O Mirante de Olinda Edição nº 10

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O Mirante

de Olinda

ROTEIRO MENSAL DE CULTURA E TURISMO

Olinda, maio de 2012 - ano 02 nº 10

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Perfil

Entrevista

“Pernambuco é adorável. Tem

Atriz pernambucana. Pág. 5

Bete Mendes

Distribuição GRATUITA/DIRIGIDA

Teatro

Augusta Ferraz

Cordel do Amor Sem Fim

Historiando

Resgate Cultural

Espetáculo em tournée. Pág. 2

uma cultura extraordinária e Historiador Marcelo Lins ICEI Brasil sua identidade cultural amada, Olinda na visão dos viajantes.Pág. 3 Lutas e Memórias do Bairro do preservada e estimulada Pág. 7, 8 e 9 Rosário. Pág. 13


Editorial Daniela Câmara

danielacamara_omirantedeolinda@hotmail.com

Cultura Erudita X Cultura de Massa no Jornalismo Cultural Brasileiro

CORDEL DO AMOR SEM FIM

FAZ TOURNÉE PELO EDITAL MÍRIAM MUNIZ DO MINISTÉRIO DA CULTURA

H

á um dilema aparente no universo do jornalismo cultural brasileiro, que fica entre a cultura de massa e a cultura erudita. A cultura de massa é mais facilmente abordada em matérias e notícias, porque está ligada à indústria do entretenimento. A cultura erudita chega até a mídia de forma mais tímida, mais reservada. Já a cultura popular é bem mais disseminada que a erudita, porém, ainda fica abaixo do que se deve promover e divulgar em todas as mídias, linguagens e formatos jornalísticos. No Brasil, o acesso do leitor a notícias de cultura mais apuradas, seletivas e intelectualizadas é bem mais raro do que nos países de primeiro mundo. Lá se tem o hábito de se assistir a um espetáculo de ópera desde a infância, a concertos de excelente qualidade e de espetáculos, shows, enquanto que aqui vimos crianças ainda inocentes, dançando e literalmente descendo a “boquinha da garrafa”. Como um cidadão brasileiro comum ou de classe baixa pode consumir produtos culturais que só são viabilizados para uma elite cultural? Quanto se paga para assistir a um show de Chico Buarque, por exemplo? Mais barato é tomar uma cachaça em casa e escutar um Tecnobrega até o dia amanhecer. Como um cidadão popular pode fazer uma escolha crítica se ele nunca teve acesso à cultura erudita ou até a cultura popular? Sim porque o universo popular é mais acessível, mas a cultura massificada bate todo dia em sua porta de graça. Como? Se ainda há um forte agravante que é o do analfabetismo no Brasil? Difícil para a nossa cidadania e fácil, para os que não querem que seu povo pense, reflita e interaja. E esse sistema de cultura transborda de todo jeito. Desde os altos índices de criminalidade, ao desajuste social, as epidemias pelo consumo do crack, a banalização da violência. Isso é reflexo da cultura da bagaceira, do consumo excessivo do álcool, que tantas vezes agrava situações já bem difíceis que estão ligadas ao contexto social do cidadão brasileiro. E no Brasil, uma das mais graves epidemias é a do abuso do álcool. Na Bahia foi proibida a execução da música sexista, que denigre a figura feminina, em lugares públicos. Adorei! Os pernambucanos se preocupam em proibir que se toque o Axé no carnaval, para priorizar o nosso tão belo frevo. É justo. Mas e o resto? Durante o resto do ano o que se ouve? O que se ouve é um produto produzido pela indústria do entretenimento. É pela grana e só. Cadê a identidade cultural do brasileiro? Onde está a formação de plateia? Quem vai ao teatro se na TV, se assiste a novelas? O Mirante, um jornal independente e alternativo, está em Olinda e no Recife, para divulgar a arte em seu conteúdo original. É assim que entendemos o fazer do jornalismo cultural, porque arte não é produto de terceira. Que divulguemos então o que tem que ser pautado. Arte e não lixo cultural.

O Espetáculo de teatro “Cordel do Amor Sem Fim”, do diretor Samuel Santos faz tournée por cidades ribeirinhas do Rio São Francisco. O tema do São Francisco originou o mote do projeto cultural, pelas características regionais que inspiram a criação teatral. A história se passa às margens das regiões ribeirinhas banhadas pelo “Velho Chico”. Na cidade moram três irmãs – a velha Madalena, a misteriosa Carminha e a jovem e sonhadora Tereza, que se apaixona por um forasteiro que promete voltar para ela. Assim a moça passa a esperar todos os dias por seu amado na beira do cais. De tanto esperar, Tereza acaba virando uma pedra às margens do rio São Francisco. O projeto circulará de maio até novembro de 2012 passando por Sergipe, Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Pernambuco. A passagem do projeto por terras pernambucanas acontece dias 24 de maio em Cabrobó, 27 de maio em Belém do São Francisco, aportando em Outubro no Recife. No elenco do espetáculo estrelam os atores Agrinez Melo, Eliz Galvão, Naná Sodré e Thomás Aquino. O texto rico e bem humorado é de Cláudia Barral. Segundo o diretor da peça, o projeto vem quebrar a barreira do teatro produzido

apenas para a caixa cênica. O espetáculo será apresentado em espaços alternativos e em cidades descentralizadas dos grandes centros, alcançando um público excluído de bens culturais como o teatro. Ao término de cada apresentação será proposto um debate para que a plateia possa expor suas impressões sobre o espetáculo e trocar informações com o elenco. O projeto conta também com ações formativas voltadas para educandos de escolas públicas municipais e estaduais das cidades. Será oferecida gratuitamente a oficina de improvisação e interpretação teatral ministrada por integrantes do grupo O Poste: Soluções Luminosas. Na mesma ocasião, os educandos poderão vivenciar a prática de jogos e exercícios teatrais utilizados na construção do espetáculo. Samuel Santos é um diretor premiado e consagrado na cena teatral pernambucana. No Cordel do Amor sem fim conta com um elenco de mão cheia. Com atores extremante disciplinados e talentosos, o diretor conseguiu apresentar uma pluralidade em linguagens artísticas no espetáculo. Todos os integrantes da peça dançam, cantam e tocam ao longo das apresentações, o que comprova a gama de grandes atores que temos em nosso Estado.


