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Alagoas l 18 a 24 de maio I ano 02 I nº 064 l 2014
redação 82 3023.2092 I e-mail redacao@odia-al.com.br
INVENÇÃO DA MEMÓRIA
Queríamos mudar o mundo e havia no caminho a ditadura militar Exercendo a chefia de Redação da Gazeta de Alagoas
Dois dedos de prosa com Iremar Marinho
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Quem é quem?
remar Marinho de Barros é jornalista, publicitário e advogado, natural de União dos Palmares, residente em Maceió. Graduado em 1976, pela Universidade Federal de Alagoas, exerceu editorialismo, editoria, diretoria e chefia de redação e de reportagem do Jornal de Alagoas, Jornal de Hoje, O Repórter, O Diário, Última Palavra, Difusora de Alagoas, Gazeta de Alagoas, TV Gazeta de Alagoas, Tribuna de Alagoas e Extra Alagoas. Exerceu assessorias no Governo do Estado, Assembleia Legislativa e Ministério Público Estadual. Criou, pela Chama Publicidade, a mensagem da TV Gazeta, comemorativa aos 25 anos da Rede Globo. Integrante da Coletânea Caeté do Poema Alagoano, recebeu do crítico Marçal Calmon a apreciação: “Com extraordinário poder de síntese, dizendo muito em poucas palavras, resumindo em poemas concisos um mundo de ideias, Iremar Marinho de Barros é uma agradável surpresa que a coletânea nos revela. Todos os seus poemas impressionam pela maturidade”. Editou a seção Mural de Poemas do jornal Extra-AL e tem publicado o poema “No Mar de Cuba”, no livro Freitas Neto - Prosa, Verso e Graça, editado pela Casa da Amizade Freitas Neto Cuba-Brasil. Recebeu a Comenda Jorge de Lima, da Prefeitura de União dos Palmares. Tem para publicar memórias e o “Livro das Desavenças Íntimas” (poemas).
lagoas tem bons memorialistas, mas poucos. As lembranças são componentes sociais e quando escritas tornam-se documentos preciosos sobre uma determinada época. Campus está interessado em cooperar sistematicamente, na produção de uma bibliografia neste campo do memorialismo, especialmente trazendo o aporte de contribuições que se refiram à vida interiorana. É o caso deste trabalho de Iremar Marinho, importante jornalista que nos deu a honra de pensar no que nos dizer, trazendo-nos diversas informações significativas para pensarmos na vida alagoana. É um depoimento que nos interessa agora e que vai, sem dúvida, ganhar o rumo da historiografia, sendo material de leitura obrigatória em áreas como sociologia, política e história. Campus agradece a Iremar por sua honrosa contribuição. Aqui, abril de 2014
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Iremar Marinho
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s primeiras notícias sobre a efervescência política pré-1964, em União dos Palmares, chegaram pelas pichações que tomaram toda a parede alta e branca da casa que ficava diante da nossa, na Rua do Cangote (Rua Dr. Antônio Arecipo). “Viva Julião”, “Reforma agrária na lei ou na marra”, diziam, em grandes letras, as pichações que, vi depois, se espalhavam em vários pontos da cidade. Não sabia o que significavam, mas deduzia que algo grave estaria acontecendo. Em pouco tempo, melhor informado, em conversas com colegas, na Praça Antenor Uchoa, sobre Francisco Julião e a luta pela reforma agrária, através das Ligas Camponesas, fazia já a ligação da situação política no Brasil com a revolução cubana, destacando-se as figuras já lendárias de Fidel Castro e de Che Guevara, na guerrilha, em Sierra Maestra, para derrubar o ditador Fulgêncio Batista. No dia 31 de março de 1964, comentários na cidade eram de que o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, viria do Recife, de trem, para Maceió, onde organizaria a resistência, na região, contra o golpe militar que se avizinhava. Eu estava, à tarde, no centro da cidade, na escola de datilografia de Dona Rosinha, esposa de Maurino Veras, dono do Cine Brasília local, quando Antônio Aragão, exímio datilógrafo, no cartório de seus pais, Sanelva Aragão e Dona Esmeralda Valença, chegou à calçada e exortou, em tom irônico, que Maurino pegasse seu fuzil e fosse para a estação ferroviária participar do cerco local contra a passagem de Miguel Arraes e sua comitiva. Aragão obteve de Maurino Veras a resposta de que era funcionário público e não poderia participar daquele tipo de tarefa. Ao sair da escola de Dona Rosinha, passei pela praça vizinha à estação ferroviária e vi vários cidadãos palmarinos, com espingardas e cartucheiras nas mãos, se acomodando num dos vagões do trem de carga. Era o cerco, com a ordem para fuzilar Miguel Arraes e todos os que viessem com ele. Não compreendia (nem compreendo até hoje), porque Miguel Arraes, que defendia as reformas de base (ele obrigou os usineiros e donos de engenhos, em Pernambuco, a pagarem o salário mínimo aos
