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Baby-led Weaning e os Paradigmas sobre Alimentação Infantil
Baby-led Weaning and the Paradigms on Infant Food matéria de capa
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................. Introdução ..................
O período da introdução alimentar é aquele de transição entre um padrão essencialmente lácteo e a dieta habitual da família. Tanto a OMS (2002) como o Ministério da Saúde (2019) orientam que a oferta de outros alimentos, além do leite, aconteça a partir dos seis meses de idade de forma gradativa para crianças nascidas a termo. Tradicionalmente, recomenda-se, para esse período, que a alimentação seja oferecida por um cuidador, que se utiliza da colher, com alimentos amassados e, progressivamente, com evolução da consistência, até que não haja necessidade de modificação até ao redor dos doze meses. Porém, a partir do início deste século, vem sendo difundida uma abordagem que, em vez do bebê ser alimentado pelo seu cuidador, será ele próprio que levará os alimentos à sua boca, a partir do seu ritmo, vontade e capacidade. Para essa proposta, dá-se o nome de baby-led weaning (BLW), cuja tradução literal significa “o desmame guiado pelo bebê”, mas, de forma geral, representa uma abordagem para a realização da introdução alimentar em que o lactente detém maior autonomia e é protagonista. Os alimentos que ele terá acesso precisarão estar em formatos e consistências que possibilitem a apreensão com as mãos, mas que também sejam seguros para serem levados à boca sem a intervenção de um adulto. Pode parecer uma proposta revolucionária, mas, mesmo que bebês recebam “papas” em suas rotinas nessas últimas décadas, historicamente, no dia a dia, não é incomum as famílias oferecerem também alimentos aos pedaços a eles. A idealizadora do BLW, Gill Rapley, na verdade, sistematizou algo que já era realidade e apontou também cuidados importantes para a sua prática ser realizada. O BLW tornou-se popular de uma forma interessante. Inicialmente, ele foi difundido principalmente pelas redes sociais e, somente após, chegou aos espaços formais de cuidado à saúde e, assim, ele vem se tornando cada vez mais uma opção para a introdução alimentar. Na Nova Zelândia, por exemplo, estima-se que mais da metade das famílias o tenham tentado e aproximadamente 30% o fazem regularmente (FU et al, 2018). Muitas famílias ainda se orientam a partir de webpages, seguindo perfis nas redes sociais e por meio de aplicativos para celulares, por não encontrarem facilmente profissionais da saúde que apoiem e, inclusive, tenham conhecimento sobre o BLW. É natural questionar o que está por trás da popularidade do BLW. Isso vem acontecendo porque, provavelmente, há uma nova forma de se compreender os primeiros anos de vida e a importância da alimentação. O bebê passa a ser reconhecido e, também, respeitado diante das suas capacidades e motivações e a sua alimentação come-
ça a ganhar outras dimensões, para além de meramente cumprir uma função nutricional. Estes temas precisam ser aprofundados para a compreensão do BLW e, portanto, serão retomados nesse artigo. Certamente, famílias optam por essa abordagem em função das suas vantagens. O livro “Baby-led weaning: helping your baby to love food”, lançado em 2008, com a versão brasileira intitulada “Baby-led weaning: o desmame guiado pelo bebê”, pontua benefícios que percorrem componentes nutricionais, cognitivos, sensoriais, emocionais, sociais dentre outros. Assume-se, assim, que a prática do BLW promove refeições mais prazerosas para toda a família e com menos tensão; remete a um processo natural para essa fase de desenvolvimento dos bebês, que tendem a explorar o ambiente com a boca; possibilita maior aprendizado sobre os alimentos, dado que terão a oportunidade de segurá-los, observá-los, sentirem seus aromas e descobrir os seus sabores isolados ou combinados com outros; auxilia o desenvolvimento de diversas habilidades que serão utilizadas para a alimentação, mas não somente para ela; torna-os mais confiantes na sua própria capacidade e nos alimentos; permite a realização de refeições em família e o compartilhamento de alimentos, contribuindo com praticidade; auxilia no controle da saciedade, pois não há a figura do adulto tentando descobrir quando o bebê está satisfeito; e favorece o desenvolvimento de uma relação positiva e afetuosa com o ato de se alimentar, diminuindo a chance de seletividade alimentar (RAPLEY; MURKETT, 2017).
