Nutrição em Pauta ed mar2021 digital

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ISSN 2236-1022 A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO

R$30,00 - março 2021 Ano 11 Número 61 Edição Digital São Paulo

CLÍNICA

A INFLUÊNCIA DO ESTADO NUTRICIONAL SOBRE A DOENÇA DE ALZHEIMER

FUNCIONAIS

A FITOTERAPIA COMPLEMENTANDO A ALIMENTAÇÃO: COMO MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA?

CULTIVO ORGÂNICO AGROECOLÓGICO www.nutricaoempauta.com.br

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ESPORTE MARÇO 2021

| GASTRONOMIA | SAÚDE PÚBLICA | FOOD | PEDIATRIA NUTRIÇÃO EM PAUTA 1



editorial

por Sibele B. Agostini

Cultivo Orgânico Agroecológico como Alternativa de Promoção da Sustentabilidade, Educação Ambiental e Nutricional: Uma Revisão A Agroecologia tem como objetivo compreender a forma, a dinâmica e a função das relações ecológicas em campo, destacando a importância da compreensão destes processos e suas relações, no melhor manejo dos agroecossistemas, visando a maximização da produção com menos impactos ambientais e sociais negativos, crescimento sustentável e menor uso de insumos externos. Estimular o consumo e o cultivo de alimentos orgânicos torna-se então, um dos métodos essenciais de propagação da chamada “Educação Ambiental” que aliada aos princípios agroecólogicos promove uma maior sustentabilidade, gerando renda para agricultores familiares e levando à mesa de seus consumidores, alimentos mais seguros e cheios de sabor. Prepare-se para o Mega Evento Nutrição 2021 Online, englobando o 22o Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 22o Congresso Internacional de Gastronomia e Nutrição, 9o Congresso Multidisciplinar de Nutrição Esportiva, 17o Fórum Nacional de Nutrição, 16o Simpósio Internacional da American Academy of Nutrition and Dietetics (USA), 14o Simpósio Internacional da Nutrition Society (United

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Kingdom), 14o Simpósio Internacional do Le Cordon Bleu (França), 22a Exposição de Produtos e Serviços em Nutrição e Alimentação, dentre outros, que será realizado em São Paulo em agosto de 2021 e já conta com parcerias com as principais entidades internacionais e nacionais do setor. E o EAD Profissional Nutrição em Pauta, nova plataforma de ensino à distância, que conta com vários cursos online: Mindful Eating, Nutrição Esportiva, Nutrição e Pediatria, Fitoterapia, Nutrição e Estética, Envelhecimento, Emagrecimento, e muito mais.

Aproveite as informações científicas atualizadas desta edição da revista Nutrição em Pauta. Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 – 3a Região NUTRIÇÃO EM PAUTA

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nesta edição MARÇO 2021

5. Cultivo Orgânico Agroecológico como Alternativa de Promoção da Sustentabilidade, Educação Ambiental e Nutricional: Uma Revisão 10. A Influência do Estado Nutricional sobre a Doença de Alzheimer 16. Crononutrição e Sua Influência na Redução de Obesidade e Doenças Crônicas Não Transmissíveis 21. Ambiente Remoto de Estágio em Nutrição Social no Curso de Graduação: Um Relato de Experiência 26. Fatores Associados ao Diabetes em Idosos 33. Desenvolvimento de Receitas Culinárias Adaptadas às necessidades Nutricionais e Hábitos Alimentares de Idosos 40. A Fitoterapia Complementando a Alimentação: Como Melhorar a Qualidade de Vida? 46. Desenvolvimento de Muffin de Brócolis para Consumo em Dietas com Baixo Teor de Carboidrato.

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A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO

ISSN 2236-1022

Ano 11- número 61 - março 2021 - edição digital

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Publicação Bimestral da Nutrição em Pauta Ltda ME - Atualização Científca em Nutrição - R. Cristovão Pereira 1626 cj101 - Campo Belo - 04620-012 - São Paulo - SP - Brasil - Tel 55 11 5041-9321 nucleo@nutricaoempauta.com.br - www.nutricaoempauta.com.br

Dra. Sibele B. Agostini | redacao@nutricaoempauta.com.br Cláudio G. Agostini Jr. | diretoria@nutricaoempauta.com.br Prof. Dra. Andréa Ramalho (UFRJ/RJ),Prof. Dra. Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Claudia Cople (UERJ/RJ), Prof. Dr. Dan Waitzberg (FMUSP/SP), Prof. Dra. Eliane de Abreu – (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Fernanda Lorenzi Lazarim (UNICAMP/SP), Prof. Dra. Flávia Meyer (UFRGS/RS), Prof. Dra. Josefna Bressan (UFV/MG), Prof. Dra. Joy Dauncey (Cambridge/UK), Prof. Dra. Lilian Cuppari (UNIFESP/SP), Prof. Dra. Marcia Regina Vitolo (UNISINOS/RS), Prof. Dra. Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO), Prof. Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP/SP), Prof. Dr. Melvin Williams (Maryland/USA) , Prof. Dra. Mirtes Stancanelli (UNICAMP/ SP), Prof. Dra. Nailza Maestá (UNESP/SP), Prof. Dra. Nelzir Trindade Reis (UVA/RJ), Prof. Dr. Ricardo Coelho (UNIUBE/MG), Prof. Dr. Roberto Carlos Burini (FMUNESP/SP), Prof. Dra. Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC), Prof. Dra. Sonia Tucunduva Phillipi (USP/SP), Prof. Tereza Helena Macedo da Costa (UnB/DF), Prof. Dra. Tais Borges Cesar (FCF-UNESP/SP).

Chef Patrick Martin Chef Fabiana B. Agostini Alexandre Agostini assinaturas@nutricaoempauta.com.br A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP Produzida em março de 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA


matéria de capa

Agricultural Organic Cultivation as an Alternative to Promote Sustainability, Environmental and Nutritional Education: A Review

Cultivo Orgânico Agroecológico como Alternativa de Promoção da Sustentabilidade, Educação Ambiental e Nutricional: Uma Revisão RESUMO: o presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão literária narrativa ressaltando a importância da abordagem agroecológica no cultivo de alimentos orgânicos, como alternativa de promoção da sustentabilidade e da Educação Ambiental e Nutricional. Para a coleta de dados foi realizada uma revisão de literatura compreendida pelas seguintes etapas: identificação do tema e formulação da pesquisa, relevância dos artigos encontrados, leitura e avaliação dos artigos selecionados, interpretação dos resultados obtidos e apresentação da revisão no periódico de 2002 à 2018. Os resultados encontrados sugeriram a relevância que a aproximação homem-natureza possui dentro do contexto agroecológico, e que compreender a fundo tal relação é de caráter primordial na busca pela promoção da sustentabilidade que, aliada a atividades de educação ambiental e nutricional torna-se uma excelente alternativa na busca de um ponto de equilíbrio entre a humanidade e o meio ambiente. ABSTRACT: The present study aimed to carry out a narrative literary review emphasizing the importance of the agroecological approach in the cultivation of organic foods, as an alternative to promote sustainability and Environmental and Nutritional Education. For data collection, a literature review was performed, comprising the following steps: identification of the theme and formulation of the research, relevance of the articles found, reading and evalMARÇO 2021

uation of the selected articles, interpretation of the results obtained and presentation of the review in the journal from 2002 to 2018 The results found suggested the relevance that the human-nature approach has within the agroecological context, and that understanding this relationship in depth is essential in the search for the promotion of sustainability which, together with environmental and nutritional education activities, becomes an excellent alternative in the search for a balance between humanity and the environment.

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Introdução

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Segundo Ruscheinsky (2002), torna-se de caráter substancial deixar de lado a agricultura convencional há tempos utilizada, e partir em direção à um meio de cultivo mais autossustentável e menos agressivo à natureza. Diante disso, a Agroecologia se apresenta como um espaço em construção que pode trazer inúmeros benefícios para quem produz, para quem consome e para o conjunto do meio ambiente (SILVEIRA FILHO, 2012), pois exige uma agricultura que adote os princípios de manejo dos recursos naturais, a seleção e o uso de tecnologias de produção resultantes da combinação e integração entre a Ecologia e a Agronomia (CAPORAL; COSTABEBER, 2003). A Agroecologia tem como objetivo compreender NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Cultivo Orgânico Agroecológico como Alternativa de Promoção da Sustentabilidade, Educação Ambiental e Nutricional: Uma Revisão a forma, a dinâmica e a função das relações ecológicas em campo, destacando a importância da compreensão destes processos e suas relações, no melhor manejo dos agroecossistemas, visando a maximização da produção com menos impactos ambientais e sociais negativos, crescimento sustentável e menor uso de insumos externos (ALTIERE, 2002). Diante disso, a sustentabilidade incorporou legislações para o uso de agrotóxicos, segurança alimentar, produção natural e valores agregados à origem e qualidade dos alimentos, dando espaço ao incentivo no plantio de produtos mais atentos ao interesse de consumidores preocupados com aspectos ambientais, de saúde humana e preservação do planeta, levando a agricultura orgânica à um patamar diferenciado do convencional (DIAS et al., 2015). A construção e disseminação de hortas orgânicas sustentáveis propõem um modelo ideal de produção, em harmonia com a natureza, minimizando ao máximo, possíveis impactos ambientais, devido à utilização de agroquímicos (ARAÚJO, 2016). Estimular o consumo e o cultivo de alimentos orgânicos torna-se então, um dos métodos essenciais de propagação da chamada “Educação Ambiental” que aliada aos princípios agroecólogicos promove uma maior sustentabilidade, gerando renda para agricultores familiares e levando à mesa de seus consumidores, alimentos mais seguros e cheios de sabor. Os alimentos produzidos por meio do cultivo orgânico possuem uma maior quantidade de vitaminas e sais minerais, pois são provenientes de solos mais ricos e equilibrados em nutrientes, isentos da utilização de pesticidas e agrotóxicos que causam danos, por vezes, irreparáveis na qualidade de vida dos indivíduos. Esta pesquisa tem como objetivo ressaltar a importância da abordagem agroecológica no cultivo de alimentos orgânicos, visando à promoção da sustentabilidade e a Educação Ambiental e Nutricional.

. . . ............. Meto dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O método utilizado para a realização desta pesquisa foi uma revisão literária narrativa, compreendida pelas seguintes etapas: identificação do tema e formulação da pesquisa, relevância dos artigos encontrados, leitura e avalição dos artigos selecionados, interpretação dos resultados obtidos e apresentação da revisão. Foram utilizados como critério de inclusão artigos originais e de exclusão trabalhos que fugissem da temática “Agricultura Susten-

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tável”, “Agricultura Orgânica”, “Educação Ambiental e Nutricional”. A pesquisa fez uso dos Descritores em Ciência da Saúde “Decs” em português e inglês e as bases de dados utilizados foram, SCIELO, PUBMED em artigos publicados no periódico de 2002 à 2018 com as, palavras-chave: “Agricultura Sustentável” ”, “Agricultura Orgânica”, “Educação Ambiental, “ Educação Nutricional “Sustentabilidade” em português e inglês.

. . . . . . . . . . . . . . . . R e su lt a d o s . . . . . . . . . . . . . . ........ Abordagem agroecológica no conceito de produção sustentável. A Agroecologia stricto senso pode ser definida como uma nova e mais qualificada aproximação entre a Agronomia e a Ecologia. Trata-se de uma disciplina científica que estuda e classifica os sistemas agrícolas de uma perspectiva ecológica, de modo a orientar o desenho ou o redesenho de agroecossistemas em bases mais sustentáveis. Esta nova aproximação implica no estudo e aplicação de princípios vitais, como a coevolução sociedade-natureza, reciclagem de nutrientes, potencialização ou criação de sinergias e interações entre plantas (cultivadas ou não), animais, solo, etc. Em outras palavras, poderia se abordar este tema a partir do conceito de “Biomímese”, isto é, “compreender os princípios de funcionamento da vida, em seus diferentes níveis (e em particular no nível ecossistêmico), com o objetivo de reconstruir os sistemas humanos de maneira que se encaixem adequadamente nos sistemas naturais” (RIECHMANN, 2003; CAPORAL; AZEVEDO, 2011), sendo, portanto, necessário ao indivíduo entender o “Sistema Complexo” no qual os processos ecológicos como, por exemplo: ciclagem de nutrientes, interações predador-presa, competição, simbiose e câmbios sucessionais se encontram e ocorrem naturalmente (ALTIERE, 2002). Os sistemas agroecológicos, como a agricultura orgânica e outras formas de agricultura sustentável de conservação do solo, podem competir com a agricultura convencional e têm o potencial de manter a produtividade alimentar, melhorando a qualidade da saúde e da dieta, bem como sustentando solos, águas e ecossistemas (HALBERG et al., 2015). Eles, portanto, possuem uma importância significativa para o futuro por causa de sua dependência reduzida de combustíveis fósseis para energia e fertilizantes baratos e da ideia ingênua de que a tecnologia NUTRIÇÃO EM PAUTA


Agricultural Organic Cultivation as an Alternative to Promote Sustainability, Environmental and Nutritional Education: A Review pode continuar a resolver tais problemas (WEIS, 2010; BALL; HARGREAVES; WATSON, 2017). Benefícios socioambientais, econômicos e nutricionais da Agricultura Orgânica. Os defensores da agricultura orgânica frequentemente apontam as múltiplas desvantagens das práticas convencionais, industriais e agrícolas (TAI, 2018). Eles reivindicam uma série de benefícios que a agricultura orgânica fornece tais como: eliminar as exposições crônicas e agudas a pesticidas tóxicos entre trabalhadores agrícolas, consumidores, bem como ecossistemas aquáticos e terrestres circundantes, produtos com maior valor nutricional em teor de vitaminas e minerais, solo saudável com microbiota que facilita a disponibilidade de nutrientes para as plantas; evitar mutações genéticas e o desenvolvimento de imunidade entre os insetos, reduzindo os surtos de pragas que os pesticidas podem promover involuntariamente; elimina o gasto de muitos insumos - incluindo inseticidas, herbicidas e fertilizantes sintéticos - a agricultura orgânica custa menos e é economicamente competitiva. Por contar com os insumos existentes na natureza, oferece uma orientação mais harmoniosa em relação ao mundo natural e, como tal, constitui uma estratégia ética preferível para a humanidade (JARCZOK-GUZY, 2018). Cultivo orgânico agroecológico: elementos necessários para iniciar o plantio. O cultivo em sistema orgânico é uma atividade em constante crescimento no mundo. Este tipo de sistema de produção é usado, particularmente, por agricultores familiares, por sua adequação às características das pequenas propriedades com gestão familiar, pela diversidade de produtos cultivados em uma mesma área, pela menor dependência de recursos externos, com maior absorção de mão de obra familiar e menor necessidade de capital (SEDIYAMA et al., 2014). Para dar-se início ao plantio orgânico é necessário atentar-se à alguns pré-requisitos importantes como: o manejo do solo, a matéria orgânica utilizada, adubação verde, compostagem entre outros fatores, que se enquadram no cultivo sustentável e agroecológico. O conceito de manejo biológico do solo é um dos elementos que vem ganhando bastante notoriedade desde a década de 90, através do reconhecimento do papel regulatório das populações de organismos e de suas atividades sobre a fertilidade do solo. Este tipo manejo enfatiza que a potencialização das atividades biológicas do solo ocorram MARÇO 2021

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da maneira mais natural possível (LIMA et al., 2011). A matéria orgânica, outro ponto importante neste tipo de cultivo, é a parte do solo que já foi ou ainda é viva, constituída de resíduos de origem vegetal ou animal, como: estercos, restos de cultura que ficam no campo, folhas, cascas e galhos de árvores, raízes das plantas, e animais que vivem no solo, como minhocas, cupins, formigas, besouros, fungos, bactérias e outros microrganismos. Tais componentes vivos (como os pequenos animais) ou já em decomposição (como os resíduos de plantas incorporados ao solo ou em cobertura) são responsáveis pela produção de carbono, principal constituinte da matéria orgânica, mas a ele estão ligados vários outros elementos importantes, como por exemplo o nitrogênio. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos e que garante que ele se mantenha “vivo”. (ALCÂNTARA; MADEIRA, 2008). Ademais, os fatores que devem ser desenvolvidos no cultivo orgânico são métodos sustentáveis para manejo de pragas e doenças, plantas espontâneas, rotação de culturas, consorciação de olerícolas, (no caso das hortaliças) contribuindo assim, para a melhoria da produção orgânica (SEDIYAMA et al., 2014). Hortas orgânicas e sustentáveis no âmbito escolar: uma alternativa de promoção da s ustentabilidade, Educação Ambiental e Nutricional. Cultivar hortas em pequenos espaços é uma alternativa ideal para pessoas que não possuem em suas casas ou apartamentos, espaço suficiente para o preparo de uma horta em canteiros, que é o método tradicional (CLEMENTE; HARBER, 2012). Esta atividade também pode ser reproduzida no ambiente escolar, onde as hortas podem servir de “laboratórios vivos”, possibilitando o desenvolvimento de inúmeras atividades pedagógicas em Educação Ambiental e Nutricional, unindo teoria e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem, estreitando relações através da promoção do trabalho coletivo e cooperação solidária entre os agentes sociais envolvidos (MORGADO, 2006; ENO; LUNA; LIMA, 2015). Segundo Oliveira (2004), para promover a Educação Ambiental é necessário uma abordagem multidisciplinar, já que esta lida, com a realidade e atua em todos os aspectos que compõem a questão ambiental e sociocultural procurando estabelecer um diálogo entre as diversas culturas presentes nos mais diversos espaços/tempos sociais (SILVEIRA FILHO, 2012). Torna-se, portanto, fundamental lançar mão da Educação Ambiental na promoção NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Cultivo Orgânico Agroecológico como Alternativa de Promoção da Sustentabilidade, Educação Ambiental e Nutricional: Uma Revisão de uma nova cultura alimentar nas escolas, possibilitando que o educando conheça a importância dos alimentos, da higienização dos mesmos, do valor nutricional, sobretudo despertando gestores escolares, pais e responsáveis para a análise crítica sobre propagandas de produtos alimentícios pouco nutritivos, levando-os à mudança, buscando promover assim, uma reeducação alimentar (PIMENTA; RODRIGUES, 2011). Para realizar a implantação de hortas no ambiente escolar podem ser utilizados inúmeros materiais, como pneus, garrafas pet, canos de PVC, baldes, latas, canteiro de madeira suspenso, jardineira de alvenaria, tambores de latão e/ou de plástico (CLEMENTE; HARBER, 2012), oriundos do processo de reciclagem, onde há o aproveitamento 100% dos resíduos produzidos, que dão origem à novos produtos diminuindo assim, o acúmulo no meio ambiente (FONSECA et al., 2017). Em um estudo realizado por Pimenta e Rodrigues (2011) foram observados durante cinco meses, o passo a passo na implantação de uma horta orgânica comunitária realizada por crianças em uma escola, localizada na região noroeste da cidade de Goiânia, Goiás, Brasil. O projeto se iniciou com uma coleta seletiva de garrafas que foram utilizadas para a montagem de canteiros e vasinhos decorados para plantação de mudas, e na montagem de composteiras, para tratamento dos resíduos da cozinha, folhas e grama do pátio. Foi ressaltado perante à comunidade escolar, os cuidados que deveriam ter durante a produção do adubo orgânico, destacando pontos importantes para o processo de compostagem como: manter aeração constante e o material sempre úmido em elevadas temperaturas, bem como, realizar a manutenção do formato das leiras que são áreas onde são colocados pedaços de madeira velha que formam cochos e armazenam folhas, gramas etc., durante processo de decomposição, originando o adubo orgânico. Após essas atividades as crianças tiveram a oportunidade plantar e semear as mudas e sementes nos vasos, demostrando crescente interesse no crescimento das hortaliças cultivadas e respeito e cuidado com meio ambiente.

