editorial | mar/abr 2011 Síndrome Metabólica e Aspectos Inflamatórios ISSN 1676-2274 Publicação Bimestral da Núcleo Consultoria - Atualização Científica em Nutrição • Av. Vereador José Diniz, 3651 cj. 41 cep 04603-004 São Paulo/SP - Brasil • Tel: (11) 5041-9321 • Fax: (11) 5041-9097 Email: nucleo@nutricaoempauta.com.br Homepage: http://www.nutricaoempauta.com.br Editora científica: Dra. Sibele B. Agostini (redacao@nutricaoempauta.com.br) Diretor: Cláudio G. Agostini Jr. (diretoria@nutricaoempauta.com.br) Coordenadora de Marketing: Daniela Bossolani Agostini (marketing@nutricaoempauta.com.br) Conselho Científico: Prof. Dra. Andréa Ramalho (UFRJ/RJ) Prof. Dr. Antonio Herbert Lancha Junior (EEFE-USP/SP) Prof. Dra. Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ) Prof. Dra. Cláudia Cople (UERJ/RJ) Prof. Dr. Dan Waitzberg (FMUSP/SP) Prof. Dra. Eliane de Abreu (UFRJ/RJ) Profa Dra. Fernanda Lorenzi Lazarim - UNICAMP/SP Prof. Dr. Flávia Meyer (UFRGS/RS) Prof. Dra. Josefina Bressan (UFV/MG) Prof. Dra. Joy Dauncey (Cambridge/UK) Prof. Dra. Lilian Cuppari (UNIFESP/SP) Prof. Dra. Marcia Regina Vitolo (UNISINOS/RS) Prof. Dra Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO) Prof. Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP/SP) Prof. Dr. Melvin Williams (Maryland/USA) Profa Dra. Mirtes Stancanelli - UNICAMP/SP Prof. Dra. Nailza Maestá (UNESP/SP) Prof. Dra. Nelzir Trindade Reis (UVA/RJ) Prof. Dr. Ricardo Coelho (UFOP/MG) Prof. Dr. Roberto Carlos Burini (FMUNESP/SP) Prof. Dra. Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC) Prof. Dra Sonia Tucunduva Philippi (USP/SP) Prof. Dr. Teresa Helena Macedo da Costa (UnB/DF) Prof. Dra. Thais Borges Cesar (FCF-UNESP/SP) Pesquisadora Científica: Dra. Ilana Elman (Doutoranda FSP/USP) Dra. Michele Caroline da Costa Trindade (Doutoranda FCF/ USP) Consultor Gastronomia: Chef Patrick Martin (LCB/PARIS) Colaboradores: Chef Barbara Kerr Chef Fabiana B. Agostini Tradutora: Dra. Cecília Tsukamoto Repórter: Amanda B. Ansaldo (MTB 46767/SP) Fotógrafo: Alexandre Agostini Assinaturas: Léia Rosa de Souza (assinaturas@nutricaoempauta.com.br) Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: nippak graphics Tiragem: 20.000 exemplares • Impresso em março/2011 Publicação dirigida para profissionais que atuam na área de saúde e nutrição. A reprodução dos textos, no todo ou em parte, é permitida desde que citada a fonte. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Indexação: A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP.
A prevalência da síndrome metabólica já é bem conhecida em alguns países, porém dados ainda são escassos para melhor caracterizar a real prevalência em alguns países, como no Brasil. Estima-se que quase 50% da população adulta mundial apresentam sobrepeso e comorbidades associadas. O número crescente de indivíduos obesos e com SM nos últimos anos é decorrente de alterações na composição da dieta, associadas a mudanças econômicas, sociais, demográficas e comportamentais. Alguns estudos evidenciam que o aumento do consumo de ácidos graxos saturados, açúcares, refrigerantes e incremento da densidade energética da dieta associada a um estilo de vida sedentário, favorecido por mudanças na estrutura de trabalho, assim como avanços tecnológicos, compõem os principais fatores etiológicos da obesidade . Tendo em vista a complexidade e a importância clínica da síndrome metabólica, torna-se fundamental identificar os componentes a ela relacionados. Vejam também o Mega Evento Nutrição 2011, englobando o 12º Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 12º Congresso Internacional de Gastronomia e Nutrição, 7º Fórum Nacional de Nutrição, 6º Simpósio Internacional da American Dietetic Association (USA), 4º Simpósio Internacional da Nutrition Society ( United Kingdom), 4º Simpósio Internacional Le Cordon Bleu (França), 2º Simpósio Internacional da Associação Espanhola de Nutricionistas e Dietistas (Espanha) e 1º Simpósio Internacional da Sociedade Italiana de Nutrição Humana (Itália), que será realizado em São Paulo no período de 06 à 08 de outubro de 2011 e já conta com parcerias com as principais entidades internacionais e nacionais do setor. E ainda o 7º Fórum Nacional de Nutrição 2011, que será realizado este ano em 12 capitais do país: RJ, PR, MG, BA, PE, MA, DF, MS, PA, AM, RS e SP.
Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 - 3ª Região
índice | 04. Síndrome Metabólica e Aspectos Inflamatórios 10. Dislipidemias e Hipertensão Arterial como Fatores de Risco para Doenças Cardiovasculares em Pacientes com Doença Renal Crônica 14. A Pretensão de Amamentar e as Vantagens do Aleitamento Materno sob a Ótica das Puérperas Atendidas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (HU/UFSC) 20. Qualidade da Dieta de Pacientes Internados para Tratamento Quimioterápico 26. O que Há de Novo na Terapia Nutricional da Pancreatite Aguda 30. Polpa de Manga, apta para o Consumo? 36. Consumo Episódico Elevado de Bebidas Alcoólicas: uma Análise do Comportamento de um Grupo Populacional durante Festejos Natalinos e Carnavalescos 41. Avaliação Nutricional e Adequação da Dieta de Atletas de Voleibol em Período Pré-Competitivo 46. Avaliação da Aceitação das Preparações Servidas em uma Unidade de Alimentação e Nutrição 50. Avaliação Qualitativa da Dieta de Funcionários de uma Rede de Restaurantes de Alimentação Saudável no Município de São Paulo 54. Técnicas Gastronômicas Le Cordon Bleu®. 58. Normas para publicação.
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| matéria de capa
Síndrome Metabólica e Aspectos Inflamatórios Metabolic Syndrome and Inflammatory Aspects
Profa. Dra. Adaliene Versiani
resumo
metabólicas pode minimizar o
Matos Ferreira - Nutricionista,
Síndrome metabólica (SM) é um
Mestre e Doutora pela Universidade
termo utilizado para um conjunto de
Federal de Minas Gerais, Professora
fatores de risco que aumenta a
do Curso de Nutrição, Escola de
chance de desenvolvimento de
Enfermagem da Universidade Federal
doenças cardiovasculares e diabetes
de Minas Gerais,
mellitus
associada
term used for a number of risk factors
Renata Lacerda de Lima - Mestranda
principalmente à obesidade. Com a
that increase the chance of developing
do Programa de Pós-Graduação em
hipertrofia do tecido adiposo, ocorre
cardiovascular disease and type 2
Fisiologia e Farmacologia do Instituto
um desequilíbrio na secreção de
diabetes mellitus mainly associated
de
da
adipocinas pró e anti-inflamatórias
with obesity.
Universidade Federal de Minas
incluindo o fator de necrose tumoral
hypertrophy alters the secretion of
Gerais
alfa (TNF-α), a interleucina-6 (IL-6) e
adipokines pro and anti-inflammatory
Marina Chaves de Oliveira -
adiponectina, determinando um
including tumor necrosis factor alpha
Graduanda do curso de nutrição da
estado de inflamação crônica de baixa
(TNF- α ), interleukin 6 (IL-6) and
Universidade Federal de Minas
intensidade que possui importante
adiponectin, determining a state of
Gerais.
papel no desenvolvimento de doenças
chronic low grade inflammation that
Zélia Menezes Garcia - Mestranda
metabólicas. Concomitantemente,
has an important role in the
do Programa de Pós-Graduação em
ocorre a ativação de vias de
development of metabolic diseases.
Fisiologia e Farmacologia do Instituto
sinalização inflamatórias, como c-Jun
Concomitantly, there is activation of
de
da
N-terminal quinase (JNK) e fator de
inflammatory signaling pathways such
Universidade Federal de Minas
transcrição nuclear ⎯κB (NF-κB), que
as c-Jun N-terminal kinase (JNK) and
Gerais
levam à resistência à insulina. A
nuclear transcription factor (NF-κB)
compreensão da fisiopatologia da SM
that lead to insulin resistance.
juntamente com o tratamento
Understanding the pathophysiology of
inflamação e síndrome metabólica
dietoterápico baseado na influência
MS along with the dietary treatment
keyword: Obesity, inflammation and
dos componentes dietéticos no
based on the influence of dietary
metabolic syndrome
desenvolvimento de alterações
components in the development of
Ciências
Ciências
Biológicas
Biológicas
palavras-chave:
4
Obesidade,
tipo
2
desenvolvimento de comorbidades relacionadas à SM.
abstract Metabolic syndrome (MS) is a
Adipose tissue
Recebido: 10/06/2010 – Aprovado: 15/03/2011
matéria de capa | mar/abr 2011 metabolic
abnormalities
may
Proteção para Doenças Crônicas por
Em 2001, o National Cholesterol
minimize the development of
Inquérito Telefônico (VIGITEL),
Education Program (NCEP) propôs
comorbidities related to MS.
realizado nas capitais brasileiras e
uma série de critérios de fácil
no Distrito Federal em 2009,
avaliação, os quais incluem: glicemia
evidenciaram que 46,6% dos
de jejum (≥110mg/dL), pressão arterial
Estudo de revisão da literatura
moradores das capitais brasileiras
sistêmica (níveis pressóricos ≥130/
sobre o tema síndrome metabólica e
estão com excesso de peso e 13,9%
85mmHg), circunferência da cintura
inflamação. Utilizou-se estudo
são obesos (BRASIL, 2009).
(determinada por valores superiores
exploratório-descritivo, baseado no
Segundo a Sociedade Brasileira de
102cm em homens e 88cm em
banco de dados PUBMED (de 1997
Diabetes, a incidência de diabetes
mulheres), triglicerídeos (≥150mg/dL)
a 2010) e MEDLINE (2000 a 2010). A
entre 30 e 69 anos é de 7,6%, dos
e colesterol HDL (< 40mg/dL para
análise resultou em 41 publicações.
30 aos 39 anos é de 2,7%, dos 40
homens e 50mg/dL para mulheres). A
aos 49 anos sobe para 5,52%, dos
avaliação da obesidade central pela
50 aos 59 anos aumenta para 12,6%
circunferência da cintura é um critério
Síndrome metabólica (SM) é um
e dos 60 aos 69 anos aumenta para
essencial e, juntamente com a
termo utilizado para um conjunto de
17,4%. Esses dados evidenciam que
presença de outros dois componentes,
fatores de risco que aumenta a
a prevalência da síndrome metabólica
determina o diagnóstico da SM
chance de desenvolvimento de
no Brasil pode ser alta.
(ALBERTI; ZIMMET;SHAW, 2005;
metodologia da revisão
introdução
doenças cardiovasculares e diabetes
O número crescente de
KLEIN et al., 2007). Atualmente, o
associada
indivíduos obesos e com SM nos
valor de referência para a glicemia de
principalmente à obesidade. Dentre
últimos anos é decorrente de
jejum adotado na clínica é ≥100 mg/
esses fatores, destacam-se o
alterações na composição da dieta,
dL segundo determinação da
acúmulo de gordura abdominal,
associadas
American Diabetes Association.
resistência à insulina, intolerância à
econômicas, sociais, demográficas
A associação entre a obesidade
glicose, dislipidemia, hipertensão e
e comportamentais (POPKIN, 2001).
e outras doenças crônicas é
distúrbios de coagulação (GRUNDY
Alguns estudos evidenciam que o
documentada há vários anos,
et al., 2008). A prevalência da
aumento do consumo de ácidos
entretanto, com a descoberta da
síndrome metabólica já é bem
graxos
açúcares,
ocorrência de processo inflamatório
conhecida em alguns países, porém
refrigerantes e incremento da
durante a hipertrofia do tecido
dados ainda são escassos para
densidade energética da dieta
adiposo (HOTAMISLIGIL et al., 1993),
melhor caracterizar a real prevalência
associada a um estilo de vida
foi possível sugerir que a inflamação
em alguns países, como no Brasil.
sedentário, favorecido por mudanças
poderia ser um dos elos de ligação
Estima-se que quase 50% da
na estrutura de trabalho, assim como
entre a obesidade e as alterações
população
avanços tecnológicos, compõem os
metabólicas.
mellitus
tipo
apresentam
2
adulta
mundial
sobrepeso
e
comorbidades associadas (WHO,
a
saturados,
mudanças
principais fatores etiológicos da obesidade (BRASIL, 2009).
obesidade e inflamação
2004; HOTAMISHLIGIL, 2003). No
Tendo em vista a complexidade
Estudos recentes demonstram
Brasil, o número de indivíduos acima
e a importância clínica da síndrome
que o tecido adiposo secreta várias
do peso ideal cresceu nos últimos
metabólica, torna-se fundamental
proteínas biologicamente ativas,
anos. Dados coletados pelo sistema
identificar os componentes a ela
denominadas
de Vigilância de Fatores de Risco e
relacionados e a definição da mesma.
(STEPPAN et al., 2001). As
de
adipocinas
5
mar/abr 2011
| matéria de capa
adipocinas identificadas até o
insulina é importante para a
glicogênio no fígado e no músculo,
momento são altamente variadas e
intervenção
clínica
estimula a lipogênese e inibe a
compreendem o fator de necrose
comorbidades
associadas
tumoral-α (TNF-α), interleucina-6 (IL-
síndrome metabólica.
nas à
lipólise no tecido adiposo (SALTIEL; KAHN, 2001). Dentre as vias em que o TNF-α
6), CC quimiocina ligante 2 (CCL2), fatores de crescimento (fator
RI e inflamação
atua e induz a RI, pode-se citar a
transformador do crescimento β –
A resistência à insulina é
ativação da c-Jun N-terminal quinase
TGF-β), leptina, adiponectina e
caracterizada por uma menor
(JNK) (HOTAMISLIGIL, 2006;
resistina, dentre outras. Essas
responsividade dos tecidos insulino-
HIROSUMI et al., 2002) e do fator de
moléculas agem como sinais
dependentes, como músculo
transcrição nuclear κB (NF-κB)
endócrinos
a
esquelético, tecido adiposo e fígado,
(HOTAMISHLIGIL, 2003). A ativação
energética,
a esse hormônio (BALKAU et al.,
da JNK culmina na fosforilação do
2002).
IRS-1 em resíduos de serina, o que
modulando
homeostase
autorregulação do crescimento, desenvolvimento do adipócito,
A sinalização intracelular da
interfere na fosforilação em resíduos
angiogênese, homeostase glicêmica
insulina começa com sua ligação a
de tirosina, perturbando assim a via
e lipídica, homeostase vascular e
um receptor específico da membrana
de sinalização intracelular da
regulação da pressão sanguínea
formado
proteína
insulina. O NF-κB é um fator de
(FRUHBECK et al., 2001).
heterotetramérica com atividade
transcrição nuclear presente no
Durante a hipertrofia do tecido
quinase, composta por duas
citoplasma, que, quando ativado, é
adiposo, ocorre desregulação na
subunidades α e duas subunidades
translocado para o núcleo e promove
produção e secreção de adipocinas,
β denominadas em conjunto de
a transcrição de vários genes pró-
favorecendo a ocorrência de um
receptor de insulina (PATTI; KAHN,
inflamatórios relacionados, por
fenótipo pró-inflamatório (FERRANTI;
1998). A ligação da insulina ao seu
exemplo, com a síntese de
MOZAFFARIAN,
As
receptor resulta na fosforilação do
marcadores
adipocinas pró-inflamatórias são
substrato do receptor de insulina 1
amplificando e mantendo a menor
capazes de ativar e recrutar células
(IRS-1) e 2 (IRS-2) em diversos
resposta celular à ação da insulina
inflamatórias, como macrófagos, para
resíduos tirosina (WHITE, 1998). Os
(SHOELSON et al., 2006).
o tecido adiposo (WEISBERG et al.,
IRS-1 e IRS-2 fosforilados ativam a
2003; WU et al., 2007).
fosfatidilinositol 3-quinase (PI3-K),
2008).
Diversos estudos relatam associação
uma
que, por sua vez, aumenta a
inflamatórios,
o papel da alimentação na síndrome metabólica
processo
fosforilação em serina da proteína
A alimentação adequada,
inflamatório presente na obesidade
quinase B (Akt) (PESSIN; SALTIEL,
juntamente com a prática de
e comorbidades relacionadas. TNF-
2000; KIM et al., 1999), que, dentre
atividade física, é fundamental para
α e IL-6 são capazes de interferir na
outras
a
a prevenção, controle e tratamento
cascata de sinalização da insulina
translocação do transportador de
das comorbidades associadas à SM,
(UYSAL et al., 1997; LANGIN;
glicose-4 (GLUT-4) para a membrana
bem como para a diminuição dos
ARNER, 2006), induzindo menor
plasmática e, consequentemente,
riscos de doenças cardiovasculares.
resposta à ação desse hormônio.
propicia o transporte de glicose para
O
Desta forma, o entendimento da
a célula muscular e adiposa. Além
associado a outros hábitos de vida
inter-relação entre os mediadores
de sua ação na captação de glicose,
saudáveis, objetiva a perda de peso
inflamatórios e a resistência à
a insulina promove a síntese de
progressiva e, consequentemente, a
6
entre
por
funções,
estimula
tratamento
dietoterápico,
matéria de capa | mar/abr 2011 melhora da sensibilidade à insulina.
estresse oxidativo e a inflamação
e anti-inflamatória, principalmente
Uma perda ponderal de 5% a 10%
em nível celular e molecular
pelo fato desses, em especial o
mostra-se efetiva na melhora do
(MOHANTY et al., 2000; ESPÓSITO
ômega-3, modularem a síntese de
quadro clínico do paciente portador
et al., 2002; KEMPF et al., 2006).
eicosanóides, que são importantes
da síndrome metabólica (NESTEL,
Kempf et al. (2006) observaram que
mediadores
2004).
a glicose aumenta a expressão de
(STULNIG, 2003). Além disso, os
A terapia nutricional prioriza a
TNF-α e IL-6 em indivíduos com
ácidos
redução do consumo de gorduras
SM. Segundo esses autores, na
eicosapentaenoico
saturadas e trans, maior ingestão de
síndrome metabólica a manutenção
docosahexaenoico (DHA) inibem a
frutas, verduras e legumes,
de uma hiperglicemia representa
ativação dos TLRs e, assim,
consumo de alimentos com menor
um
o
reduzem a presença de marcadores
índice glicêmico e enfatiza a
desenvolvimento de diabetes tipo 2
pró-inflamatórios (LEE et al., 2003).
importância da ingestão de
e doenças cardiovasculares.
Quanto aos ácidos graxos trans,
risco
maior
para
Atualmente,
inflamatórios
graxos
ômega-3 (EPA)
e
tem-se
estudos em humanos evidenciam
consumo de proteínas de origem
demonstrado que o tipo de gordura
que seu consumo se correlaciona
vegetal e de peixe e menor consumo
consumida também influencia no
ao maior estado inflamatório,
de sódio (WHO, 2003; RICCARDI;
perfil inflamatório de determinados
evidenciado por maior concentração
RIVELLESE, 2000; NESTEL, 2004;
tipos celulares. O consumo de
plasmática de proteína C reativa, IL-
KENNEDY et al., 2009). Estudos
dietas ricas em ácidos graxos
6 e moléculas de adesão, quando
mostram os efeitos benéficos da
saturados
altamente
comparado à ingestão de dietas
dieta mediterrânea, a qual se baseia
correlacionado com a SM, ao passo
com menor teor desses ácidos
em cereais não refinados, frutas,
que o consumo de ácidos graxos
graxos (SHAH et al., 2008).
vegetais, e maior teor de gorduras
monoinsaturados apresenta relação
monoinsaturadas em relação às
inversa (GERALDO; ALFENAS,
saturadas, e apontam a dieta
2008). Os ácidos graxos saturados
mediterrânea como capaz de
são capazes de ativar o receptor
representa um grave problema de
atenuar o risco cardiovascular dos
Toll-like (TLR), levando à ativação
saúde pública na atualidade. O
indivíduos com síndrome metabólica
do
melhor
(PITSAVOS et al., 2003; RYAN et
consequentemente, acarreta em
fisiopatologia da SM, bem como do
al., 2000).
aumento da expressão de citocinas
processo inflamatório associado ao
Sabe-se que a escolha dos
e quimiocinas pró-inflamatórias.
desenvolvimento da mesma, é
alimentos possui importante papel
Tais mediadores inflamatórios,
fundamental
no controle da inflamação crônica
conforme já relatado, promovem
tratamento
de baixa intensidade, presente nas
inibição da via de sinalização da
planejamento
comorbidades características da
insulina e menor resposta à ação
adequado, apoiado no conhecimento
SM. Evidências científicas indicam
desse hormônio em órgãos chaves
da relação entre nutrientes e
que o aumento da concentração
para o controle do metabolismo
marcadores
sanguínea de glicose associa-se a
(SHAH; MEHTA; REILLY, 2008;
essencial para potencializar a
uma resposta inflamatória aguda e
KENNEDY et al., 2009). Os ácidos
intervenção nutricional e minimizar
que
deste
graxos poli-insaturados, no geral,
a ocorrência de comorbidades
macronutriente potencializa o
apresentam ação imunomoduladora
relacionadas à SM.
quantidade adequada de fibras,
a
ingestão
NFκB
está
e
JNK,
o
que,
conclusão A
síndrome
metabólica
entendimento
para da
o
da
efetivo
síndrome.
