Edição 25, maio de 1985

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Em segundo lugar, os problemas internos do movimento. A escassez de recursos e a falta de infra-estrutura material eram, e são, imensas; a luta interna pelo poder que, em vários momentos, absorveu praticamente toda a energia das lideranças do movimento; a difícil busca de uma articulação eficiente entre os CC's e os seus representantes a nível da direção _da CBB. Contudo, foi no processo mesmo de enfrentamento de!jtes e doutros problemas, que iniciativas como a Campanha "Escola Para Todos" e a "Luta Pelo Direito de Morar" foram deflagradas. Embora estas refletissem a fragilidade organizativa da CBB e do movimento popular em geral, é inegável a contribuição que trouxeram para a dinamização das lutas populares na cidade. No caso da Campanha "Escola Para Todos" - que é a que especificamente nos interessa- esta representou uma ampliação da luta pela democratização e melhoria das condições de ensino que, até então, expressava-se, basicamente, na luta pelo Convênio. Há um alargamento das reivindicações no sentido de uma maior intervenção no próprio sistema regular de ensino. Novas escolas; ampliação e reforma das salas de aula já existentes; luta pelo fim das taxas de matrícula e butras, que contradiziam a própria legislação educacional; mais vagas; adiamento do prazo de matrículas; e muitos outros problemas que se constituem nos mecanismos concretos de exclusão das crianças pertencentes às classes populares de nosso sistema de ensino - passaram a ser focalizados e enfrentados. Assim, nesse período de abertura, a luta desenvolveu-se em duas frentes, na verdade complementares e articuladas pela CBB, através da Campanha: de um lado as EC's e, de outro, a democratização da rede oficial de ensino. Nesse processo, as EC's que se mantiveram fiéis a uma perspectiva de independência e combatividade frente ao Estado, tiveram seus rumos cada vez mais associados à ação da CBB. Esta, através da sua Equipe de Educação, passou a orientar e coordenar a vida daquelas escolas. O traço marcante deste período é a educação política por que todos passaram. Ou ainda, as possibilidades de desvelamento da política educacional da SEMEC. No contrato com o Prefeito, com o Secretário de Educação e outras autoridades, as contradições e ambigüidades de nosso sistema de ensino saltