Dia e noite

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Distribuição Gratuita



índice:

Pág 4 Night and day, you are the one Filipe Esménio Pág 6 A Portela da Noite para o Dia Maria Geni Veloso das Neves Pág 7 Fotografias Dia e Noite Sofia Trindade Cartoon Bruno Bengala

Pág 12

Foto Reportagem "Lusco-Fusco" Nuno Luz

DIA E NOITE | NP | 03

Pág 14 Telefones CCP Pág 16 Lembras-te do fogo? Lisa Henriques Pág 18 Primeira Espuma Sofia Leal Pág 19 Noite, a tenebrosa criança Nuno Estevens

Pág 8 Telefones úteis

Pág 20 O dia e a noite bíblicos Cónego António Janela

Pág 10 Uma Perspectiva Oriental Catarina Braga

Pág 22 Editorial Manuel Monteiro

Ficha Técnica - Director: Filipe Esménio Director Adjunto: Miguel Meneses Chefe de Redacção: Manuel Monteiro Redacção: Denise M. Cadete, Eduardo Almeida, Madalena Beirolas, Pedro Pereira Colaborações: Catarina Braga, Cónego António Janela, Lisa Henriques, Nuno Estevens, Sofia Leal, Sofia Trindade Fotografia: Nuno Luz Direcção Comercial: Luís Bendada Ilustrações: Bruno Bengala e Luís Serra Santos - Projecto Gráfico: Tiago Fiel; Criatividade e Imagem: Nuno Luz Impressão: Novagráfica Cartaxo - Estrada Nacional 3, Km 25,750 - Apartado 131 - 2070 CARTAXO Tiragem: 6 200 Exemplares Proprietário: Filipe Esménio CO:202 206 700 Sede Social, de Redacção e Edição: Rua Júlio Dinis nº. 6 1º Dto. 2685-215 PORTELA LRS Tel: 21 945 65 14 E-mail: noticiasportela@ficcoesmedia.pt Nr. de Registo ICS - 121 952 Depósito Legal nº 119 760 / 98

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04 | NP |DIA E NOITE

Night and day,

you are the one

1h. Às vezes tanto faz… nunca sabemos bem se queremos mesmo estar aqui…mas vamos ficando, é um pouco como aqueles momentos em que sabemos que não é ali que queremos estar…mas também e por outro lado não fazemos puto ideia onde gostaríamos de estar e por isso ficamos… 2h. Parece que tudo está bem melhor, pouco sangue no álcool e muita gente gira. De onde teriam vindo? 3h. Olé olé, olé olé. Aqui estava mesmo a partir, era provavelmente a melhor série de TV que passava num Sábado à noite nos últimos tempos. 4h. Estava cansado mas não me apetecia dormir. Guardei a garrafa de whisky e fui ligar o computador…nem eu sabia bem porquê… 5h. Já sabia de cor as características dos meus jogadores do Hattrick. 6h. Já tinha estado num chat com uma miúda do outro lado do Mundo…penso eu. 7h. Se calhar já me podia ter ido deitar… pensei. E fui. 8h. RRrrrrrrrr rrrrrrrrrrr rrrr 9h. Levantei-me, o miúdo não pára de chamar… dói-me um bocadinho a cabeça. Ligo a TV no Panda e deito-me no Sofá enquanto aquece o leite. 9h e 30m. O LEITE!!!!!

10h. Falam-me em ir ao Parque, até as remelas dos olhos me saltaram. Nem sei bem quando errei, se em casar, se errei em me divorciar se o erro foi o puto que adoro ou se sou eu que estou errado… tudo enquanto dava o banho da manhã. 11h. Mudo do Panda para a 2 e continuo no Sofá. Penso em comer qualquer coisa mas na verdade nem tenho fome, apenas uma ligeira dor de cabeça. Fecho os olhos. 12h. A pressão é crescente antes de mais um zapping me deixar a TV num qualquer programa de televisão (desenhos animados entenda-se). Sonho com um guindaste que me transporte para a banheira…mas nada. 13h. Depois de dar uma sopa ao miúdo que a minha mãe lá tinha ido pôr desço até ao café em frente. - Uma bica! – Peço enquanto namoro um Pastel de Nata sem sucesso… Não tinha mesmo fome e o puto insistia na mesma tecla. Nunca percebi se gosto mais do dia ou da noite. Será um todo indissociável como o céu e a terra? Sim é verdade que se calhar gosto mais da tranquilidade da noite... ou mesmo da loucura da noite, do fumo, do cheiro, do vinho, da música, de mim, de ti. Mas na verdade sou tão egocêntrico que também me adoro de dia, na luz, no brilho, nos reflexos do Tejo, da lucidez do ir e de regressar. Se calhar gosto mesmo é dos crepúsculos que nas antípodas se tocam numa beleza indiscritivelmente única e diferente, embora igual, é a simples beleza

