Revista Dezembro 2017

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ISSN 1676-2274

A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO

R$30,00 - Dezembro 2017

Ano 25 Número 147 Edição Impressa São Paulo

CLÍNICA

CORRELAÇÃO DO NOVO DIAGNÓSTICO PROPOSTO PELA ASPEN E DESFECHOS EM PACIENTES CIRÚRGICOS

FUNCIONAIS

MORINGA OLEÍFERA: EFEITOS FARMACOLÓGICOS

UMA ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE OS TRANSTORNOS ALIMENTARES: ANOREXIA NERVOSA E BULIMIA NERVOSA www.nutricaoempauta.com.br

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DEZEMBRO 2017ESPORTE

NUTRIÇÃO| EM PAUTA | PEDIATRIA | GASTRONOMIA | SAÚDE PÚBLICA FOOD 1


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DEZEMBRO 2017

NUTRIÇÃO EM PAUTA


editorial

por Sibele B. Agostini

Uma Abordagem Histórica sobre os Transtornos Alimentares: Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa Casos de transtornos alimentares são relatados desde antes da Idade Média. Porém, ao contrário do objetivo atual de exaltar a magreza como padrão de beleza, em tais épocas, tinha significado religioso para as mulheres. Os transtornos alimentares têm uma etiologia multifatorial, sendo determinados por diversos fatores, entre eles socioculturais, genéticos e psicobiológicos, que interagem entre si produzindo e perpetuando a doença. Atingem particularmente mulheres jovens, mas têm aumentado de importância nas últimas décadas entre mulheres em idades mais avançadas e entre o sexo masculino. Em função de todas as consequências aos pacientes e familiares decorrentes dos transtornos alimentares, e diante do aumento da prevalência e incidência tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, com custos elevados para seu tratamento, aumenta-se também a necessidade de programas voltados à prevenção destes problemas, além do interesse na discussão dos aspectos relacionados ao histórico dos transtornos alimentares. Considerando o exposto o presente artigo tem por objetivo realizar uma abordagem histórica sobre os principais transtornos alimentares: Anorexia Nervosa (AN) e Bulimia Nervosa (BN). Prepare-se para o Mega Evento Nutrição 2018, englobando o 19o Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 19o Congresso InterDEZEMBRO 2017

nacional de Gastronomia e Nutrição, 6o Congresso Multidisciplinar de Nutrição Esportiva, 14o Fórum Nacional de Nutrição, 13o Simpósio Internacional da American Academy of Nutrition and Dietetics (USA), 11o Simpósio Internacional da Nutrition Society (United Kingdom), 11o Simpósio Internacional do Le Cordon Bleu (França), 19a Exposição de Produtos e Serviços em Nutrição e Alimentação, dentre outros, que será realizado em São Paulo em agosto de 2018 e já conta com parcerias com as principais entidades internacionais e nacionais do setor. E também o 14o Fórum Nacional de Nutrição 2018, que está sendo realizado nas principais capitais do Brasil.

Aproveite as informações científicas atualizadas desta edição da revista Nutrição em Pauta. Boa leitura!

Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 – 3a Região

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nesta edição Dezembro 2017

5. Uma Abordagem Histórica sobre os Transtornos Alimentares: Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa 11. Correlação do Novo Diagnóstico Proposto pela ASPEN e Desfechos em Pacientes Cirúrgicos 16. Programa de Exercício Resistido para Pacientes com Doença de Parkinson: Uma Visão Nutricional 22. Informações sobre Amamentação no Pré-Natal e Parto e Auxílio Profissional no Aleitamento Intra-Hospitalar Em Rio Branco, Acre 30. Avaliação da Adequação do Almoço de duas Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) 36. Percepção Discente sobre o Estágio em Saúde Coletiva na Graduação em Nutrição 42. Moringa oleífera: Efeitos Farmacológicos 47. Técnicas Gastronômicas Le Cordon Bleu

Assine: (11) 5041.9321 assinaturas@nutricaoempauta.com.br FALE CONOSCO: (11) 5041.9321 contato@nutricaoempauta.com.br www.nutricaoempauta.com.br

ERRATA: O artigo “UTILIZAÇÃO DE KEFIR NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS EM BENEFICIO A SAÚDE” publicado na edição de 146 de outubro/2018 tem também como autora Regirlane Sousa Brandão - Acadêmica do Curso de Bacharelado em Nutrição da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA, Caxias, MA

A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO

ISSN 1676-2274

Ano 25 - número 147 - dezembro 2017 - edição impressa

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Chef Didier Chantefort | LCB/PARIS Chef Fabiana B. Agostini Alexandre Agostini assinaturas@nutricaoempauta.com.br A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP Ydea Solutions Produzida em dezembro de 2017

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matéria de capa

Historical Approach in Eating Disorders: Anorexia Nervosa and Bulimia Nervosa

Uma Abordagem Histórica sobre os Transtornos Alimentares: Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa RESUMO: Os transtornos alimentares são resultantes da interação de distintos fatores, caracterizados pela preocupação intensa com alimento, com o peso e com o corpo. Ocorrem mais frequentemente no sexo feminino, embora sejam relatados casos entre o sexo masculino. Objetivou-se realizar uma abordagem histórica sobre os principais transtornos alimentares: anorexia nervosa e bulimia nervosa. Para tanto, foi feito um levantamento de artigos científicos entre outras publicações nas principais bases. Os transtornos alimentares nem sempre estiveram relacionados aos padrões de beleza atuais. Relatos datam desde a idade média, em mulheres que se impunham jejum rigoroso como forma de aproximarem de Deus, as santas anoréxicas. A prática de vômito autoinduzido era recomendada como prevenção de doenças. Em 1874 o termo “anorexia nervosa” foi utilizado por Gull e Russel, em 1979, descreveu a bulimia tal como reconhecida atualmente. Torna-se imprescindível discutir a história dos transtornos alimentares, evolução dos conceitos e dos critérios diagnósticos adotados. ABSTRACT: Eating disorders result from the interaction of different factors characterized by intense preoccupation with food, weight and body. They occur more frequently in females, although cases among males have been reported. The objective was to conduct a historical approach on the main eating disorders: anorexia nervosa and bulimia. Thus, a survey of scientific articles among other publications was made in the main bases. Eating disorders were not always related to current standards of beauty. Reports relate since the middle age, women who imposed strict fasting as a way to approach God, the anorexic saints. Self-induced vomiting practice was recommended as disease prevention. In 1874 the term “anorexia nervosa” was used DEZEMBRO 2017

by Gull and Russel, in 1979 bulimia was described as it is currently recognized. It is essential to discuss the history of eating disorders, evolution of concepts and adopted diagnostic criteria.

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Introdução

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Casos de transtornos alimentares são relatados desde antes da Idade Média. Porém, ao contrário do objetivo atual de exaltar a magreza como padrão de beleza, em tais épocas, tinha significado religioso para as mulheres (RODRIGUES, 2009). Os transtornos alimentares têm uma etiologia multifatorial, sendo determinados por diversos fatores, entre eles socioculturais, genéticos e psicobiológicos, que interagem entre si produzindo e perpetuando a doença (MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002). Atingem particularmente mulheres jovens (PENCAK; BASTOS, 2009), mas têm aumentado de importância nas últimas décadas entre mulheres em idades mais avançadas e entre o sexo masculino (PALMA; ESCRIVÃO; OLIVEIRA, 2009). Segundo o Grupo de Estudos em Nutrição e Transtornos Alimentares (GENTA, 2010), uma pesquisa realizada em 1980 com 500 estudantes demonstrou que uma incidência 3,8% de Bulimia Nervosa, ao passo que 13% tinham experimentado os sintomas da doença, conforme critério definido para a época. De acordo com informações do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Uma Abordagem Histórica sobre os Transtornos Alimentares: Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa São Paulo (AMBULIM, 2012) estima-se que, ao longo da vida, entre 0,5 e 4% das mulheres terá Anorexia Nervosa e de 1 a 4,2% terá Bulimia Nervosa. Os transtornos alimentares constituem doenças complexas, graves, e que apresentam alta morbidade, especialmente na juventude, quando frequentemente prejudicam o desenvolvimento e crescimento saudável (PINZON et al., 2004), afetando física e psicologicamente o indivíduo, além de ter um impacto ocupacional e familiar negativo (DUNKER; ALVARENGA; ALVES, 2009). Apresentam porcentagem de cura muito baixa, cerca de 40% e com risco de mortalidade em torno de 5% a 15% dos casos (HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS, 2010; AMBULIM, 2012). Em função de todas as consequências aos pacientes e familiares decorrentes dos transtornos alimentares, e diante do aumento da prevalência e incidência tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, com custos elevados para seu tratamento, aumenta-se também a necessidade de programas voltados à prevenção destes problemas (CONTI; FRUTUOSO; GAMBARDELLA, 2005; DUNKER, 2009), além do interesse na discussão dos aspectos relacionados ao histórico dos transtornos alimentares. Considerando o exposto o presente artigo tem por objetivo realizar uma abordagem histórica sobre os principais transtornos alimentares: Anorexia Nervosa (AN) e Bulimia Nervosa (BN).

. . . ................. . Méto do s . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . Para o desenvolvimento do presente artigo foi realizado um levantamento de artigos científicos nacionais e internacionais, disponíveis nas bases de dados eletrônicas Medical Literature Analysisand Retrieval System Online® (MEDLINE/PubMed), Biblioteca Científica Eletrônica em Linha® (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde® (LILACS) e sites de órgãos oficiais. A busca bibliográfica incluiu artigos originais, artigos de revisão, monografias, dissertações de mestrado e teses, entre outras publicações de órgãos e entidades que atuam na área. As palavras-chave, testadas isoladamente ou em conjunto, foram: transtornos alimentares, anorexia nervosa, bulimia nervosa, eating disorders, anorexia nervosa, bulimia nervosa. Visto que o objetivo da pesquisa era realizar um histórico sobre as primeiras descrições dos transtornos alimentares, não estabeleceu-se uma faixa de anos preferencial a ser considerada para a inclusão dos trabalhos publicados no presente estudo. O período abordado foi a partir de 1979.

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. . . . . . . . . R e su lt a d o s e D is c uss ã o. . . . ....... Histórico da Anorexia Nervosa Anoréxicas da Idade Média: santas jejuadoras Os primeiros relatos prováveis de anorexia datam da Idade Média, com descrições de práticas de ascetismo das santas e beatas da Igreja Católica em defesa da virgindade ou da castidade. A grande maioria das beatificadas pela Igreja fizeram do jejum um modo de vida comum (BUCARETCHI, 2003; WEINBERG, 2010). Segundo Weinberg e Córdas (2006) a privação alimentar nesta época era tida como uma punição imediata. As biografias hagiográficas revelam que existiam vários tipos de privações, desde as que jejuavam à base de pão e água, até as que misturavam pão velho às cinzas e águas sujas dos conventos, ou que passavam, por exemplo, a ingerir líquidos fétidos ou apenas hóstias consagradas. Nesta época, a abstinência era sinônimo de ser mestre e não escravo de seu corpo. Assim, a anorexia mística, como conhecida, era tida como santidade, considerada uma forma de aproximar-se de Deus. Entre as mulheres que adotaram uma vida de rigorosas abstinências, com suposto comportamento anoréxico, embora os ideais atuais difiram, estariam: Clara de Assis, fundadora da Segunda Ordem Franciscana, Irmãs Clarissas, nasceu em 1194 e faleceu em 1253, na cidade de Assis, Itália, era filha de família nobre e aos 18 anos de idade seguiu a vida religiosa adotando rigorosas abstinências alimentares (SOARES, 2008). Catarina de Siena nasceu em 1347, filha de um tintureiro em uma família de 25 irmãos. Na infância fez voto de virgindade e na adolescência, aos 16, a fim de evitar um casamento cortou seus longos cabelos, aos 18 recebeu o hábito das Irmãs da Penitência de São Domingos e aos 20 anos só vivia de pão e água. Aprendeu a ler e a escrever milagrosamente para poder cumprir a missão pública que Deus lhe destinava. Dirigia discípulos, os caterinati, que reunia pessoas desde o povo, até o clero e a nobreza. Faleceu aos 33 anos, em abril de1380 (SOARES, 2008). Outro caso foi o da Santa Maria Madalena de Pazzi, nascida em Florença em 1566, conhece seu primeiro êxtase místico aos 12 anos de idade. Aos 16 ingressa no convento Carmelita de Santa Maria dos Anjos localizado na cidade de sua naturalidade e em 1583, quando recebe seus votos, deixa seu nome de batismo Caterina que havia recebido da aristocrática família para homenagear Santa Caterina de Siena, assumindo o de Maria Madalena, influenciada pelos escritos e pelas ideias de Caterina de SieNUTRIÇÃO EM PAUTA


Historical Approach in Eating Disorders: Anorexia Nervosa and Bulimia Nervosa na que cita Maria Madalena como um modelo, pois após a morte de Cristo ela teria jejuado por 33 anos consecutivos. Em maio de 1584, adoece e começa a ditar uma série de regras ascéticas recolhidas por suas companheiras. Sobre os hábitos alimentares de Maria Madalena de Pazzi, quando ainda não completara 20 anos de idade, e dizendo-se orientada por Deus, passa a fazer jejuns severos e, quando forçada a comer, provocava vômitos. Considerava os alimentos como tentações do diabo, às quais deveria resistir, sendo, no entanto, frequentemente surpreendida comendo rapidamente e às escondidas, grandes quantidades de alimentos. Faleceu em 1607, mas sua existência é tida como um suceder de visões de crucificações, sofrimentos físicos autoimpostos (CORDÁS; WEINBERG, 2002a). Santa Rosa de Lima, outra seguidora de Catarina de Siena, foi considerada a Patrona da América e das Filipinas, a primeira santa latino-americana a ser canonizada em 1671. Ao ler sobre a vida de Santa Catarina de Siena, começou a jejuar três vezes por semana. Aos 20 anos ingressou na Irmandade da Terceira Ordem da Penitência de São Domingos aplicando-se severas e variadas penitências, permanecendo dias seguidos sem se alimentar (WEINBERG; CORDÁS; MUNOZ, 2005). As santas jejuadoras foram tomadas como modelos de bravura, pois se rebelaram contra a obediência e procriação impostas às mulheres da época, encontrando na dor à purificação e comunhão com Deus, além de adquirirem identidade. Por outro lado, o fato da recusa alimentar com jejuns excessivos, ocasionando um emagrecimento pronunciado e consequente amenorreia, leva autores a pensarem que possivelmente foi uma forma encontrada por elas para lidar com questões relacionadas à sexualidade (BUCARETCHI, 2003; WEINBERG; CORDÁS; MUNOZ, 2005). Meninas cloróticas do século XIX Estima-se que a anorexia seja conhecida e diagnosticada pelos médicos há pelo menos trezentos anos. Inicialmente, a característica mais descrita era um emagrecimento extremo consequente da recusa em se alimentar. No entanto, existem várias patologias que podem provocar perda de apetite e de peso. Assim, desde o final do século XIX, os médicos passaram a tentar descrevê-la com maior exatidão, excluindo-se assim as causas orgânicas e identificando como uma doença psicológica (BUCKROYD, 2000). O termo anorexia deriva do grego (an = deficiência ou ausência de, e orexis = apetite). Também significa inapetência, aversão à comida ou mesmo enjôo do estômago (CORDÁS; CLAUDINO, 2002). DEZEMBRO 2017

matéria de capa Historicamente, encontramos as chamadas doenças efêmeras, de acordo com autores, uma dessas “doenças” foi a “clorose”, descrita no século XIX por médicos ingleses e americanos como um problema grave e comum que ocorria entre adolescentes da Inglaterra, França e Estados Unidos, desaparecendo por volta da terceira década do século XX. O diagnóstico da “doença verde”, como era conhecida, fazia-se a partir de um pronunciado emagrecimento, além de irritabilidade, cansaço, fraqueza, palidez, constipação intestinal, amenorreia e aversão à determinadas preparações, como carnes. Em 1554, Johanes Lange denominou-a como “doença das virgens”, segundo esse autor, seria causada por uma “febre amorosa” e teria cura com o casamento, a vida sexual e a maternidade (CORDÁS; WEINBERG, 2002b; WEINBERG; CÓRDAS; MUNOZ, 2005). Mas para Cordás e Weinberg (2002b), a presença da doença em meninas jovens estar relacionada à sexualidade, a presença de emagrecimento e amenorreia levaram os autores a entendê-la, em algumas dessas jovens, como um transtorno alimentar. Entre esses autores situa-se Loudon (1980), que considera que a clorose e a AN sejam condições estritamente relacionadas quanto à psicopatologia. No entanto, esta última era característica das classes médias enquanto a clorose, uma doença orgânica, que apresentava anemia como consequência, era característica da classe trabalhadora no século XIX. Primeiras descrições da anorexia nervosa e a evolução dos conceitos psicodinâmicos Em 1694, Richard Morton descreveu dois casos de anorexia, mas o termo só foi utilizado pela primeira vez em 1868, pelo médico inglês William Gull. A enfermidade foi denominada, primeiramente, de “apepsia histérica”, e em 1874 passou a ser chamada de “anorexia nervosa” (GULL, 1894; apud LOUDON, 1980). Quase simultaneamente Charles Lasègue, na França, descreve a condição como “anorexia histérica” (SCHMIDT; MATA, 2008). Em abril de 1873, Lasègue publica o artigo “De I’anorexie hystérique”, que no ano de 2000 foi traduzido por Arnáiz e intitulado “Charles Lasègue: sobre la anorexia histérica”, o qual foi segundo Cordás e Claudino (2002) uma contribuição à classificação dos distúrbios digestivos que ocorrem na histeria. Em sua memória, o psiquiatra faz referência a oito casos clínicos de pacientes mulheres que acompanhou, com idades compreendidas entre os dezoito e trinta e dois anos, ressaltando a origem psíquica como causa primária dessa doença. Ele identifica ainda outras características referentes à inseNUTRIÇÃO EM PAUTA

