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ISSN 2236-1022 A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO
R$30,00 - Março 2016
Ano 6 Número 31 Edição Digital São Paulo
CLÍNICA
PERFIL NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS EM TRATAMENTO AMBULATORIAL NO INSTITUTO DO CÂNCER DO HOSPITAL MÃE DE DEUS
FUNCIONAIS
FITOTERAPIA: EVIDÊNCIAS SOBRE OS EFEITOS DA CITRUS AURANTIUM NO EMAGRECIMENTO
PEDIATRIA
AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE www.nutricaoempauta.com.br
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ESPORTE | GASTRONOMIA | SAÚDE PÚBLICA | FOOD NUTRIÇÃO EM PAUTA 1
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editorial por Sibele B. Agostini
Atuação do Nutricionista na Atenção Básica de Saúde É incontestável que o Brasil experimenta nos últimos anos um cenário conturbado, envolvendo momentos marcantes nos campos da política, esporte, saúde e da educação; o Brasil, assim como outros países menos desenvolvidos, passou por importantes transformações no processo de saúde/doença. Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, regulamentado pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis Complementares nº 8.080/1990, e a nº 8.142/1990, a saúde passa a ser um direito social e fundamental do ser humano, tendo como principais pilares: universalização, integralidade, descentralização e participação popular.O presente estudo propõe uma reflexão sobre a importância da atuação do nutricionista nas ações da Atenção Básica de Saúde. O objetivo é apresentar argumentos que mostrem o quanto é indispensável o papel da nutrição como área estratégica da Atenção Primária, incluindo assim a prevenção, promoção, tratamento e reabilitação da saúde. No entanto a participação desse profissional ainda é restrita e pontual. Sendo assim, a inserção deste profissional nos programas que englobam a Atenção Básica de Saúde, torna-se fundamental para a mudança do perfil nutricional da população. Nesta perspectiva, observa-se que a nutrição ainda está se apropriando de suas atribuições na Atenção Básica de Saúde, uma vez quer vários estudos mostram a ausência deste profissional. Prepare-se para o Mega Evento Nutrição 2016, englobando o 17o Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 17o Congresso Internacional de Gastronomia e Nutrição, 4o Congresso Multidisciplinar de Nutrição Es
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portiva, 12o Fórum Nacional de Nutrição, 11o Simpósio Internacional da American Academy of Nutrition and Dietetics (USA), 9o Simpósio Internacional da Nutrition Society (United Kingdom), 9o Simpósio Internacional do Le Cordon Bleu (França), 17a Exposição de Produtos e Serviços em Nutrição e Alimentação, dentre outros, que será realizado em São Paulo em outubro de 2016 e já conta com parcerias com as principais entidades internacionais e nacionais do setor. E também o 12o Fórum Nacional de Nutrição 2016, que será realizado nas principais capitais do Brasil.
Aproveite as informações científicas atualizadas desta edição da revista Nutrição em Pauta. Boa leitura!
Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 – 3a Região
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nesta edição Março 2016
5. Atuação do Nutricionista na Antenção Básica de Saúde 9. Perfil Nutricional de Pacientes Oncológicos em Tratamento Ambulatorial no Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus 15. A Adesão de Adultos à Prática da Natação e o Papel da Alegação de Saúde neste Contexto 20. Utilização do Caju como Alternativa na Elaboração de Molhos: Uma Revisão 26. Avaliação dos Hábitos Alimentares de Crianças e Adolescentes com Transtorno do Espectro Autista 33. Adequação de Ferro Alimentar em Cardápios de Creche Particular no Estado do Rio de Janeiro 38. Registro Fotográfico para Porcionamento de Prato Proteico em um R.U de uma Universidade Federal do Sul do País
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44. Fitoterapia: evidências sobre os efeitos da Citrus aurantium no emagrecimento
A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO
ISSN 2236-1022
Ano 6 - número 31 - março 2016 - edição digital
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Publicação Bimestral da Núcleo Consultoria - Atualização Científca em Nutrição - R. Republica do Iraque, 1329 cj 11 - Campo Belo - São Paulo - SP - Brasil - Tel 55 11 5041-9321 nucleo@nutricaoempauta.com.br - www.nutricaoempauta.com.br
Dra. Sibele B. Agostini | redacao@nutricaoempauta.com.br Cláudio G. Agostini Jr. | diretoria@nutricaoempauta.com.br Daniela Bossolani Agostini | marketing@nutricaoempauta.com.br Prof. Dra. Andréa Ramalho (UFRJ/RJ), Prof. Dr. Antonio Herbert Lancha Junior (EEFE-USP/SP), Prof. Dra. Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Claudia Cople (UERJ/RJ), Prof. Dr. Dan Waitzberg (FMUSP/SP), Prof. Dra. Eliane de Abreu – (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Fernanda Lorenzi Lazarim (UNICAMP/SP), Prof. Dra. Flávia Meyer (UFRGS/RS), Prof. Dra. Josefna Bressan (UFV/MG), Prof. Dra. Joy Dauncey (Cambridge/UK), Prof. Dra. Lilian Cuppari (UNIFESP/SP), Prof. Dra. Marcia Regina Vitolo (UNISINOS/RS), Prof. Dra. Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO), Prof. Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP/SP), Prof. Dr. Melvin Williams (Maryland/USA) , Prof. Dra. Mirtes Stancanelli (UNICAMP/ SP), Prof. Dra. Nailza Maestá (UNESP/SP), Prof. Dra. Nelzir Trindade Reis (UVA/RJ), Prof. Dr. Ricardo Coelho (UNIUBE/MG), Prof. Dr. Roberto Carlos Burini (FMUNESP/SP), Prof. Dra. Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC), Prof. Dra. Sonia Tucunduva Phillipi (USP/SP), Prof. Tereza Helena Macedo da Costa (UnB/DF), Prof. Dra. Tais Borges Cesar (FCF-UNESP/SP).
Chef Didier Chantefort | LCB/PARIS Chef Fabiana B. Agostini Dra. Cecília Tsukamoto Alexandre Agostini Flávia C. Teixeira | assinaturas@nutricaoempauta.com.br A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP Ydea Solutions Produzida em março de 2016
NUTRIÇÃO EM PAUTA
The Nutritionist’s Role in Health Primary Care
matéria de capa
Atuação do Nutricionista na Atenção Básica de Saúde Resumo: O presente estudo propõe uma reflexão sobre a importância da atuação do nutricionista nas ações da Atenção Básica de Saúde. O objetivo é apresentar argumentos que mostrem o quanto é indispensável o papel da nutrição como área estratégica da Atenção Primária, incluindo assim a prevenção, promoção, tratamento e reabilitação da saúde. No entanto a participação desse profissional ainda é restrita e pontual. Sendo assim, a inserção deste profissional nos programas que englobam a Atenção Básica de Saúde, torna-se fundamental para a mudança do perfil nutricional da população. Nesta perspectiva, observa-se que a nutrição ainda está se apropriando de suas atribuições na Atenção Básica de Saúde, uma vez quer vários estudos mostram a ausência deste profissional. No entanto, este é o único profissional com formação, apto para o desenvolvimento das práticas de alimentação e nutrição, de maneira a colaborar para a promoção da saúde. Abstract: This study proposes a reflection on the importance of the role of the nutritionist in the primary health care actions. The objective is to present arguments that show how indipensable the role of nutrition as a strategic area of primary care, including prevention, promotion, treatment and rehabilitation. However the participation of this professional is still restricted and punctual. Thus, the inclusion of this professional in the programs that comprise the primary health care, it is essential to change the nutritional profile of the population. In this perspective, there is that nutrition is still appropriating its tasks in primary health care, once or several studies show the absence of this professional. However, this is the only professional trained, fit for the development of food and nutrition practices, in order to contribute to the promotion of health.
. . . . . . . . . . . . . . . . Introdução................
Com a criação do Sistema Único de Saúde
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(SUS) no Brasil, regulamentado pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis Complementares nº 8.080/1990, e a nº 8.142/1990, a saúde passa a ser um direito social e fundamental do ser humano, tendo como principais pilares: universalização, integralidade, descentralização e participação popular (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990a; BRASIL, 1990b). É incontestável que o Brasil experimenta nos últimos anos um cenário conturbado, envolvendo momentos marcantes nos campos da política, esporte, saúde e da educação; o Brasil, assim como outros países menos desenvolvidos, passou por importantes transformações no processo de saúde/doença. Principalmente nos últimos cinquenta anos, são observadas alterações na qualidade e na quantidade da dieta, e, associadas a mudanças no estilo de vida, nas condições econômicas, sociais e demográficas, observam-se repercussões negativas na saúde populacional desses países (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; SOUZA, 2010). No entanto, a transição nutricional caracterizou-se por diversos aspectos, tendo como marco a mudança no hábito alimentar e no estilo de vida do brasileiro, podendo assim, observar que no cenário mundial e brasileiro as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) tem se tornado um grande desafio para a saúde pública (SOUZA, 2010). Logo, torna-se indispensável à atuação do nutricionista dentro da Atenção Básica (AB) de saúde, uma vez que as ações de nutrição nesse contexto incorporam uma intervenção ampliada e precoce, de maneira a tornar-se uma área estratégica de promoção da saúde, prevenção e tratamento de DCNT, envolvendo todos os ciclos da vida, com destaque principal para a promoção de práticas alimentares saudáveis (CERVATO-MANCUSO et al, 2012). A Resolução Nº. 380/2005 do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) definiu as áreas de atuação e atribuições do nutricionista, instituindo o campo da saúde coletiva e subdividindo-a em quatro áreas de atuação: políticas e programas institucionais; atenção básica em saúde; programa saúde da família e vigilância em saúde NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Atuação do Nutricionista na Atenção Básica de Saúde (BRASIL, 2005). Observa-se que com a aprovação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) pelo Ministério da Saúde em 1999 e com a renovação em 2011, foi estabelecido ao nutricionista a responsabilidade de promover práticas alimentares saudáveis aos serviços e equipes de saúde, uma vez que suas diretrizes são destinadas à promoção da saúde nutricional (BOOG, 2008). Já, em 2009 o Ministério da Saúde/Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN), elaborou a “Matriz de Ações de Alimentação e Nutrição na Atenção Básica de Saúde”, com o objetivo de ajudar os gestores e profissionais de saúde na organização das ações de alimentação e nutrição. Este documento enumera as ações prioritárias entre as relações homem e alimento, relacionando-as, em sua maioria, ao cuidado nutricional direcionado aos indivíduos, família e comunidade, tendo como base as determinações legais da atuação do profissional e os princípios que regem o SUS (BRASIL, 2009). Com base nestes dados, o presente estudo propõe uma reflexão sobre a importância da atuação do profissional nutricionista, nas ações de AB, através de uma revisão da literatura para a busca das melhores evidências, para apresentar argumentos do quanto é indispensável o papel da nutrição como área estratégica da atenção primária a saúde, incluindo a prevenção, promoção, tratamento e reabilitação.
. . . . . . . . . . . . . . . Metodologia .............. Para tal, foram selecionados bancos de dados: ScientificElectronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (Medline), LILACS e PubMed, assim como sites dos órgãos federais. Para descritores foram utilizados os termos: Sistema Único de Saúde, Nutrição, Nutricionista, Atenção Básica de Saúde Primária. Os levantamentos dos estudos referentes ao tema escolhido foram realizados no período de janeiro a junho de 2015, onde foram incluídas pesquisas científicas e legislações federais, além de clássicos da literatura sem restrição de data e idioma de publicação.
. . . . . . . . . . . . . . . Resultados ......... ...... Atuação do nutricionista no SUS
estar capacitado para atuar visando à segurança alimentar e atenção dietética de indivíduos ou grupos populacionais, uma vez que a alimentação e nutrição se apresenta fundamental para a promoção, manutenção e recuperação da saúde e prevenção de doenças (PÁDUA; BOOG, 2006). De acordo com Resolução CFN Nº. 380 de 2009, o nutricionista passa a ter o campo da saúde coletiva para sua atuação, uma vez que tal resolução definiu as áreas de atuação e atribuições profissionais (BRASIL, 2009).
Nutricionista na estratégia de saúde da família
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) criado em 1994, como um modelo de assistência à saúde cujas prioridades são as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde da população; orientado por uma ação multidisciplinar na direção de uma intervenção voltada para a promoção da saúde, para a prática assistencial a partir da atenção básica, em substituição ao modelo assistencialista (GEUS, 2011). Em relação à organização da ESF, verifica que estas equipes são formadas teoricamente por médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e de quatro a seis Agentes Comunitários de Saúde (ACS), embora em alguns casos, outros profissionais podem ser incorporados de acordo com a demanda dos serviços. Dessa maneira, cada equipe se responsabiliza pela atenção a grupos de seiscentas a mil famílias, tendo como limite máximo o total de 4500 indivíduos, cadastrados a partir de levantamento domiciliar (Brasil, 2000). Estudo conduzido por Assis e colaboradores (2002), aponta que a participação de outros profissionais da saúde nas ESF ainda é reduzida, destacando que o nutricionista só foi citado como membro da equipe em apenas 4,5% dos casos. Tanto o médico quanto o enfermeiro, membros sempre presentes nas equipes, recebem pouca ou nenhuma informação sobre nutrição no seu curso de graduação, o que dificulta a aplicabilidade das ações de alimentação e nutrição para a população. Nesse contexto, questiona-se se realmente a equipe mínima proposta para o ESF é suficiente para na integralidade da atenção a saúde. No que diz respeito à área da alimentação e nutrição, a ausência do profissional nutricionista, impede que se tenha condições técnicas e operacionais para inovar, em direção à segurança alimentar, como meta esta proposta através das diretrizes estabelecidas pela PNAN (ASSIS et al, 2002).
O nutricionista é um profissional de saúde cuja formação visa à atuação no SUS, de tal modo que deva
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matéria de capa
The Nutritionist’s Role in Health Primary Care
Nutricionista no núcleo de apoio à saúde da família Para apoiar os serviços oferecidos nas ESFs e melhorar a qualidade das Unidade Básica de Saúde (UBS), foi criando o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), através da Portaria GM nº 154/2008; com objetivos principais em: apoiar as equipes do PSF na efetivação da rede de serviços e ampliar a abrangência e o escopo das ações da Atenção Básica, bem como sua resolubilidade (BRASIL, 2008). O NASF é composto por profissionais de diferentes áreas como: Médico Acupunturista; Assistente Social; Professor de Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Médico Ginecologista; Médico Homeopata; Nutricionista; Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra e Terapeuta Ocupacional (JAIME et al., 2011). Existem três modalidades para o NASF (NASF 01, NASF 02 ou NASF 03), em que cada município só pode implantar uma modalidade. Exemplificando, o NASF 01 pode ser composto por no mínimo cinco profissionais de diferentes categorias; enquanto que NASF 02 e NASF 03 podem ser compostas por no mínimo três profissionais de nível superior de ocupações não coincidentes, como critério diferenciador, tem-se que no NASF 02 é permitido apenas para municípios com menos de cem mil habitantes ou que tenham densidade populacional abaixo de dez habitantes por quilômetro quadrado, já o NASF 03 deve ser implantado apenas em municípios com porte populacional menor que 20.000 habitantes. São nove as áreas de atuação no NASF: atividade física e práticas corporais; práticas integrativas e complementares; reabilitação; alimentação e nutrição; saúde mental; serviço social; saúde da criança, do adolescente e do jovem; saúde da MARÇO 2016
mulher e assistência farmacêutica (BRASIL, 2009). Diante do exposto, observa-se que dentre os profissionais que compõe a equipe do NASF, cabe ao nutricionista desenvolver ações de promoção de práticas alimentares saudáveis em todas as fases da vida, visando à ampliação da qualidade dos planos de intervenção, em especial de doenças e agravos não transmissíveis. Sendo, portanto, um novo campo de atuação para este profissional, de maneira a minimizar dúvidas e desconfianças com relação aos benefícios à saúde que podem ser obtidos por meio de boas práticas alimentares, e socializar o conhecimento sobre alimentação e nutrição a partir do desenvolvimento de ações que promovam a segurança alimentar e nutricional, tornando-se essencial à população (GOMES; CARDOSO; NERES, 2013).
.......... Considerações Finais ..... . . . . .
