Nutrição em Pauta - Edição Digital #24

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ISSN 2236-1022 A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO

R$ 30,00 • Janeiro 2015 Ano 4 Número 24 Edição Digital São Paulo

ESPORTE

Consumo de Suplementos e a Imagem Corporal de Frequentadores de Academias de Ginastica de São Paulo

FUNCIONAIS

Relação entre o Ferro Dietético e Estresse Oxidativo em Diabéticos Tipo 2

FOOD SERVICE

Per Capita de Sódio Extrínseco nas Refeições de Restaurantes Universitários

Nutrição na Mídia Impressa: Avaliação das Matérias sobre Nutrição em Revistas Femininas www.nutricaoempauta.com.br

JANEIRO 2015

CLÍNICA | HOSPITALAR | GASTRONOMIA

| PEDIATRIA | SAÚDE.PÚBLICA NUTrição em pauta

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Definindo os Rumos da Nutrição

Brasília Rio de Janeiro 11 de abril

9 de maio

Belo Horizonte Porto Alegre 16 de maio

23 de maio

Manaus Recife 30 de maio

22 de agosto

Curitiba

29 de agosto

Informe-se em www.nutricaoempauta.com.br

Em 2015 serão abordadas as principais estratégias em Nutrição, visando discutir os avanços da Nutrição no Brasil e no mundo. Neste ano, em cada cidade, teremos em um único dia 3 Workshops (Nutrição Clínica, Nutrição Esportiva e Food Service) visando um melhor aprofundamento em cada um destes importantes temas da Nutrição.

Nutrição Clínica • Nutrição Esportiva • Food Service


editorial por Sibele B. Agostini

Nutrição na Mídia Impressa: Avaliação das Matérias sobre Nutrição em Revistas Femininas As revistas femininas destacam o tema Nutrição

Prepare-se para o Mega Evento Nutrição 2015, englobando

devido ao crescente interesse nos últimos anos,

o 16º Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e

por informação ou pela aquisição de conheci-

Qualidade de Vida, 16º Congresso Internacional de Gastro-

mento de problemas de saúde específicos, ou ain-

nomia e Nutrição, 3º Congresso Multidisciplinar de Nutri-

da devido à busca de tratamento através dos alimentos, sendo considerada uma das fontes pesquisadas pela população para obter informações sobre Nutrição e Saúde. Segundo a American Dietetic Association (2005), o papel do nutricionista nos meios de comunicação de massa, é divulgar informações científicas sobre Nutrição de forma adequada ao público

ção Esportiva, 11º Fórum Nacional de Nutrição, 10º Simpósio Internacional da American Academy of Nutrition and Dietetics (USA), 8º Simpósio Internacional da Nutrition Society (United Kingdom), 8º Simpósio Internacional do Le Cordon Bleu (França), 2º Fórum de Alimentação Orgânica, 16º Exposição de Produtos e Serviços em Nutrição e Alimentação, dentre outros, que será realizado em São Paulo em setembro de 2015.

leigo. Além disso, aos profissionais de nutrição voltados à saúde pública, cabe o desafio de entender como esses conteúdos reverberam na população. Por isso, o presente estudo buscou avaliar quantitativamente as matérias sobre nutrição veiculadas nas revistas femininas de maior circulação nacional. Prepare-se para o Mega Evento Nutrição 2015, englobando o 16º Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 16º

JANEIRO 2015

Aproveite as informações científicas atualizadas desta edição da revista Nutrição em Pauta. Boa leitura!

Sibele B. Agostini Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 – 3a Região

NUTrição em pauta

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nesta edição janeiro 2015

5. Nutrição na Mídia Impressa: Avaliação das Matérias sobre Nutrição em Revistas Femininas. 12. Avaliação Nutricional e Comportamental de Participantes de Grupos de Emagrecimento em Clínica Particular no Município de Rio Grande - RS. 18. Consumo de Suplementos e a Imagem Corporal de Frequentadores de Academias de Ginastica de São Paulo. 25. Per Capita de Sódio Extrínseco nas Refeições de Restaurantes Universitários. 30. Relação entre o Ferro Dietético e Estresse Oxidativo em Diabéticos Tipo 2. 36. Caracterização Físico-Química de Pão Integral Enriquecido com Farinha de Soja Preta e Fermento de Kefir

Assine: (11) 5041.9321 r.22 assinaturas@nutricaoempauta.com.br Fale Conosco: (11) 5041.9321 r.20 contato@nutricaoempauta.com.br www.nutricaoempauta.com.br

43. Estado Nutricional e Concentrações de Hemoglobina em Pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII) Atendidos em uma Unidade de Saúde Escola de Itajaí-SC. 48. Perfil nutricional das Crianças Pré-escolares e escolares da cidade de Registro no Vale do Ribeira (SP). 53. Doenças Cardiovasculares: Fatores de Risco, Estado Nutricional e Consumo Alimentar.

A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO

ISSN 2236-1022

Ano 4 - número 24 - janeiro 2015 - edição digital

Editora Científica Diretor Gerente de Marketing e Eventos Conselho Científico

Consultor de Gastronomia Colaboradores Tradutora Fotógrafo Assinaturas Indexação Editoração Eletrônica

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NUTrição em pauta

Publicação Bimestral da Núcleo Consultoria - Atualização Científca em Nutrição - R. Republica do Iraque, 1329 cj 11 - Campo Belo - São Paulo - SP - Brasil - Tel 55 11 5041-9321 nucleo@nutricaoempauta.com.br - www.nutricaoempauta.com.br Dra. Sibele B. Agostini | redacao@nutricaoempauta.com.br Cláudio G. Agostini Jr. | diretoria@nutricaoempauta.com.br Daniela Bossolani Agostini | marketing@nutricaoempauta.com.br Prof. Dra. Andréa Ramalho (UFRJ/RJ), Prof. Dr. Antonio Herbert Lancha Junior (EEFE-USP/SP), Prof. Dra. Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Claudia Cople (UERJ/RJ), Prof. Dr. Dan Waitzberg (FMUSP/SP), Prof. Dra. Eliane de Abreu – (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Fernanda Lorenzi Lazarim (UNICAMP/SP), Prof. Dra. Flávia Meyer (UFRGS/RS), Prof. Dra. Josefna Bressan (UFV/MG), Prof. Dra. Joy Dauncey (Cambridge/UK), Prof. Dra. Lilian Cuppari (UNIFESP/SP), Prof. Dra. Marcia Regina Vitolo (UNISINOS/RS), Prof. Dra. Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO), Prof. Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP/SP), Prof. Dr. Melvin Williams (Maryland/USA) , Prof. Dra. Mirtes Stancanelli (UNICAMP/ SP), Prof. Dra. Nailza Maestá (UNESP/SP), Prof. Dra. Nelzir Trindade Reis (UVA/RJ), Prof. Dr. Ricardo Coelho (UNIUBE/MG), Prof. Dr. Roberto Carlos Burini (FMUNESP/SP), Prof. Dra. Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC), Prof. Dra. Sonia Tucunduva Phillipi (USP/SP), Prof. Tereza Helena Macedo da Costa (UnB/DF), Prof. Dra. Tais Borges Cesar (FCF-UNESP/SP). Chef Didier Chantefort | LCB/PARIS Chef Barbara Kerr Chef Fabiana B. Agostini Dra. Cecília Tsukamoto Alexandre Agostini Flávia C. Teixeira | assinaturas@nutricaoempauta.com.br A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP João Paulo Baldoni Produzida em janeiro 2015

nutricaoempauta.com.br


Nutrition in Print: Articles about Nutrition in Women’s Magazines

matéria de capa

Nutrição na Mídia Impressa: Avaliação das Matérias sobre Nutrição em Revistas Femininas Resumo: Buscou-se avaliar quantitativamente as matérias sobre nutrição em revistas femininas vendidas no Brasil, no período de fevereiro a abril de 2012. Foram selecionadas as 5 revistas femininas mais vendidas no país, das quais foram avaliadas um total de 17 exemplares. Quanto aos métodos utilizados: caracterizou-se o público leitor de cada revista; realizou-se a análise quantitativa, da predominância do tema nutrição nessas revistas, a autoria das matérias e o apelo visual associado. O assunto Nutrição possui em média 6,1 % das matérias, por revista, abordando assuntos como emagrecimento (37 %, por revista) e nutrição funcional (33 %, por revista). Os apelos visuais mais recorrentes foram alimentos saudáveis e atrativos (27,3 %, por revista) e corpos de anônimos esteticamente adequados (27,2 %, por revista). Com isso, evidencia-se a importância do profissional nutricionista, estar envolvido na elaboração e avaliação dessas informações. Abstract: In the aim to measure the subjects about nutrition on women’s magazines sold in Brazil, from February to April 2012. The Top 5 magazines were selected, which were used a full total of 17. About the methods: The target audience was characterized; quantitative analysis was JANEIRO 2015

done about the frequency of nutritional subjects on these magazines; the authorship of the matters; and the visual appeal associated. The nutritional subject is on average 6,1% of magazine matters, covering subjects about diet and weight loss (37%, for magazine) and functional nutrition (33%, for magazine). The visual appeal most recurrent was healthy and attractive foods (27,3%), and anonymous bodies aesthetically suitable (27,2% for magazine). Showing the importance of the nutritionist professional be involved on the development and evaluation of this kind of information.

Introdução O comportamento alimentar é influenciado por vários fatores, inclusive pelo que é veiculado nos meios de comunicação (CHAUD; MARCHIONI, 2004). Esses atuam disseminando as representações sociais dominantes na sociedade (SOUZA, 2005). A revista, um meio de comunicação de massa impresso, trata tanto de assuntos de interesse geral quanto específicos, apresentando tratamento visual e textual especial (PORTELA, 2009; FREIRE, 2011), possuem a função de entreter informar, comunicar, instruir ou ainda permitem formação de opinião, são portáteis, têm custo relativamente baixo e podem ser repassadas para várias pessoas (CARRARA, 2011). NUTrição em pauta

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Nutrição na Mídia Impressa: Avaliação das Matérias sobre Nutrição em Revistas Femininas

As revistas femininas destacam o tema Nutrição devido ao crescente interesse nos últimos anos, por informação ou pela aquisição de conhecimento a cerca de problemas de saúde específicos, ou ainda devido à busca de tratamento através dos alimentos (SOUZA, 2005), sendo considerada uma das fontes pesquisadas pela população para obter informações sobre Nutrição e Saúde (FITZGERALD, 2008). Segundo a American Dietetic Association (2005), o papel do nutricionista nos meios de comunicação de massa, é divulgar informações científicas sobre Nutrição de forma adequada ao público leigo. Além disso, aos profissionais de nutrição voltados à saúde pública, cabe o desafio de entender como esses conteúdos reverberam na população (FREIRE, 2011). Por isso, o presente estudo buscou avaliar quantitativamente as matérias sobre nutrição veiculadas nas revistas femininas de maior circulação nacional.

Metodologia Trata-se de um estudo exploratório, transversal, com abordagem quantitativa dos dados. O recorte analisado corresponde às cinco revistas da categoria feminina, de maior circulação nacional, segundo dados estatísticos consolidados pelo Instituto de Verificador de Circulação (2010). Sendo utilizadas no estudo, as seguintes revistas: Revista Cláudia® (Revista A – 419,927 mil), Revista Marie Claire® (Revista B – 240,401 mil), Revista Nova® (Revista C - 206.135 mil), Revista Gloss® (Revista D - 151.372 mil) e Revista Malu® (Revista E - 141.928 mil). A amostra total do estudo correspondeu a 17 exemplares. Dos quais, nove foram das revistas com periodicidade mensal (A, B, C e D), dois de cada revista, e nove da revista com periodicidade semanal (E). Para a análise dos dados foram utilizados métodos construídos pela pesquisadora, à saber: • •

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Público feminino leitor – caracterização a partir da compilação de dados oficiais, disponíveis nas páginas eletrônicas das editoras de cada revista. Conteúdo sobre nutrição – detecção, em cada revista, da predominância do conteúdo direcionado a área de nutrição, com base na comparação entre o número de matérias - textos preparados jornalisticamente, com as seguintes partes: 1) título – corresponde ao anúncio do fato em si; 2) primeiro parágrafo, cabeça ou lead; 3) desenvolvimento da história, narrativa ou texto (BAHIA, 1990) - dedicaNUTrição em pauta

das ao tema e o número total de matérias de cada revista. Caracterizando as informações segundo categorias analíticas, em: nutrição funcional, prevenção, tratamento, emagrecimento e estética. Além de determinação, por revista, do percentual das informações referentes a cada categoria, a partir do número total de informações sobre nutrição encontrada em cada uma delas. • Avaliação da veracidade das informações sobre nutrição – verificou-se, quantitativamente, a partir da busca de informações contidas em artigos científicos publicados nos anos 2007 - 2012, indexados nas bases de dados, Lilacs, Pubmed, Periódicos Capes e ScienceDirect, nos idiomas português, inglês e espanhol. Classificado-as em: • Confirmada - quando encontrado registro, de informações que corroborassem com a informação veiculada na matéria; • Parcialmente confirmada – quando identificado, registros que confirmaram parte das informações veiculadas na matéria; • Não confirmada – quando não identificado, informações que confirmaram o conteúdo das matérias ou quando essas invalidaram as informações veiculadas. Esse procedimento foi feito, separadamente para cada revista (A, B, C, D e E). • Referências informais veiculadas no conteúdo das matérias – Identificaram-se os tipos de profissionais citados nas matérias, assim como, determinou-se a distribuição percentual por revista, desses, considerando o nº total de matérias sobre nutrição. • Apelo visual associado à mensagem – analisado quanto à presença e ao tipo, sendo distribuídos nas seguintes categorias: alimentos saudáveis e atrativos, personalidade famosa esteticamente adequada, anônimo esteticamente adequado, corpo gordo versus corpo magro (“antes e depois”), anônimo saudável ingerindo alimentos saudáveis e outros. Essa análise foi realizada para cada revista (A, B, C, D e E), considerando o número total de apelos visuais associados às matérias voltadas ao tema nutrição, por revistas. Com base nos métodos de análise construídos para a pesquisa e considerando a natureza das variáveis, os dados foram analisados descritivamente, por meio de freqüências relativas e absolutas, a partir do software Microsoft Office Excel® 2010. nutricaoempauta.com.br


matéria de capa

Nutrition in Print: Articles about Nutrition in Women’s Magazines

Resultados e Discussão Público feminino leitor e conteúdo sobre nutrição - Conforme tabela 1, as revistas avaliadas apresentaram matérias sobre o assunto nutrição, exceto a Revista D, que possui um enfoque editorial direcionado principalmente, aos atributos que estimulam o desenvolvimento de individualidades e valorizam as características da personalidade da leitora jovem em detrimento daqueles relacionados à aparência (REMPEL; IENSEN; BORTOLUZZI, 2012), atributo comumente associado com Nutrição e Dieta. Tabela 1. Distribuição absoluta de matérias sobre nutrição por revista em comparação percentual ao número total de matérias por revista (Santa Cruz, 10 de setembro de 2012).

Revistas

Total matérias/ revista

Matérias sobre nutrição, por revista n

%

A

32

1

3,1

B

18

1

5,6

C

34

3

8,8

D

0

0

0

E

132

17

12,9

Total

22

Já a Revista E, registrada como a revista que apresentou maior número de reportagens relacionadas ao tema Nutrição, dedica-se ao público feminino pertencente às massas, de faixa etária mais ampla, por isso, aborda diversos temas, que permeiam da nutrição funcional a dietas, no intuito de atender aos anseios desse público numeroso e heterogêneo (VIDUTTO, 2010), representantes da cultura ocidental extremamente ligado a boa forma e imagem corporal (VASQUES; MARTINS; AZEVEDO, 2004). A Revista C, apesar de ser apontada como aquela que publicou uma quantidade mediana de conteúdo sobre nutrição, apresentou reportagens sobre o tema em todos os exemplares analisados, focando no conceito editorial da revista, que destaca o corpo feminino, como algo construído e automodificável, por cosméticos, vestuário e dieta, entre outros (SWAIN, 2001). As demais Revistas (A e B) apresentaram menor quantidade de conteúdo destinado ao tema nutrição, devido principalmente, ao foco editorial destas, divergirem do forte apelo às formas corporais adequadas, expresso na Revista supracitada (ANTUNES, 2008; VIDUTTO, 2010). JANEIRO 2015

Quanto ao conteúdo abordado nas matérias, identificou-se a predominância do tema emagrecimento, principalmente no aspecto prescrição de dieta (Tabela 2). Indicando que a nutrição, comumente, é reduzida a uma ciência que viabiliza ao indivíduo o corpo ideal, preconizado pelo padrão estético corporal atual (TEO, 2010), além de refletir/sugerir a preocupação do público feminino em consumir produtos dietéticos e ao hábito deste em realizar dietas (WITT; SCHNEIDER, 2011). Esteve também recorrente a abordagem da nutrição a partir do seguimento funcional, evidenciando a crescente consolidação no imaginário social, do papel da nutrição na promoção a saúde e prevenção de doenças (MARTINS et al, 2011). Além de indicar um movimento atual de medicalização da nutrição, bem expressa na responsabilização da alimentação pelo adoecimento da população e supervalorização do papel da composição química dos alimentos, nesse processo (DIEZ GARCIA, 2003; CONRAD, 2007). Segundo Souza (2005), esse assunto já era publicado em revistas femininas, surgindo em 5 das 7 revistas analisadas, com média de percentual de 11% em cada. Os demais assuntos abordados: tratamento, estética e prevenção, foram apresentados em menor quantidade e associados a outros temas (Tabela 2). Tabela 2. Distribuição percentual, por categoria analítica, das matérias com temas nutricionais baseado no total de matérias sobre nutrição de cada revista. (Santa Cruz, 10 de setembro de 2012). Revistas Nutrição Funcional Emagrecimento

Tratamento

Estética

Prevenção

A

B

C

D

E

n

0

1

1

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%

0

100

33,3

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29,4

n

1

0

1

0

9

%

100

0

33,3

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n

0

0

0

0

2

%

0

0

0

0

11,7

n

0

0

1

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0

%

0

0

33,3

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0

n

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0

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0

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1

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Total de matérias sobre nutrição/revista

NUTrição em pauta

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Nutrição na Mídia Impressa: Avaliação das Matérias sobre Nutrição em Revistas Femininas

Referências informais veiculadas no conteúdo das matérias - Vê-se, na tabela 3, que o profissional nutricionista foi o mais referenciado informalmente na maioria das revistas (A, C e E), demonstrando o crescente envolvimento desses com a divulgação de informações sobre nutrição em mídias não científicas, movimento já observado por Souza (2005), que constatou o nutricionista sendo referenciado em cerca de 30 % das matérias publicadas em sete revistas femininas diferentes. O profissional médico apesar de não ser capacitado para tratar do assunto mais profundamente, e não habilitado a prescrever dietas – atividade privativa do nutricionista, (Resolução nº 380 CFN, 2005), ainda hoje é considerada uma referência segura pela população para obter informações sobre nutrição e saúde, no mesmo nível que é considerado o nutricionista, como afirma Fitzgerald (2008) em seu estudo, onde registra percentual de confiança superior a 80%, quanto fonte, desses profissionais. Apelo visual associado à mensagem - A ordem apresentada (Tabela 4) revela mudança gradual da visão limitada da ciência da nutrição, para uma mais ampla

onde além de emagrecer por meio da restrição, pode-se obter saúde e prevenir doenças a partir de uma alimentação equilibrada (MARTINS et al., 2011). No entanto, algumas revistas ainda insistem no paradigma atual de beleza, e concentram-se em valorizar o corpo esguio e esbelto, e práticas alimentares que lhe são correspondentes (TEO, 2010). Veracidade das informações sobre nutrição - A Revista A, teve todas as informações publicadas confirmadas, mostrando que apesar de não considerar o tema nutrição como foco de sua publicação, preocupa-se em fornecer um conteúdo de qualidade. A Revista E também apresentou um percentual expressivo de informações confirmadas (Tabela 5), mesmo fazendo uso de referências não adequadas, linguagem muito informal e publicar conteúdo pobre em informações em algumas matérias com prescrição de dieta. Essas condições inclusive, impossibilitaram a avaliação de 4 matérias nessa revista. Já a Revista C também teve mais da metade de suas informações confirmadas. A Revista B, por sua vez, apresentou o menor percentual de informações comprovadas. As

Tabela 3. Distribuição percentual das citações de referências informais, de cada revista, por tipo, considerando o total de citação por revista (Santa Cruz, 10 de setembro de 2012). Revistas Universidade Universidade/Nutricionista Nutricionista Médico Artista Leitora Outras Total de citação/ revista 8

NUTrição em pauta

A

B

C

D

E

n

0

2

0

-

0

%

0

40

0

-

0

n

0

1

0

-

0

%

0

20

0

-

0

n

1

0

3

-

6

%

100

0

100

-

35,3

n

0

2

0

-

3

%

0

40

0

-

17,6

n

0

0

0

-

2

%

0

0

0

-

11,8

n

0

0

0

-

5

%

0

0

0

-

29,4

n

0

0

0

-

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%

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-

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nutricaoempauta.com.br


matéria de capa

Nutrition in Print: Articles about Nutrition in Women’s Magazines

Tabela 4. Distribuição percentual dos apelos visuais das matérias avaliadas, por categoria analítica, considerando o número total de apelos visuais por exemplar de cada revista (Santa Cruz, 10 de setembro de 2012). Revistas Alimentos saudáveis e atrativos

Personalidade famosa esteticamente adequada

Anônimo esteticamente adequado

Corpo gordo versus corpo magro (antes/depois)

Anônimo saudável ingerindo alimentos saudáveis

Outras Total de apelos visuais/revista

A

B

C

D

E

n

0

3

2

-

5

%

0

60

50

-

26,3

n

0

0

0

-

3

%

0

0

0

-

15,8

n

1

1

2

-

3

%

50

20

50

-

15,8

n

0

0

0

-

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%

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0

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-

26,3

n

1

0

0

-

2

%

50

0

0

-

10,5

n

0

1

0

-

1

%

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0

-

5,3

2

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-

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Tabela 5. Distribuição percentual da veracidade das informações sobre nutrição contidas nas matérias das Revistas A, B, C, D e E, nas categorias: comprovada, parcialmente comprovada e não comprovada, considerando o total de informações de nutrição, avaliadas por revista (Santa Cruz, 10 de setembro de 2012). Veracidade comprovada

Veracidade parcialmente comprovada

Veracidade não comprovada

Total de informações de nutrição

n

1

0

0

1

%

100

0

0

-

n

1

2

1

4

%

25

50

25

-

n

16

8

2

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%

59,3

29,6

7,4

-

n

0

0

0

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%

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n

15

1

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%

88,2

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Revista

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Nutrição na Mídia Impressa: Avaliação das Matérias sobre Nutrição em Revistas Femininas

matérias não comprovadas e parcialmente comprovadas compartilharam do mesmo tema, Nutrição funcional, seguimento novo da nutrição, que se encontra em expansão no campo científico, não apresentando estudos suficientes para que as descobertas na área sejam consideradas evidências científicas, por isso, possivelmente foram obtidos tais resultados.

