E s c o l a S e c u n d á ri a Ja i m e M o n i z | R e v i s t a n º 1 5 | S e te m b ro / D e ze m b ro 2 0 0 7 | 1. 5 €
Estamos a comemorar, no presente ano lectivo 2007/2008, 170 anos da nossa instituição, Liceu/Escola Secundária Jaime Moniz. Ao longo do ano iremos realizar um conjunto de iniciativas culturais, debates, conferências, colóquios, painéis, encontros, com o objectivo de sensibilizar e mobilizar a nossa comunidade educativa para o reavivar da nossa memória colectiva e também dar a conhecer à sociedade civil o que fomos, o que somos e o que pretendemos ser. Os números da revista o Lyceu centrar-se-ão, de um modo muito especial, na comemoração dos 170 anos, reflectindo o nosso percurso secular, a nossa história, a nossa cultura organizacional e as pessoas que, com o seu engenho e arte, contribuíram para engrandecer a nossa instituição. Este evento constitui um marco importante para podermos reflectir sobre o nosso passado, sobre tudo aquilo que foi feito em prol da educação na Madeira, sobre o papel, deveras importante, de muitos professores e funcionários que deram o melhor das suas vidas pela nobre causa da educação e que jamais poderão ser esquecidos. Celebrar os 170 anos da nossa instituição é também avivar na nossa memória os milhares de jovens, da Madeira e do Porto Santo, 140.000 aproximadamente, que passaram pela nossa Escola e que nos seus verdes anos sonharam com um futuro melhor e aprenderam a ser os homens do amanhã. Celebrar os 170 anos é também um momento importante da nossa afirmação como uma grande Escola, que se quer de Qualidade e de Excelência e que seja uma referência de inovação e de sucesso escolar no contexto educacional da Região Autónoma. Nós, herdeiros de um património histórico-cultural e escolar rico e multifacetado, temos que nos sentir orgulhosos e perpetuar esse legado para as gerações vindouras. Jorge Moreira - Presidente da Direcção Executiva
Ficha Técnica Breves
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Nº 15 - Setembro / Dezembro 2007
Bênção das Capas
10
Dixit
16
Director: Jorge Moreira
O Liceu Jaime Moniz
18
Revista O Lyceu
Falando com ... Testemunhos do Liceu
42
Poesia
49
Revisão: Vanda Gouveia - Grupo 300
Manuel Caldeira
50
Fotografia: António Freitas - Grupo 520 Micaela Martins - Grupo 300
Ciência Aberta - Cerne
52
Capa: António Freitas - Grupo 520 José Gouveia - Grupo 600
Projecto COMENIUS - Sócrates
56
Sociedade de Informação e as Tic na Educação
58
Manifesto em prol dos afectos
65
Curso de Inglês
66
Foto Agrafar Emoções
67
Bilhete Postal
68
Português.com
69
Passatempos / Páginas Choque Mate
70
Escola Secundária Jaime Moniz Largo Jaime Moniz 9064 - 503 Funchal Telef.: 291202280 Fax: 291230544 E.mail: olyceu@gmail.com
Coordenadores: António Freitas - Grupo 520 José Gouveia - Grupo 600 Luís Martins - Grupo 500 Micaela Martins - Grupo 300 Vanda Gouveia - Grupo 300
Colaboração: Toda a Comunidade Escolar Todos os artigos de opinião são da responsabilidade dos autores. Agradecimentos: À Direcção, bem como a todos quantos contribuíram para que este projecto se tornasse realidade e, em especial, às professoras Elizabete Cró e Fátima Marques e aos nossos entrevistados. Tratamento de Imagem, Arranjo Gráfico e Montagem Electrónica: José Gouveia - Grupo 600 Impressão e Acabamento: Liberal Tiragem: 1000 Exemplares
No dia 19 de Junho de 2007, pelas 11h00, na Ludoteca do Parque Santa Catarina, os professores António Freitas e Fátima Freitas, da Escola Secundária Jaime Moniz, receberam o primeiro prémio referente ao concurso “Uma Escola, Um Jardim”, dinamizado pela Câmara Municipal do Funchal. Este projecto contou com a participação indispensável dos alunos do 10º ano de Ecologia da turma 10º 35. É de salientar que os professores e alunos envolvidos trabalharam de forma voluntária. A todos o nosso obrigado.
O Dia Mundial do Turismo (27 de Setembro de 2007) foi comemorado na Região Autónoma da Madeira. Aproveitando esse facto, a Escola Secundária Jaime Moniz com a colaboração da Secretaria de Estado do Turismo e da Secretaria Regional do Turismo e Transportes convidou os dois Secretários de Estado (Dr. Bernardo Trindade e Dr.ª Conceição Estudante) e os Doutores: João Carlos Abreu; António Trindade; José Pedro Trindade e Gonçalo Monteiro para fazerem intervenções acerca da importância do turismo para esta Região Autónoma. Os destinatários foram três turmas de alunos do 11.º ano que questionaram os oradores, tornando as aulas vivas e muito interessantes. Para que o dia não fosse esquecido, a Secretaria de Estado mandou distribuir blocos e esferográficas por todos os alunos da Escola. Promoveu também um concurso (fotografia e texto) a nível de escola com três aliciantes prémios: Viagem a Lisboa acompanhados pelos Pais (1.º prémio); duas máquinas fotográficas digitais (2.º e 3.ºprémios). Elisabete Cró e Fátima Marques - Coord. das ACC
Breves
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A Escola Secundária Jaime Moniz comemorou o Dia do Projecto Europeu: Regresso à Escola com uma conferência intitulada: AS Regiões Ultraperiféricas / O tratado da União - Aspectos Consensuais e Aspectos Controversos. O prelector, Dr. Paulo Silva, na sua apresentação, falou da importância deste Projecto, sobretudo no que diz respeito às Regiões Ultraperiféricas, a pertinência da subsistência económica e das ajudas dadas para o desenvolvimento quer no campo dos transportes, quer na economia empresarial. Referiu a necessidade de alargar horizontes culturais, facto sempre presente na sua alma de ilhéu, que talvez o tivesse levado a trabalhar em Bruxelas após o curso de Direito. Por fim, fez uma súmula de aspectos consensuais e controversos desta instituição. Os alunos puseram várias questões sobre a administração dos apoios e mostraram a sua preocupação relativamente ao drama e custos da insularidade. Esta acção realizou-se no Auditório, no dia 09 de Outubro de 2007, teve a duração de duas horas e dirigiu-se a Alunos, Professores e Funcionários. Elisabete Cró e Fátima Marques - Coordenadoras das ACC
No dia 10 de Outubro de 2007, o Liceu celebrou o seu 170º aniversário. Uma comemoração simbólica reuniu alguns docentes e funcionários, à entrada da Escola, para cantarem os parabéns ao Liceu. Neste evento, esteve presente o Presidente da Direcção Executiva, que destacou, no seu discurso, o contributo e o prestígio que esta instituição tem conferido à Região. Além deste gesto simbólico, foi distribuído às portas da Escola, a toda a comunidade escolar, um marcador comemorativo dos 170 Anos, onde figuram dois dos espaços físicos inscritos na história da instituição, o mais remoto e o actual, que celebra também neste ano os seus 65 anos. Ainda no âmbito das comemorações, foi colocada uma faixa à entrada da escola que destaca as datas 1837 e 2007, ou seja, o período de existência do Liceu. Esta foi estrategicamente colocada à entrada da escola para anunciar a toda a comunidade local a efeméride.
Teve início no dia 10 de Outubro o Curso de Formação de Língua Portuguesa - Expressão Escrita e Oral, destinado ao Pessoal Auxiliar desta Escola. Ao longo do ano lectivo, às quartas-feiras, entre as 15.00 e as 18.00H, os Senhores Funcionários poderão relembrar as regras fundamentais do funcionamento da nossa língua. O Conselho Executivo agradece à Dra. Maria da Fonte Coelho que, sem hesitar, aceitou o desafio proposto, assim como aos Funcionários que se inscreveram no referido curso para poderem aumentar os seus conhecimentos, tendo em conta a sua realização como pessoas e o seu desempenho profissional. Ana Isabel Freitas - Grupo 300
No dia 17 de Outubro de 2007, no Auditório da Escola Secundária Jaime Moniz, houve uma conferência subordinada ao tema “Aproximação aos Desfavorecidos, comemorando o Dia Mundial Contra a Pobreza e a Exclusão Social, que teve como prelector o Dr. Filomeno Paulo Gomes, Presidente do Conselho de Administração do Serviço Regional de Saúde. O orador começou por lembrar a importância da reciprocidade no acto de aceitação do próximo e, numa abordagem directa ao tema, falou dos que mais carecem de cuidados: os idosos e as crianças. Segundo a sua opinião, os apoios dos Lares ou Centros, por melhor que sejam, não colmatam o amor dos familiares nestes dois níveis etários, saindo os idosos muito fragilizados e, por vezes, com fortes tendências depressivas. A mensagem transmitida deixou bem clara a urgência de nos reposicionarmos relativamente ao nosso semelhante de forma mais activa e menos teórica. Os presentes aludiram a casos particulares, formularam questões e concluíram que neste nosso mundo o altruísmo não era uma das melhores características do Homem. Elisabete Cró e Fátima Marques - Coord. das ACC
No passado dia 17 de Outubro de 2007, a turma 11º 31 realizou uma visita de estudo à Direcção Regional de Pescas do Funchal, com o intuito de complementar as aulas de Geografia, visto que o primeiro tema do 11º Ano na disciplina são os “Recursos marítimos”. A visita foi coordenada pela professora Filomena Soares e teve início pelas oito horas e trinta minutos da manhã, terminando por volta das doze horas e trinta minutos da tarde. Depois da chegada ao Porto do Funchal a turma teve algum tempo para observar as instalações e tirar algumas fotografias. Em seguida iniciou-se a visita. Filomena Soares e Fernando Santos - Grupo 400
Breves
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No dia 18 de Outubro de 2007, no Largo do Museu, foram a votos as listas concorrentes à Comissão de Finalistas do ano lectivo 2007/2008, a Lista A e a Lista B. Numa só volta, 472 dos 705 alunos de 12º Ano votaram, tendo-se, então, registado uma taxa de abstenção na ordem dos 33%. Do escrutínio, resultaram um voto branco; seis nulos e 465 votos válidos, que foram distribuídos pelas duas listas concorrentes. Assim, com 258 votos, a Lista A habilitou-se ao cargo e, com 207, saiu derrotada a Lista B. A registar apenas que houve uma maior afluência à urna no turno da manhã.
No dia 26 de Outubro de 2007, o Liceu colaborou no peditório da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Deste modo, diversos foram os docentes que participaram nesta actividade nos turnos da manhã e da tarde, em postos colocados no hall da entrada principal, em frente à reprografia dos professores, no rés-do-chão, e à entrada do anexo.
No final de Outubro de 2007, a equipa editorial da revista “O Lyceu” iniciou a publicação de informação sobre eventos a aconteceram e de notícias sobre acções levadas a cabo na Escola. Com esta iniciativa pretende-se promover uma maior interacção dos alunos e actualização da revista, que, assim, está em constante construção. Deste modo, a Comunidade Escolar pode consultá-la em http://www.jaimemoniz.com.
No dia 1 de Novembro de 2007, o movimento Graal celebrou as suas bodas de ouro. Este movimento internacional de mulheres, trazido para Portugal por Maria de Lourdes Pintasilgo e por uma mulher com raízes madeirenses, Maria Teresa Santa Clara Gomes, continuou a sua existência através do projecto do Banco do Tempo, acolhido pela Escola Secundária de Jaime Moniz, onde é dinamizado por um grupo de professoras, nomeadamente, Maria do Carmo Dória Monteiro Araújo, Graça Silva e Lídia Barbeito. O entusiasmo e o empenho na dinamização da Escola têm feito desta agência do Banco do Tempo um exemplo ao nível nacional.
No dia 31 de Outubro de 2007, no Auditório da Escola, houve uma conferência subordinada ao tema “Poupar para Enfrentar o Futuro”, no âmbito do Dia Mundial da Poupança, que teve como prelector o Sr. Ricardo Pestana, Director do Centro de Particulares e Institucionais da RAM - BANIF. O orador apresentou uma sucessão de diapositivos para, de uma forma leve, sugerir uma melhor gestão das economias, direccionando o seu discurso para os mais jovens. Depois enumerou várias formas de poupança: Campanha Geração + (100 euros – 80 euros + 20 euros, sendo estes 20 euros oferecidos pelo banco); Poupança 25 anos - (0 - 25) esta pressupõe uma conta desde o nascimento, muito procurada pelos pais que assim proporcionam aos filhos algum capital; Conta Poupança-habitação, esta facilitará a aquisição de casa; Crédito para Estudos, só devolvido após o beneficiado se encontrar no mercado de trabalho. Este crédito mereceu especial atenção dado o facto de nos encontrarmos numa ilha e termos gastos acrescidos. Outras propostas houve, no entanto, ficam as mais pertinentes. Para concluir, esta forma de estar na vida permite fazer gastos e comprar sonhos, embora de uma forma contida, visto ser fruto de um esforço pessoal. Elisabete Cró e Fátima Marques - Coord. das ACC
No dia 10 de Novembro de 2007, no âmbito das comemorações do 170º aniversário da Escola Secundária Jaime Moniz, foi emitido, em directo, da nossa Escola o programa da RTP-Madeira "Atlântida", orientado pela jornalista Maria Aurora. Entre os participantes deste evento, contámos com a presença do Presidente do Conselho Executivo, Dr. Jorge Moreira, da Dra. Fátima Marques, elemento da equipa de Coordenação das Actividades de Complemento Curricular, e de alguns exalunos, nomeadamente, o Dr. Virgílio Pereira, Ex-Presidente da Câmara Municipal do Funchal; Nuno Miguel, caloiro do curso de Medicina; Nini, decoradora, e o convidado especial Dr. Thierry Proença dos Santos, professor da Universidade da Madeira, que veio falar sobre Horácio Bento de Gouveia. Estavam também presentes alguns docentes aposentados e em actividade, funcionários e discentes. Este evento reuniu espectáculos de dança, no âmbito Clube de Dança, e de ginástica rítmica, coordenados por docentes da Escola. Além destas actividades, foram apresentados, pelo Dr. José António Gouveia, do grupo 600 – Artes Visuais, trabalhos de artes plásticas realizados por alunos da Escola, no âmbito das disciplinas leccionadas dentro do seu grupo docente, e algumas das iguarias confeccionadas pela equipa de cozinheiras da Escola, reveladas pela D. Maria José.
Breves
No dia 23 de Junho de 2006, a Escola Secundária de Jaime Moniz viveu um momento de descontracção apreciado por muitos, o Jantar dos Santos Populares. Neste, além da refeição alusiva à época celebrada, com o atum, as batatas, as maçarocas e outras iguarias, os intervenientes tiveram a possibilidade de comprar rifas, cujos prémios eram os desejados martelos, apitos, manjericos e algumas guloseimas. Os momentos de alegria prolongaram-se por algumas horas, com cantorias e danças e com uma réplica das tradicionais marchas populares.
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Bênção das Capas tendo uma
A
conotação
religiosa
é,
para
muitos, uma celebração mera-
mente ecuménica. Para outros, nos quais me incluo, é simplesmente parte de uma tradição que, no interesse do não desfasamento da nossa identidade estudantil, quer-se cumprida e respeitada. O Dia da Bênção das Capas será como um culminar de todo um trabalho que vem sendo desenvolvido há 12 anos, constituindo-se como a afirmação e a dignificação de todo esse esforço. João Diogo - 12º 30
Bênção das Capas
meu ver, o Dia da Bênção das Capas no seu todo (cerimónia religiosa e baile de
A
finalistas) é um dia razoavelmente especial. Simboliza a passagem pelo último ano do secundário em direcção ao ensino universitário. Joana Fonseca - 12º30
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dia da Bênção das capas é, sem dúvida, um dia muito especial. Vou dizer o que sinto, evitando usar o lugar-comum ”é o fim de mais
O
uma etapa”.
Para além de vestir um smoking, ir à igreja e ser abençoado (espero que bem abençoado) significa que, de facto, já me sinto bem adulto (ainda jovem!). O “peso” da capa é o peso da responsabilidade de terminar o 12.º ano e reflectir seriamente sobre o futuro. É o não querer desiludir os que me são próximos e queridos e isso também se estende aos meus professores. É o culminar de uma etapa de sonhos, de muito trabalho para os conseguir e muitos sacrifícios. É a sensação de que vale a pena o esforço. Pedro Nuno Tranquada Gomes - 12º 9
Bênção das Capas
O dia Abeirou o dia! Ao amanhecer a brisa refresca-te a mente e faz-te sorrir, À tardinha sentes que ninguém te pode vencer, E a noite será loucura! Não estás só, tens uma capa sobre os ombros! Tens uma vida por completar. Já estás a metade do caminho. Grita vitória! Vida de estudante pouco tempo de descanso nos dá! Bons momentos nos proporciona… Liliana Rodrigues - 12º 30
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odos nós iremos atribuir uma concepção diferente ao dia da Bênção das Capas,
T
todavia haverá um brilho comum nos olhos de todos os estudantes que vão participar.
Neles reflectem-se a alegria e o orgulho de estar a um passo do mundo Universitário. Cristina Faria - 12º40
Bênção das Capas
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pesar de não reconhecer a data da Bênção das Capas a mais indicada, uma vez que o ano lectivo está a decorrer, este dia será
A
importante para mim, em primeiro lugar, porque sou finalista e, como tal, encerro uma etapa da minha vida escolar, e depois recordarei bons momentos, bem como estarei com algumas pessoas que me fizeram companhia durante estes bons e largos anos. Joana Quintal - 12º40
O espaço do Nosso / Vosso descontentamento!
Ilha Paradisíaca... Benditos os mosquitos! Por causa deles vamos ter jardins em vez de matas!
O neto mais novo, ainda com 3 dias de vida perguntou: - Mas avô, ninguém se lembrou de fazer a quarentena às plan-
Era uma vez uns mosquitos que nasceram num local muito longe
tas? Pois toda a gente sabe, até nós os mosquitos, que desde 1960,
de casa. Tão longe que não sabiam onde estavam. Inicialmente pen-
sempre que se leva plantas de uma região para outra, devem fazer
savam que estavam numa igreja ou numa local santo, pois eram
a quarentena dessas plantas por causa da propagação das pragas.
chamados, mosquitos de Santa Luzia! Alguns até pensavam que eram santos... As fêmeas pensavam que eram santas e que o seu nome era Luzia. Estavam num local estranho com condições óptimas para o seu desenvolvimento Tinham água, sangue quente, temperatura ambiente óptima, entre outras coisas. Numa tarde, os mosquitos resolveram fazer uma reunião, de
- Meu filho - disse o avô mosquito - tinham pressa, se fizessem a quarentena às plantas, isto demoraria quarenta dias, pelo menos.... - Avô - perguntou o neto - mas neste momento as pessoas já sabem que nós estamosaqui... a culpa morreu solteira? Alguém é obrigado a pagar uma indemnização às pessoas que têm implicações graves devido às nossas picadas?
modo a perceberem o que se estava a passar. Será que estavam
- Meu filho - disse o avô - em certos locais tudo é mais fácil que
mortos? Estavam no paraíso? Será que estavam vivos? Se sim,
no continente onde estávamos. Manda-se as pessoas não terem
como vieram ali parar?
água nas flores mas não secam os lagos que têm nos jardins.
Após uma intensa discussão, concluíram que estavam vivos! Mas por que razão estavam tão longe de casa? Num sítio tão longe e com condições paradisíacas? O avô mosquito, já com 5 semanas de vida, coisa não muito frequente entre os mosquitos, pois a maioria vive entre 2 a 3 semanas, disse: - Meu filhos, as árvores que tinham as nossas casas foram arrancadas e trazidas até aqui. Pensei que era o fim do mundo... No momento não sabia o que fazer, acompanhei-vos na esperança de vos proteger. Durante a viagem, ouvi que vínhamos para aqui, fiquei logo triste, porque pensei que as plantas iam sofrer um processo de quarentena e íamos ser descobertos... Lembrei-me logo de uma polémica que ocorreu em torno de umas cicas trazidas por um madeirense que viveu na África do Sul. Como se sabe em alguns locais não é permitida a entrada de plantas exóticas. Ia ser o nosso fim!
