D i s t r i b u i ç ã o G ra t u i t a
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Páginas 4 e 5 Eu quero ser fútil Filipe Esménio Página 6 Futilidades? Maria Manuela Dias
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Páginas 12 e 13 Fotorreportagem "A futilidade confunde-se com a realidade" Nuno Luz
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Páginas 14 e 15 Telefones Centro Páginas 16 e 17 Caos Lisa Henriques
Página 7 Fútil futilidade Teresa Cadete
Página 18 O espinho da futilidade na rosa do amor Mafalda Gaspar
Páginas 8 e 9 F-Utilidades Cristina Fialho
Páginas 20 e 21 Recordando o Maio de 68 Alberto Castro Ferreira
Página 10 I am what I am and I really like it Miguel Esteves Pinto
Página 22 O homem mais fútil do mundo Manuel Monteiro
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icha écnica Director Manuel Monteiro Director Adjunto Miguel Meneses Redacção Ana Catarina Maranga, Cristina Fialho, Maria Rua, Miguel Esteves Pinto, Teresa Cadete Colaborações Alberto Castro Ferreira, Lisa Henriques, Mafalda Gaspar Fotografia Nuno Luz Direcção Comercial Luís Bendada Ilustrações Bruno Bengala Projecto Gráfico Tiago Fiel Criatividade e Imagem Nuno Luz Impressão Novagráfica do Cartaxo, Lda. - Estrada Nacional 3, Km 25,750 - Apartado 131 - 2071-909 CARTAXO Tiragem 6 200 Exemplares Proprietário Filipe Esménio CO:202 206 700 Sede Social, de Redacção e Edição Rua Júlio Dinis nº. 6 1º Dto. 2685-215 PORTELA LRS Telefone 21 945 65 14 E-mail info@noticiasdaportela.pt Registo GMCS n.º 121 952 Depósito Legal n.º 119 760 / 98
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Eu quero ser fútil A vida é feita das pequenas coisas, dizem-me. A felicidade é um estado de alma volúvel, instável, incerto. Quem tem o condão de avaliar a verdadeira importância das pequenas coisas? Já todos ficámos perplexos, pasmados com a importância que os outros dão àquilo que para nós nada vale. Será que devemos de forma tão leviana avaliar? Ser juízes das futilidades dos outros quando nós próprios estamos alicerçados em cima das nossas. Não acredito em futilidade, acredito em falta de valores, em falta de sentido comunitário, em egocentrismo e na ausência de consciência social.
Os seres humanos têm direito a querer, por vezes, algo de pouco valor, a ninharias, a coisas insignificantes que os possam deixar felizes. Diminui o número de consumo de anti-depressivos e de divórcios. Mesmo sabendo que não resolve estruturalmente nada. No fundo, é como as medidas de austeridade do Governo, não passam de futilidades para induzir uma ideia, um status que estruturalmente não resolve nada mas que mais ou menos conscientemente provoca um grande dano a terceiros, mais uma vez criando uma imagem, uma marca de seriedade que como sempre peca por tardia em nome de muitas pequenas futilidades de todos os agentes desta tragédia. Muitos ficamos perdidos no nosso egoísmo, nas nossas futilidades.
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Não conseguimos como n´O Alquimista tirar os olhos da colher de azeite, desviar-nos ligeiramente para o lado para ter outra perspectiva. Somos demasiado comodistas. Pouco latinos e pouco ladinos. Vivemos socialmente, todos, uma grande ilusão alicerçada nas nossas futilidades. Legítimas na forma como a sociedade hoje se organiza, inúteis numa construção de futuro. Vivemos uma crise de abundância, já não temos de caçar para comer, já não temos de cuidar das nossas crias que vamos depositando em estufas com o nome de Escola ou ATL. Não temos de cuidar da condição física porque o carro
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ou o avião nos leva lá, o PT (Personal Trainer) adia o inevitável e o médico dá a pílula que nos impede de engravidar, engordar, bater a bota aos 40 anos e assim desresponsabilizamo-nos. De quê? De tudo! — Ah, depois vejo isso. Na verdade, tenho buéda cenas para fazer. Eu sei que tens razão, mas agora não dá mesmo. E pronto. Deixamos sempre para amanhã. E na verdade temos o dobro do tempo, já andamos numa média de vida perto dos 80, temos mais do dobro do tempo. Quem quer carreira trabalha doze horas diárias, não vive, mas também pode chegar aos 80. Quem não quer carreira é fútil. Quem decide não vender o corpo às empresas modernas, rápidas e ágeis a gerar capital financeiro, não
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tem perfil. Quem quer amar a mulher o filho e ter tempo para ler um livro é tolo, não está preparado para as novas exigências. Subir, subir, subir até cair e ficar literalmente esparramado no chão. Pode ser que com um galo na cabeça os olhos se abram e caminhemos para um equilíbrio longínquo, mas possível, seja nas contas públicas, seja na nossa vida. Em suma, eu quero ser um bocadinho fútil e, na verdade, já sou.