do dia e do seu ciclo. 14h. Já nem me lembro bem do que gosto…só quero que o puto não se aleije senão a mãe desanca-me, e com razão, uma vez entalou-se na porta do carro, que horror!!! 15h. Estranhamente deu-me a fome… - Tens fome? - Não. Acho que foi a primeira vez que lhe dirigi directamente a palavra. Nada mau. O puto diz sempre que não tem. Mas tem de comer. Fomos outra vez ao mesmo café. É feio. Pedi uma sandes de fiambre e comemos a meias. Olhei para o puto…nem é feio, quer dizer até é bonito… toda a gente se mete com ele e ele ri…ri como eu não me rio há muito tempo. 16h. Já estou em casa a preparar a mala, a mãe vem às 17h buscá-lo. Pus no Panda e pensei – Este puto vê televisão a mais. Realmente isto da TV é mesmo muito mau. 17h. Acabei de lhe dar um boião de fruta, modernices que a minha mãe tinha comprado, mas mal tocou a campainha o puto deu-me um beijo correu para a porta e disse: - Mamã, mamã. Caiu-me tão mal… Mal saiu abri uma cerveja, tinha um misto esquisito de sede, dor de cabeça e sono…Adormeci. 19h. Acordei com a garrafa entornada no

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DIA E NOITE | NP | 05 chão… nem estava muito molhado mas era melhor limpar… deita um cheiro. Acendi um cigarro e desci. Vim cá abaixo comer qualquer coisa ao café, pedi uma bifana e uma imperial, mas já não tinham pão… Aquilo cheirava mesmo mal… muito mal. Comi um pastel de bacalhau … dois … três, uma… duas… três, imperiais. Acho que estava a dar o Manchester ou isso e fiquei… 20h. Afinal era o Middlesbrough. 21h. Subi e pus na RTP 1 queria ouvir o

Marcelo… já estava a dar. Adormeci… 23h. Já tinha desligado o computador e fui pôr o lixo lá em baixo… Porra esqueci-me do cinzeiro… que se lixe… Amanhã também é dia. 00h. Terá a noite de ter sempre um lado nostálgico e ao mesmo tempo assustador? Será que esta dicotomia bacoca de influência meio religiosa meio inculta e medrosa do bem e do mal, do negro e da luz, da noite e do dia não terá um fim. Conseguiremos ter uma sociedade que se

organize com igual alegria e entusiamo e ao mesmo tempo capacidade de trabalho e de produção 24h por dia? Ou teremos todos de viver como as galinhas que recolhem ao anoitecer para um «curral» de betão onde nos deixam pôr os ovos para depois virem buscá-los. Hoje tomei uma decisão… vou mudar do dia para a noite… se for capaz. Day and night, night and day, why is it so? Filipe Esménio


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A Portela da Noite para o Dia A nossa Portela é cada vez mais noite e dia. Num bairro que era um dormitório muita tem sido a luta travada para dar noite a

Dra. Maria Geni Veloso das Neves

quem só tinha dia. A ausência da oferta cultural e de actividades que complementem as nossas vidas para além do trabalho ou da nossa reforma só nos dava a energia para o dia, mas muitas outras oportunidades têm surgido para que se faça noite. A vida é um todo tal como o Dia em que para tudo há tempo desde que exista uma estrutura, uma organização, um estímulo, que faça da nossa vida, ou se quisermos dos nossos dias, dias melhores. Ao assumirmos este executivo sabíamos que a nossa Freguesia tinha formas de vida muito próprias em que vizinhos de há 30 anos pouco se falavam e em que o espírito comunitário não existia. O mandato da humanização da nossa Terra - 2002/05 - procurou dar luz em muitos horizontes e hoje sentimos que proporcionamos muito mais Dia a todas as horas das noites dos Portelenses. É a ginástica, a dança, o Grupo Coral, o Grupo de Teatro Musical, as festas da nossa Freguesia, as Exposições que, de quando em quando, começam a acontecer, o Gabinete de Psicoterapia e o apoio à infância, o Posto Clínico,

a força que procuramos dar a algumas Instituições da Terra que muito nos orgulham. Sabemos que não chegamos a todos e que não fizemos tudo o que poderia ser feito. Por isso, temos mais projectos direccionados para a construção das piscinas, dos realojamentos da Quinta da Vitória, do Centro de Dia com apoio domiciliário, do nosso Edifício Autárquico, do circuito de manutenção e da continuidade dos arranjos exteriores da nossa Portela. E fica tudo feito após estas obras? Não. Os dias são como a Vida, mutáveis, flexíveis, permitindo-nos, em cada momento, redescobrir novos objectivos, novas actividades que nos complementam como Homens e como amigos do nosso bairro. Já demos muitos passos para que a Portela esteja integrada como um todo, com dia e noite todos os dias. Não a noite agitada das zonas de diversão nocturna mas aquela que permite a quem cá habita poder estar, poder ter um motivo para não envelhecer no sofá. Continuaremos a dar vida à Portela para conseguirmos ter dias cada vez mais completos e felizes.


