2020 Lisboa–Gamboa 2021
Cumulus, acúlumulos e precipitações Claudio e Suiá Ferlauto
Cumulus, acúlumulos e precipitações
Claudio e Suiá Ferlauto
Transfiguração, Rafael Sanzio, 1516–20.
• On the road, Jack Kerouak.
Cara Suiá Escrever algumas poucas linhas todos os dias foi o que nos propusemos três semanas atrás. Ontem constatei que escrevinhei apenas em cinco dias, então tive uma inspiração, caída do nada, quando tive que dar uma parada para ir ao banheiro. Foi essa frase, meio desconfortável na narrativa do autor: — Lindas e formosas nuvens pairavam acima de nós. Nuvens do vale que nos permitiam compreender toda a vastidão da velha paisagem*. Eis o assunto: nuvens. Um tema banal que todos usam quando, sem inspiração, falam do bom e do mau tempo e engatam um diálogo sem graça, formal, burocrático e às vezes também nebuloso. Por aqui passaram-se dias de fantásticos espetáculos nebulosos da natureza. Shows contínuos, enquanto havia um pouco de luz no horizonte. Também nos encantam as nuvens na pintura pré e renascentista, de falsos céus no fundo de figuras religiosas — inclusive com anjinhos gorduchos — e de céus realistas em paisagens de retratos de poderosos como em Piero della Francesca, Artemisia Gentileschi, Rafael Sanzio e, em novas épocas, ah!, as nuvenzinhas de David Hokney. O outro assunto pode ser os sonhos, que como as nuvens, se dissipam no espaço e na memória pouco depois de despertarmos e ao entramos no metrô, já não temos a mais vaga lembrança do que sonhamos. Pois, não é que cai da rede de nossos olhos uma matéria que informa que o Museu de Londres está recolhendo sonhos sonhados durante a pandemia: — «Estamos entusiasmados de tomar parte desse projeto», diz o curador digital da instituição. «Recolher os sonhos dos londrinos não só documenta uma experiência compartilhada coletivamente, mas ajuda a estender a definição de ‘objeto de museu’ incluindo pela primeira vez sonhos em nossa coleção permanente». Abre-se dessa forma uma possibilidade para essa escrevinhança. GAMBOA, SC, 23 DEZEMBRO 2020
* https://super. abril.com.br/ mundo-estranho/ por-que-as-nuvens-tem-formatos-diferentes/
Querido Claudio Ontem o dia em Lisboa esteve predominantemente nublado, com uma espécie de garoa, uma chuva muito fina e fria, a cair ao longo do período. Acho graça em pensar que a chuva é uma forma de precipitação. Há dias não praticava escrita alguma, que não a de redigir projetos. Mas anotei as lembranças de um sonho, em que um burro deitava sobre o sofá da sala, como um grande cão. Ocorreu-me se não seria por conta das lembranças recentes das noites de Natal em Porto Alegre, especialmente da cena do presépio. Quando se trata de nuvens, talvez meu artista favorito seja John Constable, cujas pinturas tive a oportunidade de ver em Londres. Seus estudos eram ainda mais suculentos. Alias poderia dizer o mesmo sobre os cadernos de William Turner, a meu ver bem mais interessantes que suas grandiosas e dramáticas telas — bem não me ouçam meus amigos pintores. Minhas memórias de infância, e uma certa urgência feminista, trazem ainda a referencia das nuvens de Carmela Gross na coleção no MASP e sua série de desenhos intitulada Projeto para a construção de um céu. Penso que, como fenômeno atmosférico, as nuvens tem o poder de exercer grande encantamento e assombro. São comumente associadas a processos de projeção e fabulação, também presentes nos sonhos. Já como matéria têm essa qualidade transitória e impalpável do vapor, mais leve que o ar, manifestação de um estado. Aaah para mim são também especies de naves, ou meios de transporte planetários que atravessam continentes e oceanos a carregar partículas daqui e dali. Pesquisei sobre as diferentes classificações de nuvens*, dependendo da altitude e do formato:
Cumulonimbus
Nimbostratus Suiá
Altocumulus
Cumulos
Study of clouds, Salisbury, John Constable 1829.