- E as pessoas o que dizem / fazem? - perguntou o neto. - !!!!!........
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Dixit
Os Sindicatos dos Professores Viva! Em relação à carta aberta ao Primeiro-Ministro, feita pelas organizações sindicais dos professores, a 16 de Outubro de 2007, deixo aqui o meu reparo, em relação ao primeiro parágrafo, onde se fala da independência dos sindicatos dos professores. Não conheço nenhum sindicato de professores que seja 100% independente, repito: Não conheço nenhum sindicato de professores que seja 100% independente! O que é um sindicato independente? É o sindicato que depende unicamente dos sócios e trabalha unicamente para os sócios. No caso dos sindicatos dos professores, quem paga o salário aos dirigentes desses sindicatos? A resposta, para quem não sabe, é que quem paga o salário dos dirigentes sindicais, que estão destacados nos sindicatos, é o GOVERNO!
Logo, os sindicatos são DEPENDENTES financeira-
mente DO GOVERNO. Os salários deveriam ser pagos através das quotas pagas pelos sócios, o que significa que, possivelmente, haveria menos sindicatos e menos professores destacados nos sindicatos e, possivelmente, os sindicatos fariam mais alguma coisa pelos sócios... Como eram os sócios a pagar, os dirigentes pensavam mais nos sócios (na sua fonte de rendimento) e defendiam os interesses dos sócios e não outros interesses. Não sei porquê, mas tenho a ideia de que alguns dirigentes sindicais são dirigentes, possivelmente, porque não querem ser professores! Mas eles fizeram formação via ensino ou via sindical? Alguns sindicatos falam mais quando o governo é de um partido e outros sindicatos falam mais quando o governo é de outro partido. Porque será? Acho que os dirigentes sindicais não deveriam estar à frente do sindicato mais de 3 mandatos, obrigando os professores, dirigentes sindicais, a voltarem à escola. Muitos deixam o sindicalismo, não porque se reformaram como sindicalistas, mas porque se reformaram como professores (parece piada...). Para quem não me conhece, informo que também já fui dirigente sindical mas nunca deixei de ser professor! Acho que se realmente alguém quer fazer alguma coisa pelos professores, pense primeiro nos professores! Acho que a situação atrás referida é um exemplo a seguir de modo a criar credibilidade dos sindicatos junto dos sócios e do governo! Os sindicatos estão como estão, porque não são entidades completamente independentes e autónomas!
Mas estamos no país dos adormecidos?
António Freitas - Grupo 520
Jorge Moreira de Sousa Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Director da Escola Secundária Jaime Moniz
O Liceu durante a Monarquia Constitucional (1837 - 1910)
A criação do Liceu do Funchal e sua instalação
decreto de 17 de Novembro de 1836 de Passos Manuel aprovou o plano dos
O
Liceus Nacionais em todas as capitais de distrito.
O Liceu do Funchal é instalado no dia 12 de Setembro de 18371, tendo o Conselho decidido, que por meio de um edital, se publicasse de quantas aulas se compunha o Liceu, qual o processo de matrículas, quais os dias feriados e outras disposições previstas na lei, cujo conhecimento interessasse aos pais e encarregados de educação, de modo a sensibilizálos para que enviassem os seus educandos para as aulas. O edital publicado, no Jornal “A Flor do Oceano”, a 17 de Setembro, informa-nos que as aulas (cadeiras) que compõem o Liceu Nacional do Funchal são: 1ª - aula das línguas Francesa e Inglesa; 2ª - aula de Gramática Portuguesa e Latina, Clássicos Portugueses e Latinidade; 3ª - aula de Ideologia, Gramática Geral e Lógica; 4ª - aula de Aritmética, 1º Edifício do Liceu do Funchal (1837 –1881) Foto: Photofraphia – Museu “Vicentes”.
Geometria e Trigonometria e Desenho; 5ª - aula de Economia Política, Administração Pública e Comércio; 6ª - aula de Oratória, Poética e Literatura principalmente a portuguesa. Mais informa que os alunos teriam de entregar, no acto da matrícula, a certidão de médico pela qual prove que não padece de moléstia contagiosa e que já teve bexigas (varíola) ou foi vacinado e atestado do professor da escola normal pelo qual se ateste que tem perfeito conhecimento das artes de ler, escrever e contar. Precisa, ainda, que o ano lectivo começa no dia 1 de Outubro e termina no final de Julho, sendo o mês de Agosto destinado a exames e indica os feriados. A abertura solene realizou-se no dia 10 de Outubro, com a presença das mais altas individualidades do distrito que haviam sido convidadas, de acordo com deliberação tomada pelo conselho de professores, realizado a 2 de Outubro2, assim como “todas as pessôas de letras nelle residentes, e os paes dos alumnos matriculados”, tendo sido eleito, por escrutínio secreto, o Dr. João de Freitas de Almeida para proferir o discurso de abertura do
1 1º Assento, in “Assentos do Conselho do
Lyceo Nacional do Funchal”. 2 Idem, 3º Assento.
ano lectivo.
O Liceu Jaime Moniz
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As instalações
Liceu ficou instalado no mesmo local onde funcionavam as “Aulas do Páteo”, que
O
tinham sido decretadas em 1772 pelo Marquês de Pombal e que constavam de 3
aulas de latim, uma de grego, outra de retórica e outra de filosofia. O local era uma dependência do Colégio dos Jesuítas, na rua dos Ferreiros, onde hoje é uma loja e armazém de vinhos. Situava-se num rés do chão e tinha apenas três salas3, apesar de o Art.º 59º do Decreto de 17 de Novembro de 1836, determinar que “Os Liceus serão estabelecidos em edifícios públicos, bem situados e saudáveis, e quanto puder ser apropriados à boa ordem e economia das aulas”. Com o passar dos anos o número de alunos aumentou e as novas orientações pedagógicas tornaram o espaço, já de si exíguo, no maior pesadelo para o reitor e para os professores, impróprio para a prática lectiva, visto ser uma casa velhíssima, em péssimas condições higiénicas, não tinha capacidade necessária para as aulas estabelecidas por lei que regula o ensino secundário, nem a mobília indispensável para a frequências delas, levando a um estado de degradação. Em 1850, o Governador Civil Conselheiro José Silvestre Ribeiro num relatório enviado para o Ministério, após algumas reparações que mandara executar, afirma: “Espero que na abertura do próximo futuro ano lectivo, as aulas
2º Edifício do Liceu – Casa dos Barões de S. Pedro (Actual D.R.A.C.) - (1881-1913). Foto: Photografia – Museu “Vicentes”.
apresentarão estado bem diferente que até agora tinham, podendo ser visitadas por nacionais e estrangeiros, sem que o aspecto delas seja, como por muito tempo foi, um motivo de vergonha para todos nós.”4 Assim o Conselho, em 23 de Março de 1867, deliberou que se oficiasse ao Governo de sua Majestade que através da Repartição das Obras Públicas se procedesse à escolha de local e orçamento de despesa a fazer com um liceu, “porquanto é sobejamente conhecido a impossibilidade e inconveniência que há em que este estabelecimento continue com a exiguidade de condições em que se acha, exiguidade que se converte em prejuízo do ensino e disciplina por que cumpre zelar.”5 Apesar de todos os pedidos e deliberações, o estado das instalações continuava em estado miserável, com somente três salas frias, húmidas, escuras. Em 18746 o Conselho volta novamente a consultar o Governo acerca do péssimo estado do edifício e sobre a conveniência de transferir o edifício do Liceu para a casa onde está o asilo que se destinara para o Lazareto. Ainda, devido ao péssimo estado de ruína do edifício, o Conselho em sessão de 3 de Junho de 1880, resolve não realizar qualquer comemoração para se associar aos festejos do tricentenário de Camões.
3 “Cem Anos de Vida Escolar” de José
Rafael Basto Machado. 4 Idem. 5 Acta 213, in Livro de Actas do Liceu,
fls.138 e139. 6 Idem, Acta 288, fl.173.
Após diversas e constantes insistências dos principais responsáveis, o liceu muda-se para a casa do Barão de S. Pedro - actual DRAC - na Rua dos Ferreiros, melhorando imenso as condições de ensino e de aprendizagem, permitindo o funcionamento das salas de estudo criadas pela lei de 11 de Junho de 1880.
Os Alunos
e analisarmos o número de alunos inscritos desde a sua criação 1837 até 1910
S
podemos constatar um crescimento pouco acentuado, denotando pouco interesse
e escassa motivação, quer dos pais, quer dos alunos.
Gráfico I É curioso verificar que nos 74 anos de vigência do Liceu, durante a monarquia, o número de alunos oscilou entre 44, em 1837, e 206 em 1910. No ano lectivo de 1909 -1910 encontramos, pela primeira vez, duas alunas inscritas. A desmotivação e a falta de interesse dos alunos é-nos dada, através de diversas fontes documentais e revelavam-se de diversas formas: altos níveis de reprovação nos exames, ausência dos pais nos diversos actos da escola, actos de indisciplina frequentes. Dez anos após o começo do Liceu, no dia 23 de Novembro de 1847, o reitor comunica ter havido vários distúrbios feitos pelos estudantes, nomeadamente terem “enleado com verga de ferro a porta do pátio das aulas entre o meio dia e uma hora da tarde enquanto funcionavam duas cadeiras; o haverem obstruído com breu os fechos da referida porta e inutilizado a chave da porta dos privados e, finalmente, o haverem desatendido e maltrata7 Assento 55, in Assentos do Conselho do
Lyceo do Funchal.
do o guarda das aulas por várias vezes (...) e terem faltado ao respeito ao professor a maior parte dos alunos da aula de gramática”.7
O Liceu Jaime Moniz
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Aquando da realização dos exames em Junho de 1850, o reitor, em tom de mágoa, afirma que às três sessões de exames assistiu o Senhor Conselheiro Governador Civil e outros mais espectadores, contudo sendo muito para notar que nem um só dos pais ou outros superiores dos alunos tenha julgado este acto digno da sua presença. Na sessão solene de 10 de Outubro de 1853, o reitor alerta para a indiferença dos estudantes na realização de exames de algumas disciplinas e conclui ser de “grandíssima conveniência buscar algum meio que despertasse no coração da mocidade escolástica o amor do estudo e o desejo de dar uma prova pública de sua aplicação e aproveitamento.” Como medida de incentivo à frequência do liceu, além da prevista na lei - a preferência de admissão aos empregos públicos conferida aos que tiverem título dos estudos feitos no liceu propôs que da quantia do orçamento para despesas do expediente se destinasse uma porção para a compra de três medalhas, uma de ouro e duas de prata de modo a premiar os alunos que melhor de distinguissem, não só no aproveitamento escolar, mas também de frequência regular acompanhada de comportamento irrepreensível e exemplar. De entre os alunos, merece realçar Jaime Constantino Moniz que será uma das figuras mais prestigiadas no campo do ensino em Portugal, sendo o autor da mais importante reforma do ensino secundário (1894/95) e em sua memória, o liceu passará a designar-se Liceu Central de Jaime Moniz a partir de 1919, como forma de perpetuar um dos nomes mais notáveis na vida intelectual de Portugal. No ano lectivo 1853-1854, com 16 anos, Jaime Constantino Moniz matriculou-se, como aluno ordinário, para seguir o curso da primeira, segunda e terceira cadeiras, como podemos constatar através do termo de matrícula nº 22.8
Os Reitores e os Professores
Decreto de 17 de Outubro instituíu o reitor como órgão de direcção unipessoal,
O
com competências específicas que foram, ao longo do tempo, alteradas e modifi-
cadas, tendo como principais requisitos ser um professor do quadro, sem redução de aulas e com uma gratificação. Para se proceder à instalação do liceu e seu funcionamento foi escolhido, com carácter
Dr. Lourenço José Moniz – 1º Reitor Efectivo ( 838/1850).
de interinidade, o professor Manuel Joaquim Moniz. No ano seguinte (1838) era nomeado o Dr. Lourenço José Moniz que exerceu as funções até 1850, com enorme dedicação e
8 Livro de Termos de Matrícula.
Da esquerda para a direita: Prof. Marceliano Mendonça Dr. Francisco de Andrade Dr. Nuno Silvestre Teixeira Foto: Perestrellos Photographos Photographia – Museu “Vicentes”
brio, aliando um brilhante talento a uma notável austeridade de carácter. Foi um dos mais distintos madeirenses da 1ª metade do século XIX. Concluídos no Funchal os estudos preparatórios, seguiu para Inglaterra a fim de matricular-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Edimburgo. Em 1824, foi nomeado professor de uma cadeira de humanidades. Em 1826 foi eleito deputado pela Madeira às Cortes, tendo desempenhado diversas funções político-administrativas. Seguiram-se outros reitores que contribuíram para prestigiar esta instituição. 1837 - 1838 (Interino) 1838 - 1850 1850 - 1866 1866 - 1881 1881 - 1910
Dr. Manuel Joaquim Moniz Dr. Lourenço José Moniz Prof. Marceliano Ribeiro de Mendonça Dr. Francisco de Andrade Dr. Nuno Silvestre Teixeira
Reitores (1837-1910)
urante o período da monarquia constitucional muitos professores, com a sua
D
competência e com o seu elevado nível de desempenho, deixaram marcas profundas na qualidade do ensino ministrado e também contribuíram para o incre-
mento cultural do nosso arquipélago. É de destacar, entre outros importantes vultos do ensino, letras e cultura, o Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo, ilustre jurista, que regeu, durante 25 anos a cadeira de retórica, poética e literatura, distinguindo-se sempre pela proficiência com que ensinou a sua cadeira, sobre as quais publicou alguns trabalhos de elevado valor científico, que lhe deram direito a ser considerado um dos mais distintos professores do país, na especialidade. Prestou elevadíssimos serviços à causa pública, tendo exercido, durante muitos anos, diversos cargos administrativos. De entre os trabalhos merecem destaque as anotações à importante obra histórica “As Saudades da Terra” de Gaspar Frutuoso, que constituem um precioso repositório da história do nosso arquipélago. O Dr. Francisco de Andrade foi nomeado professor proprietário da cadeira de gramática portuguesa e latina e clássicos portugueses e latinos, no Liceu Nacional do Funchal. Foi autor de “Princípios da Gramática Portuguesa”, publicada em 1844 e da “Gramática Portuguesa das Escolas Primárias”, obra que teve cinco edições. Foi nomeado vereador da
O Liceu Jaime Moniz
22 / 23
Da esquerda para a direita: Dr. Alberto Figueira Jardim (1923-24 e de 1927-29) Dr. António Luís Franco (1929-30) Dr. Jorge Filipe Garcês Atouguia (197374) - Último Reitor Foto: Perestrellos Photographos Photographia – Museu “Vicentes”
Câmara Municipal do Funchal e reitor do Liceu de 1866 a 1881. Foi um dos mais distintos professores que teve o Liceu.
Acontecimentos relevantes
m 1856, o reitor é informado pelas autoridades administrativas do aparecimento, no
E
dia 4 de Julho, de casos de “cólera morbus” asiática, no batalhão de infantaria que
desembarcara nesta cidade, vindo de Belém, onde aquela epidemia grassava, que alguns praças adoeceram daquela moléstia e que, finalmente, começava a lavrar pela cidade. Perante este facto e considerando que o liceu confrontava com o quartel onde se encontrava o referido batalhão de infantaria as autoridades solicitaram ao reitor a interrupção das actividades lectivas, tendo o reitor do seminário oferecido parte das instalações para que os alunos pudessem realizar os exames visto ficar bem longe do foco da peste e de outros pontos da cidade já acometidos dessa doença.9 Outro acontecimento relevante para a história do liceu foi a visita de Sua Alteza o Senhor Infante D. Luís, realizada em 11 de Outubro de 1858, acompanhado pelo Governador Civil, tendo o reitor dirigido um breve discurso de congratulação. Sua Alteza o Infante D. Luís, em resposta, manifestou seus desejos de que o ensino prosperasse nesta Ilha da Madeira, passando em seguida uma visita às salas de aula. Em memória de tudo e para que através do tempo constasse tão distinta honra que sua Alteza fez ao Liceu, foi lavrada uma acta que foi assinada pelo ilustre convidado.10 A tradição que ainda hoje perdura e que se tornou extensiva a todas as escolas secundárias da Região, a partir dos finais da década de 70, do uso da capa e batina foi concedida pelo Senhor Ministro do Reino em 1889, conforme ofício emitido pela Direcção Geral de Instrução Pública. Em 1901, o Liceu é elevado à categoria de Liceu Central.
Ofício do Ministro do Reino em que concede o uso facultativo de capa e batina aos alunos do Liceu.
9 Assento 97, in assentos do Conselho do
Lyceo. 10 Idem, Assento 109.
O LICEU DURANTE A REPÚBLICA (1910 – 1926)
O Liceu Central do Funchal como única Instituição do Ensino Secundário
no contexto de crescimento da cidade do Funchal, embora limitado pelos condi-
É
cionalismos da insularidade, fora dos grandes centros de decisão, que se enquadra o Liceu Central do Funchal, como único estabelecimento de instrução
secundária, dependente do Ministério do Reino. Por isso, não nos admira que as autoridades, que se encontravam à frente dos destinos da governação, tivessem um carinho muito especial pelo Liceu, reconhecendo o papel de relevo que ele desempenhava na promoção sócio-económica e educacional dos jovens e, também, no enriquecimento cultural das gentes do arquipélago. O prestígio que gozava o Liceu era atestado pelos inúmeros ofícios enviados à Reitoria pelas entidades locais, aquando da tomada de posse, nos quais comunicavam terem assumido determinados cargos e oferecendo a sua colaboração. Verificamos que apresentaram comunicações da tomada de posse Governadores Civis do Distrito, Presidentes da Comissão Administrativa, Comissão Administrativa da Câmara, Juíz do Distrito, Cônsules dos Países Baixos, da Bolívia, dos Estados Unidos do Brasil, Chefe de Repartição de Finanças do e Comissário de Polícia Cívica do Funchal. Importa, ainda, salientar que quando o reitor se dirigia às entidades, solicitando apoios no sentido de atenuar as enormes carências financeiras, referia-se sempre que era um assunto de grande importância para a cidade e exortava os funchalenses para que protegessem o seu primeiro estabelecimento de ensino.11 Apesar de todas as vicissitudes, o Liceu Central do Funchal, depois designado de Jaime Moniz, desde 1919 - em homenagem ao madeirense ilustre, antigo Presidente do Conselho Superior de Instrução Pública e autor da Reforma do ensino liceal de 1895 desempenhou um papel de relevo no domínio da instrução. Como única instituição do ensino secundário no arquipélago era acarinhada e estimada 11 Registo de Correspondência Expedida, livro nº 5, nº 603, pag. 58.
pelas entidades locais, como oportunamente referi. Contribuiu, ao longo de decénios, para alfabetizar e instruir várias gerações de jovens que, ou ficavam na ilha, na sua esmagadora
O Liceu Jaime Moniz
24 / 25
maioria, contribuindo para o seu desenvolvimento sócio-económico e cultural, ou iam para a metrópole cursar Medicina, Direito ou outros cursos. Foi notória a influência da insularidade e consequente isolamento no seu modo de funcionamento: morosidade no equacionamento das situações, provocadas pela escassez de ligações marítimas; carência endémica de docentes profissionalizados, colmatada pelo recurso, quer a militares que por aqui passavam, acidentalmente, em comissão de serviço, quer a licenciados, bacharéis em medicina ou em direito que exerciam a sua profissão nesta cidade; carência de verbas e de material didáctico, denunciadoras do centralismo sufocante do Governo, sediado em Lisboa. Verificou-se também que a instabilidade política do regime republicano afectou, de uma forma muito sensível, o regular funcionamento deste estabelecimento de ensino, apesar da distância, do efeito temperador da insularidade: actos generalizados de indisciplina, mudança constante de reitores, assaltos, arrombamentos do edifício. Em suma, numa ilha bafejada pela amenidade do clima, mas perdida na imensidão do Atlântico, o Liceu do Funchal constituíu um polo dinamizador no incremento sócio-económico e cultural do Arquipélago.
O regime de funcionamento do Liceu
A figura do Reitor
omo em todos os Liceus, criados nas capitais de distrito, pelo decreto de 17 de
C
Novembro de 1836, O Liceu Central do Funchal era dirigido pelo reitor. Exercia funções de chefia, com competências específicas era coadjuvado pelo Conselho
Escolar de professores efectivos. Durante a Monarquia o reitor era nomeado pelo Ministro da Tutela, podendo em qualquer momento ser exonerado das suas funções. A República trouxe novas perspectivas de participação na vida escolar. Temos conhecimento, através dos livros de actas do Conselho Escolar dos professores efectivos, que na sessão do Conselho de 21 de Outubro de 1910, se procedeu à escolha do reitor, tendo sido eleito, por unanimidade, o professor António Augusto.12 No dia 10 de Abril de 1912, o então reitor do Liceu informou o Conselho Escolar que
12 Livro de actas do Conselho Escolar, nº 570, pag. 165.
havia recebido, telegraficamente, ordem da Direcção Geral da Instrução Secundária para proceder à eleição do reitor.13 Temos, ainda, provas de democraticidade na escolha da figura cimeira da direcção do Liceu, a acta do Conselho Escolar, realizado no dia 13 de Abril, em que o reitor interino propôs que o Conselho elegesse novo reitor, recaindo essa escolha, por unanimidade, no ilustre professor de renome nacional, Dr. Damião Peres.14 A sessão do Conselho Escolar, realizada em 19 de Outubro de 1915, constitui uma prova cabal e elucidativa do modo como era escolhido o reitor do Liceu. “... Propôs o fim da sessão o Sr. Reitor interino pedindo que por escrutínio secreto se procedesse à eleição do novo reitor visto que o Dr. Damião Peres - reitor efectivo deste liceu - fora colocado num liceu de Lisboa...”15 É curioso notar que esta tendência de eleição do reitor tende a esbater-se à medida que a República avança no tempo e se envolve cada vez mais na teia das suas contradições. A instabilidade política, gerando insegurança, mal-estar social e tumultos populares, criou condições para o aparecimento de alternativas de cariz totalitário, como, por exemplo, a ditadura de Sidónio Pais e permitiu que o governo central interferisse, de uma forma eficaz, no controlo de nomeação dos dirigentes escolares, nomeadamente dos reitores.
Os Professores
elo decreto de 29 de Agosto de 1901, publicado no Diário do Governo com o nº
P
203, o Liceu do Funchal foi elevado à categoria de Liceu Central, com um quadro legal de 14 professores efectivos. Durante o regime republicano, o número de
professores não se alterou substancialmente, oscilando entre 14 e 23. Apesar do número de lugares criado, havia enorme dificuldade no seu preenchimento, atendendo às dificuldades resultantes do isolamento, provocado pela insularidade. Mesmo quando alguns lugares de quadro eram preenchidos, muitas vezes os professores eram destacados, ou em comissão de serviço, ou no exercício de funções políticas, como membros do governo, ou como deputados. Assim se compreende o início tardio do ano lectivo, devido ao recurso frequente de 13 Idem, nº 579, pág. 171. 14 Idem , nº 580, pág. 171. 15 Livro de actas do Conselho Escolar (1914 1927), nº 22, pág. 8V.
recrutamento de professores provisórios. Por norma, a secção de ciências era a mais afectada pela carência de professores profissionalizados. A acta nº 612 de 14 de Outubro de 1913 diz o seguinte: “... sendo necessário prover-se
O Liceu Jaime Moniz
às vagas na Secção de Ciências deste Liceu”, cinco já existentes nos últimos anos ...
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16
Como ultrapassar a dificuldade estrutural de carência de docentes profissionalizados? Recorria-se em maior número aos militares que por aqui passavam em comissão de serviço, e que eram recrutados para ministrar as cadeiras de desenho, física experimental, geografia, análise e geometria de ciências matemáticas, ginástica. Exerciam as funções de capitães, majores e tenentes de artilharia e de infantaria17, Quadro I.
Secção de Letras Grupo 1º 2º 3º 4º
Nome Alexandre da Cunha Teles António Feliciano Rodrigues Jordão M. Henriques Juvenal Henriques de Araújo
Profissão Bacharel em Direito Bacharel em Direito Cur. Superior de Letras Bacharel em Direito
Disciplina Francês, História Inglês, Português
Quadro I - Proposta dos Professores Provisórios para o Ano Lectivo 1916-17 Na Secção de Letras a carência de docentes era menor, embora se recorresse a alguns profissionais que exerciam as suas actividades na cidade do Funchal, como advogados e médicos. (Quadro II - Secção de Letras.) Secção de Ciências Grupo
Nome João Reis Gomes
Profissão Major de Artilharia
Disciplina Mat., Des. e Ciências
5º
Ricardo Martinho Andrade
Capitão de Artilharia
Matemática e Física
Manuel Leovigildo Rodrigues
Capitão de Infantaria
Matem. e Desenho
Alberto Artur Sarmento
Ciências e Desenho
Artur Sales Henriques
Capitão de Infantaria Capitão - Ten. de mar e Capitão do Porto Funchal
João Nepomuceno de Freitas
Capitão de Infantaria
Geografia e Ciências
6º 7º
Ciências e Geograf.
Quadro II - Proposta dos Professores Provisórios para o Ano Lectivo 1916-17 Em 18 de Outubro de 1922, o então reitor do Liceu dirigindo-se ao Director Geral do Ensino Secundário, lamentava que o Liceu apenas tivesse seis professores efectivos e dois
16 Livro de actas do Conselho Escolar,liv. 3 , nº 612, págs.191,192,193. 17 Idem, liv. 3, nº 576, págs. 168 e 169.
agregados e que não podiam reger mais do que metade das aulas. Acrescentava, ainda, que pela circular de 2 de Outubro, do mesmo ano, se encontrava inibido de prover o Liceu dos professores provisórios indispensáveis. Solicitava providências urgentes para que os alunos não ficassem sem a regência de grande número de aulas.18
Os Alunos
s tentativas de democratização, a todos os níveis, introduzidas pelo regime repu-
A
blicano, possibilitaram um maior acesso dos alunos à escolarização secundária.
Se fizermos um estudo comparativo entre o número de alunos que frequentaram o Liceu, nos últimos anos da monarquia e durante a República, verificamos que houve um crescimento acentuado. Durante a Monarquia, o número de alunos oscilou entre 100 e 150, enquanto que, durante a República, ultrapassou o limite de 200, com excepção dos anos lectivos de 192324 e 1924-25. No ano lectivo de 1918-19 o número de alunos atingiu a cifra de 370, devido às novas expectativas geradas pelo fim do primeiro conflito à escala mundial. Como explicar este aumento substancial de frequência de alunos? A meu ver, várias causas poderão ajudar a compreender esta tendência para o crescimento. A República trouxe novas perspectivas de promoção das classes sociais mais desfavorecidas e pugnou pela melhoria da instrução e do ensino, sensibilizando a opinião pública para a importância da educação, como um dos factores mais importantes para o desenvolvimento do país. Nos primeiros sete anos do regime republicano, o número de alunos mantém-se estacionário: em 1910 - 1911, o número de alunos era de 232 e em 1916 - 1917, o número era de 238, ou seja, durante este período houve apenas uma ligeira oscilação de 6 alunos. A partir de 1917 -1918 até 1919 - 1920 a frequência dos alunos ultrapassou o limite de 300, com um máximo de 370, em 1918-1919. Uma explicação plausível para este “boom”, poderá ter sido o fim das hostilidades da Primeira Guerra Mundial, gerador de novas oportunidades e o términus do isolamento forçado a que o arquipélago esteve sujeito, imposto pela conjuntura de guerra, e que foi responsável por uma situação de desespero e de falta 18 Registo de Correspondência Expedida, liv. 5, nº 477, pág. 70.
de confiança num futuro melhor.
O Liceu Jaime Moniz
Gráfico II - Número de alunos matriculados de 1910-11 a 1925-26 Após este impulso de entusiasmo, surgiu, de novo, uma onda de pessimismo provocada pela crise, pela recessão em que mergulhara a “Velha República” De facto, a partir dos anos 20, o número de alunos baixou de uma forma acentuada, chegando a atingir o número de 171 alunos, muito inferior àquele que marca o fim da Monarquia, conforme nos mostra o gráfico III. É de realçar que a generalização da entrada de alunas no Liceu do Funchal, iniciou-se com a implementação do regime republicano. Podemos observar esta tendência através do quadro III. Verificamos que as flutuações, quanto à frequência dos alunos, número total, e a frequência de alunas, é semelhante.
Gráfico III - Número de alunos / alunas matriculados de 1910-11 a 1925-26
28 / 29
Qual a proveniência dos alunos que frequentavam o Liceu? Qual era o afluxo dos jovens das zonas rurais à instrução secundária? Após uma análise aturada e exaustiva, concluí que a grande maioria provinha da zona urbana, devido às melhores condições de vida, à proximidade e ao maior grau de cultura das gentes que viviam na urbe, com uma percentagem que oscilava entre 65% e 70%. As zonas rurais detinham uma percentagem variável, entre 25% e 27%, compreensível se tivermos em conta as enormes dificuldades, quer de acessos (quase inexistência de rede viária) , quer ao nível dos recursos financeiros que eram parcos. Do exterior, quer da metrópole, quer das colónias, quer das zonas tradicionais de emigração madeirense, provinham alunos que normalmente acompanhavam os pais que, ora eram destacados em comissões de serviço, como militares, entidades governativas ou chefias, ora regressavam à terra natal, após uma ausência, mais ou menos prolongada, como emigrantes, à procura de uma vida melhor. É curioso verificar que, apesar de a Madeira ser uma ilha pequena, tinha filhos seus, em terras longínquas: Demerara (Guiana Inglesa, zona de grande incidência emigratória no séc. XIX, devido à forte presença inglesa na Ilha e devido à sua economia estar, fortemente dependente da cana sacarina, actividade familiar dos madeirenses), Paramaribo (Guiana Holandesa), Rio de Janeiro, Santos, Pará, Belém (Brasil), S. Antão, Tarrafal, Praia (Cabo Verde), Ilha Trinidad (Antilhas Holandesas), Ambriz, Lubango, Benguela, Luanda, (Angola), Zambézia, Lourenço Marques, Quelimane (Moçambique), S. Tomé, Açores. Da metrópole vinham alunos de todos os distritos, sendo a maioria de Lisboa. Acompanhavam os seus familiares que para aqui se deslocavam, temporariamente, em comissão de serviço.
A disciplina: infracções e penas
implementação do regime republicano trouxe consigo uma maior abertura e to-
A
lerância na vida escolar. No entanto, esta nova atitude, aliada, com o andar dos tempos, à instabilidade política repercutiu-se no normal funcionamento das
actividades lectivas. Pude constatar, através dos diversos documentos a que tive acesso, que existiu uma correlação muito estreita entre a instabilidade política provocada pelo regime republicano e o nível, quase permanente, de actos de indisciplina, desordem e de agitação que atingiu o
O Liceu Jaime Moniz
Liceu, durante esse período, e que se reflectiu em possíveis actos de recusa contra o regime, por parte de docentes, actos de recusa de autoridade, por parte de funcionários (acto de insubordinação do guarda do Liceu contra um professor19) e ainda em actos de indisciplina generalizados, por parte dos alunos. A mudança de regime, passagem de um regime monárquico autoritário para um regime republicano de cariz democrático, a instabilidade sócio-política, o descontentamento generalizado que a República não soube ou foi incapaz de conter, poderão ajudar a compreender esta onda de indisciplina. Podemos, de uma forma sucinta, caracterizar os principais actos de infracção:
Anos
30 / 31
Meses
Dias
1910 - 11
Outubro
17
Lectivos 1911 - 12
Outubro
17
1912 - 13
Outubro
21
1913 - 14
Outubro
23
1914 - 15
Outubro
16
1915 - 16
Outubro
22
1916 - 17
Outubro
22
Arrombamentos das portas e roubo de livros de ponto; rasuras das faltas dos alunos nos
1917 - 18
Outubro
22
livros de ponto; agressões, quer a alunos, quer a professores; impedimento no acesso dos
1918 - 19
Novembro
30
alunos às salas de aula; saída conjunta ou individual das salas de aula; ausência em bloco
1919 - 20
Outubro
23
dos alunos às aulas “parede”; injúrias; prática de obscenidades; escrever palavras obsce-
1920 - 21
Outubro
9
nas e condutas desregradas; gritaria imitando buzinas na sala de aulas; insultos e vexa-
1921 - 22
Outubro
20
mes aos professores; danos causados no edifício; perturbações ao trânsito nas ruas e dis-
1922 - 23
Outubro
18
túrbios da ordem pública; comportamentos indecorosos, enfim, um rol de actos de indis-
1923 - 24
Outubro
18
ciplina que seria difícil de se encontrar na nossa escola actual.
1924 - 25
Outubro
18
1925 - 26
Outubro
18
Que meios foram encontrados, pelos responsáveis de então, para combater estas infracções, esta onda de indisciplina generalizada? Utilizando a máxima “para grandes males, grandes remédios”, os responsáveis do Liceu, com base nas normas legais, então vigentes, tentaram encontrar as melhores soluções
QUADRO III - Calendário da abertura das aulas.
para equacionar este grave problema. Não nos podemos esquecer que, apesar da rigidez e do rigor na aplicação das penas, havia um clima propício a uma maior tolerância e compreensão na tentativa de resolução destes problemas. Apesar disso, verificamos que a terminologia usada aquando da aplicação das sanções aos alunos - condenado, julgado, denota um tratamento pouco adequado a jovens estudantes, tratando-os como se fossem criminosos vulgares e não adolescentes irrequietos e irreverentes. Pela análise das fontes documentais pudemos verificar que a tipologia das penas variava, indo da simples repreensão verbal ou escrita, até à pena máxima (exclusão de todos os Liceus do País).
19 Livro de actas do Conselho Escolar, liv. 3, nº 663 pág.17v.
Abertura das aulas
e acordo com o quadro IV, a abertura das aulas do Liceu verificava-se, em regra, no
D
mês de Outubro, oscilando entre os dias 9 e 23.
As razões invocadas pelos reitores para a abertura tardia das aulas eram, de um modo geral, a realização de exames de 2ª época, durante o mês de Setembro e inícios de Outubro e o afluxo elevado de alunos que realizavam provas de exame no referido período. O início de um novo ano lectivo era sempre um acontecimento importante. Havia uma cerimónia de abertura das aulas, com uma sessão solene em que eram convidados as diversas entidades da governação do arquipélago, os familiares dos alunos e os alunos. No início da sessão solene, o reitor distribuía diplomas de honra aos alunos mais aplicados e com melhor comportamento e, em seguida, o reitor ou um professor escolhido pelo Conselho Escolar, proferia uma oração de sapiência, através da qual tentava sensibilizar a assistência presente para as vantagens da instrução e a felicidade que ela dá a quem sabe 3º Edifício do Liceu – Antigo Paço Episcopal (Museu de Arte Sacra). Foto: Photografia – Museu “Vicentes”.
aproveitar os seus benefícios20. Incitava os alunos para que fossem estudantes aplicados, sugerindo o exemplo dos seus colegas distintos21 e apelava para a colaboração das entidades presentes e da família22. Em certas ocasiões, aproveitava-se a sessão solene para desferir algumas críticas ao sistema de ensino e lamentava-se o atraso em que, infelizmente, se achava a instrução em Portugal23.
As
instalações
do
Liceu
e
as
dificuldades
financeiras 20 Livro de actas do Conselho Escolar, livro 3, nº 641, págs. 6v e 7. 21 Idem, nº 661,pág. 16v. 22 Idem, nº 679, pág. 25v. 23 Idem, nº 662, pág. 17. 24 SILVA, Ângelo Augusto da - O Liceu de Jaime Moniz, 1946, pág. 3. 25 MACHADO, José Rafael Basto, “ Cem Anos de vida Escolar”, Anuário do Liceu Jaime Moniz
m 1881 o Liceu passou para a Casa do Barão de S. Pedro, quase no fim da Rua dos
E
Ferreiros24.
Melhorou alguma coisa com a mudança, visto que o primeiro edifício apenas era composto de três salas de aula. No entanto o novo edifício, apesar de ser maior, continuava a ser uma casa velhíssima e com péssimas condições higiénicas25. Em 23 de Outubro de 1913, o reitor informava o Director Geral de Instrução Secundária
(1935, 36, 37, 38, 39), Livraria Popular, Funchal,
Superior e Especial de já ter feito sentir, por diversas vezes, ao Governador Civil do Distrito,
1937, Apêndice.
a imperiosa necessidade da mudança do edifício do Liceu, dadas as más condições
O Liceu Jaime Moniz
32 / 33
pedagógicas. Sugeria, ainda, que essa mudança fosse feita para o antigo Paço Episcopal, edifício amplo e bem situado e alertava para que fossem tomadas as devidas providências, no sentido de se efectuar reparos importantes, cujo custo podia calcular-se “grosso modo” em uns seis a sete contos de reis26. Após aturadas negociações, o Reitor tomou posse do Paço Episcopal e através de um telegrama enviado à Direcção Geral de Instrução Secundária27, no dia 13 de Dezembro do ano 1913, foi efectuada a mudança para as novas instalações, nas férias de Natal. No entanto, deviam ter-se realizado vários melhoramentos importantes para que a adaptação se fizesse em condições, mas faltou o dinheiro do Estado, faltou o dinheiro prometido pela Junta Geral. O Novo edifício, apesar de ter maior número de salas de aulas, con-
Aspecto de Sala de Aula do Liceu do Funchal em 30 de Maio 1919. Photographia - Museu “Vicentes”.
tinuava a não possuir as condições mínimas para uma verdadeira escola de instrução secundária. A problemática das instalações perpassa todo o regime republicano, agravada pelo desgaste, pela topografia do edifício (rés-do-chão e quatro andares) e pela número crescente de jovens que pretendiam adquirir formação secundária ou superior. Em 1922, novamente, o reitor dirigindo-se ao Presidente do Senado Municipal do Funchal, denunciava as enormes dificuldades que o liceu então atravessava devido à precaridade das suas instalações, escassez de pessoal menor e carência de meios financeiros. “Este Liceu recebe do Estado uma verba verdadeiramente mesquinha em relação às suas múltiplas necessidades, verba que mal chega para o expediente e pequenas beneficiações no edifício. Alguns laboratórios estão ainda em embrião e outros, embora dotados dalgum material estão muito longe de possuir o indispensável. E como V. Exa. sabe, sem o material didáctico necessário não pode haver ensino verdadeiramente profícuo. Mas além dos interesses da instrução, há outros que também afectam directamente o bom nome desta cidade. Os estrangeiros que frequentemente nos visitam, designadamente alguns pertencentes a missões científicas, por vezes vêm ao liceu, e V. Exa. compreende quanto é vexatório para todos nós patentear-lhes a penúria do primeiro estabelecimento de instrução pública da cidade. (...)28 O estado de penúria era tão evidente, em instalações laboratoriais, que em termos comparativos com os liceus do continente, o nosso liceu jamais poderia igualar-se. “... com os outros Liceus do país que têm excelentes laboratórios e podem, consequentemente, dar aos seus alunos uma melhor preparação. Não se julgue que são poucos os Liceus em boas condições no que respeita a material de ensino: os cinco liceus de Lisboa, três do Porto e
26 Registo de Correspondência Expedida, Liv. 3, nº 592, pág. 120. 27 Idem, nº 624, pág. 146v. 28 Registo de correspondência Expedida, liv.5, nº 410, págs. 58v e 59.