O
dietoterápico
inflamatórios,
é
7
mar/abr 2011
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Dislipidemias e Hipertensão Arterial como Fatores de Risco para Doenças Cardiovasculares em Pacientes com Doença Renal Crônica Dyslipidemias and Arterial Hipertension as Risk Factors for Cardiovascular Disease in Patients with Chronic Kidney Disease Dra. Ellencristina da Silva Batista - Nutricionista e Mestre em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – MG. Dra. Fabrícia Fachetti Ribon Nutricionista pela FAESA Faculdades Integradas São Pedro, Vitória - ES Dra. Lorena Camillato Sirtoli Nutricionista pela FAESA Faculdades Integradas São Pedro, Vitória - ES palavras-chave - insuficiência renal crônica; doenças cardiovasculares; hipertensão; dislipidemias. keywords - renal insufficiency, chronic; cardiovascular diseases; hypertension; dyslipidemia
cardiovasculares em pacientes com DRC, através de uma revisão bibliográfica. Pacientes com DRC apresentam predomínio de hipertrigliceridemia e HDL – c baixo, aumento na VLDL e IDL, composição de LDL anormal e colesterol total (CT) normais ou reduzidos, que predispõe formação da aterosclerose. A hipertensão arterial pode levar à insuficiência cardíaca, à hipertrofia ventricular esquerda, e a um maior número de eventos cardiovasculares. Portanto, o controle rigoroso da pressão arterial e o tratamento da dislipidemia são de fundamental importância para diminuir o risco da doença cardiovascular na DRC.
abstract: resumo Portadores de doença renal crônica (DRC) apresentam alterações lipídicas e da pressão arterial, que em conjunto a outras alterações funcionais, contribuem para o risco aumentado de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Este trabalho teve como objetivo discutir as dislipidemias e hipertensão arterial como fatores de risco para doenças
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Patients with chronic renal disease (CRD) show alterations in lipid profile and blood pressure, witch, in the presence of other functional alterations, contribute to increase the risk of cardiovascular diseases. This study aimed to discuss the role of dyslipidemia and hypertension as risk factors for cardiovascular diseases in patients with CRD, through a review of literature. Patients with CRD have usually
hypertriglyceridemia and low HDL-C levels, increased VLDL and IDL, abnormal LDL composition and normal or reduced total cholesterol (TC) levels, that predispose atherosclerosis. The hypertension may lead to cardiac insufficiency, left ventricular hypertrofy and a larger number of cardiovascular events. Therefore, the accurate management of blood pressure and the treatment of dyslipidemia are essential to decrease the risk of cardiovascular disease in CRD.
introdução A doença renal crônica (DRC) é caracterizada pela perda lenta, progressiva e de caráter irreversível da função renal, com inúmeras consequências metabólicas, nutricionais e funcionais. É uma doença de alta morbidade e mortalidade, com incidência e prevalência crescente no Brasil e em todo o mundo. As principais causas de DRC são o diabetes mellitus e hipertensão arterial, e em menor proporção, as glomerulonefrites, síndromes nefróticas e litíase renal, que também podem evoluir para DRC, já a presença de obesidade, Recebido: 29/01/2010 – Aprovado: 12/08/2010
nutrição clínica | mar/abr 2011 dislipidemia e tabagismo aceleram a progressão dessa doença (SANTOS et al, 2007; MARTIN, FRANCO, 2005). Atualmente, a DRC trata-se de um dos principais problemas de saúde pública do país. No Brasil, o número de pacientes em programa de diálise aumentou de 24 mil em 1994 para 59,153 mil em 2004 e para 70,872 mil pacientes em 2006. O custo dos programas de diálise e transplante renal no país é de cerca de R$ 1,5 bilhão por ano. De acordo com dados de 2006 do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SAI/SUS), a taxa de prevalência de pacientes em diálise por 100 mil habitantes em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo é de 53,11, 64,03 e 48,38 respectivamente (KLAFKE et al., 2005; LIMA, 2007; GODINHO et al., 2006; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). A doença renal crônica contribui, de forma significativa, para a morbidade e a mortalidade pelas doenças cardiovasculares, pois as dislipidemias e hipertensão arterial, alterações comuns na DRC, podem estar relacionadas a esse aumento (CANZIANI, 2004; CARMO et al., 2003; KLAFKE MORIGUICHI; BARROS, 2005). Dessa forma, este trabalho teve como objetivo revisar na literatura a influência das dislipidemias e hipertensão arterial como fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares em pacientes com doença renal crônica.
metodologia O método para levantamento bibliográfico consistiu na pesquisa de periódicos nas seguintes bases de dados: Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Brasil), SciELO (Scientific Electronic Library Online) e Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe
de Informação em Ciências da Saúde, Brasil). As seguintes palavras-chave foram cruzadas nos idiomas português, inglês e espanhol, de acordo com os descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Insuficiência renal crônica; doenças cardiovasculares; hipertensão e dislipidemias.
doenças cardiovasculares e doença renal crônica Os portadores de DRC apresentam alta prevalência de doenças cardiovasculares (DCVs). Além disso, fatores como inflamação, estresse oxidativo e desnutrição estão associados ao risco aumentado de mortalidade por doença cardiovascular em pacientes em tratamento dialítico (LIMA, 2006; KUNDHAL, LOK, 2005; CANZIANI, 2004; PECOITS-FILHO et al., 2002). O aumento do risco cardiovascular em pacientes renais é explicado, em parte, pela manifestação de fatores de riscos cardiovasculares como diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemias e em alguns casos história de obesidade (FERREIRA; ROCHA; SARAIVA, 2005; KLAFKE MORIGUICHI; BARROS, 2005; VIEIRA et al, 2007). Os mecanismos intrínsecos à lesão renal como toxicidade urêmica, aumento do estresse oxidativo, alteração na cascata de coagulação também têm origem na gênese precoce da aterosclerose observada nos portadores de DRC (MARTIN, FRANCO, 2005).
dislipidemias As dislipidemias são comuns em pacientes com DRC em tratamento conservador, em diálise ou após o transplante renal. Na DRC as
alterações dos níveis plasmáticos de lipídeos decorrem em grande parte de modificações da estrutura, função das lipoproteínas e das enzimas que atuam sobre o metabolismo dessas. As alterações fazem com que lipídeos não sejam devidamente metabolizados, permanecendo na circulação por períodos mais prolongados e sofrendo modificações que aumentam seu potencial aterogênico. Alterações que podem ser decorrentes de vários fatores inerentes à DRC como resistência à insulina, uso de heparina no tratamento dialítico e estresse oxidativo (LIMA, 2007). Os pacientes com DRC apresentam comumente dislipidemias com predomínio de hipertrigliceridemia e HDL (High Density Lipoprotein) sérico baixo (FERREIRA;ROCHA; SARAIVA., 2005; FRANK et al., 1978). Também podem ser encontrados níveis séricos de VLDL (Very Low Density Lipoprotein) e IDL (Intermediary Density Lipoprotein) aumentados, mas não necessariamente de LDL. A composição de LDL (Low Density Lipoprotein) é anormal, apresentando aumento no seu conteúdo de triglicerídeo. Além disso, ocorre acúmulo de remanescentes de lipoproteínas, quilomícrons, VLDL e IDL. Os remanescentes de lipoproteínas são ricos em colesterol e depletados em triglicérides, realçando a característica aterogênica dessas partículas. Essa alteração é proveniente da disfunção de enzimas como lipase lipoprotéica (LLP) e lipase hepática. A elevação grave e persistente da LDL, IDL e da lipoproteína (a), representa uma condição altamente aterogênica (TEIXEIRA, RIELLA, 2001; SIQUEIA; ABADALLA; FERREIRA, 2006; MAFRA; ABDALLA; COZZOLINO, 1999; BATISTA, RODRIGUES, 2004).
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O nível de colesterol total (CT) pode ser normal ou reduzido, sendo a redução frequentemente associada ao aumento da mortalidade em DRC. A redução do colesterol total menor que 150mg/dL pode estar associada a inflamação e desnutrição, que são comuns na uremia crônica, e ao aumento do risco cardiovascular em pacientes com DRC (LIMA, 2007). A dieta usualmente recomendada para essa fase do tratamento colabora para as alterações no perfil de lipoproteína, uma vez que altas concentrações de carboidratos e gorduras são frequentemente observados na alimentação de pacientes renais, devido à restrição protéica no tratamento conservador. Esse conjunto de alterações pode ser observado em grande parte dos casos ainda nas fases iniciais do declínio da função renal e acentuam à medida que a filtração glomerular declina ainda mais (GODINHO et al., 2006; FERREIRA; ROCHA; SAREIVA, 2005; LIMA, 2007). A resistência à insulina é associada ao aumento da síntese de lipoproteínas ricas em apoB e a redução no catabolismo de VLDL. A redução no catabolismo da VLDL ocorre devido a inibição de enzimas como lipase lipoprotéica e lipase triglicerídica hepática que removem triglicerídeos da VLDL. Além disso, a redução de apo C-II na superfície da molécula da VLDL e o uso de heparina em pacientes em hemodiálise também inibem a LPL e reduzem a remoção da VLDL do plasma (LIMA, 2007). O estresse oxidativo, comum em pacientes com doença renal crônica, aumenta a concentração da fração da LDL oxidada, que é particularmente aterogênica. A LDL oxidada reduz a síntese de partículas maduras de HDL, diminuindo a
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capacidade de remoção do colesterol dos tecidos. O metabolismo da HDL é também afetado pela inibição da atividade da enzima lecitina colesterol acil transferase (LCAT), que é necessária para a esterificação do colesterol livre e responsável pelo transporte reverso do colesterol pela HDL para o fígado (LIMA, 2007).
hipertensão arterial A hipertensão arterial é reconhecidamente o fator de risco mais importante sobre a progressão da lesão renal. O impacto dos níveis pressóricos descontrolados sobre a hemodinâmica glomerular tem ainda repercussão direta sobre a geração de outros fatores que perpetuam a lesão renal, como a ativação do sistema renina-angiotensina e o aparecimento de proteinúria, portanto o controle destes fatores necessita de ajuste pressórico adequado (ROSA, TAVARES, RIBEIRO, 2007). Barbosa et al. (2006) em um estudo epidemiológico envolvendo pacientes em início de diálise encontraram que a hipertensão arterial representou a principal causa para a insuficiência renal crônica, estando presente em mais da metade (58,8%) dos pacientes estudados. A fisiopatologia da hipertensão arterial na DRC é multifatorial, com destaque para a retenção de água e sódio, hiperatividade do sistema nervoso simpático e do sistema renina - angiotensina-aldosterona, hipertonia da musculatura lisa, relação endotelina-1 para óxido nítrico elevada, uso de eritropoietina recombinante e hiperparatireoidismo secundário (CARMO et al, 2003). Independente da etiologia da DRC mais de 80% dos pacientes com doença renal em estágio avançado apresentam hipertensão arterial quando iniciam o tratamento dialítico,
sendo que 40 a 50 % dos pacientes permanecem hipertensos mesmo com início da terapia renal substitutiva (TRS) (CARMO et al, 2003). De acordo com dados do NHANES III, cerca de 50% a 75% dos portadores de DRC são hipertensos (ROSA, TAVARES, RIBEIRO, 2007). A hipertensão arterial também pode exercer influência na mortalidade cardiovascular em pacientes na fase mais tardia da TRS. Martins e Cesarino (2005) enfatizam que a expectativa de vida de pacientes em estágio final de doença renal é muito menor do que a descrita nos diversos grupos da mesma faixa etária da população geral, entre as principais causas de morte estão os eventos cardiovasculares. Dentre eles, a hipertrofia ventricular esquerda (HVE) é o mais comum, entretanto, mesmo no estágio inicial da DRC há aumento da prevalência de HVE acima do esperado para o grau de hipertensão. A HVE é resultado de um conjunto de fatores como: presença de hipertensão arterial, controle da hipertensão arterial, hiperparatireoidismo, anemia, sobrecarga de volume devido ao ganho de peso interdialítico e tempo de tratamento hemodialítico (CARMO et al, 2003; FILHO et al, 2004; MARTIN, FRANCO, 2005). Filho et al (2004), estudando a influência do ganho de peso interdialítico sobre a pressão arterial e hipertrofia ventricular esquerda em 216 pacientes sob tratamento hemodialítico, verificou elevada prevalência de HVE (63,6%) e observou correlação entre o maior ganho de peso interdialítico com o nível mais elevado de pressão arterial sistólica, também foi observada a associação entre HVE e ganho de peso interdialítico. Ressaltando a importância do GPI sobre os níveis
nutrição clínica | mar/abr 2011 de PA que quando aumentados cronicamente acabam determinando o surgimento da HVE. Estudo transversal, citado por Junior et al (2006), mostrou correlação estatisticamente significante entre índice de massa do ventrículo esquerdo e pressão arterial sistólica, sendo que a associação de ambos foi relacionada à maior mortalidade por doenças cardiovasculares. Carmo et al (2003) estudando o impacto da hipertensão arterial sobre a massa do ventrículo esquerdo em pacientes em hemodiálise descreveram correlação positiva entre aumento da massa do ventrículo esquerdo e elevação da pressão arterial sistólica. Dados do estudo
“Cardiovascular Risk Extended Evaluation in Dialysis Patients” (CREED) indicaram maior número de eventos cardiovasculares em pacientes com níveis de pressão sistólica pré-diálise superiores a 150 mmHg (ROSA, TAVARES, RIBEIRO, 2007). No estudo “Systolic Hypertension Elderly Program” (SHEP) foi observado que para pessoas idosas com disfunção renal o tratamento da hipertensão sistólica isolada foi capaz de prevenir mais eventos cardiovasculares do que entre os idosos com função renal normal, o que mostra que o controle da pressão arterial tem função cardioprotetora
(MARTIN, FRANCO, 2005).
conclusão Os fatores de risco tradicionais para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, dislipidemias e hipertensão, estão presentes na maioria dos indivíduos portadores de doença renal crônica, associados à fisiopatologia, evolução da própria doença e tratamento inadequado. Assim é imprescindível que os portadores de DRC sejam estimulados a manter controlados os níveis pressóricos e o nível sérico de lipoproteínas, durante todo o período de evolução da DRC para diminuir a morbi-mortalidade pelas doenças cardiovasculares.
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Agradecimentos: À Nutricionista Michele Guinazi, ex-professora da FAESA, pela orientação inicial do projeto.
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mar/abr 2011
| nutrição e pediatria
A Pretensão de Amamentar e as Vantagens do Aleitamento Materno sob a Ótica das Puérperas Atendidas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (HU/UFSC) The Intention of Breastfeeding and its Benefits from the Perspective of Puerperal Women Cared at the University Hospital of Federal University of Santa Catarina (HU/UFSC)
Natália
Durigon
Zucchi
-
Humana Aplicada e professora do
em amamentar seus filhos e avaliar
Acadêmica do curso de graduação
Departamento de Educação Física
seus
em Nutrição e bolsista do Programa
da Universidade Federal de Santa
amamentação. Foi um estudo
de Educação Tutorial – PET Nutrição
Catarina (UFSC).
descritivo com 201 puérperas. Cerca
(SESu/MEC) da Universidade Federal
Dra. Ana Carolina Berenhauser -
de 80% da amostra já haviam
de Santa Catarina (UFSC).
Nutricionista do Hospital Universitário
recebido alguma informação sobre
da Universidade Federal de Santa
aleitamento materno e 79,1%
Catarina (UFSC).
afirmaram que esta prática deveria
Luana
Meller
Manosso
-
Acadêmica do curso de graduação em Nutrição da Universidade Federal
conhecimentos
sobre
manter-se até o sexto mês. Dentre
de Santa Catarina (UFSC).
palavras-chave - amamentação,
os motivos alegados acerca da
Lisandra Aliprandini - Acadêmica
leite materno, gestação
pretensão de amamentar, os mais
do curso de graduação em Nutrição
citados foram: por ser um alimento
da Universidade Federal de Santa
keywords - breastfeeding, human
completo (68,2%) e prevenir doenças
Catarina (UFSC).
milk, pregnancy
ao bebê (39,3%). As respostas mais
Profa. Dra. Ileana Arminda Mourão Kazapi - Mestre em Ciência dos
Alimentos.
Professora
citadas sobre vantagens do aleitamento materno foram: aumento
resumo
do vínculo mãe/filho (95,5%) e de que
aposentada do Departamento de
O leite materno é o melhor
o leite possui os nutrientes
Nutrição da Universidade Federal de
alimento para os bebês, sendo
necessários ao bebê até os seis
Santa Catarina (UFSC).
fundamental para a saúde destes. O
meses (93%). Apesar das puérperas
Profa. Dra. Aline Rodrigues Barbosa - Doutora em Nutrição
estudo objetivou identificar a intenção
apresentarem conhecimentos gerais
das puérperas atendidas no HU/UFSC
sobre o assunto, há necessidade de
14
Recebido: 20/09/2010 – Aprovado: 15/03/2011
nutrição e pediatria | mar/abr 2011 promover estratégias que incentivem
implementada
do
das puérperas atendidas no Hospital
a amamentação exclusiva.
desenvolvimento de ações que
Universitário da Universidade Federal
previnam o desmame precoce (REA,
de Santa Catarina (HU/UFSC) em
2004). Assim, as políticas de
amamentar seus filhos e avaliar seus
aleitamento
conhecimentos básicos sobre a
abstract The breast milk is the best food
através
materno
são
amamentação.
for babies and is essential to their
imprescindíveis para promover os
health. The objective of this study
direitos humanos e propiciar um
was to identify the intention of
adequado
puerperal women cared at the HU/
desenvolvimento de todas as crianças
Nesse estudo descritivo, foram
UFSC to breastfeed their children
(BRASIL, 2002). De acordo com a
entrevistadas 201 puérperas
and assess their knowledge about
World Health Organization (1991;
(amostra não probabilística), com
breastfeeding. It was a descriptive
2001), recomendam-se a prática do
idade igual ou superior a 18 anos,
study involving 201 puerperal women.
aleitamento materno exclusivo por
atendidas no HU/UFSC. A coleta dos
About 80% of the sample had
seis meses e a manutenção do
dados foi feita por três estudantes de
received
about
aleitamento materno acrescido de
graduação e ocorreu no período de
breastfeeding and 79,1% declared
alimentos complementares até os
maio a setembro de 2009, perante a
that this practice should continue
dois anos de vida ou mais.
aprovação do Comitê de Ética em
information
crescimento
e
metodologia
until the sixth month. Among the
Dentre as vantagens que a
Pesquisa com Seres Humanos da
reasons reported for the pretension
prática do aleitamento materno
UFSC (n° 078/09). Toda a amostra
of breastfeeding, the most frequently
propicia, destacam-se: proteção das
assinou o Termo de Consentimento
cited were: being a complete food
vias respiratórias e do trato
Livre e Esclarecido.
(68.2%) and preventing diseases in
gastrointestinal,
proteção
Os dados foram coletados
the baby (39.3%). The most
imunológica, ganho de peso
utilizando-se um questionário próprio,
commonly cited answers about
adequado, é mais barato do que
testado em um piloto com cerca de
advantages of breastfeeding were:
amamentar com fórmulas infantis e
10 puérperas, para assim treinar a
increasing the link between mother
aumenta o vínculo entre mãe e filho
equipe na aplicação do instrumento.
and child (95.5%) and that milk has
(AMERICAN
OF
O questionário utilizado continha
the necessary nutrients to the baby
PEDIATRICS, 2005; BRASIL, 2002).
questões objetivas classificadas
until six months of age (93%).
Os objetivos do presente
como fechadas (dicotômicas ou
Despite mothers’ general knowledge
estudo foram identificar a intenção
respostas de múltipla-escolha).
ACADEMY
about the subject, strategies that encourage exclusive breastfeeding are still needed.
Tabela 1 – Variáveis: idade, pré-natal, trabalho, paridade e informação sobre aleitamento materno das puérperas atendidas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009. Variáveis
introdução São crescentes as evidências científicas que demonstram que a
Idade (anos)
Pré-natal
prática do aleitamento materno é a melhor maneira para alimentar a
Informação sobre aleitamento materno
criança recém-nascida. Dessa forma, autoridades de saúde recomendam que
a
amamentação
seja
Trabalho Paridade
n
% Puérperas
18-25
9
45,3
26-32
6
32,3
32-41
4
22,4
Fez pré-natal
197
98,0
160
79,6
Não recebeu
4
20,4
Trabalha
120
59,7
Não trabalha
81
40,3
Primeiro filho
110
54,7
Mais de um filho
91
45,3
Não fez pré-natal Já recebeu
2,
15
mar/abr 2011
| nutrição e pediatria
Foram coletadas informações sobre
estatístico SPSS® versão 15.0
relataram ter recebido informações
a pretensão das mães em amamentar
(SPSS, 2006).
sobre aleitamento materno (79,6%).
seus
filhos,
bem
como
os
conhecimentos destas sobre
Esteve entre seis e dez o número de
resultados
consultas pré-natais realizadas
Participaram do estudo 201
durante o período gestacional, o que
Para a análise descritiva, foram
puérperas com média de idade de
representou um percentual de 71,5%
utilizados médias, desvios padrão
27,14 anos (± 6,032). Os dados da
das
(idade) e proporção de indivíduos
Tabela 1 mostram que a maior
questionadas sobre o trabalho, a
(frequência absoluta e relativa) para
frequência das entrevistadas era da
maior parte das mães referiu que
demais variáveis. Para a análise dos
faixa de 18 a 25 anos, que realizaram
estavam empregadas (59,7%) (Tabela
dados, foi utilizado o programa
consultas pré-natais (98%) e
1)
amamentação.
Tabela 2 – Pretensão do tempo de aleitamento materno exclusivo das puérperas atendidas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009.
entrevistadas.
e
Quando
apresentavam
algum
conhecimento sobre seus direitos trabalhistas (73,3%). Das mães empregadas, 30,4% pretendiam ficar
Duração da amamentação exclusiva
n
%
0 a 3 meses
17
8,5
afastadas do serviço por menos de
4 a 6 meses
43
21,4
quatro meses.
6 meses
116
57,7
Mais de 6 meses
25
12,4
Do total da amostra estudada, 45,3% não eram primíparas (Tabela 1), sendo que, destas, 40,8% realizaram a prática da amamentação exclusiva por seis ou mais meses no(s) filho(s) anterior(es); 22,3% por quatro a cinco meses; 20,4% por menos de quatro meses; e 16,5% referiram não ter amamentado. Todas
as
puérperas
entrevistadas referiram ter a pretensão de amamentar o filho que acabara de nascer, sendo que 95% pretendiam que essa atividade fosse realizada de maneira exclusiva. Porém, quando pesquisado o conhecimento dessas mulheres a respeito da duração do aleitamento materno
exclusivo,
79,1%
responderam que a amamentação exclusiva deveria ser feita até o sexto mês de vida do bebê, 11% responderam que deveria ser feita por menos de seis meses e 10% que deveria ser feita por mais de seis meses.
16
nutrição e pediatria | mar/abr 2011 Dentre os motivos da pretensão
recebido as mesmas. Estes valores
Dados de outros estudos
de amamentar, a maioria das
foram abaixo dos encontrados por
(SANDRE-PEREIRA et al., 2000;
puérperas (68,2%) desejava fazê-lo,
Percegoni et al. (2002), em estudo
RIBEIRO et al., 2004) também
pois o leite materno é um alimento
realizado em Viçosa/MG, e por
demonstraram
completo para o bebê. Este e outros
Sandre-Pereira et al. (2000), em
conhecimento das mães a respeito
motivos referidos pela amostra estão
estudo realizado no Rio de Janeiro/
do período de amamentação, em que
apresentados na Figura 1.
