente perseguiçom da Guarda Civil fai com que a luita antifascista se confunda com a mera sobrevivência por parte de umhas pessoas que entregaram a sua vida a umha causa que cada vez se viam mais longe e que ficaram abandonadas à sua sorte.
A queda de Foucelhas Apesar desta situaçom, a perseguiçom do fascismo espanhol nom cessa e a captura de Foucelhas converte-se numha obsessom para a Guarda Civil. Nom será até 1952, e após a delaçom de um confidente, que Foucelhas é descoberto pola Guarda Civil. Foucelhas escondia-se no lugar da Costa (Rodeiro-Oça dos Rios), num agocho compartilhado com o seu companheiro Manuel Vilar, guerrilheiro nascido em Fene. ILUSTRAÇOM DE LUÍS SEOANE A 9 de março um tenente, dous cabos e cinco números da Guarda Civil rodeiam e surprendem ambos guerrilheiros. Disparam sobre Foucelhas quando este ia barbear-se, ficando ferido. O Foucelhas foge, mas de novo disparam sobre ele e finalmente conseguem detê-lo. As ordens eram capturá-lo vivo e assim, enquanto Manuel Vilar é
assassinado de dous tiros na cabeça, o Foucelhas é ferido nas extremidades. No seu refúgio encontram armas, muniçom e propaganda política. Benigno Andrade é conduzido ao quartel de Betanços, torturado e interrogado pola Guarda Civil. Posteriormente é levado à Corunha, onde será submetido a um Conselho de Guerra que o condenará à morte polos delitos de “terrorismo e banditismo”. O tenente Balbino Teixeiro, que exerce de fiscal militar durante o Conselho de Guerra ao Foucelhas, nom duvidara em exigir vingança ao Tribunal: “É imprescindível que se afogue o último alento do bandoleirismo. Sede inflexíveis, porque a lei vo-lo manda”. O Foucelhas e a luita guerrilheira foram durante anos temidos polos fascistas, que sabiam que em qualquer momento podiam pagar caros os crimes e o genocídio cometidos contra o nosso povo. A 7 de agosto de 1952, por meio do garrote vil, o combatente antifascista é assassinado no centro penitenciário próximo da Torre de Hércules, polo regime que desde 1936 desatara o terror sobre o povo trabalhador galego. Umhas semanas antes, o último responsável simbólico do Exército Guerrilheiro da Galiza, Melchor Diaz “Pepito”, que detinha a secretaria-geral do PC na Galiza, tinha sido abatido pola Guarda Civil.
GARROTE VIL
O franquismo buscou, com a sua captura, julgamento e execuçom um golpe propagandístico definitivo contra a esmorecente luita guerrilheira. A férrea censura que pretendia ocultar as açons da guerrilha ao povo foi substituída por umha grande difusom do seu processo na imprensa. O lendário Foucelhas, um dos guerrilheiros mais conhecidos e admirados, o que sempre conseguia esquivar a perseguiçom fascista, aquele a quem se atribuiam dúzias e dúzias de açons, caía também, marcando simbolicamente o fim de umha das mais heroicas experiências de luita desenvolvidas polo nosso Povo, apesar da admirável resistência de alguns combatentes mesmo até a década de 1960, como no caso do Piloto ou Corujás.
Foucelhas, um mito popular Se há um guerrilheiro que atingiu o carácter de mito na Galiza, quiçá junto com Girom na comarca do Berzo, esse foi o Foucelhas. Quem o conheceu destacou nele a sua astúcia e a sua habilidade na hora de detetar os seus perseguidores, virtudes que lhe permitírom muitas vezes livrar-se das ciladas da Guarda Civil: “Com o Foucelhas podias caminhar horas e horas sem medo a encontrar os guardas. Tinha um grande olfato, e quando dizia que havia que se desviar de umha aldeia havia que fazê-lo. Os que nom se fiavam, podiam comprovar ao dia seguinte, polos enlaces, que, tal como ele dixera, lá estavam ou estiveram os guardas”.