Projecto do Edifício do Liceu de Jaime Moniz (Não aprovado) do Arqtº Edmundo Tavares Photographia – Museu “Vicentes”
o de Braga têm laboratórios que na maior parte chegam a ser opulentos; os de Santarém, Viseu e Aveiro, pelo menos, têm explêndidas instalações. E os restantes liceus do país estão em melhores condições que o nosso...”29 Este lamento era revelador do abandono e falta de atenção do poder central em relação aos assuntos desta ilha. Para suprir as enormes carências com que se debatia, o Liceu lançava mão a diversos expedientes: solicitava apoio às entidades governamentais do arquipélago, nomeadamente à Junta Geral do Distrito e à Câmara Municipal do Funchal que todos os anos concediam subsídios imprescindíveis ao funcionamento desta prestigiada instituição de ensino.
Acontecimentos relevantes
m Maio de 1910 dão-se graves incidentes, com diversas infracções da disciplina
E
escolar, tumultos que ficaram conhecidos pelos do Padre Botelho, visto que foram dirigidos contra o professor Padre António Ferreira Botelho.
A partir de 1919 e por efeito do Decreto nº 5096 de 7 de Janeiro, o Liceu Central do Funchal passou a denominar-se Liceu Central de Jaime Moniz, em memória do ilustre madeirense Jaime Constantino Moniz.
O Liceu durante o Estado Novo (1926 - 1974)
As instalações
pesar de a partir das férias de Natal de 1913 o liceu ser transferido para o velho
Dr. Ângelo Augusto da Silva – Reitor de 1930/1966.
A
palácio episcopal, tendo algumas salas boas, nunca pôde ser encarado como susceptível de se transformar numa boa escola de ensino secundário.
Localizava-se numa zona de comércio, por isso movimentada e barulhenta e os terrenos 29 Idem, nº350, pág. 49v.
contíguos eram insuficientes para os recreios e recintos desportivos. Além disso, o liceu,
O Liceu Jaime Moniz
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Fachada do Edifício do Liceu do Arqtº Edmundo Tavares (1946) Foto: Perestrellos Photographos Photographia – Museu “Vicentes”
para dar resposta às diversas exigências dos serviços, tinha de aproveitar todos os espaços de difícil acesso, situadas num 4º andar para as aulas experimentais e práticas de química e de alugar salas nos prédios vizinhos. Não admira que fosse preocupação constante de todos os reitores e do pessoal docente a procura de uma solução que fosse a definitiva construção de um edifício de raiz. Com o andar do tempo, o velho edifício poucas ou nenhumas condições tinha para a instalação dos serviços do liceu e, lentamente, foram piorando devido ao aumento de frequência. No ano lectivo de 1931-1932, uma comissão de médicos, após uma aturada inspecção, dá o liceu como “impróprio, sendo urgente uma mudança para um edifício devi-
Visita das Entidades ao Edifício do Liceu, em fase de construção (1941).
damente adequado a tal fim, sob pena de graves prejuízos para a saúde de professores e
Foto: Perestrellos Photographos.
alunos”. Mais tarde a Junta de Higiene do Concelho do Funchal condena-o também.
Photographia – Museu “Vicentes”.
Em 1933, a Junta Geral do Funchal encarrega uma comissão, constituída pelo reitor do Liceu, Dr. Ângelo Augusto da Silva, pelo Director das Obras Públicas da Junta Geral, Eng. Abel Vieira e pelo Médico Escolar do Liceu, Dr. William Clode, de indicar terrenos para a construção do novo edifício do Liceu. No dia 26 de Setembro a referida comissão reuniu-se e resolveu, em primeiro lugar, indicar para a presidência o reitor do Liceu e o chefe de secretaria para o cargo de secretário da Comissão. Por proposta do Presidente foram aprovadas as seguintes propostas: 1. Que faça parte da Comissão um vogal da Comissão Administrativa da Junta Geral; 2. Que seja agregada à Comissão o arquitecto Edmundo Tavares, professor da Escola Industrial do Funchal; 3. Que num dos próximos dias se proceda à visita dos terrenos a estudar; 4. Que se publique nos jornais um convite, pedindo às pessoas que possuam terrenos de mais de 12.000 metros quadrados, dentro da área da cidade e queiram vender, a apresentar na Reitoria do Liceu as suas propostas.” O papel desta Comissão foi de extrema importância para o apressar de uma verdadeira solução. No entanto, antes da decisão definitiva, a Comissão escolheu um terreno, situado nos Ilhéus, tendo mandado organizar o respectivo anteprojecto e enviado a instâncias superiores um relatório sobre o assunto. Contudo, só em 5 de Dezembro de 1936, o Estado, pelo Decreto nº 26.983, cede o terreno do Hospital Militar à Junta Geral para a construção do Liceu. Conseguido o objectivo fundamental da aquisição de um terreno, a Junta obteve várias facilidades e tomou as medidas necessárias de modo a adjudicar, em Maio de 1940, pela
Fachada Principal do Liceu – Arranjos do Jardim e da Entrada Principal (1942) Foto: Perestrellos Photographos Photographia – Museu “Vicentes”
Fachada Principal do Liceu – Arranjos do Jardim e da Entrada Principal (1942) Foto: Perestrellos Photographos Photographia – Museu “Vicentes”
quantia de 4.815.000$00 a empreitada do edifício, com excepção das janelas, à firma Pereira Camacho. O projecto foi elaborado pelo arquitecto Edmundo Tavares, tendo o Eng. Abel da Silva Vieira sido o responsável pelos cálculos e direcção técnica dos trabalhos. As obras de construção do edifício iniciaram-se em Julho de 1940 e decorreram até 1946, ano em que se procedeu à inauguração oficial com a presença de altas individualidades nacionais e regionais. Em 1942 teve de ser adquirido mais terreno, através de novos prédios expropriados, e fez-se a adjudicação a outra firma dos primeiros e mais importantes trabalhos para a construção do campo de jogos. A abertura solene do ano lectivo 1942-1943 foi realizada no dia 7 de Outubro no velho Palácio Episcopal situado à Rua do Bispo e no dia 8 do mesmo mês, e “ainda com muitas obras em curso”, davam-se as primeiras aulas no novo edifício. Havia muitas obras a fazer nos gabinetes – física, química e ciências naturais e nas salas de trabalhos manuais e de desenho e encontrava-se longe do fim a construção do corpo destinado à educação física, à cantina e ao balneário; faltava ainda ultimar os recreios e outros espaços desportivos. Acta da Inauguração Oficial do Novo Edifício do Liceu do Funchal e do Campo de Jogos – 28 de Maio de 1946
Os Reitores
urante o Estado Novo, a figura do reitor adquire uma maior importância na
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gestão e administração escolar, sendo nomeado pelo Governo Central e, de um modo geral, mantém-se durante largos anos.
Neste período, o reitor Dr. Ângelo Augusto da Silva desempenha um papel relevante,
não só como o mentor e o grande dinamizador da construção do novo edifício, mas também como uma grande referência na liderança de uma grande escola. A sua permanência à frente dos destinos do liceu foi longa (36 anos) e deixou uma marca de grande pedagogo e de grande dirigente. O quadro dá-nos uma perspectiva cronológica dos reitores que lideraram o Liceu durante o Estado Novo.
1926 - 1927
Dr. Joaquim Carlos de Sousa
1927 - 1929
Dr. Alberto Figueira Jardim
1929 - 1930
Dr. António Luís Franco
1930 - 1966
Dr. Ângelo Augusto da Silva
1967 - 1973
Dr. André Manuel C. Cymbron B. de Sousa
1973 - 1974
Dr. Jorge Filipe Garcês de Atouguia
O Liceu Jaime Moniz
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Edifício do Liceu do Funchal, aquando da inauguração oficial em 1946. Foto: Perestrellos Photographos Photographia – Museu Vicentes
Os Professores
número de professores durante este período permanece mais ou menos cons-
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tante, com ligeiras alterações, variando entre 20 e 35. Eram na sua maioria de sexo masculino e uma grande parte eram efectivos, mantendo, no entanto,
uma percentagem de professores provisórios que variava entre 25% a 50%. A percentagem de professoras era diminuta, conforme nos ilustra o gráfico. Récita a 12 de Junho de 1948, pelos alunos do Liceu, 1º Ciclo. Foto: Perestrellos Photographos. Photographia – Museu “Vicentes”.
Os Alunos
derrube da República Democrática e a instauração da nova ordem política, com
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a Revolução de 28 de Maio de 1926, trouxe ao país uma maior estabilidade sócio-política que se reflectiu numa fase de crescimento do número de alunos
inscritos, atingindo o valor de 457, em 1931. Contudo esta tendência de crescimento foi inflectida, a partir de 1936, devido à crise internacional e à guerra civil de Espanha, atingindo um número mínimo de 237, em plena 2ª Guerra Mundial (1940/1941). O fim da 2º Guerra Mundial e a nova conjuntura internacional que se caracteriza por uma fase de reconstrução e de crescimento da economia mundial trouxe novas perspectivas de confiança e de paz. Verifica-se uma tendência longa de crescimento que se inicia em 1945/46, com um número recorde de alunos inscritos (554) e que atingirá o limite máximo no ano que antecede a revolução de 25 de Abril de 1974 (2819), devido às reformas encetadas no final do
Exposição de Trabalhos de Alunos na Cantina
regime, conhecida como a Reforma de Veiga Simão que inicia o processo de democratiza-
do Liceu – 9 de Junho de 1967.
ção do ensino.
Foto: Perestrellos Photographos. Photographia – Museu Vicentes.
Actividades circum - escolares
urante o Estado Novo organizam-se um conjunto de actividades que procuram
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complementar as actividades curriculares. A construção do novo edifício, modelar para a época, possuindo espaços para a prática de actividades desportivas e
de lazer, salas de desenho, trabalhos manuais, de canto coral, ginásio e salão de festas e campo de futebol, de ténis, tanques para a instrução de remo, “ring” de patinagem, campo de voleibol, campo de basquetebol permitiu a realização de um conjunto de actividades extracurriculares que veio valorizar o ensino e incentivar os jovens para uma maior escolarização. Durante este período florescem as sessões de cinema escolar, de teatro, as exposições de trabalhos de desenho, de lavores, de fotografias de passeios e visitas de estudo, ampliadas e reveladas pelos professores e alunos no gabinete de fotografia do liceu.
A - Corpo das aulas em três pavimentos B - Átrio, Reitoria, Secretaria e Gabinete do médico escolar no 1º Andar. Instalações dos professores e dos directores de ciclo e Biblioteca no 2º andar. C - Salas de Desenho, Trabalhos Manuais e Recreio das alunas do 2º e do 3º Ciclo. D - Ciências Naturais e Canto Coral no 1º andar. Instalações de Física e de Química no 2º andar E - Refeitório e suas dependências F - Ginásio no 1º andar e Balneário no rez-do-chão G - Recreio dos alunos do 2º e do 3º ciclo H - Pomar-jardim I - Jardim JL - Recreio dos alunos do 1º ciclo M - Entrada Principal N - Horto e Jardim O - Campo de Ténis P - Campo de Futebol Q - Tanques para instrução de remos R - Ring de patinagem S - Campo de Voleibol T - Campo de Basquetebol L - Recreio das alunas no 1º andar
Planta Geral com os espaços específicos e arruamentos
O Liceu Jaime Moniz
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O LICEU NO PERÍODO DA DEMOCRACIA/AUTONOMIA (1974-2003)
As instalações
Revolução de 25 de Abril e a conquista da Autonomia generalizou o acesso à
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educação. Foram criados os cursos nocturnos para os trabalhadores-estudantes. As instalações tornaram-se exíguas e houve necessidade de recurso a
anexos para dar resposta a esta onda de massificação. Assim, surgiram o anexo das
O Anexo”Girassol” – 1976/1996
Mercês (Actual Escola Básica das Mercês) e o anexo da Encarnação, (Antigo Seminário Menor), que foi ocupado de uma forma violenta. Em 1976 o Governo arrendou o edifício “Girassol”, junto ao Mercado dos Lavradores, onde foram instaladas as áreas das letras e de economia, ficando a ser conhecido pelo anexo do “Girassol” até 1996, ano em que foi entregue ao proprietário. O local onde estava localizado, mercado dos lavradores e praça do peixe, em plena zona de comércio tornava-a barulhento, as salas de aula distribuídas por três andares, os acessos demasiado estreitos, a existência de uma loja de ferragens, com substâncias inflamáveis, foram motivos para que os responsáveis pela gestão e administração do Liceu fizessem diversas exposições aos responsáveis políticos para que fosse encontrada uma solução que melhor salvaguardasse a segurança dos alunos, professores e funcionários. Após diversas diligências, consegui, como presidente do Conselho Directivo, a posse do edifício do antigo magistério primário, que foi totalmente remodelado, mantendo a traça regional. Contíguo a este prédio foi construído um novo edifício de raiz, moderno, com muita luminosidade e com comunicação interna. Aqui foram instaladas as turmas do 12º ano de todos os agrupamentos, devido a existência de excelentes laboratórios e de outros espaços, em nada comparáveis com as anteriores instalações.
Novo Anexo – Recuperação da Antiga Escola do Magistério Primário – 1996
Professores/Funcionários
aumento exponencial dos alunos, verificado com a implementação da
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Autonomia, as mudanças curriculares, com a introdução de novas disciplinas, as novas e complexas tarefas da educação, permitiram um aumento bastante
considerável do número de professores e de funcionários. De uma centena de professores e de três dezenas de funcionários em 1974, a Escola O 10º Festival Regional de Teatro Escolar Sessão de abertura 2002. Foto: António Freitas.
Secundária Jaime Moniz, em 2003, passou a ter 314 professores e 140 funcionários. A composição do pessoal docente também sofreu uma considerável alteração. Nos períodos anteriores à democracia, o elemento do sexo masculino predominava. Hoje, 80% dos professores são do sexo feminino. No que toca à situação profissional dos professores podemos constatar que dos 314 docentes, 271 são professores do quadro de nomeação definitiva, ou seja 86,3%, ficando, apenas, 13,7% para professores contratados ( professores profissionalizados, estagiários e não profissionalizados). Do mesmo modo, podemos verificar que a totalidade dos docentes são habilitados: 2 professores doutorados, 21 mestres, 288 licenciados e 5 bacharéis.
Alunos
democratização do ensino trouxe profundas mudanças quanto ao modo e forma
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de funcionamento do Liceu. De início, como já referi, devido ao aumento exponencial dos alunos, houve a necessidade de encontrar novos espaços (Anexos).
Para permitir a frequência dos trabalhadores-estudantes foram abertos os cursos nocturnos, a partir de 1976. Podemos afirmar que os anos 70 e 80 foram os anos da massificação do ensino, em que a quantidade prevaleceu em desfavor da qualidade. Em 1990/91 o número de alunos atingiu a valor máximo de 5967. A partir dos anos 90, com a criação de novas escolas em todos os concelhos da Região e por motivos de ordem pedagógica, a tendência de crescimento inverteu-se. Em 2003 o número de alunos é de 2664. Contudo, continuamos a ser a maior escola de Região e a frequência dos alunos é extensiva a 40 das 52 freguesias. Medalha Regional de Bons Serviços à Causa da Educação –1992 Foto: António Freitas
O Liceu Jaime Moniz
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Acontecimentos relevantes
Em 1980 o Liceu passou a ser designado por Escola Secundária Jaime Moniz. O Grupo de teatro “O Moniz” surgiu em 1990 tendo contribuído para sensibilizar e dinamizar os jovens para a arte cénica. No dia 6 de Outubro de 1992, a escola celebrou o 50º aniversário do actual edifício, tendo-se realizado uma sessão comemorativa com a presença do Presidente do Governo Regional e uma exposição documental e fotográfica sobre o nosso rico património histórico e cultural.
Visita do Nobel da Literatura à nossa Escola em 2002. Foto: AntónioFreitas.
Como forma de homenagear uma escola de referência, o Governo Regional, pela Resolução nº 995/92, concedeu a Medalha Regional de Bons Serviços à causa da Educação. Em 1993, teve início o Festival Regional de Teatro Escolar, tendo-se realizado, no presente ano (2007), a XV edição. A partir de 1995, a Escola tem dinamizado um conjunto de actividades culturais, nomeadamente a Feira do Livro e a Semana dos Clubes. Nos últimos anos têm sido convidadas ilustres figuras ligadas à política, à cultura, às letras e às artes. O Ministro de Educação, Prof. Marçal Grilo, em Maio de 1996, honrou-nos com a sua visita, acompanhado pelo Secretário Regional da Educação, Dr. Francisco Santos. Em 2002 o Nobel da Literatura, José Saramago, visitou a nossa Escola, proferindo uma conferência e assinando o livro de honra. No dia 17 de Dezembro de 2002, com a presença
Exposição retrospectiva da evolução do Liceu, realizada no âmbito das comemorações do 50º Aniversário do Actual edifício. Foto: António Freitas.
do Senhor Presidente do Governo Regional, Dr. Alberto João Jardim e do Senhor Secretário Regional de Educação, Dr. Francisco Fernandes, a Escola celebrou os 60 anos do actual edifício e 165 anos da criação do Liceu do Funchal. Procedeu-se à inauguração de um conjunto de seis painéis documentais e fotográficos, em que se percorre 165 anos da nossa gesta colectiva. Após o almoço, o Presidente do Governo Regional, ex-aluno do Liceu, referindo-se à nossa Escola, disse: “O Liceu Jaime Moniz passou pelas várias vissicitudes que abalaram a educação em Portugal, mas sempre passou com o prestígio e a qualidade do seu ensi-
Inauguração dos Painéis Fotográficos e
no.”
