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Digital 84 • Ano 50º Dezembro - 2021

CINQUENTENÁRIO DE O PROPULSOR


NOTA DE ABERTURA

SUMÁRIO Digital 84 • Ano 50º Dezembro - 2021

N CINQUENTENÁRIO DE O PROPULSOR

AMBIENTE 04 Será o fitoplâncton o verdadeiro pulmão do planeta?

PROPULSOR CHEGOU AO PORTO CINQUENTENÁRIO ATÉ ONDE MAIS IRÁ

ascida em casa, na Avenida D. Carlos I, 101, 1º Esq. em Lisboa, no já longínquo mês de Janeiro de 1971, a nossa revista, inicialmente alcunhada de Boletim, foi baptizada com o nome de “O Propulsor” e destinava-se a ser ”a arma de divulgação e actualização técnica” da Classe profissional dos Oficiais Maquinistas da Marinha Mercante uma vez que “No mundo vertiginoso em que vivemos é imperioso e mesmo vital acompanhar a marcha do Progresso.” Tinha toda a razão o dedicado grupo de Oficiais de Máquinas da Marinha Mercante desejosos de prestigiar a sua classe profissional. acompanhando a marcha do progresso. A prova disso, é que nos anos seguintes se verificou um crescimento quase exponencial da velocidade do progresso. O rápido desenvolvimento das tecnologias veio impor novos desafios à nossa classe profissional, em todos os sectores onde desempenhávamos a nossa actividade. Os navios, que eram a base essencial dessa actividade, sofreram grandes transformações tecnológicas exigindo novas formações.

CENTENÁRIO DO SOEMMM 07 Cinquentenário de O propulsor ENERGIA 14 Dia histórico! Portugal deixou definitivamente de usar carvão na produção de eletricidade ENIDH 16 Tomada de posse dos corpos gerentes da AAENIDH INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS

17 Cientistas portugueses desenvolvem tecnologia de comunicação sem fios entre a superfície e o fundo do mar MAR 18 O primeiro porta-contentores elétrico e sem tripulação já navega

FICHA TÉCNICA

PROPRIEDADE: Centro Cultural dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante - NIPC: 501081240 FUNDADOR: José dos Reis Quaresma DIRECTOR: Rogério Pinto EDITORES: Jorge Rocha e Jorge de Almeida REDACÇÃO E ADMIN.: Av. D. Carlos I, 101-1º Esq., 1200-648 Lisboa Portugal Telefs 213 961 775 / 967 693 236 E-MAIL opropulsor@soemmm.pt COLABORADORES: Artur Simões, Eduardo Alves, José Bento, J. Trindade Pinto, Chincho Macedo e J.C. Lobato Ferreira. PAGINAÇÃO E DESIGN: Altodesign, Design Gráfico e Webdesign, lda Tel 218 035 747 / 912812834 E-MAIL geral@altodesign.pt Todos os artigos não assinados, publicados nesta edição, são da responsabilidade do Director e dos Editores.

Os cursos da Escola Náutica foram sendo adequados às novas realidades tecnológicas. A Escola subiu ao nível superior do ensino, os seus diplomados ganharam outros horizontes e a revista “O Propulsor” inicialmente orientada ao sector marítimo, ainda que tratando de todos as áreas da tecnologia, acompanhou toda esta evolução, qual farol orientador da Classe que a criou. Durante estes cinquenta anos a nossa revista publicou milhares de artigos, sobre uma gama muito variada de temas tecnológicos, mas também de cultura geral, gestão e empreendedorismo, energia, segurança, sobre as pessoas, principalmente nossos Colegas, com entrevistas ou relatando a sua dura actividade no mar e em terra, enfim tem sido bastante abrangente. Um dos temas que tem estado na ordem do dia, há já alguns anos, e tem merecido desta direcção uma atenção muito especial, é o ambiente. Em todas as edições desta nova fase da revista, a partir de 2006, a secção “ambiente” sempre foi preenchida e o tema tratado com toda a atenção, dedicação e rigor, porque temos a consciência de que só há um planeta e não pode ser destruído. A revista merece uma festa comemorativa, que este ano não foi possível realizar, todavia, como nós costumamos dizer “há mais marés, que marinheiros”, esperemos pela próxima. A terminar gostaria de deixar um agradecimento aos nossos leitores, que nos têm dado ânimo para continuarmos, aos editores e colaboradores que trabalham para que todos os meses a revista seja editada e aos anunciantes, que, apesar de poucos, são vitais para que continue a ser publicada. Muito obrigado! O Director

Imagens: Optidas na web

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AMBIENTE

SERÁ O FITOPLÂNCTON O VERDADEIRO PULMÃO DO PLANETA?

Folhas de algas gigantes (Macrocystis pyrifera)

Estuda as alterações climáticas a partir dos satélites da Agência Espacial Europeia, particularmente os seus efeitos nas microalgas, seres vivos tão especiais que sem eles a vida na Terra não seria possível – o seu nome é Filipe Lisboa.

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ilipe Lisboa é um dos dois candidatos portugueses, na especial lista da Agência Espacial Europeia (ESA), que pretendem vir a ser astronautas. O processo de selecção é difícil e moroso, devendo ainda demorar alguns anos, pelo que, enquanto decorre, Filipe trabalhe como Project Officer na Agência Europeia de Segurança Marítima, onde monitoriza imagens de satélite, procurando reduzir o risco de acidentes marítimos e a pesca ilegal, acompanhar os fluxos migratórios ou evitar a poluição marinha. Paralelamente, o nosso candidato a astronauta está a fazer um doutoramento em alterações climáticas e os efeitos da actividade humana no fitoplâncton, um conjunto de algas

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marinhas microscópicas que, incrivelmente, também são mais bem estudadas a partir do Espaço do que na Terra. “Ainda hoje fico impressionado”, admite, referindo-se ao estudo destes seres microscópicos, que se observam tão bem a partir do Espaço. Mas a explicação é simples. Como possuem clorofila, têm uma tonalidade esverdeada que os satélites captam muito bem, conseguindo-se até identificar as espécies precisamente pela sua cor. “O oceano não é verdadeiramente azul, apenas parece azul”, tal como o céu parece azul, porque reflecte melhor esse espectro. O oceano tem muitas outras cores, amarelo, castanho, laranja e “maioritariamente verde, precisa-

mente por causa do fitoplâncton”. Mas o que são estas microalgas e porque o seu estudo é tão importante? O nome engloba “milhares de espécies, muitas delas ainda não estão sequer identificadas”, mas a sua importância é vital, pois “estão na base de toda a cadeia alimentar nos oceanos, absorvem tanto dióxido de carbono como todas as outras plantas e florestas da Terra juntas e são o verdadeiro pulmão do planeta”, explica o cientista climático. São responsáveis por produzir 50% a 80% do oxigénio que respiramos. Aliás, foram estes seres unicelulares que, há 2,5 mil milhões de anos, começaram a produzir o oxigénio que transformou a Terra no planeta habitável que hoje conhecemos. Temos, Revista Técnica de Engenharia