Conclusão

Recebido: 6/11/2014 - Aprovado: 25/11/2014

A partir dos resultados apresentados pode-se afirmar que a participação do nutricionista na produção das matérias relacionou-se positivamente com veracidade dessas. Já a abordagem do assunto nutrição funcional esteve relacionado negativamente, além disso, as matérias que trataram do assunto apresentaram maior incidência de apelo visual que fazia referência a alimentos saudáveis e atrativos, e aquelas matérias que tratavam do assunto emagrecimento, associaram suas mensagens aos apelos visuais que reforçam o corpo ideal: anônimo ou artista esteticamente adequado. As matérias não comprovadas e parcialmente comprovadas compartilharam do mesmo tema, Nutrição funcional. Tendo em vista as conclusões apresentadas, evidencia-se a importância do profissional nutricionista, estar envolvido na elaboração e avaliação dessas informações, para que assim seja garantida a reverberação segura desses conteúdos na população alvo.

As matérias não comprovadas e parcialmente comprovadas compartilharam do mesmo tema, Nutrição funcional. Evidencia-se a importância do profissional nutricionista, estar envolvido na elaboração e avaliação dessas informações.” Dos Autores

Sobre os Autores

Dra. Rayssa Gomes da Costa - Nutricionista da Prefeitura Municipal de Viçosa-RN Prof. Dr. Weskley César da Silva Ribeiro - Professor Substituto do curso de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - RN Profa. Dra. Thaiz Mattos Sureira - Professora Mestre do curso de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Santa Cruz- RN.

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NUTrição em pauta

Palavras-chave: meios de comunicação, nutrição, estética, transtornos alimentares. Keywords: communications media, nutrition, esthetic, eating disorders.

Referências

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Nutrition in Print: Articles about Nutrition in Women’s Magazines

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Avaliação Nutricional e Comportamental de Participantes de Grupos de Emagrecimento em Clínica Particular no Município de Rio Grande - RS

Avaliação Nutricional e Comportamental de Participantes de Grupos de Emagrecimento em Clínica Particular no Município de Rio Grande - RS Resumo: A prevalência da obesidade aumenta significativamente em diversas populações. O tratamento em grupo se mostra eficaz para reeducação do comportamento alimentar. O objetivo do artigo foi avaliar estado nutricional e comportamental em relação ao risco de transtornos alimentares de pacientes que buscam terapêutica em grupo em clínica particular de Rio Grande. Realizou-se antropometria e aplicação do questionário EAT (Eating Attitude Test). Ambos procedimentos foram executados no início do tratamento e após transcorridos três meses. Abstract: The prevalence of obesity increases significantly in different populations. The group treatment proves effective for retraining eating behavior. The aim of the paper was to evaluate nutritional and behavioral state in relation to the risk of eating disorders in patients seeking treatment in a group private practice in Rio Grande. Anthropometry was performed and the questionnaire EAT (Eating Attitude Test). Both procedures were performed at baseline and after three months have elapsed.

Introdução A prevalência da obesidade aumenta significativamente em diversas populações do mundo, incluindo o 12

NUTrição em pauta

Brasil. A interação de genes, ambiente, estilos de vida e fatores emocionais torna sua etiologia complexa e multifatorial (Diretrizes Brasileiras de Obesidade, 2009). A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2006, elaborou um relatório, que foi divulgado pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), apontando o Brasil como o maior consumidor per capita de medicamentos para emagrecer (9,1 doses diárias por mil habitantes), sendo seguido pelos Estados Unidos (7,7) e a Argentina (6,7) (IBOPE, 2007). A busca por um corpo “modelo”, perfeito, esbelto e magro, segundo Azevedo (2007), é objeto de desejo muitas pessoas, que menosprezam os riscos em manter a sua saúde, ultrapassando muitos limites para obter esta conquista. Na atualidade, a relação que vem sendo estabelecida entre o indivíduo e o próprio corpo é caracterizada pelo aumento de preocupações exageradas sobre sua forma, peso e desempenho. Os transtornos alimentares (TA), por sua vez, constituem a faceta mais dramática e mórbida dessa obsessão, correspondendo a um quadro psicopatológico e não apenas um exagero de valores sociais dominantes. Afeta de maneira mais evidente as mulheres e a população adolescente, porém nos últimos anos, tem se observado o aumento de casos entre o sexo masculino (GAZIGNATO et al, 2008). A obesidade pode ocorrer simultaneamente aos TA em um indivíduo e a abordagem destes distúrbios não são distintas uma da outra (HAINES; NEUMARK-SZTAINER, 2006). nutricaoempauta.com.br


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Bernardi, Cichelero e Vitolo (2005), sugerem que tratamentos de redução de peso tenham caráter interdisciplinar, seja em âmbito individual ou grupal, visando facilitar o entendimento da estrutura biopsicossocial que compõe o fenômeno da obesidade. Para Bayer et al (2010), o atendimento grupal visa a troca de vivências entre os participantes de cada grupo, já que essa forma de atendimento proporciona sustentação à fragilidade do participante e adota uma função continente para seus problemas e angústias relacionadas ao quadro de obesidade. O presente trabalho tem como objetivo verificar o resultado da intervenção do tratamento grupal para emagrecimento e reeducação alimentar, com pacientes de uma clínica particular, no município de Rio Grande - RS. A avaliação foi realizada com base nos parâmetros do estado nutricional dos pacientes e do risco destes desenvolverem algum tipo de TA.

Metodologia

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NUTrição em pauta

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Foi realizado um estudo transversal com pacientes de uma clínica particular de grupos de emagrecimento e reeducação alimentar, no município de Rio Grande - RS. Os grupos foram formados por no máximo 15 pessoas, maiores de 18 anos, de ambos os sexos. O critério de formação dos grupos foi a afinidade de horário dos pacientes. O programa de emagrecimento e reeducação alimentar constitui-se em reuniões semanais, com uma hora de duração, coordenadas por uma nutricionista, a qual aborda diversas temáticas relacionadas à reeducação alimentar, emagrecimento saudável, ansiedade, compulsão alimentar, sugestão de cardápios e informações nutricionais. A nutricionista também incentivou o registro da alimentação dos pacientes em diário alimentar próprio, utilizando folhetos explicativos sobre conteúdos nutricionais e apresentando vídeos explicativos e motivacionais. Além disso, semanalmente, era realizada a pesagem dos pacientes, de forma privativa e individualizada. Os dados coletados eram registrados no prontuário do paciente e em um gráfico de perda de peso entregue a cada um, com o intuito de acompanhar o seu desempenho no tratamento. Para o presente estudo, foram selecionados pacientes que não haviam recebido qualquer tipo de intervenção prévia ou concomitante, seja nutricional, psicológica ou medicamentosa, totalizando 15 participantes. Estes, não integravam o mesmo grupo, sendo distribuídos em reuniões diversas. Os instrumentos de avaliação da pesquisa realizada constituem-se de antropometria e aplicação do questionário EAT – Eating Attitude Test (GARNER; GARFINKEL, nutricaoempauta.com.br


clínica

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1979), o qual avalia o risco de desenvolver transtornos alimentares. Ambos os procedimentos foram executados no início do tratamento e após transcorridos três meses. A todos os participantes deste estudo foi solicitada uma autorização por escrito para publicação dos resultados da presente intervenção, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, preservando o sigilo da identidade dos pacientes. Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Metodista IPA. A avaliação nutricional dos participantes foi realizada utilizando-se os dados de peso e altura, obtidos no momento da entrada de cada participante na clínica e três meses após. Estes dados foram aferidos pela nutricionista do programa em uma balança mecânica com estadiômetroda marca Filizola, com capacidade máxima para 150 kg e precisão de 0,1 kg. Para avaliação do estado nutricional, utilizou-se o Índice de Massa Corporal (IMC), obtido através da divisão do peso em kg pelo quadrado da altura em metros, seguindo-se os critérios da OMS, apresentado na tabela 1. Tabela 1. Classificação do estado nutricional pelo IMC Classificação Baixo Peso

IMC (kg/m²) < 18,5

Eutrofia

18,5 - 24,9

Sobrepeso

25,0 - 29,9

Obesidade grau I

30,0 - 34,9

Obesidade grau II

35,0 - 39,9

Obesidade grau III

≥ 40,0

O questionário EAT também foi respondido pelos participantes nestes dois momentos, objetivando fazer um comparativo do resultado da intervenção grupal após três meses de tratamento em relação ao risco de desenvolvimento de transtornos alimentares. Devido o questionário ser de caráter autoaplicável, os pacientes o responderam em casa. O questionário EAT é composto por 26 questões dirigidas à sintomatologia anoréxica, podendo variar de 0 a 78 pontos. Apresenta respostas em escala Likert, onde a alternativa “sempre”, vale 3 pontos; “muito frequentemente”, 2 pontos; “frequentemente”, 1 ponto; e as demais (“às vezes”, “raramente”, e “nunca”) não recebem pontuação. Considera-se pontuação igual ou maior que 20 pontos suJANEIRO 2015

gestiva de comportamento alimentar de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares, e menor de 20 pontos, ausência de risco para transtorno alimentar.

Resultados A amostra avaliada foi composta por dois homens e treze mulheres. Ao começar o tratamento, verificou-se que apenas 2 indivíduos (13,33% da amostra) estavam com sobrepeso e 13 participantes (86,66%) classificados com obesidade. Nenhum paciente encontrava-se em eutrofia antes do tratamento. A média de peso inicial do grupo foi de 95,48 kg. Após três meses de intervenção, observou-se que 100% da amostra obteve perda de peso. Entre esses, 60% (n=9) perderam mais de 5% de seu peso inicial e 40% (n=6) perderam menos de 5% do seu peso inicial. A média de peso do grupo passou a ser 88,89 kg, totalizando uma perda de peso média de 6,9% após três meses de intervenção. Com relação ao estado nutricional dos indivíduos estudados, o gráfico 1 abaixo apresenta os resultados dos dois momentos. Percebe-se que ao início do tratamento, apenas 13,33% (n=2) da amostra tinha sobrepeso. Porém, 40 % (n=6) estavam com obesidade grau I; 13,33% (n=2) com obesidade grau II e 33,33% (n=5) com obesidade grau III ou mórbida. Após os três meses de tratamento nutricional e reuniões em grupo, a amostra exibiu os seguintes resultados: 20% estava com sobrepeso (n=3); 33,33% (n=5) com obesidade grau I; 33,33% (n=5) com obesidade grau II e 13,33% (n=2) com obesidade grau III. O IMC médio da amostra também teve representativa alteração, passando de 37,2 kg/m² para 34,7 kg/m², ou seja, de obesidade grau II para obesidade grau I. Gráfico 1. Comparação do Estado Nutricional Antes e Após Intervenção, Rio Grande, 2013.

O gráfico 2 apresenta os resultados para a avaliação do risco de desenvolver transtornos alimentares. Dos quinNUTrição em pauta

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Avaliação Nutricional e Comportamental de Participantes de Grupos de Emagrecimento em Clínica Particular no Município de Rio Grande - RS

ze (15) participantes avaliados, dois (2) não puderam ser classificados, devido erro no preenchimento do questionário, representando uma perda de 13,33% da amostra estudada. Portanto, para o risco de transtornos alimentares, a amostra total passou a ser de 13 participantes. Antes da intervenção, observou-se que 46,2% da amostra (n=6) apresentavam risco. Destes, após 3 meses de tratamento, cinco (5) participantes passaram a não apresentar mais risco e um (1) manteve a classificação de risco. Dentre os outros 53,8% da amostra (n=7), que antes da intervenção não apresentaram risco, mantiveram a mesma classificação seis (6) indivíduos. Apenas um (1) participante modificou a classificação de “sem risco” para “risco de transtornos”. Portanto, ao transcorrer três meses de intervenção, a amostra passou de seis (6) para somente dois indivíduos com risco de desenvolver TA (15,4% da amostra). Gráfico 2. Risco de desenvolver transtorno alimentar. Rio Grande, 2013.

Discussão O programa em questão consiste em orientação nutricional e grupo de apoio ao emagrecimento, visando mudanças do comportamento alimentar que mantenham a perda de peso saudável. Para isso, o conhecimento do estado nutricional e do perfil comportamental destes pacientes é de extrema importância para dar subsídios às ações do programa, como a adequação de cardápios, orientações dietéticas específicas, atuação no processo de mudanças comportamentais, com intuito de aumentar a adesão ao tratamento e minimizar a possibilidade de desistência. No presente trabalho, 100% da amostra obteve redução de peso, sendo que 60% (n=9) obteve perda igual ou superior a 5% do peso inicial e a média da perda foi de 6,9% em três meses. Além disso, destaca-se que quatro indivíduos modificaram seu estado nutricional: um passou de obesidade grau I para sobrepeso e três de obesidade 16

NUTrição em pauta

grau III ou mórbida para obesidade grau II. Outros estudos também obtiveram resultados bastante expressivos através do tratamento em grupo: acompanhando pacientes obesos em programa de reeducação alimentar e exercício físico orientado por mais de dois anos, Bueno et al (2011) verificaram que 37,9% apresentaram perda maior ou igual a 5% (n=22), 44,8% perderam menos de 5,0% (n=26) e apenas 17,2% não apresentaram redução de peso (n=10). No mesmo estudo, a perda ponderal média foi de 3,9%, suficiente para modificar expressivamente o estado nutricional da amostra estudada. O percentual de indivíduos não obesos (eutrofia e sobrepeso) passou de 39,7% para 55,2% e o de obesos de 60,3% para 44,8%. Barbato et al (2006), concluem que medidas não-farmacológicas capazes de promover redução ponderal superior a 5% produzem efeitos metabólicos, hemodinâmicos e neuroendócrinos que melhoram o risco cardiovascular em obesos. No mesmo estudo, apenas 21% dos pacientes avaliados alcançaram a meta de perda ponderal superior a 5%, o que ressalta a enorme dificuldade no manejo da obesidade quando se adotam mudanças de estilo de vida como intervenção exclusiva. Ao estudar a adesão a um programa de aconselhamento nutricional para adultos com excesso de peso, Guimarães et al (2010), encontraram uma melhor adesão ao tratamento em grupo quando comparado ao tratamento individual convencional, com 45,8% e 40,7% de assiduidade, respectivamente. Essa adesão aumentou quando os familiares dos pacientes foram convidados a participar da reunião, mostrando o quão importante é envolver a família no tratamento da obesidade. Os aspectos que influenciam a adesão de um paciente a uma prescrição dietética e sua motivação para adotar um padrão desejável de comportamento alimentar, devem ser analisados como um conjunto de características relacionadas ao profissional, paciente, qualidade da relação profissional-paciente, prescrição, aspectos organizacionais, pessoais, ambientais e físicos do serviço ou clínica e ambiente externo ao serviço (ASSIS; NAHAS, 1999). Quanto ao risco de desenvolver TA, o acompanhamento nutricional em grupoterapia também mostrou-se bastante eficiente. Ao final do estudo, o percentual que era de 46,2% (n=7) passou a ser de apenas 15,4% (n=2). Mosca et al (2010), constatou que 39,3% dos indivíduos com sobrepeso ou obesidade, em tratamento de redução de peso, atendidos pelo Laboratório de Avaliação Nutricional da Universidade Paulista, apresentam Compulsão Alimentar Periódica (CAP). Os autores advertem para o risco dessa comorbidade e sugerem que para um nutricaoempauta.com.br


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tratamento adequado e melhor prognóstico do paciente obeso é necessário que os profissionais nutricionistas trabalhem junto a uma equipe interdisciplinar, composta por médicos, especialistas de exercícios físicos e terapeutas comportamentais. Para Gazignato et al (2008), o molde grupal propicia um espaço seguro para a expressão emocional e trocas de experiências, uma vez que favorece a produção coletiva de significados, que podem ser explorados e canalizados na busca de soluções para os problemas comuns. O grupo, como instrumento auxiliar no tratamento dos TA, deve ser concebido a fim de que os pacientes possam se reconhecer na experiência do outro e fazer um exercício de construção da própria identidade e da função que o sintoma assume em suas vidas.

Conclusões Os resultados obtidos evidenciaram que a abordagem do grupo terapêutico de apoio ao emagrecimento e acompanhamento nutricional reduziram significativamente o peso dos indivíduos, seu estado nutricional e risco de desenvolver transtornos alimentares, tornando-se uma forma comprovadamente eficaz de tratamento. Acreditamos ser necessário dar continuidade ao acompanhamento destes pacientes, monitorando seus resultados e traçando novas estratégias terapêuticas, como a inserção de profissionais da educação física e psicologia no tratamento do excesso de peso no programa em questão. Um maior tempo de intervenção, com avaliações regulares, provavelmente mostrará resultados diferentes a médio e longo prazo.

Sobre os Autores

Dra. Vivian Laurino Almeida - Nutricionista (UFPel), Esp. em Psicologia e Reeducação do Comportamento Alimentar (IPGS), Esp. em Nutrição Clínica (CBES), Personal e Professional Coach (SBC), coordenação de grupos de reeducação alimentar. Dra. Graziela Marinoni da Silva - Psicóloga (PUCRS), Esp. em Psicologia e Reeducação do Comportamento Alimentar, Coordenadora de Grupo Terapêutico (APORTA-RS), Capacitação em Acompanhamento Terapêutico (Ins. Contemporâneo de Psicanálise e Transdisciplinaridade - ICPT). Dra. Maria Augusta Mansur de Souza - Psicóloga, Especialista em Psicoterapia Cognitivo Comportamental (WP – RS), Mestre em Psiquiatria (UFRGS). JANEIRO 2015

clínica

Palavras-chave: obesidade, emagrecimento, estado nutricional. Keywords: obesity, weight loss, nutritional status.