Historiando

303 Marcelo Lins

Olinda, maio de 2012

Olinda na visão dos viajantes A transferência da corte portuguesa para o Brasil nos primeiros anos do século XIX e a consequente promulgação do Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas, em 28 de Janeiro de 1808, representou, não tão somente, uma transformação nas relações comerciais e políticas do Brasil com o resto do mundo, mas também, o despertar de uma nova curiosidade europeia em conhecer o país “exótico”, sua exuberância tropical e riquezas naturais. Durante mais de dois séculos, a administração lusitana procurou manter o isolamento do Brasil, dificultando o acesso de estrangeiros ao país, dentro da lógica de manutenção dos interesses coloniais do império português, procurando resguardar seu território da ambição e curiosidade das nações europeias. Após a abertura dos portos, foi intensa a presença de viajantes europeus, das mais diversas nacionalidades no Brasil. Diplomatas, comerciantes, geógrafos, botânicos, além de diversas expedições cientificas, cruzaram o Brasil de norte a sul, de leste a oeste. Esta gama de viagens e viajantes produziram uma série de registros minuciosos sobre a sociedade, a fauna, a flora, a geografia e as cidades brasileiras. Vários destes viajantes passaram por Olinda e deixaram escritos em seus relatos suas impressões sobre a antiga capital de Pernambuco. Os depoimentos destes trazem uma visão dicotômica, de um lado, o deslumbramento provocado pela beleza do sítio e sua paisagem, e do outro, a decepção com o estado de abandono e ruína da cidade. A Olinda da primeira metade do século XIX, estava bem distante da nossa Olinda atual, celeiro

Após a abertura dos portos, foi intensa a presença de viajantes europeus, das mais diversas nacionalidades no Brasil efervescente da arte e da cultura Pernambucana. Naquele tempo, a cidade ainda guardava as cicatrizes de dois século de paulatino abandono, desde o incêndio provocado pelos holandeses em 1631, passando pela Guerra dos Mascates em 1710, e a perda de seu poder político e econômico. O inglês James Henderson (1783-1848), que esteve no Brasil entre 1819 e 1821, diz que, a “outrora rica, florescente e poderosa Olinda, encontrava-se pobre e pouco habitada, devido em grande parte a sua proximidade com o Recife que a privou de todo o seu comércio”.1 Segundo apurou o diplomata britânico, os moradores de Olinda acreditavam que sua decadência era uma punição divina contra ricos e poderosos de outrora, cuja libertinagem chegara a tal ponto, que certo dia arrancaram violen-

tamente do seu púlpito, um clérigo que os repreendia veementemente contra a soberba e arrogância dos habitantes. O contraste beleza vs. ruína fica bem patente em vários relatos de viajantes. Maria Graham (17851842), que visitou Pernambuco em fins de 1821, revela “fiquei surpreendida com a extrema beleza de Olinda, ou antes, dos seus restos, porque agora está num melancólico estado de ruína”2. Opinião partilhada por Henry Koster (c.1793-1820) cerca de uma década antes: “A primeira impressão quando se chega pelo mar é tão bonita que se experimenta um certo desapontamento, conhecendo-a de perto”.3 Mas é a beleza do sítio e sua paisagem que encantam os viajantes, e Koster completa “todavia possui Olinda grandes belezas e a vista é magnífica”. Para Hen-

derson, a cidade situada sobre as colinas, fazia o inglês concordar com a exclamação atribuída ao primeiro donatário de Pernambuco “oh que linda situação para fundar uma vila!”. E continua “A terra vista do mar aparenta ricamente coberta de árvores com coqueiros esparsos, dando uma ideia de fertilidade e desenvolvimento”. Para o francês Louis François de Tollenare que chegou diante do porto do Recife no início da noite de 12 de janeiro de 1816, “ás 8 horas da noite, lançamos ferro ao largo”. Para na manhã seguinte acordar e, assim como Koster, deslumbrar-se com a beleza da cidade vista do mar: “Apenas o sol nascente iluminara a costa interessante que ia nos acolher, já os nossos olhos ávidos descobriam as suas particularidades. À nossa direita se elevava a bonita cidade de Olinda, edificada sobre varias colinas; as casas acham-se ali semeadas em meio de laranjais; as florestas ao longe apresentam cambiantes tão variados quantas as especiais de árvores que as compõem; alguns coqueiros isolados balançam-se no ar; há sobretudo um, entre dois conventos que coroam Olinda o qual faz um enfeito muito pitoresco.”4 Já em terra, o francês continua a elogiar a cidade de Olinda cujo sítio sobre colinas lhe davam “um aspecto muito agradável, e proporciona admiráveis golpes de vista.” De um lado via-se o porto do Recife com sua floresta de mastros e além da muralha de pedra a vastidão do oceano. Do outro, “o olhar descobre a planície pantanosa que o Beberibe encharca, e vai repousar sobre os outeiros cobertos de verdura”.

1 O RECIFE quatro séculos de sua paisagem. Organizado por Mário Souto Maior e Leonardo Dantas Silva. Estudo introdutório de Leonardo Dantas Silva, “O Recife - várias visões” (p. 9-25). Recife: FUNDAJ, Ed. Massangana; Prefeitura da Cidade do Recife, Secretaria de Educação e Cultura, 1992; p. 111. 2 Idem; p. 129. 3 KOSTER, Henry, 1793 - 1820. Viagens ao Nordeste do Brasil. Tradução e prefácio de Luís da Câmara Cascudo; estudo introdutório e organização de Leonardo Dantas Silva; 11 ed. atual. Recife: FJN. Ed. Massangana, 2002; p. 4 TOLLENARE, L. F. de. Notas dominicais. Tradução de Alfredo de Carvalho. Apresentação José Antônio Gonsalves de Mello. 2. ed. Recife: SEC, Departamento de Cultura, 1978. 272 p. il. (Coleção pernambucana; 1ª fase, v. 16); p. 18.