. . . ....... C ons idera çõ es Finais . . . . . . . . . . . . O conhecimento bem como, a compreensão das diversas relações e interações homem-natureza, é um ponto primordial para a preservação e/ou recuperação dos

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recursos naturais do nosso planeta. Diante disso, Agricultura orgânica tem se tornado cada vez mais necessária, por ser uma excelente alternativa agroecológica, que coexiste em inúmeros contextos sociais, promovendo renda, sustentabilidade e qualidade de vida para quem produz e para quem consome. É importante ressaltar, que não se trata apenas de tentar “alimentar o mundo”, mas sim de compreender toda a responsabilidade que esta ação acarreta seja para o indivíduo, seja para a coletividade, seus benefícios e consequências. Estimular o cultivo natural e sustentável, a reciclagem de materiais, uma alimentação mais variada em frutas e verduras, são atitudes autossustentáveis excelentes na busca por esse equilíbrio do homem com o meio ambiente.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Julianne Marinho Morais Aguiar - Discente do Curso de Bacharelado em Nutrição pelo Centro Universitário Santo Agostinho- UNIFSA, Teresina, PI, Brasil. Profa. Dra. Liejy Agnes dos Santos Raposo Landim – Nutricionista. Doutoranda em Alimentos e Nutrição pela UFPI. Mestre em Alimentos e Nutrição pela UFPI. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina, Piauí, Brasil. Prof. Adolfo Marcito Campos de Oliveira – Farmacêutico pela UFPB. Mestre e doutorando em Alimentos e Nutrição pela UFPI. Docente do curso de Bacharelado em Farmácia e Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina, Piauí, Brasil. Prof. Cícero Tadeu Tavares Duarte - Administrador /CEUT. Mestre em Engenharia de Produção/ UNIP. Docente do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina, Piauí, Brasil.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS- CHAVES: Agricultura sustentável. Agricultura orgânica. Educação ambiental. Educação nutricional. Sustentabilidade. Keywords: Sustainable agriculture. Organic agriculture. Environmental education. Nutrition education. Sustainability. NUTRIÇÃO EM PAUTA


Agricultural Organic Cultivation as an Alternative to Promote Sustainability, Environmental and Nutritional Education: A Review

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 5/9/19 – APROVADO: 25/2/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

ALCÂNTARA, F A ; MADEIRA, N R. Manejo do solo no sistema de produção orgânico de hortaliças. Brasília DF: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária, 2008. Disponível em:< https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/ CNPH-2009/34840/1/ct_64.pdf> acessado em 18/02/2021 às 20h: 38 minutos. ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba, RS: Agropecuária, p.592, 2002. ARAÚJO, A. S. O planejamento urbano e ambiental na construção de cidades sustentáveis: as hortas urbanas comunitárias em Porto, Portugal, e Belo Horizonte, Brasil. URBANA: Revista Eletrônica do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Cidade, v. 8, n. 2 [13], p. 190-209, 2016. BALL, B C; HARGREAVES, P R; WATSON, C A. Uma estrutura de conexões entre o solo e as pessoas pode ajudar a melhorar a sustentabilidade do sistema alimentar e das funções do solo. Ambio. nº 47. vº3. p. 269–283, 2017. BRITO, W. de A.; FREITAS, M. A. A. Horta orgânica: segurança alimentar do campo à mesa. Aracaju: EMDAGRO, p22. EMDAGRO. Série Tecnologia Agropecuária, 2004. CAPORAL, F.R; AZEVEDO, E.O. Princípios e perspectivas da Agroecologia. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná – Educação a Distância, 2011. CAPORAL, F.R.; COSTABEBER, J. A.; Segurança Alimentar e Agricultura Sustentável: Uma perspectiva Agroecológica. Ciência e ambiente, Srta Maria-RS, v.1. n.27, p.153-165, 2003. CLEMENTE, F M. V. T; HABER L L. Horta em pequenos espaços. Brasília, DF: Embrapa, 2012. 56 DIAS, V. V., et al. O Mercado de Alimentos Orgânicos: Um Panorama Quantitativo e Qualitativo das Publicações Internacionais. Ambiente & Sociedade. São Paulo v. XVIII, n. 1 n p. 161-182 n jan.-mar. 2015. ENO, E. G. J.; LUNA, R. R.; LIMA R. A. Horta na escola: incentivo ao cultivo e a interação com o meio ambiente. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental Santa Maria, vº 19; nº1; p. 248-253; jan.-abr. 2015. HALBERG N; PANNEERSELVAM P; TREYER S. Intensificação eco-funcional e segurança alimentar: Sinergia ou compromisso? Pesquisa em Agricultura Sustentável. vº 4. MARÇO 2021

matéria de capa

p.126–139, 2015. JARCZOK-GUZY, M. Obstáculos ao desenvolvimento do mercado de alimentos orgânicos na Polônia e as possíveis direções de crescimento. Food Science & Nutrition. nº6. vº(6). p.1462–1472, 2018. LIMA PC, et al. Manejo da adubação em sistemas orgânicos. Tecnologias para produção orgânica. Viçosa, Unidade Regional EPAMIG Zona da Mata. p.69-106, 2011. MORGADO, F.S. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do Projeto Horta Viva nas escolas municipais de Florianópolis. Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. OLIVEIRA, I. B. (Org.). Alternativas emancipatórias em currículo. Série Cultura, Memória e Currículo, vº 4,São Paulo, 2004. PIMENTA, J. C.; RODRIGUES, K. S. M. Projeto Horta Escola: Ações de Educação Ambiental na Escola Centro Promocional todos os Santos de Goiânia (GO) SEAT – Simpósio de Educação Ambiental e Transdisciplinaridade UFG / IESA / NUPEAT - Goiânia, 2011. RIECHMANN, J; ROMANO, D . Indústria como natureza: rumo à produção limpa. Madrid: Catarata, p.239255, 2003. RUSCHEINSKY, Aloísio. Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002. SEDIYAMA, M. A. N.; SANTOS, I. C. ; LIMA, P. C. Cultivo de hortaliças no sistema orgânico. Rev. Ceres, Viçosa, v. 61, Suplemento, p. 829-837, 2014. SILVEIRA FILHO, José. A sustentabilidade socioambiental das hortas orgânicas escolares da Prefeitura Municipal de Fortaleza. COLASER- Congresso Latino Americano de Sustentabilidade Socioambiental: Espaços rurais e Contemporaneidade, 2012. TAI, A. Tornar a agricultura convencional ecologicamente correta: indo além da glorificação da agricultura orgânica e da demonização da agricultura convencional . Sustainability, nº 10. vº ( 54 ), 1-17, 1078, 2018. WEIS T. As contradições biofísicas aceleradas da agricultura capitalista industrial. Journal of Agrarian Change. nº 10. p. 315–341, 2010.

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The Influence of The Nutritional State on Alzheimer’s Disease

A Influência do Estado Nutricional sobre a Doença de Alzheimer

RESUMO: Entre as complicações nutricionais mais comuns na doença de Alzheimer está a perda de peso, levando o indivíduo a desenvolver desnutrição devido à dificuldade em engolir, o que pode levar a um agravamento da doença, devido à baixa ingestão de alimentos e, como resultado, perda de nutrientes e calorias. A nutrição pode ter efeitos prováveis na doença de Alzheimer, ou seja, uma dieta adequada pode ajudar na prevenção ou tratamento da doença de Alzheimer. O objetivo geral deste estudo foi realizar uma revisão integrativa sobre a influência do estado nutricional na doença de Alzheimer. A pesquisa foi realizada por meio de busca eletrônica no banco de dados: Bireme e Google Scholar, com o intuito de identificar referências científicas entre 2014 e 2020, utilizando os seguintes descritores: “nutrição”, “estado nutricional” e “Alzheimer”. Uma seleção foi feita com base nos dados relevantes e foram selecionados 6 artigos. Observou-se que nos estudos analisados foi possível perceber que existe uma correlação entre o estado nutricional e a doença de Alzheimer. Conclui-se que a doença de Alzheimer pode influenciar o estado nutricional do idoso, devido à dificuldade de deglutição, disfagia, deficiêcia na ingestão calórica, entre outros fatores, levando os pacientes a apresentar algum risco de desnutrição ou mesmo desnutrição.

plications in Alzheimer’s disease is weight loss, leading the individual to develop malnutrition due to difficulty in swallowing, which can lead to an aggravation of the disease, due to low food intake and, as a result, loss of nutrients and calories. Nutrition can have likely effects on Alzheimer’s disease, meaning that an adequate diet can help in the prevention or treatment of Alzheimer’s disease. The general objective of this study was to carry out an integrative review on the influence of nutritional status in Alzheimer’s disease. The research was carried out through an electronic search in the database: Bireme and Google Scholar in order to identify scientific references between 2014 and 2020, using the following descriptors: “nutrition”, “nutritional status” and “Alzheimer”. A selection was made based on the relevant data and 6 articles were selected. It was observed that in the analyzed studies it was possible to perceive that there is a correlation between nutritional status and Alzheimer’s disease. It is concluded that Alzheimer’s disease can influence the nutritional status of the elderly, due to difficulty in swallowing, dysphagia, deficit in caloric intake, among other factors, leading patients to present some risk of malnutrition or even malnutrition.

ABSTRACT: Among the most common nutritional com-

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A Influência do Estado Nutricional sobre a Doença de Alzheimer

. . . ..............

Introdução

SÁ, 2019; BIGUETI; DE LELLIS; DIAS, 2018).

. . . . . . . . . . . . . . . . . . Assim o objetivo geral desse estudo é realizar uma revi-

Em decorrência do rápido processo de envelhecimento da população mundial, incluindo a do Brasil, observa-se que o número de doenças referentes à idade tem um considerado aumento e entre elas, os casos mais relevantes são os das doenças crônico-degenerativas, que causam as demências, ressaltando a Doença de Alzheimer (DA) que é a mais comum ( SILVA et al., 2013). A Doença de Alzheimer pode ser caracterizada em três fases. No estágio inicial, encontra-se a perda de memória, que podem incluir: perder-se; perda constante de coisas, repetição frequente de perguntas; mudanças de humor e de personalidade. No estágio moderado, é comum alteração no humor, a frustação e o medo, os sintomas podem abranger: problemas em reconhecer familiares e amigos; aumento da perda de memória; incapacidade de aprender coisas novas. E na fase mais grave, os movimentos são mais complicados, os sintomas são: incapacidade de comunicar; perda de peso; convulsões e dificuldade em engolir (CORREIA et al., 2015). Os idosos com demência apresentam desordens durante a evolução da DA, tais como: dificuldade de reconhecer sensações de fome, sede e saciedade, dificuldade de mastigação e deglutição. A perda de peso e a desnutrição são problemas comuns da DA, e esses fatores, tem uma papel fundamental que devem ser dados no atendimento nutricional, para evitar a desnutrição energético-proteica (SANTOS, 2017). A declinação mental causada pode estar relacionado ao maior risco de instabilidade nutricional entre os idosos. Dentre as complicações nutricionais mais presentes no Alzheimer encontra-se a perda de peso, levando o individuo a desenvolver um quadro de desnutrição em decorrência da dificuldade de deglutir, podendo acarretar um agravamento da doença, por consequência da baixa ingestão alimentar e como resultado, perda de nutrientes e calorias (BRITO et al., 2019; FRANGELA; GOLVEIA; RUFINO, 2020). A nutrição pode ter prováveis efeitos sobre a Doença de Alzheimer, ou seja, uma alimentação adequada pode auxiliar na prevenção ou no tratamento do Alzheimer. A literatura científica não apresenta dieta especifica para a DA. Nessa perspectiva, os estudos mostram o papel da inclusão de nutrientes específicos como vitaminas E, C, D e completo B, selênio, zinco, ômega-3, fibras e ferro para reduzir a incidência de DA (DA CUNHA; SOLANO; MARÇO 2021

clínica

são integrativa sobre a influência do estado nutricional na Doença de Alzheimer.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Mé to d ol o g i a . . . . . . . . . . . ........

Trata-se de uma revisão integrativa literária que utiliza como modalidade de consulta a análise de pesquisas relevantes que darão suporte para investigação da tomada de decisões e melhoria nas evidências já apontadas sobre o tema em questão. A pesquisa foi composta por referências científicas sobre a temática “A influência do estado nutricional sobre a doença de Alzheimer”, realizada por meio de busca eletrônica de artigos publicados em bases de dados: Bireme e Google Acadêmico, com intenção de identificar referências científicas em um recorte temporal abrangido entre 2014 e 2020. Nas buscas, os descritores utilizados nas línguas portuguesa e inglesa, foram “nutrição”, “estado nutricional” e “Alzheimer” Dos 13 estudos encontrados, foi realizada uma seleção baseada nos dados de relevância encontrada em cada estudo e a partir da leitura exploratória dos seus conteúdos, foram excluídos 7 artigos por não condizerem nas categorias solicitadas, restando 6 artigos que compuseram o estudo. Os artigos selecionados foram lidos na íntegra e as informações alimentaram a matriz de procura. As referências foram analisadas de forma sistematizada e agrupadas em tópicos, reunindo os estudos que traziam em sua análise informações sobre o estado nutricional e a doença de Alzheimer.

. . . . . . . . . R e su lt a d o s e D is c uss ã o . . ........ Na Tabela I encontra-se a distribuição das produções científicas segundo o período de publicação e o total de artigos. Na tabela II observa-se a distribuição dos artigos conforme o autor, ano, título, objetivo, tipo de estudo e resultados. NUTRIÇÃO EM PAUTA

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The Influence of The Nutritional State on Alzheimer’s Disease

Na pesquisa de GOES et al. (2014) identificou-se que pacientes com DA apresentam maior risco de disfagia durante o avanço das fases da DA, constatando a relação existente entre essas duas condições, apesar disso, não houve relação entre o risco de disfagia e o estado nutricional ou a ingestão calórica. Nos estudos de MENDES et al. (2016) foi verificado que nos pacientes com doença de Alzheimer da casa de repouso, o risco de desnutrição foi de 50% em ambos os grupos pesquisados (indivíduos com DA e indivíduos sadios, considerados do grupo controle), já a desnutrição foi evidenciada somente no grupo que apresentava a doença de Alzheimer, segundo a Mini Avaliação Nutricional (MAN). No estudo de Medeiros et al. (2016) pôde-se perceber que a quantidade dos macronutrientes dos dois gêneros, se apresentaram abaixo das recomendações, com exceção dos carboidratos e gorduras mono e poli-insaturadas no gênero feminino. À vista disso, o aumento do consumo de carboidratos no gênero feminino pode ser justificado pelo uso de espessantes (amido modificado).

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MARÇO 2021

Tabela I - Distribuição dos resultados referentes as produções científicas utilizadas na RI por período de publicação. Período

N

%

2014-2016

3

50%

2017-2020

3

50%

Total

6

100%

Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

NUTRIÇÃO EM PAUTA


A Influência do Estado Nutricional sobre a Doença de Alzheimer

clínica

Tabela II - Distribuição das produções científicas de revisões bibliográficas publicadas no período de 2014 a 2020 segundo o autor, ano, título, objetivo, tipo de estudo e resultados. Tipo de estudo

Autor/ano Título

Objetivo

GOES et al., 2014

Avaliação do estado nutricional e consumo alimentar em 30 pacientes com doença de Alzheimer

Avaliar e verificar Estudo Transa relação entre versal risco de disfagia, estado nutricional, ingestão calórica e estágio da doença de Alzheimer.

MENDES Avaliação do et al., 2016 estado nutricional e consumo alimentar em pacientes com doença de Alzheimer

Estudo TransO objetivo deste trabalho foi avaliar versal o estado nutricional e consumo alimentar de pacientes com doença de Alzheimer em uma casa de repouso no município de São Paulo.

MEDEIPerfil nutricioROS nal de idosos et al., 2016 portadores de Alzheimer atendidos em homecare

Avaliar os resulta- Estudo Descridos da interferên- tivo cia da nutrição em pacientes portadores de Doença de Alzheimer.

LECHETA Problemas et al, 2017. nutricionais em idosos com doença de Alzheimer: risco de desnutrição e sarcopenia

Entender os pro- Estudo transverblemas nutriciosal descritivo nais e detectar a presença de sarcopenia em idosos com doença de Alzheimer

MARÇO 2021

Resultados Na avaliação do estágio de Doença de Alzheimer, verificou-se 33,33% dos pacientes (n= 10) que estavam em estágio leve da doença (EDC1), 26,66% (n = 8) em estágio moderado (EDC 2) e 40% (n = 12) em estágio grave (EDC 3). Os pacientes se distribuíam em todos os graus de disfagia, com maior número de pacientes, 40% (n=12), com leve risco de disfagia acompanhado de risco de desnutrição. Um maior risco de disfagia está associado à progressão nos estágios da Doença de Alzheimer. O IMC médio foi de 19,95 ± 6,54 (Doença Alzheimer) e 23,8 ± 5,96 (Grupo Controle). O risco de desnutrição foi de 50% em ambos os grupos, já a desnutrição foi evidenciada somente no grupo Doença de Alzheimer. A dificuldade na deglutição foi observada no grupo Doença de Alzheimer. A ingestão calórica do grupo controle obteve um déficit (35,6%) ocorrendo o mesmo quanto ao consumo de carboidratos (73,3%), proteínas (65,5%) e lipídeos (35,6%). O consumo de ácido fólico, vitamina A, E, B12, B6, D e fibras foi maior no grupo DA. As mulheres apresentam sobrepeso no IMC, e risco elevado de DCV para circunferência abdominal e o de desnutrição para outras medidas. Os homens com adequação em todas as variáveis, com exceção do perímetro do braço com desnutrição leve. Na Mini Avaliação Nutricional, ambos os sexos ficaram com quantidade total de pontos muito próximas, com estado nutricional normal e para mulheres, entretanto no limite inferior, próximo a risco de desnutrição. Foram avaliados 96 idosos (idade média de 78 anos). Observou-se prevalência de doença de Alzheimer leve em 54,2% dos participantes; 55,2% estavam em risco de desnutrição; perda de peso não intencional foi observada em 64,6%, 55,3% apresentaram menor número de linfócitos e 43,7% apresentaram sarcopenia grave.