Ao receber o Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo pela equipe do Extra-AL
seus trabalhadores do campo), teria que ser morto, ali mesmo, na estação de União. Arraes não veio para Maceió. Livrou os palmarinos de testemunharem uma chacina histórica, mas, no dia seguinte, estava o país mergulhado na mais densa treva da ditadura militar, que duraria mais de duas décadas. Logo após a decretação do Ato Institucional nº 5, pelo governo militar, a revista Veja publicou uma extensa reportagem com entrevistas de políticos e intelectuais brasileiros e estrangeiros, condenando o golpe e o recrudescimento da ditadura. Não me lembro como a revista chegou a minhas mãos, dando-me a oportunidade de recortar a reportagem, colar numa cartolina e expor, no quadro de avisos, no corredor do Ginásio Santa Maria Madalena, atraindo muitos leitores curiosos. Destacava-se, entre as ilustrações da matéria, a foto do barbudo Fidel Castro, também ele condenando a ditadura militar brasileira. Por isto mesmo, a repercussão maior do feito, no ginásio, durante vários dias, não foi sobre o conteúdo da matéria da Veja, mas a coragem do autor do cartaz ao realizar tal façanha sob a complacência da diretoria do estabelecimento, sempre ciosa, na defesa dos ideais da “gloriosa revolução”. Nesse contexto, a chegada de um grupo de religiosos canadenses a União dos Palmares estava envolta em polêmicas acirradas entre prós e contra a presença dos estrangeiros. Padres Robert e Donald e as irmãs Aída e Diana eram acusados por uns de serem
Para anunciar, ligue 3023.2092 CNPJ 07.847.607/0001-50
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espiões da Aliança para o Progresso, logo, a serviço dos Estados Unidos, na caça aos subversivos da cidade. A maioria, entretanto, recebeu como positiva a integração dos estrangeiros à comunidade palmarina. Os mais jovens foram percebendo que os religiosos se mostravam francamente favoráveis às lutas pela redemocratização do país. Eram os internacionalistas da Teologia da Libertação e tinham em Dom Hélder Câmara a sua mais firme liderança político-religiosa no combate à ditadura. Estávamos, portanto, em casa, para desagrado da ala conservadora local, que não via com bons olhos aqueles estrangeiros, ali, fomentando a subversão entre os jovens. Com efeito, nas reuniões semanais do grupo Fermentistas (o fermento na massa), na Casa Paroquial, os temas da cidade eram levados à discussão, como acusações graves que circulavam contra o usineiro João Lyra sobre maus tratos a trabalhadores, na Usina Laginha. Os religiosos canadenses manifestavam repúdio a essas atitudes, chegando um deles a estranhar que Lyra, homem formado em colégios religiosos, em Recife, pudesse chegar a tamanho grau de insensibilidade como empresário-patrão. Já nas últimas séries do ginasial, integrados às atividades da Igreja, mas, interessados mesmo na evolução da luta política, Carlos Pimentel e eu fomos convidados para um encontro de jovens, em Recife, onde aperfeiçoaríamos as táticas para proceder no meio da massa. O invólucro era a religião, mas o conteúdo era a polí-
EXPEDIENTE ODiaAlagoas
tica e Dom Helder era o nosso comandante-em-chefe. No fervilhar da luta contra a ditadura, foi anunciada a realização do encontro de jovens, em Maceió, no Centro Paroquial Dom Adelmo Machado, no Vergel do Lago. Cerca de 20 jovens palmarinos se juntaram a jovens locais para uma semana de muita música, em sua maioria de protesto (de Geraldo Vandré e Chico Buarque a Edu Lobo e De Kalafe), muitas brincadeiras, mas, também, de muita discussão política, sob a direção do padre Clóvis Pradines e com as palestras de Ana Broad e Lúcia Guiomar (a poeta). Dessas palestras brilhantes, das quais participávamos com questionamentos, a conclusão unânime era que a situação política do país não deixava outra saída, a não ser pegar em armas contra a ditadura militar. Já diretor do Departamento de Jornalismo da TV Gazeta de Alagoas, viajei com a equipe a União dos Palmares para entrevistar o prefeito Manoel Gomes de Barros. No dia seguinte, o jornalista Ivan Nunes me relatava a conversa que tivera com o prefeito. Entre elogios a minha atuação profissional, Manoel Gomes dissera que eu teria, como palmarino, apenas um defeito: ser comunista. Eu nem tinha 10 anos de idade, o melhor momento para ficar bem informado eram as reuniões, quase diárias, entre meu pai e meus tios, à noite, na casa do meu avô. Presididas por este, as reuniões às quais eu assistia calado e todo ouvidos, incluíam sempre uma varredura minuciosa da vida alheia.
