Edição 25, maio de 1985

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vo, quase sempre prejudicando o projeto estritamente pedagógico das escolas. Por tudo isso, achamos que se o 1Q período tinha sido marcado por um certo pedagogismo, nes5e segundo o que prevaleceu foi um certo politicismo. As novas questões marcadas pelo contatoconfronto com o Estado absorveram totalmente as lideranças comunitárias, as equipes que administravam as escolas e as próprias professoras e pais. Essa percepção que temos hoje desse momento não pretende ajuizar, como bom ou como ruim, falar do certo ou do errado. O contexto histórico geral, as necessidades e os rumos que as escolas foram tomando, a precariedade das condições de ensino, os salários baixíssimos das professoras, tudo isso, associado à compreensão de que a educação é um direito de todos e que o movimento popular sairia politicamente reforçado desta luta, fez com que as escolas optassem por esse caminho. Considerando os limites deste trabalho, vamos nos deter um pouco mais na luta pelo aumento das bolsas para o ano de 1979, pela amplitude e repercussão que esta veio a assumir. Antes, porém, vamos falar um pouco de algumas questões ligadas diretamente ao nosso trabalho de assessoria sócio-pedagógica às escolas.

fornecendo elementos de análise para o desenvolvimento de uma consciência mais fundamentada, de tal forma que as lideranças comunitárias assumissem um papel de agentes ativos naquela proposta sócio-pedagógica que estávamos elaborando. Por essa época, 76/77, nos convencemos de que nossa postura estava gerando uma forte relação de dependência com os moradores e suas lideranças. Estávamos certos da necessidade de superá-la, pois constituía-se numa deficiência que estava atingindo todo o nosso trabalho, e não só o relativo às EC's.

• Reflexos da Luta no Cotidiano Escolar No início dessa 2<:1 fase das escolas, nossa assessoria estava em plena mudança de suas concepções de trabalho. Avaliando nossa prática, sentíamos que precisávamos dar um conteúdo crítico, dialético à idéia de participação e organização comunitária. Parecia-nos que já não bastava o trabalho comunitário pelo trabalho comunitário. Era necessária uma direção que rompesse com o caráter assistencialista que estava assumindo. Mais do que as idéias de criatividade e participação comunitária, tornavase importante a construção de uma visão crítica de sociedade. Quais os saldos que tínhamos obtido até então? Para que estavam servindo as escolas? C.::>mo estava a capacidade reivindicatória da população? E sua organização"? As escolas estavam, de fato, sendo dirigidas pelas lideranças locais? Estas não se encontravam muito dependentes de nosso trabalho? Qual o grau de articulação entre os grupos comunitários da área? O que estavam discutindo? Como? Todas essas indagações direcionaram nossa assessoria para uma linha de esclarecimento, de conscientização dos direitos e da necessidade de se lutar por eles. Passamos a incentivar a organização, mobilização e articulação com outros bairros,

Aos poucos foi se dando uma inversão em nosso relacionamento com os grupos populares: eram estes que passavam a procurar-nos para que prestássemos apoio. Um exemplo ilustrativo foi a enorme requisitação que passamos a receber para assessorar chapas sindicais e outras atividades de organização do movimento popular. Contribuímos nesse processo, antes de tudo, mudando definitivamente nossa natureza de instituição autogerida, geradora de projetos, para uma entidade implementadora dos mesmos, em especial os surgidos das próprias populações junto às quais estávamos trabalhando. Naturalmente que essas mudanças não se restringiram a estas formalidades. Não se trata disso. O que de fato houve foi uma mudança de metodologia, possível devido aos primeiros sinais de abertura política no país. No caso particular das EC's, a repercussão sobre nosso trabalho de assessoria foi imediata, a

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