NUTRIÇÃO EM PAUTA

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The Influence of The Nutritional State on Alzheimer’s Disease

Tabela II - Distribuição das produções científicas de revisões bibliográficas publicadas no período de 2014 a 2020 segundo o autor, ano, título, objetivo, tipo de estudo e resultados. Autor/ano Título IVANSKI et al.,2017

GRACIANO et al., 2018

Avaliação nutricional de pacientes geriátricos com doença de Alzheimer no sul do Brasil: estudo caso-controle

Objetivo

Os objetivos do presente estudo para avaliar o estado nutricional da doença de Alzheimer pacientes, em comparação com um grupo controle, via Mini Avaliação Nutricional. (MNA) Avaliação nu- Aplicação do Mini tricional e risco avaliação nutriciode desnutrição nal para identificar em idosos com os desafios e sua demências aplicabilidade na rotina da nutrição desses pacientes.

Tipo de estudo

Estudo de Caso- Pontuação total de MNA nas grupo alzheimer controle mostra que 71,42% estavam em risco de desnutrição, 14,28% estavam desnutridos e 14,25% apresentaram estado nutricional normal. Além disso, no grupo de controlo 79,06% dos pacientes (n = 34) foram classificadas como tendo estado nutricional normal e 20,93% (n = 9), como estando em risco de desnutrição.

Estudo de Coorte Em pesquisa realizada com 123 idosos. Onde prospectivo 18,4% dos pacientes afetados estão em estado de desnutrição e 63,2 com risco de desnutrição. Evidenciando relação de desnutrição com a doença.

Essa redução de macronutrientes pode ser decorrente de inúmeras intercorrências comuns em idosos, principalmente aqueles com DA, como: disfagia, engasgos, tosses dificuldade de mastigação e diminuição das papilas gustativas. Segundo LECHETA et al. (2017) os escores da Mini Avaliação Nutricional evidenciaram o mau estado nutricional da população estudada, visto que a maioria dos idosos apresentava risco de desnutrição. Apesar disso, de acordo com o IMC, a maioria seria classificada como eutróficos. A escala MNA é provavelmente mais eficiente na classificação do estado nutricional de idosos que o IMC, pois considera um maior número de variáveis antropométricas, incluindo aquelas referente à avaliação da massa muscular e ao histórico clínico e dietético dos indivíduos. De acordo com os dados da pesquisa de IVANSKI et al. (2017) 71,42% dos idosos com DA apresentaram risco de desnutrição, já que as pessoas idosas com demência apresentam perda de apetite, dificuldades na mastigação, deglutição e falta da consciência sobre a importância do comer, em contrapartida, 79,06% dos idosos no grupo

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MARÇO 2021

Resultados

controle revelam estado nutricional normal após análise MNA. Outro trabalho como o de GRACIANO et al.(2018), evidenciou que a demência esteve relacionada ao risco e à desnutrição em idosos institucionalizados. O estado nutricional normal foi mais predominante em idosos sem demência (58,4%), enquanto a prevalência entre idosos com demência foi de 18,2% a 33,3%. Idosos com doença de Parkinson estiveram mais relacionados à desnutrição (33,3%) que idosos com outras demências (Alzheimer com 18,2% e vascular com 25%). Os idosos com doença de Alzheimer, por sua vez, foram os que tiveram maior risco de desnutrição (63,6%).

. . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o. . . . . . . . . . . . . . . . . .... Conclui-se que a Doença de Alzheimer pode ter influência sobre o estado nutricional dos idosos, devido à dificuldade na deglutição, disfagia, déficit na ingestão calórica entre outros fatores, fazendo com que os pacientes NUTRIÇÃO EM PAUTA


A Influência do Estado Nutricional sobre a Doença de Alzheimer

venham a apresentar algum risco de desnutrição ou até mesmo a desnutrição. Diante disso, percebe-se a grande importância de um bom acompanhamento nutricional, por um profissional da área, com orientações específicas e intervenções adequadas com o propósito de manter ou recuperar o estado nutricional e garantir melhor qualidade de vida aos idosos.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores

Emilly Gabrieli Lima Rodrigues; Érica Vanessa da Silva Retrão; Elissandra de Carvalho Ramos; Karolina de Sousa Maciel; Marcia de Sousa Ferreira; William Natanniel Pereira Gomes - Discentes do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina,PI, Brasil. Profa. Dra. Liejy Agnes dos Santos Raposo Landim; Profa. Dra. Daniela Fortes Neves Ibiapina - Docentes do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina, PI, Brasil.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Nutrição. Estado Nutricional. Doença de Alzheimer. KEYWORDS: Nutrition. Nutritional Status. Alzheimer’s Disease.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . RECEBIDO: 18/5/20 – APROVADO: 22/3/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . REFERÊNCIAS

clínica

nutricional: uma revisão.2019. CORREIA A, et al. Nutrição e doença de Alzheimer: programa nacional para a promoção da alimentação saudável direção-geral da saúde. Lisboa, 2015. DA CUNHA, A. P. G., SOLANO, L. DOS S., & SÁ, O. M. DE S. (2019). Efeitos da suplementação de ômega 3, magnésio e vitamina B12 na função cognitiva e estado nutricional em idosos com Alzheimer. Revista Eletrônica Acervo Saúde, (33), e643. https://doi.org/10.25248/reas.e643.2019 DA SILVA, S. P. N. et al. A perspectiva do cuidador frente ao idoso com a doença de Alzheimer. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 5, n. 1, p. 3333-3342, 2013. FRANGELA, V. S., GOLVEIA, P. A., RUFINO, R. D. S. Complementos Orais Artesanais para Idosos de Baixo Poder Aquisitivo com Alzheimer. Revista Nutrição em Pauta, 2020. GOES, V. F. et al. Avaliação do risco de disfagia, estado nutricional e ingestão calórica em idosos com Alzheimer. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 22, n. 2, p. h317-324, 2014. http://10.1590/01041169.3252.2418 GRACIANO, A. R. et al. Avaliação nutricional e risco de desnutrição em idosos com demências. Saúde e Pesquisa, v. 11, n. 2, p. 293-298, 2018. https://doi.org/10.17765/ 2176-9206.2018v11n2p293-298 IVANSKI, F. et al. Nutritional evaluation of geriatric patients with Alzheimer’s disease in Southern Brazil: case-control study. Nutricion hospitalaria, v. 35, n. 3, p. 564-569, 2018. LECHETA, D. R. et al . Nutritional problems in older adults with Alzheimer’s disease: Risk of malnutrition and sarcopenia. Rev. Nutr., Campinas , v. 30, n. 3, p. 273-285, June 2017. https://doi.org/10.1590/16789865201700030000 MEDEIROS, G. E. et al. Perfil nutricional de idosos portadores de Alzheimer atendidos em homecare. Revista Brasileira de Neurologia, v. 52, n. 4, 2016. MENDES, L. P. et al. Avaliação do estado nutricional e consumo alimentar em pacientes com Doença de Alzheimer. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v. 14, n. 2, p. 502-515, 2016. http://dx.doi.org/10.5892/ruvrd. v14i2.2638 SANTOS, T. B. N. dos et al. Indicadores nutricionais em pacientes com doença de Alzheimer: relações com fatores clínicos. 2017.

BIGUETI, B. de C. P., DE LELLIS, J. Z., DIAS, J. C. R. Nutrientes essenciais na prevenção da doença de Alzheimer. 2018. Revista Ciências Nutricionais Online, v.2, n.2, p.18-25, 2018. BRITO, R. A. et al. Consumo alimentar do idoso portador de doença de Alzheimer e a influencia no estado MARÇO 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Chronontriction and Its Influence in Reducing Obesity and Chronic Non-Communicable Diseases

Crononutrição e Sua Influência na Redução de Obesidade e Doenças Crônicas Não Transmissíveis RESUMO: Estudos do ritmo circadiano tem demonstrado influência na redução de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis. A literatura nos mostra que o horário e regularidade das refeições podem desempenhar um papel importante na regulação circadiana e na saúde metabólica. Além disso o estado de alimentação e jejum parecem estimular os relógios biológicos e alterar o ciclo circadiano. O objetivo da pesquisa foi identificar a relação da crononutrição no tratamento das doenças crônicas não transmissíveis. Por tanto foi feita uma pesquisa bibliográfica a partir da busca em publicações cientificas e indexadas. Esperamos que o presente estudo possa estimular mais pesquisas na área da crononutrição, sendo esta responsável por estudar como as estratégias do Jejum Intermitente (JI) e a alimentação com restrição de tempo (TRF) podem influenciar os relógios biológicos e conferir melhores respostas metabólicas favorecendo a saúde dos sujeitos. ABSTRACT: Circadian rhythm can influence the reduction of obesity and chronic non- communicable diseases. The literature shows us that the time and regularity of these can play an important role in circadian regulation and in metabolic health. In addition the state of feeding and fasting seems to stimulate biological clocks and change the circadian cycle. The aim of the research was to identify a rela-

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tionship between chrononutrition in the treatment of chronic non-communicable diseases. Therefore, a bibliographic search was made based on the search in scientific and indexed. We hope that this study can stimulate more research in the area of chrononutrition, being responsible for studying how the strategies of Intermittent Fasting (JI) and Time Restricted Feeding can cause biological clocks and provide better metabolic responses favoring the health of subjects.

.................

Introdução

. . . . . . . . . . ........

A obesidade e as Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), estão cada vez mais alarmantes no Brasil e no mundo. A frequência no Brasil de adultos com excesso de peso variou entre 49,1% a 60,9% em toda população brasileira. Para o quadro de obesidade em adultos, destaca-se a variação de 15,4% a 23,4% nas diversas regiões. Aumentou também o número de diagnósticos médicos das doenças não transmissíveis. (VIGITEL, 2019) Desta maneira, os estudos na área da Nutrição buscam maior resolutividade para a epidemia da obesidade. Juntamente com a cronobiologia, a crononutrição tem avançado seus estudos, demonstrando que sujeitos noturnos, parecem apresentar respostas metabólicas menos NUTRIÇÃO EM PAUTA


Crononutrição e Sua Influência na Redução de Obesidade e Doenças Crônicas Não Transmissíveis

favoráveis, com maior tendência a obesidade, em comparação a sujeitos de hábito alimentares diurnos. A crononutrição enfatiza os aspectos rítmicos da alimentação e suas respostas metabólicas com influência importante na obesidade e DCNT (MAZRI et al.,2020). O metabolismo é guiado pelo ritmo circadiano, pois este influencia vários processos biológicos como secreção hormonal, saúde cardiovascular, homeostase da glicose e regulação da temperatura. Interrupções circadianas estão relacionadas a algumas condições patológicas como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares (SERIN; ACAR, 2019). Existe uma correlação significativa entre a restrição do sono e o aumento dos índices de massa corporal (IMC), especialmente em sujeitos com tempo de sono inferior a 8 horas, alterando desta maneira os hormônios de fome (Grelina) e saciedade (Leptina) capazes de proporcionar piores escolhas alimentares e o aumento da ingestão calórica. Assim os profissionais de saúde reservam atenção para regulação do sono no tratamento e prevenção da obesidade (FERREIRA et al.,2021). Entendendo que somos seres rítmicos, guiados por nossos relógios biológicos, questionamos se o horário das refeições afeta o ganho de peso com consequente obesidade e DCNT. Desta forma, o objetivo do presente estudo objetivo da pesquisa foi identificar a relação da crononutrição no tratamento das doenças crônicas não transmissíveis, tendo como objetivo final buscar maior resolutividade para a epidemia da obesidade.

. . . ........... Me to dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O presente estudo se configura como uma revisão bibliográfica. Para o levantamento dos artigos, foi realizada uma pesquisa durante os meses de julho de 2020 a março de 2021 nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) utilizando os seguintes termos: “Ciclo circadiano”; “Doenças Crônicas não Transmissíveis”; “Obesidade”. Os mesmos termos também foram utilizados em inglês para busca na base PubMed e revistas eletrônicas em nutriçao. Foram analisados artigos em português e inglês, com publicação a partir de 2010. Artigos anteriores a esse ano, muito abrangente, abordando outras patologias que não DCNT foram excluídos, sendo priorizados nesse estudo, os que relacioMARÇO 2021

esporte

navam as DCNs com a crononutrição. Por essa configuração, este estudo foi designado de uma mini-revisão.

. . . . . . . . . R e su lt a d o s e D is c uss ã o . . ........ A ciência da nutrição tradicional prioriza o que comer e quanto comer, porém, devemos também considerar outros aspectos em relação a alimentação, como por exemplo, quando comer, em que horário e quais alimentos comer nas refeições. (Oda, 2015). Alguns artigos investigaram o impacto do relógio biológico na nutrição, com diferentes efeitos no balanço energético e no metabolismo e a influência desses relógios na saúde e nas doenças. Surgindo assim, o desenvolvimento de uma nova ciência denominada de crononutrição definida como o estudo das interações entre ritmos biológicos, nutrição e metabolismo, ou seja a alimentação em sinergia com a nossa natureza biológica (AROLA-ARNAL et al., 2019). O ritmo ou ciclo circadiano vem do latim (circa; cerca de + diem; dia) são processos biológicos que possuem oscilações endógenas por um período de aproximadamente 24 horas e todos esses fenômenos biológicos que ocorrem nesses períodos são ritmados com este ciclo. Como por exemplo ciclo de sono e vigília, produção e secreção de hormônios e neurotransmissores, metabolismo de sais biliares, saúde cardiovascular, homeostase da glicose, regulação da temperatura corporal. e processo de detoxificação. (GARRIDO; TERRÓN RODRIGUEZ, 2013;MANOOGIAN; PANDA, 2017). O relógio circadiano é dividido em 2 partes: o relógio central, que se localiza no núcleo supraciasmático (SCN) do hipotálamo, e os relógios periféricos que estão localizados em vários tecidos do corpo como fígado, pâncreas, intestino, coração e retina. Estes desempenham funções diferentes nesses tecidos, através da expressão de genes específicos envolvidos em diversas funções fisiológicas (SERIN; ACAR, 2019). Esses genes são expressos por estímulos como ciclo de claro e escuro, alimentação e jejum, estado de vigília e atividade física. Os principais genes envolvidos nesse processo são Clock e Bmal1 que estão envolvidos na produção e liberação de insulina. A homeostase do ciclo circadiano é ativada por mecanismos de feedback (negativo e positivo) importantes para que ele funcione de forma eficaz. Os genes Cry1, Cry2, Per1 e Per2 servem como NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Chronontriction and Its Influence in Reducing Obesity and Chronic Non-Communicable Diseases

mediadores desses processos (MASON; QIAN; ADLER, 2020). A predisposição de um indivíduo em relação aos horários diurnos ou noturnos é denominada cronótipo e podem ser classificados como cronótipos matutinos, tardios e noturnos ou intermediários. Os matutinos, têm preferência por um ciclo de sono e vigília mais cedo em comparação ao tardio, que prefere funcionar mais a tarde e à noite (FACER; FERVER; BALANOS, 2018). Os cronótipos são baseados pela genética e modulados por outros fatores como idade, horário de trabalho, personalidade, hora do sol, fuso horário (local ou social) e exposição à luz dentre outros. São observadas di-

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MARÇO 2021

ferenças no padrão do sono, oscilações fisiológicas, comportamentais e genéticas (MARTINEZ et al., 2019). Uma alimentação com restrição de tempo (TRF) de forma regular, pode proporcionar equilíbrio adequado dos genes e promover benefícios a saúde (JAMSHED et al., 2019). Estudos apresentam que a TRF melhorou a perda de peso e os parâmetros cardiometabólicos - como níveis de insulina, sensibilidade à insulina e pressão arterial quando os participantes realizaram sua última refeição ainda ao entardecer. O conceito de TRF surgiu no contexto dos ritmos circadianos e é definido como comer dentro de um período/janela menor ou igual a 10 horas com a realização de jejum por pelo menos 14 horas por NUTRIÇÃO EM PAUTA


esporte

Crononutrição e Sua Influência na Redução de Obesidade e Doenças Crônicas Não Transmissíveis

dia (LONGO; PANDA, 2016). A alimentação com restrição de tempo ou TRF é utilizada no campo dos ritmos circadiano para averiguar a influência do tempo de exposição aos alimentos no relógio circadiano. O TRF é fundamentado na biologia circadiana para promover ao corpo um real período de jejum diário > 12 h onde apenas é permitido consumir água, excluindo o que exceder 5 calorias, cafeína e adoçantes (MANOOGIAN; PANDA; 2017). O estudo de Melkani e Panda (2017) enfatiza que o regime de alimentação TRF em que os alimentos são ofertados num período de <12h por dia de forma consistente exercem benefícios cardiometabólicos. Esses autores afirmam que a TRF evita excesso de peso corporal, melhora o sono e diminui a degradação da capacidade cardíaca induzidas pela idade e pela dieta. Os autores Pot, Almoosawi e Stephen (2016), apresentam em revisão sistemática com estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados que o consumo irregular de refeições está associado ao risco cardiometabólico, tendo em vista que interferem negativamente nos parâmetros lipídicos e pós-prandiais de insulina e termogênese, relacionando seus achados a disrupção circadiana. Existem evidências de que as oscilações circadianas também afetam importantes funções gastrointestinais, como motilidade, secreção de manutenção e restauração da barreira protetora de mucosa e sistema imunológico do trato gastrointestinal TGI e produção de enzimas digestivas, microbioma desregulado e metabolismo lipídico alterado (GODINHO; DOMINGUES; RENDAS, 2019). O estudo de Mindikoglu et al., (2017) avaliou o impacto do TRF na obesidade síndrome metabólica e doença hepática gordurosa não alcóolica verificou considerável melhora na transcrição dos principais reguladores metabólicos da glicose e homeostase lipídica corroborando que a alimentação com restrição de tempo altera o relógio circadiano hepático e favorece o metabolismo. Outro estudo também demonstrou o papel dos relógios circadianos periféricos como reguladores celulares específicos para homeostase da glicose e apresentou evidências científicas que utilizam o sistema circadiano como alvo terapêutico para o tratamento de diabetes. Estes levam em consideração o hormônio melatonina como eficácia antidiabética (JAVEED; MATVEYENKO, 2018).