Recebido: 29/01/2014 - Aprovado: 20/01/2015

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Consumo de Suplementos e a Imagem Corporal de Frequentadores de Academias de Ginastica de São Paulo

Consumo de Suplementos e a Imagem Corporal de Frequentadores de Academias de Ginastica de São Paulo Resumo: Nos últimos anos podemos notar um grande aumento no consumo de suplementos e vários estudos que o relacionam com a imagem corporal. O presente trabalho teve como objetivo correlacionar o consumo de suplementos dietéticos e a imagem corporal em frequentadores de academias, com o intuito de observar qual a influência da imagem corporal na utilização de suplementos. Para isso foram aplicados questionários em 35 frequentadores de academias da cidade de São Paulo, de ambos os sexos, com idade média de 25,8 ± 7,93 anos. Os resultados obtidos foram que 51,4% (n=18) dos participantes estão em pré-obesidade, se avaliados pelo IMC, 44% (n=16) fazem uso de mais do que dois suplementos, 83% (n=29) consomem diariamente e 63% (n=22) ingerem antes e após o treino, 94% (n=33) notaram aumento do rendimento, 54% (n=19) começaram a consumir o suplemento por indicação do personal trainer, avaliando a imagem corporal pela escala de Tiggemann e Wilson-Barret, 1998, onde 43% (n=15) se auto avaliaram com a representação da figura 5 (eutrofia). Nesse estudo observou-se que 83% dos entrevistados consomem o suplemento diariamente muitas vezes 18

NUTrição em pauta

sem necessidade. Foi possível avaliar que o consumo de suplemento é feito muitas vezes com a falta de orientação de um profissional capacitado para uma avaliação individualizada, o profissional de nutrição. Entretanto encontramos algumas limitações para a classificação da escala de imagem corporal, pois a mesma apresentou-se inadequada para o público estudado. Abstract: In recent years we notice a large increase in the consumption of supplements and various studies that relate to body image. This study aimed to correlate the consumption of dietary supplements and body image in gyms goers, in order to observe the influence of body image on the use of supplements. For that questionnaires were administered in 35 gyms goers of the city of São Paulo, of both sexes, mean age 25.8 ± 7.93 years. The results that were 51.4% (n = 18) participants are in a pre-obesity is assessed by BMI, 44% (n = 16) make use of more than two supplements, 83% (n = 29) consume daily and 63% (n = 22) ingested before and after training, 94% (n = 33) noted increased yield, 54% (n = 19) began consuming the supplement advised by personal trainer, evaluating the image Tiggemann body by scale-Barret and Wilson, 1998, where 43% (n = 15) self nutricaoempauta.com.br


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Consumo de Suplementos e a Imagem Corporal de Frequentadores de Academias de Ginastica de São Paulo

rated with the representation of Figure 5 (eutrophic). In this study it was observed that 83% of respondents consume the supplement daily often unnecessarily. Was possible to assess the intake of supplement is often done with a lack of guidance from a qualified professional for an individualized assessment, the nursing professional. However we found some limitations to the classification of the scale of body image, since it presented itself inadequate for public study.

Introdução Atualmente o mercado da suplementação dispõe cada vez mais de produtos que associados ao modismo da alimentação adequada e o aumento do desejo dos indivíduos por uma estética perfeita. Os frequentadores de academia cada vez mais fazem uso de suplementos e “alimentos” para atingir seus objetivos (ASSUMPÇÃO; DINIZ; SOL, 2012). A regulamentação sobre o uso de suplementos por esse tipo de população ainda não está bem definida e é desproporcional ao uso constante pelo indivíduo que está entre o sedentarismo e atleta (LIMA; MORAES; KIRSTEN, 2010). A indústria de suplementos dietéticos vem crescendo muito nos últimos 15 anos, a venda de suplemento dietético aumentou de 3,3 bilhões de dólares a uma quantia de aproximadamente 14 bilhões de dólares no ano de 2000. Devido ao aumento da procura e o dinheiro envolvido aumentou a variedade dos produtos disponíveis no mercado (LOLLO; TAVARES, 2004). A busca pelo corpo perfeito e a melhora da performance através da atividade física, estimula o consumo de suplementos nutricionais muitas vezes sem orientação de profissionais especializados. Ainda há poucos estudos científicos que mostrem o consumo de suplementos pela população em geral. Com isso muitos profissionais da saúde ainda desconhecem os efeitos potenciais e colaterais dos suplementos dietéticos (ROCHA; PEREIRA, 1998; LIMA; MORAES; KIRSTEN, 2010; ASSUMPÇÃO; DINIZ; SOL, 2012). Há um consenso na literatura de que uma alimentação balanceada supre as demandas energéticas, vitamínicas e hídricas em não atletas, mas em atletas as demandas podem mudar não havendo um consenso sobre suas necessidades diárias. Considerando que a atividade física é caracterizada por diferentes intensidades, a duração e frequência diária e semanal, o indivíduo deve levar em consideração que para cada tipo de atividade física as necessidades nutricionais e a indicação para uso dos suplementos dietéticos são diferenciadas (LOLLO; TAVARES, 20

NUTrição em pauta

2004; ROBERGS; ROBERTS, 2002). A imagem corporal é associada e dependente do desenvolvimento do sistema sensorial, da percepção e de relações sociais. Os indivíduos que não conseguem alcançar um padrão corporal acabam sofrendo um impacto negativo sobre a auto imagem, podendo acarretar baixa autoestima e depressão (BECKER, 1999). Existem diversos fatores que definem imagem corporal, dentre eles a satisfação com o peso, satisfação corporal, avaliação da aparência, orientação da aparência, estima corporal, corpo ideal, padrão do corpo, esquema corporal, percepção corporal, distorção corporal e desordem da imagem corporal (THOMPSON; COOVERT; STOMER, 1999). A insatisfação corporal é uma crescente na sociedade atual, assim como a determinação de metas para a melhora da aparência física, o que leva à maior procura por recursos ergogênicos, como os suplementos dietéticos (SCHIMITIZ; CAMPAGNOLO, 2013). O objetivo desta pesquisa é estudar a relação da imagem corporal e o consumo de suplementos, em frequentadores de academia. Além disso, este estudo aborda temas associados à busca de um corpo perfeito, como alimentação e a suplementação dietética.

Metodologia O presente trabalho teve como base para seu desenvolvimento a aplicação de questionários que relacionavam o consumo do suplemento e a imagem corporal dos frequentadores de academias. Os participantes eram questionados quanto: Peso, estatura, idade, a identificação do suplemento consumido, quantidade e frequência, momento do consumo, por quem foi indicado, qual o motivo do consumo, se notou resultado após início da ingestão e a auto-avaliação da imagem corporal através da escala de Tiggemann e Wilson-Barret, 1998. A pesquisa ocorreu com trinta e cinco pessoas, de ambos os gêneros, e maiores de idade. Foi quantitativa e realizou-se análise da relação de quantidade de pessoas versus a imagem que possuem de si mesmos, de acordo com os questionários aplicados. Tal pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética “Plataforma Brasil”, sob o número 3204944.4.00005492. Os dados foram tabulados manualmente e apresentados em forma de gráfico, por estatística descritiva.

Resultados e Discussão Foram avaliados 35 frequentadores de academias de ambos os gêneros, dentre eles 83% (n=29) eram do gênero nutricaoempauta.com.br


Consumption of Supplements and Body Image from Regulars of Health Club of São Paulo

masculino e 17% (n=6) do gênero feminino, com idade média de 25,8 ± 7,93 anos. Os dados antropométricos coletados foram estatura e peso, com isso foi possível realizar o cálculo do índice de massa corporal (IMC), apesar de a maioria apresentar eutrofia, com valores médios de 24,93 ± 2,59kg/m2, é importante destacar que 51,4% (n=18) dos indivíduos encontravam-se fora da normalidade (Pré-obesidade). Uma das questões do estudo era saber o que levou os frequentadores de academias a consumir os suplementos (Gráfico 1), a pergunta era dissertativa, portanto houve mais do que uma resposta para essa questão, 21 participantes relataram que iniciaram o consumo para aumentar o rendimento/ desempenho durante a atividade física, o mesmo número de pessoas responderam que a motivação foi para aumentar a massa muscular, 2 pessoas responderam que começaram a tomar o suplemento por necessidade, apenas uma pessoa respondeu que por orientação do personal trainer. No estudo de Bertolucci et al.(2012) a porcentagem de pessoas que começaram a consumir suplemento para ganho de massa magra foi de 49,5% (n=44), nesse estudo não foi dada a opção de aumento de rendimento ou desempenho. Segundo Duarte et al.(2014) em seu estudo o suplemento foi utilizado principalmente para ganho acelerado de massa magra ou perda de peso, isso pode estar relacionado com a velocidade para atingir a meta de “corpo ideal” para esses participantes. Gráfico 1. Motivação do consumo de suplementos por frequentadores de academia universitária (n=35). São Paulo, 2014.

esporte gráfico abaixo (gráfico 2) representa os suplementos mais consumidos, com ele podemos verificar que a maior parte deles são hiperproteicos, dentre eles, o whey protein, creatinina, BCAA e a albumina, entretanto esses não são os únicos, nos outros a incidência de consumo foi pequena. Os resultados foram semelhantes aos encontrados por Santos et al.(2014), onde a maior parte dos participantes 51,81% relatam o consumo de suplementos hiperproteicos, sendo o mais consumido o whey protein que correspondem a 25% dos participantes. Gráfico 2. Suplementos mais utilizados por frequentadores de academia universitária (n=35). São Paulo, 2014.

A frequência de consumo foi outro ponto abordado no questionário, onde 83% (n=29) fazem uso diário dos suplementos (Gráfico 3), quando questionados em qual período era consumido, 63% (n= 22) ingerem antes e após o treino, 11% (n=4) e 23% (n=8) consomem antes e após o treino, respectivamente (Gráfico 4). O estudo de Brunancio et al. (2013) mostram resultados similares ao encontrados nesse estudo, no qual 82,9% dos participantes consumiam diariamente os suplementos, outro estudo de Santos et al.(2014) a porcentagem de consumo diário foi de 81,48%. Gráfico 3. Frequência do consumo de suplemento esportivo consumida por frequentadores de academia universitária (n=35). São Paulo, 2014.

Quando perguntado para os participantes quantos suplementos eles consumiam, 44% (n=16) deles disseram que ingeriam mais do que dois, 31% (n=10) e 25% (n=9) consumiam, respectivamente um e dois suplementos. O JANEIRO 2015

NUTrição em pauta

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Consumo de Suplementos e a Imagem Corporal de Frequentadores de Academias de Ginastica de São Paulo

Gráfico 4. Momento de ingestão do suplemento por frequentadores de academia universitária (n=35). São Paulo, 2014.

Um dos pontos abordados durante a entrevista foi o efeito do suplemento no rendimento durante a atividade física. Nessa pergunta 94% (n=33) dos entrevistados responderam que notou diferença, com aumento no rendimento, 6% (n=2) não notaram diferença e ninguém respondeu que o rendimento diminuiu após o início do consumo dos suplementos (Gráfico 5). No estudo de Bertolucci et al.(2012) a maioria (86%) dos participantes mostraram-se satisfeitos com os resultados, como ponto positivo foram destacados aumento no rendimento, aumento da massa muscular, maior disposição física.

à saúde, como sobrecarga do sistema renal e hepático devido à alta carga de nitrogênio, transformação do excesso de proteína em gordura, desidratação em decorrência da produção excessiva de ureia e contaminação por esteroides sem indicação nos rótulos (DUARTE et al., 2014; LIMA; MORAES; KIRSTEN , 2010). Contudo, o comércio desses produtos na própria academia, além da falta de legislação rigorosa que proíba a venda sem receita médica e propaganda da indústria, esta que lança constantemente no mercado produtos que prometem efeitos imediatos e eficazes, contribuem para o crescente número de consumidores deste tipo de suplementos. Fatores como a falta de orientação adequada, por exemplo, aumentam o uso destes suplementos. Podemos observar através de pesquisa realizada com frequentadores de academia, as orientações ao consumo de suplementos, obtendo-se resultados onde a maioria das indicações são feitas pelo Personal Trainer com 54% (n=19), seguido de amigos, pesquisas de internet e vontade própria, representando 26% (n=9); somente 20% dos entrevistados tiveram indicação à suplementação feita por profissionais capacitados, dentro dele 17% (n=6) nutricionistas e 3% (n=1) médicos (Gráfico 6). Gráfico 6. Indicação do consumo de suplemento esportivo consumida por frequentadores de academia universitária (n=35). São Paulo, 2014.

Gráfico 5. Efeito do consumo de suplemento esportivo, em relação ao rendimento, por frequentadores de academia universitária (n=35). São Paulo, 2014.

Outro ponto importante que merece destaque é que a ingestão de suplementos por praticantes de atividades físicas deve ser constante objeto de estudo, uma vez que o consumo de suplementos nutricionais ou farmacológicos, sem correta prescrição, pode produzir efeitos prejudiciais 22

NUTrição em pauta

Como podemos verificar na análise do uso de suplementos em atletas de karatê, realizado por Silva e Carvalho (2002), somente 8% tiveram prescrição de nutricionistas, enquanto 46% consumiam por vontade própria; 30% com orientação do Personal Trainer e 16% por colegas. Podemos observar tal fato também em estudo de Lima et al.(2010), onde indivíduos relataram fazer uso de suplemento sem prescrição, seguiam indicação de amigos, com 13%, Personal Trainer, lojas de suplementos e nutricionistas, com 4,3%. Para avaliarmos a auto percepção da imagem corponutricaoempauta.com.br


esporte

Consumption of Supplements and Body Image from Regulars of Health Club of São Paulo

ral utilizamos como referência a escala de Tiggemann e Wilson-Barret, 1998, nela pedíamos para fosse assinalado a opção em que o mais se aproximava, de acordo com a visão do participante sob seu corpo, obtivemos um resultado (Gráfico 7) onde 43% (n=15) assinalaram a figura cinco, 31% (n=11) marcaram a figura quatro, a figura dois foi escolhida por 8% (n=3), as figuras três, seis e sete foram assinaladas cada uma por 6% (n=2), entretanto durante a aplicação encontramos algumas limitações, como a queixa de alguns participantes pela falta de silhuetas que se enquadrassem no desejável para esportistas, como as que exibissem corpos com músculos mais evidentes, revelando a importância da adaptação ou criação de escalas que avaliem a imagem corporal do público em questão, visto que praticantes de atividades físicas representam um público vulnerável a transtornos de imagem corporal, a falta de uma escala própria para esse público foi relatado em alguns dos estudos utilizados como comparativo do presente estudo, como por exemplo, Duarte et al. (2014), que expõe as limitações da escala para desportistas, segundo Ristow et al. (2013) o uso da escala de silhuetas bidimensionais para avaliação da imagem corporal, é um fator limitante, pois ela não permite a representação total do indivíduo, da distribuição de sua massa de gordura e de outros aspectos antropométricos importantes na formação da imagem corporal. Gráfico 7. Auto-percepção da imagem corporal por frequentadores de academia universitária (n=35). São Paulo, 2014.

orientados pelo Personal Trainer. Destaca-se também a quantidade excessiva do consumo de suplementos, uma vez que a maioria dos participantes fazem uso de mais do que dois deles, sendo que em grande parte das vezes o consumo é diário. Entretanto encontramos algumas limitações para a classificação da escala de imagem corporal, pois a mesma apresentou-se inadequada para o público estudado, com isso observa-se na literatura a mesma dificuldade causada pela falta de uma escala própria para a população estudada, a necessidade da criação ou adaptação de uma escala para a avaliação da imagem corporal em desportistas.

Sobre os Autores

Profª Drª Luciana Setaro - Nutrição da Universidade Anhembi Morumbi. Mayara Gonçalves Cavalcante - Aluna de Graduação em Nutrição da Universidade Anhembi Morumbi. Juliana Pereira Cardoso - Alunas de Graduação em Nutrição da Universidade Anhembi Morumbi.

Palavras-chave: Suplementos, imagem corporal, academias de ginástica. Keywords: Supplements, body image, health club.

Recebido: 2/12/2014 - Aprovado: 20/1/2015

Referências

Conclusão Os resultados obtidos nesse trabalho demonstraram que o consumo de suplementos na maioria das vezes não foi indicado por profissionais capacitados para uma avaliação individualizada: o profissional de nutrição, ressaltando que a maioria dos participantes (54%) foram JANEIRO 2015

ASSUMPÇÃO, B. V.; DINIZ, J. C.; SOL, N. A. A. O nível de conhecimento das informações sobre suplementação e alimentação utilizados por indivíduos frequentadores de academia de diferentes níveis sociais na cidade de Sete Lagoas - Minas Gerais. RBNE-Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v.1, n.5, 2012. BECKER JR.B. Manual de Psicologia Aplicada ao exercício & Esporte. Porto Alegre, Edelbra. 1999. BERTOLUCCI, K. N. B. et al. Consumo de suplementos alimentares por praticantes de atividade física em academias de ginástica em São Paulo. RBNE-Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v.4, n. 20, 2012. BRUNACIO, K. H. et al. Uso de suplementos dietéticos entre residentes do Município de São Paulo, Brasil. Cad. saúde pública, v.29, n.7, p.1467-1472, 2013. DUARTE, L.C.; et al. Satisfação com a imagem corpoNUTrição em pauta

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Consumo de Suplementos e a Imagem Corporal de Frequentadores de Academias de Ginastica de São Paulo

ral e uso de suplementos por frequentadores de academias de ginástica. Scientia Medica, v.24, n.2, 2014. FAYH, A. P. T. et al.. Consumo de suplementos nutricionais por frequentadores de academias da cidade de Porto Alegre. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Porto Alegre, v.35, n.1, 2013. LIMA, L.D.; MORAES, C. M. B.; KIRSTEN, V. R. Dismorfia muscular e o uso de suplementos ergogênicos em desportistas. Rev. bras. med. esporte, v.16, n.6, p.427-430, 2010. LOLLO, P.C.B.; TAVARES, M.C.G.C.F. Perfil dos Consumidores de Suplementos dietéticos nas academias de ginástica de Campinas, SP. Rev. Digital Buenos Aires, v.10, n.76, 2004. OLIVEIRA, C.E.; et al. Avaliação do consumo alimentar antes da prática de atividade física de frequentadores de uma academia no município de São Paulo em diferentes modalildades. Rev. Bras de Nutrição Esportiva, v.7, n.37,p57-67. 2013. RISTOW, M.S., L., BEIMS, D. F.; NESELLO, L. Â. N. Percepção Corporal Por Praticantes De Musculação. Revista da UNIFEBE, v.1, n.11, 2013. ROBERGS, S.; ROBERTS, Princípios fundamentais de fisiologia do exercício para aptidão, desempenho e saúde. São

Paulo: PHORT, 2002 ROCHA, L.P.; PEREIRA, M.V.L. Consumo de suplementos nutricionais por praticantes de atividade física em academias. Revista de Nutrição, Campinas, v.11, n.01, p.7682, 1998. SANTOS, J. F. S.; MACIEL, F. H.S.; MENEGETTI, D. Consumo de suplementos proteicos e expressão da raiva em praticantes de musculação. Rev. educ. fis. UEM, Maringá, v. 22, n. 4, 2014. SCHMITZ, J. F.; CAMPAGNOLO, P. D. B. Características de dismorfia muscular em praticantes de musculação: associação com o consumo alimentar. Braz J Sports Nutr. Vol. 2, n. 2. p.1-8. 2013. SILVA, M. S.; CARVALHO, M. S. Análise da suplementação nutricional dos atletas brasilienses de karatê. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 24, n. 1, p. 127-137, set. 2002 THOMPSON, J. K.; COOVERT, M.D.; STOMER, S.M. Body image, social comparison, and eating disturbance: A covariance structure modeling investigation. International Journal of Eating Disorders, v.26, n.1, p.43-51, 1999.

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NUTrição em pauta

Realização

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Extrinsic sodium in Meals of University Restaurants

food service

Per Capita de Sódio Extrínseco nas Refeições de Restaurantes Universitários Resumo: Esse estudo teve por objetivo avaliar o teor de sódio extrínseco per capita nas refeições servidas nos anos de 2011 e 2012 em cinco restaurantes universitários (RUs) de uma instituição pública federal de Porto Alegre/RS. As informações utilizadas foram obtidas de banco de dados da instituição pesquisada. Foram identificados 23 alimentos industrializados utilizados com as respectivas quantidades de sódio por embalagem. Desses itens, foi realizado o cálculo per capita de sódio extrínseco por refeição. Quanto ao teor de sódio per capita por refeição (almoço e jantar) o valor médio entre os cinco RUs foi superior a 2200 mg/dia nos dois períodos. No entanto foi identificada uma redução média de 26,2% do teor de sódio per capita do ano de 2012 em relação ao de 2011. Sugere-se o monitoramento constante dos aspectos das refeições, bem como da redução de itens industrializados com alto teor de sódio. Abstract: This study aimed to evaluate the extrinsic sodium content per capita provided in meals offered in 2011 and 2012 in five university restaurants (URs) of a public institution of Porto Alegre / RS. The information used was obtained from the research institution database. There were 23 processed foods used in the respective amounts of sodium per package. From these items, we performed the per capita calculation of extrinsic sodium per meal. As for the sodium content per capita provided lunch and dinner, the average of the five URs was superior to 2200 mg / day in both periods. However it was identified a reduction of 26.2% in per capita JANEIRO 2015

sodium content in 2012 compared to 2011. It is suggested that is necessary a constant evaluation of quality of food, as well as the reduction of industrial products with high content of sodium.