RJ, que relataram que 67,3% e 46,7%
83,3% e 76%, respectivamente,
Quando questionadas sobre
das puérperas, respectivamente, não
sabiam a duração ideal do
amamentação, 84,6% acreditavam
haviam recebido informações sobre
aleitamento materno exclusivo. Já na
que o aleitamento materno exclusivo
aleitamento materno. Porém, em
pesquisa realiza por Guedert (2003),
garante o desenvolvimento completo
estudo anterior realizado em
apenas 30,6% da amostra sabiam
do bebê nos seis primeiros meses
Florianópolis/SC (GUEDERT, 2003),
esta informação.
de vida (Tabela 2) e 57,7% do total
o percentual de mulheres que não
Para essas mães, o principal
da amostra queriam oferecê-lo de
havia recebido tais informações
motivo pelo qual pretendiam
forma exclusiva. A existência de leite
(18,8%) foi menor que o do presente
amamentar o bebê, relacionava-se ao
fraco foi relatada como verdadeira por
estudo.
fato do leite ser um alimento
um
grande
Sobre a questão do trabalho,
completo para a criança (68,2%).
benefícios
em torno de 60% das puérperas
Além disso, o segundo motivo mais
propiciados pelo leite materno, foram
estavam empregadas quando
citado - 39,3% das respostas - foi que
apresentadas alternativas nas quais
engravidaram, sendo que, destas,
essa prática seria capaz de prevenir
as mães respondiam acreditar ou
73,3%
algum
doenças para o bebê. Segundo
não.
foram
conhecimento sobre os direitos
Sandre-Pereira et al. (2000), o valor
consideradas verdadeiras pela
trabalhistas, valores estes maiores do
nutricional e a saúde do bebê são os
maioria (Figura 2), sendo que a
que os encontrados por Carvalhais e
benefícios mais associados pelas
informação mais duvidosa foi a
Simões (1997), em que somente
mães em relação à prática do
respeito do leite materno proteger a
19% da amostra afirmaram conhecer
aleitamento materno, mostrando que
mãe de algumas doenças, aceita por
alguma lei. Além disso, daquelas que
o foco da amamentação está
apenas 53,7% da amostra. Já a
referiram estar trabalhando, 30,4%
principalmente centrado na criança.
alternativa mais aceita foi a que
pretendiam ficar afastadas do
Essa concepção também foi
considerava o aumento do vínculo
trabalho por menos de quatro meses,
encontrada em estudo realizado por
entre mãe e filho propiciado pela
valores
os
Ramos e Almeida (2003), que revelou
amamentação (95,5%).
encontrados por Guedert (2003), em
que as mães consideram ao
que 29,6% da amostra ficaram
amamentar
afastadas do trabalho por quatro
preocupação exclusiva com o bem-
meses ou menos.
estar e saúde da criança.
12,4% das mães. Diante
As
dos
sentenças
discussão Das puérperas que participaram
apresentavam
parecidos
com
seus
filhos
a
do estudo, 98% relataram ter
Silva (2005) verificou que o
A respeito dos benefícios do
realizado consultas pré-natais.
retorno ao trabalho representou uma
leite materno, a maioria das mulheres
Apesar deste elevado percentual,
dificuldade para a continuidade do
desta pesquisa referiu acreditar nas
visualiza-se que nem todos os
aleitamento materno, o que poderia
várias qualidades propiciadas pelo
serviços de saúde passaram
levar ao possível desmame precoce
mesmo. Outros estudos (ESCOBAR,
informações sobre aleitamento
e à utilização de outras práticas,
2002; PERCEGONI, 2002) também
materno, já que 20,4% não haviam
como a mamadeira.
demonstraram
que
existe
17
mar/abr 2011
| nutrição e pediatria
conhecimento das mães sobre a
realizado por Araújo et al. (2008)
apresentou noções básicas sobre os
importância do leite materno.
também demonstrou que as mães
direitos da licença à maternidade.
Ainda que haja conhecimento
sabiam da relação de amamentar
Apesar disso, percebeu-se que
sobre os benefícios do leite materno
com a prevenção de doenças para o
alguns assuntos relacionados ao ato
para o bebê, houve dúvidas das mães
bebê, porém os outros benefícios do
de amamentar ainda não estão
quanto ao ato de amamentar proteger
leite materno ainda não eram muito
totalmente elucidados. Dentre estes,
as mesmas de doenças, sendo que
conhecidos.
destaca-se o desconhecimento sobre
53,7% atribuíram esta vantagem. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2007) ressalta
que
a
prática
algumas das vantagens que o leite
conclusão
materno proporciona, principalmente
da
As puérperas do presente
em relação aos benefícios às mães.
amamentação auxilia a mãe a reduzir
estudo apresentaram conhecimentos
Considerando-se a importância
o risco de doenças como o diabetes
gerais sobre o aleitamento materno.
do leite materno e os resultados
e o câncer de mama. Em estudo de
O tempo em que o leite materno deve
obtidos no estudo, visualiza-se a
Carvalhais e Simões (1997), houve
ser oferecido de forma exclusiva, bem
necessidade de dar continuidade as
também questionamentos sobre este
como alguns dos benefícios
estratégias que promovam a
fato, em que 48,5% da amostra não
propiciados
da
amamentação exclusiva até o sexto
acreditavam existir correlação da
amamentação, foram as informações
mês de vida e que esclareçam as
amamentação com a diminuição do
que a amostra demonstrou maior
dúvidas ainda existentes em relação
risco de câncer de mama. Estudo
conhecimento. A causuística também
a este assunto.
pela
prática
referências • AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics, v.115, n.2, p.496-506, 2005. • ARAÚJO, O.D.; CUNHA, A.L.; LUSTOSA, L.R. et al. Aleitamento materno: fatores que levam ao desmame precoce. Rev Bras Enferm, Brasília, v.61, n.4 p.488-492, 2008. • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Organização Pan Americana da Saúde. Guia Alimentar para crianças menores de dois anos. Secretaria de Políticas de Saúde. – Brasília: Organização Pan Americana da Saúde, p.8, 2002. • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à saúde. Promovendo o aleitamento materno. – Brasília: Ministério da Saúde, 2ª edição, revisada, álbum seriado,18p, 2007. • CARVALHAIS, C.K.O.; SIMÕES, M.J.S. Conhecimento das mães sobre o aleitamento materno, em Américo Brasiliense. Alimentos e Nutrição, São Paulo, SP, v.8, p.57-63, 1997. • ESCOBAR, A.M.U. et al. Aleitamento materno e condições socioeconômico-culturais: fatores que levam ao desmame precoce. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, PE, v.2, n.30, p.253-261, 2002. • GUEDERT, J.M. Fatores associados ao aleitamento materno em mulheres trabalhadoras da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, 1983. 117 p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2003. • PERCEGONI, N. et al. Conhecimento sobre aleitamento materno de puérperas atendidas em dois hospitais de Viçosa, Minas Gerais. Rev. Nutr., Campinas, v. 15, n. 1, Jan., 2002. • SANDRE-PEREIRA, G. et al. Conhecimentos maternos sobre amamentação entre puérperas inscritas em programa de pré-natal. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, RJ, v.16, n.2, p.457-466, 2000. • RAMOS, C.V.; ALMEIDA, J.A.G. Alegações maternas para o desmame: estudo qualitativo. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v. 79, n.5, p.385-390 2003. • REA, M.F. Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v.80, n.5, p.142-146, 2004. • RIBEIRO, E.M. et al. O conhecimento das mães sobre aleitamento materno no Hospital São Lucas. Rev Bras Promoção Saúde. Juazeiro do Norte, CE, v.17, n.4, p.170-176, 2004. • SILVA, I.A. A vivência de amamentar para trabalhadoras e estudantes de uma universidade pública. Rev. Bras. Enferm. Brasília, v.58, n.6, p.641646, 2005. • SPSS Inc. Statistical Package in Social Sciences – SPSS, version 15.0, Chicago, Illinois EUA, 2006. • WHO. World Health Organization. 54th World Health Assembly. Global strategy for infant and young child feeding. The optimal duration of exclusive breastfeeding. Geneva. p1-5, 2001. (WHA54/Inf.Doc./4). • WHO/UNICEF. World Health Organization. The United Nations Children’s Fund. Innocenti Declaration on the protection, promotion and support of breastfeeding. Ecol Food Nutr, v.26, p.271-273, 1991.
18
mar/abr 2011
| nutrição hospitalar
Qualidade da Dieta de Pacientes Internados para Tratamento Quimioterápico Diet Quality of Hospitalized Patients in Chemotherapy
abstract
Profa. Dra. Ana Carolina Pinheiro Volp - Nutricionista pela Universidade
torna-se imprescindível, a fim de elaborar estratégias nutricionais para
Patients with cancer have
Federal do Paraná (UFPR), Curitiba-
recuperação. O presente trabalho
altered nutritional status and
PR; Especialista em Terapia
teve como objetivo avaliar as
become more vulnerable to
Nutricional pela UFPR; Mestre em
associações entre a qualidade da
chemotherapy. Knowing the overall
Ciência
pela
dieta de pacientes internados para
diet quality becomes essential in
Universidade Federal de Viçosa
tratamento quimioterápico, medida
order to develop nutritional
(UFV), Viçosa- MG; Doutora em
pelo Índice de Qualidade da Dieta
strategies to recovery. This study
Ciência e Tecnologia de Alimentos
(IDQ) e Contagem dos Alimentos
aimed to evaluate the associations
pela UFV. Professora Adjunto da
Recomendados
between diet quality of admitted
Universidade Federal de Ouro Preto
medidas
(UFOP), Ouro Preto- MG.
indicadores dietéticos. Participaram
measured by the Dietary Quality
Dra. Talita Campos Braga -
do estudo 18 indivíduos. Não houve
Index (DQI) and Recommended
Nutricionista pela Faculdade de
correlação entre os índices com os
Food
Minas, Muriaé- MG.
dados antropométricos. Já em
anthropometric measurements and
relação aos dados de ingestão de
dietary data. Study participants
câncer,
dieta, houve correlação positiva entre
were 18 individuals. There was no
antropometria,
o IDQ com carboidratos, fibras,
correlation between indexes with
dietética, estado nutricional.
lipídeos, gordura saturada e sódio.
anthropometric data. In relation to
keywords - cancer, chemotherapy,
Os resultados demonstram que o
dietary data, there was a positive
anthropometry, dietetics, nutritional
padrão alimentar somente pôde ser
correlation between DQI with
status.
captado pelo IDQ, provavelmente
carbohydrates, fiber, fat, saturated
devido aos nutrientes avaliados
fat and sodium. The results show
fazerem
seus
that the dietary pattern could only
componentes. Visto que o ambiente
be captured by IDQ, probably by
alimentar
é
the nutrients being part of its
apresentam estado nutricional
multidimensional, este pôde ser
components. Since the human food
alterado
mais
influenciado pelo estado de doença
environment is multidimensional,
vulneráveis à quimioterapia.
e ambiente hospitalar, demonstrado
this might be influenced by disease
Conhecer a qualidade global da dieta
pelos baixos escores encontrados.
status and hospital environment,
da
Nutrição
palavras-chave: quimioterapia,
resumo Pacientes
20
e
com
tornam-se
câncer
(CAR),
com
antropométricas
parte
de
humano
e
patients
for
Score
chemotherapy,
(CAR)
with
Recebido: 10/12/2010 – Aprovado: 20/03/2011
nutrição hospitalar | mar/abr 2011 demonstrated by the low scores
quantitativamente e com acurácia
quimioterápico, medida pelos índices
found.
(ex: qualidade de vida relacionada à
IDQ
saúde, dentre outros). Todos os
antropométricas e indicadores
índices
medidas
dietéticos, bem como verificar se
câncer
combinadas de variáveis individuais
existe associação entre esses dois
apresentam estado nutricional
(itens do índice ou componentes) e
índices.
alterado pelo provável aumento do
cada componente do índice expressa
gasto energético, acompanhado de
uma diferente dimensão do mesmo.
redução da ingestão alimentar. Desta
Geralmente, estes componentes
forma, tais pacientes tornam-se mais
possuem escores usados de uma
transversal. O número de voluntários
vulneráveis
tratamento
maneira arbitrária em relação ao seu
(n=18) foi obtido por livre demanda de
quimioterápico e este pode ser
peso e, com isso, eles são somados
internamentos durante um período de
prejudicado quando associado aos
no sentido de obter-se um escore
1 mês (Novembro, 2009).
fatores iatrogênicos hospitalares
final que melhor descreva uma
(GRANT, 2010).
condição de saúde, de ambiente e
introdução Pacientes
com
ao
A desnutrição em pacientes
possuem
atitudes de uma pessoa ou
hospitalizados geralmente relaciona-
população
se
PANAGIOTAKOS, 2009).
com
o
aumento
de
(KOURLABA;
e
CAR,
com
medidas
sujeitos e métodos Trata-se
de
um
estudo
voluntários O estudo foi realizado com 18 indivíduos (8 mulheres e 10 homens), com idade entre 37 e 74 anos. Para
morbimortalidade, contribui para
Dentre estes índices, incluem-
prolongar o tempo de internação,
se o Índice de Qualidade da Dieta
questionado
bem como aumenta os custos
(IDQ) (PATTERSSON; HAINES;
disponibilidade. O critério de inclusão
hospitalares
POPKIN, 1994) e a Contagem
adotado foi ser paciente internado
(Escore)
Alimentos
para tratamento quimioterápico. O
CORREIA; CAMPOS, 2010). Em
Recomendados (CAR) (KANT et al.,
fator étnico não foi considerado,
vista disso, a avaliação do estado
2000). O IDQ tem sido usado para
devido
nutricional torna-se imprescindível
avaliar o grau de conformidade com
característica
para detectar os pacientes em risco
uma dieta saudável (PATTERSSON;
brasileira.
nutricional e/ou desnutridos e, desta
HAINES; POPKIN, 1994) e se baseia
Cada voluntário assinou em
maneira, planejar estratégias
na importância de determinados
duplicata o Termo de Consentimento
nutricionais para recuperação.
nutrientes e nas recomendações de
Livre e Esclarecido, o qual foi
Uma das formas de avaliar o
dieta da Diet and Health (NRC, 1989).
previamente aprovado pelo Comitê de
estado nutricional é a avaliação
A CAR foi feita a partir de alimentos
Ética em Pesquisa da FAMINAS.
dietética. Dentre os instrumentos de
indicados pelos guias de ingestão
avaliação dietética, alguns índices
atual (KANT et al., 2000).
DECKER;
(MACMAHON; OTTERY,
1998;
dos
participar do estudo, o voluntário era
à
sobre
sua
heterogeneidade da
população
medidas antropométricas e de composição corporal
que avaliam a qualidade global da
Até o momento, pouco se
dieta têm sido propostos (KANT,
conhece sobre a qualidade da dieta
1996; WAIJERS; FESKENS; OCKÉ,
de pacientes hospitalizados para
As medidas antropométricas e
2007; VOLP et al., 2010).
tratamento quimioterápico, avaliada
de composição corporal foram feitas
Os índices são ferramentas
por meio de índices dietéticos. Em
após o voluntário realizar 12 horas de
compostas com o objetivo de medir
vista disso, o presente trabalho teve
jejum. A estatura foi determinada em
e quantificar o padrão alimentar, que
como objetivo avaliar as associações
estadiômetro vertical milimetrado de
envolvem atitudes e crenças e que
entre a qualidade da dieta de
precisão de 1,0 mm. O peso foi aferido
se acredita ser muito difícil medir
pacientes internados para tratamento
utilizando-se balança eletrônica
21
mar/abr 2011
| nutrição hospitalar
digital elétrica, com capacidade
teste de Shapiro-Wilk a 5% de
No presente trabalho, a média
máxima de 150 kg e precisão de 0,05
significância para verificar a
de ingestão calórica foi de 27,89 kcal/
kg (divisão de 50 g) (JELLIFFE,
normalidade da distribuição dos
kg/dia e de proteínas foi de 2,24 gr/
1968). O IMC foi calculado por meio
dados. Foi utilizada a correlação de
kg/dia (17,34%), sendo consideradas,
da razão entre o peso (kilogramas) e
Spearman para rastrear a associação
de uma maneira geral, baixa e alta,
o quadrado da altura (metros)
entre as os valores dos índices com
respectivamente. Deve-se ressaltar
(SALAS-SALVADO et al., 2007).
as medidas antropométricas e os
que estes valores representarem a
indicadores dietéticos. As análises
média do consumo pela amostra do
feita no ponto médio entre a última
estatísticas
efetuadas
estudo e que cada paciente necessita
costela e a crista ilíaca, e a
utilizando-se o software SPSS 17.0.
de uma recomendação calórica e
circunferência do quadril foi feita na
Foi considerado o nível de significância
proteica específica de acordo com seu
região glútea, circundando a maior
estatística de 5% de probabilidade.
grau de estresse metabólico
A circunferência da cintura foi
foram
circunferência horizontal entre a cintura e os joelhos, sem contração
(catabólico). Apesar do registro de
resultados e discussão
alimentos informar a ingestão atual,
dos glúteos. Ambas foram realizadas
Os valores descritivos referentes
seria necessário pelo menos mais
utilizando-se uma fita métrica flexível
aos dados antropométricos e de
dois dias de utilização de tal
e inelástica com precisão de 1,0 mm.
composição corporal (TABELA 1),
instrumento para informar com mais
O índice cintura-quadril (ICQ) também
bem como os valores dos índices e
fidedignidade a ingestão calórica-
foi calculado (SALAS-SALVADO et al.,
de ingestão de dieta (TABELA 2), são
proteica (CHALMERS et al., 1952).
2007). Tais medidas foram realizadas
apresentados abaixo.
Um estudo estratificou, de
em duplicata, por estagiária treinada.
indicadores dietéticos O conteúdo energético (kcal) de macronutrientes [carboidratos (gr), carboidratos (%), fibras (gr), lipídeos
TABELA 1 – Dados antropométricos e de composição corporal. Muriaé: Novembro, 2009. Dados
Média ± DP
Altura (cm)
1,62 ± 0,08
Peso (kg)
65,61± 14,72
IMC (kg/m2)
25,83 ± 7,04
CC (cm)
86,82 ± 12,18
(gr), lipídeos (%), gordura saturada
CQ (cm)
96,59 ± 8,10
(gr), colesterol (gr), proteínas (gr),
ICQ (cm)
0,89 ± 0,06
proteínas (%)] e de micronutrientes TABELA 2 – Valores dos índices e de ingestão de dieta. Muriaé: Novembro, 2009.
[sódio (mg), ferro (mg) e cálcio (mg)] das dietas anotadas em registro de
Dados
alimentos, antes do tratamento
IDQ
13,08 ± 27,34
CAR
6,78 ± 14,0
Calorias
1830 ± 793
quimioterápico, foi analisado utilizando
Média ± DP
o software AVANUTRI. Em seguida,
Proteínas (gr)
146,97 ± 304,44
a qualidade da dieta foi determinada
Proteínas (%)
17,34 ± 5,0
mediante cálculo dos seguintes
Carboidratos (gr)
513,68 ± 1059,60
Carboidratos (%)
57,21 ± 8,90
Lipídeos (gr)
107,78 ± 223,76
HAINES; POPKIN,1994) e CAR
Lipídeos (%)
25.44 ± 6,58
(KANT et al., 2000).
Fibras (gr)
23,06 ± 47,84
Sódio (mg)
4124,65 ± 8570,89
índices: IDQ (PATTERSSON;
métodos estatísticos Os dados são apresentados como a média ± DP. Foi utilizado o
22
Ferro (mg)
25,05 ± 51,78
Cálcio (mgr)
1363,26 ± 2834,35
Colesterol (mg)
355,54 ± 736,89
Gordura saturada (gr)
34,88 ± 72,45
nutrição hospitalar | mar/abr 2011 acordo com a Avaliação Subjetiva
como as correlações entre os índices
Global (ASG) (eutrofia; risco de
e os valores de ingestão de dieta
no
desnutrição ou moderadamente
(Tabela 4), são apresentados abaixo.
demonstrado que as mesmas
desnutridos e desnutridos), a média
No presente trabalho, não
apresentaram dieta de pobre
do estágio tumoral, peso e IMC, que
houve correlação significativa entre os
qualidade, como indicada pelos
foi de 2,89; 3,68 e 4,00 (p<0,0001);
índices que avaliam a qualidade da
baixos escores do índice avaliado
60,85; 58,70 e 41,70 kg (p= 0,01);
dieta e os dados antropométricos e
(índice de alimentação saudável-
23,66; 22,93 e 17,36kg/m (p=0,004),
de composição corporal (p>0,05). Já
IAS). Em análise de consumo
respectivamente, para pacientes
em relação aos dados de ingestão
dietético,
admitidos
tratamento
de dieta, houve correlação positiva
apresentaram baixa ingestão de
quimioterápico (MONTOYA, et al.,
entre o IDQ com carboidratos (gr),
frutas, hortaliças, cereais integrais e
2010). Estes resultados confirmam
fibras (gr), lipídeos (gr), gordura
gordura. Por outro lado, tais
a importância da antropometria, dieta
saturada (gr) e sódio (mg). Ou seja:
participantes
e estado nutricional (parâmetros
quanto maior o valor do IDQ (pior
quantidades
avaliados na ASG) em pacientes
qualidade), maior era o consumo de
recomendadas de sal, gorduras
internados para quimioterapia.
2
para
Em um estudo com mulheres pós-parto
imediato,
tais
foi
mulheres
consumiam mais
do
que
carboidratos, fibras, lipídeos, gordura
saturadas e calorias “vazias”. Ainda:
As correlações entre os índices
saturada e sódio. Já para o índice
os escores do IAS foram capazes de
que avaliam a qualidade da dieta e
CAR, não foi encontrada associação
predizer de maneira inversa o IMC,
os dados antropométricos e de
positiva com a dieta, tampouco com
as concentrações de colesterol total
composição corporal (Tabela 3), bem
o IDQ (p>0,05).
e de colesterol LDL (low density lipoprotein: lipoproteína de baixa
Tabela 3 – Correlações entre os índices IDQ e CAR e os dados antropométricos e de composição corporal. Muriaé: Novembro, 2009.
densidade) plasmáticas, e de maneira
Dados
IDQ
CAR
direta o colesterol HDL (high density
Altura (cm)
r= -0,052; p= 0,838
r= -0,134; p= 0,596
lipoprotein: lipoproteína de alta
Peso (kg)
r= -0,009; p= 0,973
r= -0,122; p= 0,629
IMC (kg/m2)
r= 0,077; p= 0,760
r= -0,022, p= 0,930
CC (cm)
r= 0,055; p= 0,829
r= -0,146; p= 0,564
sugerem mais estudos para verificar
CQ (cm)
r= 0,039; p= 0,877
r= -0,064; p= 0,801
as alterações de dieta (crenças e
ICQ (cm)
r= 0,023; p= 0,929
r= -0,362; p= 0,140
tabus alimentares) associadas à
densidade) plasmático. Os autores
antropometria e perfil lipídico, que Tabela 4 – Correlações entre os índices IDQ e CAR e os valores de ingestão de dieta. Muriaé: Novembro, 2009.
podem ocorrer especificamente nesta
Dados
IDQ
fase de vida (SHAH et al., 2010).