MARÇO 2021

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . ...... A crononutrição é uma ciência que está em avanço, por isso ainda há muito que se descobrir sobre seu potencial no combate a obesidade e DCNT. Porém, já está bem elucidado na literatura, que a cronodisrupção leva a um mal funcionamento metabólico e consequentemente pode causar tais doenças. A propósito de uma redução nos indicadores predisponentes de comorbidades, as diretrizes são claras e enfatizam que a perda de peso resulta na melhora desses padrões e, que a manutenção deste peso perdido é essencial para a qualidade de vida do sujeito. No entanto, para o tratamento da obesidade, a restrição calórica por si só não confere eficácia em razão da baixa adesão do paciente, considerando inclusive as razões neuroendócrinas aqui citadas neste artigo. Desta maneira, fazer valer-se das estratégias nutricionais, de acordo com a individualidade de cada paciente, pode resultar em conquistas terapêuticas seguras e duradoras. As estratégias do Jejum Intermitente (JI) e TRF, quando bem conduzidas, podem conferir benefícios clínicos, estabelecer a homeostase dos relógios circadianos, prevenindo e ajudando no tratamento da obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Além disso, tais estratégias permitem uma melhor adesão e favorecem as questões comportamentais para um melhor estilo de vida. Esperamos que o presente estudo possa estimular mais pesquisas sobre como a crononutrição, às estratégias de JI e TRF podem efetivamente contribuir e serem utilizadas no tratamento e prevenção de doenças.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Dra. Andréa Aragão Francelino - Nutricionista. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Alagoas-UFAL. Pós-graduada em Nutrição Clínica Ortomolecular pela Fundação de Apoio a Pesquisa- FAPES/ SP. Poliana de Holanda Paes Pinto Daneu - Acadêmica de Nutrição do Centro Universitário CESMAC. Dra. Rosa Carla de Mendonça Melo Lôbo - Psicóloga Clínica e Hospitalar. Acadêmica em Nutrição.

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Chronontriction and Its Influence in Reducing Obesity and Chronic Non-Communicable Diseases

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Ritmo Circadiano. Obesidade. Doenças Crônicas. KEYWORDS: Circadian Rhythm. Obesity. Chronic diseases

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 17/12/20 – APROVADO:15/3/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

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Remote Training Environment in Social Nutrition in The Graduation Course: An Experience Report

pediatria

Ambiente Remoto de Estágio em Nutrição Social no Curso de Graduação: Um Relato de Experiência RESUMO: Objetivo: Apresentar a experiência de um estágio realizado de forma remota de Nutrição Social em um Centro Integrado de Educação Especial (CIES) apresentando as atividades realizadas e a análise da importância das atividades. Metodologia: Foram solicitados pelas nutricionistas do CIES temas para produção de atividades que contemplavam a necessidade da instituição. Devido à pandemia do Covid-19 o contato foi através da mídia social WhatsApp, ou por meio da plataforma digital Blackboard collaborate. Resultados: A escolha dos temas foi embasada diante do período atual de pandemia onde devem ser reforçados os cuidados de higiene pessoal, não esquecendo do consumo alimentar adequado e proporcionar uma melhor manutenção da saúde. Conclusão: A experiência foi bastante satisfatória, não só a agregação de conhecimentos nos escolares para promover uma alimentação saudável, mas também por dar a oportunidade aos acadêmicos de conhecerem na prática a realização das atividades. Reforçando também a importância da Educação Alimentar e nutricional, pois contribui para a promoção e proteção da saúde, através de uma alimentação adequada e saudável. Onde podemos destacar a família que exerce uma influência fundamental na construção dos padrões alimentares dessas crianças, assim como a escola, pois através desta, a educação alimentar pode ganhar foco, profundidade e importância. MARÇO 2021

ABSTRACT: Objective: To present the experience of an internship carried out remotely in Social Nutrition at an Integrated Special Education Center (CIES) presenting the activities carried out and the analysis of the importance of the activities. Methodology: CIES nutritionists requested themes for the production of activities that contemplated the need of the institution. Due to the Covid-19 pandemic, contact was made via social media WhatsApp, or through the digital platform Blackboard collaborate. Results: The choice of themes was based on the current pandemic period where personal hygiene care must be reinforced, not forgetting adequate food consumption and providing better health maintenance. Conclusion: The experience was quite satisfactory, not only the aggregation of knowledge in the students to promote a healthy diet, but also because it gave the students an opportunity to get to know the realization of the activities in practice. Also reinforcing the importance of Food and Nutrition Education, as it contributes to the promotion and protection of health, through an adequate and healthy diet. Where we can highlight the family that exercises a fundamental influence in the construction of these children’s food patterns, as well as the school, because through this, food education can gain focus, depth and importance.

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Ambiente Remoto de Estágio Em Nutrição Social no Curso de Graduação: Um Relato de Experiência

. . . .............. Int ro du ç ã o

. . . . . . . . . .. . . . . . . . modalidade de ensino é financeiramente mais acessível.

Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emite um alerta sobre um surto emergencial de saúde pública com importância internacional, descoberto em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China, um novo vírus denominado pela OMS como SARS-CoV-2, que causa a doença Covid-19, espalhando-se rapidamente por todo mundo. No dia 11 de março de 2020, a OMS caracterizou a Covid-19 como uma pandemia, que rapidamente foram registrados inúmeros casos e óbitos advindos da patologia. Possuindo múltiplas vias de transmissão o vírus pode ser transmitido através de gotículas respiratórias, contato direto com objetos ou superfícies contaminadas, acometendo o sistema imunológico quando o mesmo se encontra debilitado, apresentando dificuldades em fornecer estímulos de defesa de maneira eficiente (DÍAZ-CASTRILLÓN; TORO-MONTOYA, 2020; DA SILVA; IBIAPINA; LANDIM, 2020). Diante disso a maioria dos governos fechou temporariamente as instituições de ensino em decorrência da pandemia do Covid-19, afetando cerca de 990, 925, 124 alunos matriculados mundialmente. A fim de reduzir os impactos negativos causados pela Covid-19 no campo de ensino em 17 de março de 2020, atendendo as escolas públicas e privadas surge a Portaria n° 343 que dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas remotas enquanto durar a situação de pandemia do novo coronavírus – Covid-19, juntamente com a Medida provisória n° 934 de 1° de abril de 2020. Desta forma várias instituições aderiram ao formato Ensino a Distancia (EAD) ao seu ano letivo (BRASIL(a), 2020; BRASIL(b), 2020). Desde o século XIX já eram ministrados cursos profissionalizantes por meio de correspondência, ou seja, à distância esse tipo de ensino era considerado na época algo muito diferente do tradicional, além de muito inacessível. Esse acontecimento serviu como uma amostra dos nossos dias atuais, hoje com tecnologias que facilitam a comunicação, essa forma de ensino tem se tornado cada vez mais reconhecida (FREITAS et al., 2019). A partir dessa evolução tecnológica e a procura por esse tipo de ensino em 1995 foi criada uma Secretaria de Educação a Distancia do Ministério da Educação. Desde então a modalidade de EAD vem evoluindo cada vez mais tendo seu ápice no ano de 2017. Tendo em vista que o acesso á internet pela população cresceu, assim como a procura pela modalidade EAD a fim de atender as suas necessidades, levando em consideração que essa

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Atualmente surge uma nova modalidade EAD mantendo o formato remoto, no entanto as aulas são ministradas de forma síncrona, ou seja, ao vivo, possuindo metodologias diferentes do EAD convencional, mesmo em ambiente virtual (SCHIMIGUEL; FERNANDES; OKANO, 2020). Nesse momento o Ambiente de Virtual de Aprendizagem (AVA) é de suma importância para as instituições, pois esse proporciona um espaço na qual pode ser desenvolvido condições e estratégias, bem como intervenções de aprendizagem, favorecendo a construção de conceitos e interação entre alunos e professores de forma remota, por meio de softwares na qual o professor é o mediador dos conhecimentos. As plataformas digitais possuem inúmeras ferramentas a fim de facilitar a comunicação entre professor e aluno e a aprendizagem (VASCONCELOS; DE JESUS; DE MIRANDA SANTOS, 2020). Uma das formas de aprendizado imprescindíveis para estabelecer a relação entre teoria e prática, é representada pelos estágios curriculares, pois esses possibilitam o desenvolvimento de competências relacionado à realidade profissional. No Centro Universitário os estágios curriculares são necessários para a conclusão da graduação e obtenção do título de bacharel em Nutrição. Por se tratar de uma atividade indispensável à instituição optou por utilizar sistemas síncronos a fim de manter o semestre letivo, sem que houvesse prejuízo para os alunos (GONÇALVES, 2020). O Centro Universitário utilizou a plataforma Blackboard Collaborate, utilizada em 35 países, por mais de 2 mil clientes, já conhecida pelos alunos a qual são apontadas várias vantagens, mas também algumas limitações, em relação a alunos que possuem dificuldades quanto à internet. No entanto, sua avaliação geral do Blackboard Collaborate é positiva, favorecendo o ensino remoto, assim como envios de provas e trabalhos, exposição de conteúdos (VILLALÓN; LUNA; GARCÍA-BARRERA, 2019; DOS SANTOS SOUSA et al., 2020). Diante do exposto o objetivo do presente artigo é apresentar a experiência de um estágio realizado de forma remota de Nutrição Social em um Centro Integrado de Educação Especial (CIES) vivenciado por alunas do 8 º período do Curso de Graduação em Nutrição de um Centro Universitário, apresentando as atividades realizadas e a análise da importância das atividades.

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Tabela 1: Tema, objetivo e materiais utilizados nas atividades realizadas no CIES. MATERIAS UTILIZADOS

TEMA

APLICAÇÃO/OBJETIVO

Alimentação Saudável

Qual a importância de alimentar-se bem, como fazer isso de forma adequada, assim como a exposição dos macronutrientes. Falar sobre a importância de consumir os nutrientes, especialmente os voltados para o reforço do sistema imunológico, e música temática. Como introduzir novos alimentos na rotina das crianças, vídeo musical temático. Avaliação de crianças especiais quanto a peculiaridade de cada patologia, avaliação antropométrica, e orientações nutricionais. Receitas fáceis visando o consumo de nutrientes que atuam na prevenção e tratamento de ansiedade e estresse Foram escolhidos temas: Regulamentação de cantinas escolares, boas práticas para manipuladores, boas práticas e lavagem das mãos para frequentadores. A escolha do tema foi baseada no período atual de pandemia a fim de reduzir riscos de contaminação e proporcionar uma melhor manutenção da saúde.

Alimentação e Imunidade Introdução de novos alimentos Avaliação Nutricional Receitas práticas Cartazes educativos

Vídeo educativo Vídeo educativo Vídeo educativo Apostila virtual E-book Cartazes: Nota técnica n° 02/2012, Boas práticas para manipuladores e Lavagem das mãos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

. . . ............ Méto dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . R e su lt a d o s e D is c uss ã o . . . . .......

Trata-se de uma descrição de uma experiência de estágio curricular em Nutrição Social de estudantes do curso de Bacharel em Nutrição de forma remota síncrona. O local do estágio foi o Centro Integrado de Educação Especial (CIES), supervisionado pela coordenação e por nutricionistas do CIES, bem como por uma professora de campo do Centro Universitário, tendo como público alvo para as atividades construídas crianças especiais, bem como mães e funcionários. Foram solicitados pelas nutricionistas do CIES temas para produção de atividades que contemplavam a necessidade da instituição. Devido à pandemia do Covid-19 o contato foi estabelecido através da mídia social WhatsApp, ou por meio da plataforma digital Blackboard collaborate as atividades eram repassadas semanalmente para as nutricionistas do CIES a qual fariam a análise do conteúdo juntamente com a coordenação do CIES para que fossem liberadas para o repasse via WhatsApp para as mães das crianças.

Por meio de um questionário pré aplicado com as mães do local de estágio foram sugeridos alguns temas, objetivos e materiais a serem utilizados para produção do conteúdo que estão descritos na Tabela 1. As práticas alimentares menos saudáveis estão cada vez mais inseridas no dia a dia das crianças, principalmente pelo consumo de alimentos altamente calóricos e de baixa densidade nutricional. Tais hábitos alimentares vem se intensificando bastante devido a pandemia do Covid-19. Diante disso, foi elaborado um vídeo falando da alimentação saudável, mostrando a importância de alimentar-se bem, também foi ensinado passo a passo de como fazer geladinhos utilizando frutas com água de coco sem a adição de açúcar, juntamente com a presença de uma criança, filho de umas das estagiárias abordando a importância da inclusão das crianças na cozinha, ressaltando o interesse da criança em saborear a própria preparação, assim como também a aprendizagem e momentos em família.Dutra et al.(2020) considera que por meio de

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uma alimentação adequada em concordância exata de macronutrientes (proteínas, hidratos de carbono, lipídios) e micronutrientes (vitaminas e minerais) auxilia para o correto e melhor desempenho das funções fisiológicas do corpo humano. O tema sobre ‘‘Alimentação e Imunidade’’ também foi preparado na forma de vídeo, onde foi introduzido na parte inicial um vídeo curto falando como colocar a saúde em dia, dando ênfase no consumo de frutas, pois estas são ricas em vitaminas e minerais, contribuindo para o aumento da imunidade em tempos da pandemia. Logo em seguida, as estagiárias finalizaram com várias receitinhas de sucos, onde foram dados a eles nomes de personagens de acordo com cada cor das frutas utilizadas nas preparações. Nesse sentido Demoliner e Dalto (2020) diz que micronutrientes e compostos bioativos da dieta, presentes em frutas e vegetais coloridos, possibilitam o aumento da função imunológica. Isso ocorre, pois alguns destes micronutrientes e compostos bioativos são antioxidantes e anti-inflamatórios, incluindo, por exemplo, vitamina D, vitamina C, selênio, zinco e composto fenólicos. Entretanto, não existe um nutriente isolado ou composto bioativo, com comprovação científica, capaz de impedir infecção viral, como da Covid-19. No ultimo vídeo sobre ‘‘Introdução de novos alimentos’’ teve como público alvo as mães das crianças, que através deste foi dado algumas dicas e estratégias de como as mães poderia inserir alimentos novos na sua alimentação. Onde enalteceu a importância da criança comer em um ambiente favorável, sem distrações como celular ou TV, a presença da família no momento da refeição, assim como também algumas estratégias nas montagens de pratos com ilustrações de animais utilizando alimentos coloridos. Para a elaboração da apostila foi discorrido sobre a avaliação nutricional de crianças portadoras de necessidades especiais, focando nas deficiências presentes nas crianças que frequentam o Centro Integrado de Educação Especial (CIES), tais como: Síndrome de Down, Transtorno do Espectro Autista, Deficiência Intelectual, Síndrome de Williams e Paralisia Cerebral. A confecção do E-book foi uma proposta, na qual inserimos receitas de preparações que continha alimentos ricos em nutrientes como o triptofano, visando a diminuição da ansiedade e estresse devido ao isolamento social durante a pandemia. Simonnet et al (2020) durante a pandemia, é natural o aumento de sintomas de ansiedade e

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depressão, que são fatores de risco para a fome emocional e o comer compulsivo muito prevalente entre os indivíduos que possuem excesso de peso. A obesidade é um fator de risco para outras comorbidades e, como já era esperado, está associada a um pior prognóstico em casos de Covid-19. Foram sugeridos temas para a produção de cartazes para serem fixados na cantina do CIES, estes temas foram: Regulamentação de cantinas escolares, boas práticas para manipuladores, boas práticas e lavagem das mãos para frequentadores. A escolha dos referidos temas foram embasados diante do período atual de pandemia o qual devem ser reforçados os cuidados de higiene pessoal, não se esquecendo do consumo alimentar adequado a fim de proporcionar uma melhor manutenção da saúde.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . ........ Contudo, a experiência foi bastante satisfatória, não só a agregação de conhecimentos nos escolares para promover uma alimentação saudável, mas também por dar a oportunidade aos acadêmicos de conhecerem na prática a realização das atividades. Reforçando também a importância da Educação Alimentar e nutricional, pois esta contribui para a promoção e proteção da saúde, através de uma alimentação adequada e saudável. Onde podemos destacar a família que exerce uma influência fundamental na construção dos padrões alimentares dessas crianças, assim como a escola, pois através desta, a educação alimentar pode ganhar foco, profundidade e importância.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Profa. Dra. Liejy Agnes dos Santos Raposo Landim - Mestre em Alimentos e Nutrição/UFPI, Especialista em Nutrição Clínica nas Doenças Crônicas não transmissíveis/UNESC. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina, PI, Brasil. Karolina de Sousa Maciel; Nádia Ferreira dos Santos; Raquel Vilela Oliveira - Discentes do Curso de NUTRIÇÃO EM PAUTA


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Nutrição da do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina, PI, Brasil. Dra. Gleisianny Soares Medeiros - Especialista em Nutrição Clínica/IBPEX e Nutricionista do Centro Integrado de Educação Especial/CIES. Dra. Marta Maria Fernandes de Vasconcelos - Especialista em Alimentos e gastronomia/IFPI, Especialista em Fisiologia do exercício/UESPI e Nutricionista do Centro Integrado de Educação Especial/CIES.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Interação síncrona. Alimentação saudável. Educação alimentar e nutricional. KEYWORDS: Synchronous interaction. Health diet. Food and Nutrition education.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO:20/11/20 - APROVADO: 3/3/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

BRASIL (b). Medida Provisória Nº 934, de 1º de abril de 2020. Estabelece normas excepcionais sobre o ano letivo da educação básica e do ensino superior decorrentes das medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde pública de que trata a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Acessado em: 05 de Novembro, 2020, http:// www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-934-de-1-de-abril-de-2020-250710591. BRASIL(a). Portaria Nº 343, de 17 de março de 2020.Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus -COVID-19. Acessado em:05 de Novembro, 2020http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-48564376. DA SILVA, R R; IBIAPINA, D F N; LANDIM, L A S R. Importância do Aleitamento Materno para Imunidade na Prevenção do Covid-19: Uma Revisão. Revista Nutrição em Pauta, n. 164, 2020. MARÇO 2021

pediatria

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Factors Associated with Diabetes in Elderly

Fatores Associados ao Diabetes em Idosos

RESUMO : O objetivo do estudo é avaliar os fatores que estão associados ao diabetes em idosos. O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, modalidade de pesquisa onde se investiga de forma direta por meio da busca de artigos por fontes secundárias de toda evidência já publicada relacionada ao tema abordado. Foram incluídas no estudo as referências publicadas no período compreendido de 2007 a 2020 e disponibilizadas na íntegra, texto completo obtidas em plataforma de busca online: Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMED) e o Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores: diabetes mellitus, diabetes em idosos, idosos e doenças cardiovasculares. Foram encontradas 10 referências relacionadas a diabetes, sendo que desse total, foram excluídas 4 referências por não se encaixarem nas categorias, restando 6 referências que se enquadraram no critério de inclusão do estudo. Embora esse assunto seja de grande importância para a sociedade, observou-se que os fatores associados ao diabetes em idosos predominam, com maiores consequências, o ganho de peso, as dislipidemias, síndrome metabólica, riscos elevados para doenças cardiovasculares e problemas respiratórios. Faz-se necessário programas que abordem procedimentos instrutivos de contribuições ajustadas e orientações familiares que proporcionem ao idoso diabético potencializar os cuidados diários, contri-

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buindo na promoção da autonomia e melhoria do estilo de vida e longevidade. ABSTRACT: The aim of the study is to assess the factors that are associated with diabetes in the elderly. The present study is an integrative literature review, a research modality where research is directly investigated through the search for articles by secondary sources of all published evidence related to the topic addressed. Included in the study were references published in the period from 2007 to 2020 and made available in full (full text) obtained from the online search platform: Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMED) and Google Scholar, using the following descriptors: diabetes mellitus, diabetes in the elderly, the elderly and cardiovascular diseases. Ten references related to diabetes were found, of which four were excluded from this total because they did not fit into the categories, leaving only 6 references that met the inclusion criteria of the study. Although this subject is of great importance to society, it was observed that the factors associated with diabetes in the elderly predominate, showing serious consequences, including weight gain, dyslipidemia, metabolic syndrome, high risks for cardiovascular and respiratory diseases. Programs that address instructive procedures of adjusted contributions and family orientations that provide the elderly with diabetes to enhance daily care are necesNUTRIÇÃO EM PAUTA


Fatores Associados ao Diabetes em Idosos

saúde pública

sary, thus contributing to the promotion of autonomy and improvement of lifestyle and longevity.