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08 | NP | TELEFONES ÚTEIS

telefones portela

AdministrAção do c.c.p. 219436194 Aeroporto dA portelA 218413500 AssociAção de morAdores dA portelA 219435114 bombeiros Voluntários de moscAVide 219458640 bombeiros Voluntários de sAcAVém 219427910 câmArA municipAl de loures 219829800 cArris 213613000 centro de emprego de moscAVide 219405310 cp cAminHos de ferro de sAcAVém 219419909 centro de sAúde de

moscAVide 219445545 centro de sAúde de sAcAVém 219410368 edp 210011000 escolA básicA do 1º ciclo dA portelA 219435743 escolA secundáriA dA portelA 219428980 escolA c+s gAspAr correiA 219457600 esquAdrA p.s.p. de moscAVide 219444685 esquAdrA p.s.p. dos oliVAis 218547200 fArmáciA pAulA cAmpos 219431423 fArmáciA pedro 219441089

úteis: gAre do oriente 218956890 HospitAl cuf descobertAs 210025200 HospitAl curry cAbrAl 217924202 igreJA de cristo rei dA portelA 219435454 instituto de solidAriedAde e segurAnçA sociAl lisboA 213102000 instituto de solidAriedAde e segurAnçA sociAl loures 219828200 JuntA de freguesiA dA portelA 219446417 loJA do cidAdão 808241107 notíciAs dA portelA 219456514 / 219436480 rádio táxis de sAcAVém

219409020 Autocoope 217932756 reclAmAções de consumo 218883535 repArtição de finAnçAs dos oliVAis 218392350 repArtição de finAnçAs de sAcAVém 219499450 seminário dos oliVAis 219457370 serViço de informAções nAcionAis 12118 serViços municipAlizAdos de águA 219848500 sos número nAcionAl de socorro 112 telefone AVAriAs 16208

outros AbrAço - Apoio A pessoAs com HiV-sidA 800 225 115 Alcoólicos Anónimos 217 162 969 AltA AutoridAde pArA A comunicAção sociAl 213 929 130 AnAcom - AutoridAde nAcionAl de comunicAções 800 206 665 Apoio Ao turistA 808 781 212 Apoio e informAção sobre HomossexuAlidAde 218 876 116 AssembleiA dA repúblicA 213 919 000 Assoc. portuguesA.de Apoio à VítimA 707 200 077 AssociAção portuguesA de imprensA 213 555 092 AssociAção portuguesA de nArcóticos Anónimos 800 202 013 bloco de esquerdA 213510510 bombeiros sApAdores, comAndo 213 924 700 bombeiros, cHAmAdAs de socorro 213 422 222 cAboVisão - serViço de Apoio A clientes 1680

cAminHos de ferro informAções 808 208 208 centro culturAl de belém 213 612 400 centro de ArbitrAgem de conflitos de consumo 218 807 030 centro de buscA e sAlVAmento mArítimo 214 416 581 centro de estudos e formAção desportiVA 213 966 162 centro JAcques delors, inform. união europeiA 800 222 001 comissão dA cArteirA profissionAl de JornAlistA 213 424 303 comissão nAcionAl de eleições 213 923 800 comissão nAc. de lutA contrA A sidA 217 220 822 comissão pArA A iguAldAde e direitos dAs mulHeres 800 202 148 comissão pArA A iguAldAde no trAbAlHo e emprego 800 204 684 comité olímpico de portugAl 213 617 260 confederAção do desporto de portugAl 214 113 975 confederAção nAcionAl dAs AssociAções de pAis

218 471 978 criAnçA mAltrAtAdA 213 433 333 cruz VermelHA portuguesA, AmbulânciAs 219 424 362 cruz VermelHA portuguesA, HospitAis 217 714 000 cruz VermelHA portuguesA, sede nAcionAl 213 913 900 deco - Assoc. port. pArA A defesA do consumidor 218 410 858 dir. gerAl dA Adm. AutárquicA 213 145 889 direcção gerAl dAs AlfândegAs 218 813 900 direcção gerAl de trAnsportes terrestres 217 949 000 direcção gerAl de turismo 800 296 296 direcção gerAl de ViAção 213 122 100 direcção gerAl do ensino superior 213 126 000 direcção gerAl dos serViços prisionAis 218 812 200 edp - Atendimento 800 505 505 epAl - empresA portuguesA dAs águAs liVres

213 251 000 estAdo mAior dA ArmAdA 213 476 238 estAdo mAior dA forçA AéreA 214 723 500 estAdo mAior do exército 218 842 300 estAdo mAior generAl dAs forçAs ArmAdAs 213 038 589 fugAs de gás 800 201 722 fundAção cAlouste gulbenkiAn 217 823 000 fundAção pArA A computAção científicA nAcionAl 218 440 100 gAbinete do ministro AdJunto 213 927 600 gAbinete do primeiro ministro 213 923 500 gdl -soc. distribuidorA de gás nAturAl de lisboA 800 206 009 gnr - brigAdA de trânsito 213 922 300 gnr - guArdA nAcionAl republicAnA 213 217 000 iluminAção públicA lisboA 218 504 000


TELEFONES ÚTEIS| NP | 09 ind - instituto nAcionAl do desporto 213 953 271 inem - instituto nAcionAl de emergênciA médicA 213 508 100 infArmed, instituto nAc. fArmáciA e medicAmento 217 987 100 informAção Anti Venenos 808 250 143 instituto dA comunicAção sociAl213 221 200 instituto de meteorologiA 218 447 000 instituto de reinserção sociAl 213 176 100 instituto de seguros de portugAl 800 201 920 instituto do consumidor 213 564 600 instituto do emprego e formAção profissionAl 808 200 670 instituto nAcionAl dA AViAção ciVil 218 423 500 instituto nAcionAl de estAtísticA 218 426 100 instituto nAcionAl de medicinA legAl 218 811 800 instituto nAcionAl de trAnsportes ferroViários 213 178 900 inst.port. dA drogA e toxicodependênciA 211 119 100 instituto português de sAngue 217 921 050 intersindicAl, conf. gerAl trAbAlHAdores 213 236 500 intoxicAções 808 250 143 ipJ - instituto português dA JuVentude 213 179 200 isn - instituto de socorros A náufrAgos 210 911 000 linHA Azul do lisboetA - inform. e reclAm. 213 227 000 linHA do cidAdão idoso (9 ~ 17:00) 800 203 531 linHA VidA - sos drogAs (10 ~ 24:00) 1414 listAs telefónicAs internAcionAis 177