Filipe Esménio filipe_esmenio@ficcoesmedia.pt
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Ordenado antes de fim do mês, – todos os meses – cartão de crédito: bastava uma assinatura... E não se pensava quanto
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custava… Comprava-se. As caixinhas e caixinhas encheram-se de anéis, pulseiras e colares em ouro simples ou com brilhantes, com pedras preciosas e semipreciosas das quais se desconhecia, até então, o nome. A prata também teve a sua moda. Pulseiras com berloques, colares e pregadeiras. Ao fim do mês lá ia mais um cheque para juntar às prestações da casa, do carro, da mobília, das viagens (se os outros conheciam o mundo e até se espreguiçavam nas praias do outro lado do oceano, eu também), do vestuário, dos sapatos e malas. E pasme-se das compras para ofertas de Natal… Tudo isto era necessário para ostentar estatuto – não se era menos do que a vizinha, a colega, a amiga... As estações e os anos passaram e as jóias, o vestuário e os sapatos e malas deixaram de se usar por já não ser moda, ou por se temer os assaltos. Os ouros jazeram algum tempo na gaveta da cómoda, no cofrezinho ou escondidos algures. Desapareceram os vendedores de ouro e prata e de oferta de cartões que proliferavam por tudo o que era ministério e empresa. Começaram a ser temidos os cobradores com ou sem fraque. Jornais, placards nas ruas anunciaram em letras garrafais “compro ouro, jóias e pratas usados”. Futilidades... sim, mas quando necessitar de vender… só por preço muito baixo... porque o trabalho de ornamentação das peças não conta. Só vale mesmo o peso do “fútil metal”... para derreter. Mas as necessidades são muitas... as mãos pedem pão e lá se vão os anéis… mas ficam os dedos, enquanto houver emprego... É Natal! Não podemos esquecer e é tempo de partilhar. Nas lojas, faz-se gala do número de prendas e acrescenta-se “este ano vou reduzir”, “só as crianças” mas… “devo obrigações”; e faz-se a enumeração. Futilidades pela repetição dos 30 pares de meias, dos pratinhos e paninhos que se dão todos os Natais? Sim... Talvez… Mas pese embora o acto repetitivo em todos os Natais, eu lembrei-me de ti e partilhei contigo o Natal, nem que tivesse sido só na lista de presentes, na loja e quando te ofereci um presente tão “fútil”. Maria Manuela Dias Presidente da Junta de Freguesia da Portela
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FÚTIL FUTILIDADE Num mundo dominado pelas aparências, pelas primeiras impressões e pela comunicação, fica difícil definir o que é ou não fútil. Para uns, o conceito de futilidade é moda, cortes de cabelo e maquilhagem. Para outros são os carros, as celebridades e porque não as alforrecas! Porque não cuidar da imagem? Não pode a nossa imagem falar por nós? Se andar andrajosa e despenteada, não irão os outros pensar que sou maluca ou “coitadinha”? Que me interessa a opinião dos outros? Ora depende de quem são os outros, mas na grande generalidade nada. Que me interessa a opinião que tenho de mim? Tudo! Por isso gosto de me rever naquilo que visto, bem como em tudo aquilo que faço na vida. Todas as minhas acções me interessam e o vestir pelo que sei ainda consta como um verbo de movimento. Porque não pode a maquilhagem ser arte? Envolve perícia e estudo, por isso não vejo o porquê de ser excluído do rol e encaixado na caixinha (o pleonasmo é intencional) das banalidades da vida, que é como quem diz futilidades. Se todos parássemos de criticar o que os outros gostam, em que carro é que os outros andam, que revistam é que os outros lêem e começássemos a pensar se o que EU gosto reflecte o que EU sou, se o que digo, escrevo e faço ME representa como pessoa, respeitaríamos com certeza muito melhor os limites e espaços de todos nós. Não sou moralista, mas perto do Natal até fico tentada. Tanta gente a criticar e a falar do dinheiro que se gasta nas prendas de Natal. Será mesmo o nosso papel falar das 50 barbies e da Playstation3 que o vizinho comprou para os filhos “ilegítimos”? Preocupemo-nos primeiro com as nossas finanças, depois com as prendas do Sócrates e se calhar teremos um 2011 mais feliz. Um 2011 com menos discussões, com menos jovens licenciados a sair do país, com mais emprego e menos miséria. É por queremos sempre ser tão bons quanto os outros europeus que não paramos um segundo para olhar para o nosso umbigo e para ficarmos contentes com os pequenos, mas orgulhosos passos que podemos dar. Sente-se revoltado, injustiçado, diria mesmo furioso? Então pare de berrar com a televisão, de beber cervejas em nome dessa miséria, de fazer queixinhas aos que o rodeiam. Faça qualquer coisa, mas não caia na banalidade de criticar tudo e todos enquanto tem o rabo no sofá e o telecomando na mão. Tome uma qualquer medida e seja louco, não peça prescrição ao médico. Aja! Quer sair do país? Saia. Quer barafustar com o Sócrates? Organize uma manifestação. Decreto esta quadra, o Natal da rebelião. Eu já fiz a minha e você? Teresa Cadete teresa_cadete@noticiasdaportela.pt