........... Desenvolvimento .................
mentos BLW: pressupostos, evidências e questiona-
Ao retomar as recomendações relativas ao aleitamento materno e, consequentemente, ao início da introdução alimentar, tem-se a partir de 2003 uma mudança importante. Até esta data, a interrupção do aleitamento exclusivo ocorreria aos quatro meses e a partir do início deste século a recomendação é a de que a introdução alimentar ocorra aos seis meses de idade. Para estudiosos da primeiríssima infância, profissionais que lidam com esse público e, também, famílias de crianças pequenas, é fácil perceber que um bebê aos quatro meses é diferente de um com seis. Eles apresentam desenvolvimentos diferentes, além de, internamente, o organismo, com destaque para o sistema digestório, também está com maiores capacidades para digerir, metabolizar e excretar alimentos. Porém, mesmo com a mudança de recomendação para o início da introdução alimentar, pouco mudou ao longo dos próximos anos com relação a como deveria acontecer a oferta de alimentos para esse bebê, que já não mais apresenta a protrusão da língua, que está prestes a sentar-se sozinho e estica-se para apanhar objetos e levá-los à boca, com mais facilidade. O componente nutricional da alimentação infantil que, comumente, é explicado pela necessidade do bebê receber novos alimentos porque a alimentação láctea não seria mais suficiente é o que tem regido a prática de muitos profissionais da saúde e, logo, as famílias, ficam com receio do bebê não comer o suficiente e, consequentemente, desnutrir-se. Por isso, elas usam de estratégias para que a criança coma, como deixar a alimentação mais pastosa e sem evolução da consistência ao longo dos meses, priorizar os alimentos com maior aceitação, distrair o bebê para que ele aceite as colheradas e, em situações extremas, forçá-lo a comer. É fato que crianças, conforme crescem, demandam de mais energia e nutrientes, o que pode ser obtido pela oferta de novos alimentos. Porém, tal como o crescimento da criança é gradativo, suas necessidades nutricionais também o são. Assim, não é porque alguém completou seis meses que ele se coloca em risco nutricional. Inclusive, atualmente, usa-se o termo “alimentação complementar” em vez de “introdução alimentar” para agregar um valor bastante importante a esta fase: o de que a alimentação oferecida é um complemento para o leite que a criança recebe e não o contrário. Assim, a necessidade de comer não pode ser central neste período sob o risco de levar famílias a situações de angústia e, consequentemente, afetar o bebê que pode passar a compreender que a realização de refeições é algo negativo e desconfortável para ele. Para além da importância nutricional relacionada à introdução de novos alimentos, esse momento representa um preparo para o futuro, para quando realmente o lactente não for mais capaz de se nutrir essencialmente de leite. Para isso, ele precisa desenvolver habilidades mastigatórias ainda não mobilizadas a partir da ingestão do leite. Ele precisará aprender a comer alimentos sólidos. Mais do que isso, a criança passará a se sustentar sentada e começará a compreender sobre os aspectos sociais relativos ao ato de se alimentar. Ela também terá a oportunidade
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de começar a compreender que existem outras formas de saciar sua fome, além da amamentação e, inclusive, será o momento importante para a construção dos seus hábitos alimentares e para estabelecer um vínculo saudável com o ato de comer. A alimentação, oferecida em consistência pastosa, por sua vez, não estimulará a criança a aprender a desenvolver as habilidades necessárias para ingerir alimentos sólidos. Aqui, é importante o destaque de que evidências mostram que crianças que receberam alimentos em consistência pastosa ou líquida por longos períodos tendem a apresentar maiores dificuldades alimentares durante a infância (SHIM; KIM; MATHAI, 2011). Estudo de Vieira, Rapley e Vanicolli (2020) mostra que 34,6% das crianças cujas famílias relataram a alimentar seus filhos cotidianamente chegam aos doze meses recebendo alimentos em consistência inadequada à idade, ou