loJAs do cidAdão 808 241 107 lux 218 820 890 metropolitAno de lisboA 217 980 600 ministério AgriculturA, desenVolV. rurAl e pescAs213 234 600 ministério cidAdes, ordenAmento territ. e Ambiente 213 430 157 ministério dA AdministrAção internA 213 233 000 ministério dA ciênciA e do ensino superior 217 231 000 ministério dA culturA 213 614 500 ministério dA defesA nAcionAl 213 038 528 ministério dA economiA 217 911 600 ministério dA JustiçA 213 222 300 ministério dA sAúde 213 305 000 ministério dA segurAnçA sociAl e do trAbAlHo 218 420 009 ministério dAs finAnçAs 218 816 800 ministério dos negócios estrAngeiros213 946 000 ministério obrAs públicAs, trAnsportes e HAbitAção 218 811 300 moVimento pArtido dA terrA mpt 217 932 668 noVis - serViço de Apoio A clientes 808 100 100 oni - serViço de Apoio A clientes 16505 onu - centro de informAção pArA portugAl 213 190 790 optimus - serViço de Apoio A clientes 16200 ordem dos AdVogAdos 218 823 550 ordem dos médicos 218 427 100 pArlAmento europeu gAbinete em portugAl 213 504 900 pArque dAs nAções 218 919 898 pArtido comunistA português pcp 217 813 800

pArtido comunistA trAbAlHAd. portugueses mrpp 218 880 780 pArtido ecologistA "os Verdes" 213 960 291 pArtido operário unidAde sociAlistA pous 213 225 931 pArtido populAr cds-pp 218 814 700 pArtido sociAl democrAtA psd213 918 500 pArtido sociAlistA ps213 822 000 pArtido sociAlistA reVolucionário 218 882 736 pAtriArcAdo de lisboA 218 810 500 pJ - políciA JudiciáriA 218 641 000 pJ - políciA JudiciáriA, gAbinete de imprensA 213 529 515 pJ - políciA JudiciáriA, piquete- 218 641 000 políciA JudiciáriA militAr 213 013 524 políciA mArítimA (piquete) 916 600 718 presidênciA dA repúblicA 213 614 600 proJecto de Apoio fAmíliA e criAnçA (10 ~ 20:00) 213 421 901 protecção à florestA 117 protecção ciVil 218 800 010 proVedor de JustiçA 808 200 084 psp - políciA de segurAnçA públicA 800 208 000 portugAl telecom cHAmAdAs internAcionAis 800 201 520 portugAl telecom - informAções internAcionAis 179 portugAl telecom informAções nAcionAis 118 portugAl telecom proVedor do cliente 800 204 420 portugAl telecom serViço de Apoio A clientes 16 200 rdp 213 820 000 recAdos dA criAnçA (9:30 ~ 17:30)

800 206 656 rtp 217 947 000 secretAriA de estAdo dA JuVentude e desporto 213 036 000 segurAnçA sociAl 218 425 700 sic 214 179 550 sindicAto dos JornAlistAs 213 464 354 sociedAde Anti-AlcoólicA portuguesA (9:30 ~ 18:00) 213 571 483 sociedAde portuguesA de Autores 213 594 400 sos - sidA 800 201 040 sos criAnçA (9:30 ~ 18:30) 217 931 617 sos gráVidA 213 862 020 sos gráVidA (10 ~ 18:00) 808 201 139 sos Voz AmigA - AngústiA, solidão, suicídio 800 202 669 supremo tribunAl de JustiçA 213 218 900 telepAc - serViço de Apoio A clientes 808 207 070 tmn - serViço de Apoio A clientes 1696 tribunAl constitucionAl 213 233 600 tribunAl de contAs 217 917 800 tV cAbo 707 266 466 tVi 214 347 500 ugt - união gerAl dos trAbAlHAdores 213 931 200 unesco - comissão nAcionAl 213 566 310 união europeiA representAção em portugAl213 509 800 unicef - comité português 213 177 500 ViA networks - serViço de Apoio A clientes 808 240 724 ViA Verde portugAl 707 500 900 VítimAs de ViolênciA domésticA 800 202 148 VodAfone - serViço de Apoio A clientes 16912


10 | NP | DIA E NOITE

Uma Perspectiva

Oriental “Dao produz o UM; o UM compreende o DOIS e manifesta-se como TRÊS; o TRÊS produz os dez mil seres.” Lao Tse, VI a .C.