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utilidade Era tão melhor que fosse seriedade, irritabilidade ou cabricidade... (A língua está sempre a evoluir, porque não inventar umas palavras novas e fazer com que figurem nas revistas? Não me parece nada fútil.) Afinal, sobre futilidade? Utilizando as palavras sábias de um amigo de longa data, a futilidade será "estar numa espiral infinita em direcção ao vazio"... Claro que a futilidade de alguns acaba por estar ligada apenas a duas coisas. À estética e ao umbiguismo. É pá, ainda bem, tenho de admitir que a maior parte das minhas futilidades também lhes toca... Mas há maneiras tão mais enriquecedoras de viajar nessa espiral que nunca chega ao vazio... Mas gosto tanto de ser vão, de vez
em quando... É claro que tenho de tentar que seja realmente só de vez em quando, mas é óptimo. É olhar para mim como se fosse uma criança, e presentear-me com um chocolate. Só que eu não sou guloso e presenteio-me com umas tontices. Sim, prefiro tontices a futilidades, claro. Mas só no nome, porque acabam por ser a mesma coisa. Aqueles pequenos pormenores que não servem para nada de nada, só para passar o tempo sem pensar, para distrair durante algum tempo... E são tão necessários, no meio da labuta diária. Já diz o cantor, "esta vida é feita de pequenos nadas"... Pessoalmente, gosto muito de pisar só as zonas escuras do chão. Não dá para pensar sempre no assunto,
claro. Mas todos os dias, entre as 17.00 e as 19.00, lá estou eu a saltitar por esta Lisboa, a evitar sempre pisar o branco (o branco é tão bonito...). Faz-me dormir descansado... Mas realmente... Escrever sobre futilidade é contra natura... Faz-me escrever um texto fútil, insignificante, vão, frívolo... Que acaba assim e tudo. Mas que no fundo é um pouco (um bocadinho, só) útil... Sempre captou a sua atenção durante uns segundinhos... Preferia mesmo cabricidade, estou cada vez mais confuso...
Miguel Esteves Pinto miguel_pinto@noticiasdaportela.pt
a futilidade
confunde JUNTA de FREGUESIA da PORTELA
e-se com a realidade
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telefones
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Centro
CAVE 1 – NOTÍCIAS DA PORTELA FICÇÕES MÉDIA CENTRO DE CÓPIAS 219 436 480 2 - ALDINHA INST. BELEZA 219 430 009 3 - ATELIER DE COSTURA 962 284 287 4 E 6 - CANTINHO DO BODA 309 957 357
5 – LOJA DO PEIXE 914 031 594 8 - NADYA JOTTA – CABELEIREIROS E ESTÉTICA 219 435 558 9 - OURO FINO 219 444 361 10 – IMOBI.PT - IMOBILIÁRIA 961 036 655 11 - LOJINHA DAS PRATAS 219 432 355
12 - FÍGARO CABELEIREIRO 219 432 371 13 E 15 - NIKITA CABELEIREIROS 219 434 029 14 - MONTE BIANCO 210 876 354 17 - STOP RÁPIDO 219 432 193 18 - NITOURS - AGÊNCIA DE VIAGENS 219 444 729
20 - CABELEIREIRO THE PLACE 210 801 415 21 - SNACK BAR 21 219 434 974 26 - PIRIPIRI- IMP. & EXP. 219 432 215 27 - COMERCICÓPIA 219 447 133 28 - TABELA SECA 219 430 845
43 - O MUNDO DAS SANDES 44 - JAMBA 1 219 431 191 45 - TENTAÇÃO 219 434 175 46 - IMOBILIÁRIA RM 219 435 392 47 - PÃO NO CESTO 962 042 694 48 - VERUCHA 219 436 938 49 - SAPATARIA VITÁLIA 967 610 891 50 - SAPATARIA VITÁLIA 967 610 891 51 - ORVIL 219 430 687 52 - ORVIL 219 430 687 53 - TALHO CENTRAL 219 434 088 54 - MAGGIE MARROQUINARIA 966 292 652 55 - CESAR’S 210 878 641 56 - BIJU 219 432 029 57 - CHÁVENA DE PRATA 219 447 132 58 - DROGARIA DA PORTELA 219 431 683 59 - PEIXINHO DO MAR 219 436 7111 60/61 - FARMÁCIA PAULA DE CAMPOS 219 431 423 62 - FARMÁCIA PAULA DE CAMPOS 219 430 854 63 - SUPORTEL 219 458 650
64 - CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS 219 449 090 65 - SENTIDO DO CÁLCULO 219 430 694 66 - PHONE I TAL 219 432 317 67 - CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS 219 449 097 68 - JAMBA 3 69 – SILVANA’S 219 431 068 70 - IMOAGRA 962 583 067 71 - PADARIA DA PORTELA 219 445 171 72 - MINI-MERCADO 219 435 882 73 - LABOCENTRO 219 430 675 74 - EMPADA REAL 75 - CHURRASQUEIRA DA PORTELA 219 435 192 76 – TALHOS CARZÉLUI 219 431 517 77 - TALHO CENTRAL 219 434 868 78/79 - O NOSSO TALHO 219 431 069 80 - ÂNGULO CERTO 219 442 101 81 - RECEPÇÃO DO C.C.P. 219 433 484 82 - TABULEIRO 219 436 599 84.1 - FASHION LIFE 932 267 925 84.2 - PASSEIO DA FAMA 963 552 787