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então, uma enorme dívida de gratidão, mas será que estamos a pagar-lhes na mesma moeda? A questão é complexa, diz, pois “existem diferentes espécies de algas e estas reagem todas de forma diferente às alterações climáticas e à actividade humana”. Estamos a assistir a uma transformação na actividade do fitoplâncton, e quase sempre é consequência da acção directa do Homem. Uma das mais recorrentes são os chamados afloramentos tóxicos, grandes concentrações de microalgas que esgotam oxigénio e provocam a morte de todos os seres vivos nessa zona. “Existem muitos afloramentos, mas estes fenómenos tóxicos ocorrem maioritariamente em rios e lagos ou em zonas costeiras perto das bacias hidrográficas, onde se acumulam desperdícios da actividade agro-pecuária e outras indústrias, que funcionam como nutrientes para estes organismos.” Filipe cita ainda um estudo da NASA sobre o derrame petrolífero na plataforma Deep Water Horizon, no golfo do México. Após o acidente, os níveis de fitoplâncton na coluna de água desceram para níveis baixíssimos, mas hoje, passados 11 anos, já suplantaram os números anteriores ao acidente. Só que as espécies já não são as mesmas “e o ecossistema local foi alterado”. Costuma dizer-se que um bom cientista é aquele que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, mas Filipe Lisboa tem um percurso em contraciclo com esta concepção, intitulando-se com humor de “investigador rebelde”. A sua tese de doutoramento está mais relacionada com a Biologia do que com a sua formação-base, que é a Física, Astronomia e Astrofísica, mas, curiosamente, é essa multidisciplinaridade que o torna um candidato tão interessante para a ESA – e aquilo que o atrai também para o projeto. “Sempre tive uma paixão enorme pelo Espaço, na mesma medida que tenho pelos oceanos e é engraçado como o meu trabalho acaba por estar tão ligado a ambos”. Revista Técnica de Engenharia

Filipe Lisboa

“A maioria dos candidatos a astronauta quer ir à Lua, viver no Espaço e se calhar ir até à Estação Espacial Internacional. Estamos a entrar numa fase da exploração muito preocupada com a forma como replicamos as condições de vida que temos na Terra” – e o fitoplâncton desempenha naturalmente um papel fundamental neste processo. “Estamos a aprender a criar no Espaço as mesmas condições que já existem – de forma natural – na Terra. E, em simultâneo, aprendemos muito sobre o que podemos fazer para preservar a vida aqui.”

Fitoplâncton Os animais terrestres fazem-nos esquecer que o habitat mais extenso do mundo é constituído pelos oceanos, que ocupam cerca de 70% da superfície da Terra. Mas esta medida não nos dá uma estimativa verdadeira do espaço disponível para a vida marinha. Na Terra, os organismos ocupam uma zona aplanada com alguns metros abaixo da superfície, raramente mais do que 30 metros. A profundidade média dos oceanos, por outro lado, é de cerca de 4 000 metros. São encontrados organismos a todas as profundidades. Nestas condições, o atual espaço marinho é cerca de 300 vezes maior que o espa-

ço disponível para a vida terrestre. A vida nos oceanos depende da presença de luz. Nas partes dos oceanos onde há luz, as plantas realizam a fotossíntese, desenvolvem-se e reproduzem-se, servindo de alimento, direta ou indiretamente, aos animais. As plantas são produtoras e os animais consumidores de 1.a ordem. A massa de matéria viva existente nos oceanos é muito maior que a presente em terra. Esta presença de vida não é óbvia. Se observarmos as águas superficiais do Atlântico Norte, é natural que só vejamos água. Contudo, um litro desta água pode conter 500 000 bactérias, 1 000 000 de plantas microscópicas e 150 animais microscópicos. Muitos dos animais movem-se por cilios ou flagelos, ou prolongamentos de outra espécie. Algumas plantas também se movem por flagelos. A maior parte, porém, move-se à mercê dos ventos, das ondas e das marés. É este conjunto de seres vivos, animais e vegetais, que se encontra desde o fundo até à superfície das águas doces e marinhas, e que se deixa arrastar passivamente por estas, sem que os seus próprios movimentos consigam opor-lhe resistência, que constitui o plâncton. Estes seres são insignificantes à vista desarmada, mas desempenham um papel vital na vida marinha. Observados ao microscópio, mostram uma variedade enorme de formas e cores. O plâncton divide-se em zooplâncton e fitoplâncton, conforme se trata de animais ou plantas. Os representantes mais abundantes do fitoplâncton são as algas diatomáceas, que possuem um esqueleto silicioso. As diatomáceas contêm clorofila semelhante às das plantas verdes. São seguidas em importância pelos dinoflagelados, dos quais algumas espécies possuem clorofila e são fotossintéticas. As diatomáceas e os dinoflagelados, com mais algumas espécies de algas flutuantes, são a base de toda a vida marinha. Sendo fotossintéticas, as algas marinhas só podem viver onde houver luz. Não surpreende, portanto, que se encontrem próximo da superfície. Geralmente encontram-se até Dezembro 2021 - Digital 84

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uma profundidade de 100 metros. O fitoplâncton serve de alimento a uma variedade enorme de pequenos animais que são consumidores primários. Entre eles encontram-se protozoários, pequenos crustáceos, larvas de peixes e representantes de quase todos os grupos animais, na forma de ovos ou larvas, com excepção de mamíferos e répteis. O plâncton, que por vezes tem certos componentes nocivos à saúde, é em regra um alimento de alto valor nutritivo, muito rico em proteínas, gorduras e vitaminas lipossolúveis. Tem grande importância na cadeia alimentar, constituindo a sua base. A produtividade do fitoplâncton é muito importante, porque o seu desenvolvimento é prodigioso. Nas melhores condições, renova-se todos os dois dias, o que quer dizer que a sua biomassa duplicaria se ele, ao mesmo tempo, não fosse comido.

