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Estratégias Nutricionais para o Tratamento da Obesidade Sarcopênica em Idosos: Revisão da Literatura

Nutritional Strategies for the Treatment of Sarcopenic Obesity in Elderly: Review of Literature

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Estratégias Nutricionais para o Tratamento da Obesidade Sarcopênica em Idosos: Revisão da Literatura

RESUMO: O envelhecimento confere maior vulnerabilidade aos indivíduos, propiciando desvios nutricionais como a obesidade e ocorrência da sarcopenia. A associação do excesso de massa adiposa à perda generalizada e progressiva de massa muscular esquelética e força, se denomina obesidade sarcopênica e representa um importante problema de saúde pública por sua alta prevalência e consequências, especialmente em idosos. A presente revisão bibliográfica narrativa visa apresentar condutas nutricionais indicadas no tratamento da obesidade sarcopênica em idosos, baseando-se em 17 artigos científicos (10 nacionais e 7 internacionais) divulgados nos últimos 5 anos, nas bases de dados: Scielo, Lilacs e Biblioteca Virtual em Saúde. A terapia nutricional de idosos com obesidade sarcopênica envolve: adequação do valor calórico à necessidade individual, associada à quantidade, qualidade e distribuição apropriada de proteínas de alto valor biológico ao longo do dia, com atenção especial aos aminoácidos essenciais, principalmente leucina (3 gramas/dia). Indica-se também atentar-se ao consumo de vitamina D, visando-se redução de quedas e aumento do diâmetro das fibras musculares do tipo II. Em alguns casos pode-se lançar mão de complementos nutricionais específicos. A assistência nutricional de idosos com obesidade sarcopênica, portanto, se baseia em mudança do estilo de vida com prática de exercícios físicos, controle ponderal e consumo adequado de proteínas, leucina e vitamina D. Mais estudos sobre o tema devem ser realizados para se analisar os fatores que podem interferir no diagnóstico da obesidade sarcopênica, especialmente em idosos, e para se estabelecer a padronização dos critérios nutricionais baseados em evidências científicas.

ABSTRACT: Aging confers greater vulnerability to individuals, providing nutritional deviations such as obesity and occurrence of sarcopenia. The association of excess fat mass with generalized and progressive loss of skeletal muscle mass and strength is called sarcopenic obesity and represents an important public health problem due to its high prevalence and consequences, especially in the elderly. The present narrative bibliographic review aims to present nutritional behaviors indicated in the treatment of sarcopenic obesity in elderly, based on 17 scientific articles (10 national and 7 international) published in the last 5 years, in the databases: Scielo, Lilacs and Virtual Health Library. The nutritional therapy of elderly people with sarcopenic obesity involves: adequacy of the caloric value to the individual need, associated to the quantity, quality and appropriate distribution of high biological value proteins throughout the day, with special attention to essential amino acids, mainly leucine (3 grams/day). It is also indicated to pay attention to the consumption of vitamin D, aiming at reducing falls and in-

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creasing the diameter of muscle fibers type II. In some cases, specific nutritional supplements can be used. The nutritional assistance of elderly people with sarcopenic obesity, therefore, is based on a change in lifestyle with the practice of physical exercises, ponderal control and adequate consumption of proteins, leucine and vitamin D. Further studies on the subject should be conducted to analyze the factors that may interfere in the diagnosis of sarcopenic obesity, especially in the elderly, and to establish the standardization of nutritional criteria based on scientific evidence.

................. Introdução ..................