RÉS-DO-CHÃO 1 - CAMISARIA DO HOMEM 219 443 471 1A) - ZONA ÓPTICA 219 430 849 2 - AQUASSIS 219 431 004 3/4 - MILLENIUM BCP PORTELA CONCORDIA 210 075 155 5/6 - MILLENIUM BCP PORTELA SHOPPING 210 075 140 7 - SNACK-BAR BOM DIA 219 433 767 8 - PBF GALERIA DE JÓIAS 219 443 098 9 - @S NOSS@S MENIN@S 219 447 752 10 - TARIK 219 431 672 11 - BOUTIQUE VENTURA 219 434 981 12 - MANEL BOUTIQUES 219 447 443 13/14 - CASA DOS CAFÉS PORTELA 219 458 100 15 - SOLYMENT 219 433 025 16 - BOUTIQUE CHRISTIANE 219 430 607 17/38 - MILLENIUM BCP PORTELA 210 004 700 18/19 - ZONA ÓPTICA 219 430 849 20 - PEROM 219 431 729 21 - PITITI 214 023 400 22 – BARREIROS FARIA
PERFUMARIA 219 435 193 23 - SUPERBRINQUEDOS 219 431 963 24 A) - MULEMBEIRA V 219 431 319 24 B) - M33 INFORMÁTICA 210 858 784 25 - TIO ARMANDO 219 436 486 26 - ZUKY 219 435 570 27 - O TABULEIRO GOURMET 28 - GIFT 29 - JOALHARIA EMIL 219 435 671 30 - MEDIPORTELA 219 442 042 31 - MEDIPORTELA 219 442 042 32 A) - SALÃO ARIOSTO 219 434 954 32 B) -TRAPICHE CONFECÇÕES 219 431 153 33 - MULEMBEIRA II 219 431 359 34 A) – HALCON VIAGENS 219 449 100 34 B) – CESAR’S 210 878 641 35 - BANCO SANTANDER 219 458 6 80 36 - BANCO SANTANDER 219 458 680 37 - BANCO SANTANDER 219 458 680 40 - STOP RÁPIDO 219 445 462 41 - PEROM 219 431 729 42 - CENTRIMAGEM 219 445 211
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1º ANDAR 1 - in out 2 – EStÁDio DA PoRtELA 219 435 201 3 - yE ShAofEng 966 754 857 4 – PRonto-A-VEStiR 219 432 188 5 - fRutARiAS A & C 936 001 917 6 - 5 À SEC 219 447 722 6A) – SiMPLESMEntE gEniAL 210 885 115 7 - ESPAÇo Vii 219 430 629 8 - CADEnA 219 431 260 9 - PÉRoLA DA PoRtELA 219 432 558 10 - PC CozinhAS 219 477 077 11 - ESSEnCE WoMAn LooK 219 441 376 13 - BW KiDS 210 889 144 14 - uSE E ABuSE 219 431 949 15 - MoniCA PRAtA 918 087 878 16 - P.h.J. ConStRuÇÃo E REConStRuÇÃo LDª 219 431 990 17 - PiCAR o Ponto PAPELARiA 219 433 233 18 - CEntRiMAgEM 219 443 337 19 - LA JEunESSE 219 445 171 20 - hoME 4 uS 219 434 193 21 – SAL & BRASAS 219 442 332 22 - ViDA SAuDÁVEL 219 442 373 23 - gioVAnni gALLi 219 435 944 24 – ViAgEnS CoRtES BESt tRAVEL 219 433 185
25 - nÃo + PELo 218 021 963 26 - A CASA Do KEBAB 936 461 309 27 - PÉRoLA DA PoRtELA 219 432 558 28 - MAuSER tV 219 434 360 30 - foREVA 219 434 516 31 - ESCoLhER DEStinoS 210 889 840 32 - SKAnDALL 34 - MoViLAinE 219 430 102 35 - EuRoSPoRt 219 431 697 36 - LooK BoutiQuE 219 430 280 37 - MAEStRo Do SAPAto 219 446 389 38 - tioCChA 214 002 268 39 E 40 - iDA CABELEiREiRoS 219 431 654 42 A - inDiAn gouRMEt 212 451 917 43 - SABoR nAtuRAL 219 430 767 45 - inDiAn gLAMouR 219 436 408 46 – EDEn JóiAS 219 436 188 47 – 5 À fiL 48 - EntREtEM 219 435 881 49 – MoRA & SAntini - MoDA itALiAnA 219 444 087 50 – AMoR E CAnELA PAStELARiA 927 971 516 51 - REPRiSE tiME 219 435 029 52 - LoJA DoS 300 53 - gALERiA Do Vinho 210 890 262 54 – LiSBoA RoCK 219 436 405 55 - gLARE 219 440 409
56 - MoViCLASSE JunioR 912 398 617 57 - MS BoRDADoS 218 485 328 58 - goLD JoALhARiA 219 435 495 59 - BoutiQuE tuJuJu 219 442 405 61 - ARQuitECtuRA E DECoRAÇÃo DE intERioRES 967 495 036 62 - JEt 7 63 - AuRoRA LAVoRES 212 445 375 64 - MiLLE PAStE 219 445 286 65 – MA gEu 219 443 626 66 – ConDiPoRtELA 219 432 121 67 - tRoPiCALiA 219 433 005 68 - LiVRARiA fxS 69 - LunAS 219 436 425 70 - CongELADoS MAR AzuL 933 212 459 71/72 - zoo DA PoRtELA 210 965 374 73 - LíDyhARtCABELEiREiRo 965 730 777 74 - AnA'S CABELEiREiRo 219 431 792 75 - BELEzA PuRA 922 191 595 76 - gALinhA goRDA 219 435 890 77 - CLASSiC DigitAL 960 382 554 78 - SuPERfRutAS PAi & fiLho 962 728 215 79 - REino DA AniMAÇÃo 219 431 015 80 - gRAnDE CESto 916 291 711 81 - BoutiQuE CERiSE 219 431 015 82/83 - CARLAnDRy 219 434 617
84 - ChARLiE 219 436 650 85 – MARiA tERESA MACEDo - CABELEiREiRo 219 433 655 86 - LA MoDE - SAPAtARiA 219 432 089 87 - tM - MoBiLiÁRio E DECoRAÇÕES 219 432 878 88 - QuiM CABELEiREiRo 219 432 096 89 - PARóQuiA Do CRiSto REi DA PoRtELA (VENDA DE NATAL) 91 - LAVAnDARiA QuinAnA 219 434 806 92 E 93 - CAntinho DA CoMiDA 927 194 171 94 - guiLL 219 431 986 95 - foRMA E BELEzA CEntRo DE EStÉtiCA 219 435 294 99 - MELo E ASSoCiADoS 210 938 800 100 - MAiSon DE LA fEMME 964 996 557 101 - RAMinho DE SEDA 219 440 158 102 - JAy gAnESh 212 462 345 103 - hf – hAiR fAShion 219 436 102 104 - JoÃo LoPES CoMPAnhiA DE SEguRoS tRAnQuiLiDADE 211 547 951 105 - CoRREioS DE PoRtugAL 219 458 810 B 84 - Lo StiVALE 218 000 435 B 84 - ChiC 214 069 060