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Uma Abordagem Histórica sobre os Transtornos Alimentares: Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa

gurança pessoal, contribuição familiar para manutenção dos sintomas, entre outras. Em 1903, Pierre Janet, psiquiatra francês, relata o caso de uma moça aos 22 anos, chamada Nádia, que manifestava vergonha do corpo e desejo de emagrecer, quadro que foi denominado “anorexia mental”. Pierre apontou dois tipos de anorexia, a anorexia obsessiva, com rígido controle na presença de fome e a anorexia histérica, na qual há ausência ou mesmo negação da sensação de fome (PHILIPPI; ALVARENGA, 2004). Freud, citado por Ferrari (2004) e por Ferrero (2009), poucos anos depois dos escritos de Lasègue e Gull, ao inventar a psicanálise, também falou sobre a anorexia, abordando sempre os sintomas vinculados a transtornos neuróticos. Inês (2006) relata que em 1914, início do século XX, Simmons descreve o caso de uma jovem extremamente emagrecida, cuja existência de uma atrofia do lóbulo anterior da hipófise (desnutrição da glândula hipofisária) leva-o a abordar a questão sobre o ponto de vista endocrinológico. A partir daí cientistas começaram investigações entre a “caquexia da hipófise” e anorexia nervosa. Foram necessários aproximadamente três décadas para evidenciar as diferenças entre os quadros e retornar à psicologia e psiquiatria da doença (PHILIPPI; ALVARENGA, 2004). As explicações da anorexia nervosa continuaram a basear-se na psiquiatria e assim, o tratamento fundamentava-se

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nos procedimentos utilizados em outras doenças mentais. Desde então, surgiram trabalhos que evidenciaram a relação da imagem corporal e o ideal do corpo feminino na gênese da anorexia nervosa (INÊS, 2006), problemática que permeia até atualmente. HISTÓRICO DA BULIMIA NERVOSA A bulimia nervosa é um distúrbio alimentar caracterizado pelo consumo rápido de grande quantidade de alimentos, em um período de tempo muito curto (consiste em uma compulsão periódica de alimentos), adotando-se em seguida a utilização de estratégias para eliminar as calorias ingeridas, podendo ser por métodos purgativos e não purgativos (métodos compensatórios) (ROMARO; ITOKAZU, 2002; ERBERT, 2005). O termo bulimia deriva do grego (bous = boi e limos = fome), sugerindo assim, uma fome tão intensa que o indivíduo poderia comer um boi (GIBNEY, 2007). No livro sagrado O Talmud, escrito entre 400 e 500 AC, o termo boolmot foi utilizado para descrever uma síndrome tida como uma ameaça à vida, em que uma pessoa se encontra tomada por uma fome voraz em que sua consciência em relação à alimentação parece prejudicada (KAPLAN; GARFINKEL, 1984). São encontrados relatos sobre comportamentos semelhantes à bulimia nervosa, na literatura histórica da NUTRIÇÃO EM PAUTA


Historical Approach in Eating Disorders: Anorexia Nervosa and Bulimia Nervosa

Roma Antiga, descrevendo exageros alimentares, seguidos de vômito autoinduzido em um local existente nos palácios destinado a isso após as orgias alimentares, o vomitorium. No entanto, faltam referências ao controle de peso e preocupação com o corpo, não sendo possível assim, afirmar que essas sejam as primeiras descrições desse transtorno (BUCARETCHI, 2003). Segundo Cordás (2004), séculos antes de Cristo, Hipócrates empregava o termo boulimos para designar uma fome doentia, que diferia da fome fisiológica. Para prevenir doenças, indicava ainda indução do vômito por dois dias consecutivos todo mês. Da mesma forma, os egípcios antigos também valorizam o vômito autoinduzido julgando que as doenças eram provenientes da comida. Vomitavam e usavam purgativos todo mês, por pelo menos três dias consecutivos (CORDÁS; CLAUDINO, 2002; PHILIPPI; ALVARENGA, 2004). Burcaretchi (2003) destaca que apesar dos comportamentos bulímicos serem observados na Antiguidade, a tentativa de compreendê-los é relativamente moderna. Os primeiros textos científicos sobre a bulimia se confundiam com os de anorexia nervosa, descrevendo casos de anoréxicas que tinham fome persistente, provocavam vômito, e usavam laxantes. Tal fato pode ser observado nos casos relatados por Crisp (1967) ao descreverem suas pacientes anoréxicas, episódios bulímicos e vômitos autoinduzidos (CRISP, 1967 apud CORDÁS, 2004; PHILIPPI; ALVARENGA, 2004). Gerald Russel, em 1979, foi o primeiro a definir a bulimia nervosa como categoria independente da anorexia nervosa, tal como conhecemos atualmente, descrevendo à sensação de perda de controle que leva ao excesso alimentar (CLAUDINO; ZANELLA, 2005).

. . . ..... C onsi dera çõ es Finais . . . . . . . . . . . . . . Os transtornos alimentares acometem crianças, adolescentes e adultos, de ambos os sexos, ocasionando graves consequências físicas e psicológicas ao desenvolvimento geral dos pacientes. O aumento das prevalências e da importância epidemiológica dos transtornos alimentares levou consequentemente ao interesse em discutir a evolução dos conceitos. A anorexia é descrita desde a Idade Média, sendo relatada com motivações distintas das atualmente. Hoje, casos de anorexia são observados especialmente devido a busca de um corpo perfeito. A maioria dos estudiosos sobre o tema concordam que o ideal de um corpo excessivamente magro, imposto pelo sociedade atual, apresenta-se como um fator importante para o desenvolvimento DEZEMBRO 2017

matéria de capa dos transtornos alimentares. O indivíduo insatisfeito com sua imagem corporal, deseja alterá-la para adequar-se aos padrões sociais e, para tanto, utiliza-se de práticas alimentares inadequadas. Torna-se imprescindível discutir a história dos transtornos alimentares, além da realização de mais estudos no sentindo de se conhecer as causas que conduzem ao seu desenvolvimento e sua ligação com os padrões culturais estabelecidos atualmente.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Profa. Dra. Nair Tavares Milhem Ygnatios Ferreira - Nutricionista pela Faculdade Santa Rita - FaSaR, especialista em Nutrição Humana e Saúde pela Universidade Federal de Lavras – UFLA e mestra em Saúde e Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto -UFOP. Coordenadora e docente do curso de Nutrição da FaSaR. Profa. Dra. Clarice Lima Álvares da Silva - Nutricionista pela Universidade Federal de Viçosa - UFV, mestre em Ciência da Nutrição pela UFV e doutora em Ciências da Saúde pelo Centro de Pesquisas René Rachou. Docente do curso de Nutrição da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, campus avançado de Governador Valadares. Profa. Dra. Geórgia das Graças Pena - Nutricionista pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, mestre em Ciências Biológicas pela UFOP e doutora em Saúde e Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Docente do curso de Nutrição da Universidade Federal de Uberlândia – UFU.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS-CHAVE: Transtornos Alimentares; Anorexia Nervosa; Bulimia Nervosa. KEYWORDS: Eating Disorders; Anorexia Nervosa; Bulimia Nervosa.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 30/7/2017 - APROVADO: 15/12/2017

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ REFERÊNCIAS

AMBULIM. Transtornos alimentares: o que são? Disponível em: <http://www.ambulim.org.br/transtornos_ NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Correlation of New Diagnosis Proposed by ASPEN and Outcomes in Surgical Patients

Correlação do Novo Diagnóstico Proposto pela ASPEN e Desfechos em Pacientes Cirúrgicos RESUMO: A desnutrição apresenta importante prevalência em adultos hospitalizados, contribuindo para o aparecimento de complicações clínicas e consequências. Este estudo objetivou correlacionar o diagnóstico nutricional conforme avaliação proposta pela ASPEN com desfechos em pacientes admitidos na clínica cirúrgica de um hospital público do Distrito Federal. Estudo em pacientes ≥18 anos, submetidos a avaliação nutricional supracitada. Os desfechos foram obtidos nos 7º e 28º dias. Quarenta pacientes satisfizeram os critérios de inclusão, idade média de 49,5 anos, 35% da amostra ≥60 anos e 55% da população do sexo feminino. Quanto ao diagnóstico da ASPEN 17,5% estavam desnutridos, destes 42,8% apresentaram complicações clínicas, não havendo diferença significativa entre o tempo de internação de desnutridos e não desnutridos. Todos os pacientes tiveram alta. O método proposto é aplicável em pacientes cirúrgicos, sendo capaz de identificar mudanças sutis no estado nutricional. Porém, considerando: desfechos e n utilizado sugere-se maiores estudos acerca deste método. ABSTRACT: Malnutrition has significant prevalence in hospitalized adults, contributing to the appearance of clinical complications and consequences. This study aimed to correlate the nutritional diagnostic evaluation as proposed by ASPEN with outcomes in patients admitted to the surgical clinic of a public hospital in the Federal District. Study in patient’s ≥18 years undergoing aforementioned nutritional assessment. The outcomes were obtained in 7 and 28 days. Forty patients met the inclusion criteria, mean age 49.5 years, 35% of the sample ≥60 years and 55% of the female population. As for the diagnosis of ASPEN 17.5% were malnourished, of these 42.8% had clinical complications, with no significant difference between the DEZEMBRO 2017

malnourished hospital stay and not malnourished. All patients were discharged. The proposed method is applicable in surgical patients, being able to identify subtle changes in nutritional status. However, considering: outcomes and n used is suggested more studies on this method.

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Introdução

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A desnutrição é uma das comorbidades mais prevalentes na população adulta hospitalizada, tornando-a mais susceptível ao aparecimento de complicações clínicas, o aumento do tempo de internação, o maior risco de readmissão, o aumento de taxa de mortalidade e maiores custos hospitalares (NASCIMENTO, 2009; CORREIA; WAITZBERG, 2003; JENSEN, 2013; TEIXEIRA et al, 2003; WAITZBERG, 2001). Pacientes candidatos a procedimentos cirúrgicos apresentam estreita relação entre evolução clínica e estado nutricional. Portanto, é necessário identificar a desnutrição ou risco de desenvolvê-la (NASCIMENTO, 2009; DUCHINI, 2010). A Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN), em 2009 propôs uma abordagem baseada na etiologia para o diagnóstico de desnutrição em adultos nas diversas situações clínicas, identificando seis características para uniformizar a abordagem para o diagnóstico. Estas características diferenciam a desnutrição entre não grave e grave, e devem ser avaliadas frequentemente ao longo da internação do paciente em contexto agudo, crônico ou circunstâncias sociais (WHITE et al, 2012). Este método foca no processo inflamatório e no tipo de evento que desencadeou a desnutrição, assim NUTRIÇÃO EM PAUTA

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como a monitorização do estado nutricional dos pacientes internados e, portanto, poderia ser eficaz na detecção da desnutrição em pacientes cirúrgicos devido ao processo inflamatório e a necessidade de acompanhar frequentemente o estado nutricional do paciente durante a permanência no hospital (WHITE et al, 2012). Portanto, o objetivo deste estudo foi correlacionar o diagnóstico nutricional conforme avaliação proposta pela ASPEN com complicações clínicas e tempo de internação em pacientes admitidos na clínica de cirurgia geral de um hospital público do Distrito Federal.

. . . .............. Meto dol o g i a . . . . . . . . . . .. . . . . . . Estudo longitudinal, analítico, realizado entre pacientes de ambos sexos com idade ≥18 anos admitidos entre os meses de maio e julho de 2015 na clínica cirúrgica do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). A amostra foi por conveniência, sendo excluídas: gestantes, nutrizes e pacientes, assim como acompanhantes incapazes de relatar informações necessárias para o alcance do objetivo deste estudo. Os pacientes foram triados em até setenta e duas horas (72hs) de admissão na clínica cirúrgica sendo abordados pelo nutricionista pesquisador informando todo o processo necessário para realização da pesquisa (informações gerais, benefícios aos participantes, método de avaliação aplicado e sobre autorização e sigilo do paciente), foi reiterado que a participação era voluntária, sendo desta forma recolhida a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelos pacientes ou acompanhantes. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS) da SESDF (CAE 44151015.6.0000.5553). Inicialmente os pacientes foram triados conforme NRS (Nutricional Risk Screening) que leva em consideração os seguintes parâmetros: IMC (Índice de Massa Corpórea), perda ponderal não-intencional, apetite, grau de comprometimento do estado de saúde (WHITE et al, 2012), e posteriormente o estado nutricional foi identificado por meio do diagnóstico nutricional proposto pela ASPEN (WHITE et al, 2012). Método composto por 6 parâmetros que identificam a desnutrição: ingestão alimentar suficiente, perda de peso, perda de massa muscular, perda de gordura subcutânea, presença de edema e diminuição da capacidade funcional (avaliada pelo aperto de mão). Para que o paciente apresente o diagnóstico de

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desnutrição é preciso que haja dois ou mais dos critérios descritos acima (WHITE et al, 2012; MALONE, HAMILTON, 2013). Quanto aos desfechos clínicos, no sétimo (7º) e vigésimo oitavo (28º) dia após a realização da primeira triagem e diagnóstico nutricional, foram verificados os desfechos dos pacientes do estudo. Os desfechos avaliados foram óbito (data), tempo internação (dias) e complicações clínicas. A análise estatística foi realizada no software R version 3.1.1 Copyright © 2014 – The R Foundation for Statistical computing, obtendo-se de cada variável, as frequências, médias, mediana, desvios-padrão. A associação e significância estatística foram testadas pelo teste qui-quadrado. A presença de significância estatística foi determinada conforme p-valor < 0,05.

. . . . . . . . . . . . . . . . . R e su lt a d o s . . . . . . . . . . . . . ....... Dentre os pacientes admitidos na clínica cirúrgica no período do estudo apenas 40 pacientes satisfizeram os critérios de inclusão. A média de idade foi de 49,52 anos ± 18,52 anos. As cirurgias realizadas foram: colecistectomia, apendicectomia, herniorrafia, cirurgia plástica, hemicolectomia e outras cirurgias como, trauma, urológica e ressecção intestinal. Dos pacientes estudados 67,5% (n=27) não apresentaram complicações clínicas, e dos que apresentaram (32,5%) 38,5% eram infecciosas. As complicações clínicas infecciosas em sua maioria ocorreram em pacientes que realizaram cirurgia plástica (7,5%) e apendicectomia (5,0%) (Tabela 1).

Tabela 1. Complicações clínicas X Diagnóstico Nutricional (ASPEN) ASPEN Não desnutridos Desnutrido

Complicações Sem complicações Não infecciosa Infecciosa

Total

23

6

4

33

69,70%

18,18%

12,12%

100,00%

4

2

1

7

57,14%

28,57%

14,29%

100,00%

p = 0,098

Ao considerar o diagnóstico nutricional proposto pela ASPEN foram identificados 33 pacientes (82,5%) como não desnutridos enquanto 7 (17,5%) como desnutridos. Quanto ao diagnóstico nutricional (ASPEN) e as complicações clínicas na população estudada, as complicações foram perceptíveis em 42,86% dos pacientes desnutridos e em 30,3% dos não desnutridos (Tabela 1), sem NUTRIÇÃO EM PAUTA


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diferença significativa entre os grupos. Todos os pacientes que foram submetidos a hemicolectomia foram diagnosticados como desnutridos pelo método proposto pela ASPEN. Enquanto a maior prevalência de não desnutridos foram os pacientes que realizaram colecistectomia com 32,5% deste grupo. Notou-se que não houve diferença significativa entre o tempo de internação de pacientes identificados como desnutridos e não desnutridos pelo diagnóstico proposto pela ASPEN (Tabela 2). Todos os pacientes que fizeram parte do estudo tiveram alta.

Tabela 2. Tempo médio de internação Tempo médio de internação

Tempo mediano de internação

Desnutrido

4,71 (DP=4,38)

4

Não desnutrido

4,64 (DP=6,93)

3

ASPEN

p= 0,976

. . . ................ Dis c uss ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pacientes hospitalizados apresentam maior vulnerabilidade à desnutrição. Estudos mostraram que durante a internação hospitalar, 20% dos pacientes admitidos com desnutrição moderada pioraram o estado nutricional, dos que estavam com desnutrição grave e eutróficos houve uma piora de 33% e 38%, respectivamente (CORREIA, CAMPOS, 2003; DE SETA et al, 2010). Considerando estes dados, enfatiza-se a necessidade de identificar a situação nutricional dos pacientes hospitalizados a fim de estabelecer intervenções, nortear-se quanto aos desfechos clínicos, e possivelmente reduzindo as taxas de desnutrição hospitalar, assim como as complicações e custos envolvidos. Os pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos apresentam uma resposta inflamatória mediada por citocinas pró-inflamatórias e o organismo visando compensar essa resposta provocada, promove uma reação anti-inflamatória que é influenciada por outras citocinas. Essas inúmeras reações podem deprimir o sistema imunológico propiciando assim ocorrências maiores e mais graves complicações clínicas (HELMINE et al, 2007). O aparecimento de complicações infecciosas pode ser influenciado por diversos fatores, tais como: estado nutricional na admissão, longo do período de internação, idade, doença de base e seu estádio, tempo de jejum no pré e pós operatório, presença de sintomas gastrintestinais que prejudicam a ingestão e absorção dos alimentos, DEZEMBRO 2017

clínica

assim como a instituição da terapia nutricional (MÍAS et al, 2003). Dentre os pacientes estudados 67,5% não apresentaram complicações clínicas. Quanto a este resultado acredita-se que a menor ocorrência de complicações clínicas associa-se ao tipo de procedimento cirúrgico realizado neste serviço, considerando que estes procedimentos em sua maioria foram de pequeno porte. Este resultado também pode ser notado no estudo de Pimentel et al (2005) onde dos pacientes que realizaram cirurgias de pequeno porte, 64,6% não apresentaram complicações. Atualmente a Avaliação Subjetiva Global é considerada padrão-ouro para pacientes cirúrgicos, um método subjetivo baseado em alterações funcionais e na composição corporal como preditores de desnutrição. Considerado simples, de baixo custo, não invasivo e largamente utilizado na prática clínica (BAKER et al, 1982; DETSKY et al, 1987; BARBOSA-SILVA; BARROS, 2002). Neste trabalho o método de avaliação nutricional utilizado foi o proposto pela ASPEN, um método subjetivo que foca no processo inflamatório e no tipo de evento que desencadeou a desnutrição (doença aguda, doença crônica ou circunstâncias sociais/ambientais). O Consenso de elaboração do método proposto pela ASPEN discorre sobre a inflamação e sobre a monitorização do estado nutricional do paciente ao longo da internação. Estes fatores reforçam a necessidade da utilização deste método em pacientes cirúrgicos já que o processo inflamatório se faz presente assim como a necessidade de acompanhar frequentemente o estado nutricional durante a permanência no hospital (WHITE et al, 2012; MALONE, HAMILTON, 2013). Quanto às complicações associadas ao diagnóstico nutricional, verificou-se que dentre os que foram considerados desnutridos, 42,8% apresentaram complicações clínicas, entretanto, não foi possível confirmar essa diferença com a análise estatística. Os estudos de Raslan et al (2010) e Schiesser et al (2008) que sugerem que complicações, sejam elas infecciosas ou não infecciosas são mais comuns em pacientes com algum comprometimento nutricional. Possivelmente, a falta de diferença significativa de complicações entre os grupos do presente estudo pode ser associada ao baixo número de participantes. Quanto ao estado nutricional a partir do diagnóstico da ASPEN, não identificou-se grandes diferenças entre o tempo de internação entre pacientes não desnutridos e desnutridos. Diferente do resultado encontrado por Rezende et al (2004) onde os pacientes não desnutridos permaneceram com tempo mediano de 13 dias, enquanto a mediana dos desnutridos foi de 18 dias. A diferença entre esses dois tempos foi considerada significativa. NUTRIÇÃO EM PAUTA

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No que se refere aos desfechos, o resultado deste estudo ratifica as discussões supracitadas sobre complicações clínicas e tempo de internação hospitalar, visto que a população estudada não apresentou desnutrição e complicações clínicas como variáveis prevalentes o que traz como consequência tempo de internação hospitalar reduzido. As limitações presentes no estudo incluem o tamanho da amostra, que foi pequeno devido problemas no setor administrativo e a característica da clínica cirúrgica do HRSM que atende em sua maioria pacientes provenientes do Pronto Socorro deste mesmo hospital.

