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Barcelona Gamboa, SC. Cidade do MĂŠxico
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Edição e design Claudio Ferlauto Textos Italo Calvino Jessica Helfand Joan Ferraté Claudio Ferlauto Colaboradores/Fotos Maialu Burger Ferlauto Mario Sabatino Janeiro/Fevereiro/Março 2013
Conversa no Canoas Garopaba, SC 2011. Acima Ilha dos Corais.
A ilha. Agora ela não está visível. A chuva e a bruma a escondem e pouco se distingue de suas formas lá na linha do horizonte. Seu nome é Ilha dos Corais e, visualmente, parece equidistante tanto da Ponta da Guarda, quanto da Ponta da Faísca. Mas é apenas uma ilusão, de uma visão “não geográfica”. Ela é dominante no imaginário dos pescadores locais e dos turistas. De tempos em tempos há uma onda de visitas à ilha, e para lá dirigem-se, além de pescadores e de catadores de mariscos, os visitantes sequestrados por sua imagem persistente, e sedutora. Vista de longe, quando bem iluminada pelo sol, parece que tem pequenas praias de areia, mas os depoimentos dos visitantes falam sempre de costões
de pedra, lagartos e cabritos. Por onde quer que se caminhe, em cima dos morros ou na beira mar, ela está sempre na retina. Na Guarda, assim como no Siriú ela parece estar mais perto da gente e nestes momentos, algumas vezes, dá uma vontade de navegar até lá. Mas é só uma vontade sem convicção. A serra. Olhando no sentido contrário, a oeste, está a longa linha de montanhas da Serra do Mar, mostrando muitos planos, distantes e imponentes. Quando iluminada pelo sol matutino, revela exuberantes tons de verdes,—escuros, amarelados, marrons etc— misturados aos tons escuros acizentados dos grandes maciços de pedra. Ao entardecer, um degradê de cinzas, que vai dos azulados aos negros, recorta o céu e as nuvens.
Mario Sabatino
Maialu Burger Ferlauto
T’HO DIUEN CADA VEGADA QUE TORNES A SER A BARCELONA
«I doncs, ¿tu per aqui? Noi, quina sort! Si ja ens pensàven que t’havies mort!» JOAN FERRATÉ Barcelona 1924–2003
Parc Guel, o lagarto e as colunas. Praça Catalunha. Barcelona, 2000.
Creio que seja só uma ideia atemporal de cidade que o livro evoca, mas que se desenvolve, ora implícita ora explícita, uma discussão sobre a cidade moderna. De uma amigo urbanista ouço que o livro toca vários pontos dessa problemática, e não é caso isolado porque ele retorna constantemente ao tema. E não é só sobre o fim que a metrópole de «big numbers» comparece em meu livro; ainda que pareça a evocação de uma cidade arcaica, faz sentido somente enquanto pensado e escrito com a cidade atual sob nossos olhos. ¶ O que é a cidade hoje para nós? Penso haver escrito qualquer coisa como um último poema de amor para as cidades, no momento que ela se torna mais difícil de vivê-la como cidade. Talvez estejamos nos aproximando de um momento de crise da vida urbana, e As cidades invisíveis são sonhos nascidos do coração das cidades invisíveis. Hoje se discute com igual insistência tanto sobre a destruição do ambiente natural, quanto da fragilidade dos grandes sistemas tecnológicos que podem produzir distúrbios em cadeia capazes de paralizar cidades inteiras. ¶ A crise das cidades muito grandes é a outra face da crise da natureza. A imagem da “megalópolis”, a cidade contínua, que vai cobrindo o mundo, domina também o meu livro. Mas obras que profetizam catástrofes e apocalipses já existem muitas. Escrever mais uma seria um pleonasmo, e sobretudo não combina com meu temperamento. O que está no coração de meu Marco Polo é descobrir a razão secreta que os homens carregam para viver nas cidades, razões que podem valer mais do que todas as crises. ¶ As cidades são um conjunto de muitas coisas, de memórias, de desejos, de sentido para uma linguagem. As cidades são lugares de trocas, como explicitam todos os livros de história da Economia; mas estas trocas não são apenas trocas de mercadorias, são trocas de palavras, de desejos, de recordações. O livro se abre e se fecha sob as imagens das cidades felizes que continuamente tomam forma e desaparecem escondidas nas cidades infelizes. Italo Calvino, 1983.
Don Taco. Almoço na Calle Cuauhtemoc. Cidade do México, 1999.