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Nos dias em que tudo corre mal, aproximamo-nos mais do pulsar da terra, sim, quando tudo corre mal parecemos desenhos animados numa realidade a duas dimensões, o complexo comic em que as nossas vidas se tornaram caricaturas coloridas dos nossos ideais de vida, há como que um espaço de entendimento que se perdeu, uma profunda aproximação ao absurdo, a formas geométricas que desconhecemos tais as manchas impressas de tonalidades novas que nos fazem redescobrir a vida, tudo parece alcançável, próximo de ser atingível mas no momento de realização algo nos leva a destruir por completo a pintura deveras cuidada e perfeccionista que ambicionavamos, lembro os pés em sofrimento quando devíamos estar com uma cara sorridente numa recepção importante, ou os botões do casaco que explodiu numa conferência em que somos organizadores, uma sandália destruída no primeiro dia que a calçamos, um fio de missangas que abre e se lança como uma cascata no sentido da gravidade, imagina, o único que alguma vez teve piada aos teus olhos e ficas a olhar as bolinhas dispersas no chão com a sensação de que a tua sorte parece estar do lado errado da estética que se quer sem faltas, sem gafes, sem sinal de consternação, somente aparecer exactamente como fruto de um sonho onírico que nos revele
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apenas o resplandecente brilho dos olhos bonitos. Podia refazer a história mas quando sapatos, botões e missangas, para não falar de outros igualmente embaraçosos, conspiram na destruição de uma pintura ideal. Sabes, podia ser tão simples, ao eliminar todos os acessórios de moda e caminhar de pantufas numa sala do palácio ministerial e contar sonhos. Habituas-te ao plano de comic e sabes que os sonhos que tens são porventura mais importantes do que as horas de espera no balcão das finanças e saber as viagens cósmicas em naves espaciais eventualmente tema mais relevante do que a política internacional e suas perturbações na ordem como um reflexo da teoria do caos que tão benevolentemente nos coloca em colapso ante as nossas contradições. Pois bem, se o caos revela a ordem, é porventura importante querer que a rotina funcione mas porventura a água fria no chuveiro é um indício de karma, um sinal de actos falhados em busca de um sentido, um passado maléfico que se procura remediar, sim porque tendo em conta a história da humanidade as vidas passadas estiveram todas envolvidas em guerras sangrentas, fosse a Guerra das rosas ou uma Guerra mundial, antes mesmo de inventarem a bomba
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CAOS
atómica, o caos sempre foi o signo da nossa existência. Pois bem, não creio no fim do mundo, logo eventualmente numa realidade em que a maturidade leve para lá da relatividade e relativização das coisas, que de facto seja possível assumir as rédeas do nossa vida, assumir o comando e não permitir mais que pequenos erros sejam o alvo incessante da nossa reflexão e nos possamos debruçar enfim sobre os grandes temas, talvez sobre a ausência de sentido de existência, sobre o individualismo que nos afasta do bem enquanto entidade colectiva de fraternidade e ousar dar cartas no plano estético para um retrato solitário de seres em conflito com as suas manias e dispersos no caos das reflexões humanas sobre o tempo e o espaço, em que para lá da vida encontramos vidas destroçadas
pelas ironias e contrariedades, quando é enfim tão simples saborear a respiração, entre dois ou três cigarros, o que nos faz sentir. Assim como terra em pousio, podemos apreciar as estações que não falham na sua beleza demolidora e nós tentaremos ganhar ânimo para não voltar a permitir sermos destruídos por coisas irritantes, logo plantar as mais belas espécies de sementes para observar ainda momentos em que novas flores e árvores nos povoem enquanto terra sã e florescente que somos ou pouco mais do que reflexos das estrelas que brilham. Lisa Henriques