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CENTENÁRIO DO SOEMMM

CINQUENTENÁRIO DE O PROPULSOR

O PROPULSOR é uma revista técnica de engenharia, propriedade do Centro Cultural dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante Portuguesa, publicada regularmente ao longo dos seus 50 anos de vida, a qual sempre se dedicou a prestigiar e elevar a classe profissional que que a criou.

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Propulsor está no final do seu quinquagésimo ano ao serviço dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante e dos seus leitores em geral, sem até agora ter recebido a merecida festa de homenagem a que tem direito e, certamente ainda irá ter. A razão principal para este lapso, ou melhor, esta falha, é a pandemia do Covid 19, que temos vindo a suportar, sem ainda podermos antever o seu final. O Director e o seu corpo redactorial já não são jovens, bem como a generalidade dos seus leitores, o que levou

a considerar-se que tentar organizar uma cerimónia seria fácil, mas difícil seria ter participantes que pelo seu número elevassem o nível e o brilho dessa cerimónia. Não se fez, mas há-de fazer-se, em momento mais apropriado, com o número de participantes adequado ao evento e com acções que possam trazer algo de positivo e meritório para os sectores onde temos tido influência e temos, pelo rigor, profissionalismo, dedicação e competência espalhado prestígio e competência da nossa classe profissional.

NOTAS PARA A HISTÓRIA DE “O PROPULSOR” É costume dizer-se, que devemos sempre considerar o passado, para entendermos o presente e atacarmos com determinação o futuro. O Propulsor já tem uma história de 50 anos o que, para uma revista editada e publicada por amadores, membros de um determinado grupo profissional, de pequenas dimensões, é um feito extraordinário não igualado (que nós saibamos) por nenhum outro grupo profissional. Isso dá-nos satisfação e orgulho, mas se queremos verdadei-

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ramente deixar algo para as gerações vindouras, temos de ir além dessas sensações, deixando algo do nosso conhecimento, devidamente realçado, para incentivar e dar luz e ânimo a quem vier a seguir. Este escrito pretende deixar elementos, notas, dados para uma futura história de “O Propulsor”, quiçá em conjunto com a história do Centro Cultural dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante (CCOEMMM), que detém a sua propriedade, ou conjuntamente com a história do Sindicato dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante (SOEMMM) para a qual, nesta secção, têm vindo a ser publicados excelentes artigos pelo nosso colega Jorge Rocha. O que aqui queremos deixar são notas para a história de “O Propulsor”. Para isso, vamos destacar alguns momentos importantes da vida da nossa revista técnica, reconhecendo a subjectividade de tal escolha, mas com a consciência que a determinação tem de suplantar a dúvida e a indecisão para que as coisas avancem.

A ORIGEM Quando nos idos anos do início da década de setenta, do século passado, um grupo de Oficiais Maquinistas da Marinha Mercante empreendeu que era importante “e mesmo vital acompanhar a marcha do progresso” e para isso decidiu criar um Boletim Técnico a que deu o nome de “O Propulsor”, atribuindo-lhe a missão de ser ”a arma de divulgação e actualização técnica”, não fazia, certamente, ideia, que passados 50 anos e depois das várias transformações porque foi passando, não tinha falhado qualquer das datas de edição programadas e ainda cá estava, continuando o seu trabalho de divulgação e actualização técnica.

No início, em 1971, “O Propulsor” era propriedade do Sindicato Nacional dos Oficiais Maquinistas da Marinha Mercante. Viviam-se tempos de ditadura, das corporações e do corporativismo. Havia o “lápis azul”, forma popular de designar a censura salazarista, que usava um lápis grosso daquela cor, para cortar ou impedir a publicação de tudo o que lhes não parecesse acompanhar os seus gostos e opiniões. É por isso de realçar a coragem e determinação daquele Colegas que com a criação e implementação do citado Boletim Técnico iriam ficar sob as atenções da PIDE e do “lápis azul”. Dizia o seu primeiro Director, o Colega Francisco Diogo Ponces, na primeira nota de abertura, o que se segue.

Nota de abertura de “O Propulsor” nº 1 – 1971 Assim como a vontade de alguns pôde criar o impulso necessário para o arranque deste Boletim, também a vontade de todos poderá decerto manter e ampliar-lhe a marcha no futuro. Acreditamos sinceramente nesta verdade, porque estamos certos de que representa a concretização de um anseio velho de algumas dezenas de anos.

Cooperação e amizade eis a fórmula mágica que fará do nosso Boletim o nosso orgulho. Olhemos “O PROPULSOR” como algo que merece um pouco do nosso esforço e cooperemos. No mundo vertiginoso em que vivemos é imperioso e mesmo vital acompanhar a marcha do Progresso. Façamos, pois, de “O PROPULSOR” a arma de divulgação e actualização técnica. Nesses anos, da Primavera Marcelista, além da criação de “O Propulsor”, foram organizados jogos florais, e, aproveitando a abertura do Ministro Veiga Simão, foi apresentada uma Proposta nossa para a Reforma do Ensino Náutico em Portugal. O dinamismo e a vontade de mudança dos nossos Colegas daquele tempo não esmoreceram, antes pelo contrário, não só foram publicando, por vezes temas complicados e alvo de observação e decisão do antes referido “lápis azul”, como foram evoluindo na sua concepção do que era uma revista e onde devia estar alocada. Foi assim que se movimentaram para que a propriedade da revista deixasse de ser do Sindicato passando a ser do Centro Cultural. Diria o director da altura na sua nota de abertura:

Nota de abertura 44 - 1978 Alteração da propriedade Na página 3 aparece, pela primeira vez, uma alteração aparentemente de pequena monta; onde se referia que o boletim “O Propulsor” era propriedade do Sindicato dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante, passa a referir-se, que é propriedade do Centro Cultural do Sindicato dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante. Isto acontece porque por decisão estatutária aprovada em A.G. o Cen-

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blicá-la e distribuí-la, exige um grande esforço e muitos recursos, tanto económicos como humanos. Todavia, as capacidades e a resiliência que nos são facultadas pela dura vida do mar, foram tornando possível ir fazendo o caminho e passados cerca de dezassete anos aí estávamos nós a comemorar a publicação do número 100. Um marco histórico! Vejamos o que disse o Director da revista na sua nota de abertura.