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Poesia e Cordel

Cartoon

misaelgodoy_omirantedeolinda@hotmail.com

MATUTO PRAIEIRO

Misael Godoy

Matuto é bicho que cisma de vez em quando, e, tal e qual um alazão andador, mete a cara no mundo e vai conhecer outras paragens. E tem uma coisa: todo matuto sonha em ver o mar! Belo dia, esse matuto sertanejo resolveu mudar de ares e, veio bater no litoral, na beira desse açudão sem final, de águas ora verdes, ora azuis, ora calmas, ora agitadas... Ao chegar, apeou do cavalo e, bateu uma cantiga anunciando a sua chegada!

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Lá vem galopando o matuto praieiro Trocando o sertão pelas ondas do mar E as secas caatingas pra vir mergulhar Trocar seu cavalo por barco veleiro Largar sua tocha por luz de facheiro Deixar a espingarda e de arpão atirar Trocar sua caça por frutos do mar Deixar a carroça por uma jangada Comer camarão em lugar de buchada Cantar um galope na beira do mar Matuto praieiro vieste pr’aqui Correr vaquejada nas praias do mar Cavalos marinhos tu vais cavalgar Nas ondas revoltas dos mares daqui Os rios sertanejos encontras aqui Nas águas marinhas se vão despejar Trazer as notícias das bandas de lá Trocar os presentes, capim por sargaço Brindar ao encontro com fortes abraços Cantar um galope na beira do mar

Catadores no mangue by WamNick Colaboração do ilustrador Wamberto Nicomedes de Oliveira: WamNick, que mora em Olinda e trabalha com ilustrações de livros e histórias em quadrinhos para o mercado norte americano.

Fotografia

Comtempla essa cena, matuto praieiro Das águas que trocam abraços fraternos E amores que duram verões e invernos Debaixo das bênçãos do Santo Guerreiro Tu trazes o orgulho de ser cavaleiro Mas trocas o alforje por rede e puçá Matuto praieiro, tu sabes pescar? Em vez de peão tu vais ser jangadeiro Só faltas pra ser pescador verdadeiro Cantar um galope na beira do mar Tu vens desbravar essas terras de Olinda Co’a tua coragem de cabra da peste Bateste serrado, sertões e agreste Agora aprecias paisagem tão linda Mas luta que é luta começa e não finda Não penses que muda mudando o lugar Batalhas e guerras tu deves travar Pra ser um herói dessas terras antigas Tu deves saudá-las nas tuas cantigas Cantar um galope na beira do mar Na longa jornada, sertão para o cais Mudaste o destino, matuto praieiro Da vida sofrida que tinhas primeiro Trocaste os tormentos por dias de paz Mas luta que é luta não finda jamais Já disse o poeta que sabe rimar Então te levantas, te pões a lutar Mas para que a vida não perca seu brilho Tu deves fazer o que manda o estribilho: Cantar um galope na beira do mar.

Foto de Vitorino Cuca Maia, fotógrafo e cidadão do bairro de Casa Forte. Atualmente mora em Salvador na Bahia.

Poesia

Todos os direitos reservados. Obra registrada no EDA/FBN. Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, sem o consentimento do autor.

Participe também.

Envie colaborações para a curadoria do Mirante pelo e-mail: omirantedeolinda@gmail.com

Vitorino Cuca Maia

VOU ALI Tomar um Bacardi Alimentar as saudades Que tenho de ti Poderia ser saquê Pras saudades de ôcê Vinho Do teu carinho Dry Martini De tu de bikini Um espumante Minha amante Vários cafezinhos Dos teus belos pezinhos Vou tomar um caldinho de sururu Para a saudade que tenho de tu.


O Mirante de Olinda

Entrevista

Augusta Ferraz

C

onsiderada a melhor e mais talentosa atriz do Estado, Augusta Ferraz formouse em artes cênicas pela Universidade Federal de Pernambuco e ministra curso de drama grego. Nessa entrevista o leitor irá saber sobre sua trajetória e a vida profissional de uma das mais virtuosas atrizes de Pernambuco e porque não dizer do Brasil, já que em nosso País temos uma gama de grandes atrizes assim como ela, que tanto no palco como na vida real, pode ser também, mais um personagem marcante da nossa história teatral. O Mirante de Olinda: Você esteve nos palcos por muitos anos, mas agora tem formação acadêmica na área de artes cênicas. Como se sente com esse suporte a mais em sua carreira? Augusta: Me sinto com uma saída a mais para me manter financeiramente. Hoje, tenho uma titulação que me permite dar aulas no sistema educacional formal... O curso em que me graduei é de licenciatura em Artes Cênicas... Sou uma mulher perseverante, como Penélope na Odisseia de Ulisses, levei anos a fio para obter esta graduação...

Lá estava eu, taurinamente, indo ao encontro desse meu desejo intimo, recebendo suporte de alguns, que mesmo descrentes dessa minha luta interna, estiveram me apoiando. A universidade é um espaço que me encanta. Lá posso me nutrir de conhecimentos contidos em pessoas, livros, projetos, sabedorias, diretrizes. É um ambiente onde encontro pessoas vivendo uma vida real no que diz respeito a transmissão de conhecimentos conceituais, sabedorias natas e profissão. Amo aquele espaço que para mim é mágico, encantatório... Ando me nutrindo de vontades, me munindo de forças para continuar ligada a ela, a universidade, indo um pouco mais além, no que concerne as possibilidades de unir minha profissão a um ato mais humano de me relacionar com o mundo. OM: Você está atualmente ministrando um curso de drama grego. Como está sendo essa experiência? Augusta: O Drama Grego Antigo é atraente em sua relação com a vida nas cidades de seu tempo. Em relação ao espaço cênico e sua acústica. Em relação aos papéis das camadas sociais onde seus personagens atuam sempre com a mesma representação política, onde a nobreza (leia-se: possuidores da moeda de troca) domina a temática da história. Onde o Corifeu, subserviente, faz a comunicação entre estas camadas sociais e onde o coro, como olhos e pulsação rítmica e energética do ambiente externo ao centro da trama, aconselha, narrando os acontecimentos históricos, (mais persente em Ésquilo) criticando e prevendo o desfecho trágico do herói/ heroína... O Drama Grego Antigo é um teatro que tem sua estrutura dramatúrgica construída a partir dos papeis sociais dos indivíduos... Essa construção social, a meu ver, é bastante trabalhada no teatro épico que também mantém a construção Aristotélica com o começo, o meio e o fim da narrativa do herói/heroí-

na dentro do contexto político/ social da história...!!! Outra questão que me instiga no Drama Grego Antigo é a presença masculina na cena... Eu quero construir um raciocínio comparado entre aquela e essa atual interpretação do gênero masculino na cena atual... !!! ??? E como fica a interpretação da mulher em meio a essa dualidade masculina no antigo e no atual. OM: Quanto tempo de carreira? Fale um pouco de sua trajetória. Augusta: Fui iniciada no mundo do teatro, quando fazia o ginasial no colégio Leão XIII, quando ainda não existia a profissão Arte Educador. Alguns professores faziam o teatro daquela época... Depois fiz minha primeira apresentação cantando no show musical “Fláviola e o Bando do Sol” no teatro Waldemar de Oliveira. Quem fazia a produção era Kátia Mesel (admiro) que na época era mulher de Lula Côrtes, que atuava como músico no show... Em minhas, já andanças noturnas (tenho em minha natureza um gosto especial pela noite), algumas vezes encontrava o Fláviola no Alto da Sé tocando e cantando, não profissionalmente, mas, entre amigos... Eu aparecia, ele dizia que gostava de minha voz... E me convidou para fazer essa participação cantando no lançamento desse disco maravilhoso. Ele musicou poemas de Garcia Lorca... Para quem quiser ouvir algumas dessas músicas é ir ao youtube... O disco hoje custa uma fortuna... E tinha eu dessesete anos... Agora tenho cinquenta e quatro. OM: E o teatro pernambucano. Como vai o nosso mercado cultural na área de artes cênicas? Augusta: Bem... !!! ???... Citando o orador grego Lísias: “Insensato quem não deseja ver Atenas; insensato quem a vê e não admira. Mais insensato ainda quem a vê, admira e a abandona”. Onde se Atenas leia-se Recife. OM: Dos diretores pernambucanos, qual

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deles você mais gosta de trabalhar? Augusta: Estou concorrendo ao financiamento do Fundo de Cultura do Estado de Pernambuco em um projeto para ser dirigida pela queridona Maria Alice Vergueiro, em um texto da Franca Rame... Dei o seguinte título ao texto “A Arte de Trepar”... ! É aguardar, e ver por quem são os Deuses! OM: Estando em cena, como você administra a questão da catarse do personagem e a racionalidade da técnica? Augusta: Comigo a técnica não é racional, ela vem e se instala quando se faz necessária... Estar em cena, no espaço da interpretação do teatro não é nada racional, mesmo tendo as partes racionais em ação...! Não dá pra explicar... Dá pra mostrar. Talvez em uma Aula Espetáculo. OM: Você é considerada a maior atriz de Pernambuco. Como lida com isso? Augusta: Sou uma atriz do teatro brasileiro... Ando só por que não gosto de guetos... Tenho personalidade, sustendo minhas idéias... Quando quero saber pergunto... Quando preciso gritar... Faço-o... Quando preciso me humilhar: Faço-o... Quando sou forçada a vestir a camisa respondo: - Meu bem, com preliminares, faz favor ! Prazer é fundamental ! OM: Qual a sua preferência. Drama ou comédia? Augusta: Todos os gêneros são a minha preferência... Se tiver boa orientação da cena posso fazer um bom trabalho. SERVIÇO: Augusta Ferraz ministra curso de drama grego até setembro. As aulas são ministradas no Espaço Cênicas de Repertório na Rua Marquês de Olinda. O acesso ao espaço tem entrada pela Rua Vigário Tenório 199, 2º andar, Recife Antigo. Maiores informações: 9166 7344 9609 3838/ 8756 3261.


Mercado de Artesanato do

Alto da Sé

C

onsiderado mais um ponto turístico da cidade alta, o mercado tem uma das mais lindas vistas panorâmicas do Alto da Sé. No mercado o turista irá encontrar artesanato regional, música regional, roupas, chapéus, redes e cerâmica, entre outros produtos do original artesanato nordestino. O mercado funciona das 9 às 19h. De domingo à domingo. Endereço: Rua Bispo Coutinho, 669 Alto da Sé - Olinda.

Uma das mais lindas vistas panorâmicas do Alto da Sé.


Perfil

Bete Mendes

Daniela Câmara

7 07 Olinda, maio de 2012

“Amo as pessoas daqui e o reconhecimento ao meu trabalho”.

Fotos: Emanuel Sacramento


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O Mirante de Olinda

E

la é só amor. Quem passa por Bete Mendes não diz que ela sofreu tanto as agruras da opressão, da repressão política, da ditadura militar, em 1970, ano o qual foi presa e torturada pelo DOI-CODI. Bete foi ativista em diversos movimentos sociais brasileiros, dentre eles a regulamentação profissional dos artistas e técnicos em espetáculos, apoiou a greve dos metalúrgicos e o movimento em prol da anistia. Além disso, foi deputada federal, e junto ao presidente Lula, fundou o PT. A atriz mais politizada do Brasil tem ar doce, de quem transformou sofrimento em amor. Foi assim que Bete tornou-se uma das pessoas mais importantes da cena brasileira. Uma mulher humilde, dedicada e feliz. Há poucos dias veio à Pernambuco, como convidada do Cine PE 2012. Em outros anos participou do festival como jurada. Desde muito antes ela é uma apaixonada pela nossa terra. Bete quando chegou por terras pernambucanas aportou nas ladeiras do carnaval olindense. Depois esteve em Bezerros, interior do estado, para conhecer os Papangus. Começa a partir daí, a história de amor da atriz com Pernambuco e com as pessoas que fazem arte por aqui.