Documentais, aquando da Comemoração do 60º Aniversário do Actual Edifício e dos 165 da Criação do Liceu. Foto: António Freitas. CD1-60
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spaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar… É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!” O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam? O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida? Paulo Silva – Constato que na pergunta se designa a Escola Secundária Jaime Moniz por Liceu que é também a designação que continuo a utilizar para me referir a esta "casa" tantos anos após dela ter saído. Cheguei ao Liceu em 1975, ou seja um ano após o 25 de Abril e portanto em pleno Processo Revolucionário em Curso (PREC). Desta forma, uma passagem que já de si seria inolvidável tornou-se marcante na minha vida pelos momentos extraordinários vividos, pelas amizades realizadas e pelos professores que tive. O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? Paulo Silva – As pessoas (colegas e professores) são sem dúvida aquilo que mais me marcou na minha passagem pelo Liceu. Fiz grandes amigos e tive excelentes professores: uns e outros ajudaram-me a construir aquilo que hoje sou. No entanto, os espaços não foram de somenos importância, uma vez que tive o privilégio de conhecer
Nome: Paulo Silva
muitos e variados: para além do Liceu tive aulas no Seminário e no antigo edifico Girassol. Embora as condições de ensino nem sempre fossem as melhores, fizemos
Idade: 45 anos Profissão: Funcionário da Comissão Europeia, Direcção Geral do Mercado Interno Área de formação: Direito
sempre o melhor que podíamos nas circunstâncias que foram as nossas. O Lyceu – Como vê a Educação hoje? Paulo Silva – A Educação hoje (como sempre aliás) constitui o factor mais importante de desenvolvimento de um país. Uma Educação entendida num sentido amplo, não apenas como mero veículo de transmissão de conhecimentos mas também de valores e de experiências. Constato com preocupação que, apesar de se falar muito na importância da Educação em Portugal, as taxas de abandono escolar assim como os níveis de iliteracia existentes no nosso país continuam a ser muito elevados o que não constitui um
Falando ... com - Testemunhos do Jaime Moniz
bom prenúncio para o futuro. Contudo, há também que salientar que uma parte crescente das novas gerações consegue hoje atingir níveis educativos nunca antes verificados, o que lhes poderá garantir uma realização profissional e pessoal no quadro desta nossa sociedade globalizada. O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno? Paulo Silva – A importância das novas tecnologias em especial da informação e da comunicação na educação pode resumir-se a dois pontos fundamentais: 1 - A redução dos custos de acesso à informação: o world wide web colocou ao dispor de qualquer pessoa equipada com um computador ligado à internet um manancial quase inesgotável de informação, entendida esta num sentido amplo que abrange desde os textos e as fotos até à música e os vídeos. Portanto, um estudante que queira elaborar um trabalho (inclusive multimédia) sobre um determinado tema dispõe hoje, de uma multiplicidade de fontes de informação a custo quase nulo. Ainda há não muito tempo atrás, o mesmo trabalho estaria limitado ao espólio das bibliotecas, públicas ou privadas, e das livrarias regionais ou seja um universo informacional bastante limitado e potencialmente mais oneroso. A realidade actual coloca, contudo, problemas de outra natureza tais como o da gestão da informação. 2 - A gestão da informação: a pesquisa da informação mais relevante sobre um determinado assunto, o controlo da qualidade da informação obtida, a verificação das fontes, a existência de direitos de autor sobre a mesma são problemas com os quais nos confrontamos sempre que procuramos aceder à informação disponível na net. A ironia desta situação é que o acesso consciente e responsável a um mais amplo universo informacional pressupõe hoje um número mais elevado de conhecimentos do que no passado: é necessário saber utilizar os sites de pesquisa como o google de uma maneira eficaz que nos permita seleccionar os dados mais relevantes no mais curto espaço de tempo, é indispensável saber distinguir a informação do ruído e da desinformação existentes na "net", é importante saber relacionar os dados obtidos com vista a gerar novo conhecimento e até pode ser importante, numa perspectiva de inovação comum ao web 2.0, de controlar as técnicas de "mashup" ou seja a criação/utilização de instrumentos baseados na Web combinando dados de fontes e natureza diversa com vista à produção de novos conjuntos dotados de sentido.
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O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida? Margarida Morna – A minha vida é o Liceu. O Lyceu – O que mais a marcou durante os anos de frequência do Liceu? Margarida Morna – Quando chegámos à Escola, nós, as alunas externas, sentíamo-nos um pouco esmagadas pela superioridade das internas. Isso durou cerca de um mês. Pouco depois, já estávamos em casa. Ainda no ano passado, fui visitar, a Setúbal, a Dra. Elda Lages, que foi minha professora no 6º ano e é uma pessoa que me é muito querida. No 7º Ano, éramos uns onze alunos, rapazes e raparigas. Nesta Escola, as turmas do 3º Ciclo eram mistas. Dávamo-nos todos muito bem. Uma das minhas melhores amigas da época foi a Dra. Cecília Farias, que me acompanhou no meu percurso académico, no
Nome: Dra Margarida Morna Nascimento
Curso de Filologia Clássica. O Lyceu – Como vê a Educação hoje?
Idade: 78 Anos
Margarida Morna – Vejo imensas possibilidades, em termos de Comunicação, para formar anjos ou demónios.
Profissão: Professora Área de formação: Filologia Clássica, Curso de Ciências Pedagógicas
O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno? Margarida Morna – Deixei de dar aulas em 1980, quando fui nomeada Directora Regional do Ensino, uma tarefa ingente. Portanto, nem sei funcionar com um computador, atendendo a que estes surgiram precisamente nesta década, a de 80. Tenciono, porém, ter aulas de Informática em breve. Haja o que houver, julgo que o professor jamais deverá abandonar o seu estudo permanente para preparação das aulas. Julgo, inclusive, que as novas tecnologias, após uma revisão curricular que promovesse o ensino das línguas clássicas, o Grego e o Latim, como estruturas base da aprendizagem das línguas matriciais da Europa, devem servir para aproximar os alunos dessas mesmas línguas.
O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?
Tomás Silva – Foi quando tive a noção do que tinha de aprender. O seio da família não nos dá a noção do que realmente temos de aprender. Só a experiência de vida nos ensina.
O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu?
Nome: João Tomaz Figueira da Silva Tomás Silva – Isso já foi há tanto tempo. Recordo-me de algo que marcou todo o curso
Idade: 87 Anos Profissão: Escultor Área de formação: Curso de Belas Artes
da minha vida. Pelos meus 11 anos, no meu 1º Ano de Liceu, tive um professor de Desenho que andara a combater na Guerra de 1914, juntamente com Ângelo Silva, que veio a ser Reitor. Ora, um dia, este professor apanhou-me com um desenho que eu fiz era de um navio, o Alcântara, a entrar no porto de Lisboa. Perguntou-me entusiasmado:
Falando ... com - Testemunhos do Jaime Moniz
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«O menino como é que fez isso? O menino como é que fez isso?». Expliquei que gostava de ver os navios nas gravuras e nos postais. Elogiou-me a perspectiva e, a partir desse dia, chamava-me para ir ao quadro todos os dias, para desenhar algo. Ora, foi esse entusiasmo que me impulsionou, anos depois, para o Curso Superior de Belas Artes. Nessa altura, era trabalhador-estudante e, como tinha aulas à noite, optei por seguir escultura e não pintura porque, à noite, as cores têm outras tonalidades. Agora, quando não estou a desenhar, sinto-me um zero. Creio que qualquer artista o é quando não está a trabalhar, que vale o que vale pela obra. Recordo-me ainda de outro episódio. Andaria eu no 3º Ano quando apanhámos um livro do Dr. António Mattoso, um livro de História Universal. Vi nele as pirâmides do Egipto e perguntei-me se algum dia iria lá. Curiosamente, há quatro anos estive lá. Tinha 13 anos na altura, o que significa que passei aproximadamente setenta anos a desejá-lo… O Lyceu – Como vê a Educação hoje? Tomás Silva – Adaptada à época. É porque, quando eu cheguei ao 7º Ano, havia reformas. Nessa altura, o “pacote” era geral do 1º ao 7º anos, quer para as Ciências quer para as Letras. Havia duas provas escritas e não havia oral. Passei tudo, até o Latim. Escolhia-se a melhor prova para classificar o aluno e eu falhei a de Matemática, porque tive de ir a uma Junta de Recrutamento. O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno? Tomás Silva – O ensino, como já referi, tem de se adaptar às necessidades de cada época. Por isso, hoje temos os computadores e os telemóveis. Porém, a linguagem utilizada não é a melhor. A meu ver, as máquinas devem ser utilizadas sem adulterar a língua. O nosso Fernando Pessoa, no túmulo, há-de ficar muito aborrecido com estas linguagens, ele que dizia "a minha pátria é a língua portuguesa". Contudo, não me compete a mim mas aos professores serem uma espécie de "juízes" da língua nesta matéria.
O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida? Ramiro Morna – Foi ali que eu me formei. Entrei lá de calça curta e saí de lá com barba. Isto entre Outubro de 1942 e Julho de 1950. Tive a sorte de ali encontrar bons amigos, que comigo estrearam o recém-construído edifício novo do Liceu. Nesse ano, ainda só estavam construídos os prédios, nem havia instalações desportivas. Chegámos inclusive a assistir à última fase de construção do Liceu. Nesta altura, havia dez turmas, três de 1º Ano e uma de cada um dos anos seguintes, e todos se conheciam, desde o 1º ao 7º Anos. Não havia guerras.
Nome: Coronel Ramiro Morna do Nascimento Idade: 75 Anos
Era proibido fumar e até hoje não fumo. No Liceu, só entravam os alunos da Escola. Os professores e as raparigas entravam pela porta poente, hoje a porta principal, e os rapazes pela Rua Bela de São Tiago. As instalações eram novas; o material também e o Reitor fazia vistorias a ver se as salas e as mesas se mantinham imaculadas e cada risco dos alunos era pago por eles, pois os lugares eram marcados. Quando o professor entrava, todos se levantavam. Havia muito respeito, sem desleixar a irreverência própria
Profissão: Militar Reformado, actualmente Voluntário na Cruz Vermelha Área de formação: Curso de Infantaria da Escola do Exército
da juventude. No meu tempo de liceu, não ouvia as obscenidades que hoje oiço na Rua das Mercês. Havia ordem, sem repressão. Os professores eram tratados por Sr. Dr. e Sra. Dra. e usavam bata. O Sr. Reitor estava num pedestal e quem fosse chamado ao seu gabinete era por más razões. Contudo, reprovo o distanciamento entre este e os alunos. Não nos deixavam utilizar o ginásio nem jogar à bola no campo, alegando que fazia mal à saúde. O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? Ramiro Morna – Quando eu estudei no Liceu, como já tinha referido, o novo edifício ainda estava em construção, portanto, houve uma altura em que, onde hoje é o pátio interior, para fazerem as crateras em que colocaram as árvores, os pedreiros gritavam fogo e ouvia-se um estrondo. Recordo-me ainda de professores que me marcaram. O Dr. André Cymbron, por exemplo, era o que tinha a melhor relação com os seus alunos. Até jogava à bola connosco. Mais tarde, foi reitor da Escola. Num desses jogos, o Dr. Cymbron mandou marcar um penalti e o Dr. Faria Nunes, que, na altura, era meu colega, como não concordava, tirou a bola e atravessou a escola, até à Reitoria, com ela nas mãos e o Dr. Cymbron a correr atrás dele. Por vezes, o Dr. Lufinha, que era professor de Português e Latim, também jogava à bola connosco. Não havia autorização para jogarmos futebol no campo. Era inclusive necessário pedir ao Dr. Vasco Machado para utilizá-lo. O mais engraçado é que ele passava uma licença para vólei e o Sr. Vigilante, o “Barrinhas”, não sabia ler bem, portanto, acabávamos por jogar futebol. O Lyceu – Como vê a Educação hoje? Ramiro Morna – Actualmente, há muito facilitismo e este conduz à preguiça, que, por sua vez, conduz à incompetência. No meu tempo de estudante, havia muito rigor nas faltas. Chumbava-se por faltas. Curiosamente, hoje, vejo o muito bom e o mau. Vejo o muito bom e faço vénias aos bons professores. O mau, em parte, deve-se àqueles professores que só têm o soldo que recebem. É ver a vergonha que é o número de faltas e baixas dos professores. Há dois ou três anos, vi nos nossos jornais o título «Professores do Porto Santo são os que mais faltam». No final do ano lectivo, no mesmo jornal, lia-se «Alunos do Porto Santo foram ao exame com média de 13,6 valores e os resultados foram uma média de 6». Ora, então, pergunto-me: a culpa será dos alunos? Não me parece. Fui ao Porto Santo, há dois anos, e, a um de Maio, quarenta professores estavam de baixa. Pergunto se as amêndoas da Páscoa lhes terão feito tanto mal. Será culpa dos médicos, que não os souberam curar ou das leis caducas que regulam o Ensino? Ao proferir estas palavras desagradáveis, curvo-me perante os Bons professores e, ao mesmo tempo, censuro os que não quiserem afinar pelo mesmo diapasão. O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno? Ramiro Morna – «Pelo pouco que sei, entendo que as novas tecnologias são e serão uma mais-valia para a aprendizagem dos alunos e espero que os docentes e os outros responsáveis, nomeadamente os pais e os próprios alunos, saibam tirar o melhor e o mais sadio proveito dessas invenções do Homem.»
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O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida? Ângela Borges – Estudei durante nove anos num colégio, sendo que a minha transição para o Liceu representou uma grande mudança. Essa mudança consistiu na frequência de novos espaços, no conhecimento de outro tipo de organização, no convívio com novos colegas. O Lyceu – O que mais a marcou durante os anos de frequência do Liceu? Ângela Borges – Penso que a resposta anterior já referencia alguns desses aspectos. No entanto, poderei realçar o factor humano. Ingressei numa área pouco escolhida pelos alunos; daí que estivesse integrada na turma de Germânicas, tivesse aulas de Grego com os alunos de História e nas aulas de Francês éramos três elementos. Ora tudo isto permitiu-me conviver com muitos colegas e “fazer” muitos amigos. Para além deste facto, existiam apenas cinco turmas de Secundário, pequeno universo muito favorável ao estreitamento de laços.
Nome: Maria Ângela Teixeira Borges Gonçalves Melim
O Lyceu – Como vê a Educação hoje? Ângela Borges – Não é muito fácil responder a esta questão, dada a abrangência da
Idade: 51 anos
mesma. A temática da Educação, à partida, envolve vários e diferentes parceiros / agentes o que, naturalmente, dificulta o seu desenvolvimento. Actualmente as escolas modernizaram-se, é assegurada a formação docente e não docente para que o nosso público-alvo seja cada vez mais valorizado não só a nível co-gnitivo mas também pessoal e social. Penso que aqui a escola mudou e dá resposta a estas dimensões. Penso também que as nossas crianças e os nossos jovens saem da escola com uma formação mais integral, embora se oiça, muitas vezes, dizer que, antigamente, é que se aprendia… Como é obvio, com as mudanças sociais, a escola também teria de sofrer transformações! Mudaram-se “curricula”, alteraram-se programas, metodologias.. Tudo isso foi feito! No entanto, ainda se assiste a algum abandono escolar… Quais os motivos? Familiares, desmotivação relativamente às aprendizagens, programas desinteressantes e repetitivos, “curricula” demasiado extensos?
Poderia enumerar uma série de
motivos que provocam o insucesso mas naturalmente que a responsabilidade não é exclusivamente do aluno. Há que reflectir sobre o assunto! Antes de terminar, gostaria ainda de enfatizar, pela positiva, a forma como o sistema educativo “abraçou” o sistema formativo e vice-versa. A Escola cresceu, os nossos jovens ganharam com este processo e, consequentemente, toda a sociedade! O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno? Ângela Borges – Actualmente, não conhecer ou não dominar as novas tecnologias representa, de certa forma, uma exclusão social. No âmbito da Educação, os docentes têm vindo a ser alvo de muita formação no sentido de poder actualizar as metodologias de ensino. Considero que as TIC deverão começar a constituir-se como uma ferramenta de suporte pedagógico e não apenas na óptica do ultilizador "normal".
Profissão: Professora Adjunta do Secretário Regional da Educação Área de formação: Português / Francês
O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida? Ricardo Vieira – Cheguei ao Liceu vindo de um ciclo preparatório (era assim que se chamava na altura) tirado no Seminário Menor. A ansiedade de uma escola nova facilmente cedeu ao apreço pelo edifício, pelos seus espaços, pela comunidade que me acolheu e com quem convivi durante cinco anos da minha vida. Ontem como hoje, o Liceu era um símbolo que dava estatuto! Ali passei horas fundamentais da minha adolescência nos acesos anos quentes da década de setenta. Aprendi o gosto pelo conhecimento, a importância da reflexão, da dúvida e da racionalidade, o valor da amizade, a virtude da tolerância, até na política, o sabor dos primeiros amores! Aquele edifício foi fundamental na minha formação humana, cívica e cultural. Essa Saudade de que fala a pergunta é no meu caso açucarada pela gratidão que não me canso de recordar. O Lyceu – O que mais o/a marcou durante os anos de frequência do Liceu? Ricardo Vieira – Tive professores notáveis (Margarida Morna, Lídia Homem da Costa,
Nome: Rui Ricardo Gomes Vieira Idade: 48 Anos Profissão: Advogado
Sales Caldeira, Manuela Pita, Sena Lino, Isabel Spranger, Raimundo Quintal e outros tantos), lidei com funcionários que eram muito mais que empregados; marcaram o meu crescimento colegas de carteira, de ano ou de Escola... mas se há uma marca profunda desses anos, essa foi a do ambiente único e irrepetível que foi o Liceu nessa época, na Região e no País que pulsava! A constituição e as eleições para as Associações de
Área de Formação: Licenciatura em Direito
estudantes, as “greves” e as RGA’s, as ocupações, as discussões intermináveis no Gimnásio, na sala de aulas, no Café Sinai... o desafio de conciliação entre as avaliações que exigiam e o deleite de uma participação em crescendo que, apesar dos muitos abusos, alguns até imperdoáveis, deixou gravada uma experiência que muito me serve no dia a dia da minha vida. O Lyceu – Como vê a Educação hoje? Ricardo Vieira – Sem dúvida que mais participativa e “interactiva”. Também muito mais actualizada e útil no seu conteúdo! Em contrapartida muito menos exigente e laxista. Descredibilizada socialmente, desautorizada e fundamentalmente olhada com um preocupante e crescente desinteressante ou desleixo pelas famílias. No meu tempo de Liceu, a sociedade acreditava na educação, nos seus agentes, nos seus processos e conferia estatuto de relevo ao seu papel. Hoje não é infelizmente assim! Os alunos desinteressam-se, os pais não acreditam, os professores desmobilizam-se e os políticos baralham-se. A acreditação deixou de corresponder à excelência. A educação hiberna e é apenas o esforço de alguns pais e professores, nem sequer reconhecido, que faz surgir oásis neste deserto!... O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno? Ricardo Vieira – No meu tempo, a aprendizagem era mais passiva e monolítica quer nos conteúdos, quer nos métodos. Hoje que tanto se critica o sistema educativo - muitas vezes com razão, diga-se ! - é justo reconhecer que as novas tecnologias e os inúmeros e novos meios de transmisssão e recepção de conhecimentos deram ao ensino novos desafios mas propiciaram aos educandos novas competências. Sou 100% favorável ao uso de todas as novas tecnologias até como forma de cativar ao ensino jovens que trazem de casa, do clube ou de outras experiências, valências nestas áreas que não podem deixar de ser reflectidas na escola. A Escola está na sociedade e deve naturalmente acompanhar todas as inovações nessas áreas!
Falando ... com - Testemunhos do Jaime Moniz - Poesia
Aos cursos de … Presentes, Pretéritos e Futuros
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Depois não tenho sossego
Volta c’o a bolsa vazia
Se eu não possuo vintém.
Depois de ter mil ferrões.
Lá vão os livros p’ro prego Não há maior desventura
E vai o fato também
Vai passear, rompe a capa.
Do que termos de estudar!...
Maldito o dia primeiro
As botas já rotas são.
O tempo da formatura
De todos que os meses têm:
Tem má frequência de banco
É d’um imenso pensar!...
Vem a servente, o padeiro,
E leva um R por fim.
É fazer gastos insanos
Da tenda recados vem.
É viver por cinco anos
É dia de altas maçadas
Lá vai o triste p’ra férias
Sem ser útil a ninguém
Que enquanto cheira a mesadas
Suas desgraças carpir.
É sofrer mil dissabores
Saltam-nos todos os cães.
Conta ao velhote mil lérias
P’ra no fim sermos doutores
São mesmo como as harpias
Que ele não quer engolir.
Se acaso ficamos bem!...
Que nos vêm naqueles dias
Fala à mãe duma doença
Chupar todos os vinténs…
Em que fez despesa imensa Que ainda não pôde pagar…
E assim p’ra não ficar mudo P’ra dar lição regular
E como se fosse pouco
Mas ela abana as orelhas
Hei-de sentar-me ao estudo
Tanto tormento aturar
Que é, como todas as velhas,
Logo que a cabra tocar.
Sai um homem como louco
Mui difícil de embaçar!
E à noite, à banca de pinho
Vai ao jardim passear
Sem dormir, hei-de sozinho
Cansado de aturar brutos
Assim, até mesmo a família
C’os calhamaços gemer
Nem se lembra dos estatutos
Vem o pobre arreliar
Dizer adeus ao cavaco,
E as calças deixa cair;
Volta cheio de quezília
À batota, à troça, ao taco
Eis que um archeiro o apanha
Sua carreira acabar.
Da cábula ao gran prazer!
E diz-lhe com muita manha
Volta aos trabalhos insanos
Que por força preso há-de ir.
E assim vai passando os anos Num contínuo dissabor
E se fosse isto somente O que sofremos aqui!...