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O Espinho da Futilidade na Rosa do Amor A primeira coisa que ele me ofereceu foi um vestido. Azul-celeste. Parece uma toga romana, pensei. Não gosto. Continua virgem, intocável na residência desonrosa a que o sujeitei no armário, etiqueta esvoaçante, estandarte da inviolabilidade da minha alma. Afoguei-o debaixo de tantos casacos que emerge uma única vez por ano, por distracção ou incúria. Em tantos anos, não sei se ele alguma vez deu conta. Podias ser tão bonita, disse-me depois. Não te esforças nada. Escolhe uns sapatos também, eu compro-tos. Dou-te tudo o que quiseres. Tudo. Deseja e é teu. Há uma parte de mim que se encolhe e quer mirrar, imagino-me submersa em perfumes e jóias, roupas tão caras que me vergastam a pele, é comida que alguém não vai comer, amor, não quero. Vejo uma vida de passos perdidos no palacete de mármore onde ele supõe que iremos viver, filhos em que não me reconheço, insensibilizados por anos em colégios de elite, o carro escarlate de luxo, que alguém risca uma noite, enquanto ele está comigo. Dissensão na minha lealdade crónica amorosa, rejubilo secretamente com a revolta e o perfeccionismo de quem riscou. De uma ponta à outra, à esquerda e à direita. Também detesto este carro. Na nossa história de amor, o supérfluo pesa.
Vou-me enredando e entristecendo nas horas passadas em restaurantes onde entretenho homens vaidosos, que debitam traições conjugais e imoralidades negociais enquanto mastigam delícias insossas. Em férias passadas em hotéis de muitas estrelas, com camas tão grandes que, de noite, ele perde-se no caminho para o meu corpo e nunca fazemos amor. Nele, que se desvela em atenções acessórias e demonstrações de riqueza desnecessárias sem conseguir perceber o quanto o amo apesar disso. Diz-me que fá-lo por mim também. Quer que me sinta segura. Trabalha infatigavelmente e todos os dias cresce em poder e ambição. Gostava de conseguir rejubilar mas não consigo, quanto mais ele tem, mais eu dou. Desfaço-me, de forma metódica, de roupa que adoro, caixotes de livros, adereços. Cada vez tenho menos, acometida por uma histeria que rasa a loucura, recuso um futuro que se possa comprar, sinto saudades de mim. Nunca me perguntaste se quero o mesmo que tu. Ignora-me outra vez, acha um capricho bizarro esta minha crença na felicidade com pouca coisa. Tento explicar que os bens que recordo são olhares e sorrisos e flores e abraços e palavras sussurradas. Leio-lhe o espanto nos olhos, estranhamos as pessoas em
quem nos tornámos ou que sempre fomos, nem sei bem, sei que deixámos de nos reconhecer e que navegamos à deriva. Tento recordar-me do momento em que passámos a ser um projecto de eternidade frívola e invade-me um medo horrível de termos sido sempre assim. São os últimos meses que passamos juntos e discutimos o futuro com raiva e assombro, descobrimo-nos com sonhos dissonantes, espectros de quem fomos. À medida que o frio se vai instalando, que as folhas caem e se estendem à minha frente, passadeira dourada neste Outono em que a minha vida caminha para lado nenhum, todas as gotas de chuva são lágrimas. Choro quase todos os dias. Nunca soube se deu conta. Foi nessa altura que substituímos a partilha de silêncios cúmplices por uma forma morna de autismo, que passámos a caminhar sobre vitrais aguçados, pés tão ensanguentados que nos fomos esquecendo que gostávamos de adormecer de mãos dadas, que houvera um tempo em que estivemos tão juntos que a minha última recordação, antes de adormecer, era a música ritmada do seu coração. Mafalda Gaspar
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recordando
Os 400 000 jovens que se reuniram no grande festival de «Woodstock», em Agosto de 1969, como de seguida em outros locais, gigantescas massas, em plena liberdade de álcool, de sexo, de droga, de palavra, estavam unidos por esses ritmos hipnóticos e obsessivos, que voltam a unir os jovens modernos como acontecia nas tribos primitivas. São um sinal dos tempos, como as colónias «hippies» do Nepal e de Formentera. Cerca dos anos 66-67, produz-se uma renovação mundial da música. O mundo começa a povoar-se de discotecas, mais ou menos elaboradas, nas quais a música amplificada e controlada electronicamente, cria um ambiente psicológico novo. Uma estranha combinação de linhas melódicas, procedentes, em parte, dos «blues», dos «spirituals» e de cantos tradicionais, mais ou menos «camp», de ritmos obcecantes (a música «rock»), e de baladas ou canções de intervenção crítica da opressão do pobre ou do negro, etc., fundam uma experiência colectiva de muito «alta voltagem». Grupos inteiros e não pessoas ou famílias, com uma clara personalidade, participam nesse ambiente, modelam nele uma energia colectiva, unem-se na rejeição do mundo exterior. Canções como «We shall overcome», nascida nas lutas de Berkeley, deram a volta ao mundo. Surge um novo tipo de rapsodos como Pete Seeger, como Joan Baez, como Glenn Chendler, como Bob Dylan. A música rock'n folk, síntese do ritmo agressivo e do tema social, con-