seja, pastosa. Assim, parece ser frequente a realização de dieta pastosa entre bebês maiores de um ano. Assim, é a partir da compreensão do papel da alimentação que se pode dizer que o BLW está pautado e, para o melhor entendimento da sua teoria, seus pressupostos merecem ser citados. O primeiro deles é relativo à importância da amamentação ao longo dessa fase, tendo em vista que o bebê precisará de tempo e de aquisição de habilidades para estar apto para se nutrir de alimentos sólidos e, enquanto isso não acontece, a amamentação proverá o aporte nutricional principal à criança. Além disso, quando se trata do aleitamento materno, o ato de mamar trará outros benefícios que impactarão positivamente no ato de comer. Ele auxilia no fortalecimento da musculatura da face, na maior segurança e conforto emocional, além da maior percepção de sabores a partir do leite. Trabalhos vêm mostrando associação entre o BLW e as práticas de amamentação (BROWN; JONES; ROWAN, 2017; VIEIRA; RAPLEY; VANICOLLI, 2020). É difícil distinguir se a escolha pelo BLW leva à manutenção da amamentação ou se é o contrário: famílias mais propensas a amamentar tendem a compreender a realização do BLW como mais adequada aos seus filhos. Independente da explicação, vem sendo observado que lactentes tendem a realizar o aleitamento materno exclusivo pelo tempo recomendado e sustentar a amamentação. Talvez isso aconteça porque, tal como já foi mencionado, a realização do BLW pressupõe a importância da prontidão alimentar para o início da oferta de alimentos e, mesmo após ter se iniciado, o leite materno permanece como principal alimento durante o aprendizado do bebê (FU et al., 2018). Ainda sobre a amamentação, diferentes estudos mostram na prática aquilo que a teoria do BLW indica acerca da necessidade do bebê conquistar habilidades para efetivamente comer e, enquanto isso, nutrir-se principalmente de leite. Assim, trabalhos mostram que a contribuição da alimentação láctea em bebês que realizam o BLW é maior quando comparado aos bebês que são alimentados da forma tradicional (compreendida por alimentos em consistência pastosa e oferecidos pelo adulto) nos primeiros meses da introdução alimentar. Mas quando se aproximam do primeiro ano de vida, o aporte energético advindos dos alimentos às crianças que realizam o BLW é semelhante àquelas que são alimentadas, sinalizando que o processo de introdução alimentar tende a acontecer de forma mais gradativa quando o bebê alimenta-se sozinho (PEARCE; LANGULEY-EVANS, 2022; ROWAN; LEE; BROWN, 2022). A característica relacionada a um processo mais lento dialoga com outros dois pressupostos do BLW, sendo eles a compreensão quanto às motivações de uma criança para alimentar-se e quanto à necessidade de considerar o seu desenvolvimento para, então, compreender que ela consegue comer. Ao início da introdução alimentar, a criança certamente não entende que as refeições são capazes de lhe saciar a fome. Ela certamente mostra interesse pela comida e, inclusive, se excita ao ver adultos comendo, mas ela tende a iniciar o ato de se alimentar, porque ela é capaz e porque, nessa idade, ela experimenta o mundo através da boca. Nessa idade, a criança é curiosa e investigativa. Ela quer descobrir sobre aquilo que a cerca e sobre como ela consegue interagir com o ambiente. Além disso, ela já é capaz de imitar outras pessoas. A partir de um ambiente de segurança e de tranquilidade, a criança passará a associar o momento da refeição como aquele capaz de resolver um desconforto (a fome) que, até então, somente poderia desaparecer com a oferta do leite. Quanto ao pressuposto que aponta para a importância de considerar seu desenvolvimento, para se alimentar, o bebê precisa já ter conquistado algumas habilidades, como se sustentar sentado e trazer objetos à boca. Por sua vez, o ato de comer potencializa o seu desenvolvimento infantil no que tange aos aspectos cognitivos, emocionais, físicos e sociais. A criança desenvolverá, por exemplo, noções de força ao pegar alimentos com diferentes consistências ou descobrirá o movimento de pinça com os dedos, quando pedaços pequenos caírem sobre a sua mesa. Quando ela é alimentada por outra pessoa, por outro lado, as suas potências de exploração e de desenvolvimento de