O Dao (ou Tao) é o princípio supremo e a base da filosofia TaoÍsta. É como que o vestígio deixado no mundo visível, ou seja no mundo cognoscível, pelo princípio que o governa. É assim que o Homem toma conhecimento da sua existência. Encontra-se presente no mundo perceptivo através de sinais porque ainda não se encontra em estado de manifestação. Só passa a ser manifestação porque produz o UM, ou seja a energia que permite a existência. A energia que falo aqui é uma energia unicista e mutável, podendo manifestarse sob várias formas. A matéria por exemplo não é mais do que uma condensação de energia. Não existe calor e frio, mas sim calor transformando-se em frio e frio transformando-se em calor. O Dao toma forma porque se transforma segundo uma lei bipolar do Yin e do Yang – duas forças opostas e complementares (o DOIS da frase de Lao Tse). Etimologicamente Yin e Yang significam os lados sombreados e ensolarados de uma colina, respectivamente. A ideia patente neste paradigma é que o mundo é um todo e a sua diversidade é o resultado da união contraditória destes dois princípios (Yin e Yang). Tudo subsiste por si mesmo ou pelo seu oposto. O conceito de Yin e Yang surgiu através da observação das ordens naturais da

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O Yin e o Yang são noções relativas O que é Yin em certas condições é Yang noutras. Por exemplo, um líquido é Yang em relação a um sólido e Yin em relação a um gás. Yin e Yin repelem-se; Yang e Yang repelem-se Partículas com a mesma carga repelem-se. Yin e Yang atraem-se O protão atrai o electrão. O Yin extremo produz o Yang e o contrário também é válido Um membro gelado dá a sensação de queimadura. O Yin e o Yang absolutos não existem A mulher (Yin) produz hormonas masculinas (Yang); o homem (Yang) produz hormonas femininas (Yin). A identidade não existe Nenhuma coisa escapa à lei da mutabilidade. Para uma melhor compreensão, fica aqui uma pequena lista de classificação do que é considerado Yin e o que é Yang, ela poderia ser interminável, não esquecendo que estas são noções relativas e apenas classificáveis umas em relação à outras:

Yang Verão Primavera Luz Quente Actividade Céu Homem Vigília Dia

Yin Inverno Outono Obscuridade Frio Passividade Terra Mulher Sono Noite

dos primeiros crepúsculos da alvorada (Yang). Estamos assim sujeitos à natureza Yin do dia, mas de evolução Yang. Ao observar a forma como a natureza se comporta, filósofos chegaram à conclusão que a meia-noite corresponde ao Yin máximo e o meio dia corresponde ao Yang máximo.

Destas duas forças opostas nascem os ritmos energéticos fundamentais do Universo, cujos efeitos o homem sofre ao mesmo tempo que é produto deles. "Yin e Yang são a lei do Universo, a mãe e o pai de todas as transformações, a razão da vida e da morte" – Imperador Amarelo. O Yin e o Yang no tempo A alternância do dia e da noite é explicada à luz destes princípios, quando um deles diminui o outro aumenta existindo assim um ritmo bem definido e previsível. Aqui surge um bom exemplo de como a energia sendo única na sua essência manifesta-se através desta dialéctica sendo o motor do universo: “O equilíbrio perfeito não existe pois levaria ao fim de toda e qualquer evolução". Das 6h às 12h – é a parte iluminada do dia (Yang) existindo o aumento da luminosidade (Yang). Consequentemente é um período tanto de natureza como de evolução Yang. Das 12h às 18h – a luz encontra-se sempre presente (Yang), existindo no entanto a diminuição de luminosidade (Yin). Esta altura do dia é de natureza Yang mas de evolução Yin. Das 18h às 0h – estamos na parte não iluminada do dia (Yin), aumenta a noite e o sol afasta-se (Yin). Período duplamente Yin, ou seja tanto de natureza como de evolução. Das 0h às 6h – a terra não está sempre iluminada (Yin), mas a noite vai ser progressivamente iluminada a partir

Ilustração: Luís Serra Santos

Vida. Provavelmente a mais antiga observação foi a mudança cíclica entre o dia e a noite. Todas as coisas estão sujeitas a mutação em cada instante, ocorrendo em sequências regulares, repetindo-se na mesma ordem. Depois do dia vem sempre a noite! Expõem-se aqui os princípios pelos quais se regem estas duas forças (Nei King), os quais se encontram representados no símbolo conhecido do Yin e do Yang. É através destes princípios que a realidade se manifesta à consciência humana:

Às 6 horas da manhã a predominância Yin torna-se Yang e às 18 horas a predominância Yang torna-se Yin. O Yang chegando ao seu máximo tende para o seu mínimo e vice-versa. Uma outra distinção importante é que nos pontos intermédios a natureza dos mesmos é diferente, isto é, às 6h está orientado para o crescimento Yang e a diminuição do Yin, é diferente das 18h que se encontra orientado para o crescimento do Yin e a diminuição do Yang. Fica aqui exposta a dinâmica e a dialética Yin-Yang dada a conhecer ao homem através do dia e da noite com as suas respectivas variações de luminosidade. Pode-se dizer que existe um ciclo idêntico ao longo do ano para as estações sazonais, o solstício de Inverno assinala o auge do Yin, e o solstício do Verão o apogeu do Yang. Viver em harmonia é balancear o yin e o yang um em relação ao outro. É proporcionar o equilíbrio das formas opostas que é único a cada processo da Natureza, a cada ser, sempre com a consciência que o equilíbrio perfeito não permite a mudança e a evolução. Perceber isto significa obter um poder adaptativo supremo perante as transformações que o Dao oferece. Catarina Braga