Em nações desenvolvidas considera-se idoso o indivíduo com 65 ou mais anos de vida e nas em desenvolvimento, como o Brasil, a partir dos 60 anos (OPAS/ OMS, 2018). O envelhecimento é um fenômeno populacional mundial que cresce de forma vertiginosa. A dinâmica desse crescimento, denominada transição demográfica, se instituiu pela ocorrência de queda das taxas de fecundidade, mortalidade infantil, bem como pelos avanços em conhecimentos e tecnologias na área da saúde visando a prevenção e tratamento de doenças. Devido ao aumento da expectativa de vida e diminuição da fertilidade, portanto, a proporção de pessoas acima de 60 anos está aumentando mais rapidamente do que qualquer outra faixa etária no Brasil e em quase todos os países. Assim, o envelhecimento da população pode ser considerado um sucesso das políticas públicas de saúde e do desenvolvimento socioeconômico, mas por outro lado, se tornou um grande desafio para a sociedade, que deve se adaptar a essa realidade, a fim de maximizar também a saúde e a capacidade funcional dos idosos, bem como sua participação social e sua segurança (OPAS/OMS, 2018). Estima-se que o número de idosos no mundo supere 1 bilhão de pessoas, com previsão de que, até o ano de 2050, essa população representará cerca de dois bilhões, sendo que a maior proporção deles residirá nos países em desenvolvimento. (ONU, 2019). Em 2018, no Brasil, os idosos representavam 13% da população total do país, totalizando mais de 28 milhões de pessoas nessa faixa etária (IBGE, 2019). Atualmente, a expectativa de vida no mundo é de aproximadamente 65 anos para ambos os sexos (ONU, 2019), sendo que no Brasil corresponde a 76 anos (IBGE, 2019).

O envelhecimento, segundo a Organização Pan-americana da Saúde, é definido como um processo sequencial, irreversível, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e aumente sua possibilidade de morte (OPAS, 2020). O envelhecimento, portanto, apesar de ser um processo natural, confere aos indivíduos maior vulnerabilidade. Assim, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são mais ocorrentes nessa população, sendo associadas à diminuição da capacidade funcional e cognitiva e incidência de desvios nutricionais (desnutrição e obesidade), decorrentes do próprio envelhecimento (OMS, 2020).

Dentre os desvios nutricionais, esse estudo destaca a obesidade, que se caracteriza pelo aumento de tecido adiposo, o qual tem intensa relação com o desenvolvimento das DCNT, comumente observadas em idosos. Além disso, as estimativas de prevalência de obesidade, segundo o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), aumentaram de 15 para 18% de 2010 a 2014, em ambos os sexos. No sexo masculino sua prevalência aumentou de 9,3% (POF 2002-2003) para 12,7% (POF 2008-2009 e dentre as mulheres passou de 14% para 17,5% (FERREIRA; SZWARCWALD; DAMACENA, 2019). Além dos desvios nutricionais, outra expressiva alteração fisiológica muito ocorrente dentre os idosos é a sarcopenia, cuja alta prevalência tem sido observada numa proporção idade-dependente, uma vez que a partir dos 60 anos de idade essa síndrome e suas complicações começam a se manifestar (DIZ et al., 2015). Em 2018, o European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) atualizou a definição de sarcopenia baseada em evidências acumuladas, passando a ser considerada uma doença muscular (insuficiência muscular esquelética), na qual a baixa força muscular é o determinante principal para disparar o gatilho da investigação diagnóstica, ultrapassando a baixa massa muscular. Considera-se que essa nova definição facilitará a identificação imediata da sarcopenia na prática assistencial (BRASPEN, 2019). A confluência da sarcopenia com o aumento de tecido adiposo corporal é definida como obesidade sarcopênica (ROCHA, 2015). A obesidade sarcopênica apresenta consequên-

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cias ainda mais negativas em idosos, gerando maior fragilidade, dificuldades na mobilidade, risco aumentado de quedas e mortalidade. Dessa forma, a obesidade sarcopênica é considerada mais prejudicial do que a obesidade ou a sarcopenia se comparadas isoladamente (SILVA NETO et al., 2019). Tendo em vista a importância do conhecimento sobre obesidade sarcopênica em idosos, o presente estudo visa explorar as relevantes evidências científicas encontradas sobre o tema, com intuito de nortear a melhor conduta nutricional a ser tomada na assistência desses indivíduos.

............. Metodologia ......................