Nota de abertura de “O Propulsor” n.º 100

tro Cultural passa a ter autonomia administrativa e, portanto, vida própria, embora, como órgão indissoluvelmente ligado ao Sindicato a que pertence, tenha como missão actuar como elemento dinamizador (não exclusivo), das actividades culturais e técnico profissionais da classe que o Sindicato representa. Esta autonomia que procura preservar o património cultural amealhado pelas gerações que o tem criado desde os primórdios do vapor até aos nossos dias, impõe-nos, contudo, algumas responsabilidades que convém recordar: • Qualquer iniciativa cultural tem que ser participada • Tem que ser objectiva. • Tem que ser aproveitada. • Tem que ser continuada. Pelo que se torna necessário que participemos, sejamos objectivos, atentos e perseverantes. As edições seguintes foram sendo sempre árduas, difíceis e motivo de dúvidas, hesitações, interrogações, devidas às dificuldades que se levantam a uma “empreitada” desta natureza. É porque fazer uma revista, pu-

Cem números publicados representam à nossa escala editorial uma meta que de início nos pareceu inatingível tal o espectro de dificuldades que então se anteviam. E se as dificuldades têm existido e os obstáculos têm, entretanto aqui e além surgido, a verdade é que têm sido sempre ultrapassados. Mas não será lícito esquecer a não pequena influência que sempre temos sentido e que é a exercida pela aceitação que a nossa revista tem tido por vários sectores quer nacionais quer estrangeiros. Se estamos razoavelmente, que não

em excesso, satisfeitos pelo trabalho realizado no passado, estamos também razoavelmente optimistas com o que se poderá conseguir no futuro, com o optimismo reforçado pela convicção de que as forças que nos permitiram chegar a este centenário, vão, decerto, apoiar-nos para em conjunto suportarmos os esforços que terão que ser despendidos para atingirmos o próximo. Estamos certos de que com a satisfação destes factores será possível conseguir-se a leitura do número 200 do «Propulsor» do futuro. Ora aí está, contra todos os escolhos do caminho, foram-se dando passos no sentido da próxima centena de números publicados, o que viria a acontecer a meio do ano de 2005, tendo sobre o feito o Director escrito o seguinte.

Nota de abertura de “O Propulsor” n.º 200 “Estamos certos de que será possível conseguir-se a leitura do número 200 do “Propulsor do Futuro”. Assim rezava o último parágrafo da “Nota de Abertura” do N.º 100. Pois é verdade, aquele futuro chegou, apesar de algumas dificuldades, especialmente económicas, as quais se conseguiram ultrapassar. Essas dificuldades nunca conseguiram diminuir o ritmo de “O Propulsor”, nunca um número deixou de ser publicado ou se tenha atrasado sequer. Se não vemos o futuro muito risonho é devido à conjuntura não ser muito favorável – menos navios, menos colegas a serem formados – mas haverá sempre uma adaptação aos tempos e seguiremos em frente. Visto a esta distância, o N.° 300 deverá ser mais difícil de alcançar, mas nunca se sabe, “já só” faltam 17 anos... Mãos à Obra! De facto, lançámos mãos à obra com grande arreganho e muita vontade

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Nota de abertura 210 - 2004 Viagem inaugural

de traçar um novo rumo, definir uma outra rota e dar toda a força avante na máquina principal. A ideia foi alterar o formato, passando daquele estilo de bolso para um tamanho maior, pouco menos do que o A4. Alterámos o logotipo para um hélice estilizado que ao mesmo tempo simbolizava o conteúdo do nosso Curso na Escola Náutica, bem como a nossa actividade a bordo que não se limita a máquinas marítimas, mas também a outras especialidades como a electrónica, a pneumática, o controle e os computadores, ou seja, a mecatrónica. Além disso, passámos a usar quadricromia em vez do preto e branco. Foi um passo arrojado, mas frutuoso, na medida em que a revista passou a ter outra divulgação e muito boa aceitação, se bem que, por motivos que escapavam ao nosso controle, como a crise que se veio a instalar em 2008, que forçou as empresas a fazer uma redução das suas despesas e, por isso, da publicidade, os nossos objectivos de crescimento económico não foram alcançados, antes pelo contrário. Sobre essa ambição e sobre o passo dado, disse o Director.

O Propulsor começa agora a acertar um novo rumo em direcção ao futuro. Nesta edição, a revista inicia uma nova rota que lhe permitirá chegar a outras paragens, mostrar-se a outras gentes, obter novos leitores, conseguir mais, melhores colaboradores, cativar mais anunciantes e conquistar mais massa crítica que é a energia necessária ao desenvolvimento. Nascida da vontade de um dedicado grupo de Oficiais de Máquinas da Marinha Mercante desejosos de prestigiar a sua classe profissional, acompanhando a marcha do progresso, pela divulgação e actualização técnica, a revista “O Propulsor” surgiu orientada ao sector marítimo, ainda que tratando de todos as áreas da tecnologia. Passados 35 anos de publicações bimestrais consecutivas, que trouxeram ao prelo 209 edições da revista, sente-se que os objectivos iniciais foram cumpridos, na totalidade, com grande mérito, ficando para sempre a classe dos Oficiais e

Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante agradecida a todos os que colaboraram nesta missão, tornando-a, assim, possível. O espaço de acção que Ihe foi atribuído foi ocupado e a pressão sobre as paredes limitadoras estava a aproximar-se dos limites de segurança. Por vários motivos, dos quais podem realçar seguintes: cada vez, são menos os Engenheiros Maquinistas no mar, ao mesmo tempo que cada vez, são mais em terra; são eles os nossos principais leitores, mas, estando em terra, gostarão de ver tratados na sua revista os temas que interessam ao seu sector ou empresa; por outro lado, são acompanhados por outros Engenheiros de outras especialidades que, assim, se sentirão atraídos para a leitura da revista. Assim, sem esquecer a origem, continuando a dar ao sector marítimo a importância a que tem direito, vamos tornar-nos anfíbios, podendo desta forma navegar por terra e mar e, se o sonho for grande, até pelo ar. Demos a esta nota de abertura o título de “viagem inaugural” que, como todos sabemos, normalmente se aplica às primeiras viagens dos navios, com a ideia de ser uma primeira viagem de qualquer meio de transporte em qualquer sector de actividade. A viagem que hoje estamos a iniciar pode levar-nos até onde a nossa capacidade o permitir. Iremos privilegiar os artigos originais em desfavor das traduções, a revista passará a estar dividida em secções, abrangendo diversas áreas técnicas do conhecimento, de forma a habituar os leitores a procurar o que verdadeiramente lhes interessa, culminando com um artigo maior e porventura mais elaborado

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a editar na secção técnico/científico. Neste número teremos as seguintes secções: ambiente, actualidades, cultura geral, energia, entrevista, legislação, segurança e técnico/ científico, no entanto, pensamos acrescentar outras, nomeadamente: manutenção, cartas ao director e ficamos abertos a outras sugestões. Para levarmos a cabo a missão a que nos propomos vamos necessitar de uma maior colaboração dos nossos leitores, quer com o fornecimento de artigos ou notícias que se enquadrem em qualquer uma das secções acima referidas quer com críticas e sugestões. Todo o apoio da vossa parte será bem-vindo.