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JUNTA de FREGUESIA da PORTELA



14 | NP | TELEFONES CCP

telefones

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16 | NP |DIA E NOITE

LEMbRAS-tE DO ?

fogo

Alimentando-te das mentiras que a história encerra como véus que te agarram a uma ideia de realidade, queres reconhecer os sinais sem te perderes no absoluto. Eis que se redefinem as linhas de pensamento e se redescobrem através da luz todos os caminhos construídos pelo Homem sobre a aparição da terra que se antevê como algo imutável. Esta aparente consolidação do espaço e do tempo esconde sob a capa da novidade as verdades do efémero, a ficção urbana,

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a profunda desilusão estampada no rosto daqueles que se encaminham para o trabalho, operários do visível que se movem sob o signo da sobrevivência. Noite e dia dissecados, transformados numa máquina de comunicação disfuncional, fazendo esquecer o fogo que nos agarra em carne viva e nos dá forma pelo infinito de cada segundo materializado na memória. Porque me escondo de dia e escrevo à noite? Porque danço e fujo.

Caímos mais fundo no engano da propaganda, o desengano que nos traz cativos do isolamento, da ausência do outro para lá do ego, num jogo perverso de alheamento que esconde a ligação intemporal. Ensina-te a renascer, a consagrar a vida e redescobrir a força da poesia que te espera se fores capaz de alargar o campo de visão sem perderes o sentido da existência enquanto usufruto. Retidos no tempo, como no trânsito,


DIA E NOITE| NP | 17 afastando-nos do pulsar da unidade, impedindo que nos lancemos sem receio no sentido das emoções, que nos unem enquanto parte integrante de um fluxo que se expande. Há o acordar preguiçoso, mas antes a consciência do ser, em perfeita conjugação com o espaço. Absortos no paraíso da nossa imaginação palaciana na companhia de um gato persa, analisando o passado, sucedem-se os dias sem que se aceite a miséria, a injustiça, enquanto observamos os pássaros que se elevam, através da janela. A rotina desgasta o fruto da descoberta que nos fez caminhar no sentido da partilha, o isolamento faz-nos esquecer o calor dos outros, dos seus sorrisos. Da filosofia e da faculdade ficará apenas a necessidade de reconciliação com a linguagem enquanto referência das metamorfoses, as relações humanas. De dia o cansaço na procura da resolução dos problemas do mundo quando com efeito através da libertação se alcançam os melhores resultados. Sabes, também demorei a partir as janelas, fi-lo com tanta força que se tornou indiferente, cai do topo da montanha, vais aprender a entrar e sair da matriz sem te ferires, a escalada vicia. Ficará, mesmo após a desilusão, porventura a doçura de um olhar espan-

tado, sem querer acreditar que tudo aquilo que sem dúvida é um avanço gigantesco da técnica nos afastou da vida enquanto partilha constante, enquanto desejo e arrebatamento e se absorveram os dramas pessoais dos outros, de uma política corrupta e se questionou até ao limite a legitimidade dos exemplos, argumentos e percepções, para descobrir que podia ser mais profundo, mais próximo, e todo o sentido se renova para lá do imediato, para assumires as viagens espaciais perturbadoras que te projectam na história e multiplicam a experiência para lá dos limites territoriais. De dia ensaias a coreografia, encarnas os papéis sociais, observas os outros. O que aperfeiçoas à noite, na escuridão total, que te confronta contigo próprio e te pede para saíres do abstracto e tocares os outros através da pele. Não tenho estado operacional. Porque me escondo ainda? Eis que os dias e as noites se nos colocam como uma fonte inesgotável de questionamento face à nossa identidade, assim como das estruturas de poder que consagram uma lógica de subjugação das fragilidades humanas no sentido de usurpar por completo a sua interioridade. Podemos mergulhar, antes mesmo de conseguir distinguir tudo o que nos rodeia, sentes o vento percorrer o corpo enquanto

te ergues e redescobres o ténue limite que nos impede de arder, apenas para nos podermos revisitar. Onde estás agora que voltei. É noite, dormes, é já dia para mim, quando o deslumbramento me fez sair dos túneis e te aguardo no jardim. Onde está esse jardim, quando saímos à rua e nos encontramos nos sítios mais próximos, mais convenientes que me perturbam pela ausência de vida. Espero que queiras fazer amor, que todos os impulsos violentos se desvaneçam, voltamos a tocar. (Imortais à procura de semelhantes neste concerto sublime. O maestro tem andado constipado, é preciso ter cuidado com as reservas de ouro.) O infinito propaga-se revelando as respostas na ponta da língua, as peças por representar, esboços do paraíso, que te gritam, lembra a vibração da terra, afasta a dor. O que é que te apetece ouvir? Conserva-se a cadência do tempo, o ritmo secreto que cada um reservará para si. Entre o branco e o preto, a conjugação das sombras. O contexto que nos move e a percepção da forma através do movimento, enquanto desenhamos a luz e retocamos as cores ao sabor dos reflexos da introspecção. Lisa M. C. Henriques

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18 | NP | DIA

Primeira Espuma na dança diurna germinam movimentos que atraem os sons das gaivotas as palavras são expelidas de forma urgente como ímanes alcançando os rostos antídotos do frio confia na primeira espuma e começa a nascer Sofia Leal

