Cadernos doO lhar #3 Julho/Agosto/Setembro 2013
Cadernos de nota, viagem e memorabĂlia
Tenham sempre um caderno no bolso e anotem com uns poucos traços a lápis os objetos que chamam a sua atenção, caso não disponham de tempo para esboçá-los por inteiro. Mas se tiverem a chance de fazer um esboço mais preciso, apoderem-se do modelo com amor, observem-no atentamente e o reproduzam de todas as formas, de modo a alojá-lo dentro de suas cabeças, a incrstá-los ali como se fosse uma coisa sua. Ingres, Jean Auguste Dominique, 1780-1867. A pintura. Escritos sobre a arte Editora 34
Pirâmide da Lua, Teotihuacán, México Caderno de viagem, 1998
Caderno de notas 2000–2013
Caderno de fotografias desgarradas 1997–2013
¶ Anotações visuais e verbais podem se tornar um método de trabalho útil para designers e artistas. Essas anotações são ao mesmo tempo projeto, modo de pensar e compreensão do que é design. Todo artista e/ouprofissional usa algum método, que foi desenvolvido por necessidade ou por treinamento formal, na realização de projetos e pesquisas profissionais. A primeira maneira se adapta mais aos autodidatas e artistas. O segundo, aos pesquisadores da academia, como matemáticos, biólogos, filósofos e designers etc. ¶ Em Padrões de intencão, Michael Baxandall explica alguns significados da palavra design e entre eles destaca-se design como «adaptação dos meios aos fins», ou seja, um método. Nos dicionários, método é «um conjunto de meios dispostos convenientemente para alcançar um fim». Mas método também significa prudência ou simplesmente maneira de fazer as coisas. ¶ Anotações metódicas podem ser processadas e transformadas em um pôster ou em uma obra de arte, pois representam uma «seleção crítica dos diversos pontos de vistas desenvolvidos na pesquisa formal» e do ponto de vista projetual «são uma antecipação da solução», segundo o italiano Pietro Corraini, na introdução de La mano del grafico. ¶ Nossos cadernos são de conteúdos variados: usamos para estudos de leiautes, para documentação de pesquisa, reuniões e viagens, ou como memória, diário e outras anotações verbais: cadernos de notas são um lugar para pensar. Claudio Ferlauto
O desenho remete sempre à ordem de um projeto; pressupõe uma antecipação do espírito que concebe abstratamente e representa mentalmente a forma que querrealizar, o objetivo que busca atingir. O desenho não é matéria nem corpo, nem acidente, escreve Zuccaro em Idea del pittore, e sim forma, concepção ideia, regra e finalidade —em suma, uma atividade superior do intelecto. Jacqueline Lichtenstein em A pintura. O desenho e a cor. Editora 34
Cadernetas de viagem 1990-2000
Acima. Campidoglio, Roma, Itália. à direita. Gamboa, Santa Catarina Cadernos de viagem 2000–2002
Memorabília, anos 1970–2000
Notas ao telefone. Desenhar o dia a dia. O martelo, o prego, o pregador de roupa, a tábua de passar, machado/alicate/tesoura. Cadeira do jardim, a da praia e a embalagem tetrapak. Barbeador, caneta bic, clips/esquadro/régua. As escadas, janelas, persianas, portas. A mochila, a barraca, o bagsleep, a paisagem E similares.
Ler está para quem escreve assim como o olhar está para quem desenha
Blocos de desenho, anos 1980–2000
Caderno de pequenos desenhos 2010–2013
Criar e não copiar significa ser honesto. A influência e inspiração existem, mas é preciso ser honesto. Isto é o mais importante. O processo criativo é simples: você tem uma ideia e a desenvolve. Se funciona, fazemos um prato. Ferran Adrià, na Folha de S.Paulo, 2011
Cadernos de grĂĄfica efĂŞmera e vernacular
Edição & Design Claudio Ferlauto Textos Elliot Earls Ferran Adrià Ingres Jacqueline Lichtenstein Julho/Agosto/Setembro 2013
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OLHA
Confiando no olhar
¶ O design tipográfico, nos anos 1990, tinha seu foco em três áreas: o revival histórico, a interpretação vernacular, e ou um desenvolvimento exclusivamente formal. Enquanto as duas primeiras áreas são auto explicativas, o termo “desenvolvimento exclusivamente formal” exige alguma reflexão. ¶ Quando alguém está criando uma tipografia não diretamente gerada de um modelo existente, o que é preciso é estabelecer um discurso do ponto de vista da Biologia em que se relacione olhar e desenhar —entre retina e cortex. ¶ O Programa de Fundamentos, da Escola de Design de Basileia, Suíça, coloca uma grande ênfase no conhecimento da forma por meio do desenho. É no espaço tradicional dos ateliês de desenho que se ensina como fixar o movimento da retina ao movimento da mão. ¶ Para se ter sucesso neste processo, ensina-se que, é necessário que a mente esteja tranquila. A mão e a retina devem se movimentar simbióticamente em passos seguros que nos levam a produzir o traço físico, real. ¶ É por meio desse processo que podemos aprender a confiar não na mente, mas na retina. No olhar. Elliot Earls, Emigre #65, 2003
Lorenzo Apicella na FAAP, 2010
Cadernos doO lhar #3 Julho/Agosto/Setembro 2013
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