– ALTOCUMULUS, tufo arredondado com traços suaves e regulares, situado entre 2 mil a 5.500 metros de altitude. Geralmente é uma pequena nuvem que se agrupa sem perder o formato original, graças à estabilidade das correntes de ar; – CIRROCUMULUS, parecidas com um grão branco, juntam-se a outras formando o «céu de carneirinho». Situadas entre 5 mil a 12 mil metros de altitude, são espaçadas em intervalos regulares e, às vezes, formam uma textura encrespada; – LENTICULARIS, um tipo de altocumulus que se forma quando uma massa de ar sobe pela encosta de uma montanha. Chegando ao topo, ela se expande, resfria e fica pairando ao redor do pico; – NIMBOSTRATUS, nuvem densa e cinzenta, com aspecto uniforme e base dispersa, responsável por carregar — e descarregar — chuva e neve. A luz do Sol nunca atravessa essa nuvem. – Há ainda, CUMULUS, STRATOCUMULUS, GLÓRIA DA MANHÃ, CIRRUS, CIRROSTRATUS, ALTOSTRATUS, STRATUS, CUMULONIMBUS…
Então pensei que falar de ‘nuvens’ poderia ser tal qual falar de ‘pessoas’, ‘azul’, ‘cadeiras’… tão genérico ou tão abstrato quanto… Paulo tinha um pequeno livro sobre nuvens, que no entanto nunca li, mas que agora gostaria de ter em mãos… aliás acabei de compra-lhe um livro do neurocientista Sidarta Ribeiro O oráculo da noite: A história e a ciência do sonho. Gosto muito dessa associação nuvem-sonho. LISBOA, 24 DEZEMBRO 2020
Projeto para ler nuvens Rabiscamos na cabeca um projeto para ler nuvens, simples e prático, que não foi adiante. Na beira do mar, olhamos o céu e procuramos figuras nas manchas nebulosas lá no fundo do horizonte, essas cenas são, na mais das vezes, rápidas, mutantes, arbitrárias. Ali a cabeça de um cachorro, lá uma baleia, um rosto, acolá um pequeno mamífero que pode ser um esquilo ou um preá. Essas imagens logo se esvanecem, um jeito metido a besta de desaparecer. As nuvens não nos enxergam embora possam formar imagens com grandes olhos, mas temos a certeza de que quem tem olhos, definitivamente, somos nós. Os olhos procuram agulhas em palheiros celestes, pelos em ovos aéreos, sarna para se coçar em nimbos e cumulos do céu ao entardecer, como a figura de um bichano preguiçoso, de olhos semi fechados, sobre um colchão de algodão doce. Hoje é o sétimo dia que escrevemos — não é muito — e como toda sétima jornada deveria ser hora de descansar nessa reclusão forçada. Não escrevo, mas ficamos a pensar no que escrever, ou seja, escrevendo mentalmente, arranjando as ideias sem a materialidade sonora da fala e visual da palavra. Pensamos nas nuvens
que formam figuras e entendo que quem as cria é nossa capacidade de imaginar, de criar imagens, que inventamos quando desprestamos atenção ao banal. Mas mesmo olhando com atenção, salvo talvez em Arcimboldo ou Salvador Dali, não encontramos em muitas obras, figuras escondidas nas nuvens, sugerindo sonhos inseridos subrepticiamente na mente através do olhar. Outra coisa e para finalizar John Berger nos lembra que o céu está repleto de figuras femininas como Ursa Maior, Três Marias, Estrela Dalva, e de pequenos animais – raposas, cães, baleias, peixes, cobras, ursos, pássaros, cavalos, lagartos, etc. Uéé, uéé nuvoleta em lágrimas (que também se esvanecem no tempo). GAMBOA, SC, 26 DEZEMBRO 2020
…tenho os pés muito frios e meto-me debaixo das cobertas. CF Leio novamente sua carta, ou melhor, projeto para ler nuvens, e por alguns segundos me imagino em correspondência, sentada sob a escrivaninha em frente à janela do quarto a observá-las e classificá-las segundo meus próprios critérios e designações. Logo desisto, pois tenho os pés muito frios e meto-me debaixo das cobertas. Já contei-lhe ao telefone que encontrei o tal livrinho, O jogo das nuvens de J.W. Goethe. Comprei-o antes do ano findar, numa livraria em Lisboa. É uma espécie de diário ilustrado de observação das nuvens, em que o autor se ocupa sobretudo da morfologia, a partir do desejo de, segundo ele, «dar forma ao informe, de encontrar um principio que possa reger a infinita mutação das formas». Para isso