Este estudo se caracteriza como uma revisão bibliográfica narrativa (ROTTHER, 2007), cujo rastreamento literário ocorreu no período de maio a julho de 2020. Para seu desenvolvimento, se consultaram as bases de dados (Scielo, Lilacs e Biblioteca Virtual em Saúde) e fontes primárias, que abordavam a temática pesquisada. Para tanto, se utilizou a lógica booleana com o conector and e os seguintes descritores de saúde: Obesidade, Sarcopenia, Idoso, Envelhecimento. Utilizou-se como critério de inclusão as publicações divulgadas entre os anos de 2015 e 2020, nos idiomas inglês, espanhol e português. Inicialmente foram rastreados 39 artigos, os quais foram lidos na íntegra, sendo excluídos 22, por não atenderem aos objetivos do estudo. Assim, resultaram 17 artigos os quais foram utilizados para a elaboração desse estudo, sendo 10 nacionais e 7 internacionais.

............... Resultados .......................

Obesidade e Sarcopenia

Obesidade é o resultado do aumento de peso pelo excesso da gordura corporal. Ela é uma doença complexa, multifatorial e decorrente de diversos fatores como: interação de genes, fatores ambientais, psicossociais e estilo de vida. Ela vem crescendo gradativamente e afeta todas as idades e grupos sociais, gerando consequências graves não só na saúde, mas também sociais e psicológicas. Dessa forma, atualmente é considerada um importante problema de saúde pública (OMS, 2020). Em 2025, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos no mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade, com índice de massa corporal (IMC) acima de 30 Kg/m². No Brasil, essa doença aumentou 67,8% nos últimos treze anos, passando de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018 (ABESO, 2020). A grande incidência da obesidade em países em desenvolvimento está fortemente associada aos processos relacionados à urbanização; transição nutricional com consumo elevado de produtos ultraprocessados e baixo nível de atividade física (SILVA, et al., 2019). Além dos itens citados acima, o processo de envelhecimento também propicia o aumento de massa gordurosa por conta das mudanças no padrão de distribuição corporal, as quais tendem a se localizar mais na região central do abdômen, sendo definida como gordura visceral. Estima-se que ocorra aumento de gordura de 2 a 5% por década após os 40 anos, podendo representar de 20 a 30% da gordura corporal total. Classicamente, no sexo feminino, a deposição de tecido adiposo é visceral e nas nádegas e coxas e nos homens mais na região abdominal. Além disso, no envelhecimento ocorre mais infiltração de tecido gorduroso no fígado e nos músculos, correlacionando-se com resistência insulínica, esteatose hepática, intolerância à glicose e obesidade sarcopênica (ROCHA, 2015).

A sarcopenia, por sua vez, é caracterizada como perda generalizada e progressiva de massa muscular esquelética e força sendo definida, portanto, como uma desordem progressiva e generalizada da musculatura esquelética. Ela está associada a deficiência física e má qualidade de vida, gerando um risco aumentado de quedas, fraturas, incapacidade física e mortalidade. A quantidade reduzida de massa muscular em idosos contribui para o declínio de sobrevivência também por conta dos quadros de infecções (SANTOS et al., 2017). A fisiopatologia da sarcopenia envolve: redução de neurônios motores e das secreções hormonais (testosterona e deidroepiandrosterona - DHEA), desnutrição e atrofia causada pela falta de atividades mecânicas, tornando as fibras musculares de contração rápida mais susceptíveis (PAULA et al., 2016). Existem diversos fatores etiológicos envolvidos na sarcopenia, entre eles a diminuição de estímulo anabólico e aumento de estímulos catabólicos musculares, devido, principalmente, à elevação de citocinas pró-inflamatórias. Os fatores anabólicos são físicos (tensão, contração) e químicos, envolvendo hormônios (insulina, tes-