Circular nº 01/2014

1. Se é “Amigo de O Propulsor”

Aos leitores de “o propulsor” Assunto: Suspensão temporária de publicação da revista técnica de engenharia “O Propulsor”. Caro(a) Leitor(a) de “O Propulsor”, Nesta altura em que deveria estar a chegar a casa dos seus leitores a nossa revista “O Propulsor”, cabe-me a triste missão de informar que a publicação da mesma vai ser suspensa, temporariamente, em princípio até Outubro. Durante 44 anos a nossa revista foi publicada, sem qualquer interrupção, de dois em dois meses. Agora vimo-nos forçados a tomar

e tem contribuições em atraso, contacte-nos para regularizar a situação; 2. Se é “Amigo de O Propulsor” e está em dia, pense na actualização da sua contribuição; 3. Se não é “Amigo de O Propulsor” e quer ajudar, faça-se Amigo; 4. Se tem uma empresa ou é sócio de alguma, mesmo pequena, anuncie em “O Propulsor”; 5. Se tem funções de responsabilidade na empresa onde trabalha, pense na forma de conseguir que a mesma anuncie em “O Propulsor”.

A SUSPENÇÃO DA ACTIVIDADE A crise económica e social que então se viveu, no mundo e aqui no nosso país, criou-nos uma dificuldade intransponível seguindo o caminho que vínhamos fazendo até então: a revista quase não tinha receitas, mas os custos mantinham-se bem altos, o que obrigava o Sindicato a suportar as despesas que deveriam ser suportadas pelo Centro Cultural. Esta situação agravada pelo facto de a crise também ter afectado a capacidade económica do Sindicato, estava a provocar a asfixia das duas organizações. As direcções de ambas as organizações concluíram que deveriam interromper, provisoriamente, a publicação de “O Propulsor”, até se conseguirem reunir os recursos financeiros e humanos para se poder voltar a publicar regularmente. Foram momentos, dias, semanas, muito difíceis de gerir, mas era isso que nos competia e foi isso que fizemos, comunicando-o através da:

O PROPULSOR esta medida, devido a dificuldades económicas. Os anunciantes foram reduzindo até quase desaparecerem, muitos dos “Amigos de O Propulsor” deixaram de pagar as suas voluntárias contribuições e o Sindicato não está em condições económicas que lhe permitam continuar a suportar tão significativos défices. A nossa decisão visa uma suspensão temporária, que evite o encerramento definitivo. Por isso, apontarmos o mês de Outubro para voltar ao activo. Todavia, tal só será possível com a ajuda e dedicação dos nossos leitores, a qual poderá chegar-nos de uma das seguintes formas:

Nós acreditamos que é possível, se nos mobilizarmos, relançar a revista para mais um período de quarenta e quatro anos. Para isso, Contamos consigo! O Presidente do Centro Cultural As nossas previsões e expectativas não foram alcançadas: não conseguimos nem recuperar as contribuições dos “Amigos de O Propulsor” nem aumentar o número de anunciantes. Mas não desistimos, fomos reunindo para analisar a situação e encontrar soluções e, finalmente, decidimos seguir um caminho diferente, evitando o fecho definitivo. Foi então decidido fazer uma revista mais curta, cerca de 16 páginas, mas passar a publicar mensalmente e, não em papel, mas no formato digital. Foi assim que em Janeiro de 2015 foi editada a nossa primeira revista em formato digital.

Nota de abertura d1- 2015 Futuro de “O Propulsor” Depois de alguns meses de suspensão, exigida por dificuldades económicas, como então informámos os nossos leitores, durante os quais não foi possível adquirir os recursos, para a podermos manter como ela

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a revista continua a ter os seus custos. As duas empresas são a OZEC - Equipamentos Industriais e a AGUACICLO - Tecnologias do Ambiente, da mesma forma há que realçar, também, o apoio que a ENIDH nos tem dado.

Colaboradores e os directores de “O Propulsor”

era há 43 anos, a nossa revista volta a aparecer em público agora em formato digital. Uma ideia foi unanime, para as direcções do Centro Cultural e do Sindicato: não podíamos deixar cair, morrer, parar um património tão importante para a nossa classe e que levou 43 anos a construir. Mas, como não se pode gastar aquilo que não se tem, tivemos de optar por uma solução menos onerosa, mais expedita e que, ao fim e ao cabo, vem integrar este mundo de tecnologia e informação massiva em que nós vivemos. Iremos ter doze números digitais, sendo um deles, a meio do ano, também editado em papel, porventura com mais páginas do que as 40 que normalmente tinha. Hoje é o primeiro dia do futuro de O Propulsor. De lá para cá, já publicámos 83 revistas no formato digital, o que, diga-se de passagem, só tem sido possível porque sempre temos tido o apoio de duas empresas, propriedade de colegas nossos, que ao manterem os seus anúncios, sem interrupção, têm permitido a nossa continuidade, uma vez que, apesar de a redacção trabalhar pro bono

Ao longo destes 50 anos de serviço prestado, à nossa classe profissional e a todos os leitores em geral, muito há a agradecer aos nossos colaboradores, que com as suas contribuições foram fornecendo o combustível para que a máquina funcionasse durante tanto tempo sem parar, com excepção do atrás referido pequeno período de suspensão, que serviu, digamos, para uma revisão geral. Sem eles não teria sido possível. Obrigado a todos. Todavia, não podemos deixar de realçar aqueles que ao longo de boa parte destes anos, assumiram a responsabilidade, no dia a dia, a tempo inteiro, de garantir todo o trabalho necessário para que a revista saísse sempre, sem qualquer interrupção ou atraso. Esses Colegas foram: João Pinto Carreira, Francisco Rui de Brito Martinho, Jorge dos Santos Pereira, Eduardo Fernandes Lopes, João Correia Neves e Fernando de Oliveira Reis e da actual redacção um destaque especial para Jorge Manuel Trindade Rocha. Os directores da revista, que não foram muitos em cinquenta anos, assumiram sempre a responsabilidade da chefia da máquina, com grande rigor e dedicação, assegurando que o combustível era bem utilizado. Todos foram importantes, todos deram o seu melhor, mas é justo realçar o colega Francisco Diogo Ponces que tendo sido um dos fundadores da revista, assumiu o cargo de director desde o número 1 até ao número 112, uma maratona que durou 18 anos. Sobre ele escreveu o colega J. Lobato na:

Nota de abertura 113 - Francisco Diogo Ponces Sugeri e foi aceite, que estas palavras sobre o Francisco Diogo Ponces ficassem no lugar que foi o seu - A Nota de Abertura - durante anos a fio. A partir deste espaço - ao longo de 18 anos - ele enviou-nos as suas reflexões invariavelmente justas e oportunas, que ainda hoje pela sua importância são mensagens que importa reler e ponderar. Acompanhei-o ao longo de mais de cinquenta anos, não tão próximo dele como desejaria, mas não tão distanciado que me fizesse perder a visão global daquilo que foi a sua vida e carreira profissional. Desde o Bairro Social da Boa-Hora (Ajuda) onde morámos, crescemos e brincámos juntos, numa fase da vida em que dois ou três anos de diferença faz separar e apreciar os “grandes” pelos “miúdos”. Depois veio o tempo da Escola Marquês de Pombal onde, de entre os milhares de alunos que a frequentavam, o Ponces fazia parte de uma escassa dezena de eleitos que frequentava o Curso de Mecânica de Automóveis, o que na altura equivalia às ditas tecnologias de ponta do presente. Seguiu-se a Escola Náutica, a carreira do mar, primeiro na Sociedade Geral e depois na actividade das pescas em Aveiro. Daí o salto para terra e o ingresso nos quadros de uma importante companhia petrolífera. Foi talvez a partir daí e dessa altura que o seu perfil de profissional sério, ponderado e competente se começou a revelar, em especial perante a grande maioria dos colegas com quem contactava nas suas constantes deambulações pelo País, no desempenho das suas funções e em que os seus conselhos e recomendações eram sempre apreciadas e atenta-

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CENTENÁRIO DO SOEMMM

mente escutadas e acolhidas. Seguiu-se então um período em que os nossos contactos se intensificam. Estávamos em 1971, em plena Primavera marcelista, e o então ministro Veiga Simão convidava o País a participar na grande discussão sobre a Reforma do Sistema Educativo em Portugal. De entre nós, um pequeno grupo que progressivamente se foi alargando, apercebeu-se da grande oportunidade que se nos deparava em termos de Classe. Desdobrámo-nos em esforços e superámos muitas deficiências da preparação que nos tinha sido dada e não pouco do sistema em que estávamos inseridos. Reactivou-se o Centro Cultural, participámos activa e empenhadamente em infindáveis reuniões para formular programas que desembocaram no que veio a ser a nossa Proposta para a Reforma do Ensino Náutico em Portugal, organizaram-se Jogos Florais e lançou-se a Revista “O Propulsor”. O Ponces esteve em todo esse movimento, tranquilo, moderado,

sempre influente, participante e escutado. Direi mesmo que o seu grande valor derivou de talvez ser o impulsionador de toda aquela azáfama, quase sem se aperceber ou dar a entender que o era. E tanto assim foi que quando “O Propulsor” nasceu, o nome do seu Director estava naturalmente encontrado. De facto, ele havia sido também o seu Fundador. Depois veio o grande acontecimento que foi para todos os portugueses o 25 de Abril que, além de devolver aos portugueses a liberdade tão longamente ansiada trouxe também consigo, e infelizmente, indesejadas clivagens na sociedade portuguesa a que a nossa classe não ficou imune. Verificaram-se excessos e comportamentos menos salutares e de um dia para o outro, companheiros e amigos de sempre se viram afastados por concepções ideológicas divergentes. Também essa situação o Francisco Ponces soube vivê-la como só ele o

poderia fazer. Fez a sua opção, interiorizou-a e com ela viveu consciente e convictamente à sua maneira. Foi tema que nunca abordámos, mas não posso aceitar pelo conhecimento que dele tinha, que o lado que escolheu não passasse pela busca do bem para todos os homens, pelo seu progresso e bem-estar, por uma humanidade mais justa e mais pacífica. Não poderia ser outra, era essa a sua maneira de estar no mundo. Prestigiou-se a si e à classe a que pertenceu, desempenhando com dignidade e reconhecida competência o lugar de Professor da Escola Náutica Infante D. Henrique. Foi inspirador e grande amigo de muitos de nós e teve méritos que o qualificam para ser apontado como exemplo para os que nos vão continuar. Na sua passagem terrena deixou obra e um nome prestigiado. A tristeza visível nos rostos dos que o acompanharam à sua última morada, naquela fria manhã de Dezembro, reflectia bem esse sentimento.

DIRECTORES DE O PROPULSOR DESDE O INÍCIO ATÉ HOJE Nome

Revista nº

Meses

Ano

Revista nº

Meses

Ano

Francisco Diogo Ponces

1

Janeiro/ Fevereiro

1971

até

112

Novembro/ Dezembro

1989

Alfredo Nobre Marques

116

Maio/Junho

1990

até

116

Maio/Junho

1990

Augusto Valente dos Santos

117

Julho/ Agosto

1990

até

148

Setembro/ Outubro

1995

Norberto Duarte

149

Novembro/ Dezembro

1995

até

168

Janeiro/ Fevereiro

1999

Jaime Simões de Abreu

169

Março/Abril

1999

até

206

Maio/Junho

2005

Rogério António Pinto

207

Julho/ Agosto

2005

Joaquim

Pereira

Até hoje

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ENERGIA

DIA HISTÓRICO! PORTUGAL DEIXOU DEFINITIVAMENTE DE USAR CARVÃO NA PRODUÇÃO DE ELETRICIDADE Desde o dia 19 de Novembro, Portugal deixou definitivamente de usar carvão na produção de electricidade, graças ao fim dessa actividade na Central Termoeléctrica do Pego, o que motivou o regozijo dos ambientalistas e a satisfação de muitos portugueses que se preocupam com o ambiente.

O futuro da central do Pego não deve passar por queimar biomassa, opção ineficiente que põe em causa objectivos mais ambiciosos de mitigação das alterações climáticas”, considerou a organização, em comunicado. Sábado, 20 de Novembro, depois de a Central do Pego ter esgotado o stock de carvão que tinha, foi o primeiro dia de produção de electricidade sem recurso à queima de carvão.