Assim tudo se revolta
E no fim de tanto estudo
Assim não chega a mesada
Contra o que quer ser doutor
Está habilitado p’ra tudo
A família está zangada
Se p’rás pândegas se volta
Porque chegou a Doutor!!!
De fazer despesa tal!
Acha nelas dissabor.
Mas eu nada remedeio
Se, às vezes, por brincadeira
Pois que em ‘stando o mês em meio
Toma a sua borracheira
Já não tenho um só real!
Dão-lhe más informações. Se vai à batota um dia
L e J, “O Noticioso”, 21/07/1864
Micaela Martins - Grupo 300
O Lyceu: Fala-nos do Manuel Caldeira, do seu projecto de vida, dos seus sonhos, dos seus gostos… Manuel Caldeira: Eu sou uma pessoa muito ambiciosa no que toca ao judo. Tenciono ser uma referência nesta área. É esse o meu sonho, mas para isso ainda tenho mesmo muito que trabalhar, pois ainda pratico esta modalidade há pouco mais de um ano. Fora disso, sou um aluno da área de economia, tenciono ser gestor de empresas e, nos poucos tempos livres que me restam, costumo aproveitar para estar com os amigos de forma a relaxar do stress diário.
O Lyceu: Como nasceu a tua apetência pelo Judo? Manuel Caldeira: Desde pequeno que gosto muito de artes marciais, tendo já praticado algumas, então decidi experimentar esta modalidade pela qual me apaixonei e na qual fiquei até aos dias de hoje.
O Lyceu: Descreve o Judo enquanto actividade desportiva. Manuel Caldeira: O judo basicamente quer dizer “via da suavidade”, isto explica-se com o facto de que, quando executamos uma técnica, dever ser feita com, como o próprio nome indica, técnica e, se assim for, não precisamos de usar a força. O judo é uma modalidade importante a vários níveis, quer físico, quer mental, quer social, visto que também é uma maneira de conhecer pessoas, de fazer amizades. Ajuda-nos a manter a linha, a ter auto-confiança na altura da sua prática e encarar os problemas do dia-a-dia estando sempre prontos para lutar. É divertido. Dá-nos um espírito lutador. Insere em nós o espírito competitivo... Ensina-nos a não desistir. É um desporto muito bom ao nível do auto-controlo; tem grandes vantagens ao nível da coordenação; desperta os nossos sentidos; ajuda-nos a estar bem connosco mesmos; a manter-nos saudáveis e a esquecermos os problemas e a descarregarmos o stress do dia-a-dia. Embora possa parecer estranho dizê-lo, acaba por ser um desporto relaxante. Direi mais: o judo é algo para além do desporto.... É uma forma de vida!
Rostos do Liceu - Manuel Caldeira O Lyceu: Ser um desportista de alta competição é um desafio? Até que ponto? Manuel Caldeira: Tudo na vida é um desafio e o judo não foge à regra... É sim um desafio, um bom desafio direi... A partir do momento em que um atleta decide que está na prática desportiva do judo para ir para a alta competição, está a desafiar-se a si próprio a trabalhar para conseguir alcançar os seus objectivos, o que exige muito trabalho, portanto, tem de ser uma coisa encarada com muita responsabilidade.
O Lyceu: Como consegues conciliar a alta competição, no que se refere às tuas participações em torneios internacionais, com a vida escolar? Manuel Caldeira: Eu, como referi anteriormente, pratico judo há pouco mais que um ano e, normalmente, os atletas só vão para provas internacionais a partir do 2º ano, mas, do que posso falar, os treinos são fáceis de conciliar, o que é complicado é quando provas escolares (ex. Exames) que coincidem com provas ou estágios e, aí, os atletas têm de optar por uma das coisas, o que nem sempre é fácil... Mas no meu caso, conto com uma grande ajuda por parte do meu ex-treinador e amigo Andrei Veste, da minha mãe e dos meus actuais treinadores do CNF, César e Sandra.
O Lyceu: Vale a pena ser um atleta de alta competição, quer em termos de pessoais quer em termos profissionais? Manuel Caldeira: Não tenho dúvidas nenhumas acerca disso! A prática desta modalidade ajuda-me a viver o dia-a-dia de uma forma mais frontal e ensina-me muitas coisas essenciais quer ao nível pessoal, quer ao nível profissional, começando por ajudar-me a lutar pelos meus objectivos.
O Lyceu: Como lidas com o facto de, devido à competição, seres conhecido por um bom número de pessoas que te são desconhecidas? Manuel Caldeira: Isso não tem tido, até agora, influência no meu dia-a-dia, pois, apesar das competições ganhas por mim, ainda sou novo nesta área, sobretudo se comparado aos meus colegas de equipa e adversários. As pessoas têm tempo para me conhecer.
O Lyceu: Que mensagem deixas aos teus colegas da Jaime Moniz e para os jovens em geral? Manuel Caldeira: O judo é um bom caminho para a vida. Como já disse, é uma forma de vida! Uma forma de vida que nos prepara para cada dia, que nos ajuda a viver com mais alegria e nos ensina a lutar por aquilo que queremos. Aconselho vivamente cada pessoa à prática desta modalidade, sem dúvida alguma.
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Fernanda Freitas - Grupo 510
isitar o CERN é uma experiência única! Este ano realizou-se, entre 9 e 14 de
V
Setembro, uma Escola de Verão no CERN destinada a Professores Portugueses. Tratou-se de uma organização do LIP (Laboratório de Instrumentação e Física
Experimental das Partículas), uma associação científica e técnica portuguesa de utilidade pública, em colaboração com o CERN e que contou com financiamento da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Foram seleccionados 43 professores de Física e Química de Portugal As ruas possuem nomes de físicos famosos.
Continental e Ilhas, que puderam assistir a seminários dados por professores e investigadores portugueses que trabalham ou colaboram com o CERN, realizar algumas actividades e visitar as experiências nas quais Portugal está envolvido. O CERN talvez seja a organização a nível mundial mais aberta ao público, recebendo por ano mais de 25000 visitantes. Existem programas específicos para visitas de professores e alunos, dos mais diversos países. Mas o que é o CERN? CERN é sigla usada para designar a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, o maior centro mundial de física das partículas. Situa-se perto de Genebra, junto à fronteira franco – suíça. Fundado em 1954, o CERN foi um dos primeiros projectos europeus conjuntos e inclui actualmente 20 Estados membros, dos quais Portugal faz parte desde 1985. É aqui que os cientistas se juntam para estudar as partículas constituintes da matéria e as
Placa, no CERN, comemorando o nascimento da WEB.
Esquema de algumas experiências realizadas ou a realizar no CERN.
forças que as mantém juntas.
Ciência Aberta - O Cerne
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O CERN existe para providenciar aos cientistas as ferramentas necessárias às suas experiências, nomeadamente os aceleradores, que aceleram as partículas até velocidades próximas da velocidade da luz, e os detectores que tornam visíveis as partículas resultantes das colisões nos aceleradores. As instalações do CERN consistem de vários edifícios de laboratórios, escritórios, gabinetes, biblioteca, salas de conferências, dormitórios e restaurantes. O CERN emprega cerca de 3000 pessoas, representando uma grande variedade de profissões – físicos, engenheiros, técnicos, operários, administradores, secretárias, pessoal de limpeza e restauração, etc. O CERN é um mercado de trabalho a considerar pelos jovens que se pretendem dedicar à física ou às engenharias. Existem muitos portugueses a trabalhar no CERN. Cerca de 6500 cientistas visitantes, metade dos físicos das partícu-
Modelo Padrão das Partículas
las a nível mundial, deslocam-se às suas instalações para fazer investigação. Representam cerca de 500 universidades e mais de 80 nacionalidades. Em prol da Ciência trabalham em conjunto pessoas de várias nacionalidades: europeus, asiáticos, israelitas, palestinianos… Desde a sua criação que se fizeram no CERN importantes descobertas científicas, algumas das quais conduziram a prémios importantes, incluindo vários Prémios Nobel. Por exemplo, Carlo Rubia e Simon Van der Meer receberam o Prémio Nobel da Física em 1984. A contribuição mais conhecida é contudo a World Wide Web. Foi desenvolvida para melhorar e acelerar a troca de informações entre físicos trabalhando em diferentes universidades e institutos de todo o mundo. Actualmente tem milhões de utilizadores académicos e comerciais. Os aceleradores e detectores exigem tecnologia de ponta. O CERN trabalha em estreita colaboração com indústrias de vários países, incluindo Portugal, com benefícios para Sala de servidores do CERN. A informação
todos. As pesquisas efectuadas no CERN permitiram o desenvolvimento de algumas tecnologias úteis, por exemplo, nas técnicas de diagnóstico e terapia do cancro. Porque é que os cientistas querem estudar as partículas? Os cientistas descobriram que tudo no Universo é feito de um pequeno número de constituintes básicos, denominados de partículas elementares: vários tipos de quarks, que constituem os protões e os neutrões; diferentes tipos de leptões, onde se incluem os electrões, os neutrinos e os muões. Estas partículas são governadas por um pequeno número de forças fundamentais. O Modelo Padrão da física das partículas é uma teoria que descreve três (força electromagnética, força forte e força fraca) das quatro interacções fundamentais entre as partícu-
que aí circula, por segundo, é da ordem dos Giga-bytes.
A participação portuguesa na experiência CMS.
las elementares que constituem a matéria. Esta teoria foi desenvolvida entre os anos 1970 e 1973 e é consistente com a mecânica quântica e teoria da relatividade restrita. Contudo, o Modelo Padrão não é uma teoria completa das interacções fundamentais uma vez que não inclui a força gravítica, a quarta interacção fundamental. Algumas das partículas elementares são estáveis e formam a matéria normal, outras vivem apenas algumas fracções de segundo e decaem em partículas estáveis. Todas elas coexistiram durante breves instantes depois do Big-Bang. Apenas as elevadíssimas energias que podem ser atingidas num acelerador do CERN podem trazê-las de novo “à vida”. Assim, estudar as colisões entre as partículas é como “olhar para trás” no tempo, recreando o ambiente do início do universo. Como é que os físicos estudam as partículas? As partículas são extremamente pequenas e, para ser possível observá-las e estudá-las, O detector CMS, em construção.
os cientistas necessitam de ferramentas especiais, os aceleradores. Estas são enormes máquinas capazes de acelerar as partículas, fazendo-as colidir e dar origem a novas partículas. Junto aos locais onde se dão estas colisões os cientistas constroem experiências e instrumentos que lhes permitem observá-las e estudá-las. Estes instrumentos, muitos dos quais de dimensões consideráveis, são feitos de diversos tipos de detectores de partículas. O LHC (Large Hadron Collider) é o mais poderoso instrumento construído pelo homem para investigar as propriedades das partículas. Trata-se de um acelerador que entrará em funcionamento em 2008 e fará colidir protões de altíssima energia. O LHC tem 27km de perímetro e situa-se a 100m de profundidade. Este enorme acelerador terá associados seis detectores: ATLAS, CMS, ALICE, TOTEM, LHCb e LHCf. Espera-se que nas experiências no LHC seja produzida a famosa partícula o bosão de Higggs, cuja observação permitirá confirmar as previsões do Modelo Padrão e explicar de que modo as outras partículas elementares adquirem massa. A verificação da existência do bosão de Higgs seria um passo importante na procura da Teoria da Grande Unificação, que procura unificar as forças fundamentais: electromagnetismo, força forte, força fraca e gravidade. O bosão de Higgs permitirá também explicar porque é que a força gravítica é muito fraca quando comparada com
Celebração da instalação da última das oito
as outras três forças fundamentais.
grandes “rodas” que constituem o detector ATLAS. A equipa e convidados situam-se
No início do século XXI, enfrentamos novas questões para as quais esperamos que o
entre duas das oito “rodas” de 25m de
LHC tenha resposta. Quem poderá dizer que novos desenvolvimentos estas respostas nos
diâmetro.
trarão? …
Ciência Aberta - O Cerne
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Participação portuguesa Vários físicos e engenheiros portugueses de vários institutos colaboram nas experiências ATLAS (A Toroidal LHC Apparatus) e CMS (Compact Muon Solenoid). Sobre a liderança do LIP, os portugueses são responsáveis pelo desenvolvimento e construção de importantes partes dos detectores. O detector ATLAS entrará em funcionamento em meados de 2008 e permitirá novas descobertas a partir das colisões de protões de alta energia. Participam 1900 físicos (incluindo 400 estudantes), provenientes de mais de 164 universidades e laboratórios em 35 países. O ATLAS terá 46m de comprimento e 25m de diâmetro e pesará cerca de 7000 toneladas. Os protões serão acelerados no LHC e colidirão no interior do centro do detector ATLAS. Os produtos da colisão revelarão propriedades fundamentais das partículas. A energia associada às colisões é semelhante à energia associada às colisões de partículas no jovem universo, menos de um bilionésimo de segundo após o Big-Bang. Poderá lançar luz a alguns aspectos ainda não explicados pelo Modelo Padrão. A experiência CMS localiza-se numa câmara subterrânea em Cessy, França, próximo da fronteira com a Suíça. O detector é cilíndrico e mede 21m de comprimento e 16m de diâmetro, pesando cerca de 12500 toneladas. Na construção do CMS estão envolvidas cerca de 2600 pessoas de 180 institutos científicos. Os principais objectivos desta experiência são explorar a física das altas energias, descobrir o bosão de Higgs e estudar aspectos da colisão de iões pesados.
Fontes: http://www.lip.pt/ http://cern.ch http://en.wikipedia.org/
Pormenor de um dos aceleradores do CERN.
Elisabete Cró - Grupo 410 e Enaltina Vieira - Grupo 330
ntegrado no Projecto COMENIUS I – Programa Sócrates, com o tema global “Modos
I
de Promover a Autonomia e a Iniciativa dos Alunos no Processo de Aprendizagem”, e sub-tema para o ano 2006/2007 “Modos de Vida Saudável”, realizou-se o terceiro
encontro do ano, desta feita em Türi, na Estónia, entre 30 de Maio e 05 de Junho do presente ano, no qual participaram as professoras da Escola Secundária Jaime Moniz, Elisabete Cró e Enaltina Vieira, respectivamente coordenadora e colaboradora do referido Projecto. Do programa deste encontro faziam parte reuniões de trabalho, um encontro com o Presidente do Município de Türi, visitas a Museus e a locais de interesse histórico-cultural, bem como excursões a outras cidades, especialmente à capital – Tallinn. A recepção inicial na Escola participante da Estónia – Laupa Pöhikool – incluiu diversas actividades, nomeadamente um espectáculo preparado e executado por alunos e professores, com danças populares, música, cantares e teatro. Após este espectáculo foi feita uma visita à Escola, uma antiga Casa Senhorial adaptada a escola, onde cerca de oitenta alunos frequentam o ensino básico. Nas reuniões de trabalho, sob a coordenação dos professores Christian e Ulrike, da Escola da Alemanha, os professores apresentaram e analisaram os resultados finais das actividades desenvolvidas na sua Escola referentes ao segundo ano do Projecto e trocaram materiais com o registo dessas actividades. Foi também iniciada a inclusão de alguns registos no Blog (healthylife-comenius1.blogspot.com) criado para este Projecto, com o fim de divulgar as actividades e resultados deste ano de trabalho das oito Escolas participantes, nas diferentes línguas de origem e em Inglês. Finalmente, foram discutidas algumas sugestões de trabalho para o terceiro ano do Projecto – 2007/2008 – que terá o subtema “Desenvolver a Cidade”. A cidade de Türi, uma das mais pequenas do país, com cerca de 600.000 habitantes, apresenta uma beleza natural especial, marcada pelos inúmeros jardins que proliferam pela cidade e que envolvem a maioria das habitações particulares, cuidados e mantidos com tal esmero que justificam o epíteto dado à cidade - cidade jardim. Foi no encontro com o Presidente do Município que foi dado a conhecer as origens, as actividades dominantes e os planos de desenvolvimento desta pequena cidade. Foram de grande interesse as visitas ao Museu da Rádio e ao Liceu de Economia em Türi. Foi ainda nesta cidade que o grupo assistiu a um Festival de canção infanto-juvenil onde vários grupos corais e de danças das diferentes Escolas mostraram os seus talentos na música popular do País.
Visita à Estónia
O grupo de professores, em excursão organizada pela Escola anfitriã, visitou outras regiões do País. Em primeiro lugar Kurgja, zona rural onde abundam quintas agrícolas. Seguidamente Imavere, onde foi realizada uma visita guiada a uma fábrica de lacticínios antiga, visita que incluiu uma divertida e curiosa experiência – produção de manteiga, e ainda uma visita a uma grande serração, ilustrativa de uma das maiores actividades produtivas da Estónia – a madeira. Em Tartu, uma das cidades referência da Estónia, moderna, com uma grande Universidade onde se lecciona um vasto leque de cursos, o grupo visitou o Museu Etnográfico, rico em objectos, pequenas construções e cenários elucidativos das origens do povo e da sua cultura. Outra pequena cidade visitada foi Janeda, onde o grupo Comenius visitou a Feira Anual dos Jardins e das Flores e assistiu a um pequeno concerto de piano numa sala especialmente decorada e iluminada para simular um Planetário. Paide foi outra pequena cidade visitada, característica pela composição das suas construções, em calcário. Finalmente, a capital – Tallinn - com uma zona histórica muito rica, com várias praças coloridas pelas flores, com uma grande actividade comercial e intensamente animada por turistas, jovens e menos jovens, em grupo ou individualmente, enchendo as esplanadas, as feiras típicas, as lojas de souvenirs, os centros comerciais, as praças, até tarde, conferindo assim uma vivacidade enorme a esta bonita cidade. Porque a Estónia é rica em lagos e pântanos, foi proporcionado ao grupo de professores um agradável passeio num pântano, que culminou num apetitoso piquenique à beira de um lago. Foi memorável esta semana na Estónia, tanto pela proficuidade das reuniões de trabalho como pela riqueza cultural das visitas realizadas e pelo extraordinário convívio.