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tosterona, GH (hormônio de crescimento), IGF-1(fator de crescimento insulina símile) e nutrientes. Já os fatores catabólicos incluem a denervação, desuso muscular, estresse oxidativo, citocinas pró-inflamatórias, acidose, resistência insulínica e hormônios glicocorticóides. Considera-se que o desuso e/ou estresse oxidativo sejam os maiores determinantes da rabdomiólise, enquanto exercícios de força, hormônios e nutrientes anabolizantes protéicos sejam os principais promotores do ganho muscular (PAULA et al., 2016; SANTOS et al., 2017). Atualmente a sarcopenia é considerada uma doença muscular identificada com código de diagnóstico (CID-10M62.84), podendo ser utilizado para a promoção da assistência em alguns países, como o Brasil (TOLEDO; HORIE, 2019). Dessa forma, destaca-se a importância da preservação da massa muscular também em obesos, pois ela atuará como reserva nutricional diminuindo, assim, os riscos e a mortalidade em idosos (PAULA et al., 2016). A perda de massa muscular está associada ao estado nutricional (EN) do indivíduo, que é influenciado pelo consumo e utilização de nutrientes. (PAULA et al., 2016). Dessa forma, um dos fatores considerados preventivos e intervencionistas do problema é a adequação alimentar, com especial atenção ao consumo de proteínas de alto valor biológico e a alguns aminoácidos em especial (SANTOS et al., 2017).

Obesidade Sarcopênica

Com o envelhecimento, as mudanças na composição corporal inerentes a esse processo natural incluem: redução de massa muscular e aumento de tecido adiposo. Quando a sarcopenia cursa concomitantemente à obesidade, temos uma condição denominada de obesidade sarcopênica (SANTOS et al., 2017). A obesidade sarcopênica tem sido caracterizada pela resistência à insulina e processo inflamatório, tendo sido o adipócito implicado na manutenção desse processo. (SANTOS et al., 2017). De acordo com o Consenso Europeu de Sarcopenia, divulgado em 2010, a sarcopenia pode se manifestar clinicamente também por meio de peso e massa corporal normal ou IMC (Índice de Massa Corporal) dentro da faixa de eutrofia; bem como com a medida da circunferência da cintura dentro dos valores de normalidade, mas a massa muscular sempre estará baixa e a massa gorda alta na obesidade sarcopênica. (ROSSONI, 2017).

nica Métodos para Detecção da Obesidade Sarcopê-

Segundo Batsis e Villareal (2018), até o momento não se sabe se alguma ferramenta proposta para a triagem da sarcopenia é superior às outras, porque não foi realizado um estudo comparativo para avaliar esses diferentes instrumentos. Avalia-se o teste de triagem pela sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP) e valor preditivo negativo (VPN). Como regra geral, um teste de triagem de “exclusão” é aquele que possui alta sensibilidade e alto VPN, enquanto um teste de triagem de “regra geral” teria alta especificidade e alto VPP. Dessa forma, os métodos atuais de triagem são principalmente testes de “exclusão”, uma vez que identificam aqueles que não correm risco de sarcopenia na comunidade. (BATSIS; VILLAREAL, 2018). De acordo com o Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Idosos (EWGSOP) datado de 2018, esta doença é uma síndrome geriátrica e para seu diagnóstico recomenda-se embasamento na confirmação de baixa quantidade de massa muscular esquelética, somada a uma das seguintes opções: baixa força muscular ou baixo desempenho funcional. Um instrumento para a avaliação do risco para sarcopenia foi descrito pela primeira vez em 2013, sendo denominado SARC-F. Esse questionário é constituído por cinco perguntas objetivas, conforme descrito na figura I. (MALMSTROM; MORLEY, 2013). O questionário SARC-F foi definido para triar o risco de sarcopenia, pois avalia: força muscular, necessidade da assistência para caminhar, capacidade de levantar-se de uma cadeira, subir escadas e a frequência de quedas. A pontuação dada a cada item é de 0 a 2 pontos, podendo chegar à soma de 0 a 10 pontos. Pacientes que apresentem um resultado maior ou igual a 4 são classificados em risco para sarcopenia. O EWGSOP2 de 2018 recomenda o uso do questionário SARC-F como forma de triar pacientes com sinais característicos de sarcopenia, descrevendo que ele pode ser usado tanto na comunidade como em ambientes hospitalares devido seu baixo custo e ampla aplicabilidade. O SARC-F apresenta de baixa a moderada sensibilidade e alta especificidade para prever baixa força muscular.