A Nutrição ainda está se apropriando de suas atribuições na atenção básica, porém, experiências da inserção do Nutricionista na Estratégia Saúde da Família em outras localidades mostram a importância deste profissional nesses serviços, uma vez que sua atuação para a promoção da saúde por meio da alimentação saudável e adequada é imprescindível para o cumprimento das diretrizes propostas pelo SUS. No entanto, podemos observar a ausência des-
te profissional na rede básica de saúde, e atribuem esta falha a uma questão histórica e estrutural, uma vez que as atribuições do nutricionista estão descritas e muito bem regulamentadas na legislação. Diante do exposto, percebe-se a necessiNUTRIÇÃO EM PAUTA
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Atuação do Nutricionista na Atenção Básica de Saúde dade do Nutricionista na execução e efetivação de políticas públicas que envolvam alimentação e nutrição, bem como nas ações da Atenção Básica de Saúde, uma vez que a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis e a promoção da saúde da população são intervenções precoces que reduzem, inclusive, custos ao Sistema Único de Saúde, sendo esta estratégica mais eficaz que o tratamento. Logo, espera-se que o papel do nutricionista na Atenção Básica seja mais reconhecido e valorizado por parte de alguns gestores/políticos. Ressaltamos ainda que o nutricionista é o único profissional da saúde capaz de trabalhar com questões referentes à alimentação e nutrição, já que possui formação para tais atribuições.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. Sobre os autores Profa. Dra. Juliana da Silveira Gonçalves - Nutricionista. Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pelo Instituto de Cardiologia do RS. Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição - ASBRAN. Especialização em Fitoterapia pela Universidade de Léon da Espanha. Especialização em Nutrição Clínica Hospitalar pela Faculdade CBES. Especialização em Fitotera- pia Clínica pelo Centro Integrado de Nutrição. Direto de ensino na empresa Alecrim Dourado Ensino em Nutrição – ADEN. Docente convidada para ministrar aulas em cursos de aperfeiçoamento e ex- tensão, especialização em diferentes Instituições de Ensinto no Brasil. Nutricionista clínica, estética e personal Diet. Dra. Alana Lima Pacheco - Nutricionista. Especialização em Nutrição Clínica, Funcional e Fitoterapia.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. PALAVRAS-CHAVE: Atenção Básica. Sistema Único de Saúde. Nutricionista, Estratégia de Saúde da família. Legislação. KEYWORDS: Primary Care. Health System. Nutritionist. Family Health Strategy. Legislation.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. RECEBIDO: 2/3/2016 - APROVADO: 28/3/2016
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........................................ . . . . REFERÊNCIAS
ASSIS, A. M. O. O Programa Saúde da Família: contribuições para uma reflexão sobre a inserção do nutricionista na equipe multidisciplinar. Rev. Nutr, v.15. n.3, p. 255-266 . 2002. BATISTA FILHO, M.; RISSIN, A. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Cad. Saúde Pública, v.19, n.1, p. S181-S191, 2003. BOOG, M. C. F. Atuação do nutricionista em saúde pública na promoção da alimentação saúde. Rev Ciência & Saúde, v. 1, n. 1, p. 33-42, 2008. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União. Seção II, p. 33-34. Brasília, DF, 5 de outubro de 1988. BRASIL. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da Saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providencias. Diário Oficial da União. Seção 1, p. 18055-18059.Brasília, DF, 20 de set. 1990a. BRASIL. Lei n. 8.142, de 28 de setembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da Saúde e dá outras providencias. Diário Oficial da União. Seção 1. p. 25694-25695. Brasília, DF, 31 dez. 1990b. BRASIL. Ministério da Saúde. Anais da reunião técnica dos pólos de capacitação, formação e educação permanente em saúde da família. Brasil. Brasília, 2000. BRASIL. Conselho Federal de Nutricionistas. Resolução CFN nº 380/2005. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos de referência por área de atuação e dá outras providências. Brasília, 10 de janei- ro de 2005. BRASIL. Portaria GM Nº 154, De 24 de Janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF. Brasília. 2008. BRASIL. Coordenação de Alimentação e Nutrição. Ministério da Saúde. Matriz de ações de alimenta- ção e nutrição na atenção básica de saúde. Brasília. 76 p, 2009. CERVATO-MANCUSO, A. M.; TONACIO, L.V; DA SILVA, E.R.; VIEIRA, V.L. A atuação do nutricionista na Atenção Básica à Saúde em um grande centro urbano. Ciênc. Saúde Coletiva, v.17, n.12, p.3289-3300, 2012. GEUS, L. M. M. de, et al. A importância na inserção do nutricionista na Estratégia Saúde da Família. Ciênc. Saúde Coletiva, v.16, suppl.1, p.797-804, 2011. GOMES, D.R.; CARDOSO, P. C.; NERES, W. C. O nutricionista e a Atenção Básica: importância de sua atuação no Núcleo de Apoio à Saúde da Família. v.37, n.3, p.553-570, 2013. JAIME, P. C.; DA SILVA, A.C.F; LIMA, A.M.C; BOR TOLINI, G.A. Ações de alimentação e nutrição na atenção básica: a experiência de organização no Governo Brasileiro. Rev. Nutr., v.24, n.6, p.809-824, 2011. PÁDUA, J. G.; BOOG, M. C. F. Avaliação da inserção do nutricionista na Rede Básica de Saúde dos municípios da Região Metropolitana de Campinas. Rev. Nutr, v.19, n.4, p.413424, 2006. SOUZA, E.B. Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores. Cadernos UniFOA. v.5, p.49-55, 2010,. NUTRIÇÃO EM PAUTA
clínica
The Nutritional Profile of Patients Oncologic Treatment at the Clinic of the Cancer Institute of Mãe de Deus Hospital
Perfil Nutricional de Pacientes Oncológicos em Tratamento Ambulatorial no Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus RESUMO: A perda de peso e a desnutrição são os distúrbios nutricionais frequentemente observados nos pacientes com câncer (40% a 80% dos casos), sendo que até 30% dos pacientes apresentam perda de peso superior a 10%. O objetivo é avaliar o perfil nutricional dos pacientes em tratamento oncologico no ambulatório do Instituto do Câncer de Porto Alegre. Trata-se de um estudo observacional e transversal, com abordagem descritiva da análise retrospectiva de prontuários. Dos 82 pacientes, foi observado que 60 (73,2%) apresentaram algum grau de perda de peso. A média de perda de peso nos últimos 6 meses foi de 9,0kg, representando uma média de 12,2% de perda ponderal. Quando avaliados através da Avaliação Subjetiva Global (ASG), foi observado que 79 (96,3%) pacientes apresentavam-se moderadamente desnutridos ou gravemente desnutridos. Os resultatados demonstraram que os pacientes oncológicos apresentam altos índices de desnutrição ou risco para desnutrição. Sendo de extrema importância o acompanhamento nutricional. Abstract: Weight loss and malnutrition are the most common nutritional disorders observed in patients with cancer (40% to 80% of cases), with up to 30% of patients presenting weight loss greater than 10%. The aim of this study was to evaluate the nutritional profile of patients in oncologic treatment at the clinic of the Cancer Institute in Porto Alegre. This was an observational and cross-sectional study, with a descriptive approach of the retrospective analysis of patient records. Of the 82 patients, it was observed that 60 (73.2%) had some degree of weight loss. The average weight loss in the last 6 months was 9.0kg, representing an average of 12.2% weight MARÇO 2016
loss. Most patients, that is, 56 (68.3%) had some type of symptom related to cancer treatment. When evaluated by Subjective Global Assessment, it was observed that 79 (96,3%) patients were moderately malnourished or severely malnourished. The results showed that cancer patients have high rates of malnutrition or risk for malnutrition.
............... Introdução .......... . . . . .
O câncer é uma doença altamente catabólica, ou seja, apresenta um gasto energético aumentado. Um dos principais fatores determinantes da perda de peso e consequentemente a desnutrição nos pacientes oncológicos são a redução da ingestão total de alimentos, as alterações metabólicas provocadas pelo tumor e o aumento da demanda calórica causada pelo crescimento do tumor. (INCA, 2009) A perda de peso e a desnutrição são os distúrbios nutricionais mais frequentemente observados nos pacientes com câncer (40% a 80% dos casos), sendo que até 30% dos pacientes adultos apresentam perda de peso superior a 10%. (RAVASCO et al., 2005). A assistência nutricional ao paciente oncológico deve ser individualizada. Esta deve abranger a avaliação nutricional, o cálculo das necessidades nutricionais, a terapia nutricional, incluindo o seguimento ambulatorial. O objetivo é prevenir ou reverter o declínio do estado nutricional (EN), evitar a progressão para um quadro de caquexia, além de melhorar o balanço nitrogenado, reduzir a proteólise e aumentar a resposta imune. (DAVIES et al., 2005). Uma das avaliações que já é rotineira na maioria dos hospitais e ambulatórios e é aplicada pelo profissioNUTRIÇÃO EM PAUTA
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Perfil Nutricional de Pacientes Oncológicos em Tratamento Ambulatorial no Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus nal no momento da internação com o propósito de diagnosticar o mais precocemente possível o Estado Nutricional (EN) do paciente é Avaliação Subjetiva Global (MOTA et al., 2009). Pode ser aplicada por todos os membros participantes da equipe multidisciplinar de terapia nutricional, mediante treinamento adequado para minimizar possíveis variações e, assim, obter resultados mais precisos. (BARBOSA - SILVA; BARROS, 2002). É composta por dados que descrevem a perda de peso nos últimos seis meses, alterações nas últimas duas semanas como: mudanças na ingestão alimentar, presença de sintomas gastrointestinais significativos, avaliação da capacidade funcional do paciente, demanda metabólica de acordo com o diagnóstico e o exame físico, que compreende perda de gordura subcutânea, perda de massa magra, edema e presença de ascite. (PERES; WAITZBERG, 2009). Levando-se em conta que o EN do paciente é relevante para o sucesso do tratamento oncológico, foram desenvolvidas ferramentas, como avaliações subjetivas, que auxiliam na detecção precoce das modificações do EN, principalmente para evitar a desnutrição. Este estudo transversal observacional, com abordagem descritiva da análise retrospectiva de prontuários de pacientes ambulatoriais, teve como objetivo avaliar o perfil nutricional dos pacientes em tratamento oncológico do ambulatório do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
. . . . . . . . . . . . . . . Metodologia ......... ...... Este foi um estudo observacional e transversal, com abordagem descritiva da análise retrospectiva de prontuários de pacientes, onde foram coletados durante 3 meses os dados da primeira consulta de nutrição e traçado o perfil nutricional completo dos pacientes. Foram selecionados 82 pacientes seguindo os critérios: idade maior que 18 anos, ter prontuários completos e ter iniciado o acompanhamento nutricional no ambulatório a partir de janeiro de 2014. Os dados foram analisados estatisticamente através do software SPSS, versão 17.0. Os resultados foram expressos em média ± desvio padrão e em mediana (mínima e máxima). O projeto foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética sob o número de CEP 14/025.
A média de idade foi de 60,6 (±15,8) anos. Quarenta e cinco pacientes (54,9%) relataram possuir alguma doença prévia tais como cardiopatias, presente em 32 pacientes da amostra (42,7%), diabetes ou doenças endócrinas em 12 (14,6%) e doenças gastrointestinais em 5 (6,1%). Uma pequena parcela dos pacientes relatou o histórico de câncer prévio, não relacionado ao diagnóstico atual (3,7%). O tempo de diagnóstico foi analisado através do valor de mediana, e o valor encontrado foi de 20,8 meses. As metástases estavam presentes em 34 pacientes da amostra (41,5%). As características clínicas estão demonstradas na abaixo.
N = Número de pessoas Nota: Dados expressos como média ± dp, mediana ou número de pacientes (%). Quanto ao diagnóstico oncológico, entre os tipos de tumores mais prevalentes encontrados no estudo, predominaram os gastrointestinais, presentes em 34 pacientes (41,5%), seguido pelos tumores de mama em 14 pacientes (17,1%), pulmonar em 7 (8,5%) e cabeça e pescoço em 6 (7,3%). Tais dados estão delineados na a seguir.
. . . . . . . . . . . . . . . Resultados ..............
A amostra foi composta por 82 pacientes, distribuída igualmente entre os sexos (50% de ambos os gêneros).
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N = Número de pessoas NUTRIÇÃO EM PAUTA
The Nutritional Profile of Patients Oncologic Treatment at the Clinic of the Cancer Institute of Mãe de Deus Hospital Os sintomas foram avaliados e mostraram que dos 82 pacientes, 68,3% apresentaram algum tipo de sintoma relacionado ao tratamento (ilustrado na tabela a seguir). Os mais prevalentes foram a alteração do paladar que esteve presente em 43,9% da amostra, seguida de náuseas (35,4%) e plenitude gástrica (26,8%). O apetite também foi avaliado e os pacientes (58,5%) relataram alterações quando comparda ao usual.
clínica Após a consulta com a nutricionista e realização da avaliação nutricional, os pacientes receberam um plano de cuidados nutricionais. Além disto, quando necessário, era prescrito um suplemento alimentar oral individualizado (líquido ou em pó). Nesta amostra, 50 pacientes (61%) foram orientados a incluir algum tipo de suplemento alimentar como forma de complementar a alimentação para melhorar o EN.
N = Número de pessoas
............... Discussão .......... . . . . .
Outra avaliação foi averiguar o motivo da procura do ambulatório de nutrição. Da amostra total 52,4% relataram como principal motivo a perda de peso, 34,1% buscaram orientações do sintomas causados pelo tratamento, 12,2% por uma alimentação saudável e apenas 1,2% por apresentar excesso de peso. Através da classificação do EN pela ASG a maioria (69,5%) foi classificada como moderadamente desnutridos, 3,7% foram considerados bem nutridos e 26,8% gravemente desnutridos. Para a classificação do IMC, os pacientes foram subdivididos em adultos (≥20 anos e < 60 anos, n=36) e idosos (> 60 anos, n=46). O IMC médio foi de 24,68 (±4,9)kg/m². Analisando-se os pacientes adultos, 8,3% apresentavam IMC dentro da faixa de desnutrição (IMC <18,5kg/m²); 41,7% estavam na faixa de eutrofia (IMC ≥18,5kg/m² e <25kg/m²); 11,1% sobrepeso (IMC ≥25kg/ m² e <30kg/m²) e 38,9% obesidade (IMC ≥30kg/m²). Já os pacientes idosos, analisados em uma categoria de IMC especifica para faixa etária de acordo com Lipschitz, 26,1% apresentaram-se na faixa de desnutrição (IMC <22 kg/m²); 41,3% eutrofia (IMC ≥22kg/m² e <27 kg/m²) e 32,6% excesso de peso (IMC≥27 kg/m²). Dos 82 pacientes, 60 deles (73,2%) apresentaram algum grau de perda de peso. A média neste grupo nos últimos 6 meses foi de 9,0kg (1,0 – 27,5kg), representando uma média de 12,2% de perda ponderal. MARÇO 2016
O objetivo do nosso estudo foi conhecer o perfil nutricional dos pacientes atendidos em um ambulatório de oncologia de Quimioterapia (QT). O EN dos pacientes segundo a classificação do IMC foi avaliado separadamente conforme faixa etária. Em ambos os grupos, encontramos que a maioria dos pacientes foi classificada como eutrófica, entretanto uma expressiva parte dos pacientes idosos apresentou desnutrição (26,1%). Além disto, foi observado um elevado percentual de excesso de peso, estando presente em 32,6% dos idosos e em 50% dos adultos. Para Kitynec et al., a causa do ganho de peso não é clara suficiente, mas pode estar associada com a ingestão alimentar, alteração do paladar, decréscimo de atividade física e alterações do metabolismo. Sabe-se que o IMC em pacientes com câncer possui valor limitado, pois esses indivíduos podem apresentar aumento de mediadores inflamatórios como as citocinas que podem acarretar, além da degradação proteica, a expansão de líquido extracelular, ocasionando retenção hídrica e mascarando o real EN.(PAIVA, 2004). De forma isolada, entende-se que o IMC não pode ser considerado um parâmetro isolado para analisar o EN em pacientes oncologicos devido às várias limitações que apresenta, e que devem ser consideradas quando se avalia o EN do paciente. (BAUER.; CAPRA; FERGUSON, 2007). Através da classificação pela ASG, 96,3% da amostra apresentou risco nutricional (somando-se os pacientes classificados como moderada e gravemente desnutridos). Se avaliados pelo IMC os pacientes NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Perfil Nutricional de Pacientes Oncológicos em Tratamento Ambulatorial no Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus desnutridos seriam apenas 34,4% da amostra. Da mesma forma, Yamauti et al., ao comparar o método de ASG com a avaliação antropométrica, identificaram que a prevalência de desnutrição pela ASG foi 9,4% maior que pela avaliação antropométrica (51,9% dos pacientes). No presente estudo, onde também encontramos a maior percentagem de pacientes com desnutrição (92%), demonstra a importância do diagnóstico nutricional precoce para evitar a caquexia. Grande parte da perda de peso está associada ao diagnóstico de câncer gastrintestinal como tumores de pâncreas, língua, esôfago, faringe e estômago, que podem causar obstrução, diminuição e dificuldade na ingestão de alimentos. (DIAS, 2006) Quanto à idade, mostrou uma prevalência de idosos, indo de encontro com dados recentes que demonstram que a população brasileira vem envelhecendo. Atualmente, 8,6% da população é constituída por pessoas com mais de 60 anos que apresentam maiores riscos para doenças crônicas não transmissíveis. (IBGE, 2008) Apesar do processo de envelhecimento não estar, necessariamente, relacionado a doenças e incapacidades, as doenças crônico-degenerativas são freqüentemente encontradas entre os idosos. (CHAIMOWICZ, 1998). Portanto, a tendência atual é um crescimento no número de indivíduos idosos que, apesar de viverem mais, apresentam maiores condições crônicas. E o aumento no número de doenças crônicas está diretamente relacionado com maior incapacidade funcional. (ALVES, 2007). Dos pacientes estudados, 52,4% foram motivados a procurar o acompanhamento nutricional devido à perda de peso, provocado pela doença. Entretanto, o número real de pacientes que apresentaram algum grau de perda de peso foi maior do que 70% da amostra. No estudo de Tartari et al. 33% não demonstraram apenas perda de peso, mas tiveram perda significativa ou grave. A maioria destes (83,3%) teve perda de peso maior ou igual a 7,5% em três meses. Já em nosso estudo, os pacientes apresentaram uma perda significativa de 12,2% de perda ponderal. Como o EN está diretamente relacionado com o prognostico, em todos os sentidos, é de extrema importância avaliar o EN destes pacientes para que seja possível realizar a intervenção nutricional o mais cedo possível para a prevenção do estado de caquexia e suas complicações. Em relação a procura do acompanhamento nutricional em relação ao tempo de diagnóstico, houve bastante variação. Os dados demonstraram que o tempo variou entre inicio do tratamento, menos de um mês de diagnóstico, ou tinham sido diagnosticados há algum tempo, e que, por apresentarem progressão da doença com consequente mudança de terapia, sentiram a necessidade da busca por um profissional nutricionista. Na
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prescrição nutricional, 61% dos pacientes receberam a orientação de utilizar algum tipo de suplemento alimentar. No estudo de Rüfenacht et al., os pacientes foram randomizados em dois grupos: o Grupo de Terapia Nutricional, que recebia suplementação oral e tinha acompanhamento individualizado da nutricionista e o Grupo de Suplementação, que recebia suplementação oral com orientações padrões. Ambos os grupos elevaram a ingestão calórica e protéica, porém aqueles que foram acompanhados pelo nutricionista apresentaram uma melhora na qualidade de vida, fato este que pode ter sido influenciado pelas orientações nutricionais que receberam no período de internação. O estudo ressaltou que os pacientes desnutridos devem ser acompanhados e orientados individualmente por um nutricionista, o que vai ao encontro de nossos resultados, onde a maioria dos pacientes quando avaliados pela ASG apresentava desnutrição ou risco para desnutrição, porém, quando identificados, recebiam a prescrição dietética adequada. Os tumores de maior prevalência foram os gastrointestinais (41,5%), mama (17,1%) e pulmonar (8,5%), concordando com os dados estatísticos das estimativas para 2014 publicados pelo INCA. Estes dados reforçam a importância do acompanhamento nutricional, visto que a frequência e severidade da desnutrição são maiores em portadores de doenças malignas gastrointestinais e de pulmão. (SILVA, 2006). Quanto aos sintomas apresentados, observamos que os mais presentes foram a alteração do paladar (43,9%), náuseas (35,4%) e plenitude gástrica (26,8%). Em relação ao apetite foi possível constatar que 58,5% apresentava alteração do apetite. Todos estes sintomas podem ser explicados pelo tipo de tratamento estabelecido, pois 91,5 % dos pacientes avaliados realizaram QT. A qual era realizada através da utilização de um conjunto de medicamentos, envolvendo substâncias de propriedades antineoplásicas e medicações coadjuvantes. As alterações nutricionais relacionadas a esse tratamento podem decorrer de ações diretas da medicação no metabolismo, ou de efeitos adversos sobre o trato gastrointestinal. (MOTA, 2009). O estudo de Dias et al., que acompanhou 20 pacientes com média de idade de 66,2 anos em ambos sexos e que o objetivo era avaliar os prejuízos nutricionais em pacientes que receberam o tratamento quimioterápico e as suas manifestações gastrointestinais, obteve um resultado semelhante ano nosso estudo, encontrando alterações do paladar em 60% dos pacientes, enquanto que 70% apresentaram náuseas. Estes pacientes mostraram depleção leve com percentual de perda ponderal expressivo, apesar de apresentarem o IMC dentro da normalidade como em nosso estudo. Esta perda de peso acometeu principalmente, os pacientes com NUTRIÇÃO EM PAUTA
The Nutritional Profile of Patients Oncologic Treatment at the Clinic of the Cancer Institute of Mãe de Deus Hospital sintomas gastrintestinais, favorecendo a diminuição da ingestão alimentar.