Bete Mendes nasceu em Santos em São Paulo e declara-se também torcedora do time. Ela, filha de pai militar, sempre esteve entre o Rio e São Paulo, por conta das transferências profissionais do pai. Desde cedo mostrava talento para as artes cênicas, envolvendo-se nas peças teatrais das datas comemorativas escolares. Foi colega de Ney Latorraca, que também é natural de Santos, na mesma escola. Entre os 12 e os 14 anos de idade, já participava ativamente do grêmio escolar, demonstrando seu interesse pela política. Bete não fez curso de teatro, mas envolveu-se no teatro amador, o que a fez aprender a cena na vida prática. O palco foi sua primeira escola. Estudou sociologia, mas não chegou a concluir o curso, por causa do período em que esteve presa pela ditadura militar. Na carreira cênica, tudo começou através de uma aprovação em um teste de seleção de elenco com Antunes Filho. Desde então, nunca mais saiu da vida artística. Ela conta que teve a honra de receber a carteira profissional de atriz nessa época. Sua madrinha na televisão foi Irene Ravache, que a apresentou a Cassiano Gabus Mendes, criador da telenovela Beto Rockfeller, da TV Tupi. Passou a atuar no elenco da novela que

“Pernambuco

é adorável. Tem uma cultura extraordinária e sua identidade cultural amada, preservada e estimulada


Olinda, maio de 2012 revolucionou o país, tanto pela trilha sonora, quanto por mudar o tom das falas utilizadas na época, por uma fala mais coloquial na linguagem do drama televisivo. Em Beto Rockfeller, ela fez a personagem Renata. A atriz fala que fez muita novela e pouco teatro e cinema, por causa dos convites para atuar em filmes e peças desinteressantes e por seu envolvimento com a faculdade de sociologia na época. Mas foi nesse tempo, em 1969, que ela entrou em uma organização revolucionária chamada Var Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Eram muitas atividades e muitas ideias na cabeça. Em 1970 foi presa e passou pela tortura. “Foi um tempo horrível. Um tempo de terror. Qualquer cidadão era suspeito. Eles tinham pessoas infiltradas por toda a parte”. Após um mês saiu da prisão com sérias sequelas físicas e psicológicas. Por conta da prisão, não podia mais fazer as atividades que exercia antes. Não podia mais estudar e para voltar a atuar em televisão foi necessária uma intervenção de Carlos Zara e Eva Wilma, que na época brigaram em prol da causa da atriz. Eva Wilma foi testemunha de defesa no tribunal militar. Em 1974 a Rede Globo convida Bete a trabalhar na novela “O Rebu” de Bráulio Pedroso, mais uma novela revolucionária da televisão brasileira. Na ocasião ela volta a morar no Rio. Mas em 1979, a Globo já não manteve mais seu contrato. Bete volta a São Paulo mais uma vez. Em 1980 filma Eles Não usam Black Tie. Em 1981, a atriz funda junto ao Presidente Lula, o PT. Ele nessa época pede a ela que se candidate a deputada federal. Assim fez e foi eleita, mudando-se para Brasília. Houve discordância com o partido, porque o PT foi contra a ida de oito políticos ao colégio eleitoral para votar em Tancredo Neves, ainda em tempos de eleições indiretas. Dos oito, ela estava entre os três que tiveram a coragem de enfrentar a ida. Bete foi convidada a sair do partido. Em seguida elegeu-se mais uma vez pelo PMDB. Mesmo assim, a artista continuou a apoiar Lula em toda a sua trajetória política. De 1986 a 1987 foi secretária de cultura municipal de São Paulo a convite de Orestes Quércia tendo então que retornar a Brasília. Quando foi para o PSDB, não se reelegeu, mas mesmo assim continuou na luta pela libertação dos índios e pelos direitos das

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Adoro Pernambuco. Adorei conhecer Bezerros e os Papangus. mulheres. Ela então passa a envolver-se nos movimentos políticos como cidadã comum. A atriz passa a escolher e selecionar melhor seus papéis nas peças e filmes nacionais, a exemplo de “Gota d’água” de Chico Buarque, espetáculo o qual ela atuou. Na vida pessoal casou-se por três vezes e não teve bons relacionamentos, vindo a separar-se. Mas em 1997, período em que gravou a novela “O Rei do Gado” encontrou o grande amor da sua vida, Marco Antônio Fernandes Marques, o conhecido Marcão, querido de todos que fazem a equipe do Cine PE, fiel companheiro da atriz e habituée do festival do áudio visual pernambucano. Bete não pôde ter filhos por causa das agressões físicas da época da ditadura, mas diz que tem filhos fictícios a cada trabalho que

faz com crianças. Em Pernambuco gravou campanha do IPTU na década de 90 com Mário Lago e participou da campanha das Diretas Já, onde viajou por 32 cidades. No primeiro ano do Cine PE conheceu Alfredo e Sandra Bertini, que são os realizadores do festival e grandes amigos da atriz. Ela diz que só não vem ao evento quando está em filmagem. Atualmente fará parte do elenco da nova versão da novela Gabriela Cravo e Canela da Rede Globo. Emocionada, ela diz que aqui encontrou amigos eternos e uma cidade calorosa de mar de águas mornas e de gente querida. Leia mais no portal

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Olinda é para quem gosta de dançar, ouvir MPB, degustar da alta gastronomia, ou passear descompromissadamente pela orla ou pelo sítio histórico. Neste roteiro, o turista encontra as melhores opções.

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Olinda is for those who like to dance, listen to MPB, taste of haute cuisine, or simply stroll along the seashore, or historic site. In this tour, tourists find the best options.

Roteiro Olindense Find here the best places in Olinda

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ercorrendo a orla marítima temos um leque de opções. Para quem quer curtir um namoro à beira-mar degustando dos seus frutos fresquinhos, começamos o passeio pelo Marisqueira, que tem uma excelente cozinha e está para além das comidas marítimas. No restaurante do empresário Piauí, o casal pode apreciar uma costela de porco ou carne de sol, dentre tantas outras delícias. O interessante é que lá podemos pedir que o garçon ponha a mesa à beira-mar, de onde se vê o quebrar das ondas, degustando um bom vinho. Walking along the shoreline have a wide range of options. For those who want to enjoy dating in front of the ocean while tasting a fresh seafood, we started the tour with the Marisqueira

Restaurant, which has an excellent cuisine going beyond the sea food. In the Piaui’s Reastaurant, the couple can enjoy a pork chop or a delicious “Carne de Sol”, among many other delights. Interestingly, there we can ask the waiter to set the table by the seaside, where you see the breaking waves, enjoying a good wine. Ainda à beira-mar de Olinda, encontramos o Hotel Costeiro. Esse hotel tem 79 partamentos climatizados e cozinha internacional. O hóspede desfruta de banho de piscina, enquanto pode solicitar um drink a sua borda. Além dessas características, fica próximo ao Centro de Convenções, Veneza Water Park, Chevrolet Hall, shoppings centers, bancos e sítio histórico, o que torna ainda mais favorável a estada do turista.