Começavam pela situação da moagem de cana, os causos do plantio, do corte e do transporte para a Usina São Simeão, as desavenças dos fazendeiros-fornecedores com os usineiros, passando pelos adultérios e a carestia, que eu ouvia eles dizerem que era culpa dos “goelas” e dos “tubarões”. Foi numa dessas animadas reuniões que eu ouvi meu avô contar que o cangaceiro Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto), o vingador de Lampião, seria nosso parente e estivera, numa noite, em fuga, na casa dos pais dele. Corisco, que era alagoano, natural de Água Branca, e também viveu em Delmiro Gouveia, teria dormido numa rede e saíra de madrugada. Meu avô, ainda adolescente, ouviu de seu pai a recomendação para que mantivesse silêncio absoluto sobre o que ocorrera naquele dia. Em matéria de valentia, presenciei os momentos dramáticos de uma grave querela sobre limites de nossa propriedade, Canoas (Canoas de Cima e Canoas de Baixo), com o proprietário vizinho, da fazenda Riachão, Juca Fernandes. Considerado poderoso, Fernandes, que é pai do desembargador Jairon Maia Fernandes e do coronel José Maia Fernandes e foi prefeito de Branquinha, havia colocado trabalhadores para deslocar os limites de nossa propriedade, numa área de densas matas. Meu avô recriminou os trabalhadores, advertindo-os que desfizessem os novos limites; no dia seguinte, ao voltar ao local, constatou que os limites não só não haviam sido desfeitos, como foram deslocados ainda mais para dentro da propriedade. Meu avô, então, reuniu os quatro filhos, com espingardas, bacamartes e foices e foi ao desforço, no local da invasão, botando para correr os assustados trabalhadores de Seu Juca Fernandes. No curso primário da professora Graciete Alvim, o livro da série Vamos Estudar apresentava o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, como um exército de resistência, “formado por escravos que fugiam das fazendas em busca da liberdade”. Preciso dizer que esta foi uma das lições mais belas e comoventes que eu tive, em termos de primeiras leituras, além do orgulho por ter sido nossa terra sede de tão ilustre fato histórico. Lembro que comentava com meu pai essas lições, ele também empolgado com o meu interesse pela leitura e pela história.