. . . ................ C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A partir do estudo realizado observou-se que com relação aos desfechos estabelecidos nos objetivos, tempo de internação e complicações clínicas, o valor de p apresentado não foi significativo, podendo ser atribuído ao tamanho da amostra insuficiente. Portanto, com base no que foi apresentado e discutido, sugiro a realização de estudos maiores acerca do método de avaliação nutricional proposto pela ASPEN comparando a outros métodos de avaliação nutricional a fim de torná-lo utilizável na clínica cirúrgica.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

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Sobre os autores

Dra. Teila Jessylia Bucele Castro - Nutricionista Residente, Programa de Residência em Nutrição Clínica do Hospital Regional de Santa Maria, Secretaria do Estado de Saúde do Distrito Federal, Brasília- DF. Dr. Josimar Barbosa de Sousa Junior - Nutricionista Residente, Programa de Residência em Nutrição Cínica do Hospital Regional de Santa Maria, Secretaria do Estado de Saúde do Distrito Federal, Brasília- DF. Dra. Laís da Silva Lima - Msc. em Nutrição Humana, Nutricionista Preceptor, Programa de Residência em Nutrição Cínica do Hospital Regional de Santa Maria, Secretaria do Estado de Saúde do Distrito Federal, Brasília- DF. Dr. Fábio de Resende Batista - Nutricionista Preceptor, Programa de Residência em Nutrição Cínica do Hospital Regional de Santa Maria, Secretaria do Estado de Saúde do Distrito Federal, Brasília- DF.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ....... PALAVRAS-CHAVE: Diagnóstico, complicações, nutricional, avaliação, método. KEYWORDS: Diagnosis, complications, nutritional, evaluation, method.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ....... NUTRIÇÃO EM PAUTA


Correlation of New Diagnosis Proposed by ASPEN and Outcomes in Surgical Patients

Recebido – 14/3/2017

aprovado – 12/11/2017

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Resistance Training Program for Patients with Parkinson Disease: A Nutritional View

Programa de Exercício Resistido para Pacientes com Doença de Parkinson: Uma Visão Nutricional RESUMO: A Doença de Parkinson (DP) é uma enfermidade progressiva e degenerativa idiopática. Pacientes com DP devem seguir uma alimentação adequada e equilibrada, onde poderão obter nutrientes específicos, principalmente de micronutrientes, tendo uma considerável melhora na qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi analisar o perfil nutricional de portadores da DP praticantes de treinamento resistido. Foram selecionados 8 indivíduos de ambos os sexos, que realizavam exercício resistido de modo regular. Serviu como instrumento de coleta as avaliações antropométricas e nutricionais. A amostra apresentou idade média de 53,37±8,72, peso, estatura, índice de massa corporal, relação cintura quadril médios de 61,57±8,22kg, 1,62±0,10m, 23,46±2,28kg/m² e 0,93±0,084, respectivamente. Pode-se concluir que a maioria dos pacientes apresentou normalidade em relação ao estado nutricional mesmo encontrando índices elevados para riscos de doenças cardiovasculares. No que tange as porções diárias de cada grupo alimentar, os pacientes mostraram irregularidade em seu consumo, mostraram assim risco nutricional no aspecto global. ABSTRACT: Parkinson’s disease (PD) is a progressive, degenerative, idiopathic disease. PD patients should follow an adequate and balanced diet to obtain adequate nutrients, mainly micronutrients, to considerably improve their quality of life. This study aimed to analyze the nutritional profile of PD patients practicing resistance training. Eight PD patients of both sexes who regularly performed resistance exercises were selected. Anthropometric and nutritional assessments were used as instruments for data collection. The sample had a mean age, weight, height, body mass index, and hip ratio of 53,37±8,72 years, 61,57±8,22 kg, 1,62± 0,10 m, 23,46 ± 2,28 kg/m², and 0,93 ± 0,084,

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respectively. Majority of the patients presented normal nutritional status even though indexes for risks of cardiovascular diseases were elevated. Regarding the daily portions of each food group, patients irregularly consumed the required amount, thus showing an overall nutritional risk.

.................

Introdução

. . . . . . . . . . ........

A Doença de Parkinson (DP) é definida como uma enfermidade progressiva e degenerativa idiopática caracterizada pelos sinais cardinais de rigidez, acinesia, bradicinesia, tremor e instabilidade postural (SOUZA et al., 2011) que atinge um em cada mil indivíduos da população em geral, tendo maior prevalência em indivíduos acima dos 50 anos, caracterizando-se como a segunda doença neurodegenerativa mais comum em idosos (CAMARGOS et al., 2004). O mecanismo de ação da doença ocorre afetando células de uma região do encéfalo conhecida como substância negra. Com a progressão da doença, outras complicações podem surgir em decorrência da patologia e seus sinais e sintomas (RODRIGUES; CECHELLA, 2002). Em consequência das limitações na postura e no equilíbrio ocorre também diminuição na sua capacidade funcional, mostrando a importância da prática do exercício físico vinculado ao estímulo e controle do movimento, retardando assim o avanço da doença (SOARES; PEYRÉ-TARTARUGA, 2010). O Treinamento Resistido (TR) tem sido utilizado NUTRIÇÃO EM PAUTA


Programa de Exercício Resistido para Pacientes com Doença de Parkinson: Uma Visão Nutricional na reabilitação, manutenção e aumento da força, flexibilidade e aspectos fundamentais para a integridade física dos portadores da DP, levando a uma melhora das Atividades da Vida Diária (AVD) e indicando métodos que lhe propicie independência e reintegração social (ACIOLE; BATISTA, 2013; MATSUDO, 2013). Dependendo da fase em que se encontra da dose do medicamento e da etapa do tratamento, o paciente pode desencadear dificuldades na alimentação, interações entre os medicamentos e nutrientes, redução do apetite, disfagia, dificuldade na mastigação, limitações motoras para manusear talheres, além de dificuldades no ganho de peso corporal e consequentemente no seu diagnóstico nutricional adequado (NAJAS, 2011). Tendo em vista que as deficiências neurológicas levam a uma redução da prática da atividade física e consequentemente um descondicionamento físico global, tornando-o suscetíveis a uma série de fatores de riscos para a saúde como o aumento da pressão arterial, dores articulares, constipação intestinal, dificuldade de manter a higiene pessoal, podendo levar a um isolamento social e depressões (FRANÇA et al., 2012). Assim como em outras condições crônicas devem seguir uma alimentação adequada e equilibrada, onde poderão obter nutrientes específicos, principalmente as particularidades dos micronutrientes, tendo uma considerável melhora na qualidade de vida e manutenção do bem-estar (RODRIGUES; CECHELLA, 2002; MORAIS et al., 2013). Nesse contexto, torna-se importante além do diagnóstico nutricional, a identificação de situações de risco, que podem contribuir para sinalizar uma piora na saúde, dessa forma visando à ocorrência de intervenção nutricional, para assim minimizar os danos causados tanto pela patologia quanto pelos possíveis efeitos do tratamento medicamentoso (MORAIS et al., 2013). Assim sendo, esse trabalho tem como objetivo analisar o perfil nutricional de portadores da Doença de Parkinson praticantes de Treinamento Resistido.

. . . ............... Meto dol o g i a . . . . . . . . . .. . . . . . . Foram selecionados 8 indivíduos diagnosticados com DP de ambos os gêneros, residentes no Estado do Pará, que praticavam exercício resistido no Laboratório de Exercício Resistido e Saúde (LERES) da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Somente participaram do estudo os indivíduos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual continha explicação DEZEMBRO 2017

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detalhada sobre os objetivos do estudo, procedimentos, riscos e benefícios e consentimento para sua participação. A coleta dos dados só iniciou após apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade da Amazônia sob CAEE nº. 43624015.6.0000.5173. A pesquisa teve duração de 8 meses (março à novembro de 2016) com frequência de 2 (duas) sessões de treinamento semanais, em dias alternados. Para avaliação antropométrica foram utilizadas as medidas, tais como: peso corporal (balança mecânica, marca Filizola), estatura corporal (estadiômetro, marca Welmy) e perimetrias corporais (cintura e quadril) utilizando a fita métrica da marca Sanny. No que tange a avaliação nutricional foi aplicado uma anamnese, com dados pessoais relativos à idade, gênero, histórico de doenças pregressas e atuais, hábito de tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, prática do exercício físico, horas de sono e hábito intestinal. Outro parâmetro utilizado foi o Questionário de Frequência Alimentar. Para apontar o percentual de adequação e inadequação calórica, de macro e micronutriente foi empregado o Guia Alimentar (BRASIL, 2015) onde constam as recomendações de porções dos diferentes grupos alimentares para um consumo energético médio diário de 2.000 kcal. Para análise estatística das avaliações antropométricas e nutricional, os resultados foram avaliados e analisados conforme os protocolos específicos. Os dados foram descritos e tabulados com o auxílio do Software Word e Excel, versão 2013 e para realizar a estatística descritiva utilizou-se porcentagem, média e desvio padrão.

. . . . . . . . . . R e su lt a d o s e D is c uss ã o . ........ Participaram desta pesquisa 08 idosos de ambos os gêneros, sendo 07 (87,5%) do gênero feminino e 1 (12,5%) masculino. A idade média do grupo foi de 53,37 ± 8,72 anos, peso e estatura corporais médios foram 61,57 ± 8,22kg e 1,62 ± 0,10m, respectivamente (Tabela 1). Bueno et al. (2008) encontrou resultados em termos percentuais parecidos com a atual pesquisa, tal estudo foi composto por 82 indivíduos de 60 a 87 anos, pertencentes ao Programa UNATI da UNIFAL (MG), dos quais 90,2% eram do sexo feminino e 9,8%, do sexo masculino. Já Menezes et al. (2008) estudou 483 idosos residentes na cidade de Fortaleza, mostrando que 68% dos participantes eram do gênero feminino. A média etária dos idosos foi 70,7±7,8 anos. NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Resistance Training Program for Patients with Parkinson Disease: A Nutritional View

Tabela 1: Dados antropométricos dos pacientes

portadores de Doença de Parkinson no Laboratório de Exercício Resistido e Saúde (LERES), Belém – PA. Variável

Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) IMC (Kg/m²) RCQ

Média

Desvio padrão

53,37 61,57 1,62 23,46 0,93

8,72 8,22 0,1 2,28 0,084

Fonte: Coleta de dados, 2016. Legenda: IMC: Índice de Massa Corporal; RCQ: Relação Cintura Quadril.

A classificação do estado nutricional do pacientes com DP apresentou o predomínio de eutróficos (62,5%), seguido de sobrepeso (25%) e baixo peso (12,5%), conforme Gráfico 1. Gráfico 1 – Percentual de pacientes com DP por estado nutricional

classificação segundo o IMC. Um estudo conduzido por Afonso e Sichieri (2002) indicou que o sobrepeso, independente do grau indica que o excesso de gordura na região abdominal, pode ser avaliado com base na razão das medidas de cintura e quadril (RCQ), caracterizando-se como um importante fator de risco para várias Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Além disso, tem sido encontrada relação positiva entre doenças cardiovasculares e os fatores genéticos, ambientais e o estilo de vida. Portanto, vale ressaltar que o efeito multiplicativo da coexistência desses com os fatores de risco, aumentam de forma significativa o risco da doença arterial coronariana (OLIVEIRA et al., 2010).

Tabela 2 - Porções diárias consumidas de cada grupo alimentar e porcentagem atingida da recomendação dos pacientes portadores de Doença de Parkinson no Laboratório de Exercício Resistido e Saúde (LERES), Belém – PA. Porções diárias recomendadas*

Porções diárias consumidas

% atingida da estimativa

Cereais, tubérculos e raízes

6

2,54 ± 0,39

42,3

Legumes e verduras

3

0,33 ± 0,43

11

Frutas

3

1,25 ± 0,35

41,6

Leite e derivados

3

1,92 ± 0,35

64

Carnes e ovos

1

1,83 ± 0,17

183

Feijões e outras leguminosas

1

0,79 ± 0,39

79

Açúcares e doces

1

0,17 ± 0,17

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Grupos de alimentos

Atualmente pesquisas têm indicado uma correlação entre a obesidade e os fatores de risco cardiovasculares em idosos (FERREIRA et al., 2010; SOAR, 2015). No diagnóstico do estado nutricional da população estudada, classificado segundo o IMC, prevaleceu a eutrofia, porém o resultado obtido na classificação de RCQ indica que 62,5% (n=5) dos pacientes possui risco de desenvolver doenças Cardiovasculares, com média igual à 0,93±0,084 (Tabela 1). Em contrapartida, o estudo feito em Florianópolis por Oliveira et al. (2010), com indivíduos atendidos em uma Clínica de Prevenção e Reabilitação indicou prevalência de sobrepeso e obesidade, tendo como base a

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Fonte: Coleta de dados, 2016. *Número de porções diárias recomendadas (para dieta de 2.000kcal) e % do consumo são baseados no Guia Alimentar para a População Brasileira.

A partir da frequência alimentar, pode-se observar o quantitativo de porções e com que habitualidade os pacientes ingeriram os alimentos dos distintos grupos (Tabela 2). Na pirâmide alimentar para idosos estão descritas as porções dos diferentes grupos e estas foram estabelecidas com base no Valor Energético Total (VET) da dieta e na energia de cada grupo alimentar (PHILIPPI, 2008). NUTRIÇÃO EM PAUTA


Programa de Exercício Resistido para Pacientes com Doença de Parkinson: Uma Visão Nutricional

esporte

O conjunto dos carboidratos (cereais, tubérculos e raízes) é estabelecido 6 porções ao dia. Ao fazer a análise da frequência alimentar, pode-se observar o consumo médio de 2,54±0,39 porções ao dia, contudo pode perceber a falta de alimentos integrais na constituição das refeições diárias, tendo menores quantidades de fibras, desfavorecendo o auxilio no trato gastrointestinal (MENDONÇA, 2010). A baixa ingestão de fibras pode ser considerada um fator de risco para constipação intestinal, do qual a DP é atingida por uma prevalência de 80% dos seus pacientes (WANG et al., 2010). Moraes et al. (2013) identificou 37,5% dos pacientes relataram sofrer de constipação intestinal habitualmente. Em relação ao grupo dos legumes e verduras, é preconizado o consumo de 3 porções por dia, e após a avaliação percebeu-se a média de consumo de 0,33 ± 0,43. Os alimentos pertencentes a esta categoria necessitam estar presentes nas refeições diárias, visto que, protegem a saúde e reduzem os riscos de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Assim sendo é imprescindível o consumo de legumes e verduras, o qual pode ser feito acrescentando no cardápio saladas e sopas com as diversidades de cores e sabores, ou acrescentá-los em preparações como arroz e feijão (PHILIPPI, 2008). No que concerne as frutas, é preconizado o consumo de 3 porções ao dia, sendo que a média de consumo foi de 1,25 ± 0,35, qualificando-o como abaixo do recomendado. As frutas são excelentes fontes de fibra e nutrientes, possuem baixa densidade energética, e a inadequação desse alimento pode acarretar e acelerar problemas como constipação intestinal, devendo sempre ser incentivado o seu consumo (MENDONÇA, 2010; DIAS; SANTOS; VARGAS, 2011). Em relação ao leite e derivados, estima-se o consumo de 3 porções por dia. Sendo que a média encontrada entre os idosos estudados foi de 1,92 ± 0,35, estando abaixo do preconizado. Os alimentos dessa categoria constituem-se, sobretudo de proteínas de alto valor biológico e nutrientes essenciais, como por exemplo, o cálcio, vitaminas D, B2, A e fósforo, além de serem importantes na contração muscular e na ação do sistema nervoso. A deficiência de vitamina D e desarmonia na ingestão de cálcio-fósforo pode acarretar problemas na estrutura óssea como, osteoporose, câimbras e pressão alta, também essenciais na regulação dos batimentos cardíacos (BRASIL, 2010). Em relação as carnes e ovos, a média do consumo foi de 1,83 ± 0,17. Nesse grupo têm-se os alimentos de alto valor biológico, possuindo os aminoácidos essenciais para DEZEMBRO 2017

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Resistance Training Program for Patients with Parkinson Disease: A Nutritional View

o organismo, sendo fonte também de vitaminas, minerais e ácidos graxos (PHILIPPI, 2008; BARICHELLA et al., 2013). Ao consumir produtos de origem animal, por conter uma vasta quantidade de aminoácidos essenciais, os mesmos auxiliam no desenvolvimento do sistema neuronal. Além da carne bovina e de aves fornecerem vitamina B6 e B12, a sua falta podem levar a um quadro clínico de anemia (TOXQUI; VAQUERO; DÍAZ-ÁLVAREZ, 2015). A deficiência de vitamina B6 pode colaborar para o acréscimo da hiper-homocisteínemia, onde a prevalência encontrou-se inversamente correlacionada com o desenvolvimento motor e o desempenho cognitivo na doença de Parkinson (MENDONÇA, 2010; MORAIS et al., 2013). Em relação ao grupo de feijões e outras leguminosas, o consumo médio encontrado foi de 0,79 ± 0,39, no qual, o preconizado é de uma porção ao dia, mostrando que a população estudada está ingerindo porções abaixo do recomendado (BRASIL, 2010). Os pacientes tem uma ingestão contínua de refrigerante, sucos artificiais e não consomem alimentos como hambúrguer, embutidos e frios. A alimentação é fator primordial para saúde e bem-estar, principalmente no que se refere as pessoas idosas e com problemas de saúde, seguindo de maneira geral, os mesmos princípios de uma alimentação saudável e aconselhada a todas as pessoas adultas, devendo ressaltar os cuidados quanto a quantidade e qualidade dos alimentos consumidos, devido à diminuição do metabolismo e à diminuição da prática da atividade física. A alimentação desregrada, rica em gorduras, sal e açúcares, pobre em legumes, verduras e frutas, pode ocasionar ou piorar casos já existentes, como a obesidade, anemia, diabetes e hipertensão arterial sistêmica (SOUZA, 2013).