baseia-se na classificação adotada até os dias atuais, do meteorologista amador inglês, Luke Howard, datada do inicio do século XIX. Encontro especial interesse nesse livro pelo fato de estar no limiar entre artístico e cientifico. Por ser singelo e despretensioso. Depois fiquei a pensar sobre o que você disse, que poucos artistas visuais retrataram as nuvens conforme esse outro jogo, o da imaginação. Isso acende minha curiosidade, e penso que só mesmo os surrealistas o fizeram. Também Magritte. Retorno àquela primeira proposição de que as nuvens são como sonhos, e afinal esses são manifestações do nosso inconsciente, matéria primordial do surrealismo. Sinto que minha escrita é incapaz de conter tudo o que ansiava dizer ou mesmo compartilhar… Sinto meus pensamentos informes como as nuvens, dividindo-se entre o desejo de serem científicos e artísticos, entre empírico e teórico. Por vezes é minha vida que vejo se dissolver num céu infinito de possibilidades, que repetidamente me lança ao um vazio de propósitos. Em Carcavelos agora a temperatura é de 8ºC, o céu está limpo, vento norte a 18km/h, pressão 1017hPa. beijinhos Suiá
13 janeiro 2021 Bem, teu último texto tem argumentos e imagens comprobatórias que destroem essas afirmativas anteriores — «…salvo talvez em Arcimboldo ou Salvador Dali, não encontramos em muitas obras, figuras escondidas nas nuvens, sugerindo sonhos …», mas vemos agora um trombone e até uma cadeira; se bem que
Le Temps Menaçant, René Magritte, 1929.
Uéé, uéé nuvoleta em lágrimas.
pensávamos em imagens escondidas ou, disfarçadas nas manchas brancas e azuladas de um cenário renascentista que eventualmente emoldurava o retrato de uma virgem ou, de alguma aristocrata veneziano… Não abriremos parágrafo nesta transmissão dificultando, portanto, a leitura, ou introduzindo objetos e ideias dissimuladas nas entrelinhas como uma tentativa de esconder entre as palavras, quiças entre sílabas, um grande instrumento musical para provocar inveja a um Magritte extemporâneo. Agora, enfim confessamos: estamos um tanto vazio de propósitos e nos ocupando com coisas práticas como lavar a louça, pintar paredes, reformar degraus de escada e perseguir cupins. No tempo vago aproveitamos para acompanhar as manobras aéreas de todo tipo de pássaro local — piro-piro, gaivota, fragata, garça, urubu, aracuã, pombo, bem-te-vi, tico-tico, sabiá, corruíra, beija-flor — nos cenários nebulosos de suas voanças, onde bem escondido um gato branco espreita os ares, na esperança que um voo em falso, faça, pelo menos, um deles cair nas suas garras. Claudio
14 janeiro 2021 Ah mas eu nunca quis destruir ou argumentar coisa alguma… gosto de estar simplesmente imersa nessas nuvens todas, sejam elas ficcionais, reais, digitais, oníricas… em modo de especulação. Hoje mesmo me ocorreu a ideia de classificá-las conforme sua semelhança com pinturas e estilos da história da arte. Como essas Nuvens-Léger, por exemplo, que passaram o dia no horizonte da sala de estar. Ou as Nuvens-Courbet que vi outro dia sobre o bosque que alcança a praia de Carcavelos. Nuvens-Gris, que além de
ser o sobrenome de um pintor, é também cinzento em francês. Palavra certa, artista errado. Eu bem que queria ver um trombone escondido entre palavras. Minha memória me pregou peças e demorei a lembrar do nome do Léger. Tive que recorrer à nuvem, e buscar «pintor cubista professor da Tarsila do Amaral». A memória é como um bicho silvestre que foi domesticado e por vezes retorna ao seu habitat natural. Das coisas que mais gosto disso, talvez seja perceber no jogo da imaginação o que pensa em mim, o que incontinente sonha, larga atos falhos, palavras falhas, trocadilhos, erros de digitação, correções automáticas. Seguimos. Suiá.