. . . . . . . . . . . . . . . Conclusão ......... ...... Os resultados da pesquisa demonstram que os pacientes oncológicos apresentam altos índices de desnutrição ou risco para desnutrição. Isso se dá através de diversos fatores ao qual o paciente está exposto. Viu-se que é de extrema importância o acompanhamento nutricional, para assim poder detectar e prevenir precocemente o risco de desnutrição. Desta forma, é possível estabelecer um plano de intervenção nutricional capaz, não só manter, mas de recuperar o EN, como também de proporcionar melhor tolerância ao tratamento e melhora na qualidade de vida de pacientes oncológicos.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. Sobre os autores
Dra. Luana Menegaz Boff - Nutricionista Graduada de Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Dra. Maíra Pereira Perez - Nutricionista do Ins-
tituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus. Especialista em Nutrição Oncológica pelo Hospital Moinho de Vento (HMV). Mestranda em Ciências: Gastroenterologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Profa. Dra. Ana Beatriz Cauduro Harb - Nutricionista Clinica. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora da Universidade Vale do Rio dos Sinos.
. . . . . . . . . . . . . . . ....................... ......
PALAVRAS-CHAVE: Neoplasias. Quimioterapia. Estado Nutricional. Avaliação nutricional. Desnutrição. KEYWORDS:Neoplasms.Chemotherapy.NutritionalStatus. Nutritional assessment. Malnutrition
. . . . . . . . . . . . . . . ....................... ...... RECEBIDO: 20/1/2016 - APROVADO: 20/3/2016
. . . . . . . . . . . . . . . ....................... ...... REFERÊNCIAS
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esporte
Adults Accession to Swimming Practice and the Role of Health Allegation In This Context.
A Adesão de Adultos à Prática da Natação e o Papel da Alegação de Saúde neste Contexto Resumo: O presente artigo trata de uma revisão da literatura científica nas bases de dados on-line/portais de pesquisa: LILACS, SciELO, BIREME entre os anos de 2010 a 2015, sobre a adesão de adultos a prática da natação. Nos estudos selecionados, evidenciou-se que o fator saúde exerce um peso acentuado na opção de adultos em iniciar um programa de natação, enquanto que esse fator ganha maior importância para a permanência. Os dados revelaram os principais motivos que influenciam os indivíduos a ingressar e a permanecer em programas de exercícios físicos. Verifica-se, no entanto, que os motivos relacionados à saúde ainda são citados frequentemente pelos indivíduos tanto para iniciar quanto para permanecer na prática regular de um exercício físico. É evidente a necessidade de realização de novos estudos dessa natureza, envolvendo outras faixas etárias, tipos de exercícios físicos, locais de prática, bem como grupos com características diferentes da apresentada neste estudo. Abstract: This article is a review of scientific literature on online databases / search portals: LILACS, SciELO, BIREME between the years 2010-2015 on adult adherence to the practice of swimming. The selected studies evidenced for permanence. The data revealed the main reasons that influence individuals to enter and remain in physical exercise programs. However, it’s confirmed that the reasons health-related are still often mentioned by individuals to start and keep practicing regularly a physical. The need of new studies of this nature involving another age group, types of physical exercises, places of practice and groups with different characters, are evident.
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.............. Introdução .......... . . . . .
A natação é um esporte de reintegração que pode ser praticado de diferentes formas. Ela estimula todos os músculos, movimentando tanto os membros inferiores como os superiores, podendo ser vivenciadas por seus praticantes, tanto em atividades recreativas a fim de propiciar prazer aos mesmos, quanto em atividades de alto rendimento visando às competições. Pode ser trabalhada tanto para fins de lazer quanto para competição, além disso, podem auxiliar na prevenção e recuperação de doenças como asma, bronquite, problemas ortopédicos. Esta prática esportiva é uma aliada contra a obesidade, que é considerada como um problema de saúde pública mundial, associada a diversos tipos de doenças crônico- degenerativas, que vem crescendo por consequência de hábitos alimentares inadequados e um estilo de vida cada vez mais sedentário (TADEI, 1993; JEFFERY; FRACH, 1998). Acredita-se que um dos principais motivos para a adesão à prática da natação seja o relacionado à saúde. Contudo, a literatura é carente de estudos que confrontam a incidência da saúde com outros motivos que podem justificar a adesão à prática da natação. No Brasil ainda são escassos os estudos que acompanham o envolvimento da população com a prática regular de exercícios físicos, o que dificulta inferências consistentes sobre o assunto. Entretanto, o número de indivíduos interessados ou levados por algum tipo de necessidade a praticar exercícios físicos regularmente parece estar aumentando (NAHAS, 2001). Diante disso, o estudo objetivou uma abordagem revisional na literatura científica atual, com o intuito de apresentar aos profissionais de saúde os principais motivos que influenciam adultos a iniciar e a permanecerem praticando a natação, situando o papel da saúde neste contexto. NUTRIÇÃO EM PAUTA
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A Adesão de Adultos à Prática da Natação e o Papel da Alegação de Saúde neste Contexto
. . . . . . . . . . . . . . . Metodologia ......... ...... Para o desenvolvimento deste estudo foram realizadas buscas de literatura científica nas seguintes bases de dados on-line/portais de pesquisa: LILACS, SciELO, BIREME entre os anos de 2010 a 2015. Foram encontrados 30 artigos, tendo sido incluídos, artigos clássicos sobre o tema e completos abordando a pratica da natação por adultos. Os artigos foram estudados em sua plenitude e compilados a partir do eixo central da pesquisa. Os descritores e expressões utilizados durante as buscas nas bases de dados foram: Natação, Adultos, Motivação, Saúde, Atividade Física.
. . . . . . . . . Resultados e Discussão .. ...... Breve Histórico da Natação O fato do homem ter entrado em contato com o meio líquido, tendo que se adaptar a ele, levou Catteau e Garoff (1990) a afirmar que tudo indica que as origens da natação se confundem com as origens da humanidade. Raramente por temeridade, mais frequentemente por necessidade, ás vezes por prazer, o homem entrou em contato com o elemento líquido, hostil ou aliado segundo as circunstâncias. Segundo Lenk e Pereira (1996), a natação em sua forma eminentemente utilitária já podia ser encontrada na pré-história, quando o homem, em busca de alimento ou na fuga dos perigos terrestres, lançava-se na água. Em 1908, fundou-se a Federação Internacional de Natação Amadora (FINA). Na primeira metade do século XIX, a natação passou a progredir como desporto com a correspondente institucionalização, padronização, normatização e realização das primeiras competições. Daí por diante a natação, com caráter formal e competitivo, não parou mais de se desenvolver, buscando cada vez mais o aperfeiçoamento técnico e, consequentemente, o aumento da velocidade e o “rendimento esportivo”, com movimentos técnicos e especializados, institucionalmente regulamentados e universalizados (BARROS, 2003). Atualmente, é comum, a natação ser apontada como uma atividade singular por sua prática não sofrer qualquer tipo de restrição, além de ser direcionada à consecução de diferentes objetivos (utilitário, de promoção da saúde, de perspectiva estética, de rendimento, de lazer, terapêutico, entre outros). No campo da saúde, a natação vem sendo focalizada a partir de seu caráter terapêutico e reabilitacional, para pessoas com problemas
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respiratórios e posturais, assim como para pessoas com deficiência. De acordo com Soares et al., (1992) a história nos mostra que o homem aprendeu a nadar pelos mais diversos motivos e situações, levando-o a resolver problemas desta aprendizagem através de ações na água que o permitiu se equilibrar, respirar e propulsionar. O que podemos perceber é que a habilidade de nadar foi se institucionalizando e se subordinando aos códigos e significados da sociedade capitalista, pois o esporte como prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, se projeta numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica (SCHMIDT, WRISBERG, 2001).
A natação como atividade física no contexto da promoção da saúde do adulto
A vida adulta abrange um longo período que, em alguns países, se inicia aos 19 anos e se estende até os 59 anos de idade, uma vez que essas definições etárias estão condicionadas a fatores específicos, como por exemplo, taxas de mortalidade dos países. No Brasil, se utilizarmos o estatuto da criança e do adolescente (ECA) como referência para definir o fim da adolescência, a vida adulta inicia-se aos 19 anos e, se recorrermos ao estatuto do idoso para definir a pessoa idosa, verificaremos que a mudança de ciclo ocorre aos 60 anos (BRASIL, 1990; BRASIL, 2003). A fase adulta desse ciclo é recheada de importantes consolidações de objetivos e aspirações da vida, mas é também uma fase nas quais transições subjetivas e sociais importantes ocorrem, nomeadamente: não ser filho – ser pai ou não ser funcionário – ser chefe, etc. Problemas relacionados a algumas doenças crônicas, como a hipertensão e o sobrepeso e a obesidade, podem emergir, bem como a vulnerabilidade psíquica pode tomar contorno de transtornos mentais. Para muitos adultos, essas condições são oportunidade para reverem o estilo de vida adotado (BRASIL, 2008). No entendimento de características, complexidade e desafios da vida adulta, a contextualização do adulto brasileiro no panorama demográfico nacional e associá-lo aos hábitos e às doenças. A prática de atividades motoras regulares é fundamental para a formação de um estilo de vida ativo, saudável e contra diversos fatores de risco a saúde de crianças e adultos, beneficiando o desenvolvimento e a manutenção de aptidões físicas, motoras e cardiovasculares, alterando a composição corporal dos indivíduos e reduzindo o acúmulo de gordura (AMERICAN COLLEGE NUTRIÇÃO EM PAUTA
Adults Accession to Swimming Practice and the Role of Health Allegation In This Context. OF SPORTS MEDICINE, 1998). Pollock et al. (2000) complementam esta ideia mencionando que a atividade motora influencia o crescimento físico das pessoas fortalecendo as articulações e a musculatura, ocasionando um aumento da densidade óssea; aumento da capacidade pulmonar; mudanças no metabolismo dos níveis de lipídeos séricos e aumento no metabolismo basal. A natação é muito difundida hoje, em particular pela valorização deste esporte visando o rendimento. Assim, é comum verificarmos as academias propondo diferentes estratégias na aprendizagem da natação, mas na prática, desenvolvem treinamentos rígidos e repetitivos visando o rendimento no contexto da promoção e da prevenção na saúde do adulto. A adaptação ao meio aquático caracteriza- se pelo aspecto geral não só da água como um novo ambiente, mas também pelo convívio com professores e outros aprendizes. Relaciona-se aos aspectos de relaxamento muscular, equilíbrio, respiração e a propulsão, que são fundamentais para o aprendizado posterior das técnicas de nado (CATTEAU; GAROFF, 1990).
Fatores que determinam e condicionam uma vida ativa fisicamente na maturidade
Homens e mulheres adultos brasileiros na faixa etária de 18 a 24 anos apresentaram proporções inversas na prática de atividades físicas no lazer, uma vez que os homens se mostram mais ativos fisicamente neste período da vida (27,6%), em oposição às mulheres que apresentam uma baixa adesão a essas práticas neste mesmo período da vida (9,9%) (IBGE, 2008). Considera- se atividade física suficiente à prática de pelo menos 30 minutos diários de atividade física de intensidade leve ou moderada em cinco ou mais dias da semana ou a prática de pelos menos 20 minutos diários de atividade física de intensidade vigorosa em três ou mais dias da semana (BRASIL, 2009). A adesão da natação como uma prática regular de atividade física está associada a vários fatores classificados como modificáveis e não modificáveis. Os fatores modificáveis são as características da personalidade e do comportamento, as condições do meio ambiente, o contexto comunitário, as características das atividades e dos exercícios que constituem o programa; em contrapartida, os fatores não-modificáveis são a idade, o sexo, a raça, a etnia e a história genética da pessoa (SEEFELDT, MALINA, CLARK, 2002). Em uma pesquisa para melhor entender os fatores individuais na adesão a um estilo de vida saudável, os especialistas Kern, Reynolds, Friedman (2010) MARÇO 2016
esporte estudaram o padrão de atividade física no lazer dos participantes do Terman Life Cycle Study durante quatro décadas (1936-1972) e verificaram que muitas variáveis individuais acabam por influenciar a adesão e a manutenção a este tipo de prática. Todavia, o estudo indicou que de maneira geral os homens são mais ativos que as mulheres e que os adultos com estrutura neurótica e com personalidade extrovertida estão mais associados ao processo de adesão e de manutenção nas atividades físicas. Um segundo achado do trabalho foi que também a história de gasto energético e de sociabilidade na infância são preditores nesta área. Na conclusão, os autores alertam que o envolvimento dos adultos com as atividades físicas deve ser analisado tanto pelas características da personalidade como também pela história de vida da pessoa e não somente por variáveis motivacionais. O sexo e a idade estão associados a determinados ambientes específicos de prática, bem como o tipo e as metas das atividades propostas, ou seja, a adesão a um tipo específico de atividade física como a natação está associada ao local em que a atividade é ofertada e associada ao grupo etário e ao sexo dos participantes (SEEFELDT, MALINA, CLARK, 2002; RHODES, WARBUTON, MURRAY, 2006). Um estudo de revisão da literatura sobre o impacto dos componentes de prescrição, frequência, intensidade, duração e tipo de atividade física, no processo comportamental de adesão à prática de atividades físicas, realizado por Rhodes, Warburton e Murray (2009) mostrou que não havia, até aquele ano, evidência suficiente sobre o efeito destes componentes no processo de adesão às práticas de atividades físicas e que prevalece como principais determinantes para o envolvimento os fatores sócio- cognitivos, de personalidade, do ambiental e os socioeconômicos. Contudo, os autores indicam que adultos sedentários podem aderir a um dos componentes, sem aderir aos outros das prescrições. O desenvolvimento de intervenções, projetos e programas no contexto da promoção e da saúde constitui-se num desafio, imposto pelas transformações demográficas e epidemiológicas e pelos determinantes e condicionantes da adesão às atividades físicas e sua sustentabilidade, principalmente no que se refere às mudanças no estilo de vida e aquisição de hábitos saudáveis e sustentáveis em longo prazo, entre eles a prática regular de atividades físicas e práticas corporais. Essa tarefa de superação é complexa, pois exige não somente a compreensão dos determinantes e condicionantes da atividade física, mas também de estratégias e mecanismos do processo de adesão do indivíduo à prática de atividades físicas, que ainda estão sendo desvendados pela pesquisa científica. NUTRIÇÃO EM PAUTA
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A Adesão de Adultos à Prática da Natação e o Papel da Alegação de Saúde neste Contexto
. . . . . . . . . . . . . . . Conclusão ......... ......
do NASF, Ipueiras, CE, Brasil.