Também se caraterizava polo seu caráter aberto e extrovertido, e pola sua tendência a ir “por livre”. Foucelhas podia aparecer nas festas e bailes das aldeias ou acudir, disfarçado de crego nalgumha ocasiom, aos jogos do Desportivo da Corunha, no estádio de Riazor. A dos disfarces era outra das suas especialidades e, além de crego, também se vestiu algumha vez com o uniforme da guarda civil ou com roupas de mulher para melhor passar despercebido ou para realizar algumha açom. A sua sona em toda a Galiza também fijo com que, em múltiplas ocasions, delinquëntes comuns afirmassem ser o Foucelhas, quando realizavam roubos ou assaltos, com o objetivo de que estes fossem atribuídos ao guerrilheiro e nom a eles próprios. Deste jeito, chegárom-se-lhe a atribuir açons cometidas o mesmo dia a até a mesma hora em pontos muito distantes. Para isto contribuiu a propaganda fascista que o queria apresentar, tal como o resto dos componentes da guerrilha galega, como simples “bandoleiros”, negando o caráter político das suas açons. E o Foucelhas, especialmente, pretendiam apresentá-lo como o mais “cruel” e “sanguinário” desses “bandoleiros”. Umha inversom da realidade muito cara ao poder espanhol de antes e de agora.
No entanto, esses esforços propagandísticos espanhóis nunca conseguírom plenamente os seus objetivos. Como dixemos, desde o começo, o Foucelhas tivo muitos apoios e a sua figura, mitificada, passou a simbolizar também a luita e os anseios de justiça social do nosso povo. Nalgumhas aldeias de Cerdedo (Terra de Montes), por exemplo, as pessoas mais velhas ainda tenhem a ideia de que Benigno Andrade fora umha espécie de Robin Hood galego que, literalmente, roubava aos ricos para o dar aos pobres (e que tinha amores com a lendária bandoleira Pepa a Loba). Também é bem conhecido que, nalgumhas comarcas onde o Foucelhas e os seus companheiros e companheiras agírom (como a de Ordes), todos os guerrilheiros e guerrilheiras acabárom sendo conhecidos como “os foucelhas”. Foucelhas, um trabalhador de origem humilde, foi um outro exemplo de entrega, de coragem e de combatividade. Mais um exemplo da falsidade do mito racista inoculado por Espanha, que pretende convencer-nos de sermos um povo passivo, pacífico e resignado. Nada mais longe da realidade, à luz de luitas como a dos guerrilheiros e guerrilheiras galegas, umha luita que envolveu durante longos anos milhares de compatriotas numha época em que a mais mínima contestaçom ao regime franquista se pagava com a repressom mais cruel. Um heroico exemplo que o independentismo socialista quer honrar nesta XII ediçom do Dia da Galiza Combatente mas, sobretodo, queremos honrar com a nossa militáncia os 365 dias de cada ano até libertarmos o nosso país, para construirmos umha sociedade justa e livre para todas, onde as misérias às quais, cada vez mais, nos conduz o capitalismo, só sejam matéria de estudo para historiadoras e historiadores. Galiza, 11 de outubro de 2012
ORIGENS DO DIA DA GALIZA COMBATENTE Em Julho de 2001, a Direçom Nacional de NÓS-Unidade Popular acorda instaurar o 11 de outubro como Dia da Galiza Combatente. Até esse ano, a esquerda independentista coincidia com o nacionalismo institucional e o galeguismo na celebraçom a 17 de agosto do Dia da Galiza mártir, aniversário do assassinato de Alexandre Bóveda polo fascismo espanhol. Também a 12 de agosto honramos a morte em combate em 1975 do militante comunista e independentista Moncho Reboiras, num confronto com a polícia espanhola. Mas ambas datas fôrom completamente disvirtuadas polo regionalismo até se converterem em atos nostálgicos e grotescos de simples justificaçom da sua deriva entreguista e claudicante. Despreendidos da mística reivindicativa e da vigência da luita pola qual ambos patriotas, com as suas diferenças ideológicas e temporárias, entregárom a sua vida, era necessário delimitar também neste ámbito o nosso projeto revolucionário do que representa o autonomismo. Para homenagear num só dia todas as galegas e galegos que em diferentes etapas históricas e projetos políticos fôrom represaliados ou perdêrom a vida pola sua entrega à causa de umha Galiza mais justa e soberana, a nova esquerda independentista decidiu instaurar esta nova data. Na madrugada de 11 de Outubro de 1991, Lola Castro Lamas “Mariana” e José Vilar Regueiro “Marcos”, membros do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive
(EGPCG), morriam ao fazer-lhes explosom acidentalmente um artefacto destinado a combater os interesses do narcotráfico na Galiza. Tal como manifestou NÓS-UP em 2001 na primeira ediçom do Dia da Galiza Combatente “enquanto outros luitadores e luitadoras passárom à nossa História por direito próprio, sobre Lola e José semelha pairar um manto de silêncio e esquecimento. Manto que é a nossa obriga destruir para restituí-los ao lugar que merecem. A nós unicamente nos corresponde a homenagem, o reconhecimento político à sua generosidade e combatividade nesta luita que continuamos e, finalmente, o compromisso coletivo de que as suas vidas, como a de Moncho, as de Amador e Daniel, as do “Piloto”, Zélia, “Foucelhas”, Benigno Álvares, Alexandre ou os fusilados em Carral, nom cairám no esquecimento nem passáram a ser as últimas expressons de rebeldia de um povo que existiu”. Nesta primeira efeméride, NÓS-UP deixava claro que “nom está na nossa intençom consolidar umha data para um calendário reservado a independentistas com cartom militante”. Desde que em 2001 NÓS-UP celebra o Dia da Galiza Combatente, a data foi-se socializando e consolidando-se na agenda política de boa parte da esquerda independentista.
AS EDIÇONS PRECEDENTES 2001 Tem lugar na praça do Concelho de Culheredo, a terra natal de José Vilar, a primeira ediçom da efeméride convocada como “Concentraçom e ato político em lembrança d@s noss@s compatriotas caídos e represaliad@s na luita pola liberdade da Galiza”. “Dim que nom se perde um direito enquanto houver alguém que o reclama. Quando em junho passado constituíamos em Compostela esta emergente organizaçom de massas para a libertaçom nacional, sabíamos que nom partíamos de zero: desde os textos dos cronistas da Antigüidade, que nos falam de um povo combativo e de mulheres indomáveis, até a morte num operativo militar de Lola e José em 1991, ou a luita em prisom dos presos e presas independentistas em 2001, a nossa história foi a de um povo capaz de impulsionar as primeiras revoltas populares da Europa moderna, capaz de desenvolver resistências para enfrentar o processo de “Doma y Castración del Reino de Galicia” impulsionado pola Coroa de Castela. Um povo que, já bem entrado o século XIX, tinha militares insurgentes que afirmavam, de jeito provavelmente rudimentário, a existência da Galiza como sujeito de direitos nacionais. Esse mesmo povo sustentou política e materialmente desde 1936 umha guerrilha urbana e rural antifascista cujo último resistente caía em 1965, articulou na clandestinidade organizaçons nacionalistas de massas e desenvolveu, no último quartel do século XX, tês projetos político-militares para a sua própria libertaçom nacional e social”.
2002 Sob a legenda “Para que Galiza viva” a cidade de Ponte Vedra acolhe a segunda ediçom. O ato político decorre na praça de Curros Henriques, onde Alexandre Bóveda conta com umha modesta estátua. “Aqui nom estamos para chorar quatro mortes, mas para recolher quatro fusis e quatro exemplos. Hoje mais que nunca, é necessário rachar o véu da “normalidade democrática” com que o poder espanhol quer ocultar o caráter conflituoso e violento da opressom. A Galiza combatente está viva. Está-o nas luitas vicinais, nos conflitos operários, nas greves gerais, nos enfrentamentos populares à ordem vigente, na resistência estudantil, nas respostas à polícia e nas sabotagens anónimas aos interesses turísticos, comerciais e financeiros do inimigo que se venhem produzindo nos últimos meses. Está-o nas ruas, nas paróquias, nas aulas, nas fábricas e nos centros de trabalho da nossa naçom. Segue a está-lo nos coraçons e na vontade dos melhores filhos e filhas do povo trabalhador galego, na sua dignidade inquebrantável, no seu valor, no seu amor sem limite à Terra e à Liberdade”.