Eliane Pereira Diretora-Executiva
Deraldo Francisco Editor-Geral
Flávio Nobre Diretor Comercial
L. Sávio de Almeida Coordenador
Luhanoa Rocha Articulação
Francisco Ribeiro Cotidiano
Cícero Rodrigues Ilustração
Jobson Pedrosa Diagramação
Rua Pedro Oliveira Rocha, 424 B - Farol - Maceió - Alagoas - E-mail: redacao@odia-al.com.br - Fone: 3023.2092
3 redação 82 3023.2092
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CAMPUS A Serra da Barriga nos remetia a Jorge de Lima, “o príncipe dos poetas alagoanos”, que sempre foi todo orgulho para União dos Palmares. No primeiro ano escolar, no grupo que leva seu nome, diante do ginásio, na Rua Tavares Bastos, aprendíamos lições sobre a vida do poeta, sobre seus livros, suas profissões e os cargos que exerceu. Vez por outra estávamos lendo ou recitando o seu célebre “O Acendedor de Lampiões”. Não tivesse Jorge de Lima escrito mais nenhum poema, bastaria este para assegurar-lhe a imortalidade entre os palmarinos. Mais tarde, no Ginásio Santa Maria Madalena, nossa professora de Inglês e Francês, Dona Salomé, quebrava um pouco a aura do poeta Jorge de Lima, para ela, um ingrato, por não ter mais voltado à terra natal. O próprio poeta lamenta o fato, mas afasta a acusação de ingratidão: “Um dia é o que me lembra, desci o meu rio,/ Perguntaram-me: aonde vais?/ – Vou descer!, respondi/ Desci!/ e não subi nunca mais”. De fato, Jorge de Lima voltou a União, mas, já muito doente. Vindo de Recife para Maceió, ficou apenas na estação ferroviária, contemplando, saudoso, até onde a vista podia alcançar, as plagas que o viram nascer. A volta do poeta a União dos Palmares se daria mesmo, no sublime “Vida e Obra de Jorge de Lima”, escrito por seu cunhado, também palmarino, Povina Cavalcanti, este ainda autor do belo “Volta à Infância – Memórias”, sobre sua vida na Madalena (como Jorge se referia a União), no qual o poeta também responde presente. Vivíamos, Cícero Melo e eu, cascavilhando em torno da pequena biblioteca do ginásio, para termos acesso a livros e revistas. Não sobrou nenhum dos clássicos e romancistas do ciclo nordestino (além de Érico Veríssimo e Guimarães Rosa), que não lêssemos, e também os poetas. Naquela época, mesmo sem jornal, já éramos críticos literários. João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Murilo Mendes, os nossos Jorge de Lima e Lêdo Ivo e Graciliano Ramos e alguns estrangeiros não escaparam da nossa verve crítica oral. Líamos como se a biblioteca do ginásio nos pertencesse e achando que a direção do colégio só teria louvores para a nossa atitude, e era mesmo. Ocorre que, em meio a tanta confiança, achamos de rubricar cada livro que levávamos emprestado para casa, com o firme propósito de também nos imortalizarmos naquelas
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Reunião da turma de moradores da Residência Universitária, com Aldo Rebelo
obras. Com esse pensamento, entretanto, não concordou o diretor José Viana, que nos passou uma firme reprovação daquele ato de “rasurar” os livros, encerrando ali a nossa imortalidade livresca. Em Maceió, no início do curso de Direito da Universidade Federal de Alagoas, no Campus Tamandaré, conheci Freitas Neto e Eduardo Bomfim, também estudantes do mesmo curso, passando a participar da redação do Jornal Campus, do Diretório Acadêmico. Em seguida, fui eleito para compor o Conselho do Diretório Central dos Estudantes, como representante do Diretório Acadêmico, quando foi eleita a diretoria presidida pelo estudante Jeferson de Barros Costa. Passei a fazer parte também da redação do Jornal do DCE, na Praça Sinimbu, e conheci os estudantes Dênis Agra, Breno Agra,
Na formatura do curso ginasial, tendo Divaldo Suruagy como paraninfo da turma
Denisson Menezes, Raul Pinto Paes, Jeovane de Barros Costa, Fernando de Barros Costa e Norton Sarmento, todos participantes da luta estudantil e integrantes de movimentos de esquerda, na clandestinidade. Ao mesmo tempo, participava de um grupo, com Eduardo Bomfim, Raul Pinto Paes e Nabor Bulhões. Fazíamos reuniões numa escola, em Ponta Grossa, e saíamos para distribuir panfletos contra o regime militar. Uma de minhas tarefas era manter contatos com pessoas que vinham de outros Estados, que me entregavam panfletos e documentos com informações, inclusive, sobre a guerrilha do Araguaia. Logo depois, com o acirramento da repressão, o presidente do DCE, Jeferson de Barros Costa, foi preso com vários companheiros, entre eles Dênis Agra e Denisson Menezes. Eu morava na Resi-