. . . .............. Int ro du ç ã o

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O envelhecimento traz consigo importantes modificações não apenas na estrutura etária da população, mas também no seu perfil epidemiológico. Uma vez que, com a medida que a população envelhece predomina um cenário de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), as quais podem acarretar prejuízos na capacidade funcional e cognitiva dos idosos. A prevalência de algumas dessas doenças eleva-se a partir dos 60 anos, onde são destacadas as doenças osteoarticulares, a hipertensão arterial sistêmica (HAS), as doenças cardiovasculares, o diabetes mellitus (DM), as doenças respiratórias crônicas, a doença cerebrovascular e o câncer (MOTA et al., 2020). O diabetes mellitus consiste em um grupo de distúrbios metabólicos que apresentam em comum a hiperglicemia, decorrente de defeitos na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambas. Essa desordem crônica no metabolismo de glicose, com o aumento persistente da glicemia, pode desencadear complicações agudas ou crônicas no sistema cardiovascular, renal e neurológico (FRANCISCO et al., 2016). O diabetes em idosos está relacionado a um risco maior de morte prematura, sendo uma das maiores associações com outras comorbidades e, especialmente, com as grandes síndromes geriátricas, sendo importante destacar os danos em relação à capacidade funcional, autonomia e qualidade de vida, o que a configura como uma doença de alto impacto, com repercussões sobre o sistema de saúde, família e o próprio idoso acometido (RAMOS et al., 2017). Dessa maneira, torna-se importante monitorar o uso de serviços de saúde destinados a pessoas com DM no intuito de identificar possíveis desafios e dificuldades. A organização dos serviços solicita o planejamento e adaptação de políticas de saúde e da oferta. Conhecer tal propósito é necessário (STOPA et al., 2019). No Brasil, há um aumento da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis - DCNT, com destaque a DM, que é altamente prevalente, inclusive em idosos, podendo ser prevenidas por hábitos de vida saudáveis (MELLO et al., 2016). Alguns estudos no Brasil analisaMARÇO 2021

ram a prevalência dessas doenças. Estima-se que existam no Brasil 9 milhões de diabéticos, e que desses, quase 40,0% (3,5 milhões) sejam idosos (ISER el al., 2015). Neste sentido, o objetivo do estudo é avaliar os fatores que estão associados ao diabetes em idosos.

. . . . . . . . . . . . . . . Mé to d ol o g i a . . . . . . . . . . . . . ........

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, modalidade de pesquisa onde se investiga de forma direta por meio da busca de artigos por fontes secundárias de toda evidência já publicada relacionada ao tema abordado. Tal forma de pesquisa que o pesquisador entre em contato com todas as obras disponíveis sobre o assunto e também lhe acende novas possibilidades interpretativas com a finalidade de apontar, e tentar completar as lacunas do conhecimento. A revisão integrativa foi constituída por referências científicas com a temática fatores associados aos diabetes em idosos. Foram incluídas no estudo as referências publicadas no período compreendido de 2007 a 2020 disponibilizadas na íntegra (texto completo) obtidas em plataforma de busca online: Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMED) e o Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores: diabetes mellitus, idosos, saúde do idoso e doenças cardiovasculares. Construiu-se um formulário de coleta de dados elaborado especificamente para essa pesquisa. O instrumento foi preenchido para cada referência da amostra final do estudo, permitindo assim a obtenção de informações sobre identificação da referência, autores, ano de publicação, periódico, tipo de pesquisa e a classificação da abordagem do estudo. Foram encontradas 12 referências relacionadas a diabetes, sendo que desse total, foram excluídas 3 referências por não se encaixarem nas categorias, restando 9 referências que se enquadraram no critério de inclusão do estudo. As referências foram analisadas de forma sistematizada e agrupadas em uma tabela. Nesta, foram agrupados os estudos que traziam em sua análise a diabetes e algumas de suas implicações. A revisão integrativa de literatura assegura os aspectos éticos, garantindo a autoria dos artigos pesquisados, sendo os autores citados tanto no corpo do texto NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Factors Associated with Diabetes in Elderly

Tabela 1:Distribuição das referências bibliográficas publicadas no período de 2007 a 2020 segundo autor, ano, título, objetivo e principais resultados. Autor/ano Título

Objetivo

Principais resultados

Pereira et Comportamento al., 2007. Alimentar dos Pacientes Diabéticos Atendidos pelo Programa de Atenção ao Diabético de Hospital Universitário de Belém, PA

O estudo foi de base transversal e o método utilizado foi a pesquisa descritiva, onde não houve a manipulação ou interferência do pesquisador nas respostas. Possui 380 pacientes participantes, o qual demonstrou que o presente estudo apresenta 95% de confiabilidade. Assim obteve-se uma amostra representativa de 133 pacientes, equivalente a 35% da população total. Foi realizado um estudo transversal descritivo, onde o publico alvo foram 380 pacientes diabéticos , de ambos sexos ,onde foi feito uma entrevista através de um formulário . As análises dos dados coletados foram feitas nos programas: Virtual Nutri, versão 1.0 for Windows-1996 e Microsoft Office Excel 2003. Foi realizado um estudo transversal descritivo, onde o público alvo pacientes diabéticos, de ambos sexos, onde foi feito uma entrevista através de um formulário.A analise foi observada pela dieta consumida.

Em relação às quantidades de macronutrientes consumidos, notou-se que 44,36% seguiam uma dieta hipoglicídica, 81,96% uma dieta hiperprotéica e 85,71% uma dieta normolipídica. Observou-se, então, que os pacientes ainda não estão seguindo completamente à orientações nutricionais, uma vez que há um alto consumo de fontes protéicas. Porém, foram observados pontos positivos importantes para o êxito do tratamento. Observou-se que os portadores de Sindrome metabólica apresentaram, em sua maioria, excesso de peso. revelando hábitos alimentares qualitativamente inadequados, com alto consumo de doces, salgados, frios e embutido.

FARIAS et Estado Nutricional al.,2010 de Idosos Portadores de Síndrome Metabólica de um Hospital de Santo André

O tratamento deve visar o controle de glicemia na tentativa de evitar ou retardar as complicações. A dieta deve além de controlar a glicemia e complicações, monitorar o peso ideal. A educação nutricional é valida no sentido de melhorar a qualidade de vida do paciente e obter resultados constantes. Medidas associadas como a atividade fisica, abandono do tabagismo e alcoolismo são essenciais para o sucesso do tratamento. PRADO et Diabetes em ido- Foi realizado um estudo transversal com Observou-se a ingestão média de medicamenal.,2016 sos: uso de drogas 1.517 idosos em Campinas, nos quais a tos foi de 3,9 nos 3 dias anteriores. Possíveis e risco de interação prevalência de diabetes foi estimada e interações foram identificadas em 413 casos medicamentosa. suas associações avaliadas pelo teste de e 53,1%, 7,8% e 7,2% dos indivíduos apreRao-Scott (p <0,05). sentaram risco moderado, menor e grave de Diabetes em Idosos, respectivamente. RAMOS Fatores associados Estudo descritivo, de corte transversal, Não houve associação estatística significativa et al., ao diabetes em realizado com 301 idosos de ambos entre a prevalência de diabetes e as variáveis 2017 idosos assistidos os sexos. A análise bivariada foi feita socioeconômicas e demográficas, fatores comem serviço ambu- através dos testes qui-quadrado de Inde- portamentais e condições de saúde. Apenas a latorial especiali- pendência de Pearson e teste Exato de variável Índice de Massa Corpórea apresenzado geronto-geri- Fisher, considerando 5% de significância tou-se no entorno da significância estatística átrico. 95% confiança. Para verificar os fato(p=0,059). res que podem influenciar a ocorrência do diabetes foi ajustado um modelo de regressão logística multivariado.

PORTERO et al.,2015

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Aspectos Atuais no Tratamento Dietético de Pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2.

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NUTRIÇÃO EM PAUTA


Fatores Associados ao Diabetes em Idosos

saúde pública

Tabela 1:Distribuição das referências bibliográficas publicadas no período de 2007 a 2020 segundo autor, ano, título, objetivo e principais resultados. Autor/ ano

Título

Objetivo

ROLIM,et Efeitos do diabeal., 2018 tes mellitus e da hipertensão arterial sistêmica na audição de idosos.

Participaram 100 idosos. Para a avaliação do limiar auditivo, uma avaliação audiológica completa anterior (A1) e uma nova avaliação audiológica (A2). Os participantes foram divididos em quatro grupos para serem avaliados.

SILVEIRA Alta prevalência de et al. obesidade abdomi2018. nal em idosos e sua associação com diabetes, hipertensão e doenças respiratórias.

Trata-se de um estudo transversal com amostra representativa de idosos residentes em Goiânia, Brasil. Foram realizadas visitas domiciliares para medir peso, altura, circunferência da cintura (CA), pressão arterial e preencher um formulário padronizado. A variável desfecho foi calculada em CC> 102 cm para homens e> 88 cm para mulheres Estudo transversal de base populacional com idosos (≥ 60 anos) entrevistados pelo Vigitel em 2012 (n = 10.991). As análises foram realizadas por meio de regressão de Poisson multinível no Stata 12.

Principais resultados

Pode-se observar que não houve diferença estatisticamente significante para nenhuma das frequências do grupo diabetes mellitus ; para o grupo hipertensão arterial sistêmica, diferenças significativas foram observadas após 4kHz. Para o grupo diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica, foram observadas diferenças significativas nas frequências de 500, 2kHz, 3kHz e 8kHz. BORBA et Fatores associados Estudo observacional-seccional, desen- Analisando-se a adesão referida tem-se que à adesão terapêu- volvido no Núcleo de Atenção ao Idoso 78,7% faziam uso regular de medicamentos al., 2018 tica em idosos (NAI) da Universidade Federal de Per- para diabetes, seguidos de 16,0% que não diabéticos assisnambuco (UFPE). A amostra foi do tipo tinham indicação para medicação. Apenas 38,7% praticavam atividade física regularmentidos na atenção conveniência, constituída primária de saúde. por 244 idosos diabéticos, de ambos os te e 60,0% seguiam recomendações nutriciosexos. A variável dependente correspon- nais prescritas por médico ou nutricionista. deu à adesão terapêutica referida, a qual corrobora com as Diretrizes para o Tratamento e Acompanhamento do Diabetes Mellitus.

FRANPrevalência simulCISCO et tânea de hipertenal. 2018 são e diabetes em idosos brasileiros: desigualdades individuais e contextuais. Fonte: dados de pesquisa ,2020.

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A prevalência de obesidade abdominal foi de 55,1%, sendo 65,5% em mulheres e 34,8% em homens, com diferença significativa (p <0,001). Nos homens, a obesidade abdominal esteve associada à faixa etária entre 70 e 74 anos, presença de doenças respiratórias e pressão alta. Nas mulheres, a obesidade abdominal continuou associada à presença de diabetes mellitus. A média de idade dos idosos foi de 69,4 anos e a prevalência simultânea das doenças foi de 16,2% com variação nas capitais brasileiras. Verificou-se o efeito da região geográfica na prevalência simultânea pela elevação de 23,5% na magnitude da razão de prevalência, após ajuste para todas as variáveis individuais.

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Factors Associated with Diabetes in Elderly

como nas respectivas referências deste trabalho, obedecendo as normas da Associação Brasileira de Normas – ABNT e do Manual de Normatização de Trabalho Conclusão de Curso do Centro Universitário Santo Agostinho.

. . . ...... R esu lt a do s e Dis c uss õ es .. . . . . . . . Na tabela 01 estão descritos os resultados referentes aos fatores associados ao diabetes em idosos e suas consequências a partir da análise dos artigos incluídos na revisão, publicados no período de 2007 a 2020. A diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica que afeta o metabolismo dos carboidratos, de lipídeos e de proteínas. Segundo Prado et al (2016), com relação aos comportamentos de saúde, cerca de 46% dos idosos diabéticos apresentavam excesso de peso e não realizavam atividades físicas regulares no contexto do lazer. O sobrepeso foi acentuado em indivíduos com DM2 e que apresentavam resistência à insulina, principalmente a partir dos 40 anos, onde a medida mais amplamente pratica-

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da no controle do diabetes foi a medicação oral de rotina (60,8%) e, dentre as menos utilizadas, os destaques foram a dieta para emagrecer (3,3%) e a prática de exercícios (2,2%). Segundo Portero et al (2015), a DM defini-se pela presença de hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, e conseqüências a longo prazo incluindo danos, disfunção e falência de vários órgãos, especialmente rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos.A maneira de vida ocidentalizada, dieta rica em lipídeos e carboidratos refinados, além do sedentarismo, tem provocado um aumento na incidência de obesidade na população, que por sua vez está linearmente ligada a ocorrência de DM2, assim como os fatores genéticos e demais determinantes da síndrome. No presente estudo de Pereira et al (2007), mostrou uma predominância de mulheres (72,18%), o que demonstrou uma concordância com a bibliografia consultada, pois as pesquisas mostram que a maioria da população diabética é do sexo feminino e ainda sugerem que isso se dá pelo fato das mulheres frequentarem mais o serviço de saúde que os homens. Com relação à idade, a maioria dos casos, tanto homens (67,57%) quanto mulheres (75%) encontravam-se na faixa etária de 50 a 70 anos, confirmando

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Fatores Associados ao Diabetes em Idosos

os autores que consideram uma maior prevalência de diabetes em pessoas de 30 a 69 anos, já que o risco de Diabetes mellitus tipo 2 aumenta após os 40 anos de idade. Corroborando com o exposto, Farias et al (2010), realizou um estudo onde foi notado que 9,21% dos entrevistados eram portadores de SM e diabéticos, prevalecendo o sexo masculino e 71,4% eram obesos. Observou-se também o consumo de doces e açúcares onde 14,3% dos pacientes consumiam diariamente e, semanalmente 22,9% dos entrevistados. Já no que diz respeito ao consumo de salgados, resultou-se em 34,3% o consumo semanal; e com relação ao consumo de frios e embutidos foi de 71,4%. A ingestão frequente de alimentos ricos em açúcares simples, gorduras saturadas e sódio deve ser diminuída, considerando as consequências que esse consumo irregular na alimentação pode ocasionar, principalmente em população doente. Considerado o estudo de Ramos et al (2017), quanto aos fatores comportamentais ligados à saúde, não foi observado significância das variáveis tabagismo e etilismo bem como suas frequências. Um dado interessante desta pesquisa é que, apesar das limitações funcionais e disfunção de órgãos que o diabetes pode causar, aproximadamente um quarto dos idosos diabéticos (23,5%) auto avaliaram sua saúde como excelente, muito boa ou boa. Rolim et al (2018), focou em avaliar as consequências da perda auditiva baseado em doenças crônica, como por exemplo a DM. Uma das hipóteses desse estudo, relacionou à maior duração da doença no grupo de hipertensão arterial - HA, seguido pelo diabetes mellitus e hipertensão arterial e, finalmente, pelo grupo DM. Entretanto, é importante ressaltar que o DM e a HA são doenças assintomáticas e, portanto, o tempo de início da doença pode ser maior que o relatado. Já o estudo de Borba et al (2018), apresentou a adesão integral à terapêutica para o diabetes que resultou baixa entre os idosos diabéticos entrevistados, decorrente da complexidade dos esquemas medicamentosos, atrelada à falta de entendimento, esquecimento, diminuição da acuidade visual e destreza manual. Outro trabalho que também evidencia os fatores associados a diabetes em idosos é o de Silveira et al (2018), onde identificou elevada prevalência de obesidade abdominal em idosos, acometendo mais de 50%. A associação de DM com obesidade abdominal observada nessa pesquisa confirma achados de outros estudos com idosos. O aumento da gordura visceral está relacionado com a resistência insulínica e elevado risco de DM tipo 2, uma vez que o tecido adiposo visceral secreta adipoMARÇO 2021

saúde pública

nectina e outras substâncias vasoativas importante na regulação do metabolismo da glicose, contribuindo para o desenvolvimento do DM tipo 2, acometendo também, à presença de doenças respiratórias. Francisco et al (2018) em seu estudo, apresenta a prevalência simultânea de hipertensão arterial e diabetes mellitus nos idosos, resultando em 16,2%, como também, a variação nas capitais brasileiras. Sabe-se que a prevalência de doenças crônicas entre os idosos é elevada. Deve-se citar que os fatores sociais, econômicos, culturais, raciais e comportamentais são determinantes de vários desfechos em saúde e apresentam-se interrelacionados e sobrepostos de forma hierárquica.

. . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . ....... As complicações decorrentes ao autocuidado inadequado e à falta de domínio do diabetes em idosos, constitui um grave problema de saúde pública, pois as ações de prevenção e promoção de saúde em todos os níveis de assistência deveriam ter como foco principal a prevenção e o controle do DM. Embora esse assunto seja de grande importância para a sociedade, observou-se que os fatores associados ao diabetes em idosos que predominam, com consequências graves, são o ganho de peso, dislipidemias, síndrome metabólica, riscos elevados para doenças cardiovasculares e problemas respiratórios. Os estudos já realizados permitem a obtenção de informações relevantes quanto à contribuição de hábitos alimentares corretos e prática de atividade física para que ocorra uma diminuição desses níveis como um todo em prol da longevidade.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Profa. Dra. Liejy Agnes dos S. R. Landim - Doutoranda em Alimentos e Nutrição (UFPI). Mestre em Alimentos e Nutrição pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Docente do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI. Brenda Lhorrana Oliveira; João Vitor Barradas Sousa; Nádia Ferreira Santos; Rafaela Gomes Soares; Maria NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Factors Associated with Diabetes in Elderly

Alícia Viana Marques; Maria Vitória da Silva - Acadêmicos do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI. Profa. Dra. Daniela Neves Ibiapina Fortes - Doutoranda em Alimentos e Nutrição (UFPI), Mestre em Alimentos e Nutrição pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Docente do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Diabetes mellitus. Idosos. Saúde do idoso. Doenças cardiovasculares. KEYWORDS: Diabetes mellitus. Aged. Health of the Elderly. Cardiovascular diseases

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 28/4/20

- APROVADO: 22/3/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

mellitus. Esc Anna Nery,v. 24, n. 1, 2020. PORTERO, K. C. C. et al. Aspectos Atuais no Tratamento Dietético de Pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2. Rev. Nutrição em Pauta, edição: março / abril, 2015. PRADO, M. A. M. B; FRANCISCO, P. M. S. B.; BARROS, M. B. A. Diabetes em idosos: uso de medicamentos e risco de interação medicamentosa. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 11, 2016. FARIAS, R. M. P. P. L, K. C., LORENZO V. V., Estado Nutricional de Idosos Portadores de Síndrome Metabólica de um Hospital de Santo André. Rev. Nutrição em Pauta. Nov/dez, 2010. PEREIRA, L. K. C et al. Comportamento Alimentar dos Pacientes Diabéticos Atendidos pelo Programa de Atenção ao Diabético de Hospital Universitário de Belém, PA. Rev. Nutrição em Pauta, Edição: nov/dez, 2007. RAMOS, R. S. P. S. et al. Fatores associados ao diabetes em idosos assistidos em serviço ambulatorial especializado geronto-geriátrico. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol, v. 20, n. 3, 2017. ROLIM, L. P. et al. Effects of diabetes mellitus and systemic arterial hypertension on elderly patients’ hearing. Brazilian journal of otorhinolaryngology, v. 84, n. 6, 2018. SILVEIRA, E. A; VIEIRA, L. L; SOUZA, J. D. High prevalence of abdominal obesity among the elderly and its association with diabetes, hypertension and respiratory diseases. Ciencia & saude coletiva, v. 23, n. 3, 2018. STOPA, S.R. et al. Uso de serviços de saúde para controle da hipertensão arterial e do diabetes mellitus no municipio de São Paulo. Rev. Bras. Epidemiol, v. 22, 2019.

BORBA, A.K.O.T. et al. Fatores associados à adesão terapêutica em idosos diabéticos assistidos na atenção primária de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, n. 3, 2018. FRANCISCO, P.M.S.B et al. Prevalência simultânea de hipertensão e diabetes em idosos brasileiros: desigualdades individuais e contextuais. Ciência & Sociedade Coletiva, v. 23, n. 11, 2016. FRANCISCO, P. M. S. B et al. Prevalência simultânea de hipertensão e diabetes em idosos brasileiros: desigualdades individuais e contextuais. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, 2018. ISER B. P. M. et al. Prevalência de diabetes autorreferido no Brasil: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Epidemiol Serv Saúde, v. 24, n. 2, 2015. MELLO, A. P. A. et al. Estudo de base populacional sobre excesso de peso e diabetes mellitus em idosos na região metropolitana de Goiânia, Goiás. Geriatr. Gerontol Aging, v. 10, n. 3, 2016. MOTA, T. A. et al. Fatores associados à capacidade funcional de pessoas idosas com hipertensão e/ou diabetes

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Development of Culinary Recipes Adapted to the Nutritional Needs and Eating Habits of the Elderly

food service

Desenvolvimento de Receitas Culinárias Adaptadas às necessidades Nutricionais e Hábitos Alimentares de Idosos RESUMO: O estudo teve o objetivo de desenvolver receitas culinárias adaptadas às necessidades nutricionais e hábitos alimentares de idosos. Foram desenvolvidas receitas culinárias voltadas para lanches ou pequenas refeições, apresentando alto teor de fibras, sem açúcar de adição, sem glúten, sem ingredientes ultraprocessados. Elaborou-se quatro receitas bases, sendo uma base para bolo, uma torta salgada, uma para biscoito e uma para pão. Destas, derivaram oito receitas testadas e aprovadas: torta de atum, torta de frango, bolo de maçã, bolo de banana, pão de batata doce laranja com sementes, pão de batata doce, cookie de banana e cookie de tâmara. As oito preparações aprovadas foram compiladas no formato de e-book, contendo ingredientes, modo de preparo, informação e destaque nutricional. Levou-se em consideração tanto as necessidades nutricionais quanto os hábitos alimentares e memórias afetivas dos idosos. Enfatiza-se a necessidade de realizar o teste de análise sensorial para verificar a aceitação do público-alvo.

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ABSTRACT: The study aimed to develop culinary recipes adapted to the nutritional needs and eating habits of the elderly. Culinary recipes were developed for snacks or small meals, with high fiber content, no added sugar, no gluten, no ultra-processed ingredients. Four basic recipes were developed, one for cake, one for salty pie, one for cookie and one for bread. From these, eight tested and approved recipes were derived: tuna pie, chicken pie, apple cake, banana cake, orange sweet potato bread with seeds, sweet potato bread, banana cookie and date cookie. The eight approved dishes were compiled in e-book format, containing ingredients, method of preparation, nutritional information and highlights. Nutritional needs, eating habits and affective memories of the elderly were taken into account. It emphasizes the need to perform the sensory analysis test to verify the acceptance of the target audience.

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Desenvolvimento de Receitas Culinárias Adaptadas às necessidades Nutricionais e Hábitos Alimentares de Idosos

. . . .............. Int ro du ç ã o

. . . . . . . . . .. . . . . . . . por idosos, principalmente nos ILPI, o que pode interferir

O envelhecimento é marcado por diversos fatores sociais, culturais e econômicos. No Brasil, o número de idosos é crescente e por isso se fazem necessárias estratégias para a promoção de saúde e prevenção de doenças prevalentes nessa etapa do ciclo de vida (BARROS et al., 2016; GUTHS et al., 2017). Os idosos geralmente apresentam baixa capacidade funcional, pouco contato com a família, sedentarismo, declínio cognitivo e alguma Doença Crônica Não Transmissível (DCNT), dentre as principais: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Acidente Vascular Encefálico (AVC), doença osteoarticular, comprometimento visual e transtorno mental (BARROS et al., 2016). O estado nutricional do idoso, tanto a desnutrição, como sobrepeso e obesidade podem influenciar na diminuição da capacidade funcional e, portanto, intervenções nutricionais podem ser úteis na melhora da qualidade de vida desse público (JENTOFT et al., 2017). Nesse sentido, deve-se considerar que durante o envelhecimento as alterações do estado nutricional são mais frequentes devido a fatores limitantes do consumo alimentar e do aproveitamento dos nutrientes. Dentre estes, destacam-se fatores psicológicos, mudanças fisiológicas como as alterações do trato digestório, restrição de mobilidade e fatores econômicos. Assim, destaca-se a importância de acompanhamento nutricional dos idosos pelo fato de serem um grupo vulnerável a alterações nutricionais (FERREIRA-NUNES et al., 2018). Além disso, o Guia Alimentar para a População Brasileira enfatiza que a desvalorização do ato de preparar a própria refeição implica maior procura por alimentos ultraprocessados o que pode acarretar maiores riscos de desenvolvimento de doenças. A falta de conhecimento e habilidades culinárias e falta de capacitação de cuidadores e profissionais da área, também podem ser uma barreira para adesão a alimentação saudável (BRASIL, 2014; GUTHS et al., 2017; POLAK et al., 2014). Corroborando, especialmente nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), observa-se que o ato dos idosos se alimentar torna-se mecânico e, muitas vezes, sem significado emocional. A rigidez na produção e distribuição da alimentação dos idosos parece ser um fator que contribui para que o significado afetivo de se alimentar seja perdido (OLIVEIRA et al., 2010). Este fato pode contribuir para a baixa aceitação e ingestão de alimentos

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negativamente no seu estado nutricional. Por isso, ofertar alimentos que façam parte dos hábitos e cultura alimentar desses indivíduos se faz necessário (COLOMÉ et al., 2011; SANTELLE et al., 2007). Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi desenvolver receitas culinárias adaptadas às necessidades nutricionais e hábitos alimentares de idosos.

. . . . . . . . . . . . . Me to d ol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . ....... 


 Foi realizado levantamento bibliográfico sobre as necessidades específicas de idosos e as principais preparações culinárias consumidas por este grupo, nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (ScieELO), Google Acadêmico, Pubmed/Medline e Biblioteca Virtual da Saúde, além de anais de Congressos, teses e dissertações do Portal Periódicos Capes, tendo como prioridade trabalhos publicados nos últimos 5 anos. Para a realização da pesquisa nas bases de dados, utilizaram-se descritores na língua portuguesa e inglesa: saúde do idoso, nutrição do idoso, hábitos alimentares, envelhecimento, qualidade nutricional e doenças crônicas não transmissíveis. Foram desenvolvidas receitas de massa de bolo, pão, massa salgada e uma base para biscoito. As escolhas dessas preparações foram inspiradas no livro Suas Receitas, Nossas Inspirações, do Residencial Bethesda (INSTITUIÇÃO BETHESDA, 2019). Esse residencial é uma Instituição de Longa Permanência para Idosos, localizado na cidade de Joinville, Santa Catarina, a qual desenvolveu um livro com as receitas afetivas e de família dos moradores do residencial. Em relação aos hábitos alimentares, as escolhas dessas preparações foram pensadas tendo em vista às preferências destes alimentos pela maioria dos idosos e suas memórias afetivas (FERREIRA-NUNES et al., 2018). Nesse sentido, optou-se por desenvolver receitas voltadas para lanches ou pequenas refeições, pois se observa uma preferência por doces, carboidratos simples, industrializados, ou seja, alimentos de baixa qualidade nutricional, durante a realização destas refeições por idosos (FERREIRA-NUNES et al., 2018). A escolha das receitas e devidas adaptações culinárias também levaram em consideração as necessidades nutricionais dos idosos. Com relação à qualidade nutriNUTRIÇÃO EM PAUTA


Development of Culinary Recipes Adapted to the Nutritional Needs and Eating Habits of the Elderly

food service

Quadro 1 - Adaptações das receitas culinárias. Preparação Bolo base

Biscoito base

Torta base

Pão base

Ingredientes adicionados ou adaptados e razões para a adição destes ingredientes Uva passa - Substituir o açúcar de adição, adicionar resveratrol. Óleo de girassol – Substituir a manteiga ou margarina. Farinha de arroz integral –Adicionar fibras e substituir a farinha de trigo. Farinha de aveia – Adicionar fibras. Psyllium – Adicionar fibras. Bananas maduras – Adicionar potássio, substituir açúcar de adição. Pasta de amendoim – adicionar proteínas e energia. Farelo de aveia – adicionar fibras. Banana madura ou tâmara – Adicionar potássio, substituir açúcar de adição. Farinha de arroz integral – adicionar fibras, substituir farinha de trigo. Leite integral zero lactose – adicionar vitamina A, cálcio, retirar a lactose. Azeite de oliva – adicionar gorduras monoinsaturadas, substituir manteiga ou margarina. Psyllium – adicionar fibras. Açafrão – adicionar antioxidantes. Ora-pro-nóbis – diversificar a alimentação, adicionar proteínas. Atum – incluir proteína de fácil digestão, fonte de ômega 3. Batata doce – incluir carboidratos complexos. Farinha de arroz integral – adicionar fibras e substituir a farinha de trigo. Gergelim preto, gergelim branco – adicionar fibras e cálcio. Linhaça dourada – adicionar fibras, ômega 3. Chia - adicionar fibras, ômega 3.

cional, as preparações deveriam apresentar alto teor de fibras e não serem adicionadas de açúcar, pois a maioria dos idosos pode apresentar resistência à insulina (FRIMER et al., 2015). A consistência foi compatível com a capacidade de mastigação e digestão dos idosos, haja vista que muitos idosos podem apresentar limitações (SOUZA; SILVA; SCELZA NETO, 2019). MARÇO 2021

Destaques nutricionais da preparação Sem açúcar de adição. Energético (141kcal/porção de 60g). Rico em fibras. Sem glúten. Sem lactose.

Sem açúcar de adição. Sem gordura vegetal hidrogenada Rico em fibras.

Rica em proteínas (8,5g/porção de 120g). Energético (237kcal/porção de 120g). Sem lactose. Sem glúten. Rico em fibras. Pobre em sódio (423mg/porção de 120g) e em gorduras saturadas (1,5g).

Baixo índice glicêmico. Sem açúcar de adição. Pobre em sódio (193mg/porção). Sem lactose. Sem glúten. Rico em fibras.

As receitas foram testadas e adaptadas pelas pesquisadoras do estudo, com base em livros de receitas e websites. Estas foram testadas no mês de outubro de 2020, no laboratório de Técnica Dietética do Centro Universitário Católica de Santa Catarina. As receitas testadas foram padronizadas em forma de ficha técnica e somente foram incluídas as receitas NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Desenvolvimento de Receitas Culinárias Adaptadas às necessidades Nutricionais e Hábitos Alimentares de Idosos

aprovadas pelas pesquisadoras. Com base nas informações das fichas técnicas, foram elaboradas as informações nutricionais, utilizando-se como referência a Resolução RDC nº360/2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (BRASIL, 2003). As receitas culinárias aprovadas foram compiladas no formato de e-book, apresentando o nome da preparação, ingredientes em medidas caseiras e peso, modo de preparo, imagem da preparação, dicas de substituição, informação nutricional e destaques nutricionais.

. . . ...... R esu lt a do s e Dis c uss ã o . . .. . . . . . . 


 Foram desenvolvidas quatro receitas bases: base para bolo, torta salgada, biscoito e pão e destas, oito preparações derivadas, sendo estas: torta de atum, torta de frango, bolo de maçã, bolo de banana, pão de batata doce laranja com sementes, pão de batata doce, cookie de banana e cookie de tâmara. As receitas base foram elaboradas visando terem aspecto sensorial semelhante às preparações tradicionais, as quais fazem parte do hábito alimentar de idosos, mas com melhor qualidade nutricional de acordo com as necessidades específicas, sendo energéticas, sem açúcar, sem glúten, ricas em fibras, sem ingredientes ultraprocessados, as quais podem fazer parte da alimentação tanto dos idosos saudáveis, quanto para àqueles que apresentam alguma enfermidade, como doenças crônicas, alergias e intolerâncias. Já, as receitas derivadas, foram elaboradas para exemplificar como podem ser complementadas as receitas bases, apresentando uma diversidade de sabores e opções mais variadas, conforme apresentado no quadro 1. As receitas elaboradas podem fazer parte de uma alimentação equilibrada e saudável de idosos, sendo ricas em fibras, sem açúcar de adição, sem ingredientes ultraprocessados, conforme as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014). Sabe-se que o consumo deficiente ou excessivo de determinado nutriente se associa ao baixo peso ou obesidade e diversas doenças, especialmente às não transmissíveis. Nesse sentido, são reconhecidas as relações entre nutrientes e patologias específicas como: alto consumo de gordura saturada e colesterol, com aumento do risco de doenças coronarianas; consumo adequado de fibras e diminuição do risco de câncer no trato gastrintestinal; consumo elevado de sódio e aumento da pressão arterial,

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dentre outras (ABREU et al., 2008). De acordo com Freitas et al. (2011), as principais fontes de carboidratos consumidas pelos idosos são pão, arroz branco e açúcar refinado. Os carboidratos, quando ingeridos em excesso, principalmente os com baixa quantidade de fibras e de rápida absorção, como açúcar de adição e frutose, presente em muitos alimentos industrializados podem acarretar maiores riscos de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes e doenças coronarianas (SILVA et al., 2019). Estudos demonstram que o consumo de alimentos integrais, ricos em fibras, está associado à redução dos riscos de doenças coronarianas, câncer, obesidade e mortalidade total (AUNE et al., 2016; KIRWAN et al., 2016). Além disso, a constipação intestinal é considerada um dos problemas mais prevalentes na população de idosos, prejudicando sua qualidade de vida (ANTUNES et al., 2019). Por esse motivo, foram desenvolvidas receitas com farinhas integrais, ricas em fibras, com psyllium e farinhas de aveia e arroz integral, as quais também podem ter seus ingredientes variados, diversificando ainda mais a alimentação dos idosos. As frutas foram adicionadas para aromatizar e substituir o açúcar de adição nas receitas. O açúcar é um carboidrato simples e de rápida absorção que, se consumido em excesso, pode causar alterações no metabolismo glicídico e também contribuir para o aumento do risco de DCNT (TOBARUELA et al., 2016). Optou-se também por utilizar misturas de farinhas integrais sem glúten (OLIVEIRA et al., 2020), pois cerca de 20% dos diagnósticos de doença celíaca e sensibilidade não celíaca ao glúten ocorrem em pessoas com 65 anos ou mais e a prevalência destas em idosos vêm aumentando nas últimas décadas (SHIHA; MARKS; SANDERS, 2020). Além disso, o risco de complicações associadas à doença celíaca em pacientes idosos é dezoito vezes maior que em pacientes mais jovens (SCHILLER, 2020). A intolerância à lactose pode ser um quadro comum no processo de envelhecimento, por conta disso, as receitas culinárias foram adaptadas de forma a ficarem isentas de lactose. Assim, caso o idoso tenha uma leve intolerância a lactose, as preparações podem ser ingeridas sem causar desconforto gástrico, uma vez que é possível tolerar a ingestão de lactose se esta for fracionada ao longo do dia e em pequenas quantidades, não ultrapassando 200mL de leite ou 12g de lactose ao dia (NAJAS et al., 2007). Não é recomendada a exclusão total do leite para idosos, por ser uma fonte importante de cálcio, fósforo, vitamina D e vitamina A (PASSANHA et al., 2011). NUTRIÇÃO EM PAUTA


food service

Development of Culinary Recipes Adapted to the Nutritional Needs and Eating Habits of the Elderly