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António Freitas - Grupo 520
Sociedade da Informação, entendida como o âmbito de um conjunto de pre-
A
ocupações que atravessam transversalmente a nossa sociedade, quer pela discussão pública e politica de acções que envolvem o seu desenvolvimento, quer
pelas consequências sociais e económicas que implicam, torna o assunto recorrente desde, principalmente, os anos 90 até à data. A crescente omnipresença das Tecnologias da Informação e Comunicação é causa directa de profundas alterações no nosso modo de viver, aprender e divertir, conduzindo a novas formas de estar e fazer parte de actores sociais e comerciais. As transformações ocorridas no desenvolvimento da Sociedade da Informação têm conduzido à, ainda que parcial, redefinição dos meios e finalidades do acto de ensinar e aprender, conduzindo a um novo paradigma do ensino baseado cada vez mais em princípios de deslocalização, interactividade e flexibilidade. Impõe-se, então, a reflexão da aula, do aluno, da turma e até da própria escola numa sociedade caracterizada pela massificação das Tecnologias de Informação e Comunicação (Gouveia, 2004). As crianças que hoje chegam à escola básica, que cresceram neste caldo informacional, não pensam do mesmo modo nem sabem o mesmo que as crianças de há vinte anos atrás. As crianças já aprenderam muitas coisas pela TV ou pelas redes de computadores. Aprendem a desenvolver capacidades e modos de aprendizagem, porventura diferentes daqueles que eram típicos de uma sociedade pouco informada, em que a televisão não estava tão massificada nem era o veículo de comunicação da imensidade e da qualidade de informação que é hoje. Aprende-se muito fora da escola. O que se aprendia na escola é, em termos gerais, o que se continua a aprender, e o modo de o fazermos é semelhante. Não haverá “rotas de colisão” entre estas diferentes aprendizagens e estes diferentes modos de ensinar e de aprender? Como lida a escola com as aprendizagens ditas “informais”? (Azevedo, 1998). O Surgimento de novos desafios à escola levou à criação de áreas transversais e à integração das TIC, como a Área de Projecto, Estudo Acompanhado, a disciplina de TIC e projectos a nível nacional e internacional. Apesar de haver e de ter havido projectos a nível nacional para a integração das TIC na educação, desde formação de professores ao equipamento das salas, a utilização das TIC em sala de aula é muito incipiente. Em termos curriculares, apesar de existirem recomendações no sentido da utilização das TIC, quer no ensino básico que no ensino secundário, as tecnologias ainda continuam arredadas de muitas disciplinas em que tal é já quase inconcebível, sobretudo por resistên-
As Tic na Educação cia dos docentes que sentem dificuldades em gerir os programas com a inclusão dessas tecnologias, o que aponta claramente para a necessidade de formação no sentido da gestão flexível de programas e para a compreensão de que a estabilidade curricular é efémera. Devem ser objecto de reflexão as situações em que se utilizam estratégias adaptativas das tecnologias aos programas vigentes, o que se pode tornar bastante inadequado pois o uso das TIC não deve substituir-se a outros meios, mas complementá-los, e, no caso de os substituir, deve constituir uma evidente mais valia. Importa acentuar que as formas como se incluem as TIC podem ou não potenciar a construção de sentidos de aprendizagem dos estudantes a partir da complexidade. Uma educação digital não pode ser vista como tendo apenas uma dimensão tecnológica, mas num sentido mais holístico, pois contém dimensões organizativas, estéticas, cognitivas, relacionadas com axiológicas muito relevantes. A Escola tem que reorganizar fisicamente a função destas concepções por forma a que a acessibilidade à utilização de meios e ao acompanhamento desse uso sejam efectivos (Gouveia, 2004). Os desafios a que atrás aludimos têm suscitado o aparecimento de várias iniciativas no âmbito da integração das TIC em contexto educativo e de estudos em que se procura fazer o levantamento e o estudo do impacto dessas mesmas iniciativas, que desenvolveremos mais em detalhe no capítulo seguinte. No país, em 2002 e 2003, foram publicados estudos que visaram conhecer como usam os professores e alunos das escolas portuguesas as TIC. Estes estudos levaram à realização de trabalhos mais localizados, tanto geograficamente como em termos disciplinares/disciplinas. Paiva (2002), fez um estudo sobre a utilização pelos professores, das tecnologias de informação e comunicação. No seu estudo chegou às seguintes conclusões: no Ensino pré-escolar utiliza-se muito pouco as TIC em contexto educativo podendo tal facto dever-se à limitação do parque informático; nos 2º e 3º ciclos e ensino secundário era desejável que o uso do computador, em contexto educativo, fosse mais frequente; os professores que se iniciaram na informática por auto-formação, tipicamente mais jovens, utilizam o computador com mais frequência e qualidade; embora os professores usem, com alguma frequência, os computadores e, em particular a Internet, é muito fraco o uso de e-mail com alunos. Moreira (2003), fez um estudo sobre a integração das TIC na educação, numa perspectiva de contexto da reorganização curricular do ensino básico e verificou que: o rácio de alunos por computador era de 18,6 e que o equipamento não estava instalado nos locais considerados privilegiados para a integração curricular das TIC; a maioria dos professores não tinha formação suficiente na área das TIC, para concretizar a integração curricular das TIC; os Órgãos de Gestão e os professores começam a compreender que a integração das TIC nas práticas lectivas não é compatível com a prática convencional; um grande número de professores utiliza as TIC a nível pessoal e reconhece a necessidade de formação e apoio no desenvolvimento de competências que lhes permitam a exploração das TIC em contexto educativo. Viseu, (2003), fez o estudo sobre os alunos, a Internet e a escola. De acordo com os dados obtidos foi possível concluir que um pequeno número de alunos utiliza a Internet em relação ao global dos alunos da escola (o valor não atingiu os 10%). Acresce-se ainda que, desse reduzido número de alunos, uma pequena percentagem utiliza a Internet com fins escolares. Matos, (2004), fez o estudo sobre as tecnologias de informação e comunicação e a formação inicial de professores em Portugal: radiografia da situação em 2003, reconhece que a qualidade da formação inicial dos professores constitui um dos pontos basilares de progressão do sistema educativo em Portugal, nomeadamente no que se refere às TIC e à sua
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integração nas actividades curriculares ao nível do ensino básico e secundário, torna-se necessário aprofundar o conhecimento acerca dos modos como a formação é realizada e do seu impacto nas práticas dos professores recém diplomados. É urgente investigar com mais pormenor os modos como as instituições de formação inicial integram as TIC nos seus planos curriculares. As TIC são parte integrante do nosso quotidiano, desde o multibanco até à Internet. Os computadores fazem parte da nossa vida individual e colectiva e a Internet e o multimédia estão a tornar-se omnipresentes. A sociedade de informação introduz uma nova dimensão no modelo das sociedades modernas. Estes modelos de sociedade têm implicações na área da educação e da formação que exigem, por parte de todos os intervenientes, um debate sério e aprofundado (Moreira, 2003, p. 14). As tecnologias de informação e comunicação são um instrumento que propicia representar e comunicar o pensamento, actualizá-lo continuamente, resolver problemas e desenvolver projectos. Favorece a articulação entre as diversas áreas do conhecimento, proporcionando um aprofundamento de alguns conteúdos específicos e levando à produção de novos conhecimentos. A Área de Projecto é um espaço privilegiado, em que a partir de um projecto/problema/tema se pode desenrolar todo um conjunto de actividades, envolvendo uma ou mais ferramentas TIC. A Internet e os seus serviços com as suas potencialidades ao nível da pesquisa de informação, comunicação e partilha de conhecimento, o processador de texto, ferramenta básica no que se refere à produção de documentos escritos, a folha de cálculo, nomeadamente a nível do tratamento de dados e sua representação gráfica, a base de dados, como dispositivo de organização e gestão de informação, a recolha e tratamento de imagem digital, a apresentação electrónica da informação, a edição electrónica e mesmo a produção/edição de vídeo digital, constituem veículos de construção de conhecimento, de partilha e de comunicação indispensáveis na sociedade actual. Segundo Rangel, (1998), enumeramos a seguir alguns aspectos que caracterizam as sociedades actuais e que parecem ter maiores implicações em termos de currículos: o mundo transformado numa “aldeia global”, globalização da economia e internacionalização dos mercados, transferência e mobilidade de actividades e pessoas, circulação ultra-rápida da informação, uniformização dos padrões culturais, redução das barreiras tradicionais do tempo e da distância, formação de blocos (económicos e políticos) multinacionais; acentuado desequilíbrio entre países (países altamente industrializados/países subdesenvolvidos); controlo da ciência e tecnologia pelos países mais industrializados; forte emergência de movimentos nacionalistas e regionalistas e de conflitos étnicos e raciais; alteração profunda na natureza e organização do trabalho e do emprego; alteração na distribuição dos sectores produtivos: intensa terciarização; mudança significativa no tipo e conteúdo das profissões; “encefalização” das nossas sociedades, ou seja, a inteligência tornou-se uma das “mercadorias” mais procuradas; aumento da oferta de trabalho (longevidade, saúde, trabalho feminino); escassez de postos de trabalho — desemprego como problema permanente e crónico; aumento das assimetrias sociais, da pobreza, das bolsas de marginalidade e de exclusão , dos conflitos e da violência em todos os países (ricos e pobres); alteração da composição étnica numa grande parte dos países (fruto da mobilidade, migrações e conflitos generalizados, em certas zonas do planeta); deslocação massiva das populações para os grandes centros urbanos; aumento desenfreado do consumismo nos países mais desenvolvidos; aumento da instabilidade familiar e das taxas de divórcio; diminuição da convivência familiar e social; acentuado individualismo crise acentuada dos valores e dos sistemas ideológicos; perda de confiança nos “grandes modelos” - políticos, sociais e económicos; problemas graves de desequilíbrio ecológico e de degradação do ambiente. Segundo Grilo (2002), temos vindo a assistir a um conjunto de mudanças estruturais nas
As Tic na Educação áreas financeira, económica, tecnológica e política cujas sequências se fazem sentir em praticamente todos os sectores da sociedade. As áreas da educação e da formação são talvez aquelas em que o desafio ganha maior dimensão, dado que a qualidade dos recursos humanos a formar no futuro e a requalificação dos recursos existentes constitui, seguramente, factores decisivos para a consolidação do modelo ou modelos onde se inserem as referidas mudanças estruturais. É importante sublinhar o papel que representa hoje, nas nossas sociedades, o seguinte conjunto de factores e áreas de evolução: as tecnologias da informação que, com a ligação dos computadores às telecomunicações, proporcionam o acesso instantâneo à informação e o contacto permanente entre pessoas e organizações; o uso generalizado do computador como equipamento que significa e optimiza os procedimentos, ao mesmo tempo que reduz os tempos de operação; a implicação de novos processos tecnológicos que reduzem custos mas, simultaneamente, que aumentam a qualidade dos produtos; a introdução de novos processos de administração e gestão; o aparecimento de grupos financeiros e económicos de grande dimensão, resultante de uma politica de fusões entre empresas e grupos, com o objectivo de, em certos sectores, se poderem obter altos níveis de competitividade e produtividade; a criação na Europa de um quadro institucional em que se vai continuar a aprofundar e a consolidar um projecto supranacional - com salvaguarda das identidades culturais e linguísticas de cada um dos países que vieram a integrar o projecto. Conforme refere Marques (1998), a idade, o sexo ou o nível sócio-económico não devem ser limites ou obstáculos no acesso e no usufruto da Sociedade de Informação, pelo que, desde a sua geração, devam estar previstos mecanismos que contrariem esse perigo real. Esses mecanismos devem ter como espaços de intervenção prioritários: a escola e a família, onde se formam adequadamente os cidadãos do futuro; as empresas e centros de formação, onde se requalificam os cidadãos do presente. Para Marques (1998), os desafios associados à revolução que a Sociedade de Informação provocará nos planos educativo, social e cultural, podem ser definidos em três linhas principais: A Sociedade de Informação, se construída como prioridade da dimensão humana, não pode gerar novas exclusões sociais ou acentuar as já existentes. A Escola pode e deve ser o principal espaço de afirmação deste paradigma; a Sociedade de Informação não deve permitir a criação, ou o reforço, de predominâncias culturais, ideológicas ou económicas de alguns protagonistas, defendendo, ao invés, a diversidade e a interdependência entre as comunidades. Como espaço de liberdade, deverá estimular o diálogo na diversidade, a partilha de recursos culturais e a afirmação de cada pessoa, povo ou cultura; os primeiros passos da Sociedade de Informação, ainda em fase de afirmação, deve acentuar o carácter democrático e solidário da sua essência, sendo útil que os projectos mais relevantes se afirmem de utilidade evidente e universal, bem como de fácil acesso. No Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal, a formação ao longo da vida sustenta-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que se interligam e que constituem para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias, o que também significa, aprender a aprender, para beneficiar das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente, a fim de adquirir não somente uma qualificação profissional mas também competências que tornem a pessoa apta a enfrentar as mais diversas situações e a trabalhar em equipa; aprender a viver em comum, a fim de participar e cooperar com os outros, no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz; aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes e que permite a cada um desenvolver melhor a sua personalidade, ganhar capacidade de autonomia, discernimento e responsabilidade.
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A educação articula-se com a sociedade de informação, uma vez que se baseia na aquisição, actualização e utilização dos conhecimentos. Nesta sociedade emergente multiplicam-se as possibilidades de acesso a dados e a factos. Assim, a educação deve facultar a todos a possibilidade de terem ao seu dispor, recolherem, seleccionarem, ordenarem, gerirem e utilizarem essa mesma informação. A escola pode contribuir de um modo fundamental para a garantia do princípio de democraticidade no acesso às novas TIC e pode tirar partido da revolução profunda no mundo da comunicação operada pela digitalização da informação, pelo aparecimento do multimédia e pela difusão das redes telemáticas. A sociedade de informação corresponde, assim, a um duplo desafio para a democracia e para a educação. Cabe ao sistema educativo fornecer, a todos, meios para dominar a proliferação de informações, de as seleccionar e hierarquizar, com espírito crítico, preparando-os para lidarem com uma quantidade enorme de informação que poderá ser efémera e instantânea. As TIC oferecem potencialidades imprescindíveis à educação e formação, permitindo um enriquecimento contínuo dos saberes, o que leva a que o sistema educativo e a formação ao longo da vida sejam reequacionados à luz do desenvolvimento destas tecnologias. Neste mesmo sentido, refere o Livro de Graciela Selaimen e Paulo Henrique Lima (2004), Cúpula Mundial Sobre a Sociedade de Informação, alguns objectivos indicativos baseados em metas de desenvolvimento acordadas internacionalmente - incluídas as que figuram na Declaração do Milénio, as quais se baseiam na cooperação internacional, que podem servir de referência mundial para melhorar a conectividade e o acesso às TICs a fim de promover os objectivos do Plano de Acção - que devem ser alcançados antes de 2015. Estes objectivos podem ser considerados no estabelecimento de metas nacionais, em função das circunstâncias de cada país: conectar aldeias com as TICs e criar pontos de acesso comunitário; conectar com as TICs universidades, escolas superiores, escolas secundárias e escolas primárias; conectar com as TICs centros científicos e de pesquisa; conectar com as TICs bibliotecas públicas, centros culturais, museus, agências de correios e arquivos públicos; conectar com as TICs centros de saúde e hospitais; conectar todos os departamentos de governo locais e centrais e criar sítios web e endereços de correio electrónico; adaptar todos os currículos das escolas primárias e secundárias para que se adaptem ao cumprimento dos objectivos da sociedade da informação, levando em conta as circunstâncias de cada país; assegurar que todos os habitantes do mundo tenham acesso a serviços de televisão e rádio; fomentar o desenvolvimento de conteúdos e implantar condições técnicas que facilitem a presença e a utilização de todos os idiomas do mundo na Internet; assegurar que o acesso às TICs esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do planeta. Uma sociedade em constante mudança coloca um permanente desafio ao sistema educativo. As TIC são um dos factores mais salientes dessa mudança acelerada, a que este sistema educativo tem de ser capaz de responder rapidamente, antecipar e mesmo promover. Segundo a Acção Nacional TIC para a Educação, a vigorar ao longo de 2001-2006, o futuro perspectivado de uma sociedade de informação e do conhecimento depende significativamente do que hoje ocorre nas escolas. As características e a qualidade da acção educativa que aí decorrem, as aprendizagens realizadas, as competências e os saberes adquiridos são factores condicionantes do percurso social a realizar. Uma educação básica capacitadora de uma cidadania plena para todos pressupõe a existência de referenciais de conhecimento e de desempenho de acesso universal. Estes, consubstanciados num perfil de competências gerais, não podem deixar de ter em conta as implicações específicas e transversais que as TIC comportam. A escolaridade obrigatória assume, com crescente implicação, todas as consequências
As Tic na Educação que decorrem desta realidade. Pretende garantir que, ao finalizar o nono ano, todos os alunos sejam capazes de utilizar as TIC, nomeadamente para seleccionar, recolher e organizar informação, para esclarecimento de situações e resolução de problemas. A exigência de uma tal competência terminal pressupõe o desenvolvimento de diversos saberes e competências ao longo de todo o ensino básico. Trata-se de garantir que as escolas assegurem no currículo dos alunos a possibilidade destes adquirirem uma capacidade significativa na utilização dos computadores e da Internet. Não basta que os alunos sejam capazes de realizar alguns procedimentos elementares no uso das TIC. O desempenho básico neste domínio pressupõe que desenvolvam, de forma flexível e faseada, processos de aprendizagem transdisciplinar, com um tempo significativo de prática que lhes garanta a transferibilidade das aprendizagens e a autonomia no uso das TIC. Isso pressupõe o inequívoco empenho das escolas e dos professores e o estímulo a aprendizagens autónomas e cooperativas dos alunos. Implica que o uso das TIC esteja presente em várias áreas curriculares para que seja assegurado um percurso coerente de formação e a aquisição de um conjunto de competências claramente referenciado. Neste sentido, o ensino básico, para além da certificação global que propicia no final do 3º ciclo, deve dispor de uma certificação básica em TIC com identidade própria, capaz de balizar as aprendizagens a realizar nestas tecnologias ao longo da escolaridade obrigatória e de certificar a sua aquisição pelos alunos. Este “Certificado de Competências Básicas em Tecnologias de Informação e Comunicação” deve corresponder ao reconhecimento de que o aluno adquiriu ao longo do ensino básico as competências relativas a: aquisição de uma atitude experimental, ética e solidária no uso das TIC; capacidade de utilização consistente do computador; desempenho suficiente no manuseamento do software utilitário essencial; capacidade de recolha e tratamento de informação, designadamente com recurso à Internet, e desenvolvimento de interesse e capacidade de auto-aprendizagem e trabalho cooperativo com as TIC. Um professor com competências básicas em TIC terá conhecimentos e competências em cinco vertentes: atitudes positivas, numa perspectiva de abertura à mudança, receptividade e aceitação das potencialidades das TIC, capacidade de adaptação ao novo papel do professor como mediador e orientador do conhecimento face aos alunos, estimulando o trabalho em grupo; promoção de valores fundamentais no uso das TIC, incluindo a atenção às questões de segurança/vigilância sobre a informação na Internet, as questões de direitos de autor e éticas relativas à utilização das TIC, etc.; competências de ensino genéricas sobre quando utilizar e como integrar as TIC nas diferentes fases do processo de ensino, partindo do planeamento até à avaliação e modo de usar as TIC para estimular as dinâmicas da escola; competências para o ensino da disciplina/área curricular, incluindo o modo como integrar as TIC no curriculum, conhecer e avaliar software educacional, como explorar os recursos existentes na escola, estar familiarizado com o equipamento, estar atento às questões de segurança/vigilância sobre a informação na Internet, às questões de direitos de autor e éticas relativas à utilização das TIC, a questões relativas às condições de acessibilidade da Internet para públicos com necessidades especiais; capacidades de manuseamento das ferramentas, incluindo software utilitário e de gestão pedagógica, em contexto educativo. Em Portugal Continental e na Região Autónoma da Madeira, os decisores políticos têm desenvolvido iniciativas tendentes a dar às novas gerações a possibilidade de acesso às médias digitais. Estas iniciativas têm visado fundamentalmente o apetrechamento das escolas em meios informáticos, a ligação das escolas à Internet e a formação de docentes (Projecto Minerva; Projecto REI; Programa Prof2000; Projecto Uma Família Um Computador; Projecto Madeira Digital). Tais iniciativas têm registado alguns resultados po-
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sitivos, embora limitados a uma pequena percentagem da comunidade escolar da Região Autónoma da Madeira. A maioria destes projectos não funciona em todas as escolas, depende da realização da candidatura da escola aos projectos e da sua aceitação por parte do Júri dos mesmos. Adicionalmente, cada escola integrada num projecto não abrange todos os seus alunos; normalmente desenvolve actividades no âmbito de um clube, apenas com os alunos que se inscrevem nele. Neste momento, em Portugal, parece existir vontade política consagrada no Decreto-Lei nº6/2001. O diploma estabelece a educação para a cidadania, o domínio da língua portuguesa e a valorização da dimensão humana do trabalho, bem como a utilização das TIC como formações transdisciplinares, no âmbito do ensino básico, abordando de forma integrada a diversificação das ofertas educativas, tomando em consideração as necessidades dos alunos, definindo um quadro flexível para o desenvolvimento de actividades de enriquecimento do currículo. O programa de Tecnologias de Informação e Comunicação (9º e 10º Ano) refere que se pretende que seja uma disciplina essencialmente prática e experimental, orientada para formação de utilizadores competentes nestas tecnologias. Para atingir esta meta, o ensino de TIC deverá ser feito em articulação e interacção com as demais disciplinas, por forma a que os alunos sejam confrontados com a utilização das aplicações informáticas mais comuns em contextos concretos e significativos. O despacho nº 16 149/2007 vem potenciar o uso das TIC, no 8º ano, áreas curriculares não disciplinares, preferencialmente na Área de Projecto para uma maior eficácia na aplicação de programas de apoio aos alunos com dificuldades de aprendizagem. Desta forma, um tempo lectivo de 90 minutos deverá ser destinado à utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação para atingir os objectivos destas áreas não curriculares. No próximo número, abordaremos as respostas dos alunos da Área Projecto do 9º Ano, de todas as Escolas da Região, a um inquérito sobre a utilização das TIC na Educação. Bilbiografia:
Decreto-Lei nº 6/2001 Despacho nº 16 149/2007
Azevedo, Joaquim (1998). Sessão de Abertura. In Marques R. and all (Ed.). Na Sociedade de informação: O Que Aprender na Escola?, 81-96. Porto. Edições ASA.