Introdução A hipertensão arterial sistêmica (HAS) tem alta prevalência e baixas taxas de controle, sendo considerada como um dos principais fatores de risco modificáveis e um dos mais importantes problemas de saúde pública (SBC, 2010). A Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (PNAD) de 2008 mostrou que 14,0% da população geral referiram HAS (BRASIL, 2011). A quantidade de sódio adicionada em alimentos industrializados ou no preparo de refeições é preocupante, por estar associada a patologias como a HAS entre outras (BROWN, et al., 2009). Um dos itens na avaliação dos cardápios é o de teor de sódio que é um dos minerais importantes para a saúde humana. Nos alimentos industrializados o mesmo deve constar na rotulagem de composição nutricional dos alimentos comercializados (ANVISA, 2005). O sódio também consta como item de avaliação nas recomendações do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) (BRASIL, 2006). O objetivo de uma UAN é o de fornecer uma alimentação adequada às necessidades nutricionais dos comensais, além de apresentar um adequado nível de sanidade (PROENÇA et al., 2005). Dessa forma, os cardápios elaborados devem ser balanceados de modo que as necessidades energéticas e de nutrientes possam ser supridas, NUTrição em pauta

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Per Capita de Sódio Extrínseco nas Refeições de Restaurantes Universitários

assegurando desta forma saúde e capacitação para o desenvolvimento de todas as atividades. Nos espaços acadêmicos das universidades as atividades de uma UAN são desenvolvidas nos Restaurantes Universitários (RUs). Em uma universidade pública federal do estado do Rio Grande do Sul estão disponibilizados cinco RUs que apresentam um cardápio padrão composto

por arroz, feijão, carne, guarnição, salada e sobremesa servido no almoço e jantar (UFRGS, 2014). Esse estudo teve por objetivo avaliar o teor de sódio per capita extrínseco oriundo de produtos industrializados utilizados no preparo de refeições servidas nos anos de 2011 e 2012 em cinco restaurantes universitários (RUs) de uma instituição pública federal de Porto Alegre/RS.

Tabela 1. Produtos e quantidades utilizadas em restaurantes universitários. Porto Alegre/RS, 2011 e 2012.

Emb. kg e/ou L

Sódio (mg) Emb.

Total Emb. Adq. 2011

Total Emb. Adq. 2012

Diferença Qtde. Emb.

Diferença %

Azeitona preta

1,8 kg

26100

184

142

-42

-22,8

Azeitona verde

2 kg

29000

293

200

-93

-31,7

Ervilha

3 kg

5884

1602

672

-930

-58,1

Milho verde

2 kg

5230

1656

1708

52

3,1

Seleta de legumes

2 kg

7953

1835

1726

-109

-5,9

Caldo de carne

1 kg

221370

429

145

-284

-66,2

Caldo de galinha

1 kg

215000

352

115

-237

-67,3

Caldo de legumes

1 kg

242200

371

110

-261

-70,4

Sal iodado refinado

1 kg

390000

9941

7332

-2609

-26,2

3,3 kg

2750

875

875

0

0,0

Extrato de tomate

4 kg

19866

764

863

99

13,0

Maionese

3 kg

31500

1716

2241

525

30,6

Creme vegetal

0,5 kg

3200

332

418

86

25,9

Molho inglês

0,15 L

4425

108

142

34

31,5

Mostarda

3,2 kg

2666

1418

899

-519

-36,6

Bacon

0,3 kg

4380

839

1089

250

29,8

Linguiça suína

2,5 kg

96000

1433,5

1631

197,5

13,8

1 kg

12087

1520

1675

155

10,2

Queijo lanche

2,3 kg

10733

1539

1539

0

0,0

Queijo ralado

0,5 kg

6850

711

898

187

26,3

Batata palha

1 kg

2120

3382

2117

-1265

-37,4

3,47 kg

4684

455

413

-42

-9,2

1 kg

1625

1651

764

-887

-53,7

Produto

Catchup

Presunto

Leite condensado Pudim sabores

Obs.: Emb: embalagem; kg: quilograma; L: litro; mg: miligramas; Adq: adquirida; Qtde: quantidade; %: percentual. 26

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food service

Extrinsic sodium in Meals of University Restaurants

Metodologia Trata-se de um estudo descritivo transversal com abordagem quantitativa utilizando dados retrospectivos (PRODANOV; FREITAS, 2013). Os dados coletados foram referentes ao período de 2011 e 2012. Foram relacionados os itens adquiridos pelos restaurantes universitários com as respectivas quantidades. A verificação do sódio das embalagens foi feita por estagiárias e bolsistas do curso de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Dos dados coletados foi desenvolvida uma tabela relacionando uma lista com os alimentos industrializados utilizados na preparação das refeições almoço e jantar. A relação de alimentos industrializados foi subdividida em seis grupos, contemplando: enlatados, temperos, molhos e gorduras, produtos de origem animal, produtos prontos para uso e sobremesas. Para quantificar o sódio total de cada produto foi realizado o cálculo a partir da porção contida na informação nutricional disponibilizada na rotulagem de cada embalagem. Foi realizado o levantamento da quantidade utilizada de cada produto nos anos de 2011 e 2012. Com essas informações foram calculadas a diferença de quantidade e percentual de aquisição de cada produto. Da quantidade adquirida de produtos se multiplicou o teor de sódio total de cada ano. Para o cálculo dos per capitas de sódio por refeição foi realizado a divisão do sódio total dos produtos utilizados de cada ano pela quantidade de serviços prestados por cada RU. Os per capitas foram calculados para médias e desvios padrão em planilhas do Microsoft Excel®. A pesquisa foi aprovada sob o nº 21638/2012 pela Comissão de Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFRGS.

Resultados A descrição dos produtos utilizados com as respectivas quantidades de sódio e os totais adquiridos nos anos de 2011 e 2012 estão apresentados na tabela 1. Os dados da tabela 1 mostram a diversidade de itens utilizados na produção de refeições, bem como do teor de sódio dos itens industrializados. Também é possível avaliar as respectivas diferenças em relação a quantidade adquirida dos produtos e os percentuais. Os grupos dos molhos e gorduras e o dos produtos de origem animal apresentaram aumento de consumo no ano de 2012. No entanto, o grupo que inclui os temperos prontos e o sal iodado foi o que apresentou os teores mais elevados de sódio e também foram os produtos que tiveram as maiores reduções de consumo. Por conta da diminuição JANEIRO 2015

na aquisição dos itens desse grupo foi possível identificar uma redução de 26,2% no total do sódio no ano de 2012 em relação ao ano de 2011 quando da realização do somatório da quantidade dos itens utilizados com os respectivos teores de sódio. Os itens da tabela 1 foram avaliados quanto ao consumo para cada um dos restaurantes universitários. O resultado do total de sódio dos produtos dividido pelo número de refeições de almoço e jantar servidos nos anos de 2011 e 2012 são apresentados na tabela 2. Tabela 2. Sódio per capita das refeições em restaurantes universitários. Porto Alegre/RS, 2011 e 2012.

Restaurante Universitário

sódio per capita (mg) por refeição

redução

2011

2012

%

1 - Centro

3532,9

2231,5

58,3

2 - Saúde

2308,0

1809,5

27,6

3 - Vale

2438,3

2112,2

15,4

4 - Agronomia

3118,94

2321,7

34,5

5 - Educação Física

2976,5

2860,0

4,08

Média

2874,9

2267,0

28,0

Desvio Padrão

450,5

343,3

18,4

O fornecimento de refeições (almoço e jantar) nos RUs da UFRGS foram superiores a 1,5 milhões de refeições nos anos de 2011 e 2012. No período de 2012 ocorreu uma redução de 4,1% no total de serviços nos RUs. No entanto essa redução não ocorreu de forma equitativa em todos os RUs, sendo que em dois deles houve aumento na frequência. Convém destacar que todos os RUs apresentaram redução no per capita de sódio por refeição, sendo que o que apresentou o menor percentual de redução foi o que teve o maior aumento de frequência no período de 2011 a 2012 (+17,9%). A redução nos per capitas de miligramas de sódio e em percentuais estiveram relacionados com a diminuição de consumo dos itens com teores mais elevados de sódio na composição dos produtos. De qualquer forma, a média dos valores encontrados mostraram quantidades per capitas bastante elevadas por refeição. NUTrição em pauta

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Per Capita de Sódio Extrínseco nas Refeições de Restaurantes Universitários

Discussão Nesse estudo os alimentos industrializados utilizados para o preparo das refeições mostraram que o sódio presente na composição apresentou quantidades diferenciadas de acordo com os tipos de produtos. O mercado de foodservice tem disponibilizado para o segmento de refeições para coletividade uma gama enorme de opções quanto aos produtos e tipos de embalagens. Estudos realizados com produtos de uso doméstico na Austrália (7221 produtos) e no Reino Unido (44372 produtos) mostraram que alimentos como molhos, carnes processadas e pães, além do sal de cozinha são os que apresentaram os teores mais elevados de sódio (WEBSTER; DUNFORD; NEAL, 2010; NI MHURCHU, et al., 2011). O sódio presente nos alimentos industrializados vem sendo considerado como o principal contribuinte no consumo elevado de sódio pela população (WEBSTER; DUNFORD; NEAL, 2010). Por conta disso, governos de outros países (WEBSTER; DUNFORD; NEAL, 2010; NI MHURCHU, et al., 2011) e também no Brasil (PASQUALINI, et al., 2013) tem proposto a redução dos teores de sódio na composição dos alimentos industrializados pelo impacto dessa ação na saúde pública. No entanto, apesar da legislação, ainda percebe-se a falta de regulamentação para definir limites mínimos e máximos para o teor de sódio nos alimentos industrializados.

REDIN, 2014) pode contribuir na escolha de alimentos menos saudáveis. Num contexto preventivo, a Organização Mundial de Saúde tem recomendado sobre a limitação da ingestão de sal (sódio) para até 2000 mg/dia (WHO, 2006). No Brasil, o Ministério da Saúde vem trabalhando na reformulação do perfil nutricional de alimentos processados com vistas à redução de gorduras, açúcares e sódio (BRASIL, 2012).

Considerações Finais Nesse trabalho os resultados mostraram que a redução de alguns itens industrializados repercutiu positivamente numa redução importante no per capita médio de sódio por refeição. O planejamento e avaliação de cardápios são atividades privativas do profissional nutricionista e devem ser constantemente monitoradas. Sobre esse aspecto a avaliação dos produtos utilizados, especialmente os ricos em sódio, gorduras e açúcares, deve ser constantemente monitorada para poder proporcionar e oferecer aos usuários refeições mais adequadas. Destaca-se, ainda, que estudos de avaliação sobre aspectos qualitativos e quantitativos de refeições devem ser desenvolvidos por nutricionistas e pesquisadores em diferentes tipos de serviço.

Sobre os Autores

O sódio presente nos alimentos industrializados vem sendo considerado como o principal contribuinte no consumo elevado de sódio pela população.” Webster; Dunford; Neal, 2010 Em relação ao per capita médio de sódio encontrado por refeição nesse estudo os valores elevados, acima de 2000 mg, são semelhantes a outros estudos em empresas de refeições coletivas, comerciais e hospitalar (SALAS, et al..2009; BARBOSA; BARROS; SPINELLI, 2012; BRITO, et al., 2014; VARGAS; CRUZ, 2014). Nas recomendações do PAT o teor de sódio deve estar entre 720 a 960 mg (BRASIL, 2006). Na concepção atual da prestação de serviços de alimentação onde os espaços têm oferecido aos usuários/clientes a opção do self-service (STRASBURG; 28

NUTrição em pauta

Prof . Dr. Virgílio José Strasburg - Nutricionista. Professor do curso de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Departamento de Nutrição; Faculdade de Medicina. Centro de Estudos em Alimentação e Nutrição (CESAN/HCPA). Doutorando em Qualidade Ambiental (Universidade Feevale). Dra. Salete Braga Medeiros – Nutricionista. Divisão de Alimentação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestranda em Saúde Coletiva (UNIBE Universidad Ibero Americana) Dra. Rita de Cássia Costa Corbo - Nutricionista. Divisão de Alimentação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestranda em Saúde Pública (Universidad San Carlos)

Palavras-chave: sódio, refeições, alimentos industrializados. Keywords: sodium, meals, industrialized Foods.

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Extrinsic sodium in Meals of University Restaurants

Recebido: 10/11/2014 - Aprovado: 25/11/2014

Referências

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JANEIRO 2015

food service PASQUALINI, M. et al. ANVISA 2013- Novas Recomendações para Sódio e Potássio. Como chegamos até aqui? Nutrição em Pauta, v. 123, p. 49-52, 2013. PRODANOV, C.C.; FREITAS, E.C. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico [recurso eletrônico]. Novo Hamburgo: Feevale; 2013 [acesso 2014 out 25]. Disponível em: < https://www.feevale.br/cultura/editora-feevale/metodologia-do-trabalho-cientifico---2-edicao>. PROENÇA, R.P.C.et al. Qualidade nutricional e sensorial na produção de refeições. Florianópolis: EdUFSC, 2005. (Série Nutrição) SALAS, C.K.T.S. et al. Teores de sódio e lipídios em refeições almoço consumidas por trabalhadores de uma empresa do município de Suzano, SP. Rev Nutr., v. 22, n. 3, p.331-339, 2009. Disponível em <http://dx.doi. org/10.1590/S1415-52732009000300003>. SBC. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Sociedade Brasileira de Hipertensão. Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol., v. 95, 1 supl.1, p. 1-51, 2010. STRASBURG, V.J.; REDIN, C. O contexto da alimentação institucional na saúde do trabalhador brasileiro. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental – REGET. v. 18, ed. especial, p. 127-136, mai. 2014. UFRGS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pró Reitoria de Assuntos Estudantis. [2014]. Disponível em:<http://www.ufrgs.br/prae/restaurante-universitario >. VARGAS, A de; CRUZ, A.C. Análise da Oferta de Sódio em Preparações Servidas por uma Unidade de Alimentação e Nutrição Hospitalar. Nutrição em Pauta, v. 20 ed. eletr., p. 47-52. 2014. WEBSTER JL; DUNFORD EK; NEAL BC. A systematic survey of the sodium contents of processed foods. Am J Clin Nutr.; v. 91, n. 2, p. 413-20, 2010. WHO. World Health Organisation. Reducing Salt Intake in Populations report of a WHO forum and technical meeting, 5-7 October 2006, Paris, France. Disponível em: <http://www.who.int/dietphysicalactivity/Salt_Report_VC_april07.pdf>.

NUTrição em pauta

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Relação entre o Ferro Dietético e Estresse Oxidativo em Diabéticos Tipo 2

Relação entre o Ferro Dietético e Estresse Oxidativo em Diabéticos Tipo 2 Resumo: O estudo avaliou a ingestão dietética de ferro e sua relação com marcador do estresse oxidativo em pacientes diabéticos tipo 2. Estudo caso-controle envolvendo 88 indivíduos com e sem diabetes mellitus tipo 2, idade entre 27 e 59 anos, de ambos os sexos. O consumo alimentar foi avaliado utilizando registro alimentar de três dias. Avaliou-se parâmetros glicêmicos. Analisou-se o malondialdeído (MDA) plasmático por meio da produção de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico. Os valores médios do índice de massa corpórea dos pacientes com diabetes e controles foram respectivamente, 28,62 ± 4,59 kg/m² e 23,15 ± 2,89 kg/m² (p<0,05). Não houve diferença estatística significativa na ingestão de ferro (p>0,05). Houve diferença estatística significativa entre os grupos (p<0,05) nas concentrações plasmáticas de MDA. A correlação entre o ferro dietético e o MDA não mostrou resultado significativo (p>0,05). O consumo de ferro parece não influenciar na concentração do MDA. Abstract: The study evaluated the dietary intake of iron and its relation marker of oxidative stress in type 2 diabetic patients. Case-control study involving subjects with and without type 2 diabetes mellitus, aged 27 to 59 years, of both sexes. Dietary intake was assessed using three-day food record. We evaluated the glycemic parameters. Analyzed for malondialdehyde (MDA) plasma through the production of thiobarbituric acid reactive substances. The mean values of body mass index of patients with diabetes and controls were, respectively, 28.62 ± 4.59 kg / m² and 23.15 ± 2.89 kg / m² (p <0.05). There was no statistically significant difference in iron intake (p> 0.05). Was no statistically 30

NUTrição em pauta

significant difference between groups (p <0.05) in plasma concentrations of MDA. The correlation between dietary iron and MDA showed no significant result (p> 0.05). The iron intake does not influence the concentration of MDA.

Introdução O diabetes mellitus tipo 2 é uma doença crônica não transmissível que caracteriza-se pela intolerância à glicose e hiperglicemia. A principal alteração fisiopatológica desta doença é a resistência periférica à ação da insulina associada à deficiência relativa na secreção deste hormônio em resposta à glicose (RAMAKRISHNA; JAILKHANI, 2008). A hiperglicemia crônica presente no diabetes mellitus tipo 2 favorece a manifestação do estresse oxidativo, que contribui para danos no metabolismo de lipídios, proteínas e DNA, com alterações nas funções das células β. A patogênese dessa doença está diretamente associada ao aumento na produção de espécies reativas de oxigênio e/ou redução da atividade de enzimas do sistema de defesa antioxidante (PAN et al., 2010). Nesse sentido, vale ressaltar que o estado redox do organismo pode ser alterado por componentes da dieta, sendo um importante fator no controle do diabetes mellitus tipo 2 e de suas complicações. O ferro, em particular, possui habilidade de aumentar ou diminuir a capacidade redox, pois, esse mineral atua como cofator de enzimas antioxidantes essenciais no metabolismo e na respiração aeróbica. No entanto, concentrações plasmáticas elevadas de ferro podem favorecer a toxicidade celular e danos oxidativos em componentes celulares, pelo seu potencial em formar radicais livres, contribuindo para a manifestação do estresse oxidativo em pacientes diabéticos tipo 2 (CIRCU; AW, 2010). nutricaoempauta.com.br


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Relação entre o Ferro Dietético e Estresse Oxidativo em Diabéticos Tipo 2

O diabetes mellitus tipo 2 é uma doença que induz a peroxidação lipídica e lesões oxidativas celulares, favorecendo alterações estruturais nas bicamadas lipídicas, desestabilização nas membranas biológicas e perda da função da barreira entre o meio intra e extracelular (GUEDES, 2006). Por ser o principal produto secundário da peroxidação lipídica, o malondialdeído apresenta-se em concentrações plasmáticas elevadas em pacientes diabéticos tipo 2 (ANTUNES et al., 2008; GROTTO et al., 2008). Considerando que o malondialdeído é um marcador do estresse oxidativo gerado tanto pela oxidação lipídica quanto por produtos da síntese da prostaglandina e tromboxano, a concentração plasmática deste produto está aumentada em pacientes diabéticos e em placas ateroscleróticas (VIIGIMAA et al., 2010). Vale mencionar que em condições fisiológicas, a oxidação lipídica é controlada pela ação de antioxidantes, no entanto, em situações como o diabetes mellitus tipo 2, fatores químicos e biológicos comprometem a atividade antioxidante no organismo, como por exemplo, o excesso de ferro ou a hemocromatose. Sendo assim, reservas elevadas deste mineral podem aumentar a oxidação dos lipídios por meio da produção acelerada de radicais livres, favorecendo o estresse oxidativo e contribuindo para as complicações do diabetes (HUANG et al., 2002). Considerando a importância do diabetes mellitus tipo 2 como doença crônica de grande relevância epidemiológica, a presença do estresse oxidativo, bem como a participação do ferro no desenvolvimento dessa desordem metabólica, realizou-se o presente estudo visando esclarecer a relação entre ferro, estresse oxidativo e o diabetes mellitus tipo 2.