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NOITE| NP | 19

Noite,

a tenebrosa criança

É noite. E a noite desce, numa profusão de cores cada vez mais difusas. Como se trevas baixassem sobre a minha cabeça. O ar húmido. Clarões atrás de clarões. Uma placa: 1907. […] Sapateiros, 225. Envolve-me uma luz azul, absolutamente angustiante, metálica, mas que eu sei ser essencial para a manutenção da minha consciência, para não cair no transe. “Não foi há pouco tempo, neste mesmo local, que cometeste o teu crime, que mataste, Ródia?” – mas que voz é esta? Só agora dou por mim. Estou dentro de um túnel. Reparo agora que estou há largos minutos a segurar, pela mão, uma menina (só agora reparo: ela tem a cara desfigurada). Lá ao fundo, vozes de gente, a presença de gente, sei-o. Oiço uma tosse tuberculosa. Nas paredes, escorrem sinais do ar húmido, fétido e doentio que desde sempre caracterizou esta terra. Quando o sinto, penso: “Estou em casa”. Deve ser mesmo a coisa mais familiar que possuo. Continuamos pelo túnel, que parece cada vez mais largo. Mais uma vez, não consigo ter a certeza de muito, neste lugar. A cara desfigurada parece sorrir para mim

(como?), apesar de à primeira vista serem difíceis de vislumbrar quaisquer sinais de expressão. Sem essa cara seria uma menina igual às outras, penso para mim. A cara, ou o corpo da cara parece ouvir o meu pensamento, pois de imediato cravame as unhas na parte interna da mão que a segurava. Mas não, foi apenas uma impressão. Rodeia-nos uma humidade quase irrespirável: uma daquelas noites que nos chama e diz “estou em toda a parte”, não nos sai da cabeça. Todo o corpo, próximo de um estado de asfixia – até um ponto, diria, em que as entranhas se parecem mexer, a tentar sair, possivelmente – o que, de uma forma mecânica, me faz andar mais depressa, em direcção ao fim do túnel. Penso novamente na mão que me agarra, e se não me deslocaria mais depressa sem ela, é justo perguntar. Mas afasto rapidamente este pensamento – não suporto encarar novamente “aquela” cara (serei eu?). De repente paro, e sinto todo o insustentável peso de um trajecto, de um gesto, de uma pena cumprida todos os dias. “Não posso mais”, “é preferível extinguires-te: o suicídio”. Mas a Morte não faz parte deste

local. Não existe a inexistência. “A Madalena, aqui, seria negra e saberia a pó”, riome interiormente com esta ironia mórbida, sem saber bem porquê. Mas estou a chegar a um ponto. Sinto-o. De repente, sei que já não há cara, nem criança, mas um rasto de sangue que me persegue. A mão, essa, já sem corpo, continua a agarrar-me, agora muito mais leve e etérea. A luz azul intermitente permite entrever as sombras, lá atrás, os seres que recolhem os bocados do corpo da criança (se é que assim se pode chamar a tal aborto) à medida que foram caindo. E percebo agora que o aborto não era senão a dor profunda que me puxa para trás, a dor primordial que nos prende antes de qualquer movimento que façamos. Uma curva marca uma nova fase no túnel. A luz intermitente é agora vermelha. Silêncio. Num instante, o lancinante som de mil máquinas, um grito agudo na consciência, tudo parece rebentar. Cruzo a linha final, em direcção à Luz. O dia nasce de novo. Nuno Estevens


20 | NP | DIA E NOITE

I

A Bíblia – essa “biblioteca” composta por 74 livros tão diversos, em duas secções, o Antigo e o Novo Testamento – se é ponto de referência imprescindível para os crentes do judaísmo e do cristianismo não deixa de ser, igualmente, referência cultural importante para os homens de hoje. No simbolismo bíblico da noite, o acontecimento da “noite pascal” ocupa o lugar central. Aí se encontra, também, a experiência humana fundamental que é comum à maioria das religiões: a noite

como uma realidade ambivalente, temível como a morte e indispensável como o tempo de nascimento dos mundos. No Livro dos Salmos se a noite é temível, porque com ela o dia morre – quando desaparece a luz do dia surgem então as feras (salmo 104, 20), a peste tenebrosa (salmo 91,6), os que odeiam a luz, adúlteros, ladrões ou assassinos (Job 24) – por sua vez, a noite tem de ceder lugar ao dia que se aproxima. Assim, o fiel que confia no seu Senhor é comparado à sentinela que espreita