2003 “A luita é o único caminho” foi a palavra de ordem que comemorou a data em Ferrol, com umha concentraçom na rua da Terra, ao lado da casa onde caiu abatido Moncho Reboiras por balas espanholas. “O MLNG reivindica em solitário esta data porque só ele reconhece a sua carga política, o seu sentido atual: a existência dumha linha e a obrigaçom de continuá-la por ser a única garantia de avanço. Eis a nossa transcendência e a nossa responsabilidade. Há ainda muit@s denominad@s nacionalistas que temem umha aproximaçom sincera à nossa história e ocultam ou maquilham capítulos e figuras imprescindíveis da nossa luita. Som aqueles/as, e nom por acaso, que mais temem a auto-organizaçom, a construçom e o combate; @s submid@s num pesimismo ou cobardia crónicas que os fam pospor indefinidamente o compromisso e o ativismo, tentando contagiar com autismos paralisantes. Enquanto Espanha e o Capital apertam as gadoupas sobre o nosso povo trabalhador, se desenvolve umha gravíssima involuçom fascistoide e se consuma o processo de destruiçom nacional, patriotas de cartom e pseudonacionalistas de distintas cores procuram sucedáneos, entretenhem-se em milagres e jogam de maneira hipócrita à desorientaçom e o confusionismo”.
2004 Na praça do Toural do bairro de Teis de Vigo, celebramos a quarta ediçom. “PSOE-PP a mesma merda é. Adiante a luita obreira e nacional”. “Aqui em Vigo, tivo lugar o nascimento da primeira organizaçom independentista de pós-guerra. O Partido Galego do Proletariado foi concebido no Vigo obreiro de 1976-77 e fundado em março de 1978. Aqui foi onde a esquerda independentista apresentou a sua primeira candidatura eleitoral com Galiza Ceive nas municipais de 79. Daqui eram muitos dos detidos na batida contra a LAR em Setembro de 1980. Este é o Vigo de que nós nos reclamamos e sentimos continuadoras/es. O Vigo das três greves gerais de 1984 contra a reconverson industrial do PSOE. O Vigo das dúzias de moços insubmissos que se negárom a participar no exército espanhol na década de noventa. O Vigo das luitas estudantis contra Vitrasa. O Vigo solidário e internacionalista. O Vigo ecologista contra o cemitério nuclear da fossa atlántica. O Vigo que em junho acolheu dezenas de milhares de mulheres na maior mobilizaçom feminista da Galiza. O Vigo que defende o seu litoral, o Vigo que se opom a “ronda”. O Vigo que ainda acolhe perseguidos e clandestinos como nos anos trinta”.
2005 Ao pé do monumento aos mártires de Carral reivindicamos “Galiza por umha política de esquerda”. “Desde o primeiro momento em que NÓS-UP decidiu marcar esta data como Dia da Galiza Combatente, a ideia foi fazer dela um referente aberto que incluísse todo o leque de iniciativas das mais diversas formas de luita que o nosso povo tem desenvolvido ao longo de todos estes anos como forma de autodefensa frente às políticas assimiladoras do nosso inimigo histórico, o Estado espanhol e as suas classes dirigentes. Ao contrário do que fam outras organizaçons que enaltecem figuras históricas, amiúde limando-lhes as arestas mais incómodas e contraditórias com a sua prática política actual, chegando à ocultaçom e a manipulaçom, nós nom temos nengum reparo em fazer público o reconhecimento de todas essas formas de resistência que definírom a história do nosso nacionalismo. Umha história que é também a história da repressom e a conculcaçom de direitos, por isso sempre havemos de estar do lado galego e popular neste longo confronto que mantemos em defesa do nosso direito à existência como naçom diferenciada e classe emancipada.