Metodologia Foi realizado estudo caso-controle envolvendo 88 indivíduos, na faixa etária entre 27 e 59 anos, de ambos os sexos. Os participantes foram distribuídos em dois grupos: experimental (com diabetes mellitus tipo 2, n=40) e controle (sem diabetes ou histórico na família, n=48). A seleção dos participantes foi realizada por meio de entrevistas com os seguintes critérios de elegibilidade: tratamento clínico apenas com hipoglicemiantes orais, não fumantes, ausência de complicações decorrentes do diabetes (insuficiência renal, polineuropatias, catarata), ausência de suplementação vitamínico-mineral e/ou medicamentos que possam interferir na avaliação do consumo alimentar relativo ao ferro. Todos os pacientes diabéticos foram diagnosticados segundo os critérios definidos pela American Diabetes Association (ADA, 2010). Os sujeitos 32

NUTrição em pauta

da pesquisa após explicação assinaram voluntariamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade Federal do Piauí (protocolo nº 0156.0.045.000-11). O Índice de Massa Corpórea (IMC) foi calculado a partir do peso do indivíduo (kg) dividido pela sua estatura (m) elevada ao quadrado. A classificação do estado nutricional pelo IMC foi realizada segundo a recomendação da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2004). A avaliação do consumo alimentar foi realizada por meio do registro alimentar de três dias, utilizando-se o software “Nutwin”, versão 1.5. Os alimentos não encontrados no programa foram incluídos tomando-se por base a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO, 2011). Para verificar a adequação da concentração de ferro presente nas dietas consumidas pelos participantes, utilizou-se a Estimated Average Requirement (EAR), contida nas Dietary Reference Intakes (DRIs) (INSTITUTE OF MEDICINE, 1997). Foram coletadas amostras de sangue venoso, no período da manhã, estando os participantes em jejum mínimo de 12 horas. A determinação das concentrações plasmáticas de glicose e hemoglobina glicada foi realizada pelo método calorimétrico-enzimático e cromatografia de troca iônica, respectivamente. A concentração sérica de insulina foi determinada segundo o método de quimioluminescência. O índice de resistência à insulina Homeostasis Model Assessment Insulin Resistance (HOMAir) foi calculado a partir das concentrações de glicose e insulina de jejum. A análise do malondialdeído plasmático foi realizada pelo método de produção de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico. Os dados foram analisados no programa SPSS for Windows® versão 18.0. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para verificar a normalidade dos dados. Para fins de comparação entre os grupos estudados, utilizou-se os testes “t” de Student e Mann-Whitney para variáveis com distribuição normal e não paramétrica, respectivamente. A análise de correlações foi realizada por meio do coeficiente de correlação linear de Pearson. A diferença foi considerada estatisticamente significativa quando o valor de p<0,05.

Resultados A média de idade dos pacientes diabéticos tipo 2 e grupo controle foi 51,78 ± 5,06 e 40,52 ± 8,90, respectivamente. O valor médio do índice de massa corpórea dos diabéticos tipo 2 foi 32,97 ± 4,04 e do grupo controle foi nutricaoempauta.com.br


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Relationship between Dietary Iron and Oxidative Stress in Type 2 Diabetics

23,61 ± 3,43, sendo verificada diferença estatística entre os grupos (p<0,05). Com relação à classificação do estado nutricional dos pacientes diabéticos tipo 2, segundo o índice de massa corpórea, verificou-se que 2,5% dos indivíduos apresentavam magreza, 15% eutrofia, 50% excesso de peso e 32,5% obesidade. Os valores médios e desvios padrão para energia e macronutrientes determinados nas dietas consumidas pelos participantes do estudo estão descritos na Tabela 1. Verificou-se que houve diferença significativa em relação a proteínas e lipídios (p<0,05). Tabela 1. Valores médios e desvios padrão da ingestão de energia e macronutrientes dos pacientes diabéticos tipo 2 e grupo controle. Teresina-PI, 2014.

Energia/ Nutrientes

Pacientes diabéticos (n=40) Média ± dp

Controle (n=48) Média ± dp

Energia (Kcal)

1638,47 ± 405,81

1515,62 ± 280,97

Carboidratos (%)

57,53 ± 80,68

52,55 ± 7,41

Proteínas (%)

26,14* ± 8,15

21,68 ± 5,08

Lipídios (%)

28,68* ± 6,57

25,41 ± 5,72

*Valores significativamente diferentes entre os pacientes diabéticos tipo 2 e grupo controle, teste t de Student (p<0,05). Valores de referência: 10 a 30% de proteína, 20 a 35% de lipídio e 45 a 65% de carboidratos (INSTITUTE OF MEDICINE, 2005). Os resultados da análise do consumo de ferro dos diabéticos tipo 2 e do grupo controle revelaram consumo maior do que o recomendado para ambos os grupos, no entanto, não houve diferença significativa (p>0,05) (Tabela 2). Os valores médios e desvios padrão dos parâmetros do controle glicêmico dos pacientes diabéticos tipo 2 e grupo controle estão na Tabela 3. Foram encontradas diferenças estatísticas em relação à glicose plasmática, hemoglobina glicada, insulina sérica e HOMAir (p<0,05). HOMAir = Homeostasis Model Assessment Insulin Resistance.*,#Valores significativamente diferentes entre os pacientes diabéticos tipo 2 e grupo controle, *teste t de Student (p<0,05) e #teste de Mann-Whitney (p<0,05). Valores de referência: Glicemia de Jejum = 75 a 99 mg/dL; Hemoglobina Glicada = 4 a 6%; Insulina sérica = 6 a 27 µU/mL. HOMAir ≤3,4. JANEIRO 2015

Os valores médios das concentrações plasmáticas do malondialdeído nos pacientes diabéticos tipo 2 e grupo controle foram 2,40 ± 0,974 e 1,81 ± 0,67, respectivamente, sendo verificada diferença estatística (p<0,05) entre os grupos estudados. A análise de correlação entre o ferro dietético e as concentrações plasmáticas do malondialdeído não mostrou correlação entre as variáveis (p>0,05).

Discussão Neste estudo foi avaliado o consumo de ferro e determinadas as concentrações plasmáticas de malondialdeído em pacientes diabéticos tipo 2, bem como foi investigada a possível relação existente entre esses parâmetros. Quanto às concentrações de ferro encontradas nas dietas consumidas pelos pacientes diabéticos, pôde-se verificar que estas estavam superiores a quantidade diária recomendada para este mineral, segundo a Estimated Average Requirement (EAR). Sobre este dado, é importante destacar que essas dietas possuíam quantidades significativas de alimentos fonte desse mineral, como por exemplo, feijão e carne vermelha. O consumo desse mineral acima de 30 mg/dia aumenta os estoques de ferro com repercussões importantes sobre o controle metabólico (FLEMING et al., 2002). Vale ressaltar que existem alguns fatores que podem interferir na absorção do ferro ingerido, como quantidade e biodisponibilidade desse íon na dieta, quantidade armazenada nas reservas e velocidade da eritropoiese (RAJPATHAK et al., 2006). Além disso, ocorrem perdas diárias de ferro (1 a 2 mg) iguais à quantidade absorvida, pela descamação do epitélio intestinal e da pele, por secreções (bile e urina) e por sangramentos intestinais (VIANA et al., 2009). Nessa abordagem, um ponto importante nessa discussão, é o fato de não ter sido avaliado as concentrações séricas de ferro nesse estudo, o que parece ter dificultado identificar a existência de uma possível sobrecarga desse elemento no organismo dos pacientes diabéticos avaliados. Sobre os resultados dos parâmetros do controle glicêmico, os valores médios encontrados das concentrações plasmáticas de glicose, hemoglobina glicada e insulina sérica estavam superiores para os pacientes diabéticos tipo 2 quando comparado com o grupo controle, o que caracteriza a presença do estado de hiperglicemia crônica. Em relação à análise do malondialdeído no plasma, esta apresentou resultados com diferença significativa entre os grupos pesquisados, estando elevados nos diabéticos tipo 2. Um dado relevante é que na presença da NUTrição em pauta

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Relação entre o Ferro Dietético e Estresse Oxidativo em Diabéticos Tipo 2

Tabela 2. alores médios e desvios padrão da ingestão dietética de ferro dos pacientes diabéticos tipo 2 e grupo controle. Teresina-PI, 2014. Pacientes diabéticos (n=40) Nutrientes Ferro (mg/dia)

Controle (n=48)

Masculino (n=23)

Feminino (n=17)

Masculino (n=15)

Feminino (n=33)

Média ± DP

Média ± DP

Média ± DP

Média ± DP

13,09* ± 3,13

9,01* ± 3,27

12,07 ± 4,30

10,67 ± 4,20

*Valores significativamente diferentes entre os pacientes diabéticos tipo 2. Valores de referência de ingestão do ferro: EAR = 6 mg Fe/dia (masculino) e 8,1 mg Fe/dia (feminino).

Tabela 3. Valores médios e desvios padrão da glicose sérica, hemoglobina glicada e insulina sérica dos pacientes diabéticos tipo 2 e grupo controle. Teresina-PI, 2014. Pacientes diabéticos Média ± DP

Controle Média ± DP

P

Tempo de Diabetes (anos) Glicose (mg/dL)

7,23 ± 3,43 178,53* ± 32,63

---82,77 ± 9,20

---0,001

Hemoglobina Glicada (%)

7,68# ± 1,60

5,13 ± 0,63

0,001

Insulina (µU/mL)

32,67* ± 16,13

25,08 ± 13,41

0,018

HOMAir

15,19* ± 10,07

5,12 ± 2,75

0,001

Parâmetros

hiperglicemia crônica, ocorre aumento da produção de radicais livres por meio da auto-oxidação da glicose, sendo que esses radicais exercem seus efeitos citotóxicos nos fosfolipídios de membrana, resultando na formação de malondialdeído (SILVA et al., 2011). Outra hipótese que pode fundamentar o aumento da concentração do malondialdeído no plasma dos pacientes diabéticos tipo 2, é a presença de excesso de peso e obesidade, sendo verificado em 50% e 32,5% respectivamente. Nesses casos, a necessidade metabólica do miocárdio se eleva, devido à maior respiração mitocondrial, com consequente aumento do consumo de oxigênio, levando a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), como os superóxidos e os peróxidos de hidrogênio. O segundo mecanismo por meio do qual o sobrepeso e a obesidade podem aumentar a peroxidação lipídica, se dar a partir da lesão celular progressiva e cumulativa devido à pressão induzida pela elevada massa corporal. A injúria celular, por sua vez, libera citocinas como o fator de necrose tumoral que gera espécies reativas de oxigênio (JAY et al., 2006). 34

NUTrição em pauta

No presente estudo foi oportuno realizar análise de correlação entre o ferro dietético e o malondialdeído, não sendo verificado resultado significativo. Alguns fatores podem ter influenciado o resultado encontrado, dentre eles, o fato de não ter sido realizada avaliação dos parâmetros bioquímicos (plasma, eritrócito e urina) do ferro pode ter contribuído para a não identificação de um resultado significativo sobre a concentração do marcador de estresse oxidativo. Um dado a ser observado é que a proteína da hemocromatose está fortemente relacionada com a regulação da absorção intestinal do ferro, pois, essa interage com o receptor da transferrina e detecta o seu grau de saturação, sinalizando para o enterócito a necessidade de absorção do ferro na luz intestinal, no entanto, em pacientes diabéticos essa regulação encontra-se anormal, dessa forma, dificulta a associação entre o ferro consumido e o malondialdeído. A partir dos resultados, pode-se pressupor que o estresse oxidativo encontrado nesse estudo, parece ser nutricaoempauta.com.br


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decorrente de fatores envolvidos na fisiopatologia do diabetes, bem como pode estar relacionado ao estado nutricional desses pacientes, com a presença de excesso de peso e obesidade, e não resultante da sobrecarga do ferro dietético.

Conclusão O consumo alimentar dos pacientes diabéticos tipo 2 se encontra superior à recomendação em relação ao teor de ferro e apresentaram ainda, concentrações plasmáticas de malondialdeído elevadas. Além disso, pode-se verificar que o ferro dietético não pareceu influenciar as concentrações plasmáticas de malondialdeído, não sendo assim evidenciada correlação significativa entre esses parâmetros.

Sobre os Autores

Denise Pereira Pinto - Graduanda em Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí. Dra. Fabiane Araújo Sampaio – Nutricionista, Mestre em Ciências e Saúde, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí. Dra. Kyria Jayanne Clímaco Cruz – Nutricionista, Mestre em Alimentos e Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí. Dra. Ana Raquel Soares de Oliveira - Nutricionista; Mestranda em Alimentos e Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí. Dra. Kelcylene Gomes da Silva – Nutricionista, Mestranda em Ciências dos Alimentos, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo. Profa Dra. Dilina do Nascimento Marreiro - Nutricionista, Professora Doutora do Departamento de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí.

Palavras-chave: diabetes Mellitus tipo 2, ferro, malondialdeído. Keywords: diabetes Mellitus, type 2, iron, malondialdehyde.

Recebido: 10/11/2014 - Aprovado: 25/11/2014

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Referências

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Caracterização Físico-Química de Pão Integral Enriquecido com Farinha de Soja Preta e Fermento de Kefir

Caracterização Físico-Química de Pão Integral Enriquecido com Farinha de Soja Preta e Fermento de Kefir Resumo: Atualmente a procura por alimentos funcionais tem aumentado significativamente, principalmente por grupos populacionais com doenças relacionadas à má alimentação, a elaboração de produtos com tais propriedades tem sido a opção para um hábito alimentar mais saudável. Sendo assim, objetivou-se com o presente trabalho o desenvolvimento de um produto que atenda os requisitos mais procurados pelos consumidores, saudável, rico em proteína e traga benefícios à saúde. Foi desenvolvido um pão enriquecido com de farinha de soja preta e fermentado a partir de fermento caseiro de kefir. Onde foi submetido a análises físico-químicas onde os resultados foram os esperados, apresenta um aumento de 18% na umidade o que é considerado um bom padrão para a maciez do produto, 26,5% de aumento no teor de proteínas e 30% de aumento no resíduo mineral fixo, observou-se um aumento na quantidade de lipídios onde se faz necessário o conhecimento deste perfil lipídico para indicação de consumo, porém deve-se observar também a quantidade de fibras que o mesmo possui por se tratar de alimento rico em fibras característico de produtos 100% integrais. Podendo ser uma opção para os praticantes de atividades físicas e pessoas com baixo peso que necessitam de ganho de massa corporal. Abstract: Currently the demand for functional foods has increased significantly, particularly for population groups with diseases related to poor nutrition, the development 36

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of products with such properties has been the choice for a healthier eating habit. Therefore, the aim of the present work to develop a product that meets the most sought requirements by consumers, healthy, rich in protein and brings health benefits. Enriched bread with black and fermented soy flour from Kefir home baking has been developed. Where he was subjected to physical and chemical analysis where the results were as expected, shows a 18% increase in moisture which is considered a good standard for the softness of the product, 26.5% increase in protein content and 30% increase in fixed mineral residue, there was an increase in the amount of lipids where knowledge is necessary for this lipid profile indicating consumption, but must also observe the amount of fiber that it has because it is rich in characteristic fiber products 100% whole. May be an option for fitness enthusiasts and people with low weight that need body mass gain.

Introdução O pão é um alimento de grande consumo, considerado um mercado de grande crescimento e desenvolvimento, o que demanda a criação de novos produtos, equipamentos, formulações e aditivos alimentícios diferenciados e de boa qualidade nutricional. Vários estudos têm se realizado para melhorar o valor nutritivo dos pães, principalmente quanto ao teor e qualidade proteica, também o conteúdo de minerais, vitaminas e fibras alimentares (BORGES et. al., 2013). Pães obtidos a partir de farinhas mistas e farinhas integrais ou com adição de micro ou macronutrientes tem nutricaoempauta.com.br


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chamado a atenção de consumidores por sua contribuição ao suprimento de necessidades nutricionais diárias ou por conter em sua composição substâncias com alegações de propriedades funcionais que previnem ou auxiliam o tratamento de doenças, como fibras, ácidos graxos essenciais e outros (BATTOCHIO et al., 2006). Segundo a legislação brasileira, a alegação de propriedades funcionais é relativa a função metabólica ou fisiológica que o determinado nutriente ou composto tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras mais funções no organismo humano. Não sendo assim permitida alegação que se refira à cura ou prevenção de doenças (BRASIL, 1999 a, b). Em 2002 foi regulamentado os alimentos funcionais pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pela Resolução RDC nº 02 de 07 de janeiro, que aprova o regulamento técnico de compostos bioativos e probióticos isolados com alegação de propriedade funcional ou de benefício a saúde ( BRASIL, 2002). No Brasil os alimentos funcionais foram regulamentados através das seguintes resoluções: Resolução da ANVISA/MS 16/99 – refere ao Procedimentos de Registro de Alimentos e ou Novos Ingredientes, cuja característica é de não necessitar de um Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) para registro de um alimento, além de permitir o registro de novos produtos sem histórico de consumo no país e também novas formas de comercialização para produtos já consumidos (BRASIL, 1999a); Resolução da ANVISA/MS 17/99 - Aprova o Regulamento Técnico que estabelece as Diretrizes Básicas para Avaliação de Risco e Segurança de Alimentos que prova baseado em estudos e evidências científicas, se o produto é seguro sob o ponto de risco à saúde ou não (BRASIL, 1999b); Resolução ANVISA/MS 18/99 - Aprova o Regulamento Técnico que estabelece as Diretrizes Básicas para a Análise e Comprovação de Propriedades Funcionais e/ou de Saúde, alegadas em rotulagem de alimentos (BRASIL, 1999c); Resolução ANVISA/MS 19/99 - Aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos para Registro de Alimentos com Alegação de Propriedades Funcionais e ou de Saúde em sua Rotulagem (BRASIL, 1999d). O registro dos alimentos funcionais só pode ser feito após comprovação da alegação de propriedades funcionais ou de benefício a saúde com base no consumo e recomendações do fabricante, na finalidade, condições de uso e valor nutritivo, se for o caso com evidencias cientificas de composição química e caracterização molecular, se for o caso, ou formulação do produto; análises bioquímicos; análises nutricionais e/ou fisiológicos e/ou toxicológico em animais; estudos epidemiológicos; analises clínicos; 38

NUTrição em pauta

evidencias comprovadas da literatura cientifica, órgão internacionais de saúde e legislação internacionalmente reconhecidas sob as propriedades e características do produto e da composição de uso tradicional observado na população, sem riscos de danos a saúde (BRASIL, 1999c; BRASIL 1999d; MORAES; COLLA, 2006). Com base nesses dados, a soja preta (Glycine max (L.) Merril), é um tipo de soja com um revestimento de pigmentação preta que se diferencia por possuir casca escura pela presença de antocianinas, clorofila e outros pigmentos. Fonte de isoflavonas, proteínas e vitamina E, sua atividade antioxidante é aumentada pela presença de antocianinas na casca (MORAES FILHO, 2013; REZENDE, 2012). A soja preta tem sido amplamente utilizado como alimento rico nutricionalmente, tem sido ainda utilizada como medicamento tradicionalmente à base de plantas para a prevenção de diabetes, auxiliar nas funções hepáticas e renais, e nas funções diuréticas. As antocianinas são relatadas a desempenhar um papel importante na prevenção de danos oxidativos e têm uma ampla função de efeitos anti-aterosclerótico, anti-carcinogênico e anti-inflamatório (KANAMOTO et al., 2011). Os produtos de soja, que contem grandes quantidades de isoflavonas e proteínas, têm muitos benefícios sobre o colesterol, ainda podem reduzir riscos de doenças cardiovasculares aterosclerótica e melhorar a função endotelial. A proteína de soja inibe a lipoproteína de baixa densidade (LDL) e a oxidação de peroxidação lipídica, além disso ainda tem um tempo de atraso na oxidação de LDL (CHAN et al., 2012).. Além disso, podemos conferir a esse aspecto de agregação de valor aos alimentos o Kefir é considerado uma bebida probiótica obtida através da fermentação da mistura de leite aos grãos de Kefir (ou Kefiran), esses grãos formam um material gelatinoso e branco em uma espécie de teia, ricos em diversos nutrientes e vitaminas (PINTO et. al., 2011). Kefir é uma bebida de origem do Cáucaso, produzida pela ação de bactérias lácticas, acéticas e leveduras no leite. Os grãos de Kefir são compostos por 66% de bacilli, 16% de streptococci e 18% de leveduras ou 890 a 900 g/kg de água, 2 g/kg de gorduras, 30 g/kg de proteínas, 60 g/kg de açúcares e 7 g/kg de cinzas (ESTELLER; ZANCANARO JÚNIOR; LANNES, 2006). Entre as bactérias ácido-lácticas isoladas de Kefir encontram-se: Lactobacillus acidophillus, Lactobacillus brevis, Lactobacillus casei, Lactobacillus fermentum, Lactobacillus helveticus, Lactobacillus kefiri, Lactobacillus parakefiri, Lactococcus lactis e Leuconostocs mesenteroinutricaoempauta.com.br


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des. Entre as leveduras isoladas de grãos encontram-se: Kluyveromyces marxianus, Torula kefir, Saccharomyces exiguus e Candida lambica. Foram ainda isolados: Acetobacter aceti, A. rasens e Geotrichum candidum (CODEX ALIMENTARIUS, 1997; IRIGOYEN et. al., 2005). Diante das propriedades citadas, esse trabalho tem por objetivo, avaliar as características físico-químicas do pão desenvolvido a partir de soja preta e kefir.

gastronomia 3ª Fase: acrescentou-se 7 colheres rasas de farinha de trigo integral, mais 3 colheres de kefir junto a toda a massa da segunda fase. Foi feito a mistura de 4 vezes no período de 24 horas. Figura 3. fermento na 3ª fase, início e final da fase.