........................................ . . . .
A literatura tem reportado que o fator saúde exerce um peso acentuado na opção de adultos em iniciar um programa de natação, enquanto que esse fator ganha maior importância para a permanência desses adultos na prática de alguma atividade física especifica como a natação. É evidente a necessidade de realização de novos estudos dessa natureza, envolvendo outras faixas etárias, tipos de exercícios físicos, locais de prática, bem como grupos com características diferentes das apresentadas neste estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Natação. Adultos. Motivação. Saúde. Atividade Física. KEYWORDS:Swimming.Adults.Motivation.Health.Physical Activity.
........................................ . . . . RECEBIDO: 16/3/2016 - APROVADO: 30/3/2016
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. ........................................ . . . . Sobre os autores
Profa. Dra. Liejy Agnes Santos Raposo Landim – Nutricionista. Doutoranda em Alimentos e NutriçãoUFPI. Professora do Curso de Nutrição da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA, Caxias, MA, Brasil. Dr. Anael Queirós Silva Barros - Nutricionista. Mestre em ciências e saúde- UFPI, Teresina, PI, Brasil. Profa. Dra. Ana Paula de Melo Simplicio – Nutricionista. Doutoranda em Alimentos e Nutrição- UFPI. Professora do Curso de Nutrição da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA, Caxias, MA, Brasil Profa. Dra. Aldenora Oliveira do Nascimento Holanda – Nutricionista. Mestre em ciências e saúdeUFPI. Professora do Curso de Nutrição da Escola Superior da Amazônia – ESAMAZ, Belém, PA, Brasil. Samara de Jesus Santos Costa - Acadêmica do Curso de Educação Física- Faculdade Mauricio de Nassau, Teresina, PI, Brasil. Arielle Igreja Silva - Acadêmica do Curso de Educação Física- Faculdade Mauricio de Nassau, Teresina, PI, Brasil Egidia Carolina Queirós Silva - Acadêmica do Curso de Educação Física- Faculdade Mauricio de Nassau, Teresina, PI, Brasil Dra. Emanuelli Cordeiro Andrade - Nutricionista. Especialista em nutrição clínica, metabolismo e pratica nutricional, Teresina, PI, Brasil. Dra. Rayara Isabella Pereira – Nutricionista. Especialista em saúde pública. Professora substituta do curso de Nutrição- UFPI, Picos, PI, Brasil Dra. Carla Joanita Lima Ferreira – Nutricionista. Especialista em saúde pública, Nutricionista clínica
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REFERÊNCIAS
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Utilização do Caju como Alternativa na Elaboração de Molhos: Uma Revisão
Utilização do Caju como Alternativa na Elaboração de Molhos: Uma Revisão Resumo: O presente artigo trata de uma revisão da literatura científica nas bases de dados on-line/ portais de pesquisa: LILACS, SciELO, BIREME entre os anos de 2000 a 2015, sobre a utilização do caju na elaboração de molhos. Nos estudos selecionados, evidenciou-se que o valor nutricional do caju é interessante para a utilização deste como matéria-prima na elaboração de molhos, gerando um novo produto na indústria brasileira, tornando-se uma opção viável para agregar valor comercial ao produto in natura, diminuindo o desperdício, gerando renda e alternativas de aproveitamento da fruta. Neste sentido observou-se uma grande diversificação na indústria alimentícia na utilização do caju, como uma fonte alimentar alternativa. Abstract: This article is a review of scientific literature on online databases / search portals: LILACS, SciELO, and BIREME between the years 2000-2015 on the use of cashew in the preparation of sauces. Selected studies evidenced that the nutritional value of cashew is interesting to use this one as base to the preparation of sauces, creating a new product for the Brazilian industry. It is a viable option to add commercial value to the natural product, reducing wastes, generating incomes and alternative uses of this fruit. In this sense, there was a great diversity in the food industry in the use of cashew as an alternative food source.
. . . . . . . . . . . . . . . . Introdução ......... ......
O caju (Anacardium occidentalis) é uma fruta de origem brasileira muito consumida no país, principalmente na região Nordeste. Não é considerado um fruto do cajueiro, mas um pseudofruto, sendo a castanha de caju o verdadeiro fruto (ASSUNÇÃO, 2005). A cajucultura é uma das atividades de maior importância econômica e social para o estado do Piauí. A importância social da cultura é caracterizada pela gera ção de emprego e renda para a população rural, principalmente durante a estação seca e pelo fato de a maior
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parte dos plantios serem explorados por pequenos e médios produtores (AGUIAR; COSTA, 2005). A agroindústria do caju, no Nordeste, produz cerca de 220 toneladas de castanha e 2 milhões de toneladas por ano de pseudofruto, a parte carnosa e suculenta do caju (OLIVEIRA; ANDRADE, 2010). Apesar da potencialidade do pseudofruto como matéria-prima para diversos produtos, cerca de 90% da sua produção é descartada todos os anos, em função da sua alta perecibilidade e pelo fato do principal negócio do caju ser a comercialização da amêndoa (PAIVA et al., 2005). Entretanto, o caju por ser rico em vitamina C e compostos fenólicos, substâncias com alto potencial antioxidante, tem despertado o interesse de diferentes grupos de pesquisa (COURI et al., 2005). As pesquisas apontam, no Brasil, as grandes tendências de mercado para produtos alimentícios de fácil manipulação e de fácil preparo, bem como, a possibilidade do consumo instantâneo. Estas características já são observadas em países industrializados que buscam opções ligadas às questões econômicas, tempo e saúde (MONTEIRO; COUTINHO; RECINE, 2005). O tomate é uma cultura de grande importância econômica no Brasil. Mesmo assim, pouco têm sido os esforços para garantir a qualidade pós-colheita deste produto, logo, uma grande parte da produção é perdida. Isto tem levado os pesquisadores à procura de técnicas que possam reduzir as perdas que ocorrem durante o transporte e comercialização, e estender a vida pós-colheita dos produtos através do armazenamento, visando um maior período de comercialização e a regularização da oferta desses produtos no mercado (MOURA; ZANIN; FINGER, 2005). Outra alternativa é o processamento do tomate, que além de agregar valor ao produto, evita as perdas pós-colheita. Muitos produtos derivados do tomate já são comercializados e bem aceitos no mercado. O ketchup é um desses produtos, feito à base de tomate e condimentos é um importante molho agridoce e faz parte do acompanhamento de refeições para todos os gostos. NUTRIÇÃO EM PAUTA
Cashew Use as Alternative for Preparation of Sauces: A Review
De acordo com a legislação brasileira vigente RDC nº. 276, o ketchup é um produto elaborado a partir da polpa de frutos maduros do tomateiro (Lycopersicum esculentum L.) podendo ser adicionado de outros ingredientes desde que não descaracterizem o produto (BRASIL, 2005). Nas atuais condições, com mercados multinacionais e mais competitivos, o sucesso de um produto depende não só dos aspectos de eficiência do processo e viabilidade econômica, mas, também, da satisfação ao sabor e expectativas do consumidor. Portanto, considerar esses fatores é essencial no processo de desenvolvimento, otimização e melhoria da qualidade dos produtos e, para tanto, a análise sensorial se constitui em importante ferramenta (CAMARGO et al., 2007). MARÇO 2016
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Diante disso, o estudo objetivou uma abordagem revisional na literatura científica atual, tendo em vista o valor nutricional do caju e do tomate, o desperdício de ambos e a industrialização de novos produtos.
Dos autores Nas atuais condições, com mercados multinacionais e mais competitivos, o sucesso de um produto depende não só dos aspectos de eficiência do processo e viabilidade econômica, mas, também, da satisfação ao sabor e expectativas do consumidor.” NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Utilização do Caju como Alternativa na Elaboração de Molhos: Uma Revisão
. . . . . . . . . . . . . . Metodologia ..............
Para o desenvolvimento deste estudo foram realizadas buscas de literatura científica nas seguintes bases de dados on-line/portais de pesquisa: LILACS, SciELO, BIREME entre os anos de 2000 a 2015. Foram encontrados 40 artigos, tendo sido incluídos, artigos sobre o tema e completos abordando o uso do caju na elaboração de molhos. Os artigos foram estudados em sua plenitude e compilados a partir do eixo central da pesquisa. Os descritores e expressões utilizados durante as buscas nas bases de dados foram: Caju, Tomate, Molho, Indústria alimentícia.
. . . . . . . . . Resultados e discussão ......... Aspectos gerais
O caju (Anacardium occidentalis) pertencente à família Acardiaceae é considerado uma das culturas de maior importância econômica do nordeste, sendo cultivado principalmente nos estados do Ceará (68%), Rio Grande do Norte (11%) e Piauí (8%) (MAIA, MONTEIRO, GUIMARÃES, 2005; IBRAF, 2008; SANTOS et al., 2007). O cajueiro é cultura de grande importância econômica, tanto pelo fato da fruta ser consumida in natura como pela industrialização de seus frutos, resultando em sucos e outros produtos bastante consumidos nos mercados interno e externo. Atualmente é cultivado em diversos países, destacando-se pela produção Índia, Brasil, Moçambique e Tanzânia (NEHMI et al., 2008). No Brasil, os Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte produziram em 2000, aproximadamente, 166 mil toneladas de castanha de caju em uma área de 597 mil hectares. Em 1999, o Brasil exportou mais de 24 mil toneladas de castanha de caju, no valor aproximado de US$ 142 milhões. Os Estados Unidos consomem 60 % de toda a castanha de caju negociada no comércio mundial e o Brasil, por sua vez, coloca nesse país cercade 30% de sua produção exportável (NEHMI et al., 2005). Segundo Moreira (2002) o caju pertence ao grupo de plantas ácidas. A cor do pedúnculo do caju pode ser amarela avermelhado, vermelho, róseo amarelado, vermelho vivo, vermelho claro, verde cana, amarelo esbranquiçado e amarelo lavado de vermelho. Internamente a carne é branca, branco amarelada, creme, creme claro, o caju compõe-se de um aquênio reniforme chamado castanha, que é o verdadeiro fruto, e de um pedúnculo sumarento, dito simplesmente caju. A castanha contém uma amêndoa de elevado teor energética. O pedúnculo
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é muito aromático e rico em vitamina C, comestível in natura ou sob forma de doces. Entretanto, por ser rico em vitamina C e compostos fenólicos, substâncias com alto potencial antioxidante, têm despertado o interesse de diferentes grupos de pesquisa (COURI et al., 2005). De acordo com Garruti (2005) o caju apre senta especial interesse nutricional e econômico pela qualidade de sua castanha (o verdadeiro fruto) e pela riqueza em vitamina C de seu pedúnculo avolumado, o qual corresponde à polpa comestível (pseudofruto). A produtividade do cajueiro é expressiva na região Nordeste do Brasil, onde a EMBRAPA, através do Centro Nacional de Pesquisa em Agroindústria Tropical (CNPAT) localizada em Pacajus no estado do Ceará, vem desenvolvendo várias pesquisas. A novidade é a variedade “anão-precoce” que deverá, ao longo do tempo, substituir o caju comum, que apresenta baixa produtividade e dificuldades na colheita, devido à multiplicação por sementes, à polinização cruzada, ao manejo inadequado da cultura e também por serem muito altos, podendo chegar a até 14 metros (ARARIPE, 2010). O caju é uma fruta típica da América do Sul e muito comum no litoral nordestino do Brasil. A parte carnosa, conhecida como pedúnculo, é considerada como uma boa fonte de renda, além de apresentar várias opções tecnológicas de industrialização, principalmente quando aproveitada na elaboração de sucos, doces, refrigerantes, fermentados, polpas e outros produtos alimentícios e no consumo in natura, sendo bastante consumidos nos mercados interno e externo (AGUIAR et al., 2008; ASSUNÇÃO, MERCADANTE, 2008; PETINARI, TARSITANO, 2005). Segundo Holanda et al., (2008) a utilização do pedúnculo de caju para produção de fermentado (vinho), vinagre e destilado do fermentado (aguardente), entre outros, é uma forma de aproveitar a parte suculenta do fruto evitando seu desperdício exagerado, que é em torno de 85% de uma produção anual de mais de um milhão de toneladas e fazendo com que a cultura do caju seja mais valorizada, gerando emprego e renda para minimização das desigualdades regionais do Brasil, pois a região Nordeste é responsável por aproximadamente 99% da produção brasileira da fruta.
NEHMI et al. 2005 Os Estados Unidos consomem 60 % de toda a castanha de caju negociada no comércio mundial e o Brasil, por sua vez, coloca nesse país cercade 30% de sua produção exportável.” NUTRIÇÃO EM PAUTA
Cashew Use as Alternative for Preparation of Sauces: A Review O desperdício deve-se ao fato da industrialização da castanha, para produção de óleos e castanha comestível, ser o principal interesse comercial em relação ao fruto integral, com um alto índice de exportação desses produtos.
Aspectos gerais O tomate da espécie Lycopersicon esculentum Mill pertence à família das Solanáceas. De acordo com Andreuccetti et al. (2005), existe disponíveis no mercado diversos cultivares de tomate, provenientes de diferentes grupos: santa cruz, salada, italiano, entre outros. Entre as hortaliças mundialmente cultivadas para consumo in natura e, sobretudo, industrializado, o tomate se sobressai, razão porque é considerado de produção e utilização universal. O tomate teve sua procura pela indústria a partir da década de 70, devido à demanda no mercado mundial dos produtos derivados do tomate. Com isso, as indústrias brasileiras responderam rapidamente ao estímulo, provocando uma expansão muito grande na cultura do tomate, na capacidade de processamento e na modernização nos equipamentos já existentes. Durante o processo de maturação dos frutos ocorrem grandes transformações nas suas características químicas e bioquímicas entre os distintos cultivares é necessária uma amostragem bastante cuidadosa visando comparar apenas os frutos no mesmo estádio de maturação fisiológica (EMBRAPA, 2010). Segundo Ferreira et al. (2008), a maior oferta e os menores preços do tomate ocorrem no período de julho a outubro, meses que influenciam na qualidade sensorial do tomate, relacionada à aparência, sabor, cor, textura, aroma, tamanho e suculência. A concentração de nutrientes do tomate varia consideravelmente de acordo com a variedade, condições de solo e a adição de fertilizantes. Os tomates contêm baixa caloria e gordura, possuem basicamente água, açúcar (glicose e frutose), ácidos (ácido acético, ácido lático e ácido málico), vitamina C e pró-vitamina A (caroteno) e, também, traços de potássio, fósforo e ferro. A composição do tomate sofre mudanças durante a maturação. Alguns parâmetros de qualidade têm sido empregados na análise da composição como: a acidez, sólidos solúveis, teor de açúcar, teor de licopeno, aparência, textura, sabor, tamanho e suculência. Os açúcares solúveis e ácidos orgânicos, presentes durante o processo de amadurecimento, determinam o sabor do fruto e afetam diretamente na qualidade do produto MARÇO 2016
gastronomia (MOURA; ZANIN; FINGER, 2005). Nota-se que o tomate in natura é composto basicamente por sólidos e água. Sólidos solúveis são constituídos principalmente por açúcares e sais dissolvidos no meio aquoso e são normalmente expressos em grau Brix (PEDRO, 2005). Tomates e seus derivados são produtos ricos em componentes alimentares apontados como antioxidantes, sendo consideradas fontes de carotenoides, em particular o licopeno, de ácido ascórbico e de compostos fenólicos (ABUSHITA et al., 2008; CLINTON, 2008; GEORGE et al., 2008; KAUR et al., 2005; SAHLIN et al., 2005; VINSON et al., 2008). Molho: Molhos podem ser definidos como sendo preparações líquidas ou cremosas utilizadas como acompanhamento de diversas preparações, com a função de complementá-las, tornando-as mais úmidas e acentuando seu sabor (PHILIPI, 2003). Podem ser designados de “Molho” seguido do ingrediente que caracteriza o produto ou por denominações consagradas pelo uso. A designação pode ser seguida de expressões relativas ao processo de obtenção, forma de apresentação, finalidade de uso e ou característica específica (BRASIL, 2005). A partir de 1925, o molho de tomate foi colocado no mercado. Após o desenvolvimento do concentrado de tomate, a manufatura de produtos mais sofisticados, como o ketchup originário da china (“kat si-up”, em chinês significa “molho agridoce”), seguiram-se rapidamente; estes novos produtos exigiram investimentos em equipamentos e na capacidade de produção, mas foram sucesso absoluto. A maior parte do volume de tomate colhido é utilizada na manufatura de produtos como o catchup, molhos e no extrato de tomate, e outra quantidade consumida in natura (PEDRO, 2005). O fabrico de ketchup em uma fábrica pode começar com tomate ou o concentrado de tomate, que são misturados com quantidades adequadas de sal, açúcar, xarope de milho, vinagre, cebola em pó, alho em pó, condimentos e especiarias. A canela, cássia, cravo, pimenta da Jamaica, pimenta, gengibre, mostarda e páprica estão entre os condimentos mais usados; etapas de produção incluem, sobretudo, a preparação, aquecimento, desaeração, homogeneização, refrigeração e de enchimento (WU, NELSON, 2007). Segundo Jaime et al. (2008) o ketchup é um molho agridoce preparado com tomate, açúcar e condi-
Dos autores A indústria alimentícia vem buscando a melhoria de processos objetivando a produção de alimentos com qualidade para garantir sua permanência no mercado.” NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Utilização do Caju como Alternativa na Elaboração de Molhos: Uma Revisão mentos, que passa por um período de cocção até adquirir uma textura pastosa. O alimento já foi consolidado no mercado pela indústria alimentícia, tornando-se comum ao hábito alimentar do brasileiro, podendo vir a ser incorporado num futuro à cultura da culinária brasileira. Segundo a legislação da ANVISA Resolução RDC nº. 276, de 22 de setembro de 2005, molhos são definidos como um condimento feito à base de tomate e, as vezes, acrescido de presunto, cebola, manjericão, sal, óleo, alho e vários outros condimentos para conferir sabor. Os tomates são descascados, retiradas às sementes, picados e misturados aos condimentos fritos. Esta mistura é então fervida, obtendo-se líquido viscoso pronto para o consumo. Assim, surgem os molhos com variações de sabores e mais sofisticados, além de oferecer ao consumidor maior praticidade, segurança entre outros fatores (AMANTE, 2005). A indústria alimentícia vem buscando a melhoria de processos objetivando a produção de alimentos com qualidade para garantir sua permanência no mercado. Os produtos industrializados derivados de tomate são tradicionalmente comercializados no Brasil, tendo atingido cerca de 360 mil toneladas em 1995. Os produtos mais antigos derivados de tomate são: o extrato de tomate, o tomate pelado e conservas. A polpa, o tomate em cubo e os molhos especiais foram desenvolvidos a partir de idéias mais modernas (FERNANDES, 2008).