. . . .............. C onclus õ es . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . Embora a maioria dos pacientes apresente normalidade em relação ao estado nutricional (IMC) quando comparado aos fatores de riscos cardiovasculares (RCQ) encontram-se elevados. No que tange as porções diárias de cada grupo alimentar, os pacientes mostraram irregularidade em seu consumo, mostraram assim risco nutricional no aspecto global Os resultados apresentados neste estudo precisam ser interpretados com moderação. Sendo interessante e necessário realizar estudos com maior número de pa-

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cientes com doença de Parkinson e comparar os resultados com os do grupo controle de indivíduos não portadores da doença.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Dra. Jéssyca Layze da Costa Sarmento – Nutricionista, Pós Graduanda em Nutrição Esportiva e Estética pela Faculdade Conhecimento e Ciência (FCC), Belém/ PA Dra. Rayssa Bessa Lima - Nutricionista, Pós Graduanda em Nutrição Esportiva e Estética pela Faculdade Conhecimento e Ciência (FCC) Prof. Moisés Costa da Silva – Prof. de Educação Física, Docente da Faculdade Metropolitana da Amazônia (FAMAZ) Profa. Biatriz Araújo Cardoso – Fisioterapeuta, Docente da Faculdade Metropolitana da Amazônia (FAMAZ) Prof. George Alberto da Silva Dias - Fisioterapeuta, Docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA) Ana Júlia Cunha Brito - Fisioterapeuta, Docente da Faculdade Metropolitana da Amazônia (FAMAZ) Prof. Evitom Correa de Sousa – Prof. de Educação Física, Docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Coordenador do Laboratório de Exercício Resistido e Saúde (UEPA) Prof. Erik Artur Cortinhas Alves – Biólogo, Docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e integrante do Laboratório de Exercício Resistido e Saúde (UEPA) Profa. Dra. Josiana Kely Rodrigues Moreira da Silva – Profª de Educação Física, Nutricionista, Docente da Faculdade Metropolitana da Amazônia e integrante do Laboratório de Exercício Resistido e Saúde (UEPA), Belém/PA

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS-CHAVE: Doença de Parkinson; Nutrição; Treinamento de Resistência. KEYWORDS: Parkinson’s disease; Nutrition; Resistance Training.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ NUTRIÇÃO EM PAUTA


Programa de Exercício Resistido para Pacientes com Doença de Parkinson: Uma Visão Nutricional

RECEBIDO: 21/10/2017 - APROVADO: 17/12/2017

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

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esporte

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Information about Breastfeeding in Prenatal and Delivery and Professional Support for Breastfeeding in Rio Branco, Acre

Informações sobre Amamentação no Pré-Natal e Parto e Auxílio Profissional no Aleitamento Intra-Hospitalar Em Rio Branco, Acre RESUMO: Objetivo: Analisar a associação entre tipo de atendimento de pré-natal e parto e informações e auxilio profissional acerca da amamentação. Metodologia: Estudo transversal com 933 parturientes, por meio de entrevista semiestruturada destinada a obter informações socioeconômicas, demográficas, hábitos das gestantes e atenção pré-natal e parto. Resultados: Do total de mães entrevistadas, 40,1% não receberam orientação sobre amamentação durante o pré-natal. Durante o acompanhamento, 44,7% foram orientadas sobre pega correta, 57,2% sobre estímulo de sucção e produção de leite, 28,2% sobre ordenha manual, 58,6% sobre duração do aleitamento materno exclusivo, 48,4% sobre não dar mamadeira e chupeta ao bebê. Conclusões: Observou-se baixa prevalência de informações sobre aleitamento materno no pré-natal, sendo necessária uma abordagem mais eficiente junto às gestantes. As informações pré-natais não diferiram quanto ao tipo de atendimento público ou privado, e as informações e auxilio profissional para primeira amamentação foram mais prevalentes no atendimento privado. ABSTRACT: Objective: To analyze the association between type of care for prenatal care and delivery, and information and professional assistance about breastfeeding. Methods: Cross-sectional study with 933 women in labor, through semi-structured interview aimed at achieving socio-economic, demographic, habits of pregnant

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women and prenatal care and childbirth. Results: Among all those interviewed, 40.1% had not received guidance on breastfeeding during prenatal care. During follow-up, 44.7% were counseled on correct picks, 57.2% of suction stimulus and milk production, 28.2% of manual milking, 58.6% of duration of exclusive breastfeeding, 48.4% about not giving bottles and pacifiers to baby. Conclusions: We observed low prevalence of information about breastfeeding during prenatal care; a more efficient approach is required towards pregnant women. Prenatal information did not differ in the type of public or private service, and the information and professional assistance to first breastfeeding were more prevalent in the private service.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o

. . . . . . . . . . ........

A alimentação nos primeiros anos de vida é essencial para o pleno desenvolvimento humano, tendo impacto a curto e longo prazo. Recomenda-se o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e a introdução da alimentação complementar após este período, com a manutenção do aleitamento até dois anos ou mais (WHO, 2008; BRASIL, 2009). A proteção oferecida pelo leite materno contra a mortalidade infantil é maior, quanto menor for a criança. Dessa forma, o número de mortes por doenças infectocontagiosas tem uma proporção de seis para um em crianças, menores de dois meses, que não foram amamentadas, NUTRIÇÃO EM PAUTA


Informações sobre Amamentação no Pré-Natal e Parto e Auxílio Profissional no Aleitamento Intra-Hospitalar Em Rio Branco, Acre

com o decréscimo à medida que a criança cresce. Mas mesmo assim, no segundo ano de vida, essa proporção ainda é o dobro (BRASIL, 2009). Alguns fatores se associam negativamente a duração do aleitamento materno, como baixa escolaridade materna e paterna, menor poder de compra, menor renda familiar, programação para amamentar menor ou igual a seis meses, tempo até a primeira mamada maior que seis horas, presença de dificuldades iniciais, idade materna menor que 20 anos, número de consultas de pré-natal inferior a cinco ou superior a nove, idade gestacional menor que 37 semanas, falta de uniformidade de informações e/ ou da compreensão materna, retorno ao trabalho, fissuras mamilares, mamilos planos e hipogalactia (BITTENCOURT et al., 2005; CHAVES et al., 2007; JUNGES et al., 2010; MORAES et al., 2014; VEGA; TADDEI; POBLACION, 2014). Por outro lado, existem fatores que se associam positivamente, tais como: ter amamentado anteriormente, experiências com amamentação de mulheres próximas, como mães, sogras e irmãs, e a presença do profissional de saúde (JUNGES et al., 2010). O aleitamento materno apresenta inúmeras vantagens para a mãe e o bebê, todavia sua prática é muito inferior ao que se é esperado e recomendado pelas organizações internacionais e nacionais (WHO, 2008; ROCHA, 2010). A compreensão das nutrizes no tocante ao aleitamento materno influência de forma direta na atitude das mesmas quanto ao ato de amamentar. Estudos apontam que quando há conhecimento intrinsecamente ligado ao discurso biomédico, quando a amamentação é destinada, sobretudo, à prevenção de doenças, há maior adesão a manutenção de aleitamento materno exclusivo (AMARAL et al., 2015; BRASIL, 2009; ROCHA, 2010; SALDAN et al., 2015). Assim, faz-se necessário um aumento das orientações e apoio a nutriz, principalmente nas primeiras semanas do pós-parto. Desta forma, o objetivo deste estudo é analisar a associação entre tipo de atendimento de pré-natal e parto e informações e auxilio profissional acerca da amamentação.

. . . ................. . Méto do s . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . Este estudo observacional transversal foi desenvolvido no município de Rio Branco, capital do estado do Acre que concentra 47,32% do total da população do estado, sendo que 89,42% da população encontram-se na zona urbana. A área total do município compreende DEZEMBRO 2017

pediatria

8.835,541 km² (BRASIL, 2014). A população alvo são as parturientes residentes na área urbana de Rio Branco. No ano de 2014, foram registrados 7.011 nascimentos com mães residentes no município de Rio Branco, destes 99,84% foram partos hospitalares (BRASIL, 2015). A estimativa do tamanho amostral probabilístico mínimo, foi calcula no OpenEpi (http://www.openepi. com/SampleSize/SSPropor.htm). Foram utilizados como parâmetros o tamanho da população registrado pelo SINASC em 2014, a frequência esperada em 50%, precisão de 5%, e efeito de desenho 1.0 (amostra aleatória). A população de estudo foi constituída por todas as parturientes das maternidades de Rio Branco, Acre, no período de 06 de abril a 10 de julho, residentes na área urbana de Rio Branco e que responderam adequadamente a entrevista sobre atenção pré-natal e parto. Foram excluídas mulheres que apresentaram distúrbios psiquiátricos que implicaram na impossibilidade de responder a entrevista. A coleta de dados ocorreu nos meses de abril, maio e junho de 2015, por meio de entrevista com instrumento semiestruturado destinado a obter informações socioeconômicas, demográficas, hábitos das gestantes e atenção pré-natal e parto. As entrevistas foram realizadas no interior das maternidades, sendo as parturientes abordadas cerca de 12 horas após o parto com a devida atenção por parte das entrevistadoras, de forma a preservar a recuperação do pós-parto imediato. As auxiliares de pesquisa durante todo o período de coleta trabalharam em regime de escalas e rodízio de trabalho, de modo a não haver sobrecarga, mas cobrir todos os dias em tempo integral. Estas entrevistadoras foram treinadas com o intuito de obter padronização e uniformidade de procedimentos na coleta de dados. Os dados foram analisados utilizando o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22.0. Realizou-se análise descritiva e exploratória dos dados para avaliar a distribuição dos mesmos e definir a caracterização da amostra do estudo. Para facilitar a visualização, a caracterização dos dados foi construída em tabelas de frequências absolutas e relativas. Para testar a associação entre o tipo de atendimento de pré-natal e parto e informações e auxilio profissional acerca da amamentação com as demais variáveis do estudo foi utilizada análise univariada por meio do teste do qui-quadrado de Pearson assintótico e exato. Considerou-se, neste estudo, a maternidade púNUTRIÇÃO EM PAUTA

23


Information about Breastfeeding in Prenatal and Delivery and Professional Support for Breastfeeding in Rio Branco, Acre

blica como Unidade A e a maternidade com administração privada, porém com fornecimento de ambos os tipos de atendimento (público e privado), como Unidade B. As variáveis socioeconômicas e demográficas familiares avaliadas neste estudo foram: número de moradores no domicílio, renda familiar (em salários mínimos), idade da mãe, cor da pele autodeclarada, escolaridade da mãe, situação conjugal e número de gestações anteriores. As variáveis de atenção pré-natal e parto foram: tipo de atendimento de pré-natal (público ou privado), número de consultas de pré-natal realizadas, tipo de serviço utilizar no momento do parto (público ou privado) e unidade hospitalar em que realizaram o parto (unidade A ou B). Foram avaliadas ainda, as informações recebidas durante as consultas de pré-natal, sendo estas: informações sobre amamentação e o profissional que as repassou, pega correta, estímulo de sucção e produção de leite, ordenha manual, duração do aleitamento materno exclusivo, não dar mamadeira ao bebê e não dar chupeta ao bebê. Estas mesmas variáveis foram estudadas comparando-se o atendimento pré-natal público e o privado. No hospital foram avaliadas as variáveis orientadas a amamentar e se recebeu auxílio profissional para a primeira mamada. As variáveis “foi orientada a amamentar” e “recebeu auxílio profissional para a primeira mamada no hospital” foram estudadas comparando-se o serviço público e o privado e as unidades A e B no momento do parto. Neste estudo foram observados os princípios éticos, de acordo com a Resolução N° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os pesquisadores receberam autorização das duas instituições em que a coleta de dados foi realizada. O projeto matriz foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Acre sob número CAAE: 31007414.0.0000.5010. A todas as entrevistadas foi garantido o direito de não participação no estudo, bem como lhes foi assegurado o sigilo das informações coletadas.

pardas; 50,8% possuíam ensino médio; 85,2% possuíam companheiro; 39,2% eram primigestas; 84,1% tiveram atendimento de pré-natal público; 46,8% tiveram de 6 a 8 consultas de pré-natal; 88,6% usufruíram de serviço hospitalar público para o parto; 60,7% fizeram o parto na Unidade A e 39,3%, na Unidade B (Tabela 1). Durante o pré-natal 59,9% das mães informaram que receberam orientações gerais sobre amamentação, sendo o enfermeiro o principal responsável, seguido do médico. Quando questionadas sobre orientações mais específicas, 44,7% relataram que foram orientadas sobre pega correta; 57,2% sobre o estímulo de sucção e produção de leite; 28,2% sobre ordenha manual; 58,6% sobre a duração adequada do aleitamento materno; 48,4%, sobre não dar mamadeira ao bebê; 48,4%, sobre não dar chupeta ao bebê (Tabela 2). Estratificando estes resultados por tipo de atendimento pré-natal (público vs privado), pode-se considerar que houve diferença borderline apenas para a variável dar chupeta ao bebê, tendo sido mais abordada no pré-natal público (41,1%, p= 0,055) ( Tabela 3). Em relação as orientações e auxílio profissional para a primeira amamentação, observou-se diferenças estatísticas significantes na comparação entre hospitais e tipos de serviço. Entre as mulheres que pariram no serviço privado 91,2% receberam orientação sobre amamentação no ambiente hospitalar (p=0,004) e 64,6% receberam auxílio profissional para a primeira amamentação (p=0,006). Esta diferença também foi observada entre as unidades de realização do parto. Das mulheres que pariram na Unidade B, 88,9% receberam orientação sobre amamentação no ambiente hospitalar (p<0,001) e 57,7% receberam auxílio profissional para a primeira amamentação (p=0,009) (Tabela 4).

. . . ................ R esu lt a do s . . . . . . . . . . .. . . . . . . .

Já é consenso que as informações repassadas durante o pré-natal e parto podem influenciar na duração do aleitamento materno exclusivo, constituindo-se em importante aliada na promoção da saúde e nutrição materno-infantil. Segundo Ramos e Almeida (2003) muito embora cenários epidemiológicos denotem o aumento da prevalência de amamentação, há que se destacar a necessidade de ampliar a compreensão acerca dos fatores determinantes que levam as mulheres e crianças a se manterem excluídas de tantos benefícios. Estudo realizado por Sandre-Pereira e colabora-

Das 995 parturientes contatadas que atendiam aos critérios de inclusão, duas foram excluídas por apresentaram distúrbios psiquiátricos que implicaram na impossibilidade de responder a entrevista. Foram entrevistadas 993 parturientes, com idade de 13 a 45 anos (média 25,26 anos, DP: 6,64). Deste total, 46,4% relataram que havia 3 a 5 residentes em seu domicílio, incluindo as mesmas; 47,9% possuíam renda familiar de 1 a 3 salários mínimos; 82,4% se autodeclararam

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DEZEMBRO 2017

. . . . . . . . . . . . . . . . . . D is c uss ã o . . . . . . . . . . . . . .......

NUTRIÇÃO EM PAUTA


pediatria

Informações sobre Amamentação no Pré-Natal e Parto e Auxílio Profissional no Aleitamento Intra-Hospitalar Em Rio Branco, Acre

Tabela 1 – Distribuição das variáveis socioeconômicas e demográficas familiares, atenção pré-natal e parto. Rio Branco, 2015. Variável

n

%

Pavimentação da rua do domicílio (n= 992) asfalto/cimento

644

64,9

paralelepípedo/tijolo

95

9,6

terra com outros materiais

95

9,6

apenas terra

158

15,9

não

765

77,7

sim

220

22,3

Esgoto a céu aberto (n = 985)

Número de moradores no domicílio (n=993) 1 ou 2

276

27,8

3 a 5, inclusive

461

46,4

mais de 5

256

25,8

até 1 SM

123

12,4

de 1 a 3 SM

476

47,9

acima de 3 SM

249

25,1

13 - 18, inclusive

117

17,8

19 - 24, inclusive

318

32

25 - 34, inclusive

391

35 anos ou mais

107

Renda familiar (salários mínimos) * (n = 848)

Idade (anos) (n= 993)

Atendimento de pré-natal (n=966) Público

812

84,1

Privado

154

15,9

Número de consultas pré-natal (n= 974) nenhuma

6

0,6

259

26,6

6 a 8, inclusive

456

46,8

>8

253

26

Público

877

88,6

Privado

113

11,4

1 a 5, inclusive

Tipo de serviço hospitalar (n= 990)

Unidade hospitalar (n= 993) Unidade A

603

60,7

Unidade B

390

39,3

Tabela 2 – Distribuição relativa e absoluta de informações acerca do aleitamento materno repassadas à mãe durante pré-natal e parto. Rio Branco, 2015. Variável

n

%

NO PRÉ-NATAL RECEBEU ORIENTAÇÃO SOBRE... amamentação (n=966) Não

388

Sim, do médico

134

13,9

39,4

Sim, do enfermeiro

411

42,5

10,8

Sim, do nutricionista

1

0,1

Sim, da equipe multidisciplinar

33

3,4

Cor da pele autodeclarada (n= 992)

40,1

Branca

107

10,8

Parda

817

82,4

Não

520

55,3

Outras

68

6,9

Sim

420

44,7

até ensino fundamental 1

59

5,9

Não

407

42,5

ensino fundamental 2

189

19

Sim

550

57,2

ensino médio

504

50,8

ensino superior

241

24,3

Não

687

71,8

Sim

270

28,2

Não tem companheiro

147

14,8

Com companheiro

846

85,2

Escolaridade (n=993)

pega correta (n=940)

estímulo de sucção e produção de leite (n=957)

Situação conjugal (n= 993)