habilidades são subutilizadas. O último pressuposto do BLW tem a ver com a realização das refeições em família. Além de iniciar o contato com novos alimentos, incorporar-se ao momento em que os membros da casa realizam as refeições proporciona benefícios (VERHAGE et al., 2018). Observando outras pessoas comendo, o bebê se estimulará a reproduzir movimentos semelhantes que podem conferir sucesso ao ato dele se alimentar. Além disso, ele também passa a compreender que comer é um ato de prazer e que pode lhe dar satisfação, além dele ganhar informações sobre comensalidade e as dimensões sociais e culturais da alimentação. Quando o bebê é alimentado pelo adulto, em geral, ele tende a ser o único a comer, pois dificilmente quem o alimenta consegue fazê-lo enquanto realiza a sua própria refeição. Pesquisadores mostram que bebês em BLW apresentam refeições compartilhadas com a família em maior propensão em comparação com a abordagem tradicional (CAMERON; TAYLOR; HEATH, 2013; VIEIRA; RAPLEY; VANICOLLI, 2020). A partir desses pressupostos, pode ser mais fácil compreender a defesa de que o BLW levaria ao melhor controle da saciedade, o que poderia, por sua vez, associar-se ao menor risco de obesidade, tal como apontado por Brown e Lee (2013). Quando é o adulto quem define a quantidade de alimentos que o bebê irá ingerir, pode haver maior chance de que ele receba mais do que precisa. Vanicolli e Vieira (2021) relatam que mães da abordagem BLW mostraram postura mais responsiva diante das demandas do bebê, enquanto na abordagem tradicional, as atitudes maternas parecem mais relacionadas ao desejo de que a criança coma. A menor pressão para comer, por sua vez, implicaria em menor risco de seletividade alimentar, tal como descrito por Fu et al. (2018). Outra possível vantagem do BLW estaria relacionada à exposição à maior variedade de alimentos, inclusive no que se refere a sabores e texturas. Porém, esses benefícios dependerão do quão adequada é a alimentação da família dessa criança e, considerando isso, a criança poderá estar exposta a itens inadequados para a idade, como quantidades excessivas de sódio e de gordura saturada (ROWAN; HARRIS, 2012; MORRISON et al., 2016; ALPERS; BLACKWELL; CLEGG, 2019). Alguns trabalhos, porém, identificaram que o grupo de crianças que realizou o BLW teve menor chance de consumir alimentos ultraprocessados destinados a lactentes, (CAMERON; TAYLOR; HEATH, 2013), além de ultraprocessados de forma geral, sucos, açúcar e sal (VIEIRA; RAPLEY; VANICOLLI, 2020). Diante da possibilidade de autonomia alimentar do lactente, pesquisadores e profissionais questionam possíveis consequências negativas relativas à abordagem do BLW e, por isso, alguns contraindicam a sua realização (NEVES et al., 2022). As principais preocupações que vêm sendo relatadas têm a ver com o aporte energético e de ferro da alimentação, que poderiam afetar o crescimento da criança em uma fase de grande importância, além do risco de engasgo, que poderia ter consequências fatais. Vale aqui, então, apresentar um protocolo de intervenção intitulado “Baby-led Introduction to Solids” ou BLISS, desenvolvido em 2015 por pesquisadores neozelandeses para avaliar os impactos da auto alimentação de bebês cujas famílias foram orientadas para dar oportunidade dos bebês comerem sozinhos, mas com recomendações prévias realizada por profissionais de saúde sobre o valor calórico dos alimentos oferecidos, à presença de fontes de ferro na maioria das refeições e o cuidado com consistência e formato dos alimentos (DANIELS et al., 2015). Assim, por meio do BLISS, trabalhos mostraram ausência de diferença no IMC desses bebês quando comparados àqueles cuja alimentação ocorria de forma tradicional, com colher (TAYLOR et al., 2017). Também não foram significativas as diferenças na ingestão mediana de ferro ou na concentração de ferritina plasmática, ferro corporal ou prevalência de anemia (DANIELS et al., 2018a). Outros indicadores de consumo alimentar, como zinco e vitamina B12 dietéticos, apresentaram-se em valores semelhantes em comparação com bebês do protocolo BISS com