. . . . . . . . . . . . . . . Conclusão ................ A literatura tem reportado ao conceito de conveniência de molhos prontos, que estão se destacando no mercado, com grande participação no segmento de novos produtos, a fabricação de molhos derivados do caju, mostrou uma grande diversificação da indústria alimentícia, que têm se preocupado cada vez mais com a qualidade nutricional e sensorial dos mesmos, demandando produtos nutritivos, saborosos e que não contenham conservantes químicos, visando atender um público mais exigente e alcançar novos mercados.
. . . . . . . . . . . . . . . ....................... ...... Sobre os autores Profa. Dra. Liejy Agnes dos Santos Raposo Landim – Nutricionista. Doutoranda em Alimentos e Nutrição- UFPI. Mestre em Alimentos e Nutrição – UFPI. Professora do Curso de Nutrição da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA, Caxias, MA, Brasil. 24
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Dr. Anael Queirós Silva Barros - Nutricionista. Mestre em ciências e saúde- UFPI, Teresina, PI, Brasil. Profa. Dra. Ana Paula de Melo Simplicio – Nutricionista. Doutoranda em Alimentos e Nutrição- UFPI. Mestre em Alimentos e Nutrição – UFPI. Professora do Curso de Nutrição da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA, Caxias, MA, Brasil. Profa. Dra. Cinthia Rodarte Parreira – Nutricionista. Doutoranda em ciências da saúde –UFU. Professora assistente do curso de Nutrição - UFPI, Picos, PI, Brasil. Amanda Rodarte Parreira - Engenheira de alimentos- UFLA, Lavras, MG. Profa. Dra. Camila Carvalho Menezes – Nutricionista. Doutora em ciências dos alimentos-UFLA. Professora adjunta do departamento de alimentos - UFOP, Ouro Preto, MG, Brasil. Profa. Dra. Julianne Viana Freire Portela– Nutricionista. Doutoranda em biotecnologia –RENORBIO. Professora assistente do curso de Nutrição - UFPI, Picos, PI, Brasil. Profa. Dra. Aldenora Oliveira do Nascimento Holanda - Mestre em ciências e saúde- UFPI. Professora do curso de Nutrição da Escola Superior da Amazônia – ESAMAZ, Belém, PA, Brasil Dra. Ariane Carvalho de Araújo Santos – Nutricionista. Especialista em saúde, atividade física e nutrição – IFPI, Floriano, PI, Brasil.
........................................ . . . . PALAVRAS-CHAVE: Caju. Tomate. Molho. Indústria alimenticia. KEYWORDS: Cashew. Tomato. Sauce. Food industry.
........................................ . . . . RECEBIDO: 17/3/2016 - APROVADO: 30/3/2016
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Avaliação dos Hábitos Alimentares de Crianças e Adolescentes com Transtorno do Espectro Autista
Avaliação dos Hábitos Alimentares de Crianças e Adolescentes com Transtorno do Espectro Autista Resumo: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) afeta o desenvolvimento neurológico e promove dificuldades de comunicação, interação social, comportamento restrito e repetitivo. O objetivo desse estudo foi conhecer e analisar hábitos alimentares de crianças e adolescentes portadoras de TEA com faixa etária entre 02 a 19 anos, matriculados em uma escola especial e em uma associação de convivência para portadores de TEA no Paraná. Estudo do tipo descritivo observacional. Foi aplicado um questionário de frequência alimentar (QFA) e coletadas informações antropométricas. Dentre os pesquisados, 45% apresentam dependência para alimentar-se, havendo sido observado elevado consumo de pães, biscoitos salgados e iogurte, contrastado à um baixo consumo diário de carnes vermelhas e aves. As crianças e adolescentes autistas avaliadas apresentaram particularidades relacionadas às suas preferências alimentares e necessidade de modificação da consistência dos alimentos. Abstract: The Autistic Spectrum Disorder (ASD) affects neurodevelopment difficulties and promotes communication, social interaction, restricted and repetitive behavior, occurring more in males. The aim of this study was to analyze and eating habits of children and adolescents with ASD aged between 02-19 years, enrolled in a special school, regular education and an association of living for people with ASD in the State of Paraná. Descriptive observational study using as an instrument to collect data, a food frequency questionnaire (FFQ) and anthropometric information provided by parents and/ or guardians. Among those surveyed, 45% have addiction to feed, high consumption of breads, crackers and yogurt, contrasted with a low daily consumption of red meats and poultry having been observed. More studies related to dietary patterns of children and adolescents with autism spectrum are needed to manage their nutritional status.
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............... Introdução .......... . . . . . O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma síndrome que afeta o desenvolvimento neurológico, reorganizado na última revisão DSM-5 , transformando a clássica tríade clínica em díade: dificuldade de comunicação social e interação social e comportamento restrito e repetitivo de interesses ou atividades, ocorrendo quatro a cinco vezes mais no sexo masculino, afetando uma em cada sessenta e três crianças (ASSOCIATION AMERICAN PSYCHIATRIC, 2014; LAI; LOMBARDO; COHEN, 2014). A seletividade alimentar, as limitações na apresentação e o tipo de alimento preferido, são as preocupações mais frequentemente relatadas por cuidadores, visto a preferência das crianças e adolescentes por alimentos ricos em carboidratos, apresentados particularmente como lanches e alimentos processados e recusa às frutas, verduras e alimentos proteicos (SHARP; JAQUESS; LUKENS, 2013). Apesar de haver um grande número de pesquisas relacionadas ao que é o autismo e suas possíveis distinções, todavia, não há consenso acerca da real interferência da síndrome sobre os hábitos alimentares deste grupo. Estudos relatam inúmeros desequilíbrios fisiológicos e metabólicos no organismo de crianças com TEA: alterações do trato gastrointestinal, esofagite, deficiências nutricionais vitamínicas e minerais, alergias alimentares múltiplas, deficiências da produção e transporte de neurotransmissores, alterações do peso cerebral, entre outros (CARVALHO, 2012; SANTOS; BERNARDI; BRECAILO, 2013; MARCELINO, 2010). O estudo do comportamento alimentar e da qualidade da dieta destas crianças e adolescentes torna-se indispensável, uma vez que existem evidências que demonstram aversões sobre determinadas texturas, cheiros, cores, temperaturas, e marcas de alimentos, NUTRIÇÃO EM PAUTA
Evaluation of Food Habits of Teens with Spectrum Disorder Autista
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nessa população. Tais dificuldades ou seletividades alimentares os expõem a riscos de deficiências nutricionais em médio e longo prazo (KRAL; ERIKSEN; SOUDERS, 2012). O presente estudo teve como objetivo conhecer e analisar os hábitos alimentares de crianças e adolescentes portadoras de TEA, matriculados em uma escola especial de ensino regular e em uma associação de convivência para portadores de TEA no Estado do Paraná.
utilizadas as curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007) de peso/idade (P/I), estatura/idade (E/I) e IMC/ Idade. Os resultados foram expressos em tabelas e figuras.
. . . . . . . . . . . . . . . Metodologia ..............
Foram avaliadas 22 crianças e adolescentes, com idade entre 3 a 14 anos, de ambos os sexos com prevalência para o sexo masculino de 82% (n=18), com idade média de 9 anos (tabela 1). No estudo de, (PINHO et al., 2013) 77% da amostra eram meninos. Relacionado ao IMC/Idade, 32% dos meninos e 50% de meninas, foram classificados como adequados para a idade, o mesmo número (50%) de meninas encontrava-se com sobrepeso. Frente a ocorrência de classificação de obesidade, 4 meninos atenderam à mesma. A maior ocorrência de sobrepeso entre as meninas poderia estar relacionada ao momento fisiológico das mesmas, considerando-se a faixa etária analisada, entretanto, o presente estudo não coletou dados relacionados à maturação sexual através do estadiamento de Tunner entre os avaliados (LOURENCO; QUEIROZ, 2010). O IMC por idade foi preconizado como o melhor indicador nutricional na adolescência podendo oferecer continuidade de acompanhamento na fase adulta (VITOLO, 2012). Segundo classificação da curva de crescimento de E/I, entre as meninas, 25% foi classificada como muito baixa para a idade, entre os meninos, 17% obteve a mesma classificação. A avaliação do crescimento é a melhor ferramenta para definir a saúde e o estado nutricional de crianças, visto que distúrbios na saúde e nutrição podem afetar o crescimento infantil (SOUSA; ARAUJO, 2004). Relativo a informação sobre dependência ao se alimentar, 45% dos pesquisados demandam cuidados, (Figura 1). Mães de crianças com TEA apontam dificuldades enfrentadas frente ao comportamento de seus filhos quando em ambientes externos, visto o comprometimento de comunicação, dependência para alimentação, dependência nas situações que envolvem higiene e controle de esfíncteres, a inclusão social, característicos nessa população (MATSUKURA; MENECHELI, 2011).
Pesquisa autorizada sob parecer consubstanciado do Comitê de Ética e Pesquisa da Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, sob o número: 836.132, respeitando as exigências contidas na Resolução 466/2012 (BRASIL, 2012). Estudo de caráter descritivo observacional, realizado em uma escola especial, de ensino regular e em uma associação de convivência para portadores de TEA no Estado do Paraná, com 25 crianças e adolescentes, com faixa etária entre 02 a 19 anos no período de agosto a setembro de 2014. Foi levantado o número de participantes na faixa etária acima descrita, utilizando como critério de inclusão a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) pelos pais ou responsáveis e considerado critério de exclusão a não concordância e o preenchimento incorreto dos questionários, sendo assim três participantes foram excluídos do estudo. Foi aplicado um questionário de frequência alimentar (QFA) elaborado por RIBEIRO et al.,2006 para coleta de dados dietéticos. Foram selecionadas para análise as informações de consumo alimentar diário, raramente ou nunca. Anexado ao questionário, foi enviado um documento com questões abertas relacionadas às informações da criança ou do adolescente contendo: iniciais do nome, sexo, data de nascimento, peso, estatura, grau de dependência imposto pela doença relacionado ao ato de alimentar-se, e uma lista com as opções da consistência dos alimentos e preparações para serem consumidos nas principais refeições (almoço e jantar). As informações antropométricas foram declaradas pelos pais ou responsáveis. A metodologia da coleta justificou-se pela patologia em questão e pela presença de sinal clínico característico relacionado a não aceitação de pessoas estranhas ao convívio dessas crianças e adolescentes, e ainda, pela imposição de atividade não rotineira, podendo causar desconforto e possível estresse aos participantes portadores de TEA, seus pais e ou responsáveis. Para classificação nutricional dos avaliados, foram MARÇO 2016
......... Resultados e discussão .... . . . .
SOUSA; ARAUJO, 2004 A avaliação do crescimento é a melhor ferramenta para definir a saúde e o estado nutricional de crianças, visto que distúrbios na saúde e nutrição podem afetar o crescimento infantil.” NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Avaliação dos Hábitos Alimentares de Crianças e Adolescentes com Transtorno do Espectro Autista
N: Número da amostra; %: Porcentagem; E/I: Estatura por idade; IMC/I: Índice de massa corporal por idade
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Evaluation of Food Habits of Teens with Spectrum Disorder Autista
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Figura. 1. Resultados da consistência alimentação, dependência e autonomia ao alimentar-se, de 22 crianças e adolescentes com TEA.
A necessidade de modificação de consistência da dieta, foi percebida que 9% dos avaliados prescindem da mesma para serem alimentados. Portadores de TEA mostraram-se mais seletivos à temperatura e odor dos alimentos do que à consistência dos mesmos. (SANTOS; BERNARDI; BRECAILO, 2013). Kral et al., (2012) afirmam em sua pesquisa, haver evidências capazes de demonstrar aversões sobre determinadas texturas nessa população.
Dos autores A necessidade de modificação de consistência da dieta, foi percebida que 9% dos avaliados prescindem da mesma para serem alimentados.” MARÇO 2016
%: Porcentagem; R/N: Raramente ou Nunca. NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Avaliação dos Hábitos Alimentares de Crianças e Adolescentes com Transtorno do Espectro Autista O grupo de leite e derivados aparece com frequência de consumo diário em 45% dos pesquisados, com especial destaque para o iogurte, consumido raramente ou nunca, por apenas 2 das crianças, característica também descrita pela autora (MARCELINO, 2010) que observou haver preferência por esses alimentos entre os portadores de TEA. O consumo diário de carnes e aves, como representantes de alimentos fontes de proteína de alto valor biológico (PAVB) ocorreu em apenas 3 pesquisados. A ingestão de cálcio e de proteínas de alto valor biológico (PAVB) deve ser provida pela alimentação, podendo a ingestão deficiente destes nutrientes refletir no crescimento ponderal e no desenvolvimento das funções estruturais e funcionais de crianças e adolescentes (COZZOLINO, 2012). Segundo (VITOLO, 2012) é relevante a oferta de carnes desde a introdução da alimentação complementar nas crianças, uma vez que, o baixo consumo do ferro heme é o principal fator de risco para a carência do mesmo. Relacionado ao consumo de óleos e gorduras, 14% preferem margarina diariamente e no que se refere aos alimentos do grupo dos petiscos e enlatados, somente 5% consomem raramente ou nunca, valor idêntico aos que o fazem diariamente. Tais valores sugerem provável elevada frequência de consumo em outros intervalos de dias não descritos na tabela. Na análise de consumo de alimentos do grupo de cereais e leguminosas, houve destaque para o pão francês/ forma, arroz e biscoitos salgados e doces, (32%, 27% e 23 %), respectivamente. O consumo diário de hortaliças cozidas e cruas e de frutas ocorreu em 14% e 27% dos pesquisados, respectivamente. O consumo insuficiente de frutas, verduras e hortaliças podem ser responsáveis pela prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e alguns tipos de câncer. Segundo Jaime et al., (2007) estima-se que o consumo de frutas e hortaliças no Brasil corresponda a menos da metade das recomendações nutricionais. O consumo diário de chocolates ocorreu em 9% dos pesquisados, relacionado ao mesmo alimento, 36% o consomem raramente ou nunca. No grupo de bebidas houve maior prevalência de consumo de sucos artificiais com açúcar e entre os alimentos diet e light observou-se que 82% dos pesquisados consomem raramente ou nunca o refrigerante, não havendo registro sobre o consumo diário dos mesmos. Hábitos de vida não saudáveis com elevado consumo de alimentos ricos em açúcares, gorduras, sal e com alta densidade calórica, além da ausência de atividade física, estão intimamente relacionados ao aumento da obesidade nos últimos anos, contribuindo para uma
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condição que predispõe a ocorrência de dislipidemias, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e diabetes mellitus em longo prazo (VITOLO, 2012), (MELLO; LUFT; MEYER 2004). Segundo Carvalho et al., (2012) a probabilidade de crianças autistas tornarem-se obesas é duas a três vezes maior do que na população em geral. Fornecer refeições e lanches saudáveis às crianças e adolescentes, contemplar todos os nutrientes e dar autonomia para as mesmas no momento da escolha frente qualidade e a quantidade da ingestão torna-se imprescindível (MELLO; LUFT; MEYER 2004) e nesse contexto, os guias alimentares têm sido utilizados nas recomendações quantitativas e qualitativas dos padrões dietéticos. Dentre os guias alimentares destaca-se a pirâmide alimentar desenvolvida pelo departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 1992 PHILIPPI et al., (1999); (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2006) orientando sobre o número de porções diárias recomendadas nas diferentes faixas etárias, contemplando o consumo de porções de alimentos de todos os grupos durante o dia.