Primigesta (n= 989) não

601

60,8

sim

388

39,2

Número de filhos anteriores (n=990)

ordenha manual (n=957)

duração do aleitamento materno exclusivo (n = 952) Não

394

41,4

Sim

558

58,6

Não

489

51,6

Sim

459

48,4

não dar mamadeira ao bebê (n=948)

não dar chupeta ao bebê (n=955)

Nenhum

389

39,3

1 ou 2

303

30,6

Não

493

51,6

3 ou mais

298

30,1

Sim

462

48,4

DEZEMBRO 2017

NUTRIÇÃO EM PAUTA

25


Information about Breastfeeding in Prenatal and Delivery and Professional Support for Breastfeeding in Rio Branco, Acre

NO HOSPITAL... foi orientada a amamentar(n = 981) Não

185

18,9

Sim

796

81,1

recebeu auxílio profissional para a primeira amamentação (n= 979) Não

465

47,5

Sim

514

52,5

Tabela 3 – Associação entre tipo de atendimento pré-natal e informações acerca do aleitamento materno repassadas à mãe durante o pré-natal. Rio Branco, 2015. Atendimento pré-natal público Variável

n

privado %

n

%

Valor de p

DURANTE O PRÉ-NATAL RECEBEU ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL SOBRE... amamentação

0,626

Não

317

39,9

63

42

Sim

478

60,1

87

58

pega correta

0,135

Não

421

54,5

90

61,2

Sim

351

45,5

57

38,8

estímulo de sucção e produção de leite

0,44

Não

330

41,8

66

45,2

Sim

460

58,2

80

54,8

ordenha manual

0,296

Não

576

72,9

101

68,7

Sim

214

27,1

46

31,3

duração do aleitamento materno exclusivo

0,277

Não

317

40,4

66

45,2

Sim

468

59,6

80

54,8

não dar mamadeira ao bebê

0,084

Não

392

50,1

84

57,9

Sim

390

49,9

61

42,1

não dar chupeta ao bebê

0,055

Não

396

50,3

86

58,9

Sim

392

49,7

60

41,1

dores (2000) com puérperas observou que 53,3% afirmaram ter recebido informações sobre aleitamento materno nas consultas de pré-natal, sendo que 25% das mulheres receberam essas informações do médico e 5,6%, da enfermeira. A porcentagem de mães que receberam essas orientações no presente estudo foi maior, e o enfermeiro foi a figura mais citada como informante, seguido pelo médico. Cogita-se que essa diferença entre os estudos

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DEZEMBRO 2017

quanto a quem orientou as mães se deve ao fato de a pesquisa de Sandre-Pereira e colaboradores (2000) ter ocorrido em uma maternidade-escola, onde possivelmente a figura mais importante era o médico. Já nesta pesquisa, o número de mulheres que usufruíram de atendimento pré-natal público foi maior, local em que o enfermeiro surge como o principal responsável pelo acompanhamento das gestantes. Neste trabalho, apenas 44,7% das mulheres entrevistadas receberam orientação sobre pega correta durante o atendimento de pré-natal. Uma boa técnica de amamentação, que envolve a pega correta, é imprescindível para o seu sucesso, prevenindo traumas mamilares. Segundo Araújo e colaboradores (2013) os problemas mamários estão dentre os principais motivos que levam ao desmame precoce, mamilos planos ou invertidos podem dificultar o início da amamentação, mas não a impedem. Estudo realizado com 62 mães cujos filhos estavam em acompanhamento de puericultura em Recife mostrou que 14,28% destas relataram a dificuldade de a criança fazer a pega como uma das causas do desmame precoce (OLIVEIRA, 2010). Sendo assim, percebe-se a importância de se repassar esta informação para a gestante, podendo contribuir para a maior duração do aleitamento materno. No estudo de Sandre-Pereira e colaboradores (2000), 65,2% das mulheres entrevistadas afirmaram ser possível estimular a produção de leite materno. Destas, 62,5% acreditam que as mudanças alimentares tais como a prática de uma alimentação saudável, a ingestão de maior volume de líquidos e de alimentos à base de leite são os que contribuem para este aumento, e apenas 22,7% indicaram que a sucção feita pelo bebê era o que estimulava a produção. Na nossa amostra, 57,2% das mães alegaram ter recebido orientações sobre a relação entre estímulo de sucção e produção de leite. Esta é uma informação que não deveria ser desprezada pelos profissionais de saúde, pois a orientação adequada quanto ao estímulo da sucção pode prevenir a interrupção precoce do aleitamento total ou exclusivo, tendo em vista que a falta de leite é citada pelas mães como um dos motivos para o desmame precoce (ROCHA et al., 2010; JUNGES et al., 2010) Quanto à ordenha manual observou-se, em Rio Branco, que apenas 28,2% das entrevistadas relataram ter recebido estas orientações durante o aleitamento materno. Estudo realizado por Demétrio, Pinto e Assis (2012) com 531 mães e suas crianças mostrou que o risco de o bebê receber juntamente com o leite materno outros tipos de leite ou alimento foi maior quando as mães trabalhavam fora de casa. Acredita-se que se as mães são bem orienNUTRIÇÃO EM PAUTA


pediatria

Informações sobre Amamentação no Pré-Natal e Parto e Auxílio Profissional no Aleitamento Intra-Hospitalar Em Rio Branco, Acre

Tabela 4 – Orientação e auxilio profissional para a primeira amamentação segundo tipo de prestação de serviço e unidade do parto. Rio Branco, 2015. Tipo de prestação de serviço no parto Público Variável

n

Unidade do parto

Privado %

n

Unidade A %

Valor de p

n

%

Unidade B n

%

Valor de p

NO HOSPITAL... foi orientada a amamentar

0,004

< 0,001

Não

175

20,2

10

8,8

142

23,9

43

11,1

Sim

690

79,8

103

91,2

451

76,1

345

88,9

recebeu auxílio profissional para a primeira amamentação

0,006

0,009

Não

424

49,1

40

35,4

302

50,8

163

42,3

Sim

439

50,9

73

64,6

292

49,2

222

57,7

tadas quanto à possibilidade de extração manual do leite para alimentação do filho enquanto estão fora de casa e/ ou para evitar eventuais problemas com as mamas, a iniciação antecipada da alimentação complementar ou a interrupção precoce do aleitamento pode ser evitada (FREBASGO, 2010). No presente estudo, um pouco mais da metade das mulheres receberam informação sobre duração do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês. No estudo de Sandre-Pereira e colaboradores (2000), esta foi a informação eleita pelas mães como a mais importante dentre as recebidas durante o pré-natal. Um estudo de caráter exploratório, descritivo e bibliográfica com abordagem quantitativa, realizado na Unidade Básica de Saúde da Família José Pinheiro I no município de Campina Grande-PB realizado por Araújo e colaboradores (2013) observou que, a maioria das mulheres (44,1%) amamentou exclusivamente ao peito por menos de um mês, este valor é seguido de 26,5% do total referendando que a amamentação durou de três e quatro meses; por sua vez 19,1% representam o total de mulheres que exerceram AME entre um e dois meses e 10,3% entre cinco a seis meses. Outro estudo, realizado em Sydney, Austrália, indicou que quase todas as primíparas entrevistadas que conheciam e compreendiam a recomendação de amamentar exclusivamente até os seis meses e que pretendiam segui-la de fato iniciaram a prática de aleitamento. Aquelas que conheciam a recomendação, ainda, amamentaram por mais tempo e estavam menos propensas a interromper a amamentação do que as que não conheciam (WEN et al., 2012). Com isso faz-se necessário discutir o tempo de amamentação exclusiva em todas as consultas durante o pré-natal com maior clareza e elucidação do tempo reDEZEMBRO 2017

comendado pelo Ministério da Saúde. Outro estudo mostrou ainda que a mediana do tempo de amamentação de bebês que receberam chupeta foi menor do que aqueles que não receberam, revelando um risco de desmame precoce 3,2 vezes maior em crianças que faziam uso de bico (DEMITTO; BERCINI; ROSSI, 2013). Assim, a falta de informação sobre o uso desses artifícios pode ser um fator negativo no tempo de duração do aleitamento materno. No nosso estudo, menos da metade das mulheres recebeu, durante o pré-natal, orientações sobre não dar mamadeira e sobre não dar chupeta ao bebê. No nosso trabalho, durante a permanência na maternidade, 81,1% das mães foram orientadas a amamentar, valor semelhante ao encontrado por Rocha et al. (2010) e Azevedo e Cunha (2013) (aproximadamente 88,9% e 80,2%, respectivamente). A primeira amamentação deve ocorrer logo após parto, assim que o bebê procurar o peito ao ser colocado sobre o abdômen da mãe. A equipe do hospital deve ser capacitada e estar integrada, buscando sempre apoiar e auxiliar essa mãe a iniciar precocemente a prática do aleitamento, que sabidamente carrega muitos benefícios, desde psicológicos, quando do recém-criado vínculo entre mãe e filho, até fisiológicos, promovendo liberação de hormônios e a recuperação mais rápida no puerpério. É um momento que demanda calma, e os profissionais de saúde devem criar um ambiente no qual a mulher se sinta segura e confiante (FEBRASGO, 2010). Durante nosso estudo foram avaliadas as associações entre as informações recebidas durante o pré-natal e o tipo de serviço (público vs privado). Um estudo realizado no Rio de Janeiro mostrou que mais de um terço dos recém-nascidos em maternidades públicas foram amamentados ao seio na primeira hora de vida, contra menos NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Information about Breastfeeding in Prenatal and Delivery and Professional Support for Breastfeeding in Rio Branco, Acre mente discutidos em mídias e círculos sociais. Durante a internação para o parto, o serviço privado foi mais eficaz na orientação sobre aleitamento materno e auxílio profissional para a primeira amamentação, mesmo a unidade pública sendo um hospital amigo da criança. Mas esta distinção talvez se deva à organização interna de cada maternidade, havendo a possibilidade de a Unidade B dispor de mais treinamentos para o incentivo do aleitamento materno, aumentando o número de mães orientadas. Todavia ainda há a necessidade de melhoria na cobertura e a qualidade das orientações fornecidas às mulheres durante o acompanhamento pré-natal e o pós-parto, em ambos os tipos de serviço (público e privado), tendo em vista o objetivo de aumentar o tempo e qualidade do aleitamento materno no país.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ de 2% nas maternidades particulares. O mesmo estudo diz ainda que maternidades ligadas ao SUS possuem mais programas e políticas de incentivo ao aleitamento materno, oferecendo mais treinamento aos profissionais de saúde e influenciando positivamente na amamentação na primeira hora de vida do bebê (BOCCOLINI et al., 2011). Estes achados contrastam com o de nossa pesquisa, uma vez que as mães foram mais orientadas e auxiliadas na maternidade privada. Vale ressaltar ainda que a maternidade pública estudada é referência em atendimento no Estado, além de possuir o Banco de Leite Humano, evidenciando a importância de que esta unidade apresentasse melhor rendimento quanto à orientação e auxílio ao aleitamento materno. Esta investigação, assim como todos os estudos transversais, está sujeita a algumas limitações. A mais importante diz respeito ao viés de memória, pois remete ao recordatório de um período relativamente longo, a gestação. Com o intuito de minimizar essa limitação, a entrevista foi realizada com perguntas objetivas e subjetivas e que remetiam tanto ao início da gestação quanto ao período mais próximo do parto.

Sobre os autores

Prof. Dr. Alanderson Alves Ramalho - Nutricionista, Mestre em Saúde Coletiva. Professor na Universidade Federal do Acre. Fernanda dos Santos Henrique - Acadêmica do curso de bacharelado em Medicina da Universidade Federal do Acre. Dra. Jéssica de Souza Lima - Nutricionista. Dra. Melissa Paola dos Anjos Mourão - Nutricionista. Profa. Dra. Fernanda Andrade Martins - Nutricionista, Mestre em Ciências da Saúde. Professora na Universidade Federal do Acre. Profa. Dra. Andréia Moreira de Andrade - Farmacêutica, Mestre em Saúde Coletiva. Professora na Universidade Federal do Acre. Profa. Dra. Simone Perufo Opitz - Enfermeira, Doutora em Enfermagem Fundamental. Professora na Universidade Federal do Acre. Profa. Dra. Rosalina Jorge Koifman - Médica, Doutora em Saúde Pública, Pesquisadora Titular da Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz.

. . . ............... C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Considerando-se que todas as mulheres deste trabalho realizaram o pré-natal, e apenas 59,9% referiram receber orientação sobre amamentação, observa-se a necessidade de abordagem mais eficiente da transmissão da informação dos benefícios do aleitamento que são ampla-

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DEZEMBRO 2017

PALAVRAS-CHAVE: Aleitamento materno, Cuidado Pré-Natal, Educação em Saúde. KEYWORDS: Breast Feeding, Prenatal Care, Health Education.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ NUTRIÇÃO EM PAUTA


Informações sobre Amamentação no Pré-Natal e Parto e Auxílio Profissional no Aleitamento Intra-Hospitalar Em Rio Branco, Acre RECEBIDO: 13/6/2017 - APROVADO: 15/12/2017

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

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pediatria

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Evaluation of Lunch Adequation in two Feeding and Nutrition Units (FNUs) to the Worker´s Feeding Program (WFP)

Avaliação da Adequação do Almoço de duas Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) RESUMO: O Programa de Alimentação do Trabalhador foi criado para melhorar as condições nutricionais e a saúde do trabalhador. O objetivo deste trabalho foi avaliar a adequação do almoço de duas UANs de Recife-PE e comparar aos padrões do PAT. Para isso foi avaliado os macronutrientes, as calorias e o Ndpcal% durante 7 dias consecutivos no mês de julho de 2016 dos cardápios. O estabelecimento A apresentou 60,8% de carboidratos, 16,64% de proteínas e 23,26% de lipídios, onde apenas a proteína estava acima do máximo preconizado pelo PAT. E o estabelecimento B apresentou 65,54% de carboidratos, 12,74% de proteínas e 21,71% de lipídeos, estando de acordo ao PAT. O Ndpcal% encontrado foi acima das recomendações em ambos estabelecimentos. Os resultados encontrados neste estudo indicam que existe a necessidade de verificar os cardápios dos estabelecimentos, para desta maneira oferecer preparações adequadas nutricionalmente e que garantam a saúde do trabalhador. ABSTRACT: The Worker’s Food Program (WFP) was created to improve workers’ nutritional status and health. The objective of this study was to evaluate the meal’s adequacy in two FNUs from Recife-PE and compare with the WFP standards. Thus, macronutrients, calories, and Ndpcal% were evaluated in the menus for 7 consecutive days in July of 2016. The A establishment showed 60.8% of carbohydrates, 16.64% of proteins, and 23.26% of lipids, where only the protein level was

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above the maximum recommended by the WFP. The B establishment showed 65.54% of carbohydrates, 12.74% of proteins, and 21.71% of lipids; all levels were according to the WFP. The Ndpcal% found was above the recommendations in both establishments. The results found in this study indicate the need to check menus in FNU establishments in order to ensure nutritionally adequate preparations and guarantee the health of workers.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o

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O número de refeições realizadas fora do domicílio aumentou significativamente pelos brasileiros, em 2009 eram servidas aproximadamente 13.680 milhões de refeições coletivas por dia, e dessas 8,5 milhões realizaram-se em Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) (GORGULHO; LIPI; MARCHIONI, 2011). Estas tem o objetivo de servir refeições saudáveis e seguras do ponto de vista higiênico-sanitário, além disso, quando estão inseridas em um ambiente de trabalho, relacionam-se ao aumento da produtividade, redução de absenteísmos e diminuição dos riscos de acidentes. Desta maneira, a alimentação adequada é fundamental para a promoção da saúde e para o bom desempenho das funções dos trabalhadores (FRANCISSHITTI et al., 2007). Com isso, existe a necessidade de oferecer preNUTRIÇÃO EM PAUTA


Avaliação da Adequação do Almoço de duas Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) parações adequadas e balanceadas, sendo necessários cardápios que possam suprir as necessidades diárias de energia e de nutrientes dos trabalhadores. Essas refeições também devem respeitar os hábitos alimentares dos clientes, a safra dos alimentos, o custo disponível para elaborar os cardápios, os gêneros alimentícios adquiridos, os tipos de preparações e a frequência com que os alimentos são oferecidos (FRANCISSHITTI et al., 2007). Para garantir uma alimentação adequada aos trabalhadores, foi criado no Brasil o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), pela Lei no 6321, de 14 de Abril de 1976 (SALAS et al., 2009). Esta tem como objetivo principal melhorar as condições nutricionais do trabalhador, propiciando melhor qualidade de vida, além de diminuir os riscos de acidentes de trabalho, e aumentar a resistência física (MATTOS, 2008). Em 2006, este programa teve seus parâmetros nutricionais alterados pela portaria no 66, de 25 de agosto de 2006, tendo em vista que o mesmo não atendia as recomendações energético-proteicas acarretando resultados negativos para o estado nutricional dos trabalhadores (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2006). De acordo com a nova portaria, as refeições principais devem oferecer Valor Energético Total (VET) de 2000 kcal/dia, sendo as maiores refeições (almoço, jantar e ceia) responsáveis por fornecer de 600 a 800 kcal, o que equivale de 30 – 40% do VET, admitindo-se ainda um acréscimo de 400 kcal (20% do VET total). Já as menores refeições (desjejum e lanche), devem proporcionar de 300 a 400 kcal, o que corresponde de 15 – 20% do VET, admitindo-se um acréscimo de 20% do VET. Além disso, devem oferecer pelo menos uma porção de frutas e de legumes ou verduras nas refeições principais, e uma porção de frutas nas refeições menores. Recomenda-se também que na distribuição dos macronutrientes pelo VET, de 10 - 15% sejam provenientes das proteínas, enquanto que de 55 - 75% e de 15 - 30% sejam dos carboidratos e das gorduras totais, respectivamente (SALAS et al., 2009). Desta maneira, é importante verificar constantemente o cardápio que é oferecido aos trabalhadores nas UANs, a fim de avaliar a adequação dos parâmetros nutricionais com as recomendações do PAT. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo avaliar a adequação do almoço de duas UANs de Recife-PE e comparar aos padrões do PAT.

. . . ........ Mater i ais e Méto do s . . . .. . . . . . . .