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Figura I-Questionário SARC-F, versão original (Malmstrom; Morley, 2013).

A figura II apresenta o Algoritmo para identificar a sarcopenia descrito por CRUZ-JENTOFT et al.,2018

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Como visto no algoritmo acima, para triagem e diagnóstico de sarcopenia, recomenda-se seguir o caminho:

Find cases-Assess-Confirm-Severity (avaliar-confirmar a gravidade):

Find cases (encontrando casos): Identificar indivíduos com risco de sarcopenia (uso do questionário SARC-F ou suspeita clínica para encontrar sintomas associados à sarcopenia); Assess (Avaliar): Avaliar a evidência de sarcopenia (recomenda o uso de força de preensão ou o Teste de levantar da cadeira com pontos de corte específicos para cada teste); Confirm (Confirmar): Para confirmar a sarcopenia por detecção de baixa quantidade e qualidade muscular, aconselha-se aplicar-se DXA (Densitometria óssea) e BIA (bioimpedância elétrica) na prática clínica e DXA (Densitometria óssea), BIA (Bioimpedância elétrica), TC (Tomografia computadorizada) ou RM (Ressonância magnética) em estudos de pesquisa; Severity (Determinar a gravidade): Pode ser avaliada por medidas de desempenho; Velocidade de marcha, SPPB (Short Physical Performance Battery), TUG (teste Get-up-and-go) e teste de caminhada de 400 m (CRUZ-JENTOFT et al.,2018). A Força de Preensão Palmar (FPP) para a avaliação do desempenho funcional é avaliada em quilograma (kg), por meio do uso de um dinamômetro. Para tanto, o indivíduo deve estar sentado e sem apoio de braço, com os ombros aduzidos e em rotação neutra, com o cotovelo flexionado a 90°, antebraço em posição neutra e punho variando de 0 a 30º de extensão, conforme recomendação da American Society of Hand Therapists (ASHT, 1992). Recomenda-se também que sejam coletadas três medidas de ambos os braços num intervalo de descanso de um minuto entre elas, utilizando-se o maior valor obtido. Para o teste da velocidade da marcha o participante deve caminhar por uma distância de 10 metros em linha reta, sendo o tempo utilizado para completar o percurso dividido pela distância, para se obter a medida da velocidade da marcha (m/s). É solicitado que o participante caminhe em seu passo normal, mesmo utilizando auxílios para a marcha. Esse teste é realizado três vezes e excluídos os primeiros e últimos três metros para permitir a aceleração e desaceleração do idoso. Uma velocidade inferior a 0,8 m/s é considerada como risco para sarcopenia. (PAULA et al., 2016). O teste Get-up-and-go (TUG) é uma avalia-

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ção cronometrada sobre o tempo que uma pessoa leva para levantar de uma cadeira, caminhar uma distância de 3 metros, retornar usando o mesmo percurso e sentar novamente. A pontuação é dada pelo tempo que durou o teste, sendo que resultados com tempo menor ou igual 10 segundos representam bom equilíbrio e mobilidade e tempo maior que 10 segundos é insatisfatório (ANJOS et al., 2018). Embora os testes 8-Foot Up-and-Go (8UG) que se trata de levantar, ir e voltar, sendo utilizado para analisar velocidade; e o Get-up-and-go TUG, sejam indicados para avaliar o desempenho funcional e tenham sensibilidade e especificidade semelhantes para adultos mais velhos, com e sem comprometimento cognitivo, o tempo de corte para o TUG na identificação do risco de queda é questionado. Por esta razão, o 8UG que possui um tempo de corte menor é o mais recomendado como medida de resultado apropriada para idosos (ROLENZ; RENEKER, 2016).