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Evaluation of Food Habits of Teens with Spectrum Disorder Autista Dos autores As crianças e adolescentes autistas avaliadas possuem particularidades relacionadas às suas preferências alimentares e necessidade de modificação da consistência dos alimentos.”
. . . . . . . . . . . . . . . . Conclusão ......... ......
As crianças e adolescentes autistas avaliadas possuem particularidades relacionadas às suas preferências alimentares e necessidade de modificação da consistência dos alimentos. Foi observado consumo insuficiente de alimentos fontes de proteínas de alto valor biológico e elevado consumo de alimentos ricos em carboidratos simples e com alta densidade calórica. Estudos posteriores abordando hábitos alimentares e aspectos nutricionais neste público fazem-se necessários.
. . . . . . . . . . . . . . . ....................... ...... Sobre os autores Franciele Coutinho - Acadêmica do curso de Nutrição da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba, PR) Profa Dra. Telma Souza e Silva Gebara - Docente do curso de Nutrição da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba, PR).
. . . . . . . . . . . . . . . ....................... ...... PALAVRAS-CHAVE: transtorno autístico, alimentação, adolescentes. KEYWORDS: autistic disorder, food, teens
. . . . . . . . . . . . . . . ....................... ...... RECEBIDO: 15/1/2016 - APROVADO: 21/3/2016
. . . . . . . . . . . . . . . ....................... ...... REFERÊNCIAS
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Dietary Iron Intake in Private Day Care Center in Rio de Janeiro City
Adequação de Ferro Alimentar em Cardápios de Creche Particular no Estado do Rio de Janeiro Resumo: É consensual a importância da alimentação na idade pré-escolar, principalmente, devido ao desenvolvimento físico e cognitivo. O ferro é um mineral essencial nos processos fisiológicos do organismo cuja deficiência prejudica o desenvolvimento mental e podendo diminuir a capacidade de aprendizado. Objetivou-se analisar a adequação de ferro de cardápio de uma creche particular localizada na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Os alimentos foram contabilizados em medidas caseiras, a quantificação do ferro foi realizada pela Tabela de Equivalentes, Medidas Caseiras e Composição Química dos Alimentos e comparada de acordo com o preconizado pela Dietary Reference Intake (DRI) de 7mg. Os cardápios analisados mostraram-se adequados quanto à recomendação do mineral. Ficou evidente a necessidade de pequenas mudanças de alimentos a fim de aumentar a quantidade de ferro em algumas refeições, como por exemplo, através de substituição simples de um alimento com menor teor de ferro por outro que apresente maior quantidade. Abstract: Everyone agrees on the importance of eating at pre-school age, mainly due to both the physical and cognitive developments. Iron is an essential mineral in the physiological processes of the body whose deficiency impairs mental development and can reduce the learning capacity. This paper focused on analyzing the iron adequacy in menus in a private day-care center in Rio de Janeiro. The foods were accounted in homemade measures and the quantification of iron was performed by validated table and the comparation according to the recommended by dietary reference intake (DRI), 7mg. The menus analyzed were adequate regarding mineral recommendation. Is evident the necessity for small changes in MARÇO 2016
feed to increase the amount of iron in some meals, for example, by simple substitution of a food with a lower iron content on the other to present greater amount.
............... Introdução .......... . . . . .
Na infância, a alimentação adequada quali e quantativamente é fundamental para garantir o crescimento, desempenho e desenvolvimento adequados, pois proporciona energia e nutrientes necessários inclusive para a manutenção da saúde (MENEGAZZO et al., 2011). A fase pré-escolar é caracterizada por uma desaceleração no crescimento (em relação ao primeiro ano de vida) que resulta, geralmente, num apetite inconstante, um comportamento alimentar imprevisível e variável, de modo que um determinado alimento preferido torne-se inaceitável depois ou que um único alimento seja aceito por muitos dias (ZVEIBRUCKER; MIRAGLIA, 2012). O ferro é um mineral essencial na maioria dos processos fisiológicos do organismo humano e tem um papel na produção de energia pelas células e no transporte de oxigênio dos glóbulos vermelhos para as mesmas (BRASIL, 2013). A ingestão alimentar adequada de ferro é essencial para o funcionamento do sistema imunológico e cerebral e para o crescimento infantil. A anemia ferropriva é considerada a doença mais prevalente em todo o país, com maior prevalência em mulheres e crianças, especialmente nos países em desenvolvimento (CARAVALHO, 2010). Nas crianças de até dois anos, principalmente, pode trazer consequências irreversíveis como diminuição da capacidade de aprendizado, retardo no crescimento, apatia e perda significativa de habilidade cognitiva. (CONTE; SILVA, 2010).v NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Adequação de Ferro Alimentar em Cardápios de Creche Particular no Estado do Rio de Janeiro No Brasil, verificou-se prevalência bastante elevada de anemia infantil que atingem cifras superiores a 40%, fato que, em termos epidemiológicos, destaca a anemia como problema de saúde pública (FUJIMORI et al., 2008). O presente estudo teve como objetivo quantificar o ferro do cardápio de crianças de dois anos a seis anos, avaliar a adequação segundo a Dietary Reference Intakes (DRI) e propor ajustes nos cardápios, se necessários.
. . . . . . . . . . . . . . . Metodologia ......... ......
Realizou-se estudo exploratório, com técnica de observação direta do porcionamento dos alimentos no período de uma semana, no mês de setembro de 2015, oferecidos a crianças na faixa etária de pré-escolares de uma creche particular localizada na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Os alimentos foram contabilizados com medidas caseiras a fim de quantificar o teor de ferro das refeições que compõe a dieta servida às crianças. Ressalta-se que o cardápio diário era composto por quatro
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refeições: colação, almoço, lanche da tarde e jantar. A Tabela de Equivalentes, Medidas Caseiras e Composição Química dos Alimentos foi utilizada para a quantificação de ferro. Os valores diários do mineral em todas as refeições foram comparados com a recomendação diária de acordo com o preconizado pela DRI na quantidade de 7mg (BORTOLINI; FISBERG, 2010), e expressos em média, desvios-padrão e percentuais.
......... Resultados e discussão .... . . . . A quantidade de ferro encontrada nas refeições oferecidas ao longo de uma semana é apresentada na Tabela 1. Observa-se uma variação da quantidade total de ferro nos cinco dias e nas quantidades servidas em cada uma das refeições. O almoço foi a refeição que apresentou a maior diferença de ferro durante uma semana de observação. É importante ressaltar que um dia da semana apresentou a menor quantidade de ferro nas duas principais refeições consideradas fontes desse mineral, almoço e jantar.
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Dietary Iron Intake in Private Day Care Center in Rio de Janeiro City
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Tabela
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Adequação de Ferro Alimentar em Cardápios de Creche Particular no Estado do Rio de Janeiro
Observa-se que em todos os cardápios, a quantidade diária de ferro foi alcançada, oferecendo uma média total de 8,8 mg (Tabela 1), acima da recomendação diária para crianças na faixa etária de pré escolares, de 7 mg de ferro, segundo a DRI. A ingestão insuficiente de minerais pode resultar em atraso de crescimento e em doenças como a anemia, muito prevalente em crianças em idade pré-escolar e escolar. Estudos apontam que, no Brasil, 40% a 50% das crianças menores que cinco anos são portadores de anemia (MASCARENHAS; SANTOS 2006). Outros estudos realizados no Brasil apresentaram resultados semelhantes ao presente trabalho, em relação ao teor de ferro encontrado nos cardápios servidos a pré-escolares e escolares, ou seja, superior ao recomendado pelo DRI e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) (CARVAJAL, KOEHNLEIN, BENNEMANN, 2009; ABRANCHES et al, 2009; SILVA;
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GREGÓRIO, 2012). O Quadro 1 reproduz o cardápio do dia 3 oferecido na creche, que apresentou a menor quantidade de ferro total. Nota-se que as grandes refeições (almoço e jantar) apresentaram menor quantidade deste mineral por conter uma proteína que contém a menor quantidade de ferro em comparação com a carne vermelha e branca (tipo e porção). A fim de minimizar a diferença da quantidade de ferro total neste dia em especial, seria interessante, por exemplo, substituir a fruta escolhida para o dia, ou mesmo, inserir um suco de polpa de fruta ao invés da fruta do dia, que apresente maior teor de ferro. Além disso, também poderia substituir a proteína em uma das refeições, ou em ambas, escolhendo outra de maior concentração de ferro. O Quadro 2 apresenta o cardápio do dia de maior teor de ferro nas refeições. É fundamental manter uma alimentação equiNUTRIÇÃO EM PAUTA
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Dietary Iron Intake in Private Day Care Center in Rio de Janeiro City librada para o bom crescimento e desenvolvimento da criança. Ao fazer as refeições em casa é importante evitar o consumo alimentos fontes de cálcio junto com alimentos fonte de ferro, pois ocorre a competição destes dois minerais no sítio de absorção. Associar o consumo de alimentos fonte de ferro com fontes de vitamina C auxilia a absorção deste mineral (BELTON, 1995). No ano de 2008 o Brasil, com um PIB estimado em R$ 2,3 trilhões, gastou R$ 116 bilhões para tratar problemas de saúde decorrentes da deficiência de ferro tendo também um elevado custo indireto na vida da criança, como na redução da produtividade, na prematuridade, no baixo peso das crianças ao nascimento e, principalmente, nas consequências irreversíveis sobre o desenvolvimento cognitivo que ocorrem nesta fase da vida. Vale a pena ressaltar que o Programa Nacional de Suplementação de Ferro, que consiste na suplementação medicamentosa de sulfato ferroso para todas as crianças de 6 a 18 meses de idade, gestantes a partir da 20ª semana e mulheres até o 3º mês pós-parto, também deveria ser oferecido para outros grupos populacionais (SZARFARC, 2010).
. . . . . . . . . . . . . . . Conclusão ......... ...... Observou-se que a creche estudada oferece quantidades excedentes de ferro nas refeições de seus alunos. Ficou evidente a necessidade de pequenas mudanças em alguns alimentos a fim de aumentar a quantidade de ferro, como por exemplo, a substituição de um alimento com pouco teor de ferro por outro com maior quantidade. É fundamental que os pais acompanhem a alimentação dos filhos em casa, considerando suas necessidades nutricionais e dando continuidade o trabalho realizado na escola. Ressalta-se a importância de um nutricionista no ambiente escolar, monitorando a oferta e qualidade dos alimentos, atendendo as necessidades nutricionais, contribuindo assim, para a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. Sobre os autores Fernanda Almeida da Silva - Acadêmica do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Estácio de Sá (UNESA). Viviane de Carvalho Castelo Branco - Acadêmica do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Estácio de Sá (UNESA). MARÇO 2016
Mônica Martello Ascenção Carneiro - Nutricionista especializada em alimentação infantil Profa. Dra. Ana Rosa Cunha – Nutricionista. Profª. Drª. Departamento de Nutrição da Universidade Estácio de Sá (UNESA).
........................................ . . . . PALAVRAS-CHAVE: ferro, pré-escolar, anemia. KEYWORDS: iron, preschool, anemia.
........................................ . . . . RECEBIDO: 14/3/2016 - APROVADO: 30/3/2016
........................................ . . . . REFERÊNCIAS
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Registro Fotográfico para Porcionamento de Prato Proteico em um R.U de uma Universidade Federal do Sul do País
Registro Fotográfico para Porcionamento de Prato Proteico em um R.U de uma Universidade Federal do Sul do País Resumo: A ficha técnica de produção é utilizada no planejamento de produção de refeições. Atrelado a isso como complemento pode ser acrescido o registro fotográfico. O estudo visa montar um registro fotográfico dos pratos proteicos padronizando o porcionamento com informações sobre o peso antes e depois do processo de cocção e fator de conversão. A coleta de dados e imagens ocorreu durante os meses de outubro e novembro, em balança digital. O peso das porções proteicas foram baseados no contrato firmado com a Instituição de Ensino Superior. Foram efetuados 24 registros fotográficos, identificou-se que a carne de frango assada e a lingüiça são os alimentos que perdem mais peso que pratos com molho. A unidade de alimentação está apta a controlar o custo dos pratos proteicos, estando em conformidade com o edital de contrato. O material produzido embasa a equipe de trabalho e serve como material educativo para os comensais. Abstract: The technical production is used in meal production planning. Linked to it as a supplement can be added using the photographic record. The study aims to put together a photographic record of the protein dishes stan dardizing the portioning with information about the weight before and after the process of cooking and conversion factor. The collection of data and images occurred during the months of October and November, a digital scale. The weight of the protein portions were based on the contract signed with the institution of higher education. 24 photographic records were made, it was identified that the roast chicken meat and sausages are foods that lose more weight that dishes with sauce. The power unit is able to control the cost of
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protein dishes, is in conformity with the contract notice. The material produced underlies the work team and serves as educational material for diners.
............... Introdução .......... . . . . .
A inserção de Restaurantes Universitários no âmbito das instituições de ensino superior se apresenta como uma política pública com ênfase em prover a alimentação para estudantes universitários. Essa medida foi regulamentada pelo Decreto 7.234 de 19 de julho de 2010. O Programa Nacional de Assistência Estudantil - PNAES, executado pelo Ministério da Educação tem como finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens na educação pública federal. O PNAES foi originalmente pensado tomando por base as seguintes áreas estratégicas: moradia, alimentação, manutenção e trabalho, saúde, acesso a biblioteca, conhecimento de informática, domínio de língua estrangeira e movimentos sociais (BRASIL, 2010). No segmento de alimentação o programa é consolidado por meio dos restaurantes universitários, os quais estão aptos a funcionarem sob distintas formas de serviço. A gerência pode se dar por meio da auto gestão, da terceirização e ou então através do sistema misto, quando adere-se os dois tipos de contrato (ABREU et al.,2011). Quando adotado o serviço de terceirização os Restaurantes Universitários se veem diante da problemática de atender as especificidades estabelecidas em contrato conciliado ao controle custos. Neste contexto a temática de custos é apresentada como a atividade capaz de gerar informações NUTRIÇÃO EM PAUTA
food service
Registration for Photographic Dish Portioning Protein in a U.K University Of A Federal Country South importantes para auxiliar com eficácia o desempenho das atividades. O controle de custos representa um indicador para medir a eficiência do gestor, especialmente em unidades que prestam serviços de alimentação, visto que estas operam com subsídio governamental (LEONE, 2000). De acordo com Fatel (2014) a gestão com base no planejamento de custos é essencial para a sobrevivência das empresas, principalmente as de alimentação coletiva. Mediante a concepção de considerar relevante o critério de planejar custos, uma importante estratégia que direciona a gestão dos restaurantes universitários é a adaptação ao que estabelece os editais de contrato. De acordo com Barbosa et al. (2005) as organizações púbicas e/ou privadas necessitam obter resultados operacionais favoráveis e nesse sentido gestores precisam deter uma visão focada no mercado e nos clientes. Quando se trata de restaurantes universitários de universidades públicas a atenção volta-se principalmente para otimizar custos e ofertar produtos de qualidade. Assim é fundamental que se tenha controle detalhado sobre custos fixos e variáveis, controlar os gastos com matéria-prima, estoque e tudo o que afeta direta ou indiretamente a organização. Perante a contextualização de gerir unidades de alimentação e nutrição sob a ótica do pla nejamento, nesse parecer entre demais critérios, um dos que representa a consolidação de medidas de planejamento é a adoção das fichas técnicas de produção. A ficha técnica de produção (FTP) é vista como um instrumento de trabalho utilizado no planejamento de produção de refeições, onde passa a envolver critérios como aquisição de gêneros, distribuição dos operadores, melhor uso da estrutura física, informações nutricionais da refeição e controle de custos. De acordo com Vasconcellos; Barbosa (2002) as fichas técnicas podem ser identificadas como um instrumento de apoio operacional, por meio do qual se é possível prever custos, ordenação de preparo e valor nutricional. Além destas informações por meio da FTP pode-se obter informações como, per capita, fator de correção e cocção e rendimento. Como complemento a ferramenta de trabalho pode ser acrescida a utilização do registo fotográfico, por meio deste torna-se possível a visualização do que representa a porção/per capita de cada preparação, nesse sentido a realização deste trabalho vem a colaborar na padronização dos pratos proteicos, visto que estes são porcionados aos comensais e obrigatoriamente devem seguir parâmetros pré estabelecidos em edital de contrato. O presente estudo traz como objetivo padronizar o porcionamento dos pratos proteicos, fornecendo informações sobre o peso cru e cozido, concomitante a disponibilização do fator de correção de cada uma das MARÇO 2016
preparações.
............... Metodologia .......... . . . . .