O contexto atual da luita de libertaçom nacional galega, que no nosso caso está indissoluvelmete ligada à luita social pola emancipaçom do nosso povo trabalhador e o combate ao patriarcado como forma de submetimento de metade da populaçom galega, responde a umhas coordenadas novas que nos obrigam a reorientar tacticamente o nosso trabalho político”.
2006 No Alto do Furriolo, na Terra de Cela Nova, NÓS-UP realiza umha “Homenagem nacional às vítimas do holocausto galego. 1936-2006 a luita continua!”. “Hoje estamos aqui porque recolhemos os ideais de liberdade e emancipaçom do movimento operário e popular galego de 1936, cujo horizonte nom era, nem muitíssimo menos, como falsamente historiadores e politicos pogres afirmam, consolidar a democracia burguesa republicana, mas sim, tal como hoje modestamente fai a esquerda independentista representada por NÓS-Unidade Popular, acumular forças sociais necessárias, mediante a luita política, social e ideológica, para mudar de raíz este regime injusto e opressor empregando a imensa torrente da razom e da consciência livre e plenamente assumida pola maioria social que num abrente de alegria e amor denominamos Revoluçom Socialista. Só cretinos e canalhas podem afirmar que os objetivos de boa parte das forças organizadas ou que apoiárom eleitoralmente a vitória de Fevereiro de 1936 da Frente Popular se reduziam a manter a anémica “ditadura” da burguesia liberal encabeçada por Casares Quiroga”.
2007 À beira do monumento a Simón Bolívar, na rua Venezuela de Vigo, comemoramos a sétima ediçom sob a legenda “Até a vitória sempre. A solidariedade é a ternura dos povos”. “Nom renunciamos à longa trajetória combativa de nosso povo, e aspiramos a continuá-la ao longo da espiral da história que deve projetar-nos para um futuro de liberdade nacional, situando-nos do lado dos povos que luitam por superar o capitalismo e fazer do mundo um lugar mais habitável e justo do que hoje é. E é nesse ponto que ligamos a convocatória deste ano com o quadragésimo aniversário da morte do que foi paradigma da luita nacional e internacional por um outro mundo: Che Guevara, argentino entregado à causa do povo cubano até a vitória e posteriormente comprometido com as luitas de
outros povos africanos e latino-americanos, fusilado extra-judicialmente por ordem da CIA estado-unidense, representa como ninguém as virtudes do militante integral polo socialismo e a independência dos povos. Porém, ele nom é um caso único ou isolado. Milhares de trabalhadores e trabalhadoras, de homens e mulheres militantes de causas justas morrêrom no último século e meio em luita pola derrota do capitalismo e pola conquista da verdadeira soberania para os povos. E muitos deles figérom-no, como o Che, alinhando com movimentos revolucionários noutras latitudes diferentes às dos seus lugares de nascença. Dentre eles e elas, salientamos na comemoraçom de hoje os galegos e galegas que entregárom as suas vidas à causa do internacionalismo”.