os céus artificiais de Van Gogh… 18 janeiro 21 Fugimos um pouco, por preguiça ou por sagacidade, da discussão das nuvens pictóricas, nossos interesses e preferências ainda permanecem com as pinturas tradicionais. Consultamos a memória e um buscador da rede na esperança de encontrar uma resposta pronta nos céus dramáticos de Turner, os céus, diríamos, artificiais de Van Gogh, os muito sutis de Cezanne ou o rubro céu de O grito’ de Munch, mas nenhum deles nos remete a ideia religiosa do habitat dos deuses mitológicos ou daqueles (deuses) que lutam contra demônios e infernos. Céus divinos, que tanto nos impressionavam na infância, nas aulas de catecismo, nos retiros espirituais, em pinturas da Ascensão de Jesus e da Assunção de Maria e, que encontramos em obras encomendadas pela igreja no antes, durante e depois do Renascimento, ainda perambulam na memória. Céus alegóricos, quase
cenográficos, mas com uma qualidade pictórica que transmitiam um sentimento espiritual e emocional comovente, continuam presentes em simulacros de segunda categoria, nas discutíveis imagens das religiões contemporâneas. Claro que, com o passar dos tempos e das aulas de história da arte na faculdade, passamos a prestar mais atenção nas pinceladas, nos tons de azul, cinza e na força dos brancos, pensando e agindo quase como faria um fabricante de tintas para pintura. Também, como na observação diária dos céus, surpreendemo-nos com a quantidade de soluções visuais das nuvens nos céus da pintura do século XX. Em Edward Hopper, as nuvens não são protagonistas, mas comportadas coadjuvantes da cena, muito semelhante ao papel delas nas paisagens de David Hokney onde completam telas com simplicidade parecendo, em alguns casos, céus de desenhos infantis. No momento, na Gamboa — terra de açorianos — o dia está fechado, quer dizer nublado, o entorno confuso, a mente ocupada com pequenos conflitos como em «céus» modernistas das Composições de Kandinsky e das Constelações de Miró, que por razões transversas propõem espaços para nuvens e sonhos em outras dimensões. Era isso, por enquanto, nesse projeto Lisboa – Gamboa, em 2021, ano da pandemia Covid 19.
Querido pai, Posso entender a preguiça. Também às vezes penso que se pode libertar do tema, e que podemos faze-lo sem pudores, sem compromisso de corresponder, embora sinta bastante afeição e apego pela proposição nuvem-sonhosdequarentena. Talvez eu esteja a confundir sonhos com delírios. As coisas mais banais e despropositadas do dia-a-dia parecem agora alucinação.