O estudo foi realizado na UAN de dois hospitais

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filantrópicos de Recife – PE, que atendem em média 1500 comensais ao dia, sendo todos funcionários dos hospitais, distribuídos nas refeições do desjejum, almoço e jantar. As UANs possuem cozinha própria, onde recebem a matéria-prima, armazenam, preparam e distribuem as refeições em refeitórios localizados no próprio local. Neste estudo, avaliou-se apenas o cardápio do almoço, totalizando diariamente cerca de 500 refeições em cada unidade. O serviço de distribuição das refeições é do tipo self-service para todas as preparações, exceto a proteína, que é porcionada por funcionário da UAN. O cardápio do almoço para ambos os locais é composto diariamente por duas opções de proteína sendo uma opção de carne vermelha e uma branca, dentre elas carne bovina, ave, carne suína, miúdo e peixe; uma guarnição; uma opção de salada crua; prato base (arroz e feijão); uma opção de refresco; e uma sobremesa (fruta ou doce). A coleta dos dados foi realizada através do acompanhamento do cardápio por sete dias consecutivos, de segunda a domingo, no mês de julho de 2016, utilizando para isso um cardápio elaborado para as refeições oferecidas aos trabalhadores para cada local. Inicialmente calculou a quantidade média de alimentos, em quilogramas (Kg), ingerida pelos trabalhadores no horário do almoço, para posterior cálculo do valor calórico e de macronutrientes das preparações. O primeiro passo foi analisar a ficha de saída dos gêneros alimentícios dos estoques dos dias analisados, para registrar a quantidade de alimentos em Kg fornecidos por dia para a realização das preparações. O segundo passo foi encontrar o valor per capita de todas as preparações do almoço para os sete dias analisados. Para tal foi observada a quantidade em Kg de cada alimento fornecido, e dividido pelo número de refeições diárias. O terceiro passo foi calcular os macronutrientes e calorias fornecidas por preparação para cada trabalhador, calculando a média dos dois pratos proteicos e sobremesas. No cálculo do valor nutricional da refeição foi considerado as diferentes opções que pudessem ser escolhidas pelos trabalhadores. Os dados para os cálculos nutricionais foram retirados da Tabela de Composição de Alimentos (TACO, 2011), e para os alimentos que não constavam nessa tabela, foram utilizadas as informações fornecidas nos rótulos nutricionais pelos fabricantes. Para que o valor calórico total (VCT) médio dos cardápios fosse determinado, os macronutrientes foram convertidos para quilocalorias, multiplicando-se o total de gramas de carboidrato e proteína por 4 Calorias e o total de lipídio por 9 Calorias. O NDPcal (Net Dietary NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Protein Calory) também foi calculado, obtendo-se inicialmente o NPU (Net Protein Utilization), através da multiplicação do valor proteico em gramas (proteína bruta – PB) de cada item alimentar que compõe o cardápio pelos seus respectivos fatores de utilização proteica (para cereais e outros vegetais é 0,5; para as leguminosas é 0,6; e para produtos de origem animal é 0,7). Uma vez calculada o NPU de cada item alimentar efetuou-se a soma, obtendo-se o total de proteína líquida em gramas, e este resultado foi multiplicado por 4 Calorias, onde NDPCal foi encontrado. Porém para encontrar o NDPCal% multiplicou-se o valor encontrado por 100 e dividiu-se pelo VET, tendo então o percentual de proteína líquida encontrada em relação ao valor calórico total de cada cardápio. E o quarto passo foi fazer a comparação com os parâmetros nutricionais estabelecidos pelo PAT, analisando os valores em percentual de macronutrientes, índices de NDPCal%, e o valor energético.

. . . ..... R esu lt a do s e Dis c uss ã o . . . . . . . . . . . O cardápio do almoço apresentou de acordo com a Tabela 1 os valores médios dos macronutrientes analisados, para as UANs A e B.

Tabela 1: Média dos macronutrientes da refeição do almoço nas UANs A e B – Recife-PE, 2016. Macronutrientes

Proteínas Carboidratos Lipídeos

UAN A UAN B Referência PAT (%) (%) (%)

16,64 60,08 23,26

12,74 65,54 21,71

Mínimo

Máximo

10 55 15

15 75 30

PAT: Programa de Alimentação do Trabalhador. UAN: unidade de alimentação e nutrição.

Dentre os macronutrientes analisados, os carboidratos e os lipídeos encontraram-se dentro dos limites preconizado pelo PAT, porém os valores de proteínas estavam acima do limite máximo permitido, na UAN A. E com isso os trabalhadores consumiam mais proteínas do que o necessário para desenvolver suas atividades diárias, e desta maneira, o estabelecimento não cumpria as diretrizes propostas pelo programa. Na UAN B, o cardápio encontrou-se dentro do limite preconizado pelo PAT

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para todos os macronutrientes. E com isso, oferece macronutrientes em quantidades adequadas aos trabalhadores, contribuindo para o aumento da produtividade, diminuição do absenteísmo, redução de desenvolvimento de doenças crônicas, proporcionando melhor qualidade de vida para os mesmos. Porém nem sempre as quantidades de carboidratos oferecidas estão adequadas, segundo Mattos (2008) ao avaliar a adequação de cinco cardápios do almoço de uma unidade de alimentação e nutrição, concluiu que os carboidratos estavam muito abaixo do valor recomendado. Dados que corroboram com os achados de Oro; Hautrive (2015), onde foi visto ingestão média pelos trabalhadores de 49,65%. Resultados semelhantes foram observados por Carneiro; Moura e Souza (2013). Em contrapartida esses dados vão de encontro aos resultados encontrados por Cunha; Barbosa (2014), onde observou-se que nos cardápios avaliados este macronutriente se assemelha à recomendação do PAT. Em relação aos lipídeos, foi visto que os trabalhadores da Bahia que participavam do PAT encontravam-se com as taxas de colesterol total e glicemia elevados, bem como com elevada incidência de hipertensão arterial, em comparação aos que não participavam do programa, tendo em vista o excesso de lipídeos ofertado na dieta (VELOSO; SANTANA, 2002). Esse resultado é semelhante aos achados de Bandoni; Jaime (2008), e Carneiro; Moura e Souza (2013). Porém, também pode-se encontrar baixa oferta de lipídio como foi observado em UAN atendida pelo programa do trabalhador em Guarapuava – PR (FRANCISSHITTI, 2007) e em Goiás (Oro; Hautrive ,2015). Segundo Ferreira et al. (2015), a oferta frequente de carnes gordurosas no cardápio, principalmente embutidos e vísceras, pode contribuir com o valor elevado desse macronutriente na dieta. Segundo Mattos (2008) os valores de proteína no cardápio foi inadequado para todos os dias avaliados em uma UAN, dados semelhantes aos achados de Canella; Bandoni; Jaime (2011) e Carneiro; Moura e Souza (2013). De maneira geral, a causa dos valores elevados de proteína nos cardápios para diferentes UANs pode ser relacionada com o valor per capita das preparações, independente do tipo de carne oferecida, e a elevada aceitabilidade do cardápio (AMORIN; JUNQUEIRA; JOKL, 2005). Prova-se assim que o fator aceitação/preferência é um ponto importante que deve ser levado em consideração no momento da ingestão desse macronutriente (BANDONI et al. , 2013). A alta ingestão de proteínas está relacionada ao aumento do risco de problemas renais, doenças crônicas NUTRIÇÃO EM PAUTA


Avaliação da Adequação do Almoço de duas Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e de osteoporose e está associado com a oferta de gordura saturada e colesterol, presentes principalmente nos alimentos de origem animal (carnes gordurosas, leite e derivados, vísceras, embutidos, entre outros) que consumidos em grande quantidade aumentam os riscos de doenças cardiovasculares (BRANDÃO; GIOVANONI, 2011). Os resultados do NDPCal% para as UANs A e B, encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2: Média do NDPCal% do almoço das UANs A e B - Recife-PE, 2016. UAN

NDPCal% Cardápio

A B

13,74 11,2

NDPCal % PAT Mínimo

Máximo

6 6

10 10

PAT: Programa de Alimentação do Trabalhador. UAN: unidade de alimentação e nutrição.

O percentual proteico calórico, para as UANs esteve aquém do esperado, pois a UAN A e B apresentaram resultados maiores do valor máximo permitido. Resultado semelhante aos achados de Mattos (2008), Veloso; Santana (2002), Carneiro; Moura e Souza (2013) e Oro; Hautrive (2015). Porém o valor NDPCal % estando dentro dos padrões recomendados, propicia a utilização ideal das proteínas da refeição, sem “excesso” ou “desperdício” nutricional (VANIN et al., 2007). Com relação ao valor energético dos cardápios do almoço das UANs A e B, os resultados podem ser observados na Tabela 3.

Tabela 3: Média de calorias do cardápio do almoço das UANs A e B - Recife-PE, 2016. Valor Calórico PAT

UAN

Valor Calórico Cardápio

Mínimo

Máximo

A B

879,89 770,93

600 600

800 800

PAT: Programa de Alimentação do Trabalhador. UAN: unidade de alimentação e nutrição.

Na UAN A, as calorias do almoço mostraram-se acima do estabelecido pelo programa, porém como admite-se acréscimo de 20% (400 Calorias) em relação as calorias totais (2000Kcal), este resultado passa a estar de acordo com as diretrizes estabelecidas. A UAN B, apresentou valores de acordo com o pressuposto pelo PAT. Porém, DEZEMBRO 2017

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existem casos em que a energia fornecida aos comensais estão acima dos valores recomendados (MATTOS, 2008), como por exemplo na análise realizada por Rocha et. al. (2014) a qual revelou valor calórico médio de 1375 kcal, resultado superior ao recomendado mesmo admitindo-se o acréscimo de 20%. Esses dados são semelhantes aos encontrados por Ferreira et al. (2015) e por Cunha; Barbosa (2014). Segundo Canella; Bandoni; Jaime (2011), as refeições ofertadas nas empresas vinculadas ao PAT apresentaram uma densidade energética elevada, tendo correlação principalmente com a oferta de gorduras totais. Contudo ainda existem casos onde a oferta de calorias está abaixo do mínimo estabelecido, como foi observado por Veloso; Santana (2002). Desta maneira observou-se que a oferta elevada de calorias influenciou os trabalhadores das empresas cadastradas pelo PAT a aumentaram de peso em relação aos funcionários de empresas não beneficiadas pelo programa, tanto em trabalhadores eutróficos ou pré-obesos, quanto nos de baixo peso (SANTOS et al., 2013). Porém existem outros fatores que contribuem para o ganho de peso, como o crescente sedentarismo, e as mudanças no padrão alimentar com a introdução de alimentos industrializados que cada vez mais comuns nas refeições (ARAÚJO et al., 2013). O almoço do tipo self- service, onde o comensal monta o seu próprio prato de acordo com suas preferências, também contribui para uma elevada ingestão de alimentos, principalmente nas refeições oferecidas pelo programa do trabalhador (AMORIN; JUNQUEIRA; JOKL, 2005).

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . ....... Os cardápios analisados para o almoço encontravam-se com os valores de carboidratos, lipídios, proteínas e de calorias dentro do limite preconizado pelo programa. Os valores de NDPCal% estavam acima do recomendado, sendo por isso uma refeição inadequada ofertada aos trabalhadores nas respectivas UANs. Deve-se reduzir a quantidade de proteína líquida da dieta, para com isso apresentar um cardápio adequado nutricionalmente. É importante que novos trabalhos sejam feitos, já que há poucas pesquisas realizadas com este tema, para com isso desenvolver ações, a fim de que o PAT se fortaleça e aumente a fiscalização nas UANs cadastradas, possibilitando aos comensais consumirem refeições adequadas NUTRIÇÃO EM PAUTA

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em nutrientes e calorias, contribuindo assim para a manutenção da saúde dos trabalhadores. Por sua vez, o profissional nutricionista, é o responsável técnico pelo PAT na UAN, e este deve exercer o seu papel como profissional de saúde de forma correta, além de educador, cumprindo suas atribuições, e buscando fornecer todos os nutrientes necessários aos comensais na construção de cardápios adequados, para com isso almejar os beneficiados do programa.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Sobre os autores

Profa. Dra. Cibele Maria de Araújo Rocha - Nutricionista, Docente do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU). Mestre em Saúde Humana e Meio Ambiente (UFPE-CAV), Especialista em Gestão da Qualidade e Vigilância Sanitária em Alimentos – CESMAC). Dra. Ana Paula Cavalcante da Silva - Nutricionista formada pela UNINASSAU (Centro Universitário Maurício de Nassau) Ariele Mercês André Gomes - Graduação em Ciências Biológicas (UPE), Docente do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), Mestre em Bioquímica (UFPE), Doutoranda na Rede Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO. NUTRIÇÃO EM PAUTA


Avaliação da Adequação do Almoço de duas Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT)

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: alimentação coletiva; planejamento de cardápio; macronutrientes. KEYWORDS: collective Feeding; menu planning; macronutrients.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 25/2/2017 - APROVADO: 25/11/2017

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . REFERÊNCIAS

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food service

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NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Undergraduate Nutrition Students’ Perception of Training in Public Health

Percepção Discente sobre o Estágio em Saúde Coletiva na Graduação em Nutrição

RESUMO: O estudo tem o objetivo de analisar a contribuição do Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva na formação de estudantes de um curso de Nutrição. Trata-se de estudo longitudinal realizado do primeiro semestre de 2010 ao primeiro de 2012 com os alunos matriculados no Estágio. Utilizou-se questionário semiestruturado e autoaplicável, no início e ao final de cada semestre. Foram entrevistados 147 alunos, sendo a maioria mulheres (98,0%) e com mediana de idade de 22 anos (mínimo: 19 e máximo: 52). Ao final do estágio, os discentes conferiram à disciplina de Bioestatística (61,9% para 81,6%; p<0,001) um pré-requisito importante. Verificou-se incremento das habilidades dos discentes para realizar atendimento nutricional individual (31,7% para 85,7%; p<0,001) e ações de educação alimentar e nutricional (61,4% para 89,8%; p<0,001). O Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva, segundo a percepção dos alunos, contribuiu para o desenvolvimento de habilidades indispensáveis à prática profissional, sobretudo, em Saúde Coletiva. ABSTRACT: This study aimed to analyze how supervised training in public health contributes to the education of a nutrition course’s students. Longitudinal study conducted from the first semester of 2010 to the first semester of 2012, this included students enrolled in the class. The students answered a semi-structured, self-administered questionnaire at the beginning and end of each semester. A total of 147 mostly female (98%) students with a median age of 22 years (minimum: 19 years; maximum: 52 years) were interviewed. At the end of the training program, the students considered biostatistics (61.9% to 81.6%; p<0.001) the important prerequisite. There was

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an increase in students’ abilities to perform individual nutritional care (31.7% to 85.7%; p<0.001) and food and nutrition education actions (61.4% to 89.8%; p<0.001). The supervised training in public health, according to students’ perceptions, helped them to develop skills essential to their practice, especially in public health.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o

. . . . . . . . . . ........

A formação acadêmica e o perfil dos profissionais de saúde inseridos no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), e mais especificamente na Estratégia de Saúde da Família (ESF), tem sido objeto de estudos (COSTA; MIRANDA, 2010; BATISTA; GONÇALVES, 2011; CERVATO-MANCUSO et al, 2012). Estas pesquisas decorrem da necessidade de identificar se as habilidades e as competências necessárias para atuação na Atenção Primária à Saúde (APS) estão sendo contempladas na formação. E o espectro de profissionais da área de saúde atuantes na APS foi ampliando com a criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), em 2008, com vistas a alcançar maior resolutividade das ações (BRASIL, 2009). Esta ampliação é fundamental por favorecer iniciativas de caráter interdisciplinar, entretanto, para alcançar tal objetivo é necessário averiguar se a formação profissional ofertada a estes profissionais atendem às demandas de saúde da população. Dentre as categorias profissionais do NASF destaca-se o nutricionista pela sua forte presença nos núcleos NUTRIÇÃO EM PAUTA


Percepção Discente sobre o Estágio em Saúde Coletiva na Graduação em Nutrição

implantados em todo o país. No atual cenário de saúde brasileiro e de expansão da área de Nutrição, é essencial a adequada preparação do profissional para a prática profissional. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição (BRASIL, 2001), espera-se que a graduação prepare o acadêmico para atuar na segurança alimentar e nutricional e na atenção dietética aos diferentes ciclos da vida e situações. Dessa forma, o nutricionista deve trabalhar em todas as áreas do conhecimento em que a alimentação e a nutrição se apresentem fundamentais para promoção, manutenção e recuperação da saúde de indivíduos e grupos populacionais, contribuindo para a melhoria de sua qualidade de vida, pautado em princípios éticos, com reflexão sobre a realidade econômica, política, social e cultural vivenciadas. A partir dessas premissas, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2004, foi implantado o curso de graduação em Nutrição, objetivando formar um profissional generalista, humanista e crítico (UFMG, 2004). Para tal, a interface teoria/prática foi priorizada, estando presente em toda a matriz curricular. Do primeiro ao quinto período há disciplinas denominadas Atividades Práticas Monitoradas (APM), do primeiro ao quarto as Atividades Práticas Integradoras (API) e do sexto ao nono período, os Estágios. Na UFMG, os estágios são orientados por docentes do curso e supervisionados por nutricionistas dos locais credenciados. O Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva, foco deste trabalho, possui carga horária de 120 horas e está alocado no sexto período da matriz curricular. Ele é desenvolvido na APS de Belo Horizonte, Minas Gerais, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e no Programa Academia da Saúde (PAS). Avaliar a contribuição do estágio para a formação do nutricionista pode ser uma valiosa ferramenta para identificar se os conhecimentos, as atividades e as habilidades essenciais à prática profissional estão sendo contempladas, oportunizando melhorias curriculares, se pertinentes. Assim, o presente trabalho objetivou analisar a contribuição do Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva para a formação de estudantes de graduação em Nutrição.

. . . ................. . . Méto do s . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . Trata-se de estudo longitudinal realizado do primeiro semestre de 2010 ao primeiro de 2012, com acadêmicos de graduação em Nutrição. A pesquisa foi aprovada DEZEMBRO 2017

saúde pública

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (ETIC 0263.0.203.000-10). A população estudada consistiu de todos os alunos do curso de Nutrição da UFMG matriculados na disciplina “Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva”, totalizando cinco turmas com média de 30 alunos. Para coleta dos dados, utilizou-se questionário semiestruturado e autoaplicável, distribuído em dois momentos, no primeiro e no último dia do estágio. O questionário constou de dados sociodemográficos (idade, naturalidade e sexo dos alunos); participação em projetos de iniciação científica, extensão e ensino; conhecimentos prévios para a realização do estágio; interesse na área de saúde coletiva, importância do estágio; percepções sobre a vivência do estágio e atividades desenvolvidas nos locais. Realizou-se análise descritiva, mediante o cálculo de distribuição de frequências e mediana. Para a comparação das variáveis antes e depois da integralização do estágio foi utilizado o teste estatístico Qui-Quadrado. As análises estatísticas foram realizadas por meio do software Statistical Package for the Social Science vs. 17.0 (SPSS Inc., Chicago, IL), adotando-se 5% como nível de significância.