2008 No farol de Meirás, em Valdovinho, sob a legenda “A luita pola independência também tem nome de mulher” organizamos a oitava ediçom. “Convocamos a VIII ediçom do Dia da Galiza Combatente conscientes de que a luita pola independência também tem nome de mulher. E é por isso que, fartas de tantas mentiras e tantas ocultaçons históricas, somos nós as mulheres revolucionárias galegas que temos a responsabilidade de contribuir para mudar isto. Hoje, à beira deste mar de dias bravos como as jornadas de luita nosso povo, a esquerda independentista e socialista desta naçom com nome de mulher chamada Galiza queremos e devemos projetar luz sobre as mulheres que ao longo da história participárom nos mais diversos episódios de rebeldia contra a dominaçom e as injustiças que padecemos como povo, classe e género, nas luitas pola liberdade da Galiza e a superaçom da exploraçom do capitalismo. Por todas essas mulheres que padecêrom as mais cruéis e diversas formas de brutalidade, o que as levou a ser torturadas, degradadas, humilhadas, exiladas, encarceradas ou assassinadas, é que estamos hoje aqui. Mulheres que som um verdadeiro exemplo de dignidade militante para todas nós. Mulheres galegas que abrírom a empurrons os caminhos que hoje somos quem de percorrer. Mulheres que levam séculos a viver sob múltiplas identidades, mas com um só intuito, o de trazer a justiça para este país e para a classe trabalhadora, traçárom o caminho”.
2009 No cemitério de Miranda, Castro Verde, sob a legenda “Henriqueta Outeiro, comunista, guerrilheira e feminista galega indomável”, coincidindo com XX aniversário do seu falecimento, tivo lugar a nona ediçom. “Henriqueta Outeiro nos momentos cruziais, nos que há que escolher, nos que a maioria opta polo caminho mais fácil, sempre se inclinou por continuar avante: seguir no Madrid assediado e bombardeado de finais do verao do 36, após o golpe militar casadista da primavera de 39, ficar no interior da Península, voltar para a Galiza após a derrota da República e nom ser evacuada para França via Levante, participar ativamente como Maria das Dores na reorganizaçom do PC na Galiza e na organizaçom da luita guerrilheira, dar batalhas nas prisons que foi percorrendo entre 1946 e 1960, voltar entre silêncios, incompreensons e hostilidades, para a paróquia natal de Miranda, seguir intervindo publicamente, orientando-se na difusom dos valores feministas, na defesa das mulheres, fomentando a cultura de base, a educaçom popular. A esquerda independentista galega organizada em NÓS-Unidade Popular decidiu dedicar a nona ediçom do Dia da Galiza Combatente, coincidindo com o XX aniversário do seu falecimento, a homenagear quem por méritos próprios atingiu elevadas responsabilidades políticas e militares na guerrilha galega. Tanta constáncia, tanta audácia, tanto sacrifício, coragem, coerência, valor, é um orgulho para o povo trabalhador combatente. A sua intensa vida, o seu nome representa para nós, luitadores e luitadoras de umha Galiza livre, vermelha e lilás, um exemplo para o sucesso da Revoluçom Galega”.
2010 A X ediçom do Dia da Galiza Combatente foi organizada a rua da Terra de Ferrol coincidindo com a queda em combate de dous militantes do EGPGC, sob a legenda “Lola Castro e José Vilar o povo nom vos esquece”. “Nom seremos nós que realizemos umha homenagem como esta com fins meramente funerários; se hoje recordamos Lola e José é porque achamos que a sua experiência, com os seus erros e acertos, é útil para afrontar a realidade que nos arrodeia. Os motivos que as/os levárom a pegar nas armas e entregar a vida continuam hoje vigentes, e nom só, mas agravados a cada dia que passa. A nossa cultura e o nosso idioma acham-se em perigo de morte sob o jugo espanhol, as agressons som diárias e a sua intensidade nom deixa de crescer. É evidente que Espanha tem a firme resoluçom de nos liquidar como Povo. As crises que golpeiam o Capitalismo a nível planetário estám a significar para nós, para as trabalhadoras e trabalhadores, mais miséria, mais desemprego, mais horas de trabalho por menos dinheiro, mais mortes no posto de trabalho. E como há vinte anos, as mulheres continuam a levar a pior parte, a receber os trabalhos pior remunerados, sendo as primeiras a irem à rua ou caírem na mesquindade da economia submersa, condenadas a viver dos refugalhos deixados polos homens, a servi-los e a deslombar-se sem cobrar um cêntimo para que toda a maquinaria continue a funcionar”.