IDQ
—-
—-
CAR
r= 0,090; p= 0,705
—-
Calorias
r= 0,191; p= 0,434
r= 0,025; p= 0,919
Proteínas (gr)
r= 0,333; p= 0,163
r= 0,064; p= 0,795
(2010), os voluntários apresentaram
Proteínas (%)
r= -0,335; p= 0,175
r= -0,277; p= 0,265
baixos escores da CAR (pontuação
Carboidratos (gr)
r= 0,620; p= 0,004
r= 0,354; p= 0,126
de 0 a 21= dieta de pobre a alta
Carboidratos (%)
r= -0,091; p= 0,718
r= 0,225; p= 0,369
Lipídeos (gr)
r= 0,560; p= 0,013
r= 0,271; p= 0,263
Lipídeos (%)
r= 0,330; p= 0,181
r= -0,089; p= 0,725
(pontuação de 0 a 16= dieta de alta
Fibras (gr)
r= 0,610; p= 0,006
r= 0,231; p= 0,341
a pobre qualidade), ou seja,
Sódio (mg)
r= 0,627; p= 0,004
r= 0,078; p= 0,750
apresentaram dietas classificadas
Ferro (mg)
r= 0,263; p= 0,276
r= 0,155; p= 0,527
Cálcio (mgr)
r= 0,013; p= 0,959
r= 0,042; p= 0,864
Colesterol (mg)
r= 0,379; p= 0,110
r= 0,073; p= 0,767
consideração importante em relação
Gordura saturada (gr)
r= 0,700; p= 0,001
r= 0,023; p= 0,924
à abordagem na avaliação da
CAR
No presente estudo, da mesma forma que no estudo de Shah et al.
qualidade) e altos escores do IDQ
como pobre qualidade. Uma
23
mar/abr 2011
| nutrição hospitalar
qualidade da dieta é a medida de
ingestão marginal de muitos
altura (r= -0,27) e área muscular do
componentes dietéticos separados
nutrientes e/ou outros compostos
braço (r= -0,22). Os autores
(ex. porcentagem de calorias
químicos não nutrientes ativos
concluíram que a utilização deste
proveniente da gordura). No IQD, por
biologicamente. Ingestão marginal, a
índice permite identificar grupos em
exemplo, isto implica que indivíduos
longo prazo, de nutrientes essenciais
risco nutricional por ter relação com
com dietas baixas em gorduras
pode não ser compatível com o
indicadores
tenham, muitas vezes, melhores
prognóstico favorável de saúde.
Diferentemente do estudo de
dietas, embora a evidência suporte
Dessa forma, os autores sugerem o
Resende et al. (2009), no presente
que admitir isto não é verdadeiro.
uso da CAR para classificar pessoas
trabalho não foi encontrado
Ainda: dietas de alta qualidade não
em categorias de baixo ou alto risco
correlação entre os índices IDQ e
estão associadas com dietas de alto
de comportamento dietético (KANT
CAR com medidas antropométricas
consumo calórico. Quando o
et al., 2000). Uma desvantagem do
e de composição corporal. Alguns
superconsumo calórico é o maior
método é que a sua pontuação é
fatores podem justificar esta falta de
interesse, este não está relacionado
fortemente baseada em frutas e
associação, como a alteração na
com a qualidade de dieta nem com
hortaliças/verduras ingeridas, e que
ingestão de alimentos e perda
medidas mais antigas, como o índice
estes alimentos compreendem 65%
ponderal recente proveniente do
de nutrientes, ou as mais recentes,
do escore da CAR do estudo original
estado catabólico imposto pela
como medidas de adequação de
realizado por Kant et al. (2000) e 75%
doença, estado nutricional, edemas,
nutrientes. Mesmo a ingestão de
do escore da CAR do estudo feito por
uso de medicamentos que alteram o
dietas normocalóricas, porém com
McCullough et al. (2002). Estes
metabolismo de macronutrientes,
aumento em um único fator (gordura
mesmos autores sugerem que
dentre outros.
aumentada),
adaptações
não
implica
adiposidade.
ser
Por fim, o Multicenter ELAN
necessariamente melhor medida de
suplementadas, com o propósito de
Study demonstrou, em análise
qualidade da dieta (PATTERSSON;
incluir outros componentes dietéticos
multivariada, que a idade ≥60 anos
HAINES; POPKIN,1994).
mais específicos, para que sejam
[OR: 1,38 (1,28-1,54)], medicina
A
CAR
é
uma
devam
de
medida
captadas, da melhor forma, as
interna [OR:1,66 (1,49-1,86)],
relativamente simples e independente
escolhas alimentares e o ambiente
presença de infecção [OR: 2,30 (2,04-
do padrão alimentar dos indivíduos e
comportamental.
2,59)], tempo de hospitalização [OR:
do tamanho da porção. Como os
Tendo em vista a possível
2,55 (2,19-3,02)] e presença de câncer
alimentos recomendados se baseiam
relação do IAS com medidas
[OR: 2,94 (2,55-3,39)] (p<0,05) são as
nos atuais guias dietéticos, pessoas
antropométricas e de composição
variáveis consideradas fatores de risco
com elevado escore da CAR possuem
corporal, Resende et al. (2009)
para a desnutrição hospitalar
alta ingestão de calorias e de
avaliaram a correlação entre o IAS e
(CORREIA; CAMPOS, 2010). Isto
micronutrientes,
baixa
tais medidas em 138 indivíduos, com
demonstra a necessidade da atenção
porcentagem de calorias proveniente
idade entre 18 e 35 anos. Para a
do nutricionista para o paciente com
de gordura, quando comparadas
determinação do IAS, os voluntários
câncer, em especial aqueles que
àquelas do menor escore. Isto sugere
preencheram um registro alimentar de
farão quimioterapia. Dentre as
diferenças qualitativas na seleção de
três dias (dois dias típicos de semana
principais sintomatologias da
alimentos em associação com altos
e um dia atípico de final de semana)
quimioterapia de impacto nutricional,
escores da CAR (KANT et al., 2000).
e os valores dietéticos foram
estão mielossupressão, anemia,
Dietas caracterizadas por baixo
calculados por meio do software Diet
náuseas e vômitos, hiporexia,
consumo
alimentos
Pro. Os escores do IAS se
mucosite, xerostomia, disfagia,
recomendados podem apresentar
correlacionaram com peso (r= -0,26),
disgeugia e alterações na função
24
de
mas
nutrição hospitalar | mar/abr 2011 intestinal, sendo que, com isto, a
pelo índice IDQ, provavelmente devido
ingestão de dieta e o estado nutricional
aos nutrientes avaliados fazerem
Assim, torna-se imprescindível
podem ser muito afetados (GRANT,
parte de seus componentes. Deve-
o conhecimento da qualidade global
2010).
se ter em mente que o ambiente
da dieta destes pacientes para o
alimentar humano é complexo e
planejamento
multidimensional. Medidas da
nutricionais, bem como orientações
No presente trabalho não foi
quantidade do consumo de calorias
mais adequadas aos pacientes e
levado em consideração o tipo do
e de gordura podem não revelar
familiares, a fim de evitar, controlar,
câncer (localização, estadiamento),
adequadamente a complexidade das
minimizar e tratar as alterações
bem como o estado nutricional e o
escolhas alimentares, da extensão
geradas durante o tratamento. Por
grau de estresse metabólico
da variedade da dieta, ou da natureza
fim, mais estudos com pacientes
relacionado à doença. Seguramente
dos padrões alimentares. Deve-se
hospitalizados (oncológicos) devem
tais variáveis apresentam efeito na
ainda levar em consideração que o
ser realizados no sentido de se captar
ingestão alimentar, afetando a
ambiente hospitalar pode ser um fator
melhor a qualidade de dietas, haja
qualidade da dieta.
de risco para a iatrogenia hospitalar.
vista a complexidade dos fatores
Os resultados deste estudo
Tal ambiente também pôde contribuir
envolvidos, dentre eles o ambiente
demonstraram que o padrão
na qualidade da dieta destes
hospitalar, estado nutricional, tipo da
alimentar somente pôde ser captado
pacientes, demonstrado pelos baixos
doença e gravidade da mesma.
considerações finais
escores encontrados.
de
estratégias
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25
mar/abr 2011
| nutrição enteral e parenteral
O que Há de Novo na Terapia Nutricional da Pancreatite Aguda What’s New in Nutrition Therapy of Acute Pancreatitis Profa Dra. Milena Nespeca Nutricionista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Nutrição Clínica pelo Ganep-SP e Mestre em Nutrição Humana pelo PRONUT-USP. Atualmente é docente temporária da Faculdade Sudoeste Paulista (FSP) – Avaré/SP palavras-chave: pancreatite, terapia nutricional, nutrição enteral. keywords: pancreatitis, nutritional therapy, enteral nutrition.
resumo O manuseio da pancreatite aguda evoluiu bastante nos últimos anos. Os avanços no conhecimento da fisiopatologia e história natural, a incorporação de novos recursos diagnósticos e terapêuticos e recomendações baseadas em evidências modificaram substancialmente a conduta clínica. O suporte nutricional deve ser equacionado para cada doente de acordo com a gravidade da situação. As últimas recomendações reforçam inequivocamente este conceito. Por várias décadas a nutrição parenteral foi considerada a única forma possível de terapia nutricional na pancreatite aguda grave. Recentemente, pesquisas evidenciaram que a
26
nutrição enteral jejunal se tornou a modalidade preferencial de sua terapia nutricional. Vários estudos comprovaram que a alimentação jejunal estimula minimamente o pâncreas e é bem tolerada pela maioria dos pacientes. A conduta nutricional acertada na pancreatite aguda tem grande importância para se limitar a progressão negativa da doença e preservar a integridade morfofuncional do intestino.
abstract The management of acute pancreatitis has evolved considerably in recent years. Advances in knowledge of the pathophysiology and natural history, the incorporation of new features and diagnostic and therapeutic recommendations based on evidence substantially changed the clinical. The nutritional support should be sought for each patient according to the seriousness of the situation. The latest recommendations clearly reinforce this notion. For several decades the parenteral nutrition was considered the only possible way of nutritional therapy in severe acute pancreatitis. Recently, research showed that the jejunal enteral nutrition has become the preferred mode of your nutritional therapy. Several studies have shown that a jejunal feeding minimally stimulates the
pancreas and is well tolerated by most patients. The behavior nutrition in acute pancreatitis is very important to limit the negative of the disease progression and preserve the integrity of morfofuncional intestine.
introdução A pancreatite aguda é uma doença que tem como substrato um processo inflamatório da glândula pancreática, decorrente da ação de enzimas inadequadamente ativadas. Essa doença apresenta um espectro clínico bastante amplo, podendo variar de um quadro leve associado ao edema pancreático, até quadros graves com extensa necrose pancreática, sendo a evolução e o quadro clínico relacionados com a intensidade e extensão da lesão pancreática e a resposta inflamatória sistêmica a esta lesão (KELMANN et al, 2008; HOYOS; PELAÉZ, 2007; MARTINIZ et al., 2006). A maioria dos pacientes apresenta uma evolução benigna, com recuperação rápida após poucos dias de hospitalização. Cerca de 20% dos casos desenvolvem pancreatite aguda grave, caracterizada pela presença de complicações locais: necrose com infecção, pseudocisto ou abcesso. Estes pacientes têm necessidades nutricionais elevadas devido ao alto Recebido: 15/07/2010 – Aprovado: 21/03/2011
nutrição enteral e parenteral | mar/abr 2011 grau de hipermetabolismo e catabolismo proteico causado por uma intensa resposta inflamatória sistêmica. O jejum prolongado, por falta de condições para retomar a alimentação oral, por dor abdominal ou íleo, é mais um fator de risco nutricional (DIENER et al., 2004). Por várias décadas a nutrição parenteral foi considerada a única forma possível de terapia nutricional na pancreatite aguda grave. Acreditava-se que o repouso completo do trato digestivo era indispensável para inibir a estimulação do pâncreas e acelerar a sua recuperação (MATHEUS; MACHADO, 2008). Nos últimos 10 anos, pesquisas experimentais e clínicas modificaram bastante esta visão e a nutrição enteral jejunal tornou-se a modalidade preferencial de terapia nutricional na pancreatite aguda grave. Vários estudos comprovaram que a alimentação jejunal estimula minimamente o pâncreas e é bem tolerada pela maioria dos pacientes (CAMPOS el tal., 2008; KALLYANNA; FERREIRA, 2007; LOUIE et al, 2005; ZHAO et al., 2003). Também se acredita que, quando iniciada precocemente, a nutrição enteral é capaz de modular a resposta inflamatória e manter a integridade da barreira mucosa intestinal. Outras vantagens da nutrição enteral são o seu menor custo e menores taxas de infecção em comparação à nutrição parenteral. Porém, a nutrição parenteral ainda é um recurso terapêutico importante e necessário àqueles pacientes com contraindicação ou intolerância ao uso da nutrição enteral (CAMPOS et al., 2008).
objetivo A pancreatite aguda grave continua a ser um problema clinico
complexo. O presente estudo tem como objetivo geral descrever o que a literatura cientifica recomenda para o adequado cuidado nutricional de pacientes com panreatite aguda, além de abordar os avanços ocorridos no conhecimento da terapia nutricional, em especial da nutrição enteral.
metodologia O presente estudo caracterizou-se como uma revisão literária utilizando, inicialmente, fontes com até 5 anos de publicação, mas estendida para 8 anos devido à escassez de material divulgado sobre o assunto. Os artigos, nos idiomas português e inglês, foram rastreados nas bases de dados eletrônicos de confiabilidade científica (Lilacs, Medline, Pubmed e Scielo).
resultados e discussões Na pancreatite leve nenhuma forma de terapia nutricional é necessária. A doença costuma ser autolimitada, e a maioria dos pacientes retoma a alimentação oral após alguns dias de jejum e hidratação por via venosa convencional. Na pancreatite aguda grave o suporte nutricional é considerado parte essencial do tratamento; ele deve reduzir os mecanismos secretórios das enzimas pancreáticas e bile. Os pacientes evoluem com hipermetabolismo e catabolismo acentuado e permanecem sob risco nutricional, sem condições de retomar a alimentação oral, por muitos dias ou mesmo semanas (HOYOS; PELAÉZ, 2007). Tradicionalmente, o conceito de que o pâncreas deveria ficar em repouso, ou seja, em jejum, foi amplamente difundido e seguido. Até recentemente, a nutrição parenteral associada ao repouso intestinal era
a única conduta preconizada para nutrir os pacientes, evitar a estimulação pancreática e permitir a recuperação glandular. Porém, novos estudos mostraram benefícios da nutrição enteral através de sonda locada na primeira porção jejunal, com relação à redução da resposta inflamatória, redução da infecção e redução dos escores de gravidade (McCLAVE, 2007) Nos últimos anos, estudos controlados comparando a nutrição parenteral com a nutrição enteral demonstraram que, na maioria dos pacientes, a nutrição por via jejunal é segura, não exacerba a doença, se associa com taxas menores de complicações infecciosas e metabólicas, manutenção da integridade da barreira mucosa intestinal e redução da translocação bacteriana, além de ter um menor custo (KALLYANNA; FERREIRA, 2007). Da mesma forma, Ammori (2003) também supõe que a nutrição enteral precoce possa reduzir as complicações em pacientes com pancreatite aguda severa. Segundo o autor, a administração enteral precoce, distal ao ângulo de Treitz, de dieta oligomérica, é a modalidade de suporte nutricional preferencialmente utilizada. Os principais obstáculos à nutrição enteral são o posicionamento e a manutenção do acesso enteral e a sub administração do volume prescrito. Pesquisadores chineses compararam terapia nutricional parenteral com uma combinação da via parenteral com a enteral, para saber se esta estratégia resultaria em melhora do estado nutricional e quadro clínico do paciente com pancreatite aguda grave. Os autores observaram que a combinação de ambas protege a integridade da
27
mar/abr 2011
| nutrição enteral e parenteral
mucosa intestinal e função imunológica. Verificaram ainda a necessidade aumentada de glutamina e concluíram que uma terapia nutricional adequada é fundamental para a evolução destes pacientes (ZHAO et al., 2003). Estudo realizado recentemente em pacientes com pancreatite aguda mostrou que a suplementação da nutrição parenteral com glutamina diminuiu o índice de complicações infecciosas. A amostra do estudo foi divida em: grupo controle, que recebeu nutrição parenteral padrão, e o grupo de tratamento, que recebeu nutrição parenteral com suplementação de glutamina. Foram atribuídos os melhores resultados ao grupo de tratamento devido à redução da resposta inflamatória aguda, mediada pela diminuição de IL-6 e de proteína C-reativa, que são parâmetros pró-inflamatórios, e pelo aumento progressivo da IL-10, com característica anti-inflamatória. O mesmo grupo também apresentou melhora da função imunológica e um balanço nitrogenado positivo, comparado com o resultado do grupo controle. Houve mortalidade por falência múltipla de órgãos em 22% do grupo controle e apenas em 9% do grupo de tratamento (FLUENTESOROZCO, 2008). A nutrição parenteral continua sendo necessária em alguns pacientes quando há contraindicação ou intolerância à nutrição enteral. O momento ideal para iniciar a nutrição parenteral ainda é assunto controverso, mas parece prudente aguardar até o 5º dia de evolução para evitar exacerbação do processo inflamatório. A adição de glutamina à nutrição parenteral mostrou-se capaz de abreviar significativamente a duração da terapia nutricional parenteral (McCLAVE, 2007). Para Palmo e Agenello (2004),
28
com base em estudos randomizados para avaliação clínica, a alimentação enteral com a sonda posicionada no jejuno está indicada como a primeira escolha para a via do fornecimento de nutrientes e energia. Esta escolha tem ocorrido em virtude de sua habilidade em manter a integridade da barreira intestinal e o seu mínimo efeito no estímulo à secreção pancreática, atuando de maneira efetiva sobre os parâmetros inflamatórios e também sobre os indicadores de prognóstico. Esse procedimento não tem sido indicado quando o íleo está presente e quando está presente a diarreia persistente, vômito, dor abdominal e aumento da secreção de enzimas pancreáticas. Nesses casos, a nutrição parenteral é a alternativa. Para isto, têm sido recomendadas as fórmulas hidrolisadas contendo pequenos peptídeos e baixa percentagem de ácidos graxos de cadeia longa. Pesquisadores americanos realizaram um estudo, a fim de comparar os resultados seguros e clínicos da nutrição enteral e parenteral em pacientes com pancreatite aguda. Foi realizada uma meta-análise com o modelo de efeitos aleatórios. A nutrição enteral foi associada com uma incidência significativamente menor de infecções (risco relativo de 0,45; intervalo de confiança de 95%: 0,26 a 0,78; P = 0,004), intervenções cirúrgicas reduzidas para controlar a pancreatite (0,48; 0,22 a 1,0; P = 0,05) e duração da permanência no hospital reduzida (redução média de 2,9 dias; 1,6 a 4,3 dias; P < 0,001). Não houve diferenças significativas na mortalidade ou complicações não infecciosas entre os dois grupos de pacientes. Os autores concluíram que a nutrição enteral deve ser a via preferida de suporte nutricional em pacientes com pancreatite aguda
(MARIK; ZALOGA, 2004). Azevedo et al. (2006), buscando avaliar o impacto da nutrição enteral precoce sobre a morbimortalidade de pacientes com pancreatite aguda grave, compararam dois grupos de pacientes internados em uma UTI. Um grupo recebeu nutrição parenteral total, enquanto o outro grupo recebeu nutrição enteral através de uma sonda jejunal. Disfunção pulmonar, disfunção hemodinâmica, abcesso pancreático, sepse e pseudocisto foram as complicações identificados na amostra, sendo a maioria encontrada nos pacientes submetidos a nutrição parenteral total. Os autores concluíram que o número de mortes foi maior nos paciente que estavam recebendo nutrição parenteral, enquanto que nenhum paciente do grupo que recebeu nutrição enteral faleceu. Este estudo reforça as conclusões de outros autores, que apontam marcada tendência para redução da morbimortalidade de pacientes com pancreatite aguda grave submetidos a nutrição enteral precoce. Em estudo realizado por Ferreira et al. (2008) em indivíduos com pancreatite aguda, os autores observaram que, nos doentes com alimentação parenteral, foram encontrados, com mais frequência, níveis mais elevados das enzimas pancreáticas, dados corroborados pela literatura. Quando se analisaram os doentes com nutrição enteral, administrada por sonda nasogástrica, o mesmo não foi verificado. A dieta também foi bem tolerada nos doentes com lipase elevada, ou seja, não se verificou maior estase gástrica ou íleo paralítico que impossibilitasse esta forma de alimentação. Segundo Louie et al. (2005), a melhor via de acesso para terapia nutricional em casos de pancreatite
nutrição enteral e parenteral | mar/abr 2011 aguda grave ainda é sujeita a controvérsias: da conduta baseada no jejum digestivo, buscando o “descanso” do pâncreas, evoluiu-se para o uso de nutrição parenteral do doente com consequente redução da mortalidade. Recentemente se propôs o uso também de nutrição enteral na pancreatite aguda, com bons resultados. Em estudo realizado por Louie et al. (2005), com o objetivo de verificar qual dos dois tipos de dieta seria capaz de reduzir a inflamação com mais eficácia, verificou-se que a nutrição enteral custou menos que a parenteral. Ainda segundo os autores, “a nutrição enteral é mais barata e pelos menos igual à parenteral em termos de eficácia”. A média de custo para nutrição parenteral foi de U$ 2.608 por paciente, comparada com U$ 1.086 por paciente em nutrição enteral (p=0,03). A redução da inflamação foi medida pela proteína C-reativa, cuja diminuição em 50% ocorreu cinco dias mais cedo com a nutrição enteral do que com a parenteral (p=0,08). A diferença, não significativa se levado em consideração o nível tradicional de p<0,05, é explicada pelos autores pelo pequeno tamanho da amostra. Embora não se tenha conseguido mostrar de modo significativo que a
nutrição enteral atenua a resposta inflamatória na pancreatite, parece que ela também não estimula o pâncreas e pode ser ótima via de nutrição, já que não foram observadas complicações significativas no grupo estudado. Segundo estudo realizado por Campos et al. (2008), os resultados mostraram que o método parenteral exclusivo ainda é o preferido por quase metade dos médicos entrevistados. As dificuldades de alimentação enteral, como distensão abdominal e intolerância nos primeiros dias, são fatores desencorajadores para grande parte dos médicos, a despeito dos benefícios comprovados. Outro ponto a ser considerado são os riscos do suporte nutricional parenteral, como acidentes de punção e maior risco de infecção, além do custo mais elevado. Para Rosa et al. (2004), a terapia nutricional na pancreatite aguda era tradicionalmente feita através de alimentação parentérica, mas, mais recentemente, ficou demonstrado que a alimentação entérica infundida no jejuno é praticável, bem tolerada, mais barata e está associada a menos complicações, nomeadamente infecciosas.
conclusão O manuseio da pancreatite aguda evoluiu bastante nos últimos anos. Os avanços no conhecimento da fisiopatologia e história natural, a incorporação de novos recursos diagnósticos e terapêuticos e recomendações baseadas em evidências modificaram substancialmente a conduta clínica. A recomendação nutricional acertada na pancreatite aguda tem grande importância para se limitar a progressão negativa da doença e preservar a integridade morfofuncional do intestino e, consequentemente, prevenir a translocação bacteriana. Anteriormente, a terapia nutricional na pancreatite aguda era feita apenas através de alimentação parentérica. Mas, recentemente, ficou demonstrado que a alimentação entérica infundida no jejuno é praticável, bem tolerada, mais barata e está associada a menos complicações infecciosas. Porém, a nutrição parenteral continua sendo necessária em alguns pacientes quando há contraindicação ou intolerância à nutrição enteral. A estabilização hemodinâmica e o restabelecimento do equilíbrio hidro-eletrolítico continuam a ser prioritários, antes da prescrição de qualquer tipo de suporte nutricional.