Considerando o conceito original de sarcopenia como perda de massa muscular, a metodologia de diagnóstico incialmente consiste em quantificar a massa muscular esquelética do indivíduo, podendo ser mensurada por diversos métodos como: ressonância nuclear magnética, tomografia computadorizada, bioimpedância (BIA), ultrassonografia, densitometria óssea corporal total e medidas antropométricas. (TEIXEIRA; FILIPPIN; XAVIER, 2012; BATSIS; VILLAREAL, 2018). Dentre os métodos citados, são considerados padrão para a estimativa da Massa Muscular Esquelética (MME) a Dual X-ray Absorptiometry (DEXA), a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. No entanto, possuem elevados custos financeiros fazendo como que, na maioria das vezes, se tornem inacessíveis para estudos populacionais (RECH et al., 2011). Diniz et al., em 2019, descreveram vários estudos com diferentes métodos para o diagnóstico da obesidade sarcopênica (OS). Um deles avaliou os parâmetros de composição corporal através da Densitometria por dupla emissão de raio-X (DEXA), da Impedância Bio-elétrica (BIA) e do Índice de Massa Corporal (IMC), concluindo que a obesidade Sarcopênica (OS) pode ser definida utilizando-se Massa Muscular Apendicular (MMA) ajustada para IMC pela razão MMA/IMC, com os seguintes pontos de corte: homens < 0.789 kg/m² e mulheres < 0.512 kg/m/², associada a porcentagem de gordura corporal (homens >25% e mulheres >35%). Contudo, infelizmente, ainda não existe um consenso sobre métodos e pontos de corte ideais para o diagnóstico da obesidade sarcopênica havendo, portanto, um interesse crescente em encontrar

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biomarcadores úteis para sua detecção e monitoramento (BATSIS; VILLAREAL, 2018).

Tratamento da obesidade sarcopênica

Tanto o exercício físico quanto a nutrição e os tratamentos farmacológicos têm sido propostos como mecanismos de prevenção e tratamento da sarcopenia e da obesidade sarcopênica. No entanto, até o momento, os procedimentos farmacológicos não demonstraram ser eficazes na prevenção da sarcopenia em humanos. Em contrapartida, medidas preventivas consistentes se embasam na prática regular de exercícios físicos e de uma dieta saudável ao longo da vida, pois parecem ser o único meio de desacelerar e aliviar a deterioração muscular e funcional que a sarcopenia acarreta (SANTOS et al., 2017). A prática de exercícios para o ganho de massa muscular e exercícios aeróbicos para melhorar a eficiência metabólica muscular deve ser orientada pelo fisioterapeuta, tanto na prevenção como no tratamento de quadros de obesidade sarcopênica, devendo sempre estar associada à terapêutica nutricional. Dessa forma, a adequada assistência nutricional constitui a base do tratamento do indivíduo com obesidade sarcopênica. (SANTOS et al., 2017). O tratamento nutricional da sarcopenia envolve a adequação do valor calórico à necessidade do indivíduo, associada à uma quantidade apropriada de proteínas de alto valor biológico e com atenção especial a alguns aminoácidos. (BATSIS; VILLAREAL, 2018). Aminoácidos de cadeia ramificada (AACR) são componentes essenciais na dieta humana e no caso da sarcopenia se tornam fundamentais, tendo em vista que isoleucina, leucina e valina, representam 35% de aminoácidos essenciais em proteínas musculares, atuam na manutenção da proteína corporal como fonte de nitrogênio e apresentam potenciais efeitos terapêuticos, atenuando a perda de massa magra durante a redução de massa corporal, além de melhorar o balanço proteico muscular em idosos (PEZOLATO, 2014). A leucina apresenta uma taxa de oxidação superior no tecido muscular em comparação com a isoleucina e a valina, estimulando o processo de anabolismo (PEZOLATO, 2014). Assim, há evidências de que a leucina desempenha um papel importante no auxílio do controle da sarcopenia e recuperação muscular, independentemente da prática de exercícios físicos. Estudos com músculo esquelético perfundido observaram que o fornecimento de leucina isoladamente estimula a síntese proteica muscular mais efetivamente que os três BCAA (Branched Chain Amino Acids), ou seja, Aminoácidos de Cadeia Ramificada recomendando-se, portanto, 3 g/dia de leucina (ASSUMPÇÃO et al., 2018). As carnes possuem uma relevante importância na alimentação, justamente por serem fonte de proteínas de alto valor biológico, fornecendo também lipídios. Sua ingestão fornece os nove aminoácidos essenciais, sendo eles: fenilalanina, valina, treonina, metionina, leucina, isoleucina, lisina e histidina, em proporções aproximadas às necessidades humanas (BRIDI, 2017). Segundo Fuller et al. (2015), pesquisas mostram a eficácia da suplementação de HMB-AL (beta- hidroxi-beta-metilbutirato) na potencialização de ganhos de força e massa muscular induzidos pelo treinamento. Uma das possíveis explicações para esses resultados é o tipo de complementação utilizado, sendo que estudos de cinética de absorção e biodisponibilidade demonstraram que o HMB-AL é mais biodisponível do que na forma de sal de cálcio, mesmo quando administrados em conjunto com água (FULLER et al.,2015). A complementação auxilia na diminuição da gordura corporal e aumenta a massa muscular e força em populações envelhecidas. A dose mais segura e eficaz para complementar e obter o máximo benefício é de 3 gramas de HMB no dia (PUERTAS, 2015). Alguns complementos alimentares como, por exemplo o Whey Protein ou diretamente o BCAA (Aminoácidos de Cadeia Ramificada), encontrados em forma de pó, tablete, cápsulas e líquido, também são indicados na sarcopenia. Contudo, a utilização de complementos é recomendada em casos em que não é possível se obter um consumo proteico adequado somente através das refeições. (ASSUMPÇÃO et al., 2018). O Whey Protein é de rápida absorção e contém os aminoácidos essenciais que estimulam a síntese de proteína muscular. Há evidências de que uma dose de 35g, resulte em uma melhor absorção dos aminoácidos e num maior incremento da síntese de proteína muscular, quando comparada com doses inferiores (CUNHA, 2017). A vitamina D é reconhecida como outra estratégia potencial de intervenção para a sarcopenia. Os idosos, em particular, têm risco aumentado de desenvolver carência em vitamina D (concentrações séricas inferiores a 25nmol/ L) (SANTOS et al., 2017). A maior fonte de Vitamina D é a exposição solar e as fontes alimentares apresentam variações na concentração dessa vitamina de acordo com as estações do ano e com a forma do cativeiro (SANTOS et al., 2017). Em se tratando da obtenção via dieta, Lichtenstein et al. (2013) destacaram como fontes