As preparações desenvolvidas foram, propositalmente, mais energéticas, uma vez que o quadro de desnutrição é comum em idosos, principalmente nos institucionalizados. E, isso pode estar associado com o aumento do risco de infecções, mortalidade e diminuição da qualidade de vida (SILVA et al., 2015). As tortas salgadas foram desenvolvidas buscando serem fontes proteicas, as quais podem fazer parte de uma refeição saudável ou para ser consumida como uma pequena refeição (café da manhã ou lanches). O consumo proteico da dieta é a primeira forma de estímulo para síntese proteica, pois aumenta a disponibilidade de aminoáMARÇO 2021

cidos essenciais facilitando o anabolismo após a refeição. Nos casos de sarcopenia (comum nos idosos), o consumo desses aminoácidos essenciais deve ser reposto por meio da dieta (VAZ et al., 2016). As fontes proteicas escolhidas foram a carne de frango moída e atum em conserva, por serem ricas em proteínas, serem de fácil mastigação e deglutição (FERREIRA-NUNES et al., 2018). O atum também é fonte de ácido graxo ômega 3, o qual está associado à prevenção de diferentes doenças, dentre elas, diabetes, doenças renais e neurodegenerativas, comuns em idosos (STEFANELLO; PASQUALOTTI; PICHLER, 2019). Além de considerar os aspectos nutricionais, foi levado em consideração os hábitos alimentares e a memória afetiva do idoso. O Guia Alimentar Brasileiro enfatiza a importância de serem considerados os hábitos culturais e regionais relacionados à alimentação, pois, o ato de se alimentar é algo cultural (BRASIL, 2014), além disso, buscou-se desenvolver derivações para as receitas base, pensando-se em evitar a monotonia alimentar. Observa-se entre os idosos, principalmente nos ILPI, que os alimentos muitas vezes são preparados sempre da mesma maneira o que pode desestimular o idoso a comer. Portanto as receitas desenvolvidas podem estimular a variedade da alimentação dos idosos, pois podem ser adicionados diferentes ingredientes de acordo com suas preferências alimentares (OLIVEIRA et al., 2010). A figura 1 apresenta um exemplo das oito receitas dispostas no formato de e-book, contendo ingredientes, modo de preparo, informação e destaque nutricional. As receitas culinárias não passaram por análise sensorial pelos idosos, sendo aprovadas pelas pesquisadoras, o que pode constituir uma limitação do estudo. No entanto, o objetivo principal do estudo era desenvolver as receitas culinárias, sugerindo-se como continuação do trabalho, verificar a aprovação das receitas pelo público-alvo, por meio de um estudo voltado especificamente para a análise sensorial das receitas.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . ......

O desenvolvimento das receitas culinárias pode ser utilizado como uma estratégia de promoção de alimentação saudável para idosos, contribuindo também para evitar a monotonia alimentar, incluindo ingredientes e nutrientes variados de forma prática, que estimule o NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Desenvolvimento de Receitas Culinárias Adaptadas às necessidades Nutricionais e Hábitos Alimentares de Idosos

paladar e de acordo com as preferências alimentares dos idosos. Além disso, as receitas foram pensadas para os idosos, buscando-se resgatar o significado cultural de se alimentar, as memórias afetivas e hábitos alimentares dos idosos, mas sem perder de vista a qualidade nutricional dos alimentos. As receitas culinárias desenvolvidas, ao serem disponibilizadas em formato de e-book ou impressas, podem ser colocadas em prática por idosos funcionalmente independentes, seus familiares, cuidadores e serem utilizadas por nutricionistas em ILPI, visando à diversificação alimentar e a oferta de preparações nutritivas e saborosas. Sugere-se a continuidade do estudo, por meio da aplicação de um teste de análise sensorial com idosos para avaliar a aceitação das preparações junto ao público-alvo.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores

Bruna Forcione Rebelo Silva; Fátima Camilotti Schulz; Maria Julia Barata Mansanares Giacon - Graduandas do curso de Nutrição do Centro Universitário Católica de Santa Catarina. Profa. Dra. Renata Carvalho de Oliveira - Doutora e Mestre em Nutrição, Nutricionista, Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Católica de Santa Catarina.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Saúde do idoso. Envelhecimento. Alimentação saudável. KEYWORDS: Elderly health. Aging. Health eating.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO:12/1/21 – APROVADO: 20/3/21

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REFERÊNCIAS

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Phytotherapy Complementing Food: How Improve the Life Quality?

A Fitoterapia Complementando a Alimentação: Como Melhorar a Qualidade de Vida? RESUMO: Este trabalho teve por objetivo mostrar a contribuição da fitoterapia na ciência da nutrição especialmente no tratamento de algumas patologias como a hipertensão e a depressão. Além de abordar também os riscos das interações entre fitoterápicos e fármacos. A pesquisa foi realizada entre fevereiro e novembro de 2020 e baseou-se no coletivo de artigos e pesquisas acadêmicas, com o intuito de levar aos leitores o conhecimento, as vantagens e os cuidados desta complementação à nutrição. Concluiu-se que a fitoterapia contribui positivamente com a nutrição, contudo é necessário acompanhamento e prescrição do profissional nutricionista especializado, pois pode haver efeitos colaterais caso haja consumo excessivo e/ou interações com medicamentos. ABSTRACT: This work aimed to show the contribution of phytotherapy in the science of nutrition, especially in the treatment of some pathologies such as hypertension and depression. In addition to addressing the risks of interactions between phytotherapics and drugs. The research was carried out between February and November 2020 and was based on a collective of articles and academic research, with the aim of bringing readers the knowledge, advantages and care of this complementation to nutrition. It was concluded that phytotherapy contributes positively to nutrition, however, it is necessary to monitor and prescribe a specialized nutritionist, as there may be side effects if there is excessive con-

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sumption and / or interactions with medications.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o

. . . . . . . . . . ........

A prática dos fitoterápicos é uma alternativa para o tratamento e a cura de enfermidades, dando destaque, principalmente, aos problemas gastrointestinais. A Fitoterapia é uma forma eficaz de atendimento primário de saúde, podendo complementar o tratamento. Os fitoterápicos e as plantas medicinais fazem parte da medicina popular, construindo assim uma união de saberes internalizados nos praticantes e usuários, principalmente pela tradição oral (BRUNING; MOSEGUI; VIANNA, 2012). Para entender melhor a prática da fitoterapia é preciso perceber as diferenças entre o uso dos fitoterápicos e das plantas medicinais: esta última utiliza a casca, a flor, o caule, o fruto e as folhas para prevenir, curar, aliviar ou alterar processos fisiológicos humanos. Já os fitoterápicos, utilizam os princípios ativos extraídos exclusivamente de matéria-prima vegetal (plantas medicinais) para compor um medicamento, onde seu efeito terapêutico é comprovado cientificamente (COSTA et al., 2015). Os fitoterápicos são medicamentos, regulamenNUTRIÇÃO EM PAUTA


A Fitoterapia Complementando a Alimentação: Como Melhorar a Qualidade de Vida?

tados no Brasil, podem ser considerados para atenuar sintomas ou para a cura de doenças. Eles são caracterizados pelo conhecimento de sua eficácia e dos riscos de seu uso, bem como sua qualidade comprovada por meio de fiscalizações da ANVISA. Diversos fitoterápicos apresentam eficácia comprovada na perda de peso e alguns apresentam mais de uma ação farmacológica (BARBOSA; CRUZ; MARCHIORI, 2016). No ano de 2002, iniciou-se a discussão sobre as Práticas Integrativas da Nutrição, que teve a elaboração e parecer de algumas terapias, entre elas a Fitoterapia. Em 2006 decidiu-se pela liberação de prescrições de fitoterápicos em consultas públicas com Nutricionistas, sendo aprovada na 186º Reunião Plenária Ordinária do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), em 2007. Segundo a RDC n°. 525 de 19 de maio de 2013, só é permitida a prescrição dos fitoterápicos se feita por nutricionista com especialização ou pós-graduação na área fitoterápica e somente e se utilizada como complemento à nutrição (PIM; ALMEIDA; PAIVA, 2018).

. . . ............ Meto dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

O estudo em questão é uma pesquisa bibliográfica com abordagem teórica qualitativa e exploratória de artigos científicos, dissertações, teses e monografias disponíveis nas bases de dados do Google Acadêmico e Scielo. O trabalho apresentou a relação entre os fitoterápicos e a alimentação saudável enquanto ferramentas promotoras da qualidade de vida dos indivíduos, contudo, sem deixar de alertar sobre os riscos que os fitoterápicos podem provocar à saúde do consumidor, quando o fazem sem a devida orientação de um prescritor. Foi escrito entre fevereiro e novembro de 2020 e foi desenvolvido na disciplina Planejamento e Desenvolvimento do Trabalho de Conclusão do Curso Técnico em Nutrição e Dietética, da Etec Cel. Fernando Febeliano da Costa, localizada na cidade de Piracicaba - São Paulo. Os materiais consultados, selecionados e utilizados estão datados entre 2006 e 2020, sendo registradas 19 publicações.

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funcionais

. . . . . . . . . . . . . . . . . . R e su lt a d o s . . . . . . . . . . . . ........ Nutrição, fitoterapia e bem-estar dos indivíduos Nota-se a necessidade de uma maior comunicação entre as áreas, na qual o profissional da nutrição olhe não somente para a alimentação, mas também para o corpo e para a cultura alimentar. A Nutrição clínica funcional baseia-se na estabilidade nutricional e na biodisponibilidade de alimentos importantes para a conservação ou restabelecimento do bem-estar de cada ser conforme seu estado clínico detalhado. Ao unir a terapia convencional ao uso de fitoterápicos atingem-se benefícios, como alternativas ao tratamento de doenças crônicas não transmissíveis e o fortalecimento do sistema imunológico (MACEDO, 2019).

Hipertensão

De acordo com a literatura, alguns fitoterápicos como o alho, ginseng, cratego e cacau apresentam ações cientificamente comprovadas sobre a hipertensão, enquanto o chá verde, apesar de muito utilizado por hipertensos, não apresenta benefícios sobre ela. Alguns fitoterápicos utilizados indiscriminadamente pela população ainda não apresentam, na literatura, estudos que comprovem o seu valor. Novos estudos são demandados para que os profissionais da área de saúde, seguros da eficácia dos fitoterápicos, possam prescrevê-los adequadamente aos pacientes (LIMA; CARDOSO, 2011). A hipertensão é uma das doenças mais dominantes em todo o mundo trata-se de uma doença crônica caracterizada pela pressão sanguínea elevada. Em um estudo realizado com pacientes portadores de hipertensão em estágio leve ou moderado, foram administradas folhas secas pulverizadas e encapsuladas de Alpinia zerumbet (planta originária da Ásia, normalmente encontrada em fartura no nordeste do Brasil), os resultados mostraram que as cápsulas foram eficazes e seguras no controle da hipertensão dos pacientes (MEIRA et al., 2017). Segundo os autores, outro fitoterápico que possui atividade anti-hipertensivas é o Allium sativum (alho) capaz também de reduzir o colesterol no sangue. As substâncias anti-hipertensivas também podem ser encontradas, em menor quantidade, no Allium schoenoprasum (cebolinha), Allium porrum (alho-poró) e Allium cepa (cebola). Já no estudo de Mello e Budel (2014), espécies de Equisetum são utilizadas poNUTRIÇÃO EM PAUTA

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Phytotherapy Complementing Food: How Improve the Life Quality?

pularmente como diuréticas, anti-inflamatórias e hipoglicemiantes. Entres essas espécies encontra-se a Equisetum arvense (Cavalinha).

Saúde mental

A população vem sofrendo cada vez mais com problemas psicológicos, tais como a ansiedade, depressão e a compulsão alimentar. Segundo estudos, 75% das pessoas que sofrem de estresse e ansiedade, também passam por distúrbio químico nos mecanismos da saciedade e assim ganham muito peso, pois consomem mais calorias do que necessitam no dia, principalmente na forma de doces e gordura. De modo geral a compulsão alimentar está relacionada aos sentimentos de ansiedade, depressão e estresse. Os quadros de ansiedade e depressão são afetados por diversos fatores, entre eles os genéticos, os hormonais, os imunológicos, os bioquímicos e os neurodegenerativos (ROCHA; MYVA; ALMEIDA, 2020). Os medicamentos utilizados para tratar transtornos como o da ansiedade e depressão costumam atuar estimulando o neurotransmissor GABA e acabam por decorrência desestimulando o sistema nervoso central. Contudo, algumas plantas medicinais parecem exibirem o efeito desejado no controle da ansiedade sem causar resultados negativos para o bem-estar. Entre tais fitoterápicos há a Matricaria recutita (chá de camomila), Melissa officinalis (Erva-cidreira), Valeriana officinalis (raiz de valeriana), Hypericum perforatum (Erva-de-são-joão), Piper methysticum (Kava), Lavandula (Lavanda) e Rhodiola rósea (Raiz de ouro) (SOARES, 2019).

Constipação intestinal

A constipação intestinal frequentemente está ligada à dieta inadequada, sedentarismo, terapias medicamentosas, alterações endócrinas e metabólicas, além de doenças colônicas, neurológicas, distúrbios psiquiátricos e causas idiopáticas. Contudo, está principalmente correlacionada ao baixo consumo de fibras (LACERDA; PACHECO, 2006). O tratamento da constipação busca aliviar ou eliminar os sintomas já existentes e prevenir ou diminuir novas complicações. Os fitoterápicos mais utilizados para isto são o óleo de rícino (extraído das sementes de Ricinus communis), Aloe Vera (babosa), Rhamnus purshiana (Cáscara Sagrada) e Senna alexandrina Mill. (Sene) (DARROZ et al., 2014).

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Nutrição e fitoterapia como fontes de nutrientes essenciais Estudos comprovam que algumas plantas medicinais são fontes de nutrientes como os minerais e compostos antioxidantes como as vitaminas (COSTA, 2018). O cálcio (Ca) é um importante mineral responsável pelo crescimento, lactação, construção e manutenção dos ossos e dentes e regulação dos batimentos cardíacos. Entre as principais fontes de alimento encontra-se o leite e seus derivados (queijo, iogurte), os feijões e as leguminosas (lentilha, grão-de-bico), ainda pode ser encontrado no repolho crespo, folhas de nabo, folhas de mostarda, brócolis, couve, gergelim, sementes de girassol. Já entre os fitoterápicos a Equisetum arvense (cavalinha), Mentha spicata (hortelã) e Salvia officinalis (sálvia) mostraram elevados teores de cálcio cerca de 30,71; 19,09 e 23,74 mg/l respectivamente. Também pode-se encontrar Ca na ageratum conyzoides (mentrasto) e hypericum perforatum (Erva-de-são-joão) (BERTOL; ALMEIDA; ALMEIDA, 2015) O ferro (Fe) atua no transporte, armazenamento e utilização do oxigênio no corpo e na formação do sangue. As principais fontes deste mineral são carnes vermelhas, feijões e leguminosas, gema de ovo, alguns frutos do mar (camarão e ostras), grãos integrais ou enriquecidos entre outros. Os fitoterápicos que apresentaram Fe em sua composição são Caesalpinia ferrea Martius (pau-ferro ou jucá), Centella asiática (cairuçú), Paullinia cupana (guaraná) e Casearia sylvestris (Guaçatonga) (YAMASHITA, 2006). Ademais, há outros minerais igualmente importantes para o organismo humano e com excelentes fontes alimentares e fitoterápicas, como o potássio (K) e o fósforo (P). Uma fonte fitoterápica do potássio é a Dysphania ambrosioides (Erva-de-santa-maria) e do fósforo Zingiber officinale (Gengibre) (COSTA, 2018). As vitaminas são essenciais para o organismo humano, elas operam em processos bioquímicos como crescimento e desenvolvimento dos tecidos, síntese do DNA, tem ação antioxidante, transportam minerais e outros nutrientes, protegem as células e nos protegem contra doenças (RODRIGUES et al., 2015). A vitamina A encontrada no leite e derivados, fígado, gema de ovo, cenoura e mamão também está disponível em Frutos de palmeiras: Mauritia vinifera (buriti) e Dipteryx alata (baru). Já a vitamina C, comumente encontrada em Frutas cítricas, frutas vermelhas e vegetais NUTRIÇÃO EM PAUTA


A Fitoterapia Complementando a Alimentação: Como Melhorar a Qualidade de Vida?

funcionais

Quadro 1 – Possíveis efeitos da interação de fitoterápicos a base de ginkgo (Ginkgo biloba L.) e alguns fármacos Classe farmacológica

Fármacos

Possíveis efeitos

Anti-inflamatórios não-esteroidais Antiulcerosos inibidor da bomba de prótons

Ibuprofeno Ácido acetilsalicílico Omeprazol

Aumenta risco de hemorragia Redução da concentração plasmática e do efeito terapêutico

Fonte: Adaptado de Alexandre; Bagatini e Simões (2008)

Quadro 2 – Possíveis efeitos da interação de fitoterápicos a base de ginseng (Panax ginseng C. A. Mey. e Panax quinquefolius L.) e alguns fármacos Classe farmacológica

Fármacos

Possíveis efeitos

Hipoglicemiantes

Insulina

Estrogênios

Contraceptivos orais à base de estrogênios

Aumento da secreção e sensibilidade à insulina = Hipoglicemia grave Mastalgia (Dor nas mamas) e sangramento menstrual excessivo

Fonte: Adaptado de Alexandre; Bagatini e Simões (2008)

vermelhos também pode ser obtida na casca e folhas de limão e laranja (COSTA, 2018).