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29
| alimentos funcionais
mar/abr 2011
Polpa de Manga, apta para o Consumo? Mango Pulp, Apt For Consumption?
Rafael Santos Nogueira -
1999. Atua no magistério e na clínica
hidrogeniônico (pH), sólidos solúveis
Estudante
desde 1986.
(SS), acidez total titulável (ATT),
de
Farmácia
da
Universidade Estácio de Sá, Rio de
relação sólidos solúveis (SS)/acidez
Janeiro.
palavras-chave - nutrição, dietética,
total titulável (ATT) e açúcares totais.
Profa. Dra. Melina Campagnaro Farias - Farmacêutica pela
bromatologia.
Todas as análises foram realizadas
keyword - Nutrition, Dietetics, Food
seguindo
Universidade Federal do Espírito
Science.
estabelecidas pelo Instituto Adolfo
as
metodologias
Santo, habilitação em Bioquímica de
Lutz. Os resultados obtidos para o
alimentos, Mestrado e Doutorado em
pH das três marcas respectivamente
Ciência
de
Alimentos
pela
resumo
foram 3,93; 3,97 e 3,95; para sólidos
Universidade Federal do Rio de
A manga faz parte do elenco
solúveis foram 18,290; 18,655 e
Janeiro. Atualmente é professora de
das frutas tropicais de maior
19,019; na acidez total as médias
Bromatologia e Fundamentos em
importância econômica. Devido à sua
dos valores foram 1,752; 2,212 e
Indústria - Alimentos, para o curso
sazonalidade, ela tem grande
1,535; na relação sólidos solúveis
de Farmácia e Nutrição, da
relevância como matéria-prima para
(SS)/acidez total titulável (ATT) as
Universidade Estácio de Sá (RJ).
a indústria de produção de polpas.
médias dos resultados foram 10,82;
Profa. Dra. Ana Céli Pimentel de Souza - Nutricionista pela
Este trabalho foi realizado com o
8,59 e 12,49; e nos açúcares totais
objetivo de analisar a qualidade de
as médias das análises foram 3,68;
Universidade Federal do Estado do
três diferentes marcas de polpas de
3,41 e 3,73. Com os resultados
Rio
(UNI-RIO);
mangas, a fim de determinar se estas
obtidos neste trabalho, pode-se
Especialização em Oxidologia.
estão dentro dos padrões físico-
afirmar que todas as três marcas
Mestrado em Nutrição Clínica -
químicos
pela
analisadas estão de acordo com a
Universidad de Los Pueblos de
instrução normativa Nº 1, de 7 de
legislação vigente em relação à
Europa - Málaga - Espanha,
janeiro de 2000. Só foram utilizadas
análise físico-química das polpas de
concluído em 1999 e averbado pela
polpas processadas pela técnica de
manga.
Universidade Federal de Pernambuco
pasteurização,
em 2004. Dr. honoris causa em
congelamento, sem adição de
Nutrição pela Universidad de Los
aditivos químicos. Foram realizadas
The mango is part of the list of
Pueblos de Europa – Málaga, em
análises físico-químicas de potencial
the tropical fruits of greater
30
de
Janeiro
especificados
seguida
de
abstract
Recebido: 20/01/2011 – Aprovado: 23/03/2011
alimentos funcionais | mar/abr 2011 economical importance. Due to its
aproveitamento quase que total e
padrões
físico-químicos
seasonality, it has great relevance as
diminuindo prejuízos de produção.
especificados pela legislação vigente
a raw product for pulp production
Outra característica que reafirma
no Brasil e aptas para o consumo
industry. This work research was
essa importância é o sabor, aroma,
(BRASIL, 2000)
carried out to analyze the quality of
cor e suas propriedades nutricionais
three different brands of mangoes
de grande relevância (BRUNINI;
pulp in order to determine whether
DURIGAN; OLIVEIRA, 2002). É um
As polpas congeladas foram
they were within the standards
alimento que contém fibras, água,
compradas em um supermercado de
specified by the physicochemical
carboidratos, proteínas, vitaminas e
grande porte da cidade do Rio de
normative instruction No. 1, January
sais minerais. Entre os diversos
Janeiro - três polpas congeladas de
7, 2000. Only processed pulps were
compostos químicos presentes,
manga com marcas diferentes, sendo
used for the pasteurization technique,
destacam-se o ácido ascórbico,
todas dentro do prazo de validade.
followed by freezing, without addition
carotenoides e compostos fenólicos.
As
of chemical additives. They were
Estas substâncias são agentes
realizadas nas amostras foram
analyzed for physic-chemical
antioxidantes, que oferecem proteção
potencial hidrogeniônico (pH), sólidos
hydrogen potential (pH), soluble
contra doenças relacionadas com o
solúveis (SS), acidez total titulável
solids (SS), total titled acidity (TTA),
estresse oxidativo (RIBEIRO et al.,
(ATT), relação sólidos solúveis (SS)/
soluble solids (SS)/ total titled acidity
2007).
acidez total titulável (ATT) e açúcares
metodologia
análises
físico-químicas
(TTA) and total sugars. All analysis
Para as indústrias de conserva
totais. Todas as análises foram
was performed following the
de frutas, a polpa de manga tem
realizadas seguindo as metodologias
methodologies established by the
grande relevância como matéria-
estabelecidas pelo Instituto Adolfo
Institute Adolfo Lutz. The results
prima, porque é produzida em épocas
Lutz (2008), e seus respectivos
obtained for the pH of the three
de safra e armazenadas. Com isso,
valores de referências são citados
brands were respectively 3.93; 3.97
a indústria consegue manter sua
nos resultados e discussão.
and 3.95; for soluble solids were
disponibilidade do fruto na época de
18.290; 18.655 and 19.019; the total
entressafra, podendo assim ser
foram
acidity mean values were 1.752;
reprocessada e utilizada conforme o
Regulamento técnico geral para
2.212 and 1.535; the solid relationship
mercado consumidor (BUENO et al,
fixação dos padrões de identidade e
soluble (SS)/ total titled acidity (TTA)
2002). Outro ponto importante para
qualidade para polpa de frutas da
the average results were 10.82; 8.59
as indústrias de polpas é a economia
Instrução Normativa Nº 1, de 7 de
and 12,49, and total sugars in the
que a mesma faz, porque evita
janeiro de 2000, do Ministério da
medium of analysis were 3.68; 3.41
desperdícios e minimiza perdas que
Agricultura,
and 3.73. With the present results can
poderiam
Abastecimento (BRASIL, 2000).
be stated that all three brands tested
comercialização do produto in natura
are in line with current legislation
(GADELHA et al, 2009).
regarding the physical-chemical analysis of mango pulp.
introdução A manga faz parte do elenco das frutas tropicais de importância econômica
devido
à
sua
sazonalidade, assim tendo um
acontecer
Os parâmetros comparativos
na
todos
baseados
Pecuária
e
no
do
resultados e discussão
Este trabalho tem como
Dentre os fatores que alteram
objetivo analisar polpas de mangas
a qualidade da polpa de manga, um
de três diferentes marcas, a fim de
dos mais importantes e que
determinar se estas estão dentro dos
determinam a qualidade das polpas
Tabela 2 – Resultados do pH e dos sólidos solúveis (SS) da polpa de manga de três diferentes marcas. Rio de Janeiro, maio de 2010. Marca A
Marca B
pH
3,93
3,97
Marca C 3,95
SS (ºBrix a 20 ºC)
18,290
18,655
19,019
31
mar/abr 2011
| alimentos funcionais
de frutas são as análises físico-
valor as bactérias patógenas,
marcas estão em acordo com a
químicas, que devem apresentar seus
principalmente
Clostridium
legislação, pois a polpa deve
resultados de acordo com os valores
botulinum, não se desenvolvem.
apresentar sólidos solúveis acima de
de referência estabelecidos pela
Devido a isso, a indústria de
11 ºBrix para polpa de manga
legislação (BRASIL, 2000).
alimentos usa o pH baixo sobre os
(BRASIL, 2000). A determinação dos
Os testes físico-químicos do
alimentos para evitar o crescimento
sólidos solúveis totais indica o grau
potencial hidrogeniônico (pH) e de
de microrganismos (HOFFMANN,
de maturidade de alguns frutos e
sólidos solúveis (SS) são de grande
2001).
determina quanto de substância se
importância na indústria de polpa de
Satim
e
Santos
(2009)
encontra dissolvido no fruto, isso
frutas porque, na etapa inicial de
realizaram uma pesquisa em que
inclui principalmente açúcares
produção da polpa, eles são
determinaram as características
solúveis, além das pectinas, sais e
realizados para determinar a
físicas e químicas de polpas de
ácidos (COCOZZA, 2003; GADELHA
qualidade do fruto assim que chega
manga congeladas, comparando-as
et al, 2009).
na indústria (ROSENTHAL, et al,
com a fruta in natura. O teste de pH
Salgado; Guerra; Melo Filho
2003). No trabalho realizado, as três
realizado na fruta in natura encontrou
(1999) apresentaram um trabalho em
marcas de polpas de manga
valor de 4,49; já nas suas marcas de
que avaliaram os efeitos do processo
analisadas apresentaram valores
polpas foram encontrados valores de
utilizado na obtenção de polpa de
próximos entre elas, sendo estes
4,3 e 4,24. Percebe-se uma diferença
frutas congeladas sobre o teor de
indicados na tabela 2.
de pH entre a fruta in natura e a
fibras alimentares em diversas frutas
Os valores estão em acordo
polpa; isso se deve porque a fruta se
maduras, entre elas a manga. Neste
com a legislação, pois a polpa deve
encontra em um estágio de
estudo ficou comprovado que,
apresentar pH acima de 3,30 e
maturação maior em relação às
quantitativamente, o processo de
abaixo de 4,50 (BRASIL,2000),
polpas.
Medlicott;
obtenção de polpa de fruta reduz as
garantindo a conservação do produto
Thompson (1985), durante o
fibras alimentares, menos para
sem utilizar um tratamento térmico
amadurecimento da fruta in natura
manga, que não obteve redução,
muito elevado e, assim, a qualidade
acontece uma diminuição dos ácidos
podendo assim ser implementada na
do produto não é colocadas em risco
orgânicos que se transformam em
dieta normal no lugar de fruta in
(BENEVIDES et al, 2008). Este pH
açúcares, logo aumentando o pH.
natura. Para essa comprovação,
Segundo
4,5 é importante para a microbiologia
No teste de sólidos solúveis
foram realizados testes físico-
de alimentos porque abaixo deste
(SS) os valores obtidos para as três
químicos, entre eles os sólidos solúveis (SS). Neste estudo os
Tabela 3 – Resultados da acidez (ATT) de polpa de manga de três diferentes marcas. Rio de Janeiro, Maio de 2010. ATT (g de acido cítrico/ 100 g de polpa) Marca A
Marca B
Marca C
32
autores obtiveram o valor médio dos sólidos solúveis totais de 17,66 ºBrix,
1º alíquota
1,314
valor este dentro da legislação,
2º alíquota
1,971
porém mais baixo que as três polpas
3º alíquota
1,971
Média
1,752
analisadas no presente estudo.
1º alíquota
2,655
2º alíquota
1,991
maturação do fruto, pode ter uma
º alíquota
1,991
evolução do teor de SS em manga,
Média
2,212
que varia de 7,0 a 17,4 ºBrix, mas,
1º alíquota
1,316
2º alíquota
1,975
3º alíquota
1,535
mínimo que se deve apresentar é
Média
1,535
11 ºBrix para polpa de manga.
Dependendo do estágio de
para a legislação (BRASIL, 2000), o
alimentos funcionais | mar/abr 2011 O teste de acidez (ATT)
indicados na tabela 4.
entre as três marcas analisadas,
apresentou resultados distantes
Como na legislação vigente
entre as três marcas analisadas,
(BRASIL, 2000) para polpa de manga
Os resultados das análises de
sendo indicados na tabela 3.
não existe valores de referência para
açúcares totais estão de acordo com
Os resultados das análises de
esta relação, não se pode determinar
a legislação, pois a polpa de manga
acidez estão de acordo com a
se as polpas analisadas estão
deve apresentar açúcares totais de
legislação porque a polpa de manga
aprovadas ou não. No presente
no máximo 17,0 (BRASIL, 2000).
deve apresentar acidez total
trabalho os respectivos valores para
Como a acidez dessas polpas está
expressa em acido cítrico (g/100g)
o ratio foram de 10,82, 8,59 e 12,49.
relativamente alta, isso significa que
de no mínimo 0,32 (BRASIL, 2000).
No estudo de Benevides et al (2008),
os ácidos orgânicos presentes nas
A diferença entre as três polpas se
na polpa de manga da variedade Ubá,
frutas estão em grande concentração
dá devido ao grau de maturação de
os valores apresentados para o ratio
e o nível de açúcar está baixo
cada fruto; quanto mais amadurecida
foram de 30,34 a 42,54, com média
(MEDLICOTT; THOMPSON, 1985),
a fruta, menor é o teor de ácido cítrico
de 34,52 para a primeira safra. Para
como pode ser confirmado pelos
(CALDAS et al, 2006). Devido ao
a segunda safra os valores foram de
resultados obtidos na tabela 5 acima.
exposto, pode-se observar que a
28,73 a 34,05, com média de 30,88.
A determinação dos açúcares
marca B possui uma média de acidez
O teste de açúcares totais
totais tem como objetivo identificar
apresentou resultados próximos
se aconteceu a adição de sacarose
maior que as marcas A e C.
sendo indicados na tabela 5.
No trabalho de Salgado; Guerra; Melo Filho (1999) a acidez da polpa
Tabela 4 – Resultados da relação sólidos solúveis (SS)/ acidez (ATT) de polpa de manga de três diferentes marcas. Rio de Janeiro, maio de 2010.
de manga encontrada foi de 0,44, estando de acordo com a legislação.
Relação sólidos solúveis (SS)/acidez (ATT) Marca A
Segundo Benevides et al (2008), a acidez da primeira safra foi de 0,45 a 0,62 g de ácido cítrico/100g de polpa,
Marca B
com média de 0,53%; já na segunda safra os valores de ATT foram de 0,55 a 0,61 g de ácido cítrico/100g de
Marca C
polpa, com média de 0,60%.
1º relação
13,92
2º relação
9,28
3º relação
9,28
Média
10,82
1º relação
7,03
2º relação
9,37
3º relação
9,37
Média
8,59
1º relação
14,45
2º relação
9,63
3º relação
13,39
acidez (ATT) (ratio) determina o
Média
12,49
equilíbrio entre o teor de açúcares e
Tabela 5 – Resultados de açúcares totais de polpa de manga de três diferentes marcas. Rio de Janeiro, Maio de 2010.
A relação sólidos solúveis (SS)/
ácidos orgânicos do fruto. É utilizada como um parâmetro adequado para
Açúcares Totais (g/100 g de polpa) 1º alíquota
3,78
medir a percepção do sabor pelo
2º alíquota
3,59
consumidor. Com isso, é considerada
3º alíquota
3,69
uma ferramenta importante para
Média
3,68
1º alíquota
3,46
2º alíquota
3,41
3º alíquota
3,37
seleção de variedade do fruto (CARVALHO
et
al,
Marca A
Marca B
2004;
BENEVIDES et al, 2008). Os valores de ratio encontrados neste trabalho para as três marcas analisadas diferiram pouco, sendo
Marca C
Média
3,41
1º alíquota
3,86
2º alíquota
3,72
3º alíquota
3,63
Média
3,73
33
mar/abr 2011
| alimentos funcionais
na polpa de manga. Os valores
encontraram para a manga in natura
mínimo e, para açúcares totais, valor
podem
alterações,
0,15% de açúcares totais e, para as
máximo.
dependendo do grau de maturidade
duas polpas industrializada, 0,11% de
da fruta usada para preparar a polpa
açúcares totais. Já Salgado; Guerra;
(GADELHA et al, 2009).
Melo Filho (1999) encontraram 7,69%
Este trabalho mostrou que as
para açúcares totais, valor bem
três marcas de polpas de manga
superior aos descritos acima.
analisadas através de testes físico-
sofrer
Benevides
et
al
(2008)
apresentaram valores de açúcares totais para a primeira safra de 1,97 a
Um
ponto
interessante
conclusão
químicos estão de acordo com os
4,89%, com média de 3,54%, e da
percebido no trabalho foi a alta
padrões
segunda safra variaram de 3,81 a
acidez e o baixo nível de açúcar. Isso
legislação vigente no Brasil (BRASIL,
5,93%, com média de 4,6%. Esta
aconteceu provavelmente porque o
2000), concluindo assim que as
variação pode ser associada a
fruto usado na fabricação da polpa
marcas estudadas estão apropriadas
diferentes estágios de maturação e
não estava maduro suficiente. Uma
para o consumo, de acordo com as
colheita feita pelos produtores.
vez a fruta madura, os níveis de
análises físico-químicas.
Comparando-se esse estudo com o
ácidos diminuem e os de açúcares
Quanto à determinação da
realizado neste trabalho, os valores
aumentam. Ainda assim as polpas
relação Brix/Acidez, percebeu-se
encontraram-se bastante próximos.
estão de acordo com a legislação
que não existem valores de referência
porque para acidez só existe valor
fixados na legislação brasileira.
Satim
e
Santos
(2009)
estabelecidos
pela
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mar/abr 2011
| saúde pública
Consumo Episódico Elevado de Bebidas Alcoólicas: uma Análise do Comportamento de um Grupo Populacional durante Festejos Natalinos e Carnavalescos Increased Seasonal Intake of Alcoholic Beverage: an Analysis of the Behavior of a Population Group during Christmas and Carnival
Iana Edith da Ponte Feijão Graduanda em Nutrição pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).
palavras-chave álcool; trabalhadores; etanol; feriados. keywords - alcohol; employees; ethanol; holidays
Profa. Dra. Maria Olganê Dantas Sabry - Professora Adjunta da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Doutoranda em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará/Universidade Federal do Ceará (UECE/UFC).
Profa. Dra. Helena Alves de Carvalho Sampaio - Doutora em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Professora do Doutorado em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará/ Universidade Federal do Ceará(UECE/UFC).
Prof. Dr. José Wellington de Oliveira Lima - Doutor em Tropical Public Health pela Universidade de Harvard, Professor do Doutorado em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará/Universidade Federal do Ceará (UECE/UFC).
36
resumo É preocupante o crescimento do consumo de bebidas alcoólicas pela população mundial, constituindo um grave problema de saúde pública. A situação pode se tornar mais alarmante em festividades e feriados prolongados, mas há ainda poucos estudos explorando esse tema. O presente estudo buscou conhecer a prevalência e o padrão de consumo de bebidas alcoólicas, durante os períodos natalino e carnavalesco, entre funcionários de uma instituição pública de ensino superior. O estudo abrangeu 62 funcionários, 12 homens e 50 mulheres, na faixa etária de 2059 anos. No período natalino (10 dias), 42 indivíduos ingeriram bebida alcoólica, com média de consumo
diária de 137,6g de etanol. Já no carnaval (4 dias), essa quantidade foi de 23 pessoas, sendo 93,7g a média diária ingerida de etanol. Nos dois períodos, encontrou-se maior prevalência de utilização de bebidas alcoólicas entre os homens. A bebida mais citada foi a cerveja. O consumo de etanol foi elevado, principalmente entre as mulheres no período natalino e entre os homens no carnaval, configurando um risco à saúde e demandando ações educativas preventivas direcionadas a estes períodos de festividades.
abstract The significant increase of alcoholic beverage intake by global population has been causing concern and poses a serious public health threat. This situation may become even more alarming during festivities and holidays, but there are still very few studies involving this theme. The aim of the present study is to provide Recebido: 02/02/2010 – Aprovado: 06/03/2011
saúde pública | mar/abr 2011 data about the prevalence and pattern of alcoholic beverage consumption, during Christmas and Carnival, of employees from a public university. The study includes 62 employees, 12 men and 50 women, with ages varying from 20 to 59 years old. During Christmas time (10 days), 42 individuals drank alcoholic beverages, with an average consumption of 137,6g/day of ethanol. On the other hand, during Carnival (4 days), the number of individuals went down to 23 and the average consumption of ethanol was about 93,7g/day. On both periods it was found a higher prevalence of alcoholic beverage intake among men. The most used beverage was beer. Ethanol intake was increased, especially by women in Christmas and by men in Carnival, which configures a health risk and requires preventive educational measures for these festivities period.
introdução O álcool é a substância psicoativa mais consumida no mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004). No Brasil, esta também é a droga mais usada em qualquer faixa etária (VIEIRA et al., 2007), sob a forma de bebidas alcoólicas. Tal substância é responsável por cerca de 90% das internações hospitalares por dependência e aparece em 70% dos laudos por mortes violentas (SOLDERA et al., 2004). O consumo abusivo de bebidas alcoólicas é ainda associado a doenças hepáticas, gastrointestinais, cardiovasculares, respiratórias, neurológicas e do sistema reprodutivo, além de levar ao aumento do risco de
desenvolvimento de vários tipos de câncer (INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER, 1988; PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2005; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 2007). As bebidas alcoólicas, como cerveja, vinho, aguardente, uísque, vodca, entre outras, contêm pouco ou nenhum nutriente, possuindo teor variável de álcool (etanol) desde 4% a mais de 40%. Isto mostra que, quando se pensa em bebidas alcoólicas, a preocupação não deve ser apenas direcionada para o volume ingerido, mas também para a concentração em etanol. Mesmo sem veicular nutrientes, tais bebidas contribuem com calorias: cada grama de etanol contém 7 quilocalorias (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 2007). Diante do exposto, fica clara a importância de se conhecer qual o consumo quali-quantitativo de bebidas alcoólicas pela população. No caso específico do Brasil, onde empiricamente se constata que o consumo se eleva em feriados e/ou festividades prolongadas, torna-se relevante identificar qual o padrão de consumo adotado nestas ocasiões. Aliado a isto, tem-se, no Brasil, a recomendação da Secretaria Nacional AntiDrogas (SENAD), de que o comportamento de trabalhadores relativo ao consumo de drogas em geral, aí se incluindo o álcool, deve sempre ser investigado, a fim de que medidas para prevenção do uso abusivo possam ser instituídas, congregando ações de dirigentes, de representantes dos trabalhadores e dos próprios funcionários e seus familiares (BRASIL, 2008).
objetivo Avaliar o padrão de consumo de bebida alcoólica de um grupo de trabalhadores durante os festejos natalinos e carnavalescos.
