Grade, Grid, Grelha

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AS PÁGINAS Cadernos do Olhar AMA RELAS

Grade Grid Grelha por

Claudio Ferlauto


PÁGINAS AMARELAS de Cadernos do Olhar Verão 2021/Fevereiro Textos Hannah B. Higgins Claudio Ferlauto Tipografias Syntax/Hans Eduard Meier /Linotype Library Bodoni/Gianbattista Bodoni/Morris Fuller Benton/Adobe Editor Claudio Ferlauto Contato clauf4455@gmail.com Outras publicações de Páginas Amarelas disponíveis em www.issuu.com/olhargrafico — Hipômenes e Atalanta – A leitura de uma obra prima de Guido Reni por Marco Vacchetti — Perdida. E encontrada. – O que Ralph Waldo Emerson me ensinou por Jessica Helfand . — Tornozeleiras eletrônicas do design gráfico, 2007–2020, Claudio Ferlauto


Grids, grades, grelhas, o nome pode variar mas, simplificando, a ideia é uma estrutura que relaciona as partes com o todo, ou segundo Lévi-Strauss, grids podem exprimir a oposição entre o detalhe e a totalidade, entre o caos e a ordem, entre o individual e a sociedade como uma relação entre o módulo (ou o que contêm) e a estrutura. As famosas grids do design gráfico, criadas, inventadas, imaginadas por Joseph Müller-Brockmann nos anos 1940 e 1950, mais do que dividir o espaço gráfico/visual em colunas, espaços, linhas entre blocos de texto e imagens, representam a estrutura social, filosófica, econômica do período. Foram usadas como ferramenta para


organizar as estruturas da Europa destruídas durante a II Guerra Mundial. Estes princípios também foram utilizados na reconstrução das cidades, das malhas ferroviária e rodoviária e na remontagem das linhas de produção no pós-guerra. Hannah Higgins, em sua obra The grid book (MIT Press, 2009) cria uma narrativa que vai do tijolo paleolítico da antiga Mesopotâmia – a primeira grid modular desenvolvida – apoiada e empilhada – para construir prédios e cidades, até a Web”. Segundo a autora o tijolo permite erguer primeiramente a proteção individual contra as intempéries, em seguida, as muralhas que protegiam a comunidades de invasores e inimigos.


Estas estruturas urbanas, por sua vez, são projetadas na paisagem como um sistema de coordenadas cujas dimensões sugerem a medida do tempo, que é fundamental também para a composição/grid musical. Desta forma é preciso investigar qual é a grid dos dias de hoje. Ela deve fotografar representar, significar a complexidade do mundo social e tecnológico que nos envolve, como uma cebola, em camadas indissociáveis de nossa sensibilidade e razão. Não podemos representar a dinâmica e fluidez atuais com as mesmas ideias e ferramentas do mundo mecânico. O desconstrutivismo da escola de Cranbrook e a não-grid de David Carson são faces deste ordenamento não mais


A grid/grade é uma estrutura. Ela começa de modo simples: definir o que está em cima e o que está embaixo. O que vai à esquerda ou à direita.


Eixo do corpo humano

Linha do horizonte



fundado na produção, ou reorganização, mas agora no consumo. Para finalizar o introito, a autora afirma que com a invenção dos tipos móveis e a mecânica moderna (Newton) as grids puderam ser produzidas em massa, tornando-se efetivamente um espaço universal. Esse espaço tomou forma na pintura e nas caixas da arquitetura moderna, ao mesmo tempo que esvanecem rapidamente no éter da internet na WWW. As grids selecionadas pela autora são, além do tijolo (suas proporções 1:2:4 e suas dimensões –devem caber na mão humana– moldaram a cultura material do planeta) são: a tabuleta suméria, a malha


urbana, os mapas, a notação musical, as telas, a tipografia, as networks, e algumas outras. Todas integralmente incrustadas no DNA humano. Hannah B. Higgins é professora de História da Arte na Universidade de Illinois, mostra em sua obra que a grelha/grade/grid é mais antiga do que se imagina e tem suas origens em nossos ancestrais quando estes inventaram o tijolo em 9.000 a/C. A obra lança um olhar plural e subversivo (segundo Lorraine Wild, na quarta capa dfa obra) sobre aspectos da arte, do design, da arquitetura, da geografia e da sociologia que estão envolvidos nesse pensamento organizador criado pelo homem. A autora afirma que


a tabuleta suméria organizou as normas e convenções da vida social e criou proteções dos direitos individuais. Ela não exita em afirmar que Guttenberg inventou, em 1454, só um terço daquilo que chamamos de imprensa de tipos móveis –pois ele já conhecia uma série de prérequisitos como o papel, o [livro em forma de] codex, blocos de impressão para tecidos, pigmentos a base de óleos que induziram-no a sistematização do processo, com a ajuda de sua prensa de fazer vinho, que redundou na Biblia de 42 linhas, um dos primeiros livros e a primeira grelha/grade/grid tipográfica que viriam influenciar a confecção dos livros até os dias de hoje. CF 2006.


Hannah B. Higgins, The Grid Book Cambridge: MIT Press, 2009 ISBN 978-0-262-51240-4


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