Edição 25, maio de 1985

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questões sem incorrer, nem em moralismos, nem ignorando, fechando os olhos, para esses fatos. Entendíamos que pelas precaríssimas condições de vida daquelas pessoas, esse tipo de situação encontrava terreno propício para ocorrer. Nossa postura foi de ampliar essa discussão e de dar subsídios para que o trabalho administrativo se tornasse mais racional, competente e coerente com a filosofia educacional proposta. Nos treinamentos e encontros específicos do pessoal administrativo, discutíamos noções de Contabilidade e a importância do trabalho de administração. Este não deveria ser a face burocrática das escolas. Deveria constituir-se, sim, no suporte sobre o qual todos construiriam uma educação crítica e enraizada culturalmente naquelas comunidades. Para tanto, as dificuldades administrativas não poderiam ser pensadas dissociadamente dos outros aspectos da vida escolar. Os desdobramentos dessas reflexões foram uma maior organização e caracterização dos papéis de cada um. Entre as professoras ficou reiterado, explicitamente definido, a obrigatoriedade de uma maior presença em todas as reuniões e um comprometimento mais profundo com suas responsabilidades com as turmas. Da parte das equipes administrativas passou-se a exigir um entrosamento mais adequado com a equipe de professores e uma freqüente explicitação de suas atividades. Essas decisões foram tomadas nas REUNIOES CENTRAIS que eram os órgãos máximos de decisão das Comunidades. Os efeitos dessas iniciativas só foram sentidos mais tarde. Talvez, nem tanto, por elas próprias. Acreditamos que o crescimento que o movimento popular obteve a partir de 79 é que tenha sido decisivo para a reformulação de algumas destas posturas. Foi através das discussões entre elementos de vários bairros, do contato direto com os órgãos públicos, das lutas pela água, contra as ameaças de despejo, que novas lideranças foram sendo forjadas e que o espírito de união pôde impor-se ao individualismo. Sem ilusões: estas questões jamais são solucionadas definitivamente. Em alguns grupos, a solidariedade e consciência dos papéis que desempenhavam alcançaram níveis mais profundos; em outros, menos. Esse desenvolvimento é totalmente desigual, não linear e extremamen te difícil de ser captado, medido. Podemos, sim, reconhecer a ampliação das escolas, as pequenas vitórias que foram conquistadas neste período em torno da luta do Convênio, o aprofundamento das discussões sobre a educação no Brasil é, em particular, em nosso Estado. E inegável, também, que nossa perspectiva de trabalho na assessoria passou por redefinições importantes, procurando, prime i ramente, romper com um relacionamento ,de dependência excessiva

com as lideranças comunitárias e, em segundo lugar, valorizando e estimulando o esforço de entendimento crítico da realidade por parte daquelas. Incorporamos, no caminho percorrido no decorrer deste período, mais dois elementos, que hoje em dia consideramos importantíssimos em nosso trabalho: a necessidade de a história do movimento popular ser levantada, escrita e reescrita, como elemento conscientizador de maior relevância em uma metodologia da educação popular e a importância do aprimoramento do instrumental pedagógico, através da busca incessante de um rigor cada vez maior nas questões relativas à teoria/prática da comunicação popular. Agora, vamos falar um pouco mais destas coisas todas, expondo mais de perto o que foi a Iuta pela renovação das bolsas para o ano de 1979. A amplitude que assumiu nos meios de comunicação e as questões que suscitaram, além dos importantes fatos relativos ao movimento popular de Belém ocorridos neste ano, fizeram com que optássemos pela descrição um pouco mais detalhada desse momento específico das escolas.

• A luta pelos 100% em 1979 1979 vi ria a ser um ano importante para o movimento popular de Belém. Em janeiro, a SPDDH, convocou uma grande assembléia de moradores de bairros que estavam envolvidos com problemas de posse da terra. Desta reunião ficou decidida a realização do 1ç> ATO PÚBLICO PELO DIREITO DE MORAR, em maio do mesmo ano, a ser coordenado por uma Comissão que terminou por transformar-se no embrião da Comissão de Bairros de Belém (CBB). Esta mesma Comissão iria lançar, em dezembro, a CAMPANHA "ESCOLA PARA TODOS" que, assim como a luta do Convênio no período anterior, veio a constituir-se num momento importante na vida das escolas. Adotamos, aqui, esse fato, como sendo um dos caracterizadores da III? fase das escolas, que vai de 79/80 até 1982, ano em que a oposição assumiu vários governos estaduais, dentre os quais o paraense. Mas tudo isso é relativamente posterior ao assunto que queremos abordar agora, no final deste período que se iniciou em 76: a luta pelo aumento de 100% das bolsas para o ano de 1979. Alguns dos aspectos aos quais daremos atenção estiveram presentes nos outros anos de convênio. Trata-se de um momento representativo do que foi esse confronto com a SEMEC, estando, porém, profundamente marcado pela atmosfera de "juro - que - farei - deste - país - uma democracia - mesmo -que- tenha - que- prendere - arrebentar" . . . trocando em miúdos: anistia, reformulação partidária, greve do ABC e outras que

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