metodologia Trata-se de um estudo descritivo, analítico, prospectivo, com abordagem quantitativa, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (UECE). A população estudada é constituída de funcionários da UECE, de seu campus principal, localizado no Itaperí, num contingente de 319 indivíduos. Como critérios de inclusão foram adotados: faixa etária de 2059 anos, caracterizando grupo adulto e não apresentar doença que afetasse o metabolismo, peso corporal e alimentação. A amostra incluiu 62 indivíduos, que correspondeu à totalidade de pessoas elegíveis, considerando os critérios citados. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Antes do início da coleta de dados, foi realizado um workshop, com duração de 4 horas, conscientizando os funcionários quanto à importância de seu comprometimento relativo à fidedignidade das informações, bem como instruindo-os quanto ao registro de consumo de bebidas alcoólicas a cada dia do chamado período natalino de 2008, que abrangeu o período de 24/12/2008 a 28/12/2008 e 31/12/ 2008 a 04/01/2009, num total de 10 dias, e o período carnavalesco de 2009, que abrangeu o período de 21/ 02/2009 a 24/02/2009 (4 dias). As bebidas registradas foram transformadas em gramas de etanol,
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| saúde pública
segundo Mincis (1980). O ponto de corte para definir consumo abusivo de bebida alcoólica foi mais de 30 g/ dia de etanol para homens e mais de 15 g/dia de etanol para mulheres (BRASIL, 2006).
resultados e discussão Dentre os 62 funcionários, 50 (80,6%) eram do sexo feminino e 12 (19,4%) do sexo masculino. A idade média global foi de 48,6 anos. No período natalino, 20 (32,3%) não ingeriram álcool e 42 (67,7%) o fizeram em pelo menos um dos dias do período. A quantidade de pessoas do sexo masculino e feminino que fizeram uso de bebida foi de 11 (91,7%) e 31 (62%), respectivamente. As bebidas mais citadas foram cerveja, vinho, espumante e uísque, sendo cerveja a mais consumida (85,7%) tanto pelos homens (90,9%) quanto pelas mulheres (84,4%). A tabela 1 exibe
os achados relativos aos consumidores de bebidas alcoólicas, segundo tipo de bebida e sexo. A média total de consumo de etanol por pessoa durante os dez dias correspondentes às festividades natalinas foi de 1375,9g, sendo de 1565,3g pelas mulheres e de 1186,9g pelos homens. Tal quantidade correspondeu, portanto, a uma média diária per capita de 137,6g, acima do aceitável (15g/dia para mulheres e 30g/dia para homens), sendo de 156,5g (5,8g-189,5g) a das mulheres e de 118,7g (50,0g-257,9g) a dos homens. Considerando os consumidores, a prevalência de mulheres com ingestão superior a 15g de etanol foi de 90,3% e a de homens com ingestão superior a 30g de etanol foi de 100%. Em relação ao período do carnaval, 34 (54,8%) pessoas não ingeriram bebidas alcoólicas e 28 (45,2%) o fizeram em algum dos dias
Tabela 1 – Prevalência de consumo de bebida alcoólica pelos funcionários avaliados durante os festejos natalinos, segundo tipo de bebida e sexo. Fortaleza, 2009. Sexo
Tipo de bebida alcoólica
Masculino (n=11) %
Feminino (n=32) %
Total (n=42) %
Cerveja
90,9
84,4
85,7
Vinho
27,3
32,3
31,0
Uísque
45,5
6,5
16,7
Aguardente
27,3
9,7
14,3
Espumante
0,0
32,3
23,8
Rum
9,1
0,0
2,4
Chopp
0,0
6,5
4,8
Vodca
0,0
3,2
2,4
Tabela 2 – Prevalência de consumo de bebida alcoólica pelos funcionários avaliados durante o carnaval, segundo tipo de bebida e sexo. Fortaleza, 2009. Sexo
Tipo de bebida alcoólica
Masculino (n=11) %
Feminino (n=32) %
Total (n=42) %
Cerveja
75,0
70,0
71,4
Aguardente
37,5
15,0
21,4
Uísque
25,0
5,0
10,7
Vinho
12,5
10,0
10,7
Vodca
12,5
5,0
7,1
Rum
0,0
5,0
3,6
Conhaque
0,0
5,0
3,6
38
do feriado. Considerando-se o sexo masculino, 8 (66,7%) pessoas fizeram uso de bebida alcoólica, enquanto tal contingente foi representado por 20 (40%) pessoas do sexo feminino. As bebidas mais citadas (Tabela 2) foram cerveja, aguardente, uísque e vinho, sendo novamente cerveja a mais consumida (71,4%) tanto pelos homens (75%) quanto pelas mulheres (70%). Percebe-se, comparando os achados dos dois períodos, que vinho e espumante são mais prevalentes nos festejos natalinos. A média total de consumo de etanol durante os quatro dias de Carnaval foi de 374,6g, sendo de 196,3g pelas mulheres e 800,1g pelos homens. A média diária per capita para esses consumidores ficou também acima do aceitável, 93,7g, sendo de 49,1g (16,5g-138,2g) a das mulheres e de 200,0g (57,6g-405,1g) a dos homens. Considerando-se tais consumidores, a prevalência tanto de homens como de mulheres com ingestão superior aos limites adequados de etanol foi de 100%. Não foram encontrados, na literatura nacional e internacional indexada, dados relativos ao padrão de consumo de bebidas alcoólicas por brasileiros nos períodos citados. No entanto, algumas considerações comparativas podem ser realizadas em relação à situação segundo sexo, embora fora dos feriados aqui enfocados. Assim, estudos realizados por Lemos et al. (2007), Amorim et al. (2008) e Paduani et al. (2008) evidenciaram um consumo mais excessivo de bebida alcoólica pelos homens. Já no presente estudo, embora a
saúde pública | mar/abr 2011 prevalência de consumo tenha sido maior entre os homens, a quantidade de etanol ingerida foi maior entre os mesmos apenas no carnaval. Quanto ao tipo de bebida alcoólica, observou-se que, nos dois períodos, a mais consumida foi a cerveja. Faintuch (1995) já relatava há mais de uma década que há uma tendência nacional para o consumo maior dessa bebida. Almeida e Coutinho (1993) captaram citação de cerveja em 88,8% dos seus entrevistados. Faintuch (1995) relata consumo de 35 litros de cerveja por ano pelo brasileiro, seguido por 6,7 litros de aguardente de cana. Também no presente estudo a segunda bebida mais citada, no período carnavalesco, foi aguardente de cana (21,4%), embora esta prevalência tenha sido menor no período natalino. Recentemente foi realizado um levantamento nacional sobre padrão de consumo de bebidas alcoólicas no Brasil (Brasil, 2007), tendo sido constatado que 52% dos brasileiros podem ser considerados bebedores - 25% deles ingerindo bebidas alcoólicas pelo menos uma vez por semana. O beber exageradamente em uma única ocasião é um problema crescente de saúde (Ahern et al., 2008). Por definição, a ingestão exagerada por ocasião caracteriza o beber em binge, ou seja, um volume excessivo de álcool consumido num curto espaço de tempo, o que é um tipo de beber mais perigoso e frequentemente associado a uma série de problemas físicos, sociais e mentais (BRASIL, 2007a). O binge alcoólico é caracterizado pelo consumo de mais de 5 doses por
homens e de mais de 4 doses por mulheres, em uma só ocasião (Brewer et al., 2005). No levantamento nacional citado (Brasil, 2007), embora não especificado por período do ano, a prevalência de beber em binge atingiu 28% dos indivíduos, sendo tal percentual de 40% entre os homens e de 18% entre as mulheres. O consumo de bebida alcoólica em termos quantitativos deve ser analisado no tocante à ingestão de etanol, uma vez que este é o componente da bebida responsável pelos vários agravos citados. Nesta perspectiva, percebe-se que o consumo médio diário de etanol do grupo entrevistado foi acima do limiar adotado como tolerável nos dois períodos analisados, que é de 15g/ dia e 30g/dia, respectivamente para mulheres e homens, como já citado. O fato de serem todos trabalhadores de uma única instituição pode facilitar a adoção de medidas de intervenção, as quais vêm sendo bastante incentivadas pela SENAD (Brasil, 2008), que destaca a importância da realização de ações educativas no local de trabalho, colaborando para reduzir riscos de doenças e acidentes. Não se deve desconsiderar, adicionalmente, que o hábito de consumir bebidas alcoólicas em grande quantidade também pode influenciar o estado nutricional da população, favorecendo ganho ponderal, conforme revisão realizada por Sampaio (2007). Avaliando-se também a situação tanto sob a ótica de ganho ponderal como de ingestão alcoólica, há que se considerar os efeitos sinérgicos de excesso ponderal e
ingestão excessiva de bebidas alcoólicas sobre o surgimento de doenças. Em estudo desenvolvido por Ruhl e Everhart (2005) junto a 13.580 indivíduos adultos americanos, a presença de sobrepeso e obesidade foi associada a um aumento de transaminases provocado pelo consumo de mais de 2 drinques por dia. Assim, neste caso, tanto o álcool como a obesidade podem atuar sinergicamente, favorecendo potencialmente o surgimento de esteatose hepática (Ruhl e Everhart, 2005).
conclusão Os consumidores mostram-se em alto risco de saúde, nos dois períodos, haja vista os efeitos deletérios induzidos pelo consumo excessivo episódico de álcool. Apesar da preocupação empiricamente observada com a ingestão de bebidas alcoólicas no Carnaval, inclusive com campanhas na mídia escrita e televisionada, no presente estudo a prevalência de consumo foi maior no período natalino, assim como a quantidade diária ingerida, ainda que, analisando-se os sexos separadamente, o consumo dos homens tenha sido quantitativamente maior no Carnaval. No País, não têm sido desenvolvidas campanhas educativas direcionadas ao controle do excesso de ingestão de bebidas alcoólicas no período natalino. Os presentes achados despertam para a importância de mais pesquisas sobre o perfil de consumo de bebidas alcoólicas durante tais festejos, o que pode subsidiar o delineamento de campanhas também neste período do ano.
39
mar/abr 2011
| saúde pública
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nutrição e esporte | mar/abr 2011
Avaliação Nutricional e Adequação da Dieta de Atletas de Voleibol em Período Pré-Competitivo Nutritional Assessment and Dietary Adequacy for Volleyball Athletes During Pre-Season
Dra. Paula Costa Cunha -
resumo
o grupo. No entanto, a alimentação
Nutricionista, aluna de pós-graduação
A boa nutrição é indispensável
destes atletas requer adequação das
em nutrição clínica e esportiva pelo
para preservação da saúde e melhora
porções de frutas e vegetais. Além
ICOP
da performance dos atletas. O
disso, maior atenção deve ser dada
Profa. Dra. Christianne Faria Coelho Ravagnani - Nutricionista.
objetivo deste estudo foi avaliar a
à hidratação e suplementação de
adequação da dieta de atletas de
carboidratos durante o treinamento.
Professora de Educação Física.
voleibol e propor uma nova dieta, a
Há necessidade de uma maior
Orientadora no programa de Mestrado
fim de corrigir desvios alimentares
intervenção nutricional nas equipes
em Biociências-Nutrição, Cuiabá-
existentes. A amostra foi composta
esportivas, a fim de atender as
UFMT. Laboratório de Aptidão Física
por 18 atletas, todos do sexo
necessidades
e Metabolismo–LAFIME/UFMT
masculino, com média de idade de
energéticas impostas, bem como
Prof. Fabricio Cesar de Paula Ravagnani - Professor de Educação
20,82±2,65 anos. Aplicou-se
garantir uma boa hidratação.
Física. Aluno de Doutorado do
essenciais sobre cada atleta. O VET
Programa de Pós-Graduação em
e os nutrientes ingeridos foram
A good nutrition is essential for
Saúde e Desenvolvimento da Região
calculados individualmente pelo
health preservation and improvement
Centro-Oeste – UFMS, Campo
software Avanutri online. Através da
of athletic performance. This study
Grande MS e Professor do curso de
avaliação nutricional, foi feita a
aims at assessing the adequacy of
Educação
do
obtendo
demandas
dados
abstract
Centro
adequação da dieta. Os resultados
volleyball athletes’ diet, and proposing
Universitário de Várzea Grande –
mostram que a alimentação se
a new diet to correct existing
UNIVAG.
apresenta inadequada na qualidade
deviations. The sample was
dos alimentos ingeridos e nas
composed of 18 athletes, all male,
palavras-chave: voleibol, dieta,
refeições durante e após os treinos.
with
suplementos
Concluímos que a ingestão de
20,82±2,65years. Important data
macronutrientes se apresentou muito
about each athlete was obtained
próxima ao recomendado para todo
through anamnesis. The TEV (Total
keywords:
física
anamnese,
e
volleyball,
diet,
supplements Recebido: 23/12/2010 – Aprovado: 04/03/2011
an
average
age
of
41
mar/abr 2011
| nutrição e esporte
Energy Value) and consumed
esforços, prevenir baixas no sistema
voleibol e propor uma nova dieta, para
nutrients were individually calculated
imunológico, evitar a fadiga precoce
tentar corrigir desvios alimentares
through the Avanutri online software.
e causar mudanças favoráveis na
existentes
The adequacy of the diet was made
composição corporal, garantindo
futuramente levar a alguma patologia.
through nutritional assessment. The
desta
results show that the type of food
performance e na saúde dos atletas.
consumed before, during and after practice
and
hydration
maneira
Embora
melhoras não
ou
que
possam
na
metodologia
existam
Indivíduos
are
recomendações específicas a cada
inadequate. It was concluded that
modalidade esportiva, há na literatura
O presente estudo foi realizado
the macronutrient intake was close
recomendações voltadas aos atletas
com atletas profissionais de voleibol
to the recommended for the whole
e praticantes de exercícios físicos.
do time Cuiabá Vôlei Clube de
group. But there is a need for
Um exemplo é a Diretriz da
Cuiabá–MT. Foram avaliados 18
adequacy of the amount of fruits and
Sociedade Brasileira de Medicina do
atletas do sexo masculino, com a
vegetables within the nutrition of the
Esporte (SBME, 2009), que orienta
média de idade de 20,82±2,65 anos.
athletes. Furthermore, greater
em relação ao consumo apropriado
Todos os indivíduos assinaram termo
attention should be paid to hydration
dos macronutrientes e suplementos.
de consentimento livre e esclarecido,
and carbohydrate supplementation,
Resultados
de
recentes
conforme
estabelecido
pela
during the training. Finally, greater
estudos revelam que a inadequação
convenção de Helsinki e disposto na
nutritional intervention in sports
nutricional antes, durante e após os
Resolução do Conselho Nacional de
teams is required, to reach for the
exercícios ainda predomina em vários
Saúde nº 196/96.
energetic needs and demands, as
esportes
well as guaranteeing a good
CAMPAGNOLO;
hydration.
PETKOWICZ,2008;), demonstrando
(PANZA,
2007, GAMA;
que a prática alimentar e dietética
introdução
avaliação clínica e nutricional - Anamnese Para o início do trabalho, os
dessa população permanece distante
atletas
das recomendações, reafirmando a
investigação com a aplicação de
necessidade
reeducação
anamnese nutricional, contendo
predomínio do sistema energético
nutricional em diferentes grupos
questões relativas aos hábitos
anaeróbio alático e aeróbio, sendo
atléticos.
alimentares, preferências e aversões
O voleibol é uma modalidade esportiva
caracterizada
pelo
da
passaram
por
uma
dividido em 40% anaeróbio alático,
Nesse sentido, o objetivo do
de cada um dos avaliados, registro
10% anaeróbio lático e 50% aeróbio
presente estudo foi avaliar a
dos treinamentos (tipo, intensidade,
(INÁCIO; MAGALHÃES; MESQUITA,
adequação da dieta de atletas de
horário e frequência semanal),
2006). Este esporte exige de seus praticantes alto nível de mobilidade articular, força, potência, agilidade, condicionamento aeróbio, além de um perfil nutricional e morfológico favorável, devido às características da
Tabela 1 – Características gerais do grupo de atletas profissionais de voleibol do time Cuiabá Vôlei Clube de Cuiabá–MT (N=18). Idade (anos) Média ±DP
Tempo de treino (h/dia)
Consulta prévia com nutricionista (%)
Uso de suplementos (%)
20,82±2,65
6
22,22
16,67
Tabela 2 – Características antropométricas dos atletas profissionais de voleibol do time Cuiabá Vôlei Clube de Cuiabá–MT
A boa nutrição é indispensável
Peso (kg) Média±DP
Estatura (cm) Média±DP
IMC (kg/m 2 ) Média±DP
Classificação do IMC (%)
% Gordura Média±DP
para prover energia, macronutrientes
89,10 ±8,32
196 ±0.09
23,37 ±2,21
Eutróficos=81,82 Sobrepeso=18,18
12,19±5,12
dinâmica do jogo.
e eletrólitos utilizados nestes
42
Classificação do percentual de gordura (%) Normal 68,18% Fora da da normalidade 31,82%
nutrição e esporte | mar/abr 2011 hábitos gerais, como o tabagismo,
alimentos. A necessidade de
gordura foi obtida através da fórmula
uso
ou
macronutrientes foi calculada com
proposta por Siri (1961) apud
suplementos com sua devida
base na Diretriz da Sociedade
Fernandes Filho (2003). Os
identificação, consultas prévias com
Brasileira de Medicina do Esporte
resultados foram classificados dentro
profissionais nutricionistas, avaliação
(SBME, 2009). Para hidratação,
da normalidade quando estavam
antropométrica e recordatório de 24h.
utilizou-se diretriz do American
entre 8 a 15% de gordura corporal,
College of Sports Medicine (1996).
segundo a recomendação de Nahas
de
medicamentos
cálculo e adequação da dieta
(2001).
avaliação da composição corporal
Os dados dietéticos foram
O presente estudo é de caráter transversal e descritivo. Utilizou-se o
obtidos em medidas caseiras,
Foram tomadas medidas de
programa Microsoft Office Excel para
convertidos para gramas e mililitros
peso corporal e estatura, de acordo
tabulação dos dados, os quais foram
e processados através do software
com os procedimentos descritos por
expressos em média, desvio padrão
Avanutri. A análise da adequação da
HEYWARD e STOLARCZYK (2000).
e frequência.
dieta foi feita com base no percentual
A partir destas medidas, foi calculado
de macronutrientes e gramas de
o índice de massa corporal (IMC) por
macronutrientes por quilograma do
meio do quociente peso corporal/ 2
resultados A tabela 1 mostra que o grupo
peso corporal. Além disso, utilizou-
estatura , sendo o peso corporal
possui média de idade relativamente
se o número de porções diárias de
expresso em quilogramas (kg) e a
baixa e grande volume de treino, com
diversos grupos alimentares para
estatura, em metros (m). O
6 horas diárias. A maioria dos atletas
classificar a dieta em adequada ou
diagnóstico nutricional segundo o IMC
não faz uso de suplementos e nunca
inadequada. O consumo de
foi feito utilizando os critérios
se consultou com profissional
micronutrientes foi comparado às
propostos pela Organização Mundial
nutricionista.
quantidades da Ingestão Diária
da Saúde (2002).
Na tabela 2 os dados revelam
Recomendada (DRI, 2002) e da UL,
Para o percentual de gordura,
que a maioria dos atletas se encontra
que representa o nível máximo de
foi utilizado o método de dobras
dentro do padrão adequado exigido
ingestão diária de um nutriente.
cutâneas. As medidas foram feitas
pelo voleibol, porém alguns
Tanto para o cálculo quanto
pelo uso do compasso da marca
apresentaram IMC e % de gordura
para a readequação da dieta de todos
Lange. Todas as medidas foram feitas
acima dos limites desejáveis para a
os atletas foram utilizadas as
em triplicata, usando-se a média das
modalidade. Três jogadores foram
recomendações propostas na
três dobras, sendo elas a Tricipital
classificados em sobrepeso e 15,
pirâmide nutricional adaptada às
(TR), Suprailíaca (SI) e Abdominal
eutróficos. A porcentagem de gordura
características da população
(AB),
os
obteve média igual a 12,14±5,12%,
desportista (GONZÁLEZ-GROSS et
procedimentos descritos por Guedes
classificando praticamente 68% dos
al., 2001) para a ingestão de porções
(1985). A conversão dos valores de
atletas dentro da normalidade.
diárias de diversos grupos de
densidade corporal em percentual de
de
acordo
com
A tabela 3 mostra que os
Tabela 3 – Análise do consumo de macronutrientes pelos atletas profissionais de voleibol do time Cuiabá Vôlei Clube de Cuiabá–MT Consumido (%)
Recomendação (%)
Consumido (g/kg)
Adequação
PTN
CHO
LIP
PTN
CHO
LIP
13,46
57,62
28,92
ND
60 a
30%
Carboidratos
70% do
do
abaixo do
VCT
VCT
recomendado
Recomendação (g/kg/ dia)
PTN
CHO
LIP
PTN
CHO
LIP
1,49
6,40
1,42
1,2 a
5a8
1,0
1,7
Adequação
Lipídios superior ao recomendado
PTN=proteína; CHO=carboidratos, LIP=lipídios, VCT=valor calórico total da dieta; ND=não descrito
43
mar/abr 2011
| nutrição e esporte
valores encontrados para a ingestão
carnes, que se apresentou acima das
frutas e vegetais e pouca gordura nas
de macronutrientes estão próximos
recomendações diárias propostas na
refeições
à recomendação direcionada a
pirâmide adaptada aos atletas
treinamentos.
atletas. O percentual de carboidratos
(GONZÁLEZ-GROSS et al., 2001).
que
sucediam
os
A ingestão de cereais pelos
está aquém do necessário e a
Nota-se que apenas 22% dos
jogadores de voleibol deste estudo foi
quantidade de lipídios (g/kg de peso
jogadores já haviam se consultado
superior às recomendações diárias,
corporal) encontra-se discretamente
com profissionais nutricionistas,
diferenciando-se do padrão de
acima da média recomendada.
apontando para o fato de que muitos
ingestão de carboidratos apresentado
Na tabela 4 nota-se que houve
deles não possuem informações
por diversos grupos de atletas, como
inadequação no consumo de frutas
suficientes sobre alimentação
demonstrado
e vegetais. Já o consumo de carnes
saudável e não aprenderam a fazer
CAMPAGNOLO (2008), que relata
e cereais foi superior ao descrito na
escolhas
de
consumo excessivo de proteínas e
pirâmide.
suplementos nutricionais adequados
lipídios e ingestão insuficiente de
às características de seus treinos.
carboidrato em relação ao valor
A tabela 5 mostra que a
alimentares
e
no
estudo
de
ingestão de folato e cálcio se
As refeições realizadas pelos
energético total. Este fator foi
apresentou abaixo das necessidades
atletas antes, durante e pós-treino
considerado positivo, já que os
diárias desses micronutrientes.
foram consideradas inadequadas em
carboidratos são importantes fontes
alguns aspectos. Para a maioria dos
energéticas, tanto nos esforços
jogadores, houve a necessidade de
aeróbios quanto anaeróbios. Além
No presente estudo, as
incluir mais carboidratos na refeição
disso, o consumo de carboidratos
inadequações observadas na dieta
pré-treino. Foram indicadas bebidas
antes, durante e após os treinos é
dos atletas foram decorrentes
carboidratadas durante os treinos e
necessário para retardar a fadiga
principalmente do baixo consumo de
fornecidas orientações básicas para
muscular e favorecer o desempenho
frutas e vegetais. O fator financeiro
que
físico e metal.
foi apontado pelos atletas como a
carboidratos de alto índice glicêmico,
Neste sentido, observa-se que
maior dificuldade para adquirirem
proteínas de alto valor biológico,
as recomendações propostas pela
discussão
alimentos saudáveis e suplementos alimentares.
houvesse
consumo
de
Tabela 4 – Análise das porções dos alimentos ingeridos pelos atletas e adequação em relação às recomendações da Pirâmide Alimentar adaptada para atletas (2005). Média consumida (porções)
A minoria dos atletas (16,67%)
Recomendação (porções)
Adequação
relatou consumir suplementos,
Frutas
1,5
2a4
ABAIXO
sendo o uso por conta própria ou por
Vegetais
2
3a5
ABAIXO
indicação de amigos. As principais
Laticínios
3,2
3a4
ADEQUADO
Carne
4
2a3
ACIMA ADEQUADO
fórmulas utilizadas foram à base de
Óleo
4
2a4
proteínas e aminoácidos, como o
Cereais
15,8
6 a 11
ACIMA
BCAA e Whey protein, confirmando
Leguminosas
2
2a3
ADEQUADO
os achados de FERNANDES (2009), que classifica os suplementos
Tabela 5 – Média das vitaminas e minerais presentes na dieta dos atletas profissionais de voleibol do time Cuiabá Vôlei Clube de Cuiabá–MT
proteicos em segundo lugar dos mais consumidos por atletas, perdendo
VIT.C (mg)
Consumido
DRI 2002
UL
1033,73
90
2.000,00
VIT. E (mg)
22,62
15
1.000,00
Folato (mcg)
206,57
400
1.000,00
Fica evidente a preferência dos
Ca (mg)
891,31
1000
2.500,00
atletas por alimentos proteicos, ao
Fe (mg)
23,31
8
45,00
analisarmos o consumo do grupo das
Zn (mg)
17,63
11
40,00
apenas para os polivitamínicos.
DRI – Ingestão Diária Recomendada. UL – Nível Máximo de ingestão diária de um nutriente.
44
nutrição e esporte | mar/abr 2011 pirâmide servem como base para a
saudáveis (DRI, 2002), embora o
atletas possui composição corporal
prescrição da dieta de atletas, porém
consumo de laticínios estivesse
dentro dos padrões de normalidade
não devem ser consideradas
dentro das recomendações da
para a modalidade. A ingestão de
inflexíveis, uma vez que as
pirâmide para grupos de alimentos.
macronutrientes apresentou-se muito
necessidades dos atletas podem
A importância específica do
próxima ao recomendado para todo
variar, em função de inúmeros
folato e cálcio na dieta deve-se pelo
o grupo. No entanto, a alimentação
aspectos.
fato dos atletas de voleibol
destes atletas requer adequação das
A atenção à adequação total da
apresentarem maior densidade óssea
porções de frutas e vegetais. Além
dieta desses esportistas torna-se
(correlacionada ao esporte de
disso, maior atenção deve ser dada
necessária para que seja possível a
impacto) e por serem essenciais para
à hidratação e suplementação de
ingestão adequada não só dos
o crescimento e funcionamento ótimo
carboidratos durante o treinamento.
macronutrientes, como também dos
do sistema nervoso e medula óssea
Torna-se fundamental a participação
micronutrientes. No presente estudo,
(SOUZA, 2008).
do profissional nutricionista nas
a ingestão de folato e cálcio apresentou-se
aquém
das
necessidades diárias de indivíduos
equipes esportivas, já que grande
conclusão Conclui-se que a maioria dos
parte dos atletas nunca se consultou com estes profissionais específicos.
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45
mar/abr 2011
| nutrição e ecologia
Avaliação da Aceitação das Preparações Servidas em uma Unidade de Alimentação e Nutrição Evaluation of the acceptance of preparations served in a Food Service Units
Dra. Bruna Maria Silveira -
keywords - food production; waste;
distribuídos), de 9 a 69%. Assim, para
Mestranda em Nutrição – Programa
satisfaction survey; debris-intake
redução destes índices, é necessário
de Pós-Graduação em Nutrição –
rate.
realizar treinamento com os
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de
funcionários e conscientização dos
resumo
comensais, através de campanhas
O objetivo deste estudo foi
contra o desperdício.
Refeições – NUPPRE
avaliar a aceitação das preparações
Clarisse Coberlini de Souza -
servidas em uma UAN, por meio de
Acadêmica
–
pesquisa de satisfação e índice resto-
The aim of this paper is to
Universidade Federal de Santa
ingestão. A pesquisa de satisfação,
present the evaluate the acceptance
Catarina (UFSC)
realizada em três dias consecutivos,
of preparations served at Food
Cristie Regine Klotz Zuffo -
apontou uma avaliação positiva de
Service Units through satisfaction
Acadêmica
–
satisfação, pois os itens temperatura,
survey and analysis of the debris-
Universidade Federal de Santa
sabor, textura, aparência e ambiente
intake rate. A satisfaction survey, it
Catarina (UFSC)
obtiveram avaliação superior a 85%
was conducted for three consecutive
Dra. Renata Carvalho de Oliveira - Professora Substituta -
entre as categorias bom e ótimo. Ao
days, showed a positive assessment
analisar o índice de resto-ingestão,
of satisfaction, as temperature,
Departamento de Nutrição –
em dez dias não consecutivos,
taste, texture, appearance and
Universidade Federal de Santa
verificou-se
valores
environmental assessment obtained
Catarina (UFSC). Núcleo de Pesquisa
encontrados eram abaixo de 10%,
more than 85% between good and
de Nutrição em Produção de
sendo estes considerados aceitáveis.
excellent categories. By analyzing the
Refeições – NUPPRE
Entretanto, as porcentagens de
content of debris-intake in ten non-
restos (alimentos que foram
consecutive days, it was found that
palavras-chave - produção de
distribuídos e não consumidos)
the values were below 10%, which are
refeições; desperdício; pesquisa de
variaram de 6 a 24% e de sobras
considered acceptable, however the
satisfação; índice de resto-ingestão
(alimentos produzidos que não foram
percentage of debris ranged from 6
46
de
de
Nutrição
Nutrição
que
os
abstract
Recebido: 30/11/2010 – Aprovado: 15/03/2011
nutrição e ecologia | mar/abr 2011 to 24% and remains of the 9 to 69%.
ingestão deverá ser insignificante,
amostra foi por conveniência, e todos
Thus, to reduce these rates is a
refletindo a satisfação com as
os comensais foram convidados a
necessary process of employee
refeições oferecidas (TEIXEIRA et al.,
participar da pesquisa após a
training and awareness of the diners,
2000). Na ocorrência de quantidades
realização da refeição, após
and the implementation campaigns
significantes de resto-ingestão, a
permitirem a uso das informações
against waste.
quantidade de alimentos destinada ao
coletadas. A análise dos dados foi
preparo das refeições deverá ser
baseada na frequência das respostas
reavaliada e trabalhos voltados à
categorizadas em ótimo, bom e
A Unidade de Alimentação e
conscientização dos comensais para
regular, sendo avaliada a frequência
Nutrição (UAN) tem por objetivo
redução dos desperdícios deverão
geral das respostas.
elaborar e oferecer uma alimentação
ser realizados (ABREU et al., 2003).
introdução
hábitos alimentares dos comensais
autores, o desperdício pode ser
índice de resto-ingestão, sobra e resto
(BRADACZ, 2003).
sinônimo de falta de qualidade e é
Para avaliar a quantidade de
Uma das formas de avaliar a
determinado por diversos fatores,
alimentos desperdiçados e calcular
aceitação do cardápio e das
como, por exemplo, planejamento
o resto-ingestão, utilizaram-se como
preparações servidas em uma UAN é
inadequado no número de refeições,
conceitos norteadores: sobra, sendo
através da pesquisa de satisfação.
frequência diária dos comensais,
todo alimento produzido, porém não
Pesquisar a respeito da satisfação dos
preferências
e
distribuídos (VAZ, 2006; TEIXEIRA,
comensais é uma tarefa fundamental
treinamento dos funcionários na
2000); resto, sendo alimentos
para a gestão das empresas, além de
produção e porcionamento.
distribuídos e não consumidos (VAZ,
adequada às características e
Segundo
estes
mesmos
alimentares
proporcionar benefícios, como uma
Assim, o presente estudo teve
2006; TEIXEIRA, 2000); rejeito,
percepção mais positiva dos
como objetivo avaliar a aceitação das
sendo alimentos presentes no prato
comensais em relação ao serviço, por
preparações servidas em uma UAN
do comensal que não foram
meio de informações precisas e
de São José-SC, por meio da
consumidos (AMORIM et al., 2005);
atualizadas
pesquisa de satisfação e da
e índice resto-ingestão, que é o índice
avaliação de resto-ingestão.
utilizado para avaliar o consumo real
quanto
às
suas
necessidades, podendo então realizar
da refeição, através da relação
ações corretivas e desenvolver a confiança destes, em função de uma maior
aproximação
(ABREU;
SPINELLI; ZANARDI, 2003).
métodos A pesquisa foi realizada em uma UAN que fornecia em média 200
percentual entre o peso do rejeito e o peso da preparação distribuída (AMORIM et al., 2005). Durante
dez
dias
não
Outro método utilizado para
almoços pelo sistema bufê de
avaliar a aceitação das preparações
autosserviço para trabalhadores de
consecutivos, todas as preparações
servidas é a análise do índice de
indústrias.
produzidas destinadas ao almoço, assim como as sobras, os restos e
resto-ingestão. O controle de restoingestão visa avaliar a adequação das
pesquisa de satisfação
o rejeito, foram pesadas com o auxílio
quantidades preparadas em relação
Durante três dias consecutivos,
de uma balança tipo digital, marca
às necessidades de consumo, ao
aplicou-se um questionário aos
Filizola, com precisão de 40g e
porcionamento na distribuição e à
comensais da UAN, que abordava os
capacidade máxima de 6 kg, e
aceitação do cardápio (MAISTRO,
seguintes itens: temperatura, sabor,
Balança Balmak® do tipo plataforma,
2000). Quando há qualidade na
textura e aparência da refeição, bem
com capacidade máxima de 150 kg,
preparação dos alimentos, o resto-
como o ambiente do refeitório. A
descontando o valor do recipiente.
47
mar/abr 2011
| nutrição e ecologia
Para quantificar as preparações
todos os quesitos avaliados, uma vez
por meio de um instrumento de
distribuídas, foram somados os
que temperatura, sabor, textura,
votação pelo qual o cliente, na saída
valores das sobras e restos. O valor
aparência e ambiente obtiveram
do refeitório, conceitue a refeição
encontrado foi diminuído do valor total
avaliação superior a 85% entre as
(ABREU;SPINELLI; ZANARDI,
dos alimentos produzidos.
categorias “bom” e “ótimo”. A avaliação
2003).
A determinação do percentual
concentrou-se na categoria “bom” em
importância de realização periódica
de sobras é a razão percentual entre
todos os dias de pesquisa e em todas
de uma pesquisa mais detalhada
as sobras prontas após servir a
as variáveis analisadas. Destaca-se
para identificar a avaliação por
refeição e o peso das preparações
que, apesar da avaliação positiva do
quesitos considerados importantes e
distribuídas; o percentual dos restos
sabor, em sua maioria como “bom” e
direcionar melhor o planejamento a
é a razão percentual entre os restos
ótimo”, este quesito foi o que mais
ser realizado.
após servir a refeição e o peso das
recebeu avaliação “regular” (13%),
preparações distribuídas; e o resto-
quando comparado aos outros.
Salienta-se
então
a
ingestão é o índice que corresponde
Um método prático para avaliar
índice de resto-ingestão, sobra e resto
à razão percentual entre o peso do
a satisfação dos comensais no
O percentual médio encontrado
rejeito e o das preparações
momento do consumo alimentar é
de sobras foi de 24%, variando de 9
distribuídas e indica o consumo real
estabelecer uma pesquisa contínua,
a 69%. O percentual médio dos
da refeição servida (VAZ, 2006). % Sobras = sobras prontas após servir as refeições (kg) x 100 peso das preparações distribuídas (kg)
% Restos = restos após servir as refeições (kg) x 100 peso das preparações distribuídas (kg)
% Resto-ingestão = peso do rejeito (kg) x 100 peso das preparações distribuídas (kg)
resultados e discussão pesquisa de satisfação
Tabela 1 – Percentual de sobras, restos e resto-ingestão da UAN durante os dez dias de pesquisa. São José/SC. Dia
% de Sobras
% de Restos
201
1º dia
28
14
7
participações, sendo 89% do sexo
2º dia
9
13
7
Obtiveram-se
% de Resto-ingestão
3 ºdia
69
17
6
masculino. No Gráfico 1 é possível
4º dia
17
15
7
visualizar a avaliação geral de
5º dia
30
19
9
satisfação dos comensais do
6º dia
25
21
7
7º dia
9
24
6 4
refeitório da UAN.
8º dia
22
6
O resultado aponta para uma
9º dia
14
12
8
avaliação positiva de satisfação em
10º dia
14
15
6
Média
24
16
7
48
nutrição e ecologia | mar/abr 2011 restos foi de 16% (6 a 24%). Já o resto-ingestão indicou uma média de 7%, ficando entre 4 a 9% nos dias pesquisados (Tabela 1).
margem de segurança determinada
meta de 5% e, para atingir este
pela UAN.
percentual, uma campanha para
Observa-se que o percentual de restos encontrado está acima do
redução
de
desperdício
foi
direcionada aos comensais.
ABREU e colaboradores (2003)
indicado por Vaz (2006), que é de até
relatam que não existe uma
3%. Os alimentos distribuídos e não
porcentagem ideal de sobras, porém
consumidos, ou seja, os restos, não
Ao avaliar a aceitação das
sabe-se que, quanto menor a
devem ser reaproveitados, a fim de
preparações por meio da pesquisa de
porcentagem, menor é a chance de
evitar possíveis contaminações
satisfação e quantificação do índice
desperdiçar alimentos. Em estudo
microbiológicas e a perda da
de resto-ingestão, evidenciou-se
avaliando desperdício em uma UAN
qualidade sensorial (BRADACZ,
resultados positivos, porém os altos
de Fortaleza-CE, encontrou-se um
2003). Destaca-se que a grande
percentuais de sobras e restos
percentual médio de sobras de 9,8%
variação dos percentuais de restos
encontrados são preocupantes.
(RICARTE et al., 2008), valor
se deu porque em alguns dias da
Destaca-se a necessidade de melhor
consideravelmente inferior ao
pesquisa havia um excesso de
planejamento das quantidades de
encontrado no atual estudo.
alimentos disponíveis na distribuição
alimentos produzidos e distribuídos,
Uma possível explicação para
no final do horário de almoço,
além
o elevado percentual de sobras
indicando falha no momento da
comprometimento da equipe de
encontrado seria uma falha no
reposição, principalmente no terço
funcionários, para controlar o
planejamento referente ao número de
final da distribuição.
desperdício de alimentos no
conclusão
de
treinamentos
e
comensais. Dessa forma, estariam
Já no que diz respeito ao índice
processo produtivo e melhorar a
sendo produzidas mais refeições do
de resto-ingestão, os valores
qualidade na UAN. Junto a isso, são
que realmente o necessário. Nessa
encontraram-se abaixo do citado pela
importantes campanhas para
circunstância, é indispensável um
literatura, que é abaixo de 10% para
conscientização sobre o tema com
novo planejamento que seja
coletividades sadias (TEIXEIRA et al.,
os comensais, tornando-os parceiros
adequado ao número de comensais,
2000). Mesmo estando o percentual
no controle do desperdício de
levando-se em consideração a
adequado, a UAN estabeleceu uma
alimentos.
referências • AUGUSTINI, V. C. M.; KISHIMOTO, P.; TESCARO, T. C.; ALMEIDA, F. Q. A. Avaliação do índice do resto-ingestão e sobras em uma unidade de alimentação e nutrição (UAN) de uma empresa metalúrgica na cidade de Piracicaba/SP. Rev Simbio-Logias, v. 1, n. 1, p.99-110, 2008. • AMORIM, M. M. A.; JUNQUEIRA, R. G.; JOKL, L. Adequação nutricional do almoço self-service de uma empresa de Santa Luzia, MG. Rev Nutr, v. 18, n. 1, p. 145-156, 2005. • ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; ZANARDI, A. M. P. Gestão de unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. São Paulo: Metha, 2003. • BRADACZ, D. C. Modelo de gestão de qualidade para o controle de desperdício em Unidades de Alimentação e Nutrição. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. • CORRÊA, T. A. F.; SOARES, F. B. S.; ALMEIDA, F. Q. A. Índice de resto-ingestão antes e durante a campanha contra o desperdício, em uma unidade de alimentação e nutrição. Hig Aliment, v. 21, n. 140, p.64-73, 2006. • MAISTRO, L.C. Estudo do índice de resto ingestão em serviços de alimentação. Nut. em Pauta, v. 8, n. 45, p. 40-43, 2000. • RICARTE, M.P.R; FÉ, M.A.B.M; SANTOS. I.H.V.S; LOPES, A.C.M. Avaliação do desperdício de alimentos em uma Unidade de Alimentação e Nutrição Institucional em Fortaleza-CE. Saber Científico, v.1, n.1, p. 158 - 175, 2008. • TEIXEIRA, S.M.F.; OLIVEIRA, Z.M.C.; REGO, J.C.; BISCONTINI, T.M.B. Administração Aplicada às Unidades de Alimentação e Nutrição. São Paulo: Atheneu, 2000. • VAZ, C. S. Restaurantes: controlando custos e aumentando lucros. Brasília: Metha, 2006.
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Avaliação Qualitativa da Dieta de Funcionários de uma Rede de Restaurantes de Alimentação Saudável no Município de São Paulo Diet Qualitative Evaluation of Employees from a Healthy Food Network in São Paulo Municipal District Débora Helena Silveira Dias Aluna de Graduação em Nutrição pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo
Profa. Dra. Márcia Nacif Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar (HC-FMUSP), mestre em Nutrição Humana Aplicada (USP), doutora em Saúde Pública (USP). Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário São Camilo.
Dra. Patricia Cristina Cintra Gomes - Nutricionista, especialista em Marketing de Alimentos pela CESMA - Escuela de Negócios – Madrid e gerente da área de Nutrição da rede de restaurantes de alimentação saudável. palavras-chave - restaurantes, funcionários, alimentação. keywords - restaurants, employees, feeding.
resumo O estudo teve como objetivo avaliar a qualidade da dieta de funcionários de uma unidade pertencente a uma rede de
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restaurantes de alimentação saudável de São Paulo. Realizou-se um estudo transversal com todos os funcionários que trabalhavam no período da manhã e da tarde (n=20). Foram avaliadas variáveis socioeconômicas e de hábitos alimentares. Pôde-se observar que 40% (n=8) dos funcionários eram do gênero feminino e 60% (n=12) do gênero masculino, com idade média de 23,1 anos (±6,9). O consumo alimentar mostrou-se adequado apenas para o grupo de carnes e ovos e leguminosas e inadequação para os demais grupos, com destaque para o alto consumo de doces e o baixo consumo de frutas, verduras e legumes. Dessa forma, estratégias de promoção da saúde, a fim de melhorar a qualidade de vida, devem ser incentivadas.
abstract The article aimed to evaluate the diet quality of employees from a healthy food network in São Paulo. A cross sectional study was done with all the employees from the morning shift and from the night shift (n=20). Were evaluated socioeconomics variables and eating habits. Were evaluated 40% (n=8) of the female employees and 60% (n=12) of the
male employees with mean age of 23,1 years (±6,9). The consumption was adequate only in the meat, eggs and vegetables groups, in the other groups the consumption was inadequate, pointing the high consumption of sweets and the low consumption of fruits, greens and vegetables. In this context, health promotion strategies to improve the quality of life, should be encouraged.
introdução É inegável a mudança substancial do Brasil nos últimos anos, no que se refere ao campo da alimentação. Atribuídas a fatores externos, como a globalização, as novas demandas geradas pelo modo de vida urbano impõem ao indivíduo a necessidade de estruturar sua vida segundo as condições das quais dispõe, como tempo, recursos financeiros, locais disponíveis para se alimentar, local e periodicidade das compras, entre outras. As soluções são capitalizadas pela indústria e comércio, apresentando alternativas adaptadas às condições urbanas e delineando novas modalidades no modo de comer, o que certamente contribui para alteração no padrão típico do consumo alimentar, Recebido: 11/12/2010 – Aprovado: 24/03/2011
food service | mar/abr 2011 registrando um grande aumento no consumo de gorduras, acompanhado do sedentarismo da maioria das pessoas (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; GARCIA, 2003; SAVIO et al., 2005). Neste contexto de mudanças, insere-se o perfil nutricional do trabalhador brasileiro, em que estudos mostram uma pré-obesidade elevada entre estes indivíduos, com estimativas de prevalência variando entre 34 e 56% (VELOSO; SANTANA, 2002; STOLTE; HENNINGTON; BERNARDES, 2006). Com a preocupação diante do estado nutricional da população, políticas de melhorias da saúde e alimentação foram propostas na década de 40 e, em 1976, expandiuse a cobertura destas ações aos trabalhadores de baixa renda, com a criação do PAT – Programa de Alimentação do Trabalhador (VELOSO; SANTANA, 2002; SAVIO et al., 2005; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). Um dos objetivos do PAT é a melhora do estado nutricional do trabalhador, independente da modalidade do serviço, visando estimular empresas a adotarem um processo educativo permanente, resgatando da dieta brasileira mudanças desejáveis e aspectos positivos do atual padrão de consumo. Com o atual quadro epidemiológico, de avanço das doenças crônicas e da obesidade, o ambiente de trabalho vem sendo reconhecido como um local propício às modificações de comportamento precursor de doenças, não apenas associados à função ocupacional, mas também à dieta, à atividade física e ao tabagismo. As iniciativas devem voltar-se à redução da quantidade de gorduras, açúcar e sal dos alimentos, elaborando opções inovadoras e saudáveis nos cardápios, além de promover o
consumo de frutas, legumes e verduras, respeitando os princípios da variedade, da moderação e do equilíbrio, além do aspecto socioeconômico, cultural e de segurança alimentar e nutricional (SAVIO et al., 2005; VILARTA; SONATI, 2007; BANDONI; JAIME, 2008). O PAT vem sofrendo alterações ao longo dos anos, devido às transformações pelas quais vem passando a área de alimentação no Brasil em relação às demandas da população e às mudanças da sociedade (SAVIO et al, 2005). Entretanto, de acordo com a Portaria nº101 do Ministério do Trabalho e Emprego (2004), é baixo o percentual de adesão ao programa por parte das micro e pequenas empresas. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade da dieta de funcionários de uma unidade pertencente a uma rede de restaurantes que comercializa preparações saudáveis no município de São Paulo, identificando problemas na execução de cardápios e propondo melhorias.