Materiais e Métodos

Preparo do fermento - A elaboração do fermento se deu seguindo os passo a passo a seguir onde foram feitas adaptações em um fermento caseiro de farinha de trigo branca e adaptado as quantidade e desenvolvido com farinha de trigo integral. 1ª Fase: foram misturados 5 colheres de sopa de farinha de trigo integral a 6 colheres de sopa cheias de Kefir (somente o líquido) em um recipiente de vidro, e coberto com filme plástico com pequenos furos para respiro. Durante um período de 24 horas foram feitos 4 homogeneizações do fermento.

4ª Fase: Usou-se somente a metade da terceira fase, junto com 9 colheres rasas de farinha de trigo integral e 3 colheres de kefir. Formou uma massa em forma de bola onde foi fermentada por cerca de 36 horas, sendo misturada a cada 4 horas. Figura 4. fermento na 4ª fase, início e final da fase.

Figura1. fermento na 1ª fase, início e final da fase.

2ª Fase: foi colocado junto a primeira fase, mais 3 colheres e meia de sopa de farinha de trigo integral e 2 colheres de sopa de kefir. Realizou-se o mesmo processo de mistura durante as 6 horas seguintes.

5ª Fase: Metade da quarta fase junto a 2 copos de trigo integral e 1 copo de água filtrada e sem cloro. A massa fica maleável em forma de bola, permaneceu em temperatura ambiente por cerca de 12 horas até que dobrou de volume e foi acondicionada em geladeira em pote de vidro e tampado, é reformulado semanalmente com a última fase para que não seja muito ácido a fabricação de pães.

Figura 2. fermento na 2ª fase, início e final da fase.

Figura 5. fermento na 5ª fase, início e final da fase.

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Elaboração do Pão - Para elaboração dos pães, utilizou-se a farinha de soja preta obtida em comércio local especializado em produtos naturais. Os demais ingredientes foram obtidos nos comércios locais da cidade de Cascavel-PR. As etapas envolvidas na elaboração do pão enriquecido com farinha de soja preta e fermento de kefir estão descritas na Figura 6. Figura 6. Fluxograma de elaboração do pão enriquecido com farinha de soja preta e fermento de kefir. Seleção de matéria-prima ↓ Mistura (Esponja – 2 minutos 30 oC) ↓ Formação da massa ( 5 minutos 30 oC) ↓ Fermentação (30 oC, 30 minutos) ↓ Modelagem ↓ Fermentação (40 oC, 120 minutos) ↓ Assamento (30 minutos a 200 oC) ↓ Resfriamento ↓ Acondicionamento Cascavel, dezembro de 2014. Foram feitas adaptações em receitas tradicionais de pães integrais. Na adaptação da receita foram substituídas 25% da farinha de trigo integral pela farinha de soja preta e o fermento substituído por fermento caseiro de kefir. Os demais ingredientes foram utilizados na mesma proporção. Os pães utilizados no experimento foram produzidos em um local apropriado, Laboratório de Nutrição da Faculdade Assis Gurgacz. Foram elaborados pães 100% integrais, onde foram utilizados os seguintes ingredientes: • • • • • • • • 40

100% de farinha de trigo integral; 59% de fermento selvagem de kefir; 28% de farinha de soja preta; 28% de leite de kefir; 11% de ovo; 8% de óleo de soja; 5% de adoçante; 5% de linhaça dourada; NUTrição em pauta

• • • •

5%de semente de girassol; 3% de sal refinado; 3% de gergelim branco; 3%de gergelim com casca.

Utilizou-se o método esponja para confecção dos pães, sendo homogeneizado todo o fermento ao adoçante e 50% das farinhas, por cerca de 2 minutos, após em temperatura ambiente esperou o aumento de volume em 100%, cerca de 30 minutos. Assim o restante dos ingrediente foram homogeneizados por 5 minutos, e durante o período de 1 hora foi realizado uma homogeneização a cada 15 minutos. F o r mou-se esferas de 600g de massa que permaneceram em formas retangulares adequadas para pães de forma, foram fermentadas em estufa por 120 minutos a 40ºC. Em seguida, foram colocadas no forno a 200ºC por 30 minutos. Após esta etapa, os pães esfriaram em temperatura ambiente e foram acondicionados em sacos plásticos. Assim sendo encaminhados para análises físico-químicos. Os pães branco foram adquiridos em comercio da região. Análise Físico-Química - As análises físico-químicas foram realizadas em laboratórios cedidos pela Fundetec, seguindo as normas do Instituto Adolfo Lutz (2008), protídios e nitrogênio total seguindo as normas de Brasil (1991).

Resultados e Discussão Os resultados da introdução da farinha de soja preta e fermento de kefir em substituição de parte da farinha integral demonstram uma mudança significativa de caráter estrutura, como a aparência e textura dos pães comparados aos pães “brancos”, como pode se observar na figura 7. Figura 7. Pão com soja preta e fermento de kefir e pão branco tradicional. Cascavel, dezembro de 2014.

A partir da análise visual, verificou-se que o pão com o uso de farinha de soja preta e fermento de kefir 100% integral, apresenta uma aparência mais escura, esnutricaoempauta.com.br


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trutura compacta e menor volume que o pão branco. Os pães desenvolvidos foram analisados e os resultados obtidos das propriedades físico-químicas individuais de pão branco e do pão com adição de farinha de soja preta e fermento de kefir estão sendo apresentados na tabela1: Tabela 1. Resultados das análises físico-químicas do pão branco e enriquecido com soja preta e fermento de kefir. Cascavel, dezembro de 2014. Componentes

Pão branco

Pão com soja e kefir

Umidade e Voláteis (%)

27,43 ± 1,57

32,4 ± 1,12

Lipídios (%)

1,08 ± 6,98

7,71 ± 1,5

Proteína (%)

10,96 ± 3,14

13,86 ± 8,41

Resíduo Mineral fixo (%)

1,65 ± 3,34

2,16 ± 8,5

As análises foram realizadas em triplicatas ± Desvio-padrão calculado. Como demonstra a Tabela 1, a partir das análises físico-químicas, quando comparados os dois percentuais observou-se aumento no valor calórico à medida que se introduziu a farinha de soja preta e fermento de kefir. Houve um aumento na umidade. A umidade é o parâmetro que determina a maciez do pão, de acordo com (TEJERO, 2004), pois quanto maior a umidade mais macio será o pão e maior a durabilidade dessa maciez. O teor elevado de umidade em pães aumenta a atividade microbiana, por isso recomenda-se que seja controlada (AGUIAR, OLIVEIRA, GRASSIOLLI, 2011). Mesmo com esse aumento ainda está dentro dos padrões definidos pela RDC. 90, que preconiza o máximo de 38,00g/100g, para pães preparados com farinha de trigo (BRASIL, 2000). Ao comparar os valores de lipídios dos dois produtos pode-se observar que o pão com soja preta teve um percentual seis vezes maiores que o pão branco, sendo necessário o conhecimento do perfil lipídico do produto, onde o tipo de lipídio presente pode ser benéfico ao consumidor, mesmo em grande quantidade. Esse aumento se dá ao uso de componentes ricos em ácidos graxos como a linhaça, gergelim e girassol assim também como o uso da farinha de soja preta característica pelo alto teor de lipídios. Segundo Lima (2007) as sementes de linhaça contém maior quantidade de gorduras polinsaturadas que são benéficas à saúde no auxilio de redução de colesterol. A diferença no teor de proteínas do pão enriquecido JANEIRO 2015

com farinha de soja preta e fermento de kefir foi de aproximadamente 26,5% a mais em relação ao pão branco, sendo considerado um bom percentual de aumento. O teor de mineral fixo teve um aumento em relação ao pão branco, sendo relacionado ao uso de soja preta que se demonstra rica em minerais, com teores significativos de cálcio, ferro, fósforo, potássio e magnésio. Os pães são considerados alimentos de alto valor energético e baixo valor nutricional, pobres em resíduos minerais e proteínas. O acréscimo de farinha de soja preta e o uso de fermento caseiro pode contribuir para a elaboração de um produto com valor nutricional agregado, tendo em vista o aumento de resíduos minerais e protéico.

Conclusões Verificou-se que a utilização da farinha de soja preta e o fermento de kefir alterou a composição do pão, com destaque para o aumento do valor de proteína, lipídios e minerais. Sendo que tem-se um aumento no valor calórico. Portanto é recomendado um consumo moderado para quem deseja manter ou perder peso corporal. Por outro lado por ser rico em proteína por ser utilizado por praticante de atividades físicas de forma permanente ou para indivíduos com baixo peso tanto pela proteína como pela quantidade de lipídeos. As análises físico-químicas do pão com farinha de soja preta e fermento de kefir indicaram alterações significativas em relação ao pão branco, aumento de 18% na umidade do produto, aumento de 613,8% no teor de lipídios, aumento de 26.5% no teor de proteína e aumento de 30% de resíduo mineral.

Sobre os Autores

Profa. Dra. Sabrine Zambiazi Silva - Nutricionista, Mestre em Tecnologia de Alimentos, Docente da Faculdade Assis Gurgacz (FAG) Sheila Pudell Jesus - Acadêmica do Curso de Nutrição da Faculdade Assis Gurgacz (FAG) Profa. Dra Debora Poletto - Nutricionista, Mestre em Engenharia de Alimentos, Docente da Faculdade Assis Gurgacz (FAG)

Palavras-chave: Pão, kefir. Keywords: Bread, kefir.

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Recebido: 6/1/2015 - Aprovado: 26/1/2015

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hospitalar

Nutritional Status and Hemoglobin Concentration in Patients with Inflammatory Bowel Disease (IBD) Served in a Health Unit School of Itajaí-SC

Estado Nutricional e Concentrações de Hemoglobina em Pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII) Atendidos em uma Unidade de Saúde Escola de Itajaí-SC Resumo: As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), representadas pela Doença de Crohn (DC) e Retocolite Ulcerativa Idiopática (RCUI), são doenças crônicas, de etiologia desconhecida e que apresentam modificações no consumo alimentar e alterações nutricionais. Com base nisso, o presente trabalho objetivou avaliar o estado nutricional (EN) e as concentrações de hemoglobina (HB) em pacientes com DII atendidos ambulatorialmente. Os dados foram coletados do prontuário dos pacientes atendidos no ambulatório de DII de uma Unidade de Saúde Escola de Itajaí – SC. Foram avaliados 53 pacientes com diagnóstico de DII, 58,5% eram do gênero feminino e 41,5% do masculino. O tipo de DII que prevaleceu na população foi a DC, atingindo 56,6% da população. Observou-se que, a alteração na concentração de HB foi mais com comum nas mulheres com DC, acometendo 30% desta população, e nos homens com RCUI, atingindo 21,7%. Quanto ao EN, 54,7% apresentou excesso de peso. Concluiu-se que, as concentrações médias de HB desta população mantiveram-se dentro da normalidade, e o EN preservado. Abstract: The Inflammatory Bowel Disease (IBD), represented by Crohn’s Disease (CD) and Ulcerative Colitis Idiopathic (UC), are unknown chronic diseases and present changes in food consumption and nutritional changes. JANEIRO 2015

Based on this, the present study aimed to evaluate the Nutritional Status (NS) and the hemoglobin concentration (HB) in patients with IBD. The data were collected from medical records of patients attended at the IBD School Health Unit of Itajaí - SC. It has been evaluated 53 patients diagnosed with IBD, 58,5% were female and 41,5% male. The type of IBD that prevailed in the population were CD, reaching 56,6% of the population. It was observed that the change in the HB concentration was more common in women with CD in this population, affecting 30%, and in men with UC, reaching 21,7%. About the EN, 54,7% had overweight. It was concluded that the HB concentrations of this population remained within the normal range, and the preserved NS.

Introdução As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) são doenças crônicas de etiologia desconhecida que possuem duas formas principais de apresentação: a Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa Idiopática (RCUI). As duas apresentam importantes alterações nutricionais, relacionadas principalmente à atividade da doença (FLORA; DICHI, 2006). Os mesmos autores descrevem que, a DC se caracteriza por inflamação com maior freqüência na região terminal do íleo, e a RCUI é limitada ao comprometimento da mucosa do cólon e reto. A sintomatologia das NUTrição em pauta

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Estado Nutricional e Concentrações de Hemoglobina em Pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII) Atendidos em uma Unidade de Saúde Escola de Itajaí-SC DII envolve fezes mucossanguinolentas, tenesmos, vômitos, cólicas abdominais, sensibilidade superficial à região afetada e ritmo intestinal alterado em ambas as doenças. Manifestações extra-intestinais (articulares, dermatológicas, hepatobiliares, tromboembólicas, osteoporose) decorrentes da absorção prejudicada de nutrientes podem ser vistas, correspondendo em maior parte pelo déficit vitamínico, mineral e protéico que prejudicam o estado nutricional (EN) do indivíduo (MENÉNDEZ; GARCÍA; PÉREZ-MARTINEZ, 2012). A prevalência das DII aumentou rapidamente nos países industrializados na segunda metade do século XX, tendendo a se estabilizar. As taxas de prevalência, incidência e mortalidade no Brasil ainda são desconhecidas, apesar de relatos regionais descreverem um aumento no número de casos novos de DC, se comparados ao de RCUI (ZALTMA, 2007). Este aumento da incidência das DII tem sido associado com maior grau de industrialização das regiões estudadas e a ocidentalização no estilo de vida, incluindo hábitos alimentares e tabagismo (LOFTUS et al., 2000).

As taxas de prevalência, incidência e mortalidade no Brasil ainda são desconhecidas, apesar de relatos regionais descreverem um aumento no número de casos novos de DC, se comparados ao de RCUI.” Zaltma, 2007 Campos et al, (2003) e Flora e Dichi (2006) afirmam que as DII são frequentemente relacionadas com significativos distúrbios nutricionais, como a desnutrição protéico-calórica, deficiência de vitaminas e oligoelementos, em decorrência do envolvimento de todo trato gastrintestinal e seus efeitos sobre a ingestão alimentar. Devido as complicações que ocorrem durante a evolução da doença: como obstrução, ressecção intestinal e atividade da doença, a ingestão adequada de nutrientes é parte essencial no tratamento destes pacientes. O ferro é um dos micronutrientes mais estudados e descritos na literatura, uma vez que desempenha importantes funções no metabolismo humano, tais como transporte e armazenamento de oxigênio, reações de liberação de energia, na cadeia de transporte de elétrons, conversão de ribose a desoxirribose, co-fator de reações enzimáticas 44

NUTrição em pauta

e metabólicas essenciais (OSÓRIO, 2002). A deficiência deste macronutriente é considerada a carência nutricional mais prevalente no mundo, afetando indivíduos em situações de vulnerabilidade. As anemias nutricionais por sua vez, caracterizam-se pela diminuição anormal na concentração de hemoglobina (HB) no sangue (WHO, 2001), sendo a principal consequência da deficiência de ferro. Entretanto, pode ser resultado da carência simples ou combinada de nutrientes: como o ferro, o ácido fólico e a vitamina B12 (OSÓRIO, 2002). O mesmo autor descreve que, a redução da concentração de HB sanguínea compromete o transporte de oxigênio para os tecidos, e tem como principais sinais e sintomas as alterações da pele e das mucosas (palidez, glossite), alterações gastrintestinais (estomatite, disfagia), fadiga, fraqueza, palpitação, redução da função cognitiva, e da imunidade celular. Entretanto, os mecanismos homeostáticos favorecem a adaptação, podendo-se também encontrar acentuada anemia em indivíduos que não apresentam qualquer sintoma (WHO, 2001). Autores relatam que devido a sintomatologia e medicação empregada no tratamento, pacientes com DII podem apresentam anemia (FLORA; DICHI, 2006), entretanto, não há estudos que investiguem este acometimento. Por este motivo, o objetivo do presente estudo foi avaliar o estado nutricional e as concentrações de HB em pacientes com DII atendidos ambulatorialmente em uma Unidade de Saúde Escola de Itajaí-SC, para que medidas preventivas possam retardar e/ou impedir o desenvolvimento das suas possíveis complicações.

Metodologia Trata-se de um estudo transversal e descritivo. Foram avaliados indivíduos com diagnóstico de DII assistidos no ambulatório de DII de uma Unidade de Saúde Escola de Itajaí – SC entre os meses de abril e junho de 2013. Os fatores de exclusão considerados foram pacientes que não apresentavam diagnóstico confirmado de DII, crianças e gestantes, e pacientes sem exames laboratoriais. O presente trabalho foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI sob parecer 254.904. Foram coletados dos prontuários dos pacientes dados de identificação, hábitos de vida e saúde; designação da DII, sinais e sintomas apresentados; uso de medicamentos empregados no tratamento, sendo estes, consecutivos nas 2 últimas visitas clínicas, com intervalo mínimo de 1 mês; e exames bioquímicos recentes (concentração sérica de HB). O diagnóstico da alteração da concentranutricaoempauta.com.br


Nutritional Status and Hemoglobin Concentration in Patients with Inflammatory Bowel Disease (IBD) Served in a Health Unit School of Itajaí-SC ção de HB foi realizado de acordo com os parâmetros propostos pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2001), o qual considera valores ≤12mg/dl para mulheres e ≤ 13mg/dl para homens. Foram coletados os dados de peso e estatura para avaliação do EN, e o diagnóstico nutricional foi realizado de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC) (kg/ m2), utilizando a classificação da Organização Mundial da Saúde (2004) como padrão de referência. Para fins de análise estatística, os dados foram agrupados em peso adequado (IMC<25) e excesso de peso (IMC>25). Os dados obtidos foram tabulados com auxílio dos programas Microsoft Excel® e Word® e analisados estatisticamente pelo programa STATISTICA®.