dência Universitária, na Praça Sinimbu, e diante de informações de que também seria preso, viajei para União dos Palmares, num fim de semana. Ao voltar, na semana seguinte, com os ânimos mais serenados em relação a prisões, a colega conterrânea Maria Aparecida de Oliveira relatou que um agente da Polícia Federal estivera na Residência, me procurando e pedindo informações sobre minha viagem e endereço, em União. A Reitoria instaurou então um processo inquisitório contra mim, através de uma comissão formada por dois professores da área de Educação Física, sendo um deles capitão do Exército. O interrogatório a que me submeteram incluiu desde conversas em sala de aula, em que fazíamos críticas à ditadura, às atividades da política estudantil e da clandestinidade. Na mesma época, eu havia sido aprovado no concurso para agente administrativo do INSS e, quando participava do treinamento prévio à nomeação, fui chamado à coordenação do órgão e submetido às mesmas perguntas que haviam sido feitas pelos inquisidores da Ufal, que, no entanto, não impediram a nomeação. Como funcionário do INSS, seis meses depois, na véspera do Natal, trabalhando na Perícia Médica, na Rua Melo Moraes, fui chamado à Superintendência do órgão para ser informado de minha demissão sumária. O superintendente do INSS, Nelson André do Nascimento, me recebeu de modo ríspido: “A ordem de sua demissão veio de cima, não há como reverter, e para a Segurança Nacional não há necessidade de inquérito; assinei a portaria como punição, com data de ontem, mas, se você quiser, pode pedir a demis-
são”. Nelson André ainda me disse: “Eu lhe aconselho, já que está concluindo o curso de Direito, que procure outro Estado, se quiser exercer a profissão, pois, aqui, você não terá espaço”. O diretor de pessoal do INSS era Linésio Cavalcante, irmão do senador-general Luiz Cavalcante (ex-governador de Alagoas), um dos próceres mais ativos da “revolução”, e de Lincoln Cavalcante, meu professor de Estudos de Problemas Brasileiros, na Ufal, na mesma época das perseguições que sofri. Essa disciplina era, indisfarçadamente, destinada a fazer o proselitismo da ditadura militar e, ao mesmo tempo, detectar, em sala de aula, as tendências políticas dos estudantes. A terceira parte da militância política de esquerda, considerando o início, ainda no ginásio, em União dos Palmares, ocorreu com a continuidade de atuação, no PCdoB, na legalidade, quando já havia conhecido Aldo Rebelo, estudante de Direito, que também morava na Residência Universitária, e se juntara à luta, com Eduardo Bomfim. Conheci em seguida Ênio Lins, Thomaz Beltrão, Messias de Souza, Jarede Viana, Edberto Ticianelli, Sérgio Barroso, Carlos Pompe, José Luíz Pompe, Marcelo Malta, Goretti Lima, Nide Lins e Reginaldo Lira. Nessa época, já havia começado a trabalhar como jornalista, no Jornal de Alagoas, a convite do colega da Faculdade de Direito, José Osmando de Araújo, onde encontrei, também exercendo a profissão, os colegas Aldo Rebelo e Dênis Agra, que, depois, indo para a chefia de redação da Gazeta de Alagoas, me convidou para exercer a editoria de nacional e internacional deste jornal. Ao mesmo tempo, fui convidado pelo editor-geral, Márcio Canuto, para exercer o cargo de redator do Departamento de Jornalismo da TV Gazeta, dirigido pelo jornalista Ailton Vilanova e em seguida pela jornalista Ivone Santos. Depois fui nomeado por Pedro Collor “editor do Departamento de Jornalismo”. Exerci os dois cargos, nas Gazetas, até ser convidado por Dênis Agra, então para compor, com ele e Claudio Humberto Rosa e Silva, a editoria do novo jornal Tribuna de Alagoas. Exerci a chefia de redação e, com a saída de Dênis Agra, fui um dos editores-gerais “rotativos”, cargos pelos quais passaram Marcelo Firmino, Gabriel Mousinho, Beth Lima, Nilton Oliveira e Claudio Humberto, quando o jornal se encontrava já na crise irreversível de sua primeira etapa.