metodologia Trata-se de um estudo do tipo descritivo transversal, com coleta de dados primários. A amostra foi constituída por todos os funcionários que trabalhavam no período da manhã e da tarde (n=20), de ambos os gêneros, de uma unidade pertencente a uma rede de restaurantes que comercializa preparações saudáveis, do município de São Paulo. Os dados foram coletados durante o mês de março de 2010. A coleta de dados foi realizada na própria unidade, durante os dias da semana, de acordo com a disponibilidade dos funcionários, sem causar qualquer prejuízo para o funcionamento do local. Só fizeram
parte da amostra os funcionários que concederam permissão para sua execução, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido do participante. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob número CIEP 002/ 02/09. Foi aplicado um questionário constituído por dados sóciodemográficos e informações sobre a alimentação e os hábitos alimentares dos funcionários. O questionário para a avaliação de hábitos alimentares foi elaborado com base nos alimentos propostos pela pirâmide alimentar para população brasileira e suas respectivas porções diárias, desenvolvido por Philippi (1999). Foram considerados como consumo adequado aqueles valores que se encaixaram ao número de porções propostas pela pirâmide alimentar e como inadequado os que excederam ou ficaram abaixo dos valores propostos. Os dados de interesse deste trabalho foram digitados em planilhas e armazenados no programa EXCEL para Windows. Foi realizado o cálculo de medidas de tendência central (média) e medidas de dispersão (desvio padrão), e foram elaboradas tabelas para a apresentação dos resultados.
resultados e discussão Foram avaliados 20 funcionários de uma unidade de uma rede de restaurantes que comercializa preparações saudáveis no município de São Paulo, sendo 40% (n=8) do gênero feminino e 60% (n=12) do masculino, com idade média de 23,1 anos (±6,9). Pôde-se observar que 90% (n=18) dos participantes do estudo tinham de 8 a 12 anos de estudo e que 80% (n=16) eram solteiros. Neste estudo, a maioria dos
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funcionários apresentou escolaridade igual ou superior ao segundo grau, o que caracteriza uma população com bom nível de instrução. Tal dado é semelhante ao encontrado por Savio et al. (2005), ao avaliar a escolaridade de funcionários participantes do Programa de Alimentação do Trabalhador de Brasília no Distrito Federal. Esses dados corroboram a afirmação de que a escolarização entre os trabalhadores do Brasil obteve uma melhoria na última década, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008. A média de refeições consumida diariamente pelos participantes do estudo, foi de 3,4 (±1,8), sendo que 25% (n=5) dos participantes afirmaram realizar apenas 2 refeições por dia, 50% (n=10) relataram fazer 3 refeições diárias e 25% (n=5) disseram realizar mais que 3 refeições por dia. Todos os entrevistados afirmaram realizar pelo menos uma refeição no local de trabalho, das quais, 100% (n=20) eram o almoço, 40% (n=8) o jantar, 30% (n=6) o café da manhã e 10% (n=2) algum tipo de lanche. Pôde-se observar que, embora haja a possibilidade de preparo de refeições equilibradas pelos funcionários desta unidade de restaurantes saudáveis, houve monotonia de cores e pouca variação dos alimentos consumidos no período
do almoço. Tal dado não é favorável à saúde dos participantes do estudo, já que a alimentação recebida na empresa representa, para muitos funcionários, a maior parte dos alimentos consumidos ao longo do dia. Segundo o Guia Alimentar Para a População Brasileira (2006), uma alimentação saudável é aquela composta por três tipos de alimentos básicos: 1) alimentos com alta concentração de carboidratos, como grãos, pães, massas, tubérculos e raízes; 2) frutas, legumes e verduras; 3) alimentos vegetais ricos em proteínas (grãos integrais, leguminosas e castanhas). De acordo com a análise dos hábitos alimentares dos funcionários da unidade, o consumo de alimentos mostrou-se adequado apenas para o grupo de carnes, ovos e leguminosas, garantido um bom aporte proteico aos integrantes da pesquisa, já que estes alimentos são as principais fontes de proteína da dieta (PHILIPPI, 1999). A Tabela 1 também demonstra um baixo consumo de frutas, verduras e legumes pelos indivíduos. As hortaliças e frutas são consideradas importantes fontes de vitaminas, minerais e fibras e são recomendadas para a constituição de uma dieta equilibrada (FAGUNDES et al., 2008). Observa-se ainda que o consumo de alimentos que fazem
Tabela 1 – Distribuição em número e porcentagem de funcionários, segundo a adequação de consumo dos grupos de alimentos. São Paulo, 2010. Média Diária
Abaixo do Recomendado (%)
Adequado (%)
Acima do Recomendado (%)
Cereais
4,1 (±2,7)
80
15
5
Vegetais e Legumes
0,6 (±0,4)
100
-
-
Frutas
0,8 (±0,7)
100
-
-
Leite e Derivados
1,6 (±1,5)
85
5
10
Carnes
1,7 (±0,6)
-
95
5
Ovos
0,1 (±0,3)
-
95
5
Leguminosas
1,3 (±0,6)
15
45
40
Doces
2,6 (±1,8)
25
10
65
Óleos e Gorduras
0,5 (±0,5)
70
30
-
Grupos Alimentares
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parte do grupo de leites e derivados mostrou-se muito abaixo do recomendado. Tal fato é preocupante, considerando-se que os laticínios são a melhor fonte de cálcio da alimentação e sua importância está relacionada às funções que desempenha na mineralização óssea, além da participação em inúmeros processos orgânicos, como reações enzimáticas, liberação de hormônios e neurotransmissores, contração muscular e coagulação sanguínea (FERNANDES; PRADO; NAVES, 2008). Apesar do consumo inadequado de cereais como trigo, milho e aveia, 85% (n=17) dos participantes relataram ingerir arroz e feijão diariamente. A tradicional combinação arroz e feijão oferece um excelente ajuste proteico na dieta dos brasileiros. O arroz possui pequenas quantidades de lisina, que, por sua vez, é encontrada em grandes proporções no feijão. De forma contrária, o feijão contém pouca metionina, que existe em grandes quantidades no arroz. Quanto ao consumo de óleo, 80% (n=16) dos trabalhadores afirmaram adicionar azeite às preparações, sendo este um hábito saudável, devido aos seus benefícios como a ação antioxidante e a prevenção de doenças como as cardiovasculares (LOPES, ESTEVÃO, 2000). Porém, quanto ao consumo de óleo vegetal, 25% (n=5) não souberam relatar quantas latas de óleo são consumidas mensalmente em casa, 50% (n=10) relataram consumir menos de 1 lata por pessoa na família ao longo do mês, 20% (n=4) consumiam 1 lata de óleo por pessoa da família e 5% (n=1) consumiam mais de 1 lata por pessoa na família no mês. Ainda de acordo com a Tabela 1, pôde-se observar um alto
food service | mar/abr 2011 consumo de doces, contrariando as orientações propostas pela pirâmide para a população brasileira (PHILIPPI, 1999), que preconiza que os alimentos como óleos e gorduras, açúcares e doces devem ter seu consumo moderado, uma vez que estes nutrientes já existem de forma natural, de composição ou de adição, em vários alimentos e preparações. Quanto ao consumo de sal, 50% (n=10) dos participantes relataram não adicionar sal ao alimento depois de pronto. A reduzida quantidade de gordura, açúcar e sal na alimentação diminui o risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e potencialmente fatais, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares (GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2006). O consumo de água também mostrou-se inadequado, pois 55% (n=11) relataram consumir menos que 6 copos de água por dia, 25% (n=5) relataram consumir de 6 a 8 copos e 20% (n=4) consumiam mais
que 8 copos de água por dia. A água é um nutriente essencial para a saúde humana e sua ingestão diária é crucial à vida, devendo ser incentivada independente de outros líquidos. É considerada como o nutriente de maior função no organismo, auxiliando na regulação de temperatura corporal, transporte de nutrientes, eliminação de substâncias tóxicas e participando dos processos digestivo, respiratório, cardiovascular e renal (BRASIL, 2006). Os dados obtidos neste estudo indicam a necessidade de efetivas ações educativas de intervenção alimentar e nutricional, que promovam a reorientação das opções alimentares, visando escolhas mais saudáveis por parte dos funcionários da unidade. Como proposta de melhoria para a alimentação dos trabalhadores, foi proposto um cardápio adaptado às necessidades dos funcionários da unidade, tentando minimizar os erros encontrados na alimentação e assegurando uma
oferta alimentar de melhor qualidade. Para uma maior adesão de acompanhamento, foi elaborado um material teórico para ser aplicado em forma de treinamento com a equipe de funcionários, demonstrando a importância de uma alimentação balanceada e contemplando todos os grupos de alimentos.
conclusão De acordo com a análise da alimentação dos funcionários, o consumo mostrou-se adequado apenas para o grupo de carnes e ovos e leguminosas e inadequação para os demais grupos, com destaque para o alto consumo de doces e o baixo consumo de frutas, verduras e legumes. Dessa forma, estratégias de promoção da saúde, como estas realizadas, a fim de melhorar a qualidade de vida, devem ser incentivadas e mantidas, com o nutricionista exercendo seu papel de educador e promovendo benefícios à saúde dos trabalhadores em relação à alimentação.
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Técnicas Gastronômicas
Le Cordon Bleu
®
Chef Patrick Martin - VicePresidente de Desenvolvimento Educacional em Culinária, é o Embaixador Internacional do Instituto “Le Cordon Bleu”. Com mais de 25 anos de experiência trabalhou no Le Doyen, Dalloyau e Flo Prestige na França. Ganhador de vários prêmios internacionais, supervisionou o desenvolvimento técnico e a abertura da escola de Tóquio e ajudou a estabelecer o nível profissional das escolas da França, Londres e Tóquio
Salada de Namorado com Cogumelos Ostra copyright 2011 - Le Cordon Bleu Paris
palavras-chave – frango, arroz, salada de namorado keywords – Steak, Chicken, Perch Salad
resumo As receitas do Le Cordon Bleu apresentadas nesta edição são: – Salada de Namorado com Cogumelos Ostra – Frango Assado – Pudim de Arroz e Caramelo com Creme Inglês
abstract The recipes from Le Cordon Bleu for this edition are : – Perch Salad with Oyster Mushrooms – Roast Chicken – Caramel rice pudding and creme anglaise
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Recebido: 10/03/2011 – Aprovado: 23/03/2011
gastronomia | mar/abr 2011 modo de preparo 1. Descame e limpe o peixe: Retire as nadadeiras do dorso e da barriga usando uma tesoura de cozinha. Descame o peixe usando um descamador ou então utilize as costas de uma faca grande. Faça um corte perto das guelras e retire a cabeça. Retire as vísceras fazendo um corte na barriga do peixe, perto da cabeça; descarte. Passe o peixe embaixo de água corrente para lavar bem e seque-o com papel toalha. Para facilitar a retirada dos filés, faça um pequeno corte logo onde termina o rabo. 2. Para filetar o peixe: Coloque uma das mãos no peixe para segurá-lo firmemente no lugar. Faça um corte ao longo da espinha dorsal começando da cabeça até a ponta do rabo, usando as costelas como guia. Passe a faca pelas costelas para separar um dos filés. Vire o peixe do outro lado e faça a mesma coisa, separando o segundo filé. Faça isso sempre com o rabo do peixe apontando para fora, para que a faca não fique perigosa e trabalhe no sentido de você para fora. Retire com a ajuda de uma pinça quaisquer espinhas que possa haver, e faça cortes diagonais na pele do peixe, para que esta não encolha quando cozida. 3. Branqueie em água fervente as cenouras, o aipo-rábano, as
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5.
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7.
vagens e o nabo, cozinhando cada um separadamente. Quando cozinhar o nabo, coloque algumas gotas de limão na água. Refresque cada vegetal em água gelada. Drene e seque com papel toalha. Aqueça 50 ml de azeite de oliva e a manteiga em uma frigideira grande. Adicione as echalótas e os cogumelos e salteie rapidamente até que estejam macios. Tempere e adicione a salsinha picada. Retire e reserve, mantendo aquecido. Vinagrete: Em uma vasilha, junte o vinagre de sherez, a mostarda, o sal e a pimenta. Aos poucos adicione o azeite, mexendo bem para que o molho fique emulsionado. Aqueça os 50 ml restantes de azeite em uma frigideira antiaderente. Cozinhe os filés de peixe com a pele virada para baixo, pressionando os filés na frigideira para dourar a pele. Vire os filés e cozinhe rapidamente do outro lado. Para servir: Lave e seque bem as folhas de salada e distribua entre 4 pratos. Faça uma cama de vegetais em cada prato e salpique um pouco de vinagrete. Coloque um filé de peixe sobre os vegetais, pele para cima, e então distribua os cogumelos salteados. Tempere com o restante do vinagrete e decore com os ramos de segurelha.
4 Porções • 2 peixes namorado ou outro tipo de peixe de rio • 50 ml de azeite de oliva • 60 g de cenouras, cortadas em jardinière* • 60 g de aipo-rábano, cortado em jardinière • 60 g de vagens, cortadas em jardinière • 60 g de nabo, cortado em jardinière • Suco de limão • 50 ml de azeite de oliva • 50 g de manteiga • 2 echalótas, finamente picadas • 300 g de cogumelos ostra, grosseiramente picados • Sal e pimenta do reino • Salsinha, finamente picada Vinagrete • 60 ml de vinagre de sherez • 1 colher de sopa de mostarda Dijon • Sal e pimenta do reino • 200 ml de azeite de oliva Folhas de salada • 4 ramos de segurelha * jardinière – uma mistura de cenouras, aipo-rábano, vagens e nabo cortados em bastões de mesmo tamanho. São cozidos separadamente e depois juntados para serem servidos como acompanhamento.
Frango Assado modo de preparo 1. Tempere a cavidade do frango com sal e pimenta do reino e adicione metade do alho e das ervas. Retire o osso da sorte e amarre juntamente as coxas com a ajuda de um barbante. Esfregue óleo e manteiga por todo o frango e
tempere com sal e pimenta. 2. Pique em cubos a cebola, a cenoura e o aipo, para formar uma mirepoix. Coloque os vegetais em uma assadeira grande o suficiente para que caiba o frango. Coloque o frango por cima dos vegetais virado de um dos lados; adicione
o restante do alho, ervas e folhas de louro. Asse em forno préaquecido a 180ºC por cerca de 15 minutos, vire o frango do outro lado e asse mais 15 minutos. Finalmente, coloque o frango de costas e continue a assar por mais 15 minutos, ou até que os sucos
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Pudim de Arroz e Caramelo com Creme Inglês Modo de preparo Pré-aqueça o forno a 170°C.
internos estejam claros e sem vestígios de sangue (verifique isso espetando a carne de leve). Retire o frango do forno e deixe-o descansar por cerca de 15 minutos em cima de uma grade. 3. Retire o excesso de gordura da assadeira e leve-a ao fogo mediano, em cima do fogão. Junte um pouco de água e raspe o fundo com a ajuda de um batedor de arame, para captar todos os sabores que ficaram grudados na assadeira. Se preferir, use um caldo de frango escuro ao invés da água para deglacear a assadeira. Diminua o fogo e deixe ferver lentamente até que os sucos estejam reduzidos a um terço, e então coe. Volte o molho, ou “jus”, para uma panela e aqueça,
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retirando as impurezas ou espuma que eventualmente subir para o topo do caldo. Verifique o tempero e corrija, caso necessário. 4. Para servir: Retire o barbante do frango. Coloque-o em uma travessa e guarneça com o agrião e o molho servido à parte em uma molheira.
• • • • • • • • • •
4 Porções 1 frango com cerca de 1.5 kg Sal e pimenta do reino 2 dentes de alho Tomilho fresco, folhas de louro 60 g de manteiga 50 ml de óleo 100 g de cebola 100 g de cenoura 1 galho de salsão 1 maço de agrião
Caramelo: Encha uma vasilha com água fria. Junte o açúcar e a água em uma pequena panela e leve para ferver em fogo baixo, mexendo sempre até que todo o açúcar se dissolva. Aumente o fogo e deixe cozinhar, sem mexer, até que o xarope fique da cor de caramelo claro. Cuidado para não deixar passar o caramelo, pois uma vez que ele começa a pegar cor, o processo é muito rápido. Retire a panela do fogo e mergulhe o fundo dela imediatamente na vasilha com água fria para parar o processo de cocção. Distribua parte do caramelo entre 6 forminhas de charlotte ou pudim, virando rapidamente as forminhas uma a uma para que o caramelo se distribua também pelas laterais, e o açúcar não endureça. Deixe as forminhas com caramelo esfriarem. Separe o restante do caramelo para decoração. Pudim de arroz e caramelo: Coloque o arroz em uma peneira e lave-o bem. Junte o leite, a fava de baunilha, as raspas de laranja e o sal em uma panela e traga à fervura. Adicione o arroz e volte a mistura ao fogo. Reduza o fogo e deixe ferver lentamente por 20 minutos, mexendo ocasionalmente, até que quase todo o leite tenha sido absorvido pelo arroz e esteja relativamente grosso. Junte o açúcar ao arroz cozido e ferva por mais cerca de 5 minutos. Retire a panela do fogo e coloque o arroz doce em uma vasilha. Junte o creme de
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6 Porções Pudim de arroz e caramelo • Caramelo • 100 g de açúcar • 30 ml de água ----• 120 g de arroz para risotto • 500 ml de leite • 1 fava de baunilha • Raspas de 1 laranja • Pitada de sal • 100 g de açúcar • 30 g de manteiga • 1 colher de sopa de creme de leite • 2 gemas • 25 g de uvas passas brancas, deixadas de molho em rum Creme inglês • 500 ml de leite • 1 fava de baunilha • 5 gemas • 100 g de açúcar
leite e as gemas mexendo rapidamente para que estes não fiquem com um aspecto granuloso. Adicione as passas embebidas no rum. Distribua o arroz doce entre as forminhas carameladas. Coloque-as dentro de uma assadeira e despeje água fervente para formar um banho-
maria. Leve para assar no forno préaquecido por cerca de 20 a 30 minutos. Retire as forminhas do forno e transfira-as para uma assadeira com água e gelo. Creme inglês: Coloque o leite em uma panela. Parta a fava de baunilha ao meio, no sentido do comprimento,
referências • • • •
Davidson, A. (2002) The Penguin Companion to Food. London: Penguin Books. Domine, A. (2005) Culinaria France. London : Konemann UK Ltd. Montagne, P. (2001) Larousse Gastronomique. London: Octopus Publishing Group Ltd. Collectif (2007) Le grand Larousse Gastronomique. Paris: Larousse
coloque-a no leite e leve para ferver. Enquanto isso, junte as gemas e o açúcar em uma vasilha e bata bem, até que as gemas fiquem com uma cor amarela clara. Aos poucos, junte a metade do leite quente e depois, acrescente o restante do leite, tudo de uma vez só. Volte o creme para a panela e cozinhe em fogo baixo, mexendo sempre com uma colher de pau. Quando cozido, o creme inglês deverá ser grosso o suficiente para que, ao passar o dedo pelo molho que ficou na colher, este forme um “caminho” perfeito. Coe através de uma chinois ou peneira fina. Deixe esfriar. Para servir: Inverta cuidadosamente as forminhas de charlotte em pratos individuais e desenforme os pudins. Coloque em volta um pouco de creme inglês e decore com o caramelo restante.
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mar/abr 2011
| normas de publicação
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS A revista Nutrição em Pauta publica artigos inéditos que contribuam para o estudo e o desenvolvimento da ciência da nutrição nas áreas de nutrição clínica, nutrição hospitalar, nutrição enteral e parenteral, nutrição e pediatria, nutrição e saúde pública, alimentos funcionais, foodservice, nutrição e gastronomia, nutrição e ecologia e nutrição esportiva. São publicados artigos originais, artigos de revisão e artigos especiais. Os artigos recebidos são avaliados pelos membros da comissão científica da revista. Os autores são responsáveis pelas informações contidas nos artigos. Somente serão avaliados os artigos cujo autor principal seja assinante da revista Nutrição em Pauta. Os artigos aprovados para publicação na Nutrição em Pauta poderão ser publicados na edição impressa e/ou na edição eletrônica da revista (Internet), assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com estas condições. Envio do artigo Enviar o artigo para a Nutrição em Pauta, atavés do email redacao@nutricaoempauta.com.br, em arquivo editado com MS Word e formatado em papel tamanho A4, espaço simples, fonte tamanho 12, Times New Roman. O tamanho máximo total do artigo é de 6 páginas. Serão aceitos somente artigos em português. Indicar o nome, endereço, números de telefone e fax, além do email do autor para o qual a correspondência deve ser enviada. Os autores deverão anexar uma declaração de que o artigo enviado não foi publicado anteriormente em nenhuma outra revista. Serão recebidos artigos originais (relatórios de pesquisa clínica ou epidemiológica), artigos de revisão (sínteses sobre temas específicos, com análise crítica da literatura e conclusões dos autores) e artigos especiais, em geral encomendados pelos editores, sobre temas relevantes, técnicas gastronômicas e editoriais para discutir um tema ou algum artigo original controverso e/ou interessante. Apresentação do Artigo Deve conter o título em português e inglês e o nome completo sem abreviações de cada autor com o respectivo currículo resumido (2 a 3 linhas cada), palavras-chave para indexação em português e inglês, resumo em português e inglês de no máximo 150 palavras, texto com tabelas e gráficos, e as referências. O texto deverá conter: introdução, metodologia, resultados, discussão e
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conclusões. As imagens obtidas com “scanner” (figuras e gráficos) deverão ser enviadas em formato .tif ou .jpg em resolução de 300 dpi. As tabelas, quadros, figuras e gráficos devem ser referidos em números arábicos. Pacientes envolvidos em estudos e pesquisas devem ter assinado o Consentimento Informado e a pesquisa deve ter a aprovação do conselho de ética em pesquisa da instituição à qual os autores pertençam. As referências e suas citações no texto devem seguir as normas específicas da ABNT, conforme instruções a seguir. CITAÇÕES NO TEXTO (NBR10520/2002) a. sobrenome do autor seguido pelo ano de publicação. Ex.: (WILLETT, 1998) ou “Segundo Willett (1998)” b. até três autores, citar os três separados por ponto e vírgula. Ex.: (CORDEIRO; GALVES; TORQUATO, 2002). Mais de três autores, citar o primeiro seguido da expressão “et al.” REFERÊNCIAS (ABNT NBR-6023/2002) a. ordem da lista de referências – alfabética b. autoria – até três autores, colocar os três (sobrenome acompanhado das iniciais dos nomes) separados por ponto e vírgula (;). Ex.: CORDEIRO, J.M.; GALVES, R.S.; TORQUATO, C.M. Mais de três autores, colocar somente o primeiro autor seguido de “et al.” c. títulos dos periódicos – abreviados segundo Index Medicus e em itálico d. Exemplo de referência de artigo científico (para outros tipos de documentos, consultar a ABNT): POPKIN, B.M. The nutrition and obesity in developing world. J. Nutr., v.131, n.3, p.871S-873S, 2001. Obs.: a exatidão das referências é de responsabilidade dos autores. Notas do Editor Caberá ao editor, visando padronizar os artigos ou em virtude de textos demasiadamente longos, suprimir, na medida do possível e sem cortar trechos essenciais à compreensão, textos, tabelas e gráficos dispensáveis ao correto entendimento do assunto. Os artigos que não se enquadrem nas normas da revista poderão ser devolvidos aos autores para os ajustes necessários. Os autores receberão um exemplar da edição em que o artigo foi publicado.