DIA E NOITE | NP | 21 a aurora do novo dia (salmo 130,6). Estes simbolismos – as trevas da morte e a expectativa do dia – só atingem, porém, o seu sentido pleno quando inseridos numa realidade vivencial de ordem singular. A noite vem a ser o tempo em que de modo particularíssimo se desenrolou a história da salvação. Segundo as diversas tradições do Êxodo, foi “pelo meio da noite” que Javé pôs em execução o propósito que havia tomado de libertar o seu povo da escravidão no Egipto. Noite memorável, recordada em cada ano por uma noite de vigília, em memória do facto de que o próprio Javé havia velado sobre o seu povo. “De noite celebravas a Páscoa com teu povo / enquanto, nas trevas, caíam os inimigos”, assim reza um hino da Liturgia das Horas evocando momentos desta história da salvação que Deus quer construir com os homens: “De noite descia a escada misteriosa Junto da pedra onde Jacob dormia. De noite ouviu Samuel três vezes o seu nome E em sonhos falavas aos santos Patriarcas. De noite, num presépio, nasceste, Verbo eterno, E os Anjos e uma estrela anunciaram a tua presença. À noite celebraste a primeira Eucaristia No meio dos teus amigos na Última Ceia. De noite agonizaste no Jardim das Oliveiras E recebeste o beijo frio da traição. A noite guardou o teu Corpo no sepulcro E viu a glória da tua ressurreição. Na noite da nossa vida, com a luz da fé acesa, Esperamos alegres a tua última vinda.” “Trazidos das trevas para a admirável luz” não podemos ser tomados de surpresa pelo “Dia do Senhor que chega como

um ladrão na noite” (1Ts 5,3). Sem dúvida, presentemente ainda nos encontramos “na noite”. Mas – tal como São Paulo recorda na Carta aos Romanos – essa noite “avança” já para o Dia que lhe porá termo (Rm 13,12). Com o acontecimento central da ressurreição de Cristo o “Dia” brotou da noite: “ao despontar do dia” eis que relampagueia o fulgor dos anjos (Mateus 28,3), anunciando o triunfo da luz e da vida sobre as trevas da noite. E desde que Cristo ressuscitou então já não pertencemos simplesmente à noite, mas ao Dia – “não somos mais nem da noite nem das trevas”. Doravante, a vida do crente adquire um sentido novo em função do Dia de Páscoa, o dia que não conhece ocaso. Esse dia brilha no fundo do coração do crente: “vós sois filhos da luz e filhos do Dia”. Por isso São Paulo adverte: “Não durmamos, pois, como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança da salvação” (1Ts 5,5-8). Celebrarmos o Natal é celebrarmos Aquele que, nascendo na noite, vem inaugurar o novo Dia, como reza um hino natalício: “ Deus fez brilhar em nós a sua luz Para que nela víssemos a imagem Do esplendor da glória de Deus, Que se reflecte em Cristo, sol da vida. Olhos na luz que nos revela o dia, A luz nos leve ao dia do Senhor. O seu clarão desfaça as nossas trevas E reine a paz em nossos corações ”

Cónego António Janela

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22 | NP | EDITORIAL Nada. Mas mesmo assim vou tentar, ancorando-me em José Cardoso Pires: «À noite, as pessoas despemse mais. Há uma atmosfera de pecado amável.» Ou então dizer apenas: quem não sente a diferença entre o dia e a noite, provavelmente é uma pessoa de dia. Sei que quando digo «dia», que quando digo «noite», os mundos que se erguem na minha cabeça, belos e reluzentes, não existem em mais lado nenhum. Quando digo dia, evoco o perfume das flores do Verão, águas alegres reflectindo o Sol incandescente, a proa do barco rasgando a espuma branca, vozes frescas e optimistas, a efervescência em torno do dia, agitando-se no banho, agitando-se no café, agitando-se no jornal da manhã, o olhar limpo perante a estrada por percorrer… Quando digo noite, evoco as noites azuis de Van Gogh, todas as luzes cintilando nas cidades, a lua perfeita, o mar prateado, murmúrios encantados e segredos que só existem de noite, sonhadores nas noites calmas contemplando as estrelas… E sobre isso tudo uma cintilação, um brilho

Dia e Noite

«I know that the night is not the same as the day: that all things are different, that the things of the night cannot be explained in the day, because they do not then exist». Ernest Hemingway, A Farewell to Arms

Há pessoas do dia e há pessoas da noite. Há conversas de dia e há conversas de noite. De dia, a beleza. À noite, a magia. O mundo se não fosse dicotómico perdia a graça. Podem as circunstâncias abater-se violentamente sobre alguém… Uma pessoa acaba sempre por regressar à sua própria casa – seja ela qual for. O dia e a noite também são casas. O que dizer a quem não sente as coisas assim? A quem não sente a antinomia dos mundos do dia e dos mundos da noite?

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resplandecente revestindo a noite… Poucos fenómenos há, transversais a todas as épocas e a todas as culturas, capazes de provocar inalteráveis sentimentos. O amanhecer é um deles. Uma das mais poderosas experiências da minha vida foi assistir ao nascer do Sol do alto de uma lagoa. Em contacto com o céu infinito, vi as nuvens apartarem-se lentamente… como cortinas de um palco desvelando o actor principal… alastrando a claridade por todas as coisas… Toda a natureza se curvava no mais bonito acto de genuflexão… Memorizei para sempre, nesse momento, que sermos testemunhas da metamorfose da noite em dia, do recomeçar da vida em todas as coisas, nos restabelece a confiança na eterna capacidade de regeneração da esperança. O silêncio às vezes pode ser a nota mais alta. O silêncio perante a ordem natural e ancestral. Perante a imutabilidade do dia e da noite. A inconfundibilidade de ambos os mundos. Alguém imagina a escuridão a descer aterradoramente ao meio-dia? O Sol expulsar as trevas às três horas da manhã? Cai a noite. As palavras sobram. Manuel Monteiro




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