A pesquisa foi realizada em um Restaurante Universitário (R.U) em processo de implantação de uma Universidade Federal localizada no sudoeste do Paraná, no período de outubro a novembro de 2015, durante o Estágio Obrigatório de Alimentação Coletiva do curso de Nutrição da Universidade Federal da Fronteira Sul. Esse restaurante atende refeições em dois turnos, divididas em almoço e jantar com média de 250 refeições por dia. Figura I - Registro fotográfico antes e após cocção do prato proteico (carne bovina) de um Restaurante Universitário. 2015
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Registro Fotográfico para Porcionamento de Prato Proteico em um R.U de uma Universidade Federal do Sul do País O peso das porções proteicas foi baseado no estabelecido em contrato entre a Universidade Federal e a empresa cessionária, o qual define que: as carnes sem ossos devem ter entre 130g e 150g, já as carnes que possuem ossos devem ser porcionadas entre 150g e 200g. As porções foram pesadas em balança digital marca LPN (até 25 kg), disponível no próprio local. A pesagem foi feita diariamente de acordo com a preparação ofertada no dia. O registro fotográfico de cada porção foi feito antes e após o preparado, utilizando máquina fotográfica digital Sony W-630-16.1 MP, as porções foram fotografadas do prato utilizado na unidade para facilitar a visualização do dimensionamento da porção. O cálculo de Fator de Conversão (FC) ou também chamado de Índice de Cocção foi realizado por meio da seguinte fórmula (DOMENE, 2011): FC= Peso cozido do alimento / Peso Líquido. As imagens das porções cruas e prontas foram utilizadas para treinamento das colabora- das responsáveis pela produção e distribuição, o treinamento foi realizado em dois dias, e as imagens ficaram fixadas na linha distribuição a fim de padronizar o porcionamento para os comensais.
impedir a saída dos sucos e posteriormente submete-se o alimento a calor úmido, adicionando-se pequenas quantidades de água (PHILIPPI, 2006). Figura II - Registro fotográfico antes e após cocção do prato proteico (frango) de um Restaurante Universitário. 2015. A visualização das fotos está muito ruim.
. . . . . . . . . . Resultado e discussão .........
Por meio do registro fotográfico buscou-se padronizar o porcionamento correto dos pratos proteicos, visto que de acordo com resultados de uma pesquisa de satisfação realizada na unidade, a questão da porção de carne foi um dos critérios mencionados. O registro fotográfico propicia que as colaboradoras envolvidas com a produção e/ou a distribuição consigam visualizar a quantidade correta. Além disso, por meio do cálculo do Fator de Conversão (FC) que se refere ao quociente entre a razão do peso cozido do alimento e o peso líquido proporciona o dimensionamento de compra da unidade, o custo e o rendimento de alimentos e preparações (DOMENE, 2011). O método de cocção e a composição química da carne influenciam no fator de conversão e consequentemente no rendimento das preparações (ORNELAS, 2007). Os métodos de cocção se diferenciam também quanto ao uso ou não de água. Podem ser classificados em calor úmido, onde como característica principal ocorre a hidratação do alimento; calor seco onde comumente se estabelece a desidratação da preparação; e o calor misto, onde o procedimento é efetuado em duas etapas consistindo em primeiramente calor seco para formar uma camada protetora em volta do alimento e
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Dos autores Ao analisar as preparações elaboradas com carnes vermelhas (figura 1) pode se observar que as elaboradas em cocção por calor seco obtiveram maior perda de peso em relação as que foram elaboradas com cocção de calor úmido. A bisteca grelhada apresentou fator de conversão (FC) de 0,68 o bife também preparado pelo mesmo método de cocção apresentou fator de conversão de 0,75.” NUTRIÇÃO EM PAUTA
Registration for Photographic Dish Portioning Protein in a U.K University Of A Federal Country South Figura III: Registro fotográfico antes e após cocção do prato proteico (Suína, ovos e peixes) de um Restaurante Universitário. 2015 - A visualização das fotos está muito ruim.
Nas figuras (Figura 1, 2, 3), podem ser observados os diferentes pratos à base de carne que são ofertados no local, cada um deles sendo apresentado o antes e depois do processo de cocção com respectivo Fator de conversão. Teichaman (2009) cita que o processo de cocção pode modificar os alimentos tanto pela perda de água por desidratação superficial dos alimentos cozidos, perda esta proporcional ao tempo de exposição ao calor, à superfície do alimento e a intensidade do calor presente. O autor ainda refere que a cocção pode intervir no peso/volume por meio da perda de matéria gordurosa por fusão em presença de calor, essa perda também é proporcional à temperatura da gordura, ao tempo de permanência à fritura e ao teor de gordura do alimento. Ao analisar as preparações elaboradas com carnes vermelhas (figura 1) pode se observar que as elaboradas em cocção por calor seco obtiveram maior perda MARÇO 2016
food service de peso em relação as que foram elaboradas com cocção de calor úmido. A bisteca grelhada apresentou fator de conversão (FC) de 0,68 o bife também preparado pelo mesmo método de cocção apresentou fator de conversão de 0,75. Já Hautrive; Piccoli (2013) ao elaborar fichas técnicas de preparo um uma unidade de alimentação e nutrição de Santa Catarina, constatou um fator de conversão de 0,66 para o bife bovino, apresentando maior perda de peso do que o da presente unidade. As carnes vermelhas preparadas em cocção por calor úmido como a carne moída ao molho e o estrogonofe apresentaram o mesmo fator de conversão que foi de 1,6. A fonte úmida pode ser de um ingrediente ou aquela naturalmente presente no alimento, preservados até o final do tratamento térmico (DOMENE, 2011). Mediante a observação da figura 2 identifica-se que a carne de frango, quando preparada assada perde peso. Garcia et al. (2003) cita que os diferentes métodos de cozimento, as formas de transferência de calor a temperatura, a duração do processo e o meio de cocção são fatores relevantes responsáveis pelas alterações nos alimentos. Rosa et al. (2005) em seu estudo define que em cortes de peito e coxa as perdas mais elevadas foram observadas em alimentos assados em micro-ondas. A condição de uma preparação apresentar peso final menor que o peso inicial, condiciona que ela comporte um fator de conversão menor que o valor de 1, o que subtende que o referido alimento perde peso durante o processo de cocção (ORNELAS, 2007). Ao comparar os fatores de conversão pertinentes a carne de frango (tabela 2) encontrados no referido estudo com demais trabalhos identifica-se que demais autores encontraram valores de conversão menores que um para a carne de frango. Hautrive; Piccoli (2013) em sua pesquisa submetem o alimento a dois métodos de preparação distinta, sobrecoxa de frango assada (FC 0,51) e à milanesa (FC 0,76), onde na utilização de ambas as técnicas contatou-se que o alimento perde peso. Supõe-se que a condição do alimento apresentar fatores de conversão semelhantes em distintos estudos, pode estar correlacionada a composição química. De acordo com Pinheiro (2009) a carne de frango em sua constituição apresenta valores relevantes de gordura, considera-se que em uma coxa de frango de 0,200g aproximadamente 10,8g são de gorduras.
DOMENE 2011 As carnes vermelhas preparadas em cocção por calor úmido como a carne moída ao molho e o estrogonofe apresentaram o mesmo fator de conversão que foi de 1,6. NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Registro Fotográfico para Porcionamento de Prato Proteico em um R.U de uma Universidade Federal do Sul do País Nesse sentido conjectura-se que quando submetido a exposição ao calor esse nutriente ao ser aquecido se perde, além disso entende-se que a perda de peso e volume associa-se também ao processo de desidratação. Em contrapartida as carnes brancas assadas ou grelhadas identificam-se que nas elaborações a base molhos o fator de conversão encontra-se próximo de um, supõe-se que esta condição justifica-se pelo método de preparo abordado. Neste sentido percebe-se que os pratos que apresentam o peso final maior que o peso inicial são os pratos proteicos que são elaborados sob forma de molho, quanto aos demais observa-se que em sua totalidade há a redução do peso, o que reflete na diminuição do seu tamanho. A bisteca suína preparada com o uso de calor seco preparada na chapa (figura 3) apresentou um fator de conversão de 0,77. Hautrive; Piccoli (2013) ao calcular o fator de conversão do bife suíno também preparado na chapa encontraram FC de 0,76 valor semelhante ao verificado no presente estudo. De acordo com os Fatores de conversão verificados na unidade, a linguiça toscana (tabela 3) é um dos pratos proteicos com maior perda de peso, ou seja, menor rendimento, isso se deve ao fato de que em sua composição, que segundo Ordonez (2005) apresenta o uso de 15% a 30% gordura que contribui para determinadas características que influem de forma positiva em sua qualidade sensorial. Outro ingrediente citado na literatura e também utilizado na linguiça é a água, que segundo Milani et al. (2003) o gelo e a água gelada, misturados à massa durante as fases de mistura e emulsificação, permitem o “batimento” mais prolongado e mais eficiente da massa sem superaquecimento mecânico. Estes ingredientes ao entrar em contato com o processo de cocção por meio do calor seco são perdidos tornando o rendimento final menor. Com relação aos ovos, no presente estudo, os mesmos foram preparados na chapa com óleo e apresentaram um fator de conversão de 0,77. Ao utilizar o calor seco com óleo ocorre o aquecimento e a vaporização da água, provocando a perda de peso do mesmo (DOMENE, 2011). Já no estudo de Anjos (2005), o fator de conversão do ovo de galinha pode variar de 0,80 a 1,11 dependo do método de cocção. O peixe empanado e assado no presente estudo apresentou um fator de conversão de 0,90 demonstrando uma perda de peso pequena, mesmo sofrendo perda de peso pelo processo de cocção por calor seco a adição de ingredientes proporciona um maior rendimento. Com a realização e compartilhamento das informações construídas a partir da construção do registro fotográfico supõe-se que a unidade de alimentação
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estará apta a controlar o custo dos pratos proteicos, estando em conformidade com o que lhe é exigido em edital de contrato. Ao mesmo tempo que o material embasa a equipe de trabalho pode ser utilizado como material educativo perante a necessidade de informar os comensais as especificidades que envolvem a oferta do porcionamento proteico. Para Lira et al. (2006) em relação a equipe de trabalhadores de uma unidade de alimentação, materiais como este, treinamentos, fazem diferença na realidade de uma UAN. Isso passa a promover a integridade da empresa, provendo a sustentação de pessoal qualificado e o maior controle de custos. Entende-se a partir da discussão feita no estudo referido que a nutrição e Técnica Dietética tratam-se dos procedimentos utilizados para tornar possível a utilização dos alimentos, a mesma satisfaz os desejos sensoriais e conserva seus valores nutritivos (PHILIPPI, 2006). Seu objetivo é analisar as transformações físico-químicas e organolépticas durante o processamento dos alimentos e preservar sua qualidade nutricional, desta forma a técnica dietética é entendida como uma disciplina de ciências nutricionais, e jamais poderá ser minimizada à simples prática culinária (CAMARGO; BOTELHO, 2005).
............... Conclusão .......... . . . . . Através da realização do presente trabalho identificou-se que a composição química, o método de cocção influenciam diretamente sob o fator de conversão e consequentemente no rendimento per capita final do alimento. Onde carnes com maior teor de gordura, com a linguiça toscana e a coxa de frango apresentaram perdas maiores. Em contrapartida as carnes a base de molho e/ou preparadas com calor úmido apresentaram volume e peso acrescidos. O presente estudo buscou através do registro fotográfico padronizar o porcinonamento correto dos pratos proteicos. Concomitante a adoção dos materiais acima citados, como registro fotográfico e/ou fichas
Dos autores Através da realização do presente trabalho identificou-se que a composição química, o método de cocção influenciam diretamente sob o fator de conversão e consequentemente no rendimento per capita final do alimento. Onde carnes com maior teor de gordura, com a linguiça toscana e a coxa de frango apresentaram perdas maiores.” NUTRIÇÃO EM PAUTA
Registration for Photographic Dish Portioning Protein in a U.K University Of A Federal Country South técnicas, ressalta-se a importância da profissional nutricionista atuante na unidade de alimentação e nutrição estar embasada dos conhecimentos dos benefícios do uso destas ferramentas de trabalho, bem como estar amparada pelo saber proporcionado pela técnica dietética. Entende-se que um profissional que domina esse conjunto de informações está apto a gerir com excelência os serviços de alimentação coletivas que lhes são incumbentes.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. Sobre os autores Profa. Dra. Elis Carolina de Souza Fatel – Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Docente do curso de Nutrição na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Realeza, PR, Brasil. Bruna Alice Martini- Graduanda do Curso de Nutrição da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Realeza. Elis Regina Ferreira- Graduanda do Curso de Nutrição da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Realeza. Leideliane Kilian- Graduanda do Curso de Nutrição da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Realeza. Dra. Thais Biasuz - Nutricionista pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Realeza, PR, Brasil e Responsável Técnica de Unidade de Alimentação em Nutrição em Realeza, PR, Brasil.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. PALAVRAS-CHAVE: Alimentação coletiva; carne; porção; alimentos. KEYWORDS: Collective feeding, meat; portion; foods.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. RECEBIDO: 16/2/2016 - APROVADO: 21/3/2016
. . . . . . . . . . . . . . . .............................
food service Revista de Nutrição, Campinas, 2005. ANJOS, M. C. R. Relação de Fatores De Correção e Índice de Conversão (Cocção) de Alimentos. Universidade Federal do Paraná, 2005. BARBOSA, A. M. R. et al. Modelo de Gestão Estratégica de Custos: o caso de restaurante universitária. V Coloquio Internacional sobre Gestión Universitaria en América del Sur. Mar del Plata, 2005. BRASIL, Plano Nacional de Estudantes (PNAES). Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010. Disponível em: < http:// portal.mec.gov.br/pnaes >. Acesso em: 20 nov. 2015. C A MARGO, E.B.; BOTELHO, R.A. A ficha técnica de preparação como instrumento de qualidade na produção de refeições. Revista de Nutrição. Campinas, 2005. DOMENE, S. M. A. Técnica dietética: Teoria e aplicações. Ed. Guanabara Koogan, 2011. FATEL, E.C.S. Custos em unidades produtoras de refeição. In: ROSA, C.O.B.; MONTEIRO, M.R.P. Unidades produtoras de refeição: uma visão prática. 1 edição – Rio de Janeiro: Rubio, 2014. GARCIA, A. M. T. et al. Sardina pilchardus fillets: Efect of different cooking and reheating procedures on the proximate and fatty acid compositions. Food Chemistry, Great Britain, v. 83, n. 3, p.349-356, 2003. HAUTRIVE, T.P.; PICCOLI, L. Elaboração de fichas técnicas de preparações de uma undade de alimentação e nutrição do município de Xaxim – Santa Catarina, Brasil. Revista e-Scientia, Belo Horizonte – BH, Vol. 6, n° 1, 2013. LEONE, G. S. G. Custos – Planejamento, Implantação e Controle. São Paulo: Atlas, 2000. LIRA, F. L. et al. Avaliação da Redução do Desperdício de Matéria Prima em uma UAN a partir do Treinamento de Colaboradores. Universidade do Vale do Paraíba – Faculdade de Ciências da Saúde , 2006. MILANI, L. et al. Bioproteção de linguiça de frango. Ciência e Tecnologia de Alimentos. v. 23, 2003. ORDÓÑEZ, P. Tecnologia de Alimentos – Origem Animal. Porto Alegre: Artmed, 2005. ORNELAS, L. H. Técnica Dietética: Seleção e preparo de alimentos. 8ª ed. São Paulo: Atheneu, 2007. PHILIPPI, S. T. Nutrição e Técnica Dietética. Editora: Manole, São Paulo, 2006. PINHEIRO, S. Tabela para avaliação do consumo alimentar em medidas caseiras. Rio de Janeiro: Atheneu, 2009. ROSA, F. C. et al. Efeito de métodos de cocção sobre a composição química e colesterol em peito e coxa de frangos de corte. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 30, n. 4, 2005. TEICHMANN, I. Tecnologia culinária. Caxias do Sul: Educs, 2000. VASCONCELOS, F.; BARBOSA, C. E. Como montar um cardápio eficiente. São Paulo: Roca; 2002.
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Fitoterapia: evidências sobre os efeitos da Citrus aurantium no emagrecimento
Fitoterapia: evidências sobre os efeitos da Citrus aurantium no emagrecimento Resumo: Objetivo: revisar dados pré-clínicos e clínicos sobre a utilização da espécie Citrus aurantium na redução de peso e emagrecimento, para nortear a elaboração de possíveis protocolos seguros e eficazes. Incluídos artigos pré-clínicos e clínicos. Nos estudos, animais foram submetidos às dietas hiperlipídicas e humanos adultos indicavam classificação para sobrepeso. A Citrus aurantium reduziu a gordura visceral e o apetite, em ratos. Os humanos indicaram aumento das taxas metabólicas e gastos energéticos de repouso. As pesquisas com ratos não constataram risco cardíaco, entretanto, em humanos os resultados foram controversos, com a maioria sem alterações cardiovasculares. Conclusões: Citrus aurantium pode contribuir para a perda de peso e emagrecimento, tanto em animais como em humanos, entretanto, os estudos possuem limitações metodológicas, como tempo de tratamento e dificuldade para o isolamento do efeito da ingestão da espécie. Necessita, portanto, de outras publicações, que norteiem essas lacunas, inclusive, avaliando parâmetros bioquímicos de maior relevância clínica. Abstract: Objective: review preclinical and clinical data on the use of the species Citrus aurantium in weight reduction and slimming, to guide the development of possible safe and effective protocols. Including pre-clinical and clinical articles. In the study, animals were subjected to a high fat diet and adult humans indicated rating for overweight. The Citrus aurantium reduced visceral fat and appetite in rats Humans indicated increased metabolic rate and energy expenditure at rest. Research on rats found no cardiac risk; however, in humans the results were controversial, with most without cardiovascular changes. Conclusions: Citrus aurantium can contribute to weight loss and slimming in both animals and humans, however, studies have methodological limitations, such as treatment time and difficulty in the isolation of the effect of the
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of better clinical relevance.
............... Introdução .......... . . . . .