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Para a ZERO, “esta data histórica em que se deixa de utilizar em Portugal o combustível mais poluidor em termos de emissões de gases com efeito de estufa causadoras das alterações climáticas, antecipando um objectivo que estava inicialmente traçado para 2030, não deixa de ser um alerta para a necessidade de planear antecipadamente e assegurar uma transição energética justa para o país rumo à neutralidade carbónica em 2050 ou

desejavelmente antes”. Deixar de usar carvão na produção de electricidade é um elemento crucial da descarbonização, tema que ganhou destaque e causou polémica na conferência do clima (COP26), que terminou com alguns países a recusarem-se a acabar com o uso deste combustível. A central a carvão do Pego, que era responsável por 4% das emissões do país, foi a instalação com o segundo maior peso nas emissões de dióxido de carbono em Portugal na última década, a seguir à Central Termoeléctrica de Sines, cujo encerramento ocorreu em Janeiro deste ano. Em termos absolutos, a média anual de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) pela central do Pego entre 2008 e 2019 foi de 4,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Com a retirada agora consumada das duas centrais a carvão, “Portugal deverá registar uma enorme quebra de emissões de carbono, dado que o recurso a centrais de ciclo combinado a gás natural, caminho temporário para uma solução 100% baseada em fontes renováveis, se traduz em emissões de pouco mais de um terço por cada unidade de electricidade produzida em comparação com o carvão”, assinala a ZERO. Apesar dos equipamentos de despoluição instalados, a central a carvão do Pego era também uma fonte significativa de emissão de diversos poluentes, como os óxidos de azoto, dióxido de enxofre, partículas e metais pesados, cujas quantidades lançadas para a atmosfera em Portugal sofrerão uma redução importante. Revista Técnica de Engenharia


ENERGIA

O fim da actividade desta central suscita agora a questão das alternativas, sendo o recurso à queima de biomassa uma das soluções preconizadas, mas que os ambientalistas alertam não ser “sustentável”. “Trata-se de uma solução ineficiente e contraditória com os objectivos de retenção do carbono na floresta e no solo e não se traduz numa significativa mais-valia face a outras soluções de mitigação climática”, afirmam. Para os ambientalistas a concessão do ponto de ligação da Central do Pego deverá ter em consideração apenas projectos que resultem da “utilização de fontes de energia verdadeiramente renováveis e que de forma alguma se coloque a possibilidade de recurso a biomassa, tendo em consideração que esta não é, nem será de forma alguma renovável”. Alertam ainda para a escassez de biomassa residual florestal em território nacional, atendendo a que num raio de intervenção de 80 quilómetros são já inúmeras as centrais de biomassa e indústrias florestais que competem pela matéria florestal residual. Acresce ainda que o espírito da proposta recente da Comissão Europeia,

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de Julho de 2021, que faz parte do pacote “Preparados para os 55”, é de que “a partir de 31 de Dezembro de 2026, (…) os Estados-membros não podem conceder apoio à produção de electricidade a partir de biomassa florestal em instalações exclusivamente eléctricas”. Nessa medida, a ZERO questiona como está e como vai ser aplicado o Fundo para a Transição Justa nas centrais de Sines e Pego e na refinaria de Matosinhos, e defende um plano que fortaleça a vitalidade económica

e social das regiões afectadas, promovido pelas empresas envolvidas em colaboração com trabalhadores, autarquias locais, organizações não-governamentais e outras entidades competentes. “Sem diálogo, concertação social e criação de soluções alternativas atempadas, não estamos de forma alguma a fazer uma transição energética justa”, considera esta associação, alertando desconhecer, no caso da central de Sines, “o uso de qualquer verba do Fundo para a Transição Justa até agora”.

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ENIDH

TOMADA DE POSSE DOS CORPOS GERENTES DA AAENIDH

R

ealizou-se, no passado dia 25 de Novembro, pelas 17h, na Sala dos Professores, a cerimónia de tomada de posse dos novos Corpos Gerentes da Associação de Alunos da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique (AAENIDH). Na presença de alunos e docentes, foram empossados os membros que compõem os diversos órgãos da Associação, a qual terminou com a tomada de posse do novo presidente, o

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aluno Gustavo Pelixo. Na cerimónia esteve presente o Dr. Carlos Alpedrinha Pires, da Associação Náutica Clássicos de Oeiras, sediada na Marina de Oeiras, que reafirmou a sua disponibilidade em receber alunos da Escola para a realização de actividades náuticas em embarcações tradicionais da referida Associação. No final da cerimónia, actuou a Nautituna, tuna académica da ENIDH.

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INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS

O

desenvolvimento desta tecnologia foi realizado no âmbito do projecto GROW e estabelece um novo paradigma de comunicação subaquática para apoiar a exploração do fundo do ar. Já testada em ambiente real esta tecnologia pode ser utilizada em cenários de monitorização ambiental, vigilância subaquática e inspecção de infraestruturas subaquáticas, reduzindo significativamente os custos e o atraso no acesso aos dados recolhidos debaixo de água. Este novo salto nas comunicações subaquáticas de longo alcance e banda larga para a exploração autónoma do oceano, resultou de uma parceria entre o Centro de Telecomunicações e Multimédia (CTM) e o Centro de Robótica e Sistemas Autónomos (CRAS) do INESC TEC e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). A tecnologia vai permitir a flexibilidade das operações subaquáticas e reduzir significativamente os custos e o atraso no acesso aos dados recolhidos debaixo de água, estabelecendo um Revista Técnica de Engenharia

Foto: DR

CIENTISTAS PORTUGUESES DESENVOLVERAM TECNOLOGIA DE COMUNICAÇÃO SEM FIOS ENTRE A SUPERFÍCIE E O FUNDO DO MAR

novo paradigma de comunicação para apoiar a exploração do fundo do mar. O maior conhecimento sobre o fundo do mar implica o desenvolvimento de novas tecnologias, nomeadamente nos domínios das comunicações subaquáticas e da robótica submarina. Por outro lado, a utilização de Veículos Subaquáticos Autónomos (AUVs) é cada vez mais o meio frequente para realizar missões neste ambiente. Foi nesse sentido que os investigadores portugueses pensaram o projecto GROW. A solução desenvolvida combina tecnologias sem fios de curto alcance, AUVs que percorrem a coluna de água e funcionam como transportadores de dados, e comunicações acústicas, que permitem o controlo da transmissão dos dados em tempo real. Com esta solução torna-se possível o estabelecimento de uma ligação sem fios entre a superfície de água e o fundo do mar, com maiores taxas de transmissão de dados e menor latência do que as obtidas quando se usam as actuais rotinas de procedimento. A solução desenvolvida foi testada em