2011 No cemitério da paróquia chantadina de Sam Fiz de Asma, tivo lugar o ato central da XI ediçom do Dia da Galiza Combatente sob a legenda “Piloto, exemplo de coragem, tenacidade e resistência”. “Por méritos próprios José Castro Veiga, mais conhecido como Luís ou Piloto, forma parte de um dos episódios mais heroicos da recente história contemporánea da Pátria. Foi o último combatente guerrilheiro antifranquista abatido pola Guarda Civil. Durante vinte anos mantivo incólume a reivindicaçom de liberdade e justiça social. Nunca aceitou a rendiçom, nem nengumha forma de conciliaçom com os responsáveis do holocausto galego iniciado em 1936. Negou-se a arriar as bandeiras do socialismo e morreu com as armas na mao. A fotografia escolhida para esta homenagem, possando para a cámara no que semelha umha corte, orondo, com
chapeu, camisa branca, correagens no peito e apontando com umha pistola-ametralhadora, é um indelével retrato emblemático da resistência nacional e popular, da Galiza que nunca se rendeu, dessa parte do País que nem o franquismo nem a posterior operaçom de maquilhagem do atual regime monárquico espanhol nunca logrou ocultar. A esquerda independentista e socialista galega nom só queremos render-lhe o merecido homenagem, reivindicamos a sua trajetória de incansável luitador, de comunista exemplar, de galego coerente, o profundo amor pola terra à que serviu sem mais contrapartidas que o respeito, admiraçom e carinho do seu povo, sem o qual nom teria sido possível ter superado a implacável perseguiçom a que foi submetido por falangistas, somaténs, exército e basicamente da brutal Guarda Civil”.
Henriqueta Outeiro
Benigno Andrade Garcia nasce em 1908 no lugar de Foucelhas (Cabrui-Mesia-comarca de Ordes), do qual adotaria a alcunha com que se converteu num dos guerrilheiros antifascistas mais conhecidos da Galiza. Após mais de umha década combatendo o fascismo, a 7 de agosto de 1952, por meio do garrote vil, é assassinado no centro penitenciário próximo da Torre de Hércules, polo regime que desde 1936 desatara o terror sobre o povo trabalhador galego. Umhas semanas antes, o último responsável simbólico do Exército Guerrilheiro da Galiza, Melchor Diaz “Pepito”, que detinha a secretaria-geral do PC na Galiza, tinha sido abatido pola Guarda Civil. O franquismo buscou, com a sua captura, julgamento e execuçom um golpe propagandístico definitivo contra a esmorecente luita guerrilheira. A férrea censura que pretendia ocultar as açons da guerrilha ao povo foi substituída por umha grande difusom do seu processo na imprensa. O lendário Foucelhas, um dos guerrilheiros mais conhecidos e admirados, o que sempre conseguia esquivar a perseguiçom fascista, aquele a quem se atribuiam dúzias e dúzias de açons, caía também, marcando simbolicamente o fim de umha das mais heroicas experiências de luita desenvolvidas polo nosso Povo, apesar da admirável resistência de alguns combatentes mesmo até a década de 1960, como no caso do Piloto ou Corujás. Foucelhas, um trabalhador de origem humilde, foi um outro exemplo de entrega, de coragem e de combatividade. Mais um exemplo da falsidade do mito racista inoculado por Espanha, que pretende convencer-nos de sermos um povo passivo, pacífico e resignado. Nada mais longe da realidade, à luz de luitas como a dos guerrilheiros e guerrilheiras galegas, umha luita que envolveu durante longos anos milhares de compatriotas numha época em que a mais mínima contestaçom ao regime franquista se pagava com a repressom mais cruel. Um heroico exemplo que o independentismo socialista quer honrar nesta XII ediçom do Dia da Galiza Combatente mas, sobretodo, queremos honrar com a nossa militáncia os 365 dias de cada ano até libertarmos o nosso país, para construirmos umha sociedade justa e livre para todas, onde as misérias às quais, cada vez mais, nos conduz o capitalismo, só sejam matéria de estudo para historiadoras e historiadores.