. . . . . , . . . R e su lt a d o s e D is c uss õ e s . ........ A disciplina de Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva foi ministrada a 151 discentes no período do estudo. A maioria dos discentes era do sexo feminino (98,0%), naturais de Belo Horizonte (57,1%) e com mediana de idade de 22 (mínimo 19; máximo 52) anos. Aproximadamente 80,3% participaram ou participavam de projetos de Iniciação Científica e/ou Extensão, principalmente nas áreas de Saúde Coletiva (33,3%) e Nutrição Clínica (17,7%). Como percepções relacionadas à disciplina, ao final do estágio a maioria (63,9%) relatou interesse em dedicar-se profissionalmente à área de Saúde Coletiva; 97,3% declararam a importância da disciplina para a formação profissional e 94,6% sua importância para a melhor compreensão da área. Por outro lado, houve redução do número de alunos que percebiam o sexto período da graduação como o ideal para cursar a disciplina (de 89,1% para 75,5%; p<0,001) e aumento do número daqueles que consideravam a carga horária como adequada (80,3% vs. 88,4%; p<0,001) (Tabela 1).

NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Undergraduate Nutrition Students’ Perception of Training in Public Health

Tabela 1. Evolução da percepção dos discentes em relação ao Estágio Supervisionado em Saúde

Coletiva. Belo Horizonte, 2010-2012. Início (n=147)

Indicadores n

Interesse profissional na área 83 Importância do estágio para a formação profissional Bastante/Importante 142 Moderada 3 Pouca e Nenhuma 2 Compreensão da área de Saúde Coletiva 136 Alocação adequada na matriz curricular 131 Carga horária adequada 118 Local de execução do estágio Excelente/Muito Bom 97 Bom/Ruim 50

Teste Qui-Quadrado

No início do Estágio, 54,4% dos alunos responderam que todos os conhecimentos das disciplinas anteriores eram importantes para o desenvolvimento das atividades. Os conhecimentos mais citados como importantes foram: Educação Alimentar e Nutricional, Nutrição nos Ciclos da Vida, Terapia Nutricional e Avaliação Nutricional. A disciplina de Bioestatística foi a menos citada pelos alunos no início (61,9%), mas ao final, sua prevalência aumentou para 81,6% (p<0,001) (Tabela 2).

Final (n=147)

Valor p

%

n

%

56,5

94

63,9

96,6 2 1,4 92,5 89,1 80,3

143 1 2 139 111 130

97,3 0,7 1,4 94,6 75,5 88,4

66 34

104 43

70,7 29,3

0,336

0,572 0,477 <0,001 <0,001 0,38

Em relação à atuação profissional, observou-se incremento da maioria das habilidades ao final do estágio, como capacidade de realizar atendimento nutricional individual e orientação nutricional; conduzir grupos e desenvolver ações de educação alimentar e nutricional; apresentar estudos de caso e discuti-los em equipe multidisciplinar; analisar o consumo alimentar e avaliar exames bioquímicos (Tabela 3).

Tabela 2. Conhecimentos importantes para a realização do Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva.

Belo Horizonte, 2010-2012.

Conhecimentos

Todos Princípios e organização do SUS Epidemiologia Bioestatística Educação Alimentar e Nutricional Nutrição nos Ciclos da Vida Avaliação Nutricional Terapia Nutricional Técnica Dietética

Teste Qui-Quadrado. SUS: Sistema Único de Saúde

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Início (n=147) n %

80 133 124 91 144 143 146 134 116

54,4 90,5 84,4 61,9 98 97,3 99,3 91,2 78,9

Final (n=147) n %

95 127 118 120 143 143 144 140 116

64,6 86,4 80,3 81,6 97,3 97,3 98 95,2 78,9

Valor p

0,075 0,274 0,359 <0,001 0,702 1 0,314 0,165 1

NUTRIÇÃO EM PAUTA


saúde pública

Percepção Discente sobre o Estágio em Saúde Coletiva na Graduação em Nutrição

Tabela 3. Habilidades que os acadêmicos consideraram capacitados a realizarem no Estágio

Supervisionado em Saúde Coletiva. Belo Horizonte, 2010-2012. Habilidades

Realizar avaliação antropométrica Realizar atendimento nutricional individual Realizar orientação nutricional Elaborar/conduzir grupos Desenvolver ações de educação alimentar e nutricional Analisar consumo alimentar por R24h Apresenta estudo de caso Discutir casos em equipe multidisciplinar Realizar visita domiciliar Avaliar exames bioquímicos Elaborar projetos

Teste Qui-Quadrado. R24h: Recordatório Alimentar de 24 horas.

. . . ................ Dis c uss ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A disciplina de Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva contribuiu positivamente para a formação acadêmica dos alunos de graduação em Nutrição, ao integrar teoria e prática e expandir as habilidades dos discentes, preparando-os para a atuação profissional. Segundo GONDIM (2002), a possibilidade da experiência prática ao longo do curso superior é considerada alternativa para atender à exigência de um perfil multiprofissional, além de proporcionar maturidade pessoal e a identidade profissional necessária para a tomada de decisões em situação de imprevisibilidade. Para suprir a demanda crescente dos serviços de saúde brasileiros torna-se necessária a formação de profissionais que apresentem habilidades e competências primordiais à sua resolutividade (CAMPOS; FOSTER, 2008; RUIZ; TAKAO; FERNANDES, 2008). Primi et al. (2001) definiram a habilidade como um indicador da facilidade em lidar com um tipo de informação e para que esta se transforme em competência torna-se necessário investir em experiências de aprendizagem. Se não houver investimento, não haverá competência, mesmo que o indivíduo possua habilidade em determinada área. Após o estágio, verificou-se o incremento das haDEZEMBRO 2017

Início (n=147) n %

Final (n=147) n %

Valor p

121 44 66 82 89 108 35 41 49 18 42

125 126 127 130 132 129 99 83 63 47 112

0,361 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,001 <0,001 <0,001 0,262 <0,001 <0,001

82,3 31,7 45,2 59,4 61,4 75 28,2 32,8 40,8 14,3 32,8

86,2 85,7 86,4 89,7 89,8 89,6 70,2 59,3 51,2 33,3 77,2

bilidades inerentes ao nutricionista e referentes ao trabalho multidisciplinar. Elas representam atividades primordiais que o nutricionista deverá executar em sua prática cotidiana, consistindo em ações que devem ser bem direcionadas para o sucesso da prática profissional (BRASIL, 2005). A oportunidade de aprendizagem e aprimoramento destas ao longo do estágio é uma forma de transformá-las em competências. A habilidade de avaliar exames bioquímicos aumentou significativamente, mas com um percentual reduzido de discentes capacitados ao final do estágio, que pode ter ocorrido por insuficiência de conhecimentos prévios e pouco acesso a estas informações nos prontuários dos usuários. Em relação às habilidades que não se modificaram de forma significativa com o estágio, é importante destacar que essas apresentavam valor elevado no início do estudo, provavelmente decorrente da trajetória prática proposta pelo curso e alto percentual de acadêmicos que já participavam de projetos de pesquisa e extensão. Adicionalmente, houve diferenças nas atividades desenvolvidas nos locais de estágio que poderiam afetar diferencialmente o desenvolvimento de habilidades. Esta heterogeneidade das ações pode ser considerada como uma das limitações do estágio, entretanto, é essencial vivenciar diferentes serviços e perfil de população atendida. A avaliação dos cenários de prática foi ambígua, sendo que os acadêmicos apresentaram percepções negativas, mas com predomínio das visões positivas. Tal fato NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Undergraduate Nutrition Students’ Perception of Training in Public Health

se assemelha ao estudo conduzido sobre as percepções de discentes em relação ao PET-Saúde em Belo Horizonte, no qual os alunos parecem ter percebido o potencial da UBS como campo de prática, mesmo reconhecendo inadequações em sua estrutura física para acolhê-los (CALDAS et al., 2012). A literatura tem apontado que, muitas vezes, o nutricionista escolhe a Saúde Coletiva como exclusão às demais áreas da Nutrição (BOOG, 2008), diferente do encontrado neste estudo, no qual mais da metade da amostra declarou interesse profissional (63,9%). Subjetivamente não deveria ser dessa forma, pois esta é uma área que exige preparação técnica e grande afinidade com o campo, que pode ser adquirida durante a realização de atividades práticas e estágios, favorecendo possivelmente o interesse dos alunos (SANTOS, 2005). Quanto às disciplinas que os alunos julgavam importantes para a realização do estágio, destacaram-se a Bioestatística e a Técnica Dietética, provavelmente pelas demais já serem bem pontuadas no início do estágio. O desconhecimento da importância da disciplina de Bioestatística, também foi abordado por LIMA (2010), que mostrou que a sua inserção nos cursos de Medicina tem sido objeto de discussão entre professores e estudantes em virtude de sua aplicabilidade e complexidade. Em relação à disciplina de Técnica Dietética, apesar de essencial para a prática do nutricionista, apresentou baixo percentual de importância no início e no final do estágio. Tais achados são preocupantes haja vista que o conhecimento sobre o alimento e sua transformação em comida, de forma sau-

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DEZEMBRO 2017

dável e equilibrada é essencial para atuação do nutricionista (BRASIL, 2005; CASTRO et al., 2007). Apesar de não apresentar inferência externa, trabalhos como este são essenciais por demonstrarem as potencialidades dos Estágios Curriculares como cenário de prática e de reflexão, propiciando oportunidades para analisar as atividades de graduação desenvolvidas e fortalecer a construção de currículos aplicáveis à formação profissional exigida pelo atual cenário da saúde brasileira (CAMPOS; FOSTER, 2008). Ressalta-se também a validade interna do estudo, ao entrevistar todos os acadêmicos, utilizar questionário autoaplicado e anônimo, além de empregar rigor na análise dos dados.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . ........ A inserção dos acadêmicos na disciplina de Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva foi positiva para a sua formação profissional por possibilitar a concretização dos conhecimentos aprendidos e, com isto, adquirir e fortalecer habilidades essenciais à vivência acadêmica e profissional. Acredita-se que mais estudos que investiguem a formação profissional nas diferentes áreas de atuação contribuirão para a constante reestruturação de currículos e profissionais, característica essencial em um mundo globalizado e informatizado que exige mudanças constantes das habilidades e competências profissionais, sobretudo na área da saúde. NUTRIÇÃO EM PAUTA


Percepção Discente sobre o Estágio em Saúde Coletiva na Graduação em Nutrição

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores

Aline Viveiros – Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais Dra. Raquel de Deus Mendonça – Doutora em Saúde e Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais Viviane Ferreira Zanirati - Mestre em Saúde e Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais Profa. Dra. Bruna Vieira de Lima Costa – Professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais Profa. Dra. Luana Caroline dos Santos – Professora do Departamento de Nutrição e da Pós-graduação em Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais. Profa. Dra. Aline Cristine Souza Lopes – Professora do Departamento de Nutrição e da Pós-graduação em Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Ensino, Nutrição, Saúde Coletiva, Sistema Único de Saúde. KEYWORDS: Teaching, Nutrition, Public Health, Unified Health System.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . RECEBIDO: 22/5/2017 - APROVADO: 25/11/2017

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . REFERÊNCIAS

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saúde pública

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Moringa oleífera: Pharmacological Effects

Moringa oleífera: Efeitos Farmacológicos RESUMO: A Moringa oleífera é uma planta originária da Índia, tendo sido amplamente estudada por seu alto valor nutritivo. Mostra-se fonte de β-caroteno, proteína, vitaminas B e C, cálcio, potássio e antioxidantes. Sua eficiência terapêutica como alternativa para a proteção de diversas patologias é extensivamente encontrada na literatura. Assim, o presente estudo teve como objetivo relacionar os benefícios da M. oleífera à sua ação protetora em diversas patologias por meio de uma revisão bibliográfica. Foram revisados artigos científicos nacionais e internacionais indexados entre os anos de 1994 e 2017, priorizando as informações mais atuais sobre o assunto. Muitos estudos citam potencial hepatoprotetor, quimiopreventivo, anti-inflamatório, hipolipemiante, anti-hipertensivo, antiulcerogênico, antimicrobiano e anti-hiperglicêmico. As hipóteses envolvem prioritariamente propriedades antioxidantes da planta. Conclui-se que a M. oleífera apresenta diversas propriedades farmacológicas e medicinais, sendo importante ressaltar a necessidade de estudos para análise dos mecanismos de ação, bem como dos componentes químicos envolvidos. ABSTRACT: The Moringa oleífera is a plant native from India, widely studied for its high nutritional value, known as a source of β-carotene, protein, vitamins B and C, calcium, potassium and antioxidants. Its therapeutic efficiency as an alternative for the protection of several pathologies is extensively found in the literature. Thereby, the present study aimed to relate the benefits of M. oleífera to its protective actions in several pathologies, through a careful bibliographic review. National and international scientific papers indexed between the years of 1994 and 2017 were reviewed, prioritizing the most current information on the subject. Many studies mention hepatoprotective, chemopreventive, anti-inflammatory, lipid-lowering, antihypertensive, antiulcerogenic, antimicrobial and antihyperglycemic potentials. The hypotheses involve primarily antioxidant properties of the plant. In conclusion, M. oleífera presents several pharmacological and medicinal properties,

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and it is important to emphasize the need for studies to analyze the mechanisms of action, as well as the chemical components involved.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o . . . . . . . . . . . ....... As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são encarregadas por cerca de 36 milhões de mortes anuais no mundo, principalmente em paises de baixa e média renda (MALTA et al., 2013). Os hábitos da população no decorrer dos tempos vem contribuindo para o desenvolvimento das DCNT, entre eles a falta de atividade física e a alimentação incorreta. Neste plano, o quadro epidemiológico de saúde da população necessita de estratégias capazes de melhorar este contexto (SOUZA, 2010). Assim, tem-se observado um grande avanço de pesquisas científicas envolvendo as plantas medicinais, que visam obter novos compostos com propriedades terapêuticas, afinal, as plantas estão ligadas a vida humana desde seus primórdios. No âmbito farmacêutico, os extrativos vegetais e as plantas tornam-se cada vez mais importantes para o desenvolvimento de farmácos e como elemento para matérias-primas farmacêuticas. Os benefícios do uso de compostos a base de plantas medicinais vêm sendo analisados e alguns casos utilizados como complemento para tratar diversas patologias (SIMÕES, 2002). Pesquisadores trazem na literatura a eficiência terapêutica das folhas da M. oleífera como alternativas para a proteção de diversas morbidades, entre elas a função hepatoprotetora, antiulcera, anti-inflamatória, anti-microbiana. Neste mesmo eixo, há estudos que mostram o seu efeito no tratamento de diabetes e dislipidemias (STOHS; HARTMAN, 2015). A Moringa oleífera é uma planta originária da Índia, oriunda de uma família monogênica, a Moringaceae. NUTRIÇÃO EM PAUTA


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Moringa oleífera: Efeitos Farmacológicos

É cultivada extensivamente em vários países do sudeste asiático, particularmente na Índia, Tailândia, Filipinas e Paquistão. O gênero Moringa é composto por 13 espécies, porém a M. oleífera Lam é a espécie mais comum e popular. Todas as partes da M. oleífera são comestíveis e têm sido consumidas por seres humanos. Os frutos, as folhas, as vagens imaturas e a sementes desta árvore são utilizados pelo seu alto teor nutritivo. Além disso, a planta vem sendo estudada como um importante produto de grande valor medicinal (MINAIYAN et al., 2014; FAHEY, 2005). Seus benefícios parecem estar ligados a grande presença de compostos fitoquímicos na sua composição, entre eles os antioxidantes, substâncias essas que trazem inúmeros benefícos á saúde (MINAIYAN et al., 2014). Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, relacionar os benefícios da M. oleífera à sua ação protetora em diversas patologias por meio de uma revisão bibliográfica.

carboidratos e aminoácidos essenciais (metionina, cistina, triptofano e lisina) tornando-se uma excelente alternativa para a alimentação humana (BATISTA, 2013; MBIKAY, 2012; OMODANISI; ABOUA; OGUNTIBEJU, 2017). Além da sua composição de macronutrientes, a M. oleífera têm sido fortemente estudada quanto aos seus metabólitos secundários. Estudos têm encontrado alta atividade antioxidante e compostos fitoquímicos isolados que podem ser usados como moléculas nutracêuticas. Foram encontrados nas sementes da planta flavonóides como a catequina, epicatequina, quercetina e kaempferol, além de diversos ácidos fenólicos, predominando ácido gálico. A semente de M. oleífera também contém compostos bioativos relevantes, incluindo alcalóides, glucosinolatos, isotiocianatos e tiocarbamatos. Todos estes compostos podem ser responsáveis pelas propriedades farmacológicas atribuídas às sementes de M. oleífera (LEONE et al., 2016).

. . . .............. Meto dol o g i a . . . . . . . . . . .. . . . . . .

Hepatoproteção

O presente trabalho foi uma revisão criteriosa a partir de artigos científicos nacionais e internacionais, todos indexados entre os anos de 1994 e 2017, priorizando os artigos mais atuais que tratassem sobre o assunto. Foram utilizadas as bases de dados Google acadêmico, Scielo e PubMed para a busca das referências citadas. Foram incluídos artigos originais e de revisão bibliográfica nos idiomas inglês e português.