México. Abaixo das nuvens aparece que não devem ser pequenos, mas que vales com sinais de vida humana. Estaum grande rio, uma ponte e uma ilhota. Dá para ver pequenas vilas reunidas em torno da estrada e de uma encruzilhada. Outra, outra mais e, esta, um pouco maior. Sobrevoamos os Andes e vemos dois planos: embaixo os retângulos verdes da agricultura; acima, o plano branco das nuvens, ora pontilhadas como um rebanho de ovelhas, ora densas como um grande colchão de algodão doce. Vemos alguns picos gelados ao longe —imensas pedras agressivas—, e pequenas áreas de terra verdejante. Logo, no planalto totalmente dividido por uma geometria de retângulos longos e minúsculos, dá para identificar áreas urbanas e suas antenas parabólicas. Sol de meio dia. Mais picos gelados e nimbos gigantes. As curvas de um rio serpenteando as elevações, conversam com os desenhos retilínios das plantações do homem. Por um trecho pequeno, uma estrada acompanha brevemente essas curvas, mas de repente dá as costas ao rio e corre em linha reta no sentido do Pacífico. Aqui e ali, lagos
lembram poças dágua resultantes de mos chegando. Já são onze horas de viagrande chuvarada. Neste momento um gem. Agora vejo uma mosca no cinzeiro deste avião da Aeroméxico. Pirâmides. São 50 quilometros fora da cidade. Viajamos na van com um casal inglês e uma dupla argentino–chilena. Elas são um espetáculo já quando entramos no parque: um formigueiro de gente sobe os 60 metros de altura da pirâmide do Sol, por um lado e desce pelo outro . Construí-da faz 2000 anos foi grandemente danificada pelo exploradores espanhóis e pela população local. Mesmo assim temos a sensação que profanamos um local sagrado. Mas relaxamos: afinal o México inteiro é um lugar profanado pelos cigrande pico domina a paisagem de mon- vilizados vindo da Europa e, agora, dos tanhas erodidas pelo deslizamento das ge- Estados Unidos. A guia da excursão nos leiras. Mas ainda assim montanhas e abis- diz que devemos subir, pelo menos a Pimos portentosos. Assustadores. Já não râmide do Sol e antes de iniciar nossa essão mais pedras ponteagudas: quando calada um brujo segura meu braço e peras montanhas diminuem de altitude, gunta, misteriosamente, se quero comprar seus picos ficam arredondados e dividem uma esfera negra de obsidiana. Topo: sou a paisagem com grandes altiplanos cor mais um turista enganado. Na Ciudadela, de areia. Lá, mais embaixo, pequenos descubro balaios cheios destas peças…
Gráfica do efêmero Taxi, tipografia, Dormagen, Alemanha. A. Mottin, litografia, Porto Alegre, RS. Hotel, offset, Paris, França. S. Chiara, tipografia, Assisi, Itália. Peixaria, clichê/tipografia, Gamboa, SC. Reclamaciones, offset, Barcelona, Catalunha.
Serra do Mar, e Parque do Tabuleiro, Paulo Lopes, SC.
O última legado do cinema Conduzido —e ocasionalmente restringido— pela tecnologia que nos está disponível, o vocabulário visual das interfaces emergiu como uma sintaxe pictórica redutiva, um acidente irônico do modernismo do final do século XX, considerado como um derradeiro infográfico. Esforços para tornar a informação completa acessível para todos, resultou numa nova linguagem global estéril e uma iconografia bombástica: miniaturas de hieróglifos com traços de cartoon, facsímiles dos processo de trabalho, pastas de arquivos, lixeiras e, mais recentemente, (e de modo lamentável), emoticons. Em ensaio recente discutimos o que o crítico Andrew Olds batisou como «modo de organização ideogramática» expressando nele nossa própria insatisfação com aquilo que temos encontrado como o legado do desktop: a linguagem gráfica iconizada e datada, que é, a marca registrada de uma estética duvidosa da era do computador. Hoje, esta característica intransigente do consumidor eletrônico, apresenta uma reduzida orientação para expressar a grande complexidade introduzida pela dinâmica mídia eletrônica em tempo real. É melhor olhar para os modelos sugeridos em outras qu4tro.com.br/blog telas, do que aqueles das telas dos claudio@qu4tro.com.br computadores. […] Jessica Helfand, Screen.
Desenhado em fevereiro de 2013. Composto com as famílias tipográficas Ubuntu, DIN 145, Bauer Bodoni. Impressão digital de Copytech, São Paulo, sobre papel off-set.
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