Resultados e Discussão Foram avaliados 53 pacientes com diagnóstico de DII, 58,5% eram do gênero feminino (n=31) e 41,5% do masculino (n= 22). Apesar da literatura apontar que as DII acometem igualmente os sexos, no presente estudo, o gênero mais acometido foi o feminino (FLORA; DICHI, 2006). A idade dos participantes variou de 18 à 71 anos, tendo como média 48,8±13,5 anos, assim como outros estudos, os quais aponta que a fase mais frequente de acometimento é em adultos jovens, na faixa etária entre 20 a 40 anos, e um segundo pico a partir dos 55 anos de idade (SALVIANO; BURGOS; SANTOS, 2007). O tipo de DII que prevaleceu na população foi a DC, atingindo 56,6% da população (n=30), já a RCUI acometeu 43,4% (n=23). Quanto ao tempo de diagnóstico da doença, observou-se que o mesmo variou de 3 meses a 27 anos de diagnóstico, considerando assim, que as DII são doenças autoimunes sem prognóstico conhecido, a profilaxia consiste em atenuar os sintomas do paciente, dando-lhes melhor qualidade de vida (FLORA; DICHI, 2006). Um estudo de Silva et al (2010), com 55 pacientes com DII, observou que o tempo de diagnóstico não influenciou no estado nutricional destes pacientes. Atualmente existem várias possibilidades terapêuticas que incluem o uso de aminossalicilatos, antibióticos, corticosteróides, imunomoduladores, probióticos, terapias nutricionais e terapias biológicas (ZALTMA, 2007) e intervenções cirurgicas, quando necessário. A escolha do tratamento dependerá de fatores clínicos, incluindo a localização da inflamação, comportamento da doença, grau de resposta inflamatória, manifestações extra-intestinais, sintomas, comorbidades, uso de outros medicamentos, entre outros (PRABHAKAR; SWAROOP, 2007). Observou-se que dentre as medicações empregadas JANEIRO 2015

hospitalar no tratamento, a mesalazina era utilizada por 54,7% da população (n=29), a sulfassalazina por 20,7% (n=11), azatioprina por 26,4% (n=14). Os agentes biológicos foram utilizados por um número menor de pacientes, sendo o infleximabe utilizado por 9,4% (n=5), adalimumabe 9,4% (n=5) e metotrexate 5,7% (n=3). Os corticosteróides são geralmente empregados na fase aguda da doença, com o objetivo de reduzir a sintomatologia apresentada pelo paciente. Neste estudo, a prednisona foi empregada no tratamento por apenas 11,3% da população (n=6). Pacientes que realizaram cirurgias de ressecção intestinal foram apenas 16,9% dos avaliados (n=9). Estes medicamentos comumente utilizados no tratamento, podem ocasionar alteração na absorção de cálcio, vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e folato. O cálcio tem a absorção intestinal inibida pela utilização de corticóides, as vitaminas lipossolúveis pela colestiramina (sequestrador de ácidos biliares), e o folato pela utilização de sulfassalazina (FLORA; DICHI, 2006). Além disso, outros agravos nutricionais são as perdas entéricas de proteínas, sangue, minerais, eletrólitos, elementos-traço do intestino durante períodos de inflamação ativa tanto na RCUI quanto na DC. Na DC há uma predominância de hipoalbuminemia, perda protéica intestinal e balanço nitrogenado negativo, enquanto na RCUI observa-se uma maior ocorrência de anemia, devido às perdas sanguíneas, que são usuais (DICHI, BURINI, 1996; FLORA; DICHI, 2006). Já quanto ao estado nutricional dos participantes, 45,3% foram caracterizados com o peso adequado (n=24) e 54,7% como excesso de peso (n=29). Este é um dado positivo, uma vez que muitos estudos descrevem que o baixo peso e a desnutrição são prevalentes nesta população (LUIS; BELLIDO; ALLER, 2007), porém, avaliações cirúrgicas do intestino na DC revelaram que o tecido mesentérico é com frequência espessado e endurecido, com supercrescimento de gordura (PEYRIN-BIROULET, et al, 2007), e este acúmulo de gordura intra-abdominal observado nestes pacientes, possivelmente está relacionado ao desenvolvimento e progressão da doença (KARAGIANNIDES, et al, 2006). O fato de tratarem-se de pacientes acompanhados ambulatorialmente, pode justificar o estado nutricional mais preservado (ROCHA, et al, 2008; SILVA, et. al, 2010). Entretanto, a desnutrição aguda observada durante os surtos, causada pela perda de peso, anemia e hipoalbuminemia, pode se associar a uma desnutrição crônica, resultando em caquexia e deficiências nutricionais múltiplas. Esta costuma ser mais frequentes na DC, muitas vezes relacionadas à atividade da doença. Na RCUI por sua vez, há uma maior ocorrência de anemia devido às NUTrição em pauta

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Estado Nutricional e Concentrações de Hemoglobina em Pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII) Atendidos em uma Unidade de Saúde Escola de Itajaí-SC

Doença de Crohn n=30

Retocolite Ulcerativa n=23

Alteração na concentração de HB

Masculino <13g/dl

Feminino <12g/dl

Masculino <13g/dl

Feminino <12g/dl

Sim

3,3 % (n=1)

30% (n=9)

21,7% (n=5)

4,3% (n=1)

Não

23,3% (n=7)

43,4% (n=13)

39,2% (n=9)

34,8% (n=8)

Tabela 1. Alteração na concentração de hemoglobina de acordo com a DII e gênero. Itajaí, 2014.

perdas sanguíneas (DICHI, BURINI, 1996; FLORA; DICHI, 2006). A sintomatologia mais prevalente nesta população foi: dor abdominal em 47,2% (n=25), diarréia em 43,4% (n=23) e hematoquezia em 34% (n=18) dos avaliados. Os sintomas gastrintestinais característicos das DII podem trazer prejuízos ao organismo, como deficiências específicas de vitaminas, minerais e elementos traço, contribuindo para o aparecimento da anemia. E, mesmo na fase de remissão da DII, distúrbios inflamatórios crônicos que envolvem o trato gastrointestinal nestas doenças podem levar a desnutrição, incluindo deficiência de vitaminas e minerais específicos, como ferro, ácido fólico e vitamina B12, que levam a anemia (LOCHS et al., 2006; SILVA et al., 2010). A literatura descreve ainda, que pacientes acometidos por DII, apresentam diminuição na ingestão alimentar. Problemas na absorção intestinal de macro e micronutrientes também são observados, em decorrência da diminuição da área absortiva, sendo pela atividade da doença ou ressecções, além da deficiência de sais biliares, supercrescimento bacteriano, estreitamento gastrointestinal e/ou estruturas que levam a edema e inflamações (RODRIGUES; PASSONI; PAGANOTTO, 2008), todas estas complicações contribuem para as alterações na concentração de HB desta população. A Tabela 1 apresenta as concentrações de HB de acordo com a DII e o gênero dos avaliados. Observa-se que, as alterações na concentração de HB foi mais prevalente no gênero feminino na DC, e no masculino na RCUI. Considerando ambas DII, no gênero feminino a HB variou de 9,0 a 14,1mg/dl, tendo como média de 12,7±1,4mg/dl, já no masculino variou de 11,2 a 16,9mg/dl, tendo como média 12,74±1,4mg/dl. As causas da anemia nestas doenças podem ser di46

NUTrição em pauta

ferentes. A anemia na DC é resultado de vários fatores como: deficiência de ferro, folato e vitamina B12, devido a baixa ingestão alimentar e redução da área absortiva saudável no intestino. Enquanto na RCUI, a causa primária é a deficiência de ferro, também devido à baixa ingestão alimentar, além dos sintomas clínicos da doença, como a hematoquezia (FLORA; DICHI, 2006), a qual teve incidência de 34% nesta população. Embora não se tenha encontrado associação estatisticamente significativa entre a alteração de hemoglobina, o uso de medicamentos e o estado nutricional dos pacientes avaliados, sabe-se que, pelo grande envolvimento do trato gastrintestinal nas DII e seus efeitos sobre a ingestão alimentar, é comum a ocorrência de deficiências nutricionais, podendo variar desde alterações discretas dos níveis dos oligoelementos até estados de desnutrição severa, com grande perda de peso (FLORA; DICHI, 2006). Desta forma, apesar das médias de HB nesta população terem apresentado-se superiores ao valor limítrofe estabelecido pela OMS (WHO, 2001), destaca-se que medidas de prevenção devem ser tomadas para prevenir a incidência de anemia.

Conclusão Conclui-se que, as concentrações médias de HB desta população mantiveram-se dentro da normalidade, e o EN preservado. Entretanto, considerando, principalmente, a sintomatologia das DII e as interações entre os fármacos utilizados e nutrientes, destaca-se a importância de detecção precoce das deficiências nutricionais nestes pacientes. Ressalta-se ainda, a importância de novas pesquisas com esta população, com o intuito de proporcionar uma melhor recuperação e/ou manutenção do EN, e melhora da qualidade de vida destes indivíduos. nutricaoempauta.com.br


Nutritional Status and Hemoglobin Concentration in Patients with Inflammatory Bowel Disease (IBD) Served in a Health Unit School of Itajaí-SC

Sobre os Autores

Dra. Aline De Faveri – Nutricionista, Graduada pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Santa Catarina (SC). Profa. Dra. Claiza Barretta – Nutricionista Graduada pela UNIVALI, Mestre em Ciências Farmacêuticas pela UNIVALI, Docente e pesquisadora do Curso de Nutrição da UNIVALI, SC. Profa. Dra. Cristina Henschel de Matos – nutricionista graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestre em Engenharia de Produção pela UFSC, Docente e pesquisadora do Curso de Nutrição da UNIVALI, SC.

Palavras-chave: doenças inflamatórias intestinais, estado nutricional, anemia. Keywords: Inflammatory Bowel Disease; Nutritional Status; Anemia;

Recebido: 24/7/2014 - Aprovado: 31/10/2014

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Perfil nutricional das Crianças Pré-escolares e escolares da cidade de Registro no Vale do Ribeira (SP)

Perfil nutricional das Crianças Pré-escolares e escolares da cidade de Registro no Vale do Ribeira (SP) Resumo: Estudo transversal com o objetivo de avaliar o estado nutricional de crianças de 2 e 10 anos usuárias das escolas situadas em Registro (Vale do Ribeira)-SP. As medidas antropométricas realizadas foram a massa corporal e a estatura. A avaliação do estado nutricional foi realizada por meio dos escores Z dos índices antropométricos de estatura/idade e índice de massa corporal e a divisão nas faixas etárias de 2 a 6 anos (pré escolares) e 6 a 10 anos (escolares). O estudo totalizou 618 crianças, sendo 323 pré escolares e 295 escolares. Do total de pré escolares e escolares respectivamente, pode-se observar que apenas 175 (54,18%) e 149 (50,51%) encontravam-se dentro do esperado (eutrofia), enquanto que o restante apresentava diagnósticos de sobrepeso, obesidade e desnutrição. Diante deste cenário, torna-se essencial uma investigação social, econômica e cultural desta faixa etária para uma futura intervenção mais direcionada. Abstract: Cross-sectional study to evaluate the nutritional status of children aged between 2 and 10 years users of schools located at Registro (Vale do Ribeira)-SP. The anthropometric measurements were conducted body mass and height. The nutritional status was evaluated by using the anthropometric Z-score indices stature/age and body mass index and the division at ages 2-6 years old (preschoolers) and 6-10 years old (schoolchildren). The study totaled 48

NUTrição em pauta

618 children, 323 preschoolers and 295 schoolchildren. Of all preschoolers and schoolchildren respectively, it can be observed that only 175 (54.18 %) and 149 (50.51 %) were within the expected (normal), while the rest showed diagnoses of overweight, obesity and malnutrition. Given this scenario, it is essential to research social, economic and cultural future for a more targeted intervention.

Introdução A idade pré-escolar de 2 a 6 anos é considerada uma fase de extrema relevância em relação ao processo de maturação biológica e desenvolvimento sócio-psicomotor. Nesta fase a criança inicia um processo de independência e formação de hábitos alimentares (MARIN et al., 2009). Já a idade escolar de 6 a 10 anos é uma fase de crescimento em que as exigências nutricionais devem ser atendidas (FLÁVIO; BARCELOS; LIMA, 2004). A importância da dieta em períodos precoces da vida tem sido salientada em inúmeras investigações, visto que uma dieta inadequada pode promover risco de enfermidades de origem metabólica, o que favorece na vida adulta o desenvolvimento de doenças crônicas e obesidade (ANDRADE; PEREIRA; SICHIERI, 2003). No Brasil, a transição nutricional tem levado a alterações nos padrões alimentares dos indivíduos em consequência de modificações em sua dieta consequentes às mudanças sociais, econômicas e influência da mídia (CANO et al., 2005). nutricaoempauta.com.br


pediatria

Preschool and School Children’s Nutritional Profile at the Registro City in the Vale do Ribeira (SP)

A obesidade infantil tem aumentado em todas as camadas sociais da população brasileira. A escola se destaca como um importante espaço onde esse trabalho de prevenção pode ser realizado, pois as crianças fazem pelo menos uma refeição diária nas escolas. Sendo assim, a escola apresenta possibilidades de educação nutricional, como também como facilitadora da atividade física (HALPERN, 2003). As consequências negativas da obesidade infantil estão muito bem documentadas na literatura científica e as principais são o aumento da pressão arterial, dislipidemias e resistência à insulina, fatores que elevam enormemente o risco de doenças cardiovasculares na idade adulta. Devido à estigmatização social da obesidade, crianças com excesso de peso estão ainda sujeitas a uma série de graves distúrbios psicológicos. Além disso, grande parcela das crianças obesas serão adultos obesos e, nessa medida, estarão expostos a um maior risco de doenças e crônicas, incluindo as cardiovasculares, certos tipos de câncer e distúrbios do aparelho locomotor, com menor expectativa de vida e qualidade (HALPERN, 2003). As práticas alimentares saudáveis logo no início da vida são muito importantes na aquisição de conhecimentos sobre a composição da dieta, que irão influenciar diretamente no estado nutricional destas crianças. (CONCEIÇÃO et al., 2010). Diante do exposto, esse trabalho se propõe um levantamento do estado nutricional de crianças de dois a dez anos de idade da rede pública de ensino, por meio da utilização das medidas antropométricas.

Metodologia O estudo apresentou delineamento transversal e incluiu a faixa etária entre 2 e 10 anos usuárias de escolas situadas em Registro (SP), no Vale do Ribeira em outubro de 2012. As medidas antropométricas utilizadas foram a massa corporal e a estatura. Estas foram realizadas de acordo com as técnicas e equipamentos padronizados (GORDON et al., 1988; JELLIFFE, 1968). A avaliação do estado nutricional foi realizada por meio dos escore Z (esc Z) dos seguintes índices antropométricos de Estatura/ Idade (E/I) e Índice de Massa Corpórea (IMC) (WHO, 2006; ONIS et al., 2007). As crianças em que o menor valor dos escores (esc) Z encontrava-se de -2 a menor que -1 (-2 < esc Z < -1) foram classificadas como em risco nutricional e de -1 a menor que +1 (-1 < esc Z < +1) foram classificados como em eutrofia. Aquelas que apresentavam o esc Z inferior JANEIRO 2015

NUTrição em pauta

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Perfil nutricional das Crianças Pré-escolares e escolares da cidade de Registro no Vale do Ribeira (SP)

a -2 foram classificadas como em desnutrição energético proteica. Ainda em relação à classificação de desnutrição mencionada, as crianças foram consideradas com déficit de peso (esc Z de IMC inferir a -2) ou déficit de estatura (esc Z E/I inferir a -2). Foi classificado como sobrepeso aquelas crianças com esc Z IMC de +1 a menor que +2 (+1 < esc Z < +2) e obesidade aqueles com esc Z IMC igual ou maior a +2. As crianças que apresentavam todos os esc Z dos índices antropométricos entre -1 e +1 foram classificadas como adequado nutricionalmente e aquelas que apresentavam qualquer um ou mais destes índices fora deste intervalo foram classificadas como inadequado nutricionalmente (WHO, 2006; ONIS et al., 2007). Para o cálculo amostral do estudo considerou-se um total de 11408 crianças de escolas municipais e estaduais do município de Registro e 95 % de confiança, com uma prevalência de 5% e um erro de 5%. Assim foi determinada uma amostra de 347 crianças, corrigido pela população finita e estratificado entre as escolas. Todas as mães ou responsáveis permitiram a participação das crianças no estudo, e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob o n° 3728/2010.

Pode-se observar que quase a metade dos pré-escolares (45,82%) encontravam-se inadequados nutricionalmente quando avaliados pelos índices antropométricos de IMC e E/I, o que reflete um comprometimento direto do peso e/ou estatura logo nos primeiros anos de vida (Figura 2).

Resultados

Já entre os escolares podem-se observar as seguintes classificações nutricionais abaixo (Figura 3).

O estudo totalizou com 618 crianças, com uma amostra bem maior do que a determinada pelo cálculo amostral (347 crianças), sendo que 323 (52,3%) se encontravam na faixa etária de 2 a 6 anos (pré-escolar), com as seguintes classificações nutricionais abaixo (Figura 1).

Figura 2. Distribuição das crianças pré escolares de acordo com a adequação nutricional, usuárias de escolas situadas em Registro (SP), no Vale do Ribeira em outubro de 2012.

Figura 3. Distribuição das crianças escolares de acordo com a classificação do estado nutricional, usuárias de escolas situadas em Registro (SP), no Vale do Ribeira em outubro de 2012.

Figura 1. Distribuição das crianças pré escolares de acordo com a classificação do estado nutricional, usuárias de escolas situadas em Registro (SP), no Vale do Ribeira em outubro de 2012.

Já entre os escolares, praticamente a metade (49,49%%) encontravam-se inadequados nutricionalmente quando avaliados pelos índices antropométricos de IMC e E/I, o que confirma uma história pregressa de desajuste nutricional (Figura4). 50

NUTrição em pauta

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pediatria

Preschool and School Children’s Nutritional Profile at the Registro City in the Vale do Ribeira (SP)

Figura 4. Distribuição das crianças escolares de acordo com a adequação nutricional, usuárias de escolas situadas em Registro (SP), no Vale do Ribeira em outubro de 2012.

Discussão A cidade de Registro (região do Vale do Ribeira) avaliada no presente estudo está a 187 km da capital São Paulo. A cidade apresenta como atividades econômicas a agricultura, pecuária, indústria de beneficiamento e comércio. Atualmente, possui 54.107 habitantes, sendo 88,8% de área urbana e 11,2% de área rural, com uma área territorial de 716,33 km2, dos quais 10,96% correspondem à área urbana. A taxa de mortalidade na infância (menores de 5 anos) em Registro, no ano de 2011, foi de 11,16 por mil nascidos vivos (a SEADE, 2013). O Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) criado pela Fundação SEADE, em 2010, classifica o padrão de desenvolvimento dos municípios a partir de indicadores de renda, escolaridade e longevidade, sendo o melhor nível classificado como Grupo 1 e o pior como 5. A cidade de Registro encontra-se no Grupo 4, o que indica que é um município com baixo nível de riqueza e nível intermediário de longevidade e/ou escolaridade (b SEADE, 2013). Algumas estimativas apontam para o risco de 200 milhões de crianças abaixo de cinco anos em países em desenvolvimento não alcançarem seu potencial de desenvolvimento cognitivo devido à pobreza, saúde e nutrição insuficiente e falta de cuidados e estimulação adequados (GRANTHAM-McGREGOR, 2007). Em um estudo longitudinal, não se constatou incremento nas medidas de desenvolvimento de crianças após a intervenção com 10g de multimistura (GIGANTE JANEIRO 2015

et al., 2007). Resultados semelhantes foram obtidos em uma avaliação de crianças desnutridas (FERREIRA et al., 2008), cuja suplementação não alterou o perfil nutricional, seja antropométrico seja hematológico. O ambiente obesogênico, caracterizado pelo consumo de alimentos industrializados nos primeiros meses de vida, é responsável pelo crescimento mundial do consumo de alimentos industrializados, motivado por estratégias de marketing desenvolvidas por indústrias multinacionais, com importante investimento na divulgação de produtos de alta densidade energética para crianças e adolescentes (HAWKES, 2006; HAWKES, 2007). Alguns levantamentos em pré-escolares apontam dados preocupantes, como no estudo com escolares matriculados na rede de ensino de um município do Vale do Paraíba do Sul (SP) em que foram avaliadas 714 crianças, de 6 a 9 anos, de ambos os sexos e observou-se prevalência de déficit de estatura para idade de 2,2% e excesso de peso em 26,6% das crianças, sendo 17,1% de sobrepeso e 9,5% de obesidade (NASCIMENTO; KANAMURA; RODRIGUES, 2014). Já outro estudo com 300 crianças com idade pré-escolar observou-se que 92 crianças (30,6%) apresentavam excesso de peso, sendo 41 com diagnóstico de pré-obesidade (13,6%) e 51 com obesidade (17,0%) (LOURENÇO; SANTOS; DO CARMO, 2014). E, finalmente um estudo em Fortaleza que encontrou uma prevalência maior de excesso de peso, que foi de 33,8% de sobrepeso e obesidade nesta população (MARIANO et al., 2014). Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF 2008–09), em 2009, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estavam acima do peso recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o que aponta uma verdadeira epidemia de obesidade infantil (IBGE, 2009).

Conclusões Enquanto os alimentos ricos em açúcar e gordura e pobres em nutrientes, que antes só eram oferecidos às crianças em ocasiões comemorativas, nas últimas décadas passaram a fazer parte da rotina alimentar das crianças, juntamente com o hábito exagerado de assistir televisão, uso de videogame e computador. Diante deste cenário de intensa transformação e consequente inadequações antropométricas na população infantil, a educação alimentar pode ter resultados extremamente positivos, principalmente quando bem direcionadas, como para as faixas etárias do pré-escolar e escolar, acompanhada de uma investigação do cenário social, econômico e cultural para NUTrição em pauta

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Perfil nutricional das Crianças Pré-escolares e escolares da cidade de Registro no Vale do Ribeira (SP)

melhor direcionar uma intervenção nutricional nas escolas municipais e estaduais de Registro no Vale do Ribeira (SP).