Gouveia, Luís Borges and Gaio, Sofia ( 2004). Sociedade da Informação. Balanço e Implicações. Porto. Edições Universidade Fernando Pessoa.
Grilo, Marçal (2002). Desafios da Educação. Lisboa. Oficina do Livro.
Matos, Filipe de Lacerda (2004). As Tecnologias de Informação e Comunicação e a Formação Inicial de Professores em Potugal: radiografia da situação em 2003. Centro de Competência Nónio Século XXI ad Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Lisboa.
Moreira, Ana Paula Génio (2003). Integração das TIC na Educação: Perspectivas no Contexto da Reorganização Curricular do Ensino Básico. Universidade do Minho. Instituto de Educação e Psicologia.
Rangel, M (1998). Reordenar o Currículo do Ensino Básico Fáce à Sociedade de Informação. In Marques R. and all (Ed.). Na Sociedade de informação: O Que Aprender na Escola?, 81-96. Porto. Edições ASA. Viseu, Sofia (2003). Os Alunos, a Internet e a Escola. Ministério da Eucação – Departamento da Educação Básica.
As Tic na Educação - Manifesto em prol dos afectos
MANIFESTO EM PROL DOS AFECTOS ( Em construção) É legítimo sentir-se optimista, sentir alegria, sentir-se bem. É legítimo sentir amor, sentir desejo de estar em contacto emocional e físico. É legítimo competir, querer vencer, ser o melhor, o primeiro. É legítimo perder, fracassar, desesperar. É legítimo ser curioso, querer descobrir, fazer justiça. É legítimo sentir confiança, sentir carinho, sentir esperança. É legítimo achar graça, sorrir e rir. É legítimo sentir vontade de chorar. É legítimo chorar. É legítimo ser diferente: interna, externa e interna e exteriormente. É legítimo sentir-se bem, sentir ternura por si, pelos outros pela vida. É legítimo sentir ressentimento, ira, raiva. É legítimo sentir gratidão, sentir simpatia, sentir empatia. É legítimo sentir coragem, sentir-se forte, poderoso. É legítimo sentir desânimo, solidão, mágoa. É legítimo ter amigos, abraçá-los, discordar, partilhar. É legítimo não ter soluções, não ter questões, não ter depressões. É legítimo sentir admiração, sentir orgulho, sabedoria. É legítimo sentir-se frágil, vulnerável, “um vidrinho”. É legítimo pedir ajuda. É legítimo ser ajudado. É legítimo ser tolerante, ser bondoso, perdoar. É legítimo sentir-se feliz. É legítimo sentir-se infeliz. É legítimo estudar, saber, sonhar. É legítimo sentir paixão, compaixão, desilusão. É legítimo sentir-se a explodir de contentamento. É legítimo querer estar só. É legítimo precisar de estar só para conseguir reflectir, organizar ideias, etc. É legítimo sentir algo que não se consegue definir, porque nunca se sentiu antes. É legítimo atingir metas e criar outras. É legítimo descansar antes, durante e depois. (...) É legítimo o sentimento qualquer que ele seja. Não é legítima qualquer acção (inclui as verbais) que vise prejudicar.
Maria de Fátima Saldanha Vieira (psicóloga)
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Clara Reis e Gilda Figueira - Grupo 330
s Cursos de Inglês e de Alemão nasceram da necessidade de usar a língua
O
Inglesa e Alemã em situações práticas do dia-a-dia. Um excelente exemplo são as viagens efectuadas ao estrangeiro em que é imperativo dominar o vocabu-
lário e as estruturas linguístico-gramaticais específicas e adequadas a transacções aeroportuárias, a transacções bancárias, a situações de comunicação relativas aos correios, a agências de viagens e de aluguer de automóveis, a hotéis e restaurantes, bem como, a outras situações de lazer e entretenimento. Os cursos destinam-se a todos os docentes, CURSOS DE INGLÊS Iniciação - Terças-feiras 14h às 15h, sala 307. Iniciação - Quartas-feiras 15h às 16h, sala 307 Avançado - Quintas-feiras 9h às 20h, sala 110 CURSO DE ALEMÃO Iniciação - Terças-feiras 19h às 20h, sala 104
funcionários e pessoal administrativo, aos encarregados de educação e mesmo aos discentes que necessitam ou venham a necessitar de enfrentar realidades diárias em que o Inglês e o Alemão seja fundamental. Num mundo em constante renovação em que é fundamental ter em consideração as realidades da União Europeia e da globalização, serão ainda objectivos relevantes: identificar símbolos e comportamentos típicos da cultura anglo-saxónica e alemã, fomentar a partilha e troca de informação e ideias relativamente a universos culturais e sociais díspares, reconhecer a utilidade das línguas Inglesa e Alemã nos contextos escolar, laboral, académico e social na RAM, servir-se do Inglês e Alemão como veículo de documentação e, sobretudo, comunicar além fronteiras instintivamente e em contextos autênticos de comunicação. A nível das estratégias e actividades, contamos promover nas sessões do curso a audição de cassetes e CDs, o visionamento de vídeos e DVDs, diálogos contextualizados, dramatizações de situações reais, visitas de estudo a locais onde se privilegie o uso da língua Inglesa, abordagem de temas actuais, … Estes cursos funcionarão com uma sessão semanal para cada grupo de modo a proporcionar uma correcta aprendizagem dos conteúdos de forma progressiva, sistemática e prática segundo uma abordagem indutiva e, consequentemente, formativa e comunicativa.
Curso de Inglês - Foto Agrafar Emoções
“Momentos…
instantes
únicos,
irrepetíveis que não foram nem o “antes” nem o “depois”, aquele preciso e cirúrgico click que não será apenas intuição e que transcende o estar no lugar certo à hora certa… Para mim é, sobretudo, disto que se trata quando falo de fotografia --- ser capaz de fazer bom uso da técnica em função
do
momento.
Assim,
cada
fotografia é também a minha vida, a fracção dos instantes que a constituem --um pedaço da minha autobiografia. As duas fotografias que escolhi: 1.
Escadas de acesso à Casa da
Música (Porto). As minhas filhas. Um instante feliz. Uma foto, para mim, cheia de simbolismo… uma metáfora da minha própria vida. 2.
Pico das Pedras (Santana). Abril.
Manhã de neblina. Absoluta comunhão com a Natureza e a sorte de encontrar uma luz perfeita e uma ambiência intimista e misteriosa de que gosto muito. http://www.1000imagens.com/InacioFr eitas/ http://www.Olhares.com/Oicani/
Inácio Freitas - Grupo 300
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India Väyrynen - 12º 44
Finlândia, em finlandês Suomi, é um país escandinavo, vizinho da Suécia, da
A
Rússia e da Noruega.
Por questões políticas os finlandeses sentem uma especial aversão aos russos que durante a Guerra de Inverno conquistaram províncias a que a Finlândia tinha direito. Contudo, os vizinhos suecos também não são muito bem vistos, pois a Finlândia sempre desejou que no país apenas houvesse uma língua oficial, o finlandês, embora de momento as duas línguas oficiais ainda sejam o finlandês e o sueco. A Finlândia tem como população 5 milhões de habitantes, a sua capital é Helsínquia e possui uma superfície de 337 000 km². Esta média superfície é constituída por inúmeros lagos - 187 888 e ilhas - 179 584. Os primeiros, de água doce, encontram-se principalmente no centro do país e já os segundos no sul do país. Uma outra característica a ter em conta na superfície finlandesa é a vasta área florestal que ocupa cerca de 60% da área terrestre. Quanto à religião, uma grande maioria da população finlandesa pertence à Igreja Luterana, uma vertente do Cristianismo mais suave, digamos, visto que, se considerarmos aspectos como a não existência do celibato ou o facto das mulheres também poderem exercer funções de padre, podemos considerá-la mais liberal. A população finlandesa tem sempre sido concentrada na região sul do país. Eu nasci em Turku, a mais antiga cidade finlandesa, localizada no sudoeste do país, dividida pelo rio Aura que passa no coração da cidade. Todos os verões elejo o mesmo lugar para férias, o meu país, que ao contrário da imagem estandarte passada para os que lá nunca foram nem todos os meses são frios, nem os pinguins correm por entre os carros nas cidades, nem tão pouco temos de ficar em casa no Verão devido a tempestades de neve. O Verão é sagrado para os finlandeses. Se no Inverno, estes fogem para destinos mais exóticos e calorosos como a nossa ilha da Madeira, no Verão nutrem um grande gosto por aproveitar as suas casas de campo, comer gelados, apanhar cogumelos (grande paixão gastronómica) e frutos silvestres de sabores muito peculiares. Estes últimos encontrados na vasta floresta onde observamos os finlandeses com botas de borracha de cano alto e redes de mosquito presas aos chapéus. Contudo, estes frutos e cogumelos não são os únicos habitantes das florestas finlandesas, outros deles são veados, cobras e ursos raramente vistos pelas pessoas.
Bilhete Postal - Potuguês.com
O clima finlandês é imensamente contrastante. As temperaturas no Verão podem atingir os 30 Cº enquanto que no Inverno atingem os 20 Cº negativos. Um quarto do território finlandês situa-se a norte do Círculo Polar Árctico e, consequentemente é possível experimentar o Sol da meia-noite mais frequente à medida que se caminha para norte, o Sol não se põe durante 73 dias no Verão e não nasce durante 51 dias no Inverno. Eu adoro o meu país, sou muito patriota, sempre me despertou uma curiosidade imensa, embora nunca lá tenha vivido, o motivo provavelmente é esse mesmo, pode não passar de uma mera curiosidade do desconhecido.
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Contentor Quantas caixas com dimensões 1m x 5m x 50 cm cabem num contentor de dimensões 6m x 5m x 4m?
De que número se trata? Um número entre 1 e 50 satisfaz as seguintes condições: É divisível por 3; a soma dos seus dígitos está entre 4 e 8; é ímpar; o produto dos seus dígitos está entre 4 e 8? Que número é?
Couves de Bruxelas Um comerciante recebeu uma caixa de couves de Bruxelas com muitas impróprias para consumo. Para se queixar, contou-as, obtendo 114, o que corresponde a 8 por cento do conteúdo da caixa. Quantas couves de Bruxelas estão na caixa?
Prato principal Um almoço custa 14 euros. O prato principal custa o dobro da sobremesa e a sobremesa custa o dobro da sopa. Quanto custa o prato principal?
Ampliação Uma fotografia que mede 7.5 cm por 6.5 cm vai ser ampliada. Se a dimensão maior é transformada em 18 cm, qual é a nova medida do lado menor?
Passatempos
Obra de arte Um escultor recebe uma peça de mármore com140 kg. Na primeira semana retira 35% da peça, na segunda retira 26 kg. Finalmente, na terceira, retira dois quintos do restante, terminando a estátua. Quanto pesa esta obra de arte?
Bola saltitante Uma bola cai de uma altura de 12 m, bate no chão e ressalta metade dessa distância, após o que volta a cair. O ressalto seguinte é de novo metade da altura da queda e assim sucessivamente. Que distância percorreu a bola até bater no chão pela quinta vez?
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Ampliação - 15.6 cm; Obra de arte - 39 kg; Bola saltitante - 34.5 m Contentor - 48; De que número se trata? - 15; Couves de Bruxelas - 1425; Prato principal - 8 Euros;
Nariz e orelhas nunca param de crescer O tecido cartilaginoso, que forma o nariz e as orelhas, não deixa de crescer nem mesmo quando o indivíduo se torna adulto. Daí porque o nariz e as orelhas de um idoso são maiores do que quando era jovem. A face também encolhe porque os músculos da mastigação se atrofiam com a perda dos dentes. Origem da actual divisão do tempo A divisão da hora em 60 minutos, e do minuto em 60 segundos, é atribuída ao cientista holandês Christian Huygens. Aperfeiçoou a medida do tempo ao descobrir a regularidade dos movimentos do pêndulo. Publicou as primeiras observações a respeito em 1658. Matemático russo foi considerado bruxo e condenado à fogueira devido à precisão de seus cálculos O tzar Ivan IV da Rússia, que reinou de 1533 a 1584, mandou executar na fogueira um matemático a quem pedira, apenas para divertir a corte, que calculasse o número exacto dos tijolos necessários para construir determinado prédio. Ao término da obra, verificada a precisão dos cálculos, Ivan IV sentenciou o matemático à morte como bruxo, porque era dotado de estranhos e perigosos poderes. Fim do mito de Atlântida O sonar revelou, com certeza, que nenhum continente submergiu em qualquer oceano, mesmo antes de surgir a vida na Terra. Com isso sepultou-se o mito de Atlântida, que teria levado para o fundo do mar, em época remota, uma civilização altamente desenvolvida. Combustão espontânea existe e pode originar incêndios O fogo pode irromper espontaneamente quando algodão embebido em óleo mineral é aquecido pelos raios do Sol. Da mesma maneira, a tinta de jornal nova também se inflama, quando se espalha pelo papel e entra em contacto com uma fonte de vapor de água. A combustão espontânea é a origem de muitos incêndios. Qual é a maior caverna do mundo? A maior caverna do mundo é a Câmara Sarawak, no Parque Nacional Gunung Mulu, na Malásia. A sua cavidade tem 700 metros de comprimento, 70 metros de altura no ponto mais baixo e 300 metros de largura média. A origem do Cubo Mágico O Cubo Mágico, pequeno objeto formado por nove quadrados coloridos em cada face, foi criado pelo húngaro Ernö Rubik, na metade da década de 70. Porém, foi apenas em 1980 que o brinquedo, chamado originalmente de Cubo de Rubik tornou-se famoso no resto do mundo, quando foi importado pelos Estados Unidos. O desafio proposto pelo jogo é colocar todos os quadrados de cor igual no mesma face do cubo girando as suas peças. O objectivo, que é ainda mais complicado do que parece, pode gerar muita frustração nos menos habilidosos. Percebendo isso, uma empresa chegou a comercializar, nos anos 80, um pacote com adesivos coloridos imitando as peças do brinquedo. Assim, qualquer um poderia colá-los convenientemente no objecto e fingir que tinha vencido.
Passatempos
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Resolva cada um dos sudoku's que apresentamos, um de nível Fácil, outro Médio e para os mais experientes um de nível Difícil. Divirta-se, exercitando a mente. Regra: Complete a grelha de modo a que cada linha, cada coluna e cada bloco incluam os números de 1 a 9, sem repetições.
Para quem preferir jogar on-line poderá fazê-lo num dos seguintes endereços: http://sudoku.mundopt.com/sudoku-media.php http://www.websudoku.com/ http://sudoku.hex.com.br/ http://sudoku.com.au/
Como mostrar e manter um certo nível de insanidade...
poemas não rimam.
1. Na sua hora de almoço, sente-se no seu carro esta-
16. Descubra onde o seu chefe faz compras e compre
cionado, ponha os óculos escuros e aponte um secador
exactamente as mesmas roupas. Use-as um dia depois do
de cabelos para os carros que passam.
seu chefe as usar. Tem, ainda, mais impacto, se o seu
Veja se eles diminuem a velocidade.
chefe for do sexo oposto.
2. Sempre que alguém lhe pedir para fazer alguma coisa,
17. Mande E-mail's para o resto da empresa, dizendo o
pergunte se quer batatas fritas a acompanhar.
que está a fazer, em cada momento. Por exemplo: "Se precisarem de mim, estou na casa de banho".
3. Encoraje os seus colegas de gabinete a fazerem uma dança de cadeiras sincronizada consigo.
18. Coloque um mosquiteiro à volta da sua secretária e ponha um CD com sons da floresta, durante o dia inteiro.
4. Coloque o seu recipiente do lixo sobre a mesa de trabalho e escreva nele, "Entrada de Documentos" .
19. Quando sair dinheiro da caixa Multibanco, grite.
5. Desenvolva um estranho medo aos agrafadores.
20. Ao sair do jardim zoológico, corra na direcção do parque de estacionamento, gritando, "Salve-se quem puder!
6. Ponha café descafeinado na máquina de café, durante
Eles estão soltos!"
três semanas. Quando todos tiverem perdido o vício da cafeína, mude
21. À hora do jantar, anuncie aos seus filhos: "devido à
para café expresso.
nossa situação económica, teremos de mandar embora um de vós" .
7. No verso de todos os seus cheques, escreva, "referente a suborno" .
22. Todas as vezes que vir uma vassoura, grite, "Amor, a tua mãe chegou!"
8. Sempre que alguém lhe disser alguma coisa, responda, " isso é o que tu pensas " .
A seguir, a última forma de manter um nível saudável de insanidade... e concretizar o s seus o bjectivos:
9. Termine todas as suas frases com, " de acordo com a profecia" .
23. Mande este texto para todos os seus amigos, MESMO que eles já lhe tenham pedido para não lhes
10. Ajuste o brilho do seu monitor para o nível máximo, de forma a iluminar toda a área de trabalho. Insista com os outros de que gosta assim. 11. Não use pontuação nos seus textos. 12. Sempre que possível, salte em vez de andar. 13. Pergunte às pessoas de que sexos são. Ria, histericamente, depois delas responderem. 14. Quando for à Ópera, cante com os actores. 15. Vá a um recital de poesia e pergunte por que é que os
mandar mais lixo...
Passatempos DÚVIDAS CIENTÍFICAS
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17 - O que é que contam as ovelhas para dormir? E não contamos carneiros para acordar?
1 - Porque é que as mulheres não podem pintar as pes-
18 - Porque é que as ameixas pretas são vermelhas quan-
tanas com a boca fechada?
do estão verdes?
2 - Porque é que nunca se viu anunciado nos jornais:
19 - Onde está a outra metade do Médio Oriente?
³Adivinho ganhou a lotaria²? 20 - Porque é que quando chove levantamos os ombros ? 3 - Porque é que o sumo de limão é feito com sabor arti-
Será porque nos molhamos menos?
ficial e os detergentes para a louça são feitos com limões naturais?
21 - Porque é que, com o tempo, as madalenas se põem duras e as bolachas amolecem?
4 - Porque é que não há comida para gatos com sabor a rato?
22 - Porque é que para encerrar o Windows . . . . . . se carrega no botão «Iniciar » ?
5 - Quando é posta à venda uma nova comida para cães com um sabor melhor. Quem é que a provou? 6 - Porque é que se esterilizam as agulhas para as injecções letais? 7 - Porque é que os aviões não são feitos com o mesmo material das caixas negras? 8 - Porque é que as ovelhas não encolhem quando chove e, as camisolas de lã encolhem quando são lavadas? 9 - Se voar é tão seguro... Porque é que se chama ³Terminal ³ aos aeroportos? 10 - Até onde é que um careca lava a cara? 11 - Um parto na rua, é iluminação pública? 12 - Porque é que apertamos os botões do comando com mais força, quando as pilhas estão fracas? 13 - Porque se lavam as toalhas? Não é suposto estarmos lavados e limpos quando as usamos? 14 - O Mundo é redondo e chamamos-lhe planeta, será que se fosse plano lhe chamaríamos redondeta? 15 - Porque é que quando vamos de carro e não encontramos alguma coisa, apagamos o rádio? 16 - Se um advogado enlouquece, perde o juízo?