seguiu interessar e preocupar. «Rock + Folk + Protest» = an empting new sound. Alguns títulos como «Eve of Destruction» e «Like a rolling stone», converteram-se em cânticos de guerra universais. Os Beatles intentaram uma fiilosofia ateia, e até pretenderam fundar uma nova religião, com a ajuda de Maharishi, seu Guru privado. Derek Taylor, o seu agente de imprensa, disse certa vez: «Eu sou anti-Cristo, mas eles são tão anti-Cristo que me escandalizam, o que não é coisa fácil.» É pouco conhecido o livro de John Lennon, que, como se sabe, teve um fim trágico: A Spaniard in the Works. Aí surge Jesus, o Pfico, um espanhol que come alho, molengão, pequeno e gordo, nitidamente representado de modo blasfemo. Os novos jovens setentem-se gregários entre si e entendem o trabalho como uma realidade entre outras e não como um dever ou uma maldição para toda a vida. A condição de solidariedade, de estar juntos (together, togetherness) é muito importante; trata-se de compartiIhar a incompreensão, os trabalhos, de sentir a experiência das mesmas coisas, de fazê-las do mesmo modo, enfim, de algo que sublinha a comunhão e a comunicação. Isso produz-se em grande parte em um «event», um acontecimenco entre muitos; mas tem propensão para a permanência, para a comuna ou a colónia de vida em comum. Estamos na época do Living Theatre e do Happening.
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a grande Pois o José, esse tal José, pai das suas quatro filhas, avô de vários netos, bisavô de uma Caroline e de um Mickael, ia-lhe dando cabo da alegria. Os estragos que um homem pode fazer na vida de uma mulher. Eu conto. A Idalina vive com uma irmã mais nova, deficiente e muda. A pobre passa os dias a comer caramelos e a brincar com bonecas. Volta e meia, porém, amarinham-lhe uns calores pelo corpo e esquece-se das bonecas. Põe-se, muito oferecida, à janela a meter-se com os homens que passam na rua. Como não fala, gesticula e afaga o baixoventre. Às vezes, lança uns grunhidos de foca. Há coisa de dois anos, a irmã da Idalina apareceu grávida. A princípio, quando deu pela gravidez, a Idalina desconfiou de um vizinho muito bêbado, o Goela, que, quando voltava da taberna, olhava a muda como quem olha uma presa fácil. Lá estava ela, gorda, quase imóvel, silenciosa, mascando ursinhos de goma, adormecendo as bonecas na aduela da porta. Umas vezes, oferecendo-se, outras, não. O José, sempre rindo, confiando na imbecilidade da cunhada, não dava opinião sobre tão delicado assunto. Ia levando a vida como podia. Até que a muda, certo dia, fartou-se de atribuírem injustamente a paternidade ao Goela. Tão feio e malcheiroso. Apontando para o bucho cheio, prestes a rebentar, terá grunhido, com a sua boca cheia de dentes podres, o nome do cunhado. Quando a Idalina descobriu o feito do marido, já andava desconfiava dos sorrisos nervosos do parvalhão, deu-lhe uma tareia que se ouviu na aldeia inteira. Ameaçou capá-lo com uma tesoura de poda. Uivou o desgraçado. Quanto mais ele gritava, pedindo-lhe desculpa, culpando o vinho, mais vontade ela tinha de lhe bater, de o matar. Deixou-o roxinho de dor, o corpo marcado, uma vértebra fissurada, várias peladas no couro cabeludo, os testículos muito encolhidos, prometendo para sempre recato e recolhimento. Depois, esteve trinta dias fechada em casa, mal comia, não se lavava, não
via televisão, nem as telenovelas a animavam, passava os dias enfiada na cama, cozendo a dor e pensando na vida. Definhou. Dava-se conta da gravidade dos factos, da humilhação, sabia que a honra, se a tinha, lhe exigia uma mudança. Uma mulher passa a vida ao lado de um homem, aguenta tudo, acostuma-se ao seu cheiro, aos tabefes, aos encontrões, às suas rotinas, ao vazio que deixa na cama, à arrogância do género, mas há coisas que uma mulher não pode perdoar. Durante esse tempo de recolhimento pensou em separar-se do marido, ninguém na aldeia a recriminaria por tal decisão. Tinha motivos de sobra. A mudança, porém, essa mudança que se impunha como única saída possível, exigia-lhe em demasia: assumir a pequeneza do marido, confessar a sua vergonha e a sua fragilidade, sobretudo, tornar verdadeira uma história que, por ora, não passava de uma