Depois percebo que estamos a retornar, sim, às pinturas religiosas e às nuvens de David Hockney sobre as quais escrevinhastes anteriormente, e tenho curiosidade de saber como seriam essas nuvens? Apetece-me dessa vez degustar melhor as imagens que são também suas memórias e que por alguma razão se fazem presentes de novo, como sonhos recorrentes. Tenho sonhado com freqüência com a casa da Cantareira, por exemplo. E penso que isso quer dizer qualquer coisa a respeito do meu lugar de origem, que permanece lá, apesar de todas as mudanças da vida. Ontem, pela primeira vez tive medo da morte e em nada me lembrei de deus nem do céu nem das nuvens nem dos anjos. Pensava apenas no ar em meus pulmões. O que vive não entorpece O que vive fere O que vive incomoda de vida O silencio, o sono, o corpo Que sonhou cortar-se Roupas de nuvens O que vive choca Tem dentes, arestas, é espesso Reencontrei esses versos de João Cabral de Melo Neto em um caderno, enquanto fazia arrumações. E na mochila, ainda estava a folha de papel higiênico estampada com desenhos de nuvens que guardei como testemunho das coincidências. Ainda outro dia estava deitada no chão do quarto, próxima a janela, a seguir instruções de uma aula online e em momentos de distração observava o céu a se transformar rapidamente, pelo movimento das nuvens, que hora emolduravam
um fundo azul, hora o embranqueciam, outra hora juntavam-se ao branco das esquadrias da janela e ao meu blusão fofinho de ovelha sintética. Nuvem era o meu apelido e minha figura na aliança de casamento e nos lençóis bordados a mão. Lençóis que ninguém quis conservar, anel que perdi antes mesmo do fim. Estava a dizer que gosto desse tema, que já não quero nem posso me desfazer dele. Ou se o faço, precipito-me, então volto a evaporar e a me conformar e condensar. Enfim, não precisamos falar de pinturas. Podemos falar das memórias de infância e de papel higiênico. Espero que estejam bem por aí Amor, Suiá, 26 janeiro 2021.
Su Nos últimos dias prestamos muita atenção nas nuvens embora, diferentemente de dias atrás, observamo-as pelas frestas das edificações na cidade. Revejo em desenhos antigos e recentes como representamos o céu, cobrindo-os de nuvens discretas, colocadas ao fundo, apenas para completar o retângulo de papel
• Cem anos de solidão, Gabriel Garcia Marquez.
e por exigência da composição… Em uma ou outra paisagem podem ter sido planejadas e cumpriam algum papel na composição, mas assim mesmo revendo-as casualmente numa tarde modorrenta e abafada, desligadas das lembranças do momento em que pintamos, agora mostram um aspecto dramático ganhando novo sentido, ao descolar-se do papel secundário para dominar o horizonte. Claro que não saberíamos dizer se elas emocionam um outro observador, ou se esse percebe alguma nuance de dramaticidade nelas, ou se despercebem dela displicentemente. — Olha ali no canto esquerdo aquele traço parece uma serpente psicodélica… Bem precisamos levantar desta mesa, um esforço descomunal para romper a inércia, para olhar de perto aquelas manchas. Observamos atentamente e um quase nada, pouco visível, comprova o imaginado e o pintado. — Hoje não temos sonhos, não temos memórias. Estamos aqui esperando o futuro chegar, todavia ele ainda não apareceu. CF, São Paulo, 31 janeiro 2021 PS. Choveu sem parar de quinta a feira até sábado pela manhã. Durante todo este tempo a casa esteva sombria e surgiram goteiras por toda parte, nos lugares de sempre e em recantos inesperados. As luzes acesas durante o dia lembravam o teto do céu de nuvens sólidas e sua promessa de permanência. Nuvens pesadas de um Turner em preto e branco, reproduzidas de um antigo livro impresso com tipografia de metal. E num momento quase de desespero se deu conta que as nuvens e o peso de chumbo do céu, uma hora, não muito distante, se dissipariam como mágica, se abririam em um palco de luzes como sempre acontecia na infância. Sentou-se na varanda, embrulhado na manta e sem tirar as botas, como que esperando apenas que estiasse, e permaneceu a tarde inteira vendo a chuva cair sobre as begônias*. E esperou 100 anos, paciente como Aureliano Buendía, em meio a solidão. Buenos dias.
Berger, John. Modo di vedere. Torino, ed Bolati Bolinghieri, 2015 Goethe, Johann Wolfgang. O jogo das nuvens seleção.Tradução, prefácio e notas João Barrento. Porto, Assírio & Alvim - Porto Editora, 2012. Ribeiro, Sidarta. O oráculo da noite: A história e a ciência do sonho. São Paulo, Companhia das Letras, 2019. Desenho/capa Pedro Ferlauto Sabatino Fotos dos autores Lisboa, Gamboa, São Paulo, novembro, dezembro de 2020, janeiro, fevereiro, março de 2021
2020 Lisboa–Gamboa 2021
Cumulus, acúlumulos e precipitações Claudio e Suiá Ferlauto