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naturais mais ricas em vitamina D3: os óleos de fígado e de peixe, além de partes comestíveis de peixes com valores elevados de gordura (sardinha e atum), fígado de mamíferos, ovos e produtos lácteos. Alguns estudos observaram que: a oferta diária de 1000 UI de vitamina D aumenta o diâmetro das fibras musculares do tipo II, presumindo-se que o receptor de vitamina D influencie o transporte de cálcio no sarcoplasma, ocasionando aumento na eficiência de contrações musculares dessas fibras, que são as primeiras a serem recrutadas em situações perigosas como o risco de quedas; e que uma dose superior a 25 μg / L de vitamina D se associa a melhora no desempenho do tecido muscular e desempenho físico e até que doses superiores a 38 μg / L em pessoas mais velhas, alcançam melhorias no desempenho muscular. Observou-se também que o consumo diário de 800 UI de vitamina D por 3 meses é capaz de reduzir o risco de quedas em 49% (FUENTES-BARRÍA, 2018). Já para o tratamento da obesidade é fato que o balanço energético negativo ocasionado por uma redução na ingestão de calorias resulta na diminuição da massa corporal, porém há muita complexidade sobre esse problema, que é multifatorial. O tratamento será mais bem sucedido se aliado a um programa de modificação comportamental, pois dietas restritivas, artificiais e rígidas não são sustentáveis a longo prazo, embora possam ser usadas por um período de tempo (ABESO, 2016). Dessa forma, se recomenda uma dieta balanceada e calculada para promover um déficit de 500 a 1.000Kcal/dia, visando uma redução de 0,5 a 1,0Kg por semana, mantendo um mínimo de 1.000 a 1.200 Kcal por dia para mulheres e 1.200 a 1.400 Kcal por dia para homens. A recomendação para a distribuição dos macronutrientes é: gorduras entre 20 e 30% do valor calórico total; 55 a 60% de carboidratos e 15 a 20% de proteína (HAACK, et al., 2019). De acordo com a Recommended Dietary Allowance (RDA), a ingestão proteica para idosos deve ser de 0,8 g/kg/dia. Porém, verifica-se que mesmo diante desta quantidade de proteína, a massa muscular esquelética se mantém reduzida nesses indivíduos, assim como a excreção urinária de nitrogênio, observando quadro de resistência ao anabolismo (SANTOS et al., 2017). Assim, sugere-se que nos casos de obesidade sarcopênica seja utilizada dieta hiperprotéica, considerada acima de 1,0g de proteína por Kg de peso e se monitore a composição corporal para avaliação da massa muscular (HAACK et al., 2019). Já segundo Assumpção et al. (2018), a dose de ingestão de proteínas é de até 1,6 g/kg/dia para o tratamento da sarcopenia, sendo preferencialmente de origem animal, representando cerca de 75% de Proteínas de Alto Valor Biológico, cujas principais fontes alimentares são as carnes.