Still on the ocean front, we find the Hotel Costeiro. This hotel has 79 air-conditioned suites and international cuisine. There you can enjoy a swimming pool, while sipping on your favorite drink. Besides these features, it’s near the Conventional Center, Veneza Water Park, Chevrolet Hall, shopping malls, banks and historical sites. Adiante, na altura do Fortim do Queijo, A Fábrica Bar tem promoções todas as terças-feiras com clone de cerveja e nas quintas, de whisky. Tem espaço para se dançar, além de poder escutar MPB. Os proprietários da casa, Robson e Gustavo, cuidam da programação cultural. A Fábrica Bar tem um público fiel e “habituée”. Os frequentadores dos clubes não deixam de dar aquela passada semanal na casa.


O Mirante de Olinda Soon after, next to the Fortim do Queijo we’ll find the Fábrica Bar with its famous Tuesdays Special buy one and get one free beer and on Thursdays buy one get one free whisky. It has space for dancing, in addition to being able to listen to MPB. The owners, Gustavo and Robson are in charge of the cultural program. The Factory bar has a loyal and “habitué” clientele. Um lugar agradável para o turista visitar e comprar lembranças é a Galeria São Salvador, que fica no Alto da Sé e tem os artesanatos mais engraçados e interessantes, além de poder conhecer as melhores cachaças brasileiras. A nice place for tourists to visit and buy souvenirs is the Gallery São Salvador, located in the Alto da Sé and has the funniest and interesting crafts, also you can learn the best Brazilian cachaça. São inúmeras as opções. Nas sextas-feiras ainda pode-se caminhar pelas ladeiras de Olinda, ao som de uma típica seresta, que nos remete aos tempos de outrora. There are a wide range of options. On Fridays you can still walk the hills of Olinda, enjoying the sound of a typical songs, which takes us back in time.

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Galeria São Salvador - O Casarão das Artes A Galeria São Salvador tem cenário de memória preservada e é um lugar perfeito para o turista apreciar a beleza arquitetônica e adquirir peças de artesanato local

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linda por ser antiga e histórica guarda em seu casario, lugares memoráveis, onde habitaram ilustres personagens de uma cidade que viria a ser patrimônio cultural da humanidade. O casarão da rua Bispo Coutinho, onde atualmente funciona a Galeria São Salvador, que fica situado no Alto da Sé, próximo à igreja, foi habitado por Diogo Fernandes e Branca Dias, que instalaram-se na localidade e abriram um internato para moças de fino trato, em meados do ano de 1593. Na escola aprendia-se a bordar, cozinhar e costurar. Diogo Fernandes foi um judeu profissional da indústria açucareira, perseguido pela inquisição portuguesa. Veio morar na Cidade Alta, porque estava fugindo. Mas em Olinda aconteceu a mesma coisa. Foram várias denúncias tardias feitas ao casal, através da comissão inquisitorial da cidade. Migraram para Camaragibe, onde tiveram seus filhos e fizeram fortuna. Mesmo assim, a perseguição foi herança dada à filha de Branca Dias, Brites Fernandes, que foi torturada, aos 60 anos de idade, após a morte de sua mãe. Os empresários preservaram o casarão antigo no alto da sé de Olinda, onde o cliente faz uma verdadeira viagem aos tempos idos. O lugar remete a uma história guardada há séculos, na

cidade patrimônio mais bem preservada do Brasil. Lá o turista pode adquirir peças artesanais e coisinhas peculiares da região Nordeste. A loja oferece produtos diversificados. Eles conseguiram concentrar os melhores produtos artesanais da nossa região juntando criatividade na escolha das peças e um estilo leve e despojado nas roupas encontradas no interior da galeria. No setor de bebidas podemos tomar uma cachacinha

na hora. O cliente escolhe através da experimentação, qual a cachaça mais saborosa para levar em sua mala. Vale à pena conhecer e passear dentro do casarão. O cliente, mesmo não sendo turista, certamente não irá passar pouco tempo descobrindo tanta coisa interessante e ao mesmo tempo engraçada, que só a região nordeste pode proporcionar. Vale à pena conferir.


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Roteiro Olindense

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Bar e Restaurante Esquina do Mar é um canto especial em Olinda, que oferece uma programação musical interessante para cada dia da semana. O bar fica em um dos melhores points da orla de Olinda. Vale à pena conhecer, o atendimento é excelente !

O poeta Misael Godoy dedicou um verso, no estilo galope à beira mar, para melhor retratar o Esquina do Mar.

Se quer diversão e ninguém lhe falou Se quer uma “loira” gostosa e gelada Se quer a cachaça da mais arretada Se quer numa brisa matar o calor Ou mesmo na orla curtir um amor Amigo se ligue, não marque bobeira Dançar um pagode, é coisa maneira Curtir uma roda de samba também A turma é das boas, bonita, do bem E nosso serviço, dos bons, de primeira Que seja no sábado ou sexta feira Ou mesmo na quinta, curtir nosso clone Na terça, na quarta, se lembre do nome Esquina do Mar é escolha certeira.

Esquina do Mar fica localizado na Av. Ministro Marcos Freire, 729 / Beira-Mar, Olinda-PE Maiores informações pelo telefone: (81) 3429.7754 A Fábrica Bar foi inaugurada em 25 de Setembro de 2009, iniciando suas atividades com uma proposta de unir a culinária de boteco, ao clima boêmio dos pub’s e rodas de samba, ao mesmo tempo, abrindo espaço para o som que é ‘fabricado’ em Pernambuco. Desde então, vários artistas tiveram oportunidades na casa. As atrações da programação têm feito a alegria e diversão dos clientes e habituées, enquanto degustam deliciosos petiscos. PROGRAMAÇÃO: - TERÇA do VINIL, com DJ 440 - QUARTA de SAMBA e CLONE de CERVEJA - QUINTA de POP ROCK ACÚSTICO e CLONE de WHISKY e CAIPIROSCA - SEXTA CAFUSÚ, com muito BREGA e SAMBA - SÁBADO de POP ROCK BRASIL, abertura de MPB - DOMINGO de PRÉVIAS de CARNAVAL Abrimos de TERÇA à DOMINGO a partir das 17h. - Atrações musicais iniciam sempre as 20h. - Cobramos Couvert artístico de R$ 3,00 por pessoa.

