'Un coup de dés', Stephan Mallarmé,+ trecho de Octavio Paz/'Marcel Duchamp ou O Castelo da Pureza'

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STÉPHANE MALLARMÉ

UN COUP DE DÉS JAMAIS N’ABOLIRA LE HASARD

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CACHORROLOUCO


Pierre-Auguste Renoir, 1892

Cadernos do olhar/Claudio Ferlauto Quarentena 9 abril 2021 Contato clauf4455@gmail.com



¶ Octavio Paz, 1968. Marcel Duchamp ou O Castelo da Pureza “A arte de Duchamp é intelectual e o que nos revela é o espírito da época: o Método, a Ideia crítica no instante em que reflete sobre si mesma – no instante em que se reflete sobre o nada transparente de um vidro. O antecedente direto de Duchamp não está na pintura mas na poesia: Mallarmé. A obra gêmea do ‘Grande Vidro’ é ‘Un coup de dés’. Não é estranho: apesar do que pensam os vaidosos críticos da pintura, quase sempre a poesia se adianta e prefigura as formas que as outras artes adotarão mais tarde. A moderna beatice que rodeia a pintura e que nos impede de ‘vê-la’, é apenas idolatria pelo objeto, adoração por uma coisa mágica que podemos apalpar e que, como as outras coisas, pode vender-se e comprar-se. É a sublimação da coisa em uma civilização dedicada a produzir e consumir coisas. Duchamp não padece desta cegueira supersticiosa e sublinhou com frequência o origem verbal, isto é: poética, de sua obra. Em relação a Mallarmé não pode ser mais explícito: “Uma grande figura. A arte moderna deveria retornar à direção traçada por Mallarmé: ser uma expressão Continua





¶ intelectual e não meramente animal…” A semelhança entre ambos os artistas não provém de que ambos revelem preocupações intelectuais em suas obras, mas em seu radicalismo: um é o poeta e o outro é o pintor da Ideia. Os dois se defrontam com a mesma dificuldade: no mundo moderno não há ideias, mas crítica. Mas nenhum dos dois se refugia no ceticismo ou na negação. Para o poeta, o acaso absorve o absurdo; é um disparo para o absoluto que, em suas mudanças e combinações, manifesta ou projeta o próprio absoluto. Nesse número em perpétuo movimento que roda desde o princípio até o fim do poema e que se resolve em talvez-uma-constelação, inacabável conta total em formação. O papel que o acaso desempenha no universo de Mallarmé, assume-o o humor, a metaironia, no de Duchamp. O tema do quadro e do poema é a crítica, a Ideia que sem cessar se destrói a si mesma e sem cessar se renova. Em Os signos em rotação (é mau citar-se, mas pior é parafrasear-se) esforcei-me por mostrar que ‘Un coup de dés’, “poema crítico, não só contém a sua própria negação como essa negação é o seu ponto de partida e substância […] o poema crítico se resolve em uma afirmação condicional – uma afirmação nutrida por sua própria negação.”






















STÉPHANE MALLARMÉ

UN COUP DE DÉS JAMAIS N’ABOLIRA LE HASARD

CACHORROLOUCO


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