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Manifesto Desmemoriado
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nvenção da Memória é parte da vida deste alagoano que percebe ter sido sua existência, desde o início da adolescência, uma sucessão de choques. O golpe militar entrou na minha vida quando eu tinha 14 anos, me levou a contestá-lo, ainda ingenuamente, numa primeira fase, no curso ginasial, e a participar
de ações de resistência, que se transformaram em lutas, na política estudantil e na clandestinidade, em organizações de esquerda, durante o curso de Direito, na Universidade Federal de Alagoas. A punição pela atuação política veio através de perseguições, na Ufal, e da demissão sumária do emprego, no INSS, por imposição do Serviço de
Nacional de Segurança – SNI. Expropriado dessas memórias, para compartilhá-las, espero contribuir, mesmo modestamente, para o aperfeiçoamento da sociedade. Revendo a trajetória, concluo que aquela esperança de mudar o mundo permanece intacta. Repetiria tudo, se fosse necessário, para defender o primado da democracia.
O mundo impossível dos meninos Iremar Marinho
“Ó terra em que nasci e morri, o seu Mundaú, suas lagoas, minha mocidade.” (Jorge de Lima) Poeta Jorge de Lima, universal e tão próximo. Na invenção da infância, criamos o mesmo mundo impossível dos meninos. Nós percorremos a mesma Cidade da Madalena (ex-Vila da Imperatriz), o nosso burgo natal): Rua da Apertada Hora, Rua do Jatobazinho; a Rua da Cachoeira, a Rua do Virador, Rua da Matança Velha, Rua do Boi, do Carvão, Rego da Guida, Pedreiras, Rua do Consome Homem. Sou da Rua do Cangote. És do Largo da Matriz (da esquina do Comércio, olhando a Rua de Cima). Nós passeamos a esmo pelos “caminhos que ainda têm orvalhos e sonâmbulos bacuraus”, “ninhos suspensos”. Vagueamos no Cruzeiro do Século, no Jatobá, no Sueca, no Bolão, Tobiba, Terra-Cavada, lá no Fundo do Surrão, Brejo do Capim, Muquém, no Cafuxi, Amolar, no Caborje, na Jurema, Várzea Grande, Mão Direita, Cana Brava, Sapucaia, no Caípe, no Mocambo, no Ximenes, no Cajá, no Riachão, nos Esconsos, Canoas da Serra Grande, Serras do Frio, da Laje, da Barriga (do Quilombo).
Integrantes da Redação da primeira Tribuna de Alagoas, com Dênis Agra José Costa e Freitas Neto
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Nº
ANO Autor e Título
Tomamos banho no mesmo Mundaú, das “lavadeiras seminuas “, curiosos de ver aquelas “mocinhas nuinhas, de pé... com frio...” Na mesma feira de sábado (eu me perdi do meu pai), fostes guia da menina cega que pedia esmolas. Na estrada Great Western (“balduínas sonolentas”), os meninos de “alma lírica” aprenderam ver paisagem.
Literatura 57
2014
BRANDÃO, Izabel. As horas de minha alegria
Economia 58
2014
GOMES, Fábio Guedes. Economia política da violência em Alagoas
Nossos mundos impossíveis unem-se pelas lembranças “indeléveis como nódoas” nas almas destes meninos.
Literatura 59
2014
CARVALHO, Pablo. Catracas Púrpuras
História
2014
ALMEIDA, Luiz Sávio de. Os alimentos brabos e a pecuária da macambira
Eu te peço por empréstimo tuas raízes (são nossas) para “deixá-las plantadas para sempre na União”.
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Artes plásticas
Cultura
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2014 CABRAL, Pedro. O castelo de areia pronto, imediatamente desconstruído
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2014
ÁVILA, Cadu. A reinvenção do Maracatu em Alagoas no Século XXI
Literatura 63
2014
PASSOS, Francisco. Um rio Francisco
Empresta-me teu sublime Acendedor de Lampiões. Empresta-me Santa Dica. Empresta-me Pai João. Empresta-me Quichimbi. Empresta-me Janaína. Tua Mulher Proletária. Empresta-me Negra Fulô. Só não tomo por empréstimo tua grandeza de poeta universal. Minha dívida contigo é muito grande. Dever-te-ei para sempre.