A Fábrica Bar fica localizado na Praça do Fortim, 09 / Carmo, Olinda-PE Maiores informações pelo telefone: (81) 3439.6755


13 13 Texto - André Soares

Lutas e Memórias do Bairro do Rosário

Alunos do Curso de Fotografia Angela Regina Sampaio Antônio Nivaldo Canuto de Santana Dyego Leonardo Melchiades Eduardo Menezes da Silva Jackson Cavalcanti Junior Marcilio José Silva de Freitas Marcos José da Silva Filho Marlon Sena Nascimento Silva Pedro Ivo Bernardo de Santana Silva Renato Dhiego Barbosa da Silva Rodrigo Diogo Barbosa Lins Jhonata Joaquim Joana Romão João Paulo vieira Valéria Barreto Maria Clara Priscila Canuto

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anifestações sócio-culturais sempre fizeram parte da história do Bairro do Rosário, em Olinda, através de lutas e comemorações, que uniram obras arquitetônicas de valores inestimáveis, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e a bica, fundadas no século XVII, à memória da comunidade pelas lutas travadas pelos negros através da Irmandade do Rosário. Pensando na valorização dessa memória coletiva compartilhada pela comunidade através de tradições e histórias, o ICEI – Instituto Cooperação Econômica Internacional, em parceria da Igreja do Rosário, iniciou em março uma série de ações valorizando a cultura existente no local, levando aos jovens da comunidade oficinas de fotografia, grafite e maracatu. A reconstrução dessa memória cultural integrando artes antigas e contemporâneas através do coletivo tem levado, além da própria valorização, o contato direto da comunidade e o início de um processo de profissionalização, seja através das aulas de fotografia, ministradas pelo professor Mateus Sá, que trabalha o entendimento do que vem a ser patrimônio imaterial; no curso de grafite do Coletivo “3deTinta” ou nas oficinas de maracatu com o Nação Pernambuco. Além dos cursos, o dia 25 de maio será marcado pela finalização desse trabalho de três meses de duração, onde será exposto no muro da casa do Sr. Luís Ivo Botelho, morador da Rua do Bonsucesso, um extenso grafite composto pelo grafiteiro Cajú e seus alunos, retratando todo o processo histórico vivenciado pela comunidade, com imagens da bandeira da padroeira, a antiga confraria, a Rainha D. Maria, D. Pedro II, a Noite Para os Tambores Silenciosos, entre outros. As fotografias dos alunos durante o curso também estarão expostas, além da apresentação do Maracatu Nação Pernambuco, já integrando os alunos da oficina de percussão ao evento. Site: www.turismodagente.com.br / Fone: (81) 3493.9990 / E-mail: olinda@iceibrasil.org.br Endereço: Ladeira da Misericórdia, N° 58, Carmo, Olinda


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Contos e Crônicas

O TELEFONE Gillberto Marques

É claro que não é da telefonia no Brasil que pretendo falar. O tema exigiria ser abordado tim-tim por tim-tim e o espaço não permite. Nesse aspecto, ficaria apenas no primeiro Oi. Na verdade, quero falar da minha dor imensa, da minha saudade sem remédio. A memória me faz vaguear em círculos. Lembro de mim aos dez anos, no compasso de espera do resultado do Exame de Admissão ao ginásio.(uma espécie de vestibular da época). Papai pegou firme na minha mão e eu gostei. Na época da Faculdade, esperamos juntos noite adentro. Meu grito de “passei” interrompeu o sono leve e ele disse num sorriso: “Quer me matar, rapaz?”. Na formatura, na praça Adolfo Cirne, em pé, ouviu cada palavra do meu discurso, no meio do povo. Viajo no tempo e vislumbro o marido que trazia vestido, sapato, perfume fora de época, sem avisar a mulher. Do pai que devolvia a prole à mesa com peixe frito na rua, galeto e lasanha - novidades de um jantar inesperado. Domingo era o sorvete na Boa Vista, o leite maltado na Galeria, a batata frita com salsichão no Castelinho. O piquenique na praia com laranja, banana, galinha e farofa. O passeio campestre na fazenda de um amigo, o cavalo tosco sem sela e eu esfolado no mucumbu. Crescemos com esse acervo de carinho. A gente sempre se via e se falava muito, quase todo dia. Na hora da sopa, encostava com minhas histórias - ele ouvia atento, junto com mamãe. A velhice, porém, trazia um cochilo impertinente na hora do jornal ou da novela. Eu tinha medo daquele sono - de boca aberta. O ano de 2012 chegou cruento. Levou Wando, Chico, Millôr, Sílvio - meu tio, e derrubou meu velho no hospital. Doía ver tanto sofrimento, tanta luta, o desatino, o delírio, a volta da consciência - muita dor. No dia 15 de março completou 83 anos. Uma cirurgia marcada, inalienável, dava 20% de esperança. Caio eu, que nunca quisera ser órfão. Lutei sozinho no meio da rua. Gente boa apareceu e ajudou. Médicos se juntaram no socorro, voltei a respirar no compasso. Abri o peito, colei os cacos. Na Sexta-Feira da Paixão, papai morto. O sofrimento acabara. Ainda no hospital, ninguém me disse. Sábado de sol, Dr. Luiz Gonzaga senta a 2 metros e dá a notícia. Na sequência, sai o médico, senta junto o amigo. Chorei um pouquinho, parte aliviado, parte como todos, sem entender o vazio. Hoje, porém, me confrontei com outra realidade. Ao manipular o arquivo do telefone celular, esbarrei no “J” - José Marques. Com medo de sequestro, roubo, trote, nunca agendei papai. Mas, ali uma notícia nova: Graham Bell já não faria a ponte. Já não mais existe interlocutor na espera. Chorei gostoso pela primeira vez. Adeus, meu pai. Quanto a mim, volto em breve.