A Citrus aurantium, popularmente conhecida como laranja-amarga, é uma espécie de citrino da família Rutaceae, primeiramente introduzida na Índia, Síria e Egito, chegando ao sul da França e até Roma (HAZARIKA, 2012). No Brasil, suas flores são consumidas como droga vegetal macerada em água, indicada para tratamentos da ansiedade, insônia e como calmante suave, sendo contraindicado em casos de distúrbios cardíacos (HAZARIKA, 2011). O mecanismo pelo qual a Citrus aurantium exerce seu efeito sobre o emagrecimento e perda de peso não está totalmente compreendido, ainda, assim como os elementos presente, que seriam os “verdadeiros” responsáveis por esta propriedade. Sua composição química é bem variada, sendo os protoalcalóides os principais representantes (sinefrina, octopamina, tiramina), com a seguinte composição percentual: 3% sinefrina; 0,3% octopamina; 0,06% tiramina. Destes compostos, a sinefrina e a octopamina são os principais atuantes sobre as vias lipolíticas (MERCADER et al., 2011). A sinefrina, padronizada entre 4 e 6%, é considerada a forma mais eficiente sobre o emagrecimento, através do estímulo simpaticomimético em receptores adrenérgicos α, β1, β2 e β3, sendo este último de grande relevância clínica. O efeito é, presumivelmente, devido à sua ação ligante aos receptores β3, aumentando a β oxidação, portanto, estimulando vias de termogênese (VERMAAK; VILJOEN; HAMMAN, 2011). Além disso, outros compostos limonóides, polifenois e flavonoides, principalmente as naringinas e hesperetinas, padronizados entre 10 e 15%, indicam modulação de vias bioquímicas importantes, também, corroborando com esses resultados (LAGHA-BENAMROUCHE; MADANI, 2013). O incentivo à utilização na fitoterapia está associado à ação sobre a perda de peso e emagrecimento, NUTRIÇÃO EM PAUTA
funcionais
Herbal Medicine: evidence on the effects of Citrus aurantium in weight loss sem grandes efeitos colaterais (BOUCHARD et al., 2005; GOUGEON, 2006). Surgiu, principalmente, quando a agência americana FDA (Food and Drugs Administration) proibiu, em abril de 2004, o uso da efedrina em suplementos alimentares. Sua ação correlacionava-se ao maior número de indivíduos com problemas cardiovasculares, até mesmo ao aumento de óbitos. Assim, valorizaram-se, no mercado mundial, os produtos isentos de efedrina, como a espécie Citrus aurantium (SHEKELLE et al., 2003). Esta espécie contém uma combinação de aminas adrenérgicas e sua ingestão resulta em efeito semelhante às catecolaminas fisiológicas na periferia dos β-adrenoceptores, localizados, principalmente, no tecido adiposo e fígado, assim possibilitando mecanismos termogênicos, vinculados ao emagrecimento (PREUSS et al., 2002; SHEKELLE et al., 2003). A sinefrina, composto quimicamente semelhante à efedrina, é o componente ativo mais estudado da espécie (HAAZ et al., 2006; ARBO et al., 2009). Sua ação simpaticomimética associa-se, também, aos diferentes efeitos adversos, como a possibilidade de aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca (STOHS et al., 2011). No que tange à delimitação de consensos e diretrizes, para a elaboração de protocolos seguros e eficazes, muitas evidencias, ainda, apresentam-se limitadas metodologicamente, indicando resultados pouco expressivos (BENT; PADULA; NEUHAUS, 2004; ONAKPOYA; DAVIES; ERNST, 2011). Objetivos Revisar as evidências pré-clínicas e clínicas, envolvendo a espécie Citrus aurantium, seus efeitos sobre o emagrecimento e perda de peso, no sentido de nortear a prática clínica do nutricionista e outros profissionais da área de saúde, que demandam ciência, para utilização eficaz e segura da fitoterapia como prática complementar.
. . . . . . . . . . . . . . . Metodologia ......... ......
Revisão da literatura, a partir de artigos experimentais pré-clínicos e clínicos, sobre a espécie Citrus aurantium. A busca foi feita por publicações a partir de 1999, em inglês, e dentro dos seguintes bancos de dados: Scielo, Lilacs, Medline e Pubmed. Além das evidências, legislações pertinentes também foram utilizadas. Para tal, contempladas as palavras-chave: Citrus aurantium, laranja-amarga, perda de peso, emagrecimento. As evidências encontradas foram organizadas em tabela, para melhor análise. Os artigos que não se enquadraram MARÇO 2016
dentro deste perfil não foram incluídos.
............... Resultados .......... . . . . . Evidências experimentais pré-clínicas Cultura celular Segundo Kim (2012), em seu estudo, indicaram um efeito interessante sobre os adipócitos em fase de diferenciação celular. Através da modulação de marcadores celulares, conhecidos como Peroxisome Proliferator Activated Receptor γ (PPARγ) e CCAAT/enhancer-binding proteinα (CEBPα), além da expressão de outros genes das vias lipogênicas, o estudo indicou correlação com a supressão da adipogênese. A diferenciação desses adipócitos foi inibida, principalmente, via controle da sinalização ProteinKinase B/Glycogen synthase kinase 3β(Akt/GSK3β), promovendo a lipólise dos adipócitos maduros (LIU et al., 2008). Avaliaram o efeito de flavonoides sobre a expressão de adiponectina, hormônio envolvido na regulação do metabolismo dos glicídios e lipídeos, em linhagem celular de adipócitos (3T3-L1). O resultado indicou um aumento na transcrição do gene que o expressa via PPARγ, contribuindo com a regressão inflamatória e aterogênica. Estes corroborando com o estudo de Yoshida et al. (2013), no qual evidenciaram inibição da expressão dos receptores Toll-2 (TLR2) e do Fator de Necrose Tumoral α (TNF-α), durante o processo de diferenciação nas mesmas linhagens. Oral em animais No estudo realizado por Kubo (2005), ratos alimentados ad libitum, durante 79 dias, receberam uma dieta hiperlipídica, contendo a espécie padronizada para 6,4% de sinefrina, em quatro quantidades diferentes por quilograma de ração (40, 200, 1000, 5000 mg). Os valores para os animais equivalem a uma variação aproximada para humanos entre 40 e 200 mg/kg. O resultado indicou diferença estatisticamente significativa, em relação ao controle, no grupo que recebeu 5000 mg/kg de ração. Os níveis de adrenalina plasmática aumentaram e houve uma redução, não muito expressiva, dos níveis de gordura perirenal. Nenhuma anormalidade em parâmetros bioquímicos e morfofisiologia cardíaca foram encontradas. Takebayashi (2006) analisaram o efeito de cada substância isoladamente e em conjunto, após o consumo por ratos, machos, da linhagem Sprague-Dawley, durante 45 dias. Os valores do experimento equivalem a uma ingestão humana estimada de 2000 a 2500 mg de Citrus aurantium, contendo cerca de 100-300 mg de NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Fitoterapia: evidências sobre os efeitos da Citrus aurantium no emagrecimento cafeína e 700 mg de catequinas. A ração foi manipulada (1000 mg/kg; 6,4% de sinefrina), juntamente à cafeína (100 mg/kg) e catequinas dos chás (500 mg/kg), combinação normalmente encontrada em suplementos estimulantes do sistema adrenérgico.Os resultados não indicaram diferença estatisticamente significativa, comparando a ingestão alimentar e o ganho de peso, entre os grupos. Não foi encontrada toxicidade cardíaca, apenas o nível de adrenalina presente na urina do grupo que usou o suplemento encontrou-se elevado, a partir do 13º dia. Arbo (2009) avaliaram grupos de 10 camundongos, submetidos a uma dieta para ganho de peso, receberam durante 28 dias consecutivos o extrato seco das folhas espécie Citrus aurantium (7,5% sinefrina) em diferentes doses (400, 2000 e 4000 mg/kg) e de sinefrina (30 e 300 mg/kg). O ganho de peso relativo foi mínimo no grupo que recebeu sinefrina, além de um aumento dos níveis da glutationa. O grupo que recebeu o extrato seco de Citrus aurantium (4000 mg/kg) indicou o mesmo perfil antioxidante, sugerindo uma possível modulação sobre as vias oxidativas. Em outro estudo, analisou-se o uso do Citrus aurantium isolado e em conjunto com a Rhodiola rosae, a qual possui indicação para tratamentos do estresse.
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O efeito da espécie Citrus aurantium (5,6 mg/kg; 6% de sinefrina), associada à Rhodiola rosae (20 mg/kg; 3% rosavins;1% salidrosídeo), fornecido durante dez dias aos 91 ratos, machos, adultos, da linhagem Sprague-Dawley, indicou supressão de 10,5% do apetite daqueles que foram submetidos à dieta hiperlipídica, durante 13 semanas. A gordura visceral reduziu em 30%, além de uma elevação de 15% da norepinefrina hipotalâmica, 150% da dopamina cortical e frontal e 7% na frequência cardíaca no grupo que recebeu somente a espécie Citrus aurantium, reforçando um potencial para os tratamentos emagrecedores (VERPEUT; WALTERS; BELLO, 2013). Evidências experimentais clínicas Oral em humanos Colker (1999), em seu estudo, utilizou 975 mg do extrato da espécie Citrus aurantium, com 528 mg de cafeína e 900 mg erva de São João. Foram ingeridos por 20 adultos obesos, que seguiram uma dieta padrão e uma rotina regular de atividade física. Houve uma significativa perda de peso e gordura corporal entre os que receberam o tratamento. No entanto, indicou diferenças significativas apenas em relação à linha de base, não ha-
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Herbal Medicine: evidence on the effects of Citrus aurantium in weight loss vendo comparação entre o grupo controle e o placebo, e a alta quantidade de cafeína utilizada pode mascarar a influência da Citrus aurantium sobre os resultados (BENT; PADULA; NEUHAUS, 2004) (tabela 1). Gougeon (2006) investigaram a relação da ingestão de cápsulas da espécie Citrus aurantium (26 mg de sinefrina e 4 mg de octopamina) com a elevação da taxa metabólica e efeito térmico. Um grupo com 17 mulheres e 13 homens “saudáveis”, IMC entre 20 e 42 kg/ m², receberam uma refeição em forma de barra e tiveram o efeito térmico do alimento acompanhado pelos 300 minutos seguintes, através de calorimetria indireta. Destes, um subgrupo de 22 pessoas tiveram o efeito térmico da ingestão avaliado em 2 momentos, isoladamente e juntamente com a barra ingerida. O efeito térmico do alimento foi maior entre os indivíduos que receberam a espécie de forma isolada. O aumento do efeito térmico, junto aos alimentos, só aconteceu em mulheres, mas sem grandes diferenças em relação os homens. Não se registrou mudanças na pressão arterial, entretanto, um aumento na excreção urinária de adrenalina (tabela 1). Dallas (2008), em estudo duplo-cego, avaliaram dois grupos de 10 pessoas com Índice de Massa Corpo-
funcionais ral (IMC) variando entre 27 e 33 mg/kg². O grupo tratado recebeu 1,4 g da fórmula (60% de catequinas; 16,7% de naringina, 2% de cianidina-3-glicósideo e 3,6% cafeína), reduzindo o percentual de gordura em 5,53% e 15,6%, após 4 e 12 semanas, respectivamente, enquanto o peso corporal indicou uma redução de 2,2 e 5,2kg. Os autores observaram que a administração da fórmula sugeriu inibição da enzima AMP cíclico-fosfodiesterase, em adipócitos, principalmente por influência da naringina e da cianidina-3-glicósideo (tabela 1). Outro estudo, duplo-cego, examinou o efeito do consumo de Citrus aurantium (26 mg de sinefrina), guaraná (150 mg de cafeína) e chá verde (150 mg de catequinas), em dois grupos de 10 homens sedentários, com massa de gordura acima dos 20%. Um grupo isento de atividades (repouso por sete horas) e o outro submetido à atividade física (caminhada na esteira por uma hora). Dentro deste ensaio clínico, os resultados indicaram diferença estatisticamente significativa do efeito da substância sobre o gasto energético, em ambos os grupos. Houve um aumento de 30% na produção de Adenosina Trifosfato (ATP) a partir da oxidação de glicídios, entretanto, compensado de (150 mg de catequinas), em dois
EC: ensaio clínico. ECRCDC: ensaio clínico randomizado, placebo controlado e duplo-cego. CA: Citrus aurantium. IMC: índice de massa corporal. ATP: adenosina trifosfato MARÇO 2016
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Fitoterapia: evidências sobre os efeitos da Citrus aurantium no emagrecimento grupos de 10 homens sedentários, com massa de gordura acima dos 20%. Um grupo isento de atividades (repouso por sete horas) e o outro submetido à atividade física (caminhada na esteira por uma hora). Dentro deste ensaio clínico, os resultados indicaram diferença estatisticamente significativa do efeito da substância sobre o gasto energético, em ambos os grupos. Houve um aumento de 30% na produção de Adenosina Trifosfato (ATP) a partir da oxidação de glicídios, entretanto, compensado pela redução em 13% do ATP a partir dos lipídios (SALE, et al., 2006) (tabela 1). Stohs (2011), evidenciaram em seu estudo, duplo cego, randomizado e controlado, os efeitos termogênicos da sinefrina isolada (50 mg) e em conjunto com outros compostos, como a naringina (600 mg) e a hesperidina (100 ou 1000 mg). Grupos de dez indivíduos foram submetidos à avaliaçãoda Taxa Metabólica Basal (TMB), Pressão Arterial (PA) e Frequência Cardíaca (FC), 75 minutos após a ingestão. O grupo que recebeu apenas a sinefrina exibiu um aumento de 65 kcal na TMB, em comparação ao placebo. O consumo de naringina com sinefrina resultou em aumento de 129 kcal da TMB. O grupo que recebeu 100mg de hesperidina, sinefrina e naringina aumentou a TMB em 183 kcal. No entanto, o consumo de 1000 mg de hesperidina, sinefrina e naringina resultou em menor aumento da TMB (79 kcal) (tabela 1).
. . . . . . . . . . . . . . . Conclusão ......... ...... A espécie Citrus aurantium, segundo as evidências analisadas, parece ser eficaz e segura, em ratos e humanos, no que tange ao efeito sobre o emagrecimento. Entretanto, em função de muitos estudos a utilizarem como intervenção associada a outras espécies vegetais e fitoquímicos, sugere-se novas publicações, controlando esta variável, assim como analisando parâmetros bioquímicos, que possam nortear a prática clínica dos profissionais de saúde.
. . . . . . . . . . . . . . . ............................. Sobre os autores
Dr. Everaldo de Morais Silva – Nutricionista graduado em Nutrição pela Faculdade Bezerra de Araújo FABA RJ. Farmacêutico, graduado pela Universidade Federal Fluminense UFF. Profa. Dra. Maria das Graças Tavares do Carmo - Professora Titular do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ.
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Prof. Dr. Felipe de Souza Cardoso - Doutorando em Ciências Nutricionais – Bioquímica Nutricional UFRJ. Mestre em Fisiopatologia Clínica UERJ, Especialização em Fitoterapia iPGS. Docente de pós-graduação e graduação em Nutrição (Faculdade Bezerra de Araújo). Nutricionista clínico. Diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Nutrição em Estética.
........................................ . . . . PALAVRAS-CHAVE: Alimentação coletiva; carne; porção; alimentos. KEYWORDS: Citrus aurantium. bitter Orange. weight loss.
........................................ . . . . RECEBIDO: 29/2/2016 - APROVADO: 22/3/2016
........................................ . . . . REFERÊNCIAS
ONAKPOYA, I.; DAVIES L.; ERNST E. Efficacy of herbal supplements containing Citrus aurantium and synephrine alkaloids for the management of overweight and obesity: a systematic review. FACT. v.6, n.4, p.254-260, 2011. PREUSS, H.G. et al. Citrus aurantium as a thermogenic, weight reduction replacement for ephedra: an overview. J Med., v.33, p.247–264. 2002. SALE, C. et al. Metabolic and physiological effects of ingesting extracts of bitter orange, green tea and guarana at rest and during treadmill walking in overweight males. Int J Obes. v.30, p.764–73, 2006. SHEKELLE, P.G. et al. Efficacy and safety of ephedra and ephedrine for weight loss and athletic performance: a meta-analysis. J Am Med Assoc. v.289, p.1537–1545, 2003. STOHS, S.J. et al. Effects of p‐synephrine alone and in combination with selected bioflavonoids on resting metabolism, blood pressure, heart rate and self‐reported mood changes. Int J Med Sci. v.8, p.295-301, 2011. TAKEBAYASHI, J. et al. Effect of Citrus aurantium combined with caffeine and/or tea catechins on body fat accumulation and its safety in rats. Journal of Clinical Biochemistry and Nutrition. v.39, n.3, p.172-179, 2006. VERMAAK, I.; VILJOEN, A.M.; HAMMAN, J.H. Natural
products in anti-obesity therapy. Nat Prod Rep., v.28, n.9, p.1493-1533, 2011. VERPEUT, J.L., WALTERS, A.L., BELLO, N.T. Citrus aurantium and Rhodiolarosea in combination reduce visceral white adipose tissue and increase hypothalamic norepinephrine in a rat model of diet-induced obesity. Nutr Res. v.33, n.6, p.503-512, 2013. YOSHIDA, H. et al. Citrus flavonoid naringenininhibits TLR2 expression in adipocytes. J Nutr Biochem. v.24, n.7, p.1276-1284, 2013. NUTRIÇÃO EM PAUTA
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