Sobre os Autores

Dra. Lorenza Oliveira Testa Carvalho - Graduada em Nutrição (UNITRI), Especialista pela UNIFESP e ASBRAN, Mestre em Pediatria e Ciências aplicadas à Pediatria (UNIFESP), Doutoranda pelo departamento de Nutrição (UNIFESP). Profa. Dra. Gislene dos Anjos Tamasia - Graduada em Nutrição pelas Faculdades Integradas do Vale do Ribeira – São Paulo, Mestre em Ciências (Nutrição em Saúde Púbica) Faculdade de Saúde Pública – USP, Nutricionista da Alimentação Escolar - Registro – São Paulo, Docente na UNISEPE – Registro – SP.

Palavras-chave: criança, estatura, desnutrição e obesidade. Keywords: child, height, malnutrition and obesity.

Recebido: 9/1/2015 - Aprovado: 26/1/2015

Referências

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NUTrição em pauta

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Cardiovascular Diseases: Risk Factors, Nutritional State and Food Consumption

saúde pública

Doenças Cardiovasculares: Fatores de Risco, Estado Nutricional e Consumo Alimentar Resumo: O objetivo deste trabalho foi conhecer o fator de risco para doenças cardiovasculares mais comumente encontrado em idosos, como também, conhecer o consumo alimentar diário e o estado nutricional atual desses indivíduos. A fim de diminuir a alta incidência dessas doenças é necessário ter um estilo de vida e hábitos alimentares mais saudáveis. Este é um estudo transversal, realizado com 70 idosos, 35 com e 35 sem doenças cardiovasculares, que foram questionados sobre seu estilo de vida e hábitos alimentares, sendo a maioria do gênero feminino. A hipertensão arterial sistêmica foi o fator de risco com a mais alta prevalência no histórico familiar e pessoal destes idosos. Observou-se um consumo maior de café entre os que apresentavam doenças cardiovasculares comparado aos que não apresentavam, e valores maiores de peso, índice de massa corporal e circunferência da cintura, comparado aos que não apresentavam a doença cardiovascular. Abstract: The objective of this study was to know the risk factor for cardiovascular disease most commonly found in the elderly, but also meet the daily food intake and the current nutritional status of these individuals. In order to reduce the high incidence of these diseases is necessary to have a lifestyle and healthy eating habits . This crossJANEIRO 2015

sectional study involving 70 elderly , 35 with and 35 without cardiovascular disease who were asked about their lifestyle and eating habits , mostly female. Hypertension was the risk factor with the highest prevalence in family history and personal these elderly. There was a higher consumption of coffee among those with cardiovascular disease compared to those without , and higher values for weight , body mass index and waist circumference compared to those without cardiovascular disease.

Introdução A população idosa vem crescendo consideravelmente nos últimos anos, incluem-se a esse grupo todos os indivíduos acima de 60 anos, por ser uma faixa etária mais suscetível às doenças é necessário maior acompanhamento da saúde destes indivíduos, atentando-se a alimentação nesta fase da vida, a fim de se oferecer orientações nutricionais adequadas à faixa etária, principalmente quando o indivíduo já possui alguma doença, tornando imprescindíveis mudanças nos hábitos alimentares (QUEIROZ, 2014). Dentre as doenças que podem acometer os idosos, as doenças cardiovasculares (DCV) merecem atenção especial, pois estão atualmente em primeiro lugar no ranking de doenças que mais matam no Brasil, afetando milhões de indivíduos por ano. Estas doenças afetam o coração e NUTrição em pauta

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Doenças Cardiovasculares: Fatores de Risco, Estado Nutricional e Consumo Alimentar

os vasos sanguíneos, se o tratamento for feito tardiamente o risco de levar a pessoa a óbito ou deixar sequelas para o resto da vida é bem maior (EYKEN; MORAS, 2009). Devido a isso, controlar a incidência dos fatores de risco é fundamental, pois são estes que irão predispor os indivíduos à doença. Estes podem ser modificáveis ou não modificáveis, os fatores não modificáveis são idade, sexo, raça, e histórico familiar. Já os fatores de risco modificáveis tem relação com o estilo de vida das pessoas, entre eles o uso de tabaco e álcool, sedentarismo, obesidade, estresse, alimentação rica em sódio e pobre em frutas e verduras, e consumo elevado de carnes vermelhas durante a vida (GADENZ; BENVEGNÚ, 2013; MUNIZ et al, 2012; NASCIMENTO;GOMES;SARDINHA, 2011). Estes fatores podem ser modificados com hábitos de vida saudáveis, alimentação adequada ao estado nutricional e prática de exercícios físicos que deverão ser incentivados desde a infância e seguidos por toda a vida (GADENZ; BENVEGNÚ, 2013; NASCIMENTO; GOMES; 54

NUTrição em pauta

SARDINHA, 2011). Nas últimas décadas, houve um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados entre os idosos e uma diminuição do consumo de frutas e verduras, estes alimentos são ricos em sódio, gorduras e açúcares, o consumo em excesso combinado à diminuição do consumo de alimentos considerados saudáveis provoca acúmulo de placas de gorduras nas artérias, chamada de aterosclerose e elevação da pressão arterial. Devido a essa alimentação errônea, os idosos passaram a estar expostos a maior risco cardiovascular (GADENZ; BENVEGNÚ, 2013). A combinação de uma alimentação incorreta com inatividade física torna cada vez mais comuns casos de obesidade e excesso de peso entre idosos. É necessário que o índice de Massa Corporal (IMC) de idosos seja analisado juntamente com fatores de risco que este possa apresentar, a fim de perceber, risco elevado a DCV (SCHERER; VIEIRA, 2010). Este trabalho foi realizado com o objetivo de se nutricaoempauta.com.br


saúde pública

Cardiovascular Diseases: Risk Factors, Nutritional State and Food Consumption

conhecer o fator de risco para as doenças cardiovasculares mais comumente encontrado em idosos, bem como conhecer o consumo alimentar diário desses indivíduos (com e sem doenças cardiovasculares), além de seu estado nutricional atual.

Metodologia Trata-se de um estudo transversal, realizado com 70 idosos de ambos os gêneros, integrantes de um projeto de atividade física intitulado “Coração Feliz” do município de Laranjeiras do Sul/PR, estes foram divididos em dois grupos, onde 35 indivíduos apresentavam doenças cardiovasculares (DCV) e os outros 35 indivíduos sem a presença de doenças cardiovasculares. Foram considerados indivíduos cardíacos aqueles com diagnóstico clínico anterior ao estudo. Este estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNICENTRO, sob o protocolo de pesquisa nº 731,712. A coleta de dados foi por meio de uma entrevista, onde os idosos foram questionados sobre hábitos alimentares e de vida dos 20 aos 59 anos, e atualmente. Além disso, foram verificadas medidas para determinar seu estado nutricional atual, com medidas de peso, estatura e circunferência da cintura (CC). Com posterior cálculo de Índice de Massa Corporal (IMC). As medidas foram feitas de acordo com o SISVAN, para classificação do IMC utilizou-se os pontos de corte de LIPSCHITZ, DA, 1994, foram considerados eutróficos aqueles com IMC de 22 a 27 kg/m². O peso foi avaliado em balança digital portátil, da marca G-life² com capacidade de até 150 kg com o indivíduo descalço, em pé, no centro da plataforma e com os braços ao longo do corpo. Para a aferição da estatura foi utilizada uma fita inelástica acoplada à parede, com o indivíduo em posição ortostática, pés descalços, com a cabeça no plano horizontal de Frankfurt, realizado a medida ao final de uma expiração máxima. A CC foi realizada com o idoso em pé, com fita métrica inelástica, sendo circundada horizontalmente na cintura natural ou menor curvatura localizada entre o tórax e o quadril, no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. Somente participaram do estudo os idosos que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), atendendo as questões éticas nos termos da Resolução CNS 466/12. Para a análise dos dados, inicialmente realizou-se tabulação no Programa Excel para médias, porcentagens e desvio padrão e posteriormente foi realizado análise estaJANEIRO 2015

tística no Programa SPSS versão 17.0 através do teste Qui-quadrado com nível de significância (p≤0,05).

Resultados A amostra foi composta em sua maioria por mulheres, 75,7% (n=53/70). Entre os indivíduos que apresentavam DCV 88,6% (n=31/35) eram mulheres, sendo 11,4% (n=4/35) homens. Entre os que não apresentavam DCV 62,9% (n=22/35) são mulheres, e 37,1% (n=13/35) homens. Dentre os idosos que apresentavam DCV a média de idade foi de 69,29 anos (± 7,9) e dentre os que não apresentavam DCV a idade média foi 70,40 anos (± 6,6). A tabela 1 mostra a média dos valores de peso, estatura, índice de massa corporal e circunferência da cintura dos idosos participantes do estudo. Tabela 1. Média das medidas antropométricas dos participantes do estudo. Guarapuava, PR, 2014.

Peso atual (kg) Estatura (cm)

IMC (kg/m²)

CC (cm)

Possui doença cardiovascular?

Média

Desvio Padrão

Sim

76,17

±15,5

Não

68,55

±12,3

Sim

1,62

±0,5

Não

1,60

±0,9

Sim

28,81

±6,0

Não

26,48

±4,0

Sim

95,7

±18,0

Não

91,04

±15,2

Legenda: (IMC) índice de massa corporal; (CC) circunferência da cintura; (DCV) Doença cardiovascular.

Com relação ao estado nutricional dos idosos, o grupo com DCV apresentou 8,6% (n=3/35) indivíduos com magreza, 40% (n=14/35) eutróficos, e a maioria estavam com excesso de peso, 51% (n=18/35). Já o grupo sem DCV, 14% (n=5/35) estavam com magreza, 34% (n=12/35) com eutrofia, e a maioria estava com excesso de peso, 51% (n=18/35). Tratando-se de quais doenças os idosos têm ou tiveram durante a vida, a presença de hipertensão arterial sistêmica (HAS) em idosos com DCV foi a com maior prevalência, 91,4% (n=32/35) relataram ter tal patologia, seguidos do diabetes mellitus com 17,1% (n=6/35). Os NUTrição em pauta

55


Doenças Cardiovasculares: Fatores de Risco, Estado Nutricional e Consumo Alimentar

Tabela 2. Comparação entre grupos com e sem a presença de DCV. Guarapuava, PR, 2014.

Com DCV (%)

Sem DCV (%)

Valor de p *

91,4 (32) 17,1 (6) 0 (0) 2,9 (1) 0 (0)

0 (0) 5,7 (2) 5,7 (2) 5,7 (2) 5,7 (2)

< 0,001 0,004 <0,001 <0,001 <0,001

Qual doença cardiovascular HAS Hipotensão

91,4 (32) 5,7 (2)

0 (0) 0 (0)

< 0,001 < 0,001

Como descobriu Exames Sintomas

77,1 (27) 22,9 (8)

0 (0) 0 (0)

< 0,001 < 0,001

Mudança na alimentação Sim Não

62,9 (22) 37,1 (13)

0 (0) 0 (0)

< 0,001 < 0,001

42,9 (15) 37,1 (13)

0 (0) 0 (0)

< 0,001 < 0,001

94,3 (33)

82,9 (29)

< 0,004

Antecedentes pessoais HAS DM Doença renal Câncer Excesso de peso

Quais mudanças Alimentação com menos sódio Não houve mudança *Consumo de carne vermelha (20 aos 59 anos)

Legenda: (HAS) Hipertensão arterial sistêmica; (DM) Diabetes mellitus; (%) Valores em porcentagem (*) Valores de p com significância.

idosos que não tem DCV relataram ter histórico pessoal de câncer, excesso de peso, diabetes mellitus e doença renal, representando cada uma 5,7% (n=2/35). A maioria dos idosos com doenças cardiovasculares descobriu a doença por meio de exames (77,1%), 62,9% (n=22/35) mudaram a alimentação após descobrir a doença, e a mudança mais citada entre os idosos foi que estes passaram a consumir alimentos com menos sódio (42,9%) (Tabela 2). Dado interessante no presente estudo foi com relação ao consumo de carnes vermelhas entre os 20 aos 59 anos, onde 82,9% (n=29/35) dos idosos sem DCV e 94,3% (n=33/35) dos idosos com DCV relataram que consumiam, entre estes idosos a maioria consumia com uma frequência de uma vez por semana (37,1%), enquanto os que tem DCV a maior frequência de consumo foi diário, representando 48,6%, com nível de significância p<0,004*. Com relação a antecedentes familiares, a maioria 56

NUTrição em pauta

dos idosos que apresentavam DCV tem algum familiar de primeiro grau que teve HAS, representando 48,6% (n=17/35), seguido de nenhum histórico familiar 37,1% (n=13/35). A maioria dos idosos sem DCV não apresentavam histórico familiar, representando 51, 4% (n=18/35), seguido de histórico de hipertensão em 28,6% (n=10/35) da amostra. Entre os 20 e 59 anos, os idosos que não tem DCV praticavam mais exercício físico (60%) do que os idosos que tem DCV atualmente (45,7%). Atualmente, todos os idosos praticam atividade física, pois o grupo em que participam é voltado a esta prática. Não houve resultados expressivos em relação ao consumo alimentar dos idosos, no entanto, percebeu-se um consumo diário mais elevado de óleos e gorduras e café entre os idosos que tem doenças cardiovasculares, comparado aos que não possuem, conforme descrito na tabela 3. nutricaoempauta.com.br


Cardiovascular Diseases: Risk Factors, Nutritional State and Food Consumption

Tabela 3. Frequência de consumo alimentar diário atual dos idosos com e sem DCV. Guarapuava, PR, 2014. Grupo de alimentos

Com DCV Sem DCV Valor de (%) (%) P.

Cereais

97,10

100

0,314

Massas

14,30

20

0,680

Feijão

80

88,60

0,460

Ovos fritos

5,70

0

0,567

Carne de frango/ peixe

42,90

42,90

0,557

0

0

0,964

Embutidos

28,60

28,60

0,248

Leite

85,70

77,10

0,351

Óleos e gorduras

60

48,60

0,439

Açúcares

20

17,10

0,933

Café

88,60

77,10

0,230

Hortaliças

97,10

94,30

0,602

Frutas

94,30

91,40

0,643

Refrigerantes

0

5,70

0,494

Lanches

0

0

0,110

Vísceras

Legenda: (DCV) Doença cardiovascular; (%) Valores em porcentagem;

Discussão Percebe-se no estudo um elevado número de indivíduos com histórico familiar e pessoal de hipertensão arterial, sendo este número mais evidente entre os idosos que possuem doenças cardiovasculares, comparados aos que não possuem, demonstrando ser o fator de risco mais expressivo para a prevalência de DCV. Semelhante a estudo de Sales; Tomaz (2011), onde o fator de risco mais comum foi à hipertensão. As mulheres com doenças cardiovasculares apresentaram-se em maior número, demostrando que estas estão mais expostas ao risco cardiovascular, em estudo realizado com 1.717 indivíduos a prevalência de HAS aumentou com o passar dos anos, permanecendo semelhante entre homens e mulheres até a faixa etária de 70 anos, onde as mulheres passaram a ser o grupo com maior incidência, comparado aos homens (CIPULLO et al, 2009). JANEIRO 2015

saúde pública Este crescente aumento de casos de hipertensão em mulheres com faixa etária maior que 70 anos demonstra que com o avançar da idade estas tem maior risco de desenvolver DCV, isto pode ser devido à diminuição da produção de estrogênio na menopausa, este hormônio é produzido em maior quantidade no período fértil da mulher e ajuda na proteção cardiovascular, com a diminuição, estas passam a estarem mais expostas, podendo ocorrer a elevação da pressão arterial (SANCHES et al,2006). Além da diminuição do estrogênio na menopausa, o número crescente de mulheres pode estar relacionado com a entrada destas no mercado de trabalho, o que ocasionou mudanças no estilo de vida e hábito alimentar (GOMES et al, 2012; NASCIMENTO; GOMES; SARDINHA, 2011). Em estudo realizado com 88 mulheres hipertensas no Maranhão, 77,30% estavam com a pressão descontrolada (acima de 139 x 89 mmHg) e 71,59% estavam obesas ou pré-obesas, o que demostra risco substancial a DCV entre estas mulheres, uma vez que, a pressão descontrolada e obesidades eleva o risco de sofrer Acidente Vascular Cerebral (AVC) e infarto agudo do miocárdio, podendo levar a morte ou deixar sequelas permanentes (NASCIMENTO; GOMES; SARDINHA, 2011). Com relação ao estado nutricional dos idosos, nota-se que os que possuem doenças cardiovasculares, o peso, estatura, IMC e CC foram mais expressivos comparados aos que não possuem. É importante destacar que a obesidade é um fator de risco para DCV, e que os valores mais altos de IMC e CC em idosos que possuem DCV podem estar relacionados com este fator de risco que provoca a doença. Tratando-se do consumo alimentar, os idosos que tem DCV apresentaram maior consumo de carnes vermelhas durante a vida, sendo seu consumo diário, em comparação com os que não possuem tal doença, onde o consumo era menor (1 vez por semana). É possível relacionar o consumo frequente de carnes vermelhas com o desenvolvimento de DCV na população, uma vez que a gordura saturada altamente presente na carne, eleva o LDL plasmático que pode desencadear aumento da pressão arterial e do risco cardiovascular, sendo necessária a diminuição do consumo de carne vermelha, e retirada da gordura aparente de carnes em geral (SANTOS et al, 2013). Com relação ao consumo alimentar diário não se obteve valores significativos, porém, pode-se notar que o grupo sem DCV consumia diariamente mais cereais, massas e feijão, já o grupo com DCV, consumia mais leites, óleos e gorduras, açúcares, hortaliças e frutas, além NUTrição em pauta

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Doenças Cardiovasculares: Fatores de Risco, Estado Nutricional e Consumo Alimentar

disso, consumiam com mais frequência café, comparado aos que não tem DCV, diante disso, é importante frisar que o consumo diário de café, eleva a pressão arterial, por ter em sua composição a cafeína, portanto, indivíduos hipertensos devem evitar o consumo (LIMA et al, 2010).

Conclusão Observou-se que o fator de risco mais comum foi o histórico pessoal e familiar de hipertensão arterial sistêmica entre os idosos que tinham doenças cardiovasculares, com relação ao consumo alimentar diário, nota-se pouca significância estatística comparando o grupo com DCV e os que não possuem DCV, porém, tem-se um consumo mais frequente de café entre o grupo de idosos com DCV comparado aos que não possuem. Com relação ao estado nutricional, indivíduos cardíacos apresentaram valores maiores de peso, estatura, IMC e circunferência da cintura, comparados aos idosos que não tinham doenças cardiovasculares. Com o intuito de evitar os elevados índices de casos de DCV, é necessário práticas de educação nutricional com a população em geral, incluindo idosos, orientando sobre os fatores de risco, pois desta forma, a população terá acesso às formas de precaução da doença, antes que esta se desenvolva no organismo, além disso, auxiliar indivíduos que já sofrem com DCV a ter uma melhor qualidade de vida. O estudo teve como limitação à necessidade de leitura do questionário para os idosos, devido à baixa visão destes, por conta disso, os idosos podem ter omitido informações, ou compreendido a pergunta de forma errônea, podendo prejudicar a veracidade dos resultados.

Sobre os Autores

Vanderleia Volff - Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO Dra. Thiécla Katiane Rosales Silva - Nutricionista, Docente do Curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste- UNICENTRO. Especialista em Nutrição Clínica pelo Grupo de Apoio Nutricional Enteral e Parenteral GANEP (2009). Dra. Bruna Menegassi - Nutricionista, Docente do Curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste- UNICENTRO. Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo - USP. Profa. Dra. Catiuscie Cabreira da Silva - Nutricionista, Docente do Curso de Nutrição da Universida58

NUTrição em pauta

de Estadual do Centro-Oeste-UNICENTRO. Mestre em Nutrição pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição (PPGN) da Universidade Federal de Santa Catarina (2012). Profa Dra. Aline Jabur Castilho Ferreira - Nutricionista, Docente do Curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste- UNICENTRO. Especialista em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul-UNICSUL.

Palavras-chave: Estilo de vida, Qualidade de vida, Idoso. Keywords: Life Style, Quality of life, Aged.

Recebido: 25/11/2014 - Aprovado: 15/1/2015

Referências

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