Foto: Vitorino Cuca Maia


O Mirante de Olinda Expediente

Edição / Diagramação: Emanuel Sacramento Editora Chefe / Redação: Daniela Câmara Desenvolvimento / Arte: Saulo de Tarso

Colaboradores

Fotografia: Saulo de Tarso Historiador: Marcelo Lins Cronistas: Gilberto Marques Cordelista: Misael Godoy Tradutor: Gabriel Sacramento Revisão: Rubens Sacramento

Agenciadores

Gabriel Sacramento 9449.9770 (Tim) / 8552.2919 (Oi) / 9309.1890 (Claro) Lion Antônio 9684.4384 (Tim)

Pontos de distribuição (Olinda):

EMPETUR / Secretarias de Turismo e Cultura da Prefeitura de Olinda / Pontos de Informação Turística da Praça do Carmo e dos Quatro Cantos / Lojas Moto Mais Honda de Olinda e Abreu e Lima

Bibliotecas:

Biblioteca Pública de Olinda / Biblioteca da Facotur

Museus:

MAC / Museu do Mamulengo - Espaço Tiridá

Bares, restaurantes e pousadas: Marisqueira, Tribuna Bar e Restaurante,

Restaurante Marisqueira, A Fábrica Bar, Restaurante Flor do Coco, Dogão, Estação Maxambomba, Sargação, Olinda Art e Grill, Gomes Cachaçaria e Artesanato, Pousada do Amparo, Pousada D’Olinda, Hotel Costeiro, Esquina do Mar, dentre outros.

Bancas de Revista:

Banca Visão Comercial / Av. Gov. Carlos de Lima Cavalcante, 236 (Bairro Novo /

Olinda) - Banca Ler e Lazer / Av. Gov. Carlos de Lima Cavalcante, 667 “A” (Bairro Novo / Olinda) - Banca Olinda Revistas / Av. Gov. Carlos de Lima Cavalcante, 667 (Bairro Novo / Olinda) - Banca Circular / Av. Getúlio Vargas, 166 (ao lado da Sorveteria Bacana / Olinda) - Banca Varadouro / Largo do Varadouro, 35 (Varadouro / Olinda) - dentre outras.

Pontos de distribuição (Recife):

AABB / Aeroporto Gilberto Freyre / Casa da Cultura Recife Antigo / Livraria Jaqueira / Passadisco

E-mail: omirantedeolinda@gmail.com Telefone: (81) 3083.2588 - 8787.0020

Sócios-Diretores

Emanuel Sacramento Daniela Câmara Saulo de Tarso

15 15 Em Cartaz PROJETO DOIS EM UM

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ais uma vez, Antônio Nogueira, autor, produtor e diretor teatral, empreende mais um projeto ousado chamado Dois em Um. São dois espetáculos reunidos em um mesmo projeto. O texto do espetáculo “As Lendas do Império” é um infantil que une magia, poesia e uma dose considerada de bom humor. Tanto o infantil, como o espetáculo adulto, “Tonha e Tonho, É Aí que a Vaca Pia”, farão tournée pelas cidades de Caruaru, Orobó, Taquaritinga do Norte, Salgueiro, Garanhuns e Parnamirim. A ideia inovadora foi juntar o mesmo elenco em espetáculos distintos, o que vem otimizar o projeto cultural e oportunizar e gerar cada vez mais emprego aos atores locais.

Durante as tardes, as cidades visitadas recebem o infantil e, no período noturno, acontece o espetáculo adulto. Pernambuco, carente de empreendimentos como este, agradece a iniciativa desse produtores e artistas, que vem levar cultura a cidades carentes em empreendimentos deste tipo.


O Mirante de Olinda

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Os artigos assinados ou declarações aqui veiculadas, não refletem necessariamente a opinião do informativo.

Fones: (81)

3083.2588 9702.2609 8787.0020

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de 8 a 13 de Maio a EXPOIDEA, feira de tecnologia, sustentabilidade e cultura, que acontece este ano no shopping Paço Alfândega no Recife Antigo. A feira consiste na apresentação e discussão de conceitos e práticas inovadoras, com debates, palestras, minicursos, rodadas de negócios e oficinas ministradas pela produtora Colaborativa.PE, que traz para esta edição oficinas de filmagem, edição de vídeo e fotografia, captação e edição de áudio, stream, entre outras. A produtora Colaborativa.PE tem prática na produção cultural solidária. A EXPOIDEA, além de oportunizar as já famosas rodadas de negócios nos âmbitos da cultura e da sustentabilidade, divulga ações e propostas do poder público, da iniciativa privada e do terceiro setor, que primam pela economia criativa, e seus desdobramentos relativos à integração social.

A realização da EXPOIDEA é da CIA DE EVENTOS, uma produtora consagrada em Pernambuco, com mais de 20 anos em concepção e promoção de projetos e eventos culturais no Estado. Há mais de uma década é a CIA DE EVENTOS, que também empreende a Bienal do Livro, que está integrada institucionalmente no calendário oficial de eventos culturais de Pernambuco. A EXPOIDEA vem ampliar o acesso a cultura, a democratização do conhecimento e a difusão de uma ideia melhor de mundo, inserida no contexto de dinamismos locais. Para isso recebe especialistas e pensadores de todo o País, para tratarem de temas sobre tecnologia, cultura e sustentabilidade. Este ano, as ações acontecem no Paço Alfândega, onde lá irá dispor de quatro espaços de atividades e conteúdo, com palestras e oficinas, além de exposições, shows e uma mostra de cinema, que vem dar um charme especial, a um dos eventos mais esperados do ano por jovens e pelo público que está antenado nas ideias de futuro sustentável. Nesta edição, o evento tem realização da CIA DE EVENTOS, Instituto Ideação e correalização do Governo do Estado. Na programação oficial de shows do evento, as presenças confirmadas são Criolo, Chico César, Caapora, Mamelungos, DJ Dolores e Santa Massa, Os Cubanos-Salsa América, A Rua, Tributo ao disco Paebiru de Lula Côrtes, DJ Tutu Moraes, Conjunto Maravilha e uma batalha de MC’s. Todos esses shows acontecem na Rua da Moeda e são gratuitos.

4 CANTOS Um empreendimento da

COMUNICAÇÃO & ARTE

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