Acesso da população aos fitoterápicos pelo SUS

A medicina popular no Brasil, atualmente, é um reflexo da união étnica entre os diferentes imigrantes e os inúmeros povos nativos que transmitiram e disseminaram o conhecimento das ervas locais e de seu uso. Ainda hoje, sabe-se que 80 % da população mundial necessitam das práticas mais tradicionais no que se referem à atenção primária a saúde e 85 % dessa parcela utiliza preparações à base de vegetais ou plantas. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, observou-se que 65% a 80% da população dependem exclusivamente das plantas medicinais para os cuidados básicos de saúde (SILVA, 2017). Considerando as plantas medicinais um instrumento primordial para a assistência farmacêutica, a OMS (Organização Mundial da Saúde) realizou vários comunicados e resoluções que expressam a posição da organização a respeito da necessidade de valorizar o uso desses MARÇO 2021

medicamentos, no âmbito sanitário. De tal maneira, o SUS (Sistema Único de Saúde) desenvolve ações e programas com fitoterápicos em todas as regiões do país, levando em consideração cada bioma diferente e suas espécies de plantas disponíveis. Para melhorar o acesso dos usuários, as unidades de saúde devem ter disponíveis de forma complementar esses produtos, onde pode-se utilizar os fitoterápicos manipulados, industrializados, as plantas medicinais “in natura” e drogas vegetais (plantas medicinais secas) (COSTA et al., 2015). Efeitos da interação entre fitoterápicos com medicamentos alopáticos A maioria dos usuários de plantas medicinais e/ ou fitoterápicos são adultos e idosos, que fazem uso de outros medicamentos como principal tratamento para alguma doença e acreditam que a fitoterapia é uma alternativa que não causa efeitos adversos e/ou interações medicamentosas. Na maioria das vezes a ingestão desses fitoterápicos é feita sem ou com poucos critérios. Porém, NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Phytotherapy Complementing Food: How Improve the Life Quality?

as plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos podem provocar efeitos adversos, toxidade e apresentar contraindicação de uso, devido ao fato de serem formados pela combinação de vários compostos químicos ativos, ocorrendo muitas interações em diferentes órgãos e tecido (TEIXEIRA; SANTOS, 2011). Segundo Alexandre; Bagatini e Simões (2008), a administração conjunta de fitoterápico e medicamentos alopáticos pode mudar o grau de resposta dos pacientes, causando aumento ou diminuição do efeito farmacológico esperado. O Quadro 1 e 2 apresentam alguns fitoterápicos e o resultado de sua interação com fármacos.

Sobre os autores

Profa. Dra. Neila Camargo de Moura - Nutricionista graduada pela Universidade Metodista de Piracicaba. Mestrado e Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Docente do curso técnico em Nutrição e Dietética da Etec Cel. Fernando Febeliano da Costa, Piracicaba. Patrícia Queiróz; Tatiana Bontempo Vieira; Victória Rosa Bugno -Discentes do curso técnico em Nutrição e Dietética da Etec Cel. Fernando Febeliano da Costa, Piracicaba.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ . . . ...... C onsi dera çõ es Finais . . . . . .. . . . . . .

Uma alimentação equilibrada nutricionalmente e aliada ao uso complementar dos fitoterápicos pode colaborar para o controle da hipertensão, depressão e ansiedade. Ademais, essa união permite um aporte de nutrientes essenciais para o organismo, como vitaminas e minerais, necessários para a realização da manutenção da saúde por meio de processos bioquímicos e enzimáticos. A fitoterapia possui baixo custo de produção, tem fácil acesso às matérias primas e aos produtos por meio do SUS e ainda nos conecta com a natureza e é culturalmente compatível, pois é praticada em diversas regiões do país e do mundo. Mesmo com suas diversas vantagens, é importante ressaltar que pode haver riscos caso haja consumo excessivo e interação com medicamentos alopáticos. Essa interação pode provocar redução dos efeitos dos medicamentos alopáticos, aumento dos efeitos colaterais e aumento da sensibilidade a algumas substâncias. Desta maneira é sempre necessário ter a prescrição de um especialista para uso dos fitoterápicos, não se esquecendo de informar os medicamentos alopáticos que se utiliza e ter o acompanhamento profissional regular.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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PALAVRAS–CHAVE: Fitoterapia. Fitoterápicos. Qualidade de Vida. Nutrição. Alimentação Saudável. KEYWORDS: Phytotherapy. Phytotherapics. Quality of life. Nutrition. Healthy Eating.

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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ....... REFERÊNCIAS

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NUTRIÇÃO EM PAUTA


A Fitoterapia Complementando a Alimentação: Como Melhorar a Qualidade de Vida?

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funcionais

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NUTRIÇÃO EM PAUTA

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Development of Broccoli Muffins for Consumption on Low-carbohydrate diets.

Desenvolvimento de Muffin de Brócolis para Consumo em Dietas com Baixo Teor de Carboidrato. RESUMO: Pode-se definir dieta com baixo teor de carboidrato (BC) aquela na qual há uma oferta do mesmo inferior a quarenta e cinco por cento do valor calórico total da dieta. Considerando a epidemiologia de doenças crônicas não transmissíveis, objetivou-se neste trabalho desenvolver um produto com BC de fácil preparo que possa ser consumido neste regime alimentar. Para desenvolvimento do produto, foi realizada consulta nas legislações vigentes e literaturas disponíveis, preconizando os aspectos nutricionais, a caracterização microbiológica, bromatológica, métodos de conservação e armazenamento adequado, além de desenvolvimento de embalagem e rotulagem do produto. Diante do objetivo a ser alcançado na dieta de BC este produto pode ser uma alternativa saudável para composição desta dieta uma vez que não é produzido à base de farinha de trigo. Além disso, refere a um produto que se apresenta como fonte de fibras, vitamina A e cálcio. ABSTRACT: It is possible to define a low carbohydrate diet (BC) one in which there is an offer of less than forty-five percent of the total caloric value of the diet. Considering the epidemiology of chronic non-communicable diseases, the aim of this study was to develop a product with easy to prepare BC that can be consumed in this diet. For product development, consultation was carried out on the current legislation and available literature, recommending nutritional aspects, microbiological and chemical characterization,

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methods of conservation and proper storage, in addition to the development of product packaging and labeling. In view of the objective to be achieved in the BC diet, this product can be a healthy alternative for the composition of this diet since it is not produced based on wheat flour. In addition, it refers to a product that presents itself as a source of fiber, vitamin A and calcium.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o . . . . . . . . . . . . ........ Define-se dieta de baixo teor em carboidrato (BC) um regime alimentar em que a recomendação é aumentar o consumo de proteínas e lipídios e diminuir a ingestão de carboidratos (ALMEIDA, 2017). E dessa forma o corpo é estimulado a usar a gordura como principal fonte de energia, na forma de corpos cetônicos, que substituem a glicose obtida através de carboidratos, acarretando assim a perda de gordura corporal. Além da perda de peso corporal, a dieta BC também é indicada para controle glicêmico, em diabéticos, a estratégia possui benefícios em relação ao aumento do HDL Colesterol, melhorando o perfil lipídico e contribuindo para a diminuição dos triglicerídeo. (GOMES; FILHO; SOUSA, 2020; RADULIAN et al., 2009). Considerando o atual cenário de aumento do sobrepeso e obesidade, a incidência de doenças crônicas e a NUTRIÇÃO EM PAUTA


gastronomia

Desenvolvimento de Muffin de Brócolis para Consumo em Dietas com Baixo Teor de Carboidrato.

frequência cada vez maior de refeições fora do domicílio, a proposta de um alimento prático e saudável para ofertar uma alimentação adequada e equilibrada foi estabelecida como ênfase no produto desenvolvido, contribuindo para a promoção da saúde dos indivíduos que buscam uma alimentação de qualidade. O produto foi escolhido em razão de ser BC, fonte fibras, vitamina A e cálcio, além de ser de fácil preparo, com uma boa composição nutricional, visando atender as necessidades nutricionais do indivíduo, garantindo também suas características sensoriais. (RDC nº 54, de 12 de novembro de 2012)

. . . ............... Meto dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Para desenvolvimento do produto, foi realizada consulta nas legislações vigentes (RDCS) e demais literaturas disponíveis, utilização da Tabela de Composição de Alimentos (TACO), elaboração de ficha técnica, preconizando os aspectos nutricionais do produto, a caracterização microbiológica, métodos de conservação e armazenamento adequado além de desenvolvimento de embalagem e rotulagem do produto.

Ingredientes utilizados:

2 ovos (100g) 2 colheres de sopa de farinha de linhaça (20g) 2 colheres de sopa de aveia em flocos finos (20 g) ½ copo de iogurte integral natural (100g) Brócolis cozido (80g) 50g de queijo muçarela 1 colher de café cheia de fermento químico em pó (2,5g) Sal (2g) 1 colher de sobremesa de azeite (4g) Ervas a gosto (pimenta calabresa, orégano, salsa desidratada, alho)

Modo de preparo:

Cozinhe os brócolis no vapor. Após cozido amasse os brócolis. Misture todos os ingredientes em um vasilhame (ovos, aveia em flocos, farinha de linhaça, brócolis, iogurte, queijo, azeite, ervas, sal e fermento). Separe em forminhas. (Silicone ou alumínio). Assar por 20 minutos em forno a 200°C. MARÇO 2021

Rende 6 unidades de 50 gramas cada. Concentração de conservantes e métodos de conservação O produto desenvolvido não possui nenhuma adição de conservantes químicos no ato de sua preparação. Portanto é um produto minimamente processado considerando a lista de seus ingredientes. Durante o congelamento, os microrganismos se mantém na fase estacionária, retardando a multiplicação microbiana aumentando o tempo de prateleira do alimento. O congelamento do produto consistirá em temperaturas de -18ºC, pois esta temperatura entre -18ºC ou menos, inibe crescimento total de microrganismo, além disso, permite um maior período de conservação (COSTA, 2018)

Microrganismo benéficos

O produto desenvolvido tem como um dos seus ingredientes o iogurte natural integral, este quando levado a altas temperaturas, os microrganismos existentes são destruídos, portanto não existe efeito probiótico. Entretanto a aveia utilizada no produto é caracterizada como fonte de fibras e além disso possui prebióticos que são substratos que favorecem a formação de microrganismos benéficos no trato gastrointestinal (TGI), e são definidos como principais substratos de crescimento dos microrganismos dos intestinos, não digeridos no intestino delgado que, ao atingir o intestino grosso, são metabolizados seletivamente por um número limitado de bactérias denominadas benéficas, as quais alteram a microbiota do cólon gerando uma microbiota bacteriana saudável ( RAIZELL et al, 2011).

Branqueamento

A técnica tem como benefício a inativação de enzimas, reduzindo o número de microrganismos contaminantes na superfície do alimento. A técnica é muito utilizada em vegetais, e a maioria dos alimentos não tem modificações significativas no sabor e no aroma (ALCÂNTARA, 2014). A técnica de branqueamento a vapor foi utilizada no vegetal brócolis, que é um dos ingredientes do produto desenvolvido. A escolha do método consiste em menores perNUTRIÇÃO EM PAUTA

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Development of Broccoli Muffins for Consumption on Low-carbohydrate diets.

das de componentes solúveis em água, como as vitaminas hidrossolúveis além de manter suas características organolépticas. A temperatura atingida foi de 100º C em 1,5 L de água, onde foi utilizado um vasilhame que comporta até 2 L. Foi utilizado para colocar o brócolis cortado, um vasilhame próprio onde ficava na área superior do vasilhame com água, permitindo que o brócolis não tivesse contato direto com a água. O procedimento de cozimento do brócolis no vapor teve a duração de aproximadamente 15 a 20 minutos com seu posterior resfriamento em 1 L de água. As perdas de minerais, vitaminas e outros componentes hidrossolúveis irá depender de diversos fatores como a maturidade e a variedade do alimento, os métodos utilizados no preparo do alimento, principalmente o grau de corte ou fatiado, a relação de área superficial por volume das porções do alimento, o método de branqueamento, o tempo e a temperatura de branqueamento, pois menores perdas de vitamina ocorrem em temperatura mais alta por períodos de tempo menores, o método de resfriamento, a relação entre a quantidade de água e alimento (tanto a água de branqueamento como de resfriamento).

facilmente removida pelo consumidor e nela será fixado o rótulo contendo informações sobre a marca e sobre o produto, tais como: ingrediente, tabela nutricional, data de fabricação e prazo de validade, instruções de consumo. Tendo como base os conhecimentos culinários da equipe, e os testes de congelamento realizados, os clientes serão orientados a consumirem as refeições no prazo máximo de 90 dias úteis quando armazenadas no congelador, contados a partir da data da fabricação. O modelo de embalagem comercializado está ilustrado na Figura 2.

. . . ...... R esu lt a do s e Dis c uss ã o . . .. . . . . . .

Composição de Macronutrientes e Fibras

Embalagem

Vide tabela 1.

As embalagens utilizadas para os produtos, consistem em marmitas de plástico transparentes, propriamente desenvolvidas para serem aquecidas e congeladas. Deste modo, os consumidores poderão adquirir certa quantidade de marmitas por vez, podendo consumi-las ou armazená-las no refrigerador ou congelar para consumir posteriormente. As embalagens serão as de 500ml (suportando até 500g), sendo que o muffin será 6 unidades de 50gr em um total de (300gr), porém visando o tamanho do muffin com a sua estrutura física, escolhemos a embalagem maior para suporta-lo. (ESBERSE, 2019) A tampa que acompanha a embalagem pode ser

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. . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . ....... Identificamos que este produto pode ser uma alternativa saudável para composição de uma dieta BC, uma vez que não é produzido à base de farinha de trigo como a maioria dos muffins. Além disso, trata-se de um produto minimamente processado e sem adição de conserNUTRIÇÃO EM PAUTA


gastronomia

Desenvolvimento de Muffin de Brócolis para Consumo em Dietas com Baixo Teor de Carboidrato.

Tabela 1- Valores em teor de nutrientes na porção de 50g

Valor em gramas da Kcal referente a porção de 50g porção

Porcentagem correspondente a porção

Carboidratos

5,2g

20,8

21%

Proteínas

6,0g

24

24,24%

Lipídeos totais

6,0g

54

54,54%

Fibras

1,9g

-

Nutrientes

Fonte: TACO

Tabela 2 - Rótulo para embalagem.

Porção de 50 gramas (1 UNIDADE)Quantidade por porção

%VD(*)

Valor Energético

99 kcal 416 KJ

5%

Carboidratos

5,2 g

2%

Proteínas

6,0 g

8%

Gorduras Totais

6,0 g

11%

Gorduras Saturadas

1.7 g

8%

Gorduras Trans

0g

**

Fibra Alimentar

1,9 g

8%

Cálcio

119 mg

12%

Vitamina A

54ug

9%

Sódio

205 mg

9%

(*)% Valores Diários de referência com base em uma dieta de 2.000 kcal ou 8400 kJ. Seus valores diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas necessidades energéticas. (**) VD não estabelecido. Ingredientes: Iogurte natural integral, ovos, brócolis queijo muçarela, aveia em flocos, farinha de linhaça, azeite, fermento. Alérgicos: Contém Ovo, Leite, Aveia. Contém Glúten. Contém Lactose. Pode Conter Trigo, Centeio e Cevada RDC nº 359, de 23 de dezembro de 2003; RDC nº 360 de 23 de dezembro 2003; RDC N° 26, DE 2 de julho de 2015

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vantes, caracterizado como fonte de vitamina A, cálcio e fibras, uma vez que diversos produtos com baixo teor de carboidratos não possuem quantidades significativas de fibra. Portanto, durante o processo de desenvolvimento do produto, identificamos que o mesmo pode ser comercializado, devido ao seu baixo custo de produção, chegando à mesa do consumidor em bom estado de conservação, garantindo suas características sensoriais dentro dos processos produtivos desenvolvidos pelo grupo.

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Sobre os autores

Roberta Fagundes da Silva - graduanda em nutrição pela Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM). Graduanda em nutrição pela Instituição de Ensino Superior UNA.Formação técnica em Análises Clínicas pelo Centro de Estudos III Millenium (FCV). Bianca Mariane Santos Santana - Graduanda em Nutrição pela Instituição de Ensino superior UNA. Flávia Christiane Rufini Barbosa de Paula - Graduada em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (UFL). Mestrado em fitopatologia. Graduanda em nutrição pela Instituição de Ensino Superior UNA. Larissa Loren Lamounier Machado - Graduanda em Nutrição pela Instituição de Ensino superior UNA. Graduanda em Educação física pela instituição Unicessuma. NUTRIÇÃO EM PAUTA


Desenvolvimento de Muffin de Brócolis para Consumo em Dietas com Baixo Teor de Carboidrato.

Profa. Dra. Aline Luiza Afonso de Souza - Mestre em Nutrição e Saúde pela UFMG. Bioquímica e Imunologia da Nutrição. Membro do grupo Pesquisa em Nutrição Clínica Experimental (PENCE). Atendimento Ambulatório Câncer Esôfago e Estômago Hospital das Clínicas, Docente –Instituição UNA Profa. Dra. Ludmilla Rodrigues Coelho Thomaz Mestre em Nutrição e Saúde pública UFMG. Pós- graduada em fitoterapia. Pós-graduada em Nutrição clínica pela FHEMIG, Docente -Instituição UNA.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Carboidrato. Fibra dietética. Rotulagem. Embalagem. KEYWORDS: Carbohydrate. Dietary Fiber. Labeling. Packing

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

gastronomia

mento técnico sobre informação nutricional complementar (INC). Ministério da Saúde (BR). Agência de Vigilância Sanitária, RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003.Regulamento técnico sobre rotulagem nutricional de alimentos embalados. Ministério da Saúde (BR). Agência de Vigilância Sanitária, RDC nº 359 de 23 de dezembro 2003.Regulamento técnico de porções de alimentos embalados para fins de rotulagem nutricional. Ministério da Saúde - MS Agência Nacional de Vigilância Sanitária - RDC N° 26, DE 2 de julho de 2015. Requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares. RADULIAN, G. et al. Metabolic effects of low glycaemic index diets. Nutr J., v. 8, p. 5, 2009. RAIZELL, R; SANTINI, E; KOPPER, A.M, FILHO, A.D. Efeitos do consumo de probióticos, prebióticos e simbióticos para o organismo humano. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p. 66-74, jul./dez. 2011 . Tabela Brasileira de Composição Alimentar-TACO VASCONCELOS, C.H.M. Criação da embalagem frontal do Muffin de brócolis. http://lattes.cnpq. br/7491783951829124

RECEBIDO: 18/1/21 – APROVADO:15/3/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

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