. . . ................ Dis c uss ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A M. oleífera pode ser encontrada mesmo nos solos secos, destituídos, duros, sendo pouco afetada pela seca. A árvore varia em altura de 5 a 10 m, possui folhas grandes, flores perfumadas cremes ou brancas e vagens compridas, diferenciando entre verde a marrom esverdeado. Em meados de 1950, a espécie foi introduzida no Brasil, sendo cultivada como planta medicinal e ornamental, em especial na região nordeste, onde é conhecida como quiabo de quina, lírio branco ou apenas Moringa (BATISTA, 2013; MINAIYAN et al., 2014). Composição nutricional A M. oleífera tem sido relatada como fonte de proteínas, vitaminas A B e C, cálcio, potássio, ferro, fibras, DEZEMBRO 2017

Abarikwu et al. (2017) por meio de estudo em ratos, testaram os efeitos do óleo de M. oleífera contra a indução de doença hepática tecidual por meio de cloreto de mercúrio e estresse oxidativo. Os dados demonstram melhorias na histologia do fígado no grupo administrado com M. oleífera. Ainda, Hamza (2010) avaliou o efeito do extrato de sementes de M. oleífera sobre a fibrose hepática induzida por tetracloreto de carbono (CCl4). Os resultados mostraram que a M. oleífera reduz os danos ao fígado, assim como os sintomas da fibrose hepática. Verificou-se um bloqueio no aumento de aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT), indicadores de condições de saúde do fígado. Atriubui-se ao fato das sementes da M. oleífera possuirem efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes. Ainda, devido à inibição da ativação de células estreladas, as quais são envolvidas na progressão da fibrose hepática, assim como a principal fonte celular da síntese de colágeno excessiva durante a fibrose hepática (LEONE et al., 2016). Singh et al. (2014) observaram em estudo sobre o extrato de M. oleífera contra a hepatoxicidade induzida por CCl4, resultados significativos em todos os exames bioquímicos relacionados. Constataram-se efeitos benéficos da planta na hepatoproteção, possivelmente relacionados à eliminação de radicais livres devido à presença de compostos fenólicos e flavonóides. Kandasamy et al. (1998) também concluem que a quercetina, um tipo de flavonóide encontrado nas folhas de M. oleífera, possui ação hepatoprotetora. NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Efeito hipolipemiante As folhas de M. oleífera são utilizadas como agente hipolipemiantes em pacientes obesos na Índia (BATISTA, 2013). Jain et al. (2010) ao avaliarem a atividade hipolipidemica de M. oleífera em ratos com hiperlipidemia induzida por dieta rica em gorduras, concluiram que houve uma redução nos níveis de LDL, VLDL, triacilglicerídeos e índice aterogênico, porém não houve aumento nos níveis de HDL. O resultado da pesquisa indicou que a atividade da HMG-Co-A redutase é significativamente reduzida pelo extrato metanólico da M. Oleífera. Mehta e colaboradores (2003) confirmam a ação hipolipemiantes em um estudo realizado em coelhos hipercolesterolêmicos, constatando a redução no perfil lipídico do fígado, coração e na artéria aorta, em conjunto com o aumento de HDL. Todavia, em coelhos não hipercolesterolêmicos os níveis de HDL reduziram em relação ao grupo controle normal. Quimioprevenção e ação antiulcerogênica Budda et al. (2011) demonstraram, por meio de estudos em ratos, que a multiplicidade e incidência de tumores no câncer de colon diminuiu no grupo submetido ao consumo do extrato da planta. A explicação relaciona-se à presença de niazimicina e à ação de ácidos graxos na modulação da proliferação celular e apoptose. A niazimicina, componente da M. oleífera, também tem sido proposta como um forte agente quimiopreventivo na carcinogénese por inibir a proliferação de células tumorais (GUEVARA et al., 1999). Minaiyan et al (2014) ava-

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liaram os efeitos anticolíticos de extrato hidro-alcoólico de sementes de M. oleífera na colite úlcerativa em ratos. O resultado mostrou redução na gravidade e área da úlcera, extensão da inflamação da mucosa e nos danos da cripta, mesmo com doses de 50mg/kg. Relaciona-se primordialmente à alta concentração de antioxidantes existentes. Neste mesmo eixo, o extrato aquoso das folhas da M. oleífera demonstraram ações protetoras contra a formação de úlceras gástricas, além de vantagens em relação aos tratamentos clássicos relacionados a anti-histamínicos e antiácidos (BATISTA, 2013). Efeito anti-hipertensivo Há evidências sobre a utilidade da planta em doenças cardiovasculares. Ressalta-se que o suco de folha de M. oleífera possui um efeito estabilizante na pressão sanguínea (ANWAR et al., 2006). No estudo de Faizil et al. (1994) glicosídios, nitrilos e glicosídeos de tiocarbamato foram isolados das folhas de M. oleífera, os quais foram relatados como agentes redutores da pressão sanguínea. Attakpa et al. (2017) demonstraram efetiva ação antihipertensiva promovida pela planta, por meio de estudo em ratos espontaneamente hipertensos suplementados com extrato de suas folhas. Atriubui-se os efeitos positivos à inibição da secreção de interleucina 2 (IL-2), e modulação da homeostase de cálcio nas células T. Ação antimicrobiana Verificou-se que o extrato fenólico de sementes da planta possui atividade antimicrobiana contra diversas bactérias e fungos (SINGH; NEGI; RADHA, 2013). AtriNUTRIÇÃO EM PAUTA


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bui-se o potencial antimicrobiano à presença de compostos fitoquimicos como alcalóides, flavonóides, taninos, diterpenos, triterpenos e glicósideos cardíacos (ARORA; ONSARE, 2014). As sementes também podem atuar sobre microorganismos e ocasionar a inibição do crescimento. Supõe-se que os peptídeos antimicrobianos atuam interrompendo a membrana celular ou inibindo enzimas essenciais (ANWAR et al., 2006). Por estes motivos, alguns pesquisadores analisaram o uso desses fitoquímicos como uma possível alternativa às terapias tradicionais, pois podem ser farmacologicamente eficazes com baixo ou nenhum efeito adverso (GALUPPO, 2013). Atividade anti-hiperglicêmica Al-Malki e Rabey (2015) induziram diabetes tipo 1 por injeção de estreptozotocina (60 mg / kg de peso corporal) em ratos, e alimentaram-os durante 4 semanas com pó de semente de M. Oleífera em doses de 50/mg/kg e 100/mg/kg. Como consequência, ambos os grupos apresentaram níveis circulantes de glicose e hemoglobina glicada inferiores aos grupo de ratos diabéticos não tratados. A análise histológica apontou que o tecido pancreático de ratos diabéticos foi recuperado à sua estrutura normal. Paula et al. (2017) confirmam o efeito antidiabético da M. oleífera em um estudo realizado para avaliar o efeito hipoglicêmiante da proteína isolada de folhas de M. oleífera em ratos induzidos a diabetes por aloxano. Os resultados demonstram redução significativa de glicose no sangue de 34,3%, 60,9% e 66,4% após uma, três e cinco horas, respectivamente. Potencial anti-inflamatório Arulselvan et al. (2016) discorreram a respeito do extrato de M. oleífera e seu efeito anti-inflamatório em células estimuladas com lipopolissacarídeos (LPS). Os dados demonstram que o extrato de M. oleífera provoca diminuição na produção de mediadores inflamatórios, incluindo inibição da ciclooxigenase-2, óxido nítrico sintase indutível e o fator nuclear kappa B (NF-kB). Em outro estudo feito por Fard et al. (2015) o uso de M. oleífera tambem demonstrou efeitos anti-inflamatórios, por reduzir marcadores inflamatórios como a prostaglandina E2, fator de necrose tumoral alfa, interleucina (IL) -6 e IL-1β, além de suprimir também proteínas de mediadores inflamatórios como a ciclooxigenase-2.

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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . ....... A partir das evidências apontadas, pode-se concluir que a M. oleífera apresenta diversas propriedades farmacológicas e medicinais. Os estudos mostram uma ampla variedade de ações decorrentes do seu consumo, tais como hepatoproteção, quimioprevenção, efeito anti-inflamatório, anti-hipertensivo, hipolipemiante, potencial antiulcerogênico, antimicrobiano, anti-hiperglicêmico, entre outros. Entretanto, é importante ressaltar a necessidade de estudos visando a analise dos mecanismos de ação relacionados aos efeitos benéficos ao organismo humano, bem como dos componentes quimicos envolvidos.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Profa. Dra. Roseane Leandra da Rosa - Docente do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí, Doutoranda em Ciências Farmacêuticas pela Universidade do Vale do Itajaí. Isadora Simas Ribeiro; Izabelle Coelho de Souza - Acadêmicas do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS-CHAVE: Moringa oleífera; plantas comestíveis; antioxidantes. KEYWORDS: Moringa oleífera; Plants, Edible; antioxidants.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 26/6/2017 - APROVADO: 15/12/2017

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ REFERÊNCIAS

ABARIKWU, S. O. et al. Protective effect of Moringa oleifera oil against HgCl2-induced hepato- and nephro-toxicity in rats. Journal Of Basic And Clinical Physiology And Pharmacology, [s.l.], 15 jan. 2017. AL-MALKI, A. L.; RABEY, H. A. E. The Antidiabetic Effect of Low Doses of Moringa oleiferaLam. Seeds on

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Streptozotocin Induced Diabetes and Diabetic Nephropathy in Male Rats. Biomed Research International, [s.l.], v. 2015, p.1-13, 2015. ANWAR, F. et al. Moringa oleifera: a food plant with multiple medicinal uses. Phytotherapy Research, [s.l.], v. 21, n. 1, p.17-25, jan. 2006. ARORA, D. S.; ONSARE, J. G. In vitro antimicrobial evaluation and phytoconstituents of Moringa oleifera pod husks. Industrial Crops And Products, [s.l.], v. 52, p.125135, jan. 2014. ARULSELVAN, P. et al. Role of Antioxidants and Natural Products in Inflammation. Oxidative Medicine And Cellular Longevity, [s.l.], v. 2016, p.1-15, 2016. ATTAKPA, E. S. et al. Moringa oleifera-Rich Diet and T-Cell Calcium Signaling in Hypertensive Rats. Physiological Research, [s.l.], p.1-31, 12 abr. 2017. BATISTA, J. A. N. Potencial antioxidante dos extratos de moringa oleífera lamarck em sistemas lipídicos de baixa estabilidade lipídica. 2013. 95 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciência e Tecnologia do Alimento, Universidade Federal de Paraíba, João Pessoa, 2013. BUDDA, S. et al. Suppressive Effects of Moringa oleifera Lam Pod Against Mouse Colon Carcinogenesis Induced by Azoxymethane and Dextran Sodium Sulfat. Of Cancer Prevention. Bangkok, p. 3221-3228. jan. 2011. FAHEY, J. W. Moringa oleifera: A Review of the Medical Evidence for Its Nutritional, Therapeutic, and Prophylactic Properties. Part 1. Trees For Life. Maryland, 01 dez. 2005. FAIZI, S. et al. Isolation and Structure Elucidation of New Nitrile and Mustard Oil Glycosides from Moringa oleifera and Their Effect on Blood Pressure. Natural Products, Washington, p.1256-1261, set. 1994. FARD, M. T. et al. Bioactive extract from moringa oleifera inhibits the pro-inflammatory mediators in lipopolysaccharide stimulated macrophages.Pharmacognosy Magazine, [s.l.], v. 11, n. 44, p.556-563, 2015. GALUPPO, M. et al. Antibacterial Activity of Glucomoringin Bioactivated with Myrosinase against Two Important Pathogens Affecting the Health of Long-Term Patients in Hospitals. Molecules, [s.l.], v. 18, n. 11, p.1434014348, 20 nov. 2013. GUEVARA, A. P. et al. An antitumor promoter from Moringa oleifera Lam. Mutat Res., v. 440, n. 2, p. 181188, 1999. HAMZA, A. A. Ameliorative effects of Moringa oleifera Lam seed extract on liver fibrosis in rats. Food And Chemical Toxicology, [s.l.], v. 48, n. 1, p.345-355, jan. 2010. JAIN, P. G. et al. Hypolipidemic activity of Moringa oleifera Lam., Moringaceae, on high fat diet induced hyperlipidemia in albino rats. Revista Brasileira de Farmacognosia, [s.l.], v. 20, n. 6, p.969-973, dez. 2010.

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gastronomia Por Chef Emil Minev

Técnicas Gastronômicas Le Cordon Bleu Com mais de 120 anos de experiência no ensino da Gastronomia, o Le Cordon Bleu é lider mundial com sua rede de Institutos de Ensino da Arte Culinária e Administração da Hospitalidade. Oferecendo uma ampla gama de cursos, incluindo Bacharelado e Mestrado, oferece educação de prestígio em cozinha, confeitaria, vinhos, nutrição e hospitalidade, através de uma rede de 35 escolas em 20 países, graduando mais de 20 mil estudantes por ano. O Le Cordon Bleu também se orgulha das suas instalações de última geração e da sua dedicação em manter seus cursos sempre atualizados com as mais recentes tecnologias, viabilizando a colocação dos seus alunos no Mercado. Estamos felizes em compartilhar nossas receitas utilizando as técnicas classicas e modernas ensinadas nas nossas escolas. As receitas do Le Cordon Bleu apresentadas nesta edição são: - Tartar de Vieiras e Lagostins Picados na Faca e Salada de Micro Vegetais - Camarões Grandes salteados com legumes, caldo de galangal e erva cidreira - Financier com Frutas Vermelhas

Tartar de Vieiras e Lagostins Picados na Faca e Salada de Micro Vegetais Serve 4 pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ing re d i e nte s . . . . . . . . . . . ........ Tartar de Vieiras e lagostins 8 vieiras 4 lagostins flor de sal pimenta branca moida suco e raspas de 1 limão verde suco e raspas de 1 limão siciliano -----1 caviar de limão Salada de micro vegetais mini verdes manjericão limão azeite de oliva limão

. . . . . . . . . . . . . . . Mo d o d e Pre p aro . . . . . ........

The recipes from Le Cordon Bleu for this edition are: - Scallop and langoustine tartare with a salad of micro greens - Large jumbo shrimp sautéed with vegetables, galangal and lemongrass broth - Red fruit financiers

Tartar de Vieiras e lagostins : abra as vieiras e separe das cascas e das barbas. Coloque na água fria limpando com um papel absorvente. Corte em pedaços pequenos como pequenos cubos, coloque em um bowl e deixe refrigerar. Limpe as lagostins retirando cascas e cabeças, corte em cubos pequenos e misture com as vieiras. Tempere com flor de sal, pimenta branca e suco e raspas dos dois limões, misture bem.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Salada de Micro vegetais : corte as ervas, lave, seque e

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misture bem.

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Apresentação : coloque sobre um círculo no centro do prato o tartar de vieiras e lagonstins, retire o circulo. Jogue o caviar limão apenas ¾ do tartar. Misture ¼ restante do caviar com o azeite de limão. Disponha sobre o tartar e a salada. Reserve na geladeira antes de servir.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Camarões Grandes salteados com legumes, caldo de galangal e erva cidreira Serve 4 pessoas

médios 100ml de leite de coco 100ml de caldo de frango 2 folhas de combava pimento de sichuan sal Acompanhamento 200 g de lotus ½ limão siciliano 10ml de óleo de soja 50ml de fundo de frango -----100g de pimentos vermelhos 40ml de óleo de soja 2 pedaços de erva cidreira ------100g de broto de feijão 1 colher de sopa de cebolette thai fatiada fina 3 acelgas chinesas cortadas em dois ou quatro Decoração 15 grãos de gergelim preto 12 folhas de coentro raspas de limão verde

. . . . . . . . . . . . . . . Mo d o d e Pre p aro . . . . . ........

. . . ............... Ing re dientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ingredientes principais 16 camarões grandes inteiros e crús sal e pimenta marinada 30ml de óleo de gergelim 30ml de óleo de soja 1 pedaço de erva cidreira 12 folhas de coentro fresco 1 dente de alho fatiado fino Caldo 10ml de óleo de soja 100g de cebola fatiada fina 60g de pimentão vermelho fatiado 2 pedaços de erva cidreira fatiado 4 dentes de alho fatiados 20g de gengibre fatiado 20g de galangal fatiado 100g de tomate sem pele e sem semente cortado em cubos

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Marinar os camarões : descascar os camarões e limpar as costas, reservando as cabeças para o caldo. Misture todos os ingredientes da marinada : óleo de gergelim, óleo de soja, erva cidreira, coentro e alho, depois acrescente os camarões e reserve. Caldo : salteie as cabeças dos camarões no óleo. Acrescene as cebolas, os pimentões, a erva cidreira, o alho, o gengibre, o galangal, os tomates, o leite de coco e o caldo de frango, as folhas de combava e a pimenta de Sichuan. Leve a ebulição e deixe cozinhar por 10 minutos. Passe no chinois. Se necessário, retifique os temperos e a consistência e reserve. Acompanhamento : Descasque o lotus e corte em laminas de 3mm aproximadamente, deixe em água fria com limão por 20 minutos. Escorra , e salteie na frigideira com um pouco de óleo, o fundo de frango e cozinhe por 5 minutos e reserve. Corte os pimentões em bastões de 5 cm de comprimento e 2 cm de largura, confite lentamente no óleo com erva cidreira, termine o cozimento fora do fogo. NUTRIÇÃO EM PAUTA


gastronomia Por Chef Emil Minev Salteie os camarões : Escorra os camarões e reserve a marinada. Salteie os camarões no óleo da marinada em uma frigideira, tempere e reserve. Acrescente o broto de feijão e salteie alguns segundo com a cebollete thai e reserve. Salteie rapidamente os pedaços de acelga chinesa na mesma frigideira.

Asse no forno de 12 a 15 minutos, até que os financiers fiquem dourados. Coloque a ponta da faca no centro do financier se estiver seco estão cozidos. Retire do forno e deixe esfriar depois solte-os sobre uma grelha.

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Apresentação: Disponha no centro do prato, os brotos de feijão, as laminas de lótus, os bastões de pimentão e a acelga chinesa e os camarões salteados, Derrame o caldo emulsionado e o restante sirva em um copo. Disponha os gergelins pretos, folhas de coentro e as raspas de limão verde.

farinha de amêndoas, o açúcar de confeiteiro, o fermento, o mel e as claras de ovo e bata para adquirir uma consitência cremosa. Incorpore pouco a pouco a manteiga derretida e misture para obter uma massa homogênea. Com uma colher ou um saco de confeiteiro, coloque ¾ em cada pedaço da forma e acrescente em cada pedaço três frutas vermelhas.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Financier com Frutas Vermelhas Para 30 financiers . . . ............... Ing re dientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Ingredientes principais 70g de manteiga 50g de farinha de amêndoas 130g açúcar confeiteiro 1g de fermento quimico 50g de farinha de trigo 10g de mel 5 claras de ovos 200g de mirtillo ou framboesas

. . . ........... Mo do de Prep aro. . . . . . . . . . . . . . . Com ajuda de um pincel, passe manteiga na forma de financier. Derreta a manteiga e deixe esfriar levemente. Misture a DEZEMBRO 2017

Sobre o autor

Chef Emil Minev Culinary Arts, director, Le Cordon Bleu - Paris

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS-CHAVE: lagostim, Camarões, framboesas. KEYWORDS: Lagostin, shrimp, raspberry.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 20/9/2017- APROVADO: 20/11/2017

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ REFERÊNCIAS

www.cordonbleu.edu NUTRIÇÃO EM PAUTA

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