aqueles que eram alimentados por suas famílias (DANIELS et al., 2018b). Com relação à ocorrência de engasgos, pesquisas não vêm evidenciando maior risco associado ao BLW. FANGUPO et al., (2016) e DOGAN et al. (2018) não identificaram diferenças nos relatos de famílias que cujos bebês comem sozinhos ou que alimentam seus bebês. Já Brown (2018), além de não encontrar associações entre engasgo e o BLW, aponta maior frequência de engasgos entre crianças que comem sozinhas em poucas ocasiões. Há autores que, entretanto, mostram que famílias, independente da realização do BLW, expõem crianças ao risco de engasgo a partir da oferta de alimentos inadequados à idade (FANGUPO et al., 2016), indicando a importância de profissionais da saúde estarem atentos a essa informação no momento de orientar famílias com relação à introdução alimentar. Diante do avanço das discussões acerca dos be-
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nefícios do BLW, há de se questionar por que ele não é recomendado amplamente por órgão oficiais. Porém, o Reino Unido e o Canadá, por exemplo, vêm incorporando alguns dos fundamentos do BLW, especialmente os relacionados com a oferta de alimentos que possam ser comidos com as mãos (NHS, 2019; GOVERNMENT OF CANADA, 2019). No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou, em 2018, lançou documento apontando o BLW como uma possibilidade para a introdução alimentar. Por fim, merece destaque o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos, lançado em 2019, que não cita o BLW, mas avança com relação à alimentação infantil quando comparado ao documento anterior ao trazer a recomendação pautada na alimentação responsiva, ou seja, com um olhar mais cuidadoso para a bebê nesse período, além de valorizar a alimentação em família e estimular a interação do bebê com os alimentos. Assim, pode-se perceber que avanços muito relacionados com as características do BLW vêm acontecendo nas recomendações oficiais, contribuindo para que a compreensão sobre a alimentação infantil incorpore elementos adicionais relativos à autonomia, comensalidade e consideração do desenvolvimento do bebê.
................ Conclusões ..................... Sobre os autores
Profa. Dra. Viviane Laudelino Vieira - Nutricionista e pesquisadora do Centro de Referência em Alimentação e Nutrição (CRNutri) do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza da Faculdade de Saúde Pública da USP
O baby-led weaning, entendido como uma abordagem para a realização da introdução alimentar, provavelmente disparou reflexões acerca da alimentação infantil. Sendo concebido no meio acadêmico, ele ganhou visibilidade entre as famílias e, por isso, alcançou profissionais da saúde atuantes com lactentes. Tendo em vista a importância da realização complementar e os cuidados a serem tidos com crianças, é fundamental que as investigações avancem a fim de maior compreensão dos benefícios do BLW, mas também das suas possibilidades. Muito se questiona, por exemplo, como ele poderia acontecer com crianças com possíveis atrasos no desenvolvimento, como bebês prematuros ou crianças com síndrome de Down. Porém, sabe-se que pesquisas nesse campo podem apresentar dificuldades a fim de se constituir amostra representativa e aleatória. Outro desafio está relacionado com o estabelecimento de critérios precisos para classificar a forma de realização de introdução alimentar, pois, muito frequentemente, famílias podem oscilar entre a alimentação com colher e a refeição cujo protagonista é o bebê. Por fim, do ponto de vista da assistência ao lactente, a orientação por profissional de saúde com experiência no campo da alimentação infantil, especialmente o nutricionista, mostra a sua importância a fim de que a família possa ter uma prática que garanta alimentos adequados para a idade e oferecidos de forma segura. A partir de um acompanhamento nessa fase, no qual se incluem a avaliação antropométrica, anamnese alimentar e avaliação do desenvolvimento, será possível a prática do BLW à criança ou, então, a incorporação de alguns dos seus princípios nas recomendações a serem feitas.
REFERÊNCIAS
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