suposição. Idalina tomou a decisão mais difícil. Ao trigésimo primeiro dia, saiu da cama, lavou-se, vestiu-se, entrou no café da aldeia, pediu um galão escuro e um papo-seco com manteiga e chouriço. Comeu, com ávido apetite, para matar a fome de muitos dias. Sentiu nela os olhos das mulheres e dos homens da aldeia. Todos esperavam o anúncio da mudança. Idalina comeu em silêncio, deu um arroto pequenino para aliviar da gordura do conduto, depois, como se fosse a coisa mais natural do mundo, explicou que ia para casa preparar o almoço do seu José. Acompanhou a gravidez da irmã. Tratou da criança que nasceu perfeitinha e muito bonita. Recambiou o marido para França durante alguns meses para deixar assentar a vergonha e o falatório. Agora, anda com a menina para todo o lado, mostrando com orgulho a sua beleza. Olha o mundo de frente. Nunca se arrependeu de não ter mudado a sua vida, largando o marido, abandonando o previsível conforto da vida conjugal. Quem trataria do pobre coitado? Ai de quem ouse fazer um comentário mais acintoso ou tratá-la como uma desgraçada. Toda a gente teme que ela faça o que fez ao marido. E, por fim, dê uso à tesoura de poda. Idalina, a grande. Ana Cássia Rebelo
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O HOMEM MAIS FÚTIL DO MUNDO O homem mais fútil do mundo tinha sempre o telemóvel topo de gama e usava de todos os pretextos para o tirar do bolso. O homem mais fútil do mundo estava sempre bronzeado e com os abdominais bem trabalhados. Não suava – apanhara chuva. Não tinha olheiras – sombreara as pálpebras. O homem mais fútil do mundo acreditava serem todos os artistas homossexuais ou suicidas ou ambas as coisas. Falhados. O homem mais fútil do mundo conhecia todos os sítios mais in do momento e, quando lhe perguntaram pel´A Ilíada, disse que ultimamente só havia chungaria lá dentro. O homem mais fútil do mundo não tinha doenças da plebe. Só falava das suas doenças chiques, referindo-se a elas em latim e citando casos célebres (e raros) que haviam contraído a doença. A explicação era sempre a mesma: apanhara-a numa ilha paradísiaca a bordo de um iate. «Extravagâncias» que só lhe emprestavam charme. O homem mais fútil do mundo era sempre do partido do governo e nunca participara em manifestações – ocupava-se com coisas maiores como solários e festas de elite. O homem mais fútil do mundo sabia de antemão qual o pintor favorito da sua visita para inundar as paredes da sua casa dos seus quadros. O homem mais fútil do mundo só dava esmolas quando estava acompanhado. Ainda assim, a sua pele nunca tocava na do pedinte. O homem mais fútil do mundo tinha «Dr.» a anteceder o seu nome na lista telefónica e em todos os cartões de crédito. O homem mais fútil do mundo nunca tinha baratas ou problemas de canalização em casa. O homem mais fútil do mundo era prudente com os amigos: precisava de saber sempre a sua árvore genealógica, o seu património e a sua rede de influências. O homem mais fútil do mundo só chorou duas vezes: quando lhe riscaram o prateado do seu Porsche e quando lhe barraram a entrada num evento de Alta Sociedade. «Não me apeteceu entrar. Era só gentinha», explicaria mais tarde aos amigos. O homem mais fútil do mundo não conhecia drogados, anões, deficientes ou pretos (a não ser os muito muito ricos). O homem mais fútil do mundo não tinha momentos a sós com a sua mulher (podre de gira e podre boa). Para quê, se ninguém a via com ele?
O homem mais fútil do mundo todos os dias consultava se o número de amigos no Facebook aumentara. O homem mais fútil do mundo só tinha cartões de crédito dourado e cartões de administradores de grande empresas na carteira. O homem mais fútil do mundo nunca disse a frase: «Não tenho dinheiro para isso.» O homem mais fútil do mundo tinha um léxico reduzido e a palavra que mais empregava era: «contactos». O homem mais fútil do mundo tinha estantes pejadas de livros com belas encadernações, mas sem páginas lá dentro. O homem mais fútil do mundo nunca falou da mãe a ninguém. Era analfabeta. O homem mais fútil do mundo não desperdiçava passoubens com indíviduos que não lhe permitissem vantagens na vida. O homem mais fútil do mundo hesitou em ir ao velório do pai porque nessa noite tinha o seu nome na guest list de uma festa. Quando contou o número de pessoas influentes que estariam em ambos os acontecimentos, decidiu-se pelo primeiro. Manuel Monteiro manuel_monteiro@noticiasdaportela.pt
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