.......... Considerações Finais ............

O envelhecimento, processo fisiológico natural, confere aos indivíduos maior vulnerabilidade, com diminuição da capacidade funcional e cognitiva e incidência de desvios nutricionais que podem levar à desnutrição e obesidade, sendo a obesidade sarcopênica bastante incidente nessa população. A obesidade sarcopênica se refere a pessoas que simultaneamente apresentam excesso de gordura corporal e perda significativa de massa e força muscular esquelética. É um estado inflamatório onde os adipócitos secretam ativamente leptina e citocinas, que estimulam o catabolismo muscular e, assim, ativam um ciclo vicioso que leva à sarcopenia acelerada e ganho de peso. A alta prevalência da obesidade sarcopênica e suas consequências, especialmente em idosos, a torna um importante problema de saúde pública, sendo necessárias estratégias para prevenir este fenótipo da composição corporal. Assim, implantação de diretrizes intersetoriais visando incentivar a prática de atividade física, promoção da alimentação saudável e acompanhamento nutricional é de suma importância para atender as necessidades nutricionais específicas para cada indivíduo, favorecendo a perda de peso saudável e o reganho da massa magra. A assistência nutricional dessa população envolve a adequação do valor calórico à necessidade de cada indivíduo, associada à uma quantidade, qualidade e distribuição apropriada de proteínas de alto valor biológico ao longo do dia, com atenção especial aos aminoácidos essenciais, especialmente leucina em uma quantidade de 3 gramas/dia. Indica-se também o consumo de vitamina D de 800 UI por 3 meses, visando-se a redução das quedas e de 1000 UI para aumentar o diâmetro das fibras musculares do tipo II. Evidenciou-se a necessidade de mais estudos serem realizados sobre o tema, bem como sobre a análise de fatores que podem vir a interferir no diagnóstico de sarcopenia, especialmente quando se trata de idosos obesos sarcopênicos.

Estratégias Nutricionais para o Tratamento da Obesidade Sarcopênica em Idosos: Revisão da Literatura

Sobre os autores

Dra. Ana Paula Costa Santos - Nutricionista clínica. Pós-graduanda em Nutrição Clínica, Centro Universitário São Camilo- São Paulo. Dra. Silvania Gomes de Carvalho dos Santos - Nutricionista clínica. Pós-graduanda em Nutrição clínica, Centro Universitário São Camilo- São Paulo. Profa. Dra. Vera Silvia Frangella - Docente do curso de graduação em Nutrição. Coordenadora do curso de Pós Graduação em Nutrição Clínica, Centro Universitário São Camilo-São Paulo.

PALAVRAS-CHAVE: Obesidade. Sarcopenia. Idoso. Envelhecimento. KEYWORDS: Obesity. Sarcopenia. Elderly. Aging.

RECEBIDO: 20/11/21 – APROVADO: 29/4/22

REFERÊNCIAS

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