ambiente real, a 20 metros de profundidade, durante a campanha de mar que decorreu na baía de Sesimbra a bordo do navio de investigação NI Diplodus. Os testes permitiram comprovar as vantagens da solução desenvolvida face às actualmente disponíveis, e identificar os novos desenvolvimentos necessários para aproximar a tecnologia da sua comercialização. O responsável pelo projecto Rui Campos, que é também coordenador da área de redes sem fios do INESC TEC, afirma que esta tecnologia “tem potencial para ser utilizada em diversos cenários subaquáticos, incluindo monitorização ambiental, vigilância subaquática e inspecção de infraestruturas subaquáticas.” O projecto GROW, que teve início em Outubro de 2018 e conclusão em Setembro 2021, foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e reuniu uma equipa multidisciplinar composta por investigadores do INESC TEC, na área das redes sem fios e robótica submarina, e do IPMA, nas áreas da investigação oceanográfica e da geologia marinha. Dezembro 2021 - Digital 84

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MAR

O PRIMEIRO PORTA-CONTENTORES ELÉCTRICO E SEM TRIPULAÇÃO JÁ NAVEGA

M

uito se tem falado, com razão, no automóvel, como sendo o veículo motorizado de porte médio, mais avançados nesse caminho que vem sendo trilhado de autonomizar e substituir a energia motora com base nos combustíveis fósseis por energia eléctrica, bem menos poluente. Todavia, nós fomos falando também na rapidez com que essa mudança se estava a operar também no transporte marítimo, nos navios. Agora, com a primeira viagem realizada de um navio com propulsão eléctrica e com inteira autonomia, começamos de facto a entender, que o futuro já está aí. A prova está dada e o pioneiro navio cargueiro eléctrico autónomo do mundo completou a sua primeira viagem. Este avanço da tecnologia irá economizar 1.000 toneladas de emissões de carbono por ano.

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Chama-se Yara Birkeland e é o primeiro navio de transporte de contentores totalmente eléctrico e livre de emissões do mundo. A embarcação completou a sua viagem inaugural na Noruega. Birkeland viajou cerca de 14 km desde Porsgrunn até ao porto de Brevik, de acordo com um comunicado de imprensa envia-

do pelos seus fabricantes, a Yara. Apesar de parecer uma viagem curta, como grande produtora de fertilizantes, a Yara realiza cerca de 40.000 viagens de camião por ano para transportar os seus produtos até o porto de exportação de Brevik. O porta-contentores substituirá as viagens de camião a partir do próximo ano. Revista Técnica de Engenharia


MAR

Assim, esta alteração de estratégia de transporte deverá reduzir 1.000 toneladas de emissões de carbono por ano. Os trabalhos de construção do navio de contentores totalmente eléctrico de 80 metros de comprimento começaram no início de 2017. Este foi projectado para transportar entre 103 e 120 contentores numa única viagem. O Birkeland é alimentado por uma bateria de 7 MWh e pode viajar a uma velocidade máxima de 15 nós. O apoio financeiro para a construção deste navio cargueiro veio da Enova, uma empresa do governo norueguês que promove o uso de energia renovável. A Enova concedeu uma doação de 133 milhões de coroas norueguesas (cerca de 13,25 milhões de euros) para construir Birkeland. A embarcação conta com um vasto conjunto de tecnologias de navegação autónoma. Traz sensores que podem detectar objectos como caiaques na água, icebergues e outros obstáculos. Todas estas integrações para operações autónomas foram fornecidas pela Kongsberg. No futuro, o navio será capaz de carregar e descarregar a sua carga, carregar a sua bateria e navegar sem qualquer envolvimento humano, informou a empresa. É verdade que ainda não está tudo pronto, a partir do ano que vem, o porta-contentores fará duas viagens semanais com tripulação com a finalidade de testar a tecnologia auto-navegável por um período de dois anos, após o qual o navio será certificado como autónomo e a ponte de comando será removida do navio. Além de limpar as suas emissões de transporte, a Yara, um dos maiores emissores de carbono da Noruega, também planeia produzir amoníaco verde. Como produtora de fertilizantes, a Yara requer grandes quantidades de amoníaco, cuja produção contribui com pouco mais de 1% das emissões globais de gases com efeito de estufa, diz o comunicado da Yara à imprensa. A empresa de fertilizantes também quer usar este amoníaco verde como combustível para navios.

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Protege o ambiente, mas ataca a nossa profissão Ainda há pouco tempo escrevíamos, aqui na nossa revista, que um estudo, publicado recentemente prevê que dentro de cinco anos haverá uma escassez de marítimos para tripular os actuais navios mercantes, podendo levar a um aumento dos riscos para as cadeias de abastecimento global. O relatório deste estudo da Seafarer Workforce, prevê, com base em projecções de crescimento do comércio marítimo, que seriam necessários mais 89.510 oficiais até 2026. Todavia, perante a entrada em funcionamento, prevista para daqui a dois anos, tempo de testagem atrás referido, tudo parece indicar que em vez de falta de Oficiais o que se comece a verificar é um excesso dos mesmos. De facto, daqui para a frente o que é de supor é que mais destes navios entrem em funcionamento, sem qualquer tripulante a bordo, o que certamente ameaçará a profissão dos marítimos num espaço de dez a quinze anos. O passo seguinte será, certamente, pôr esses navios a interagir uns com

os outros de forma a evitar rumos e conflituantes e acidentes resultantes. Este acontecimento deve motivar análise e tomada de medidas por parte das instituições que tutelam o transporte marítimo e a formação de forma não estarmos a formar pessoas que não encontrarão colocação profissional futura. É de crer que as Escolas Náuticas do mundo tenham que adequar os seus cursos para esse futuro, que já está aí. Mais técnicos de instalação e manutenção dessas novas tecnologias do que tripulantes para navios. Em minha opinião, a nossa ENIDH deverá começar a preparar a transformação dos actuais cursos de Engenharia de Máquinas Marítimas para cursos de Engenharia Mecatrónica. Da mesma forma, compete ao Ministério do Mar e à DGRM começarem a analisar estas implicações e a preparar as futuras necessárias novas regulamentações no que diz respeito aos actuais marítimos em paralelo com os futuros técnicos. As mudanças são sempre trabalhosas, difíceis e demoradas principalmente quando são feitas em cima do joelho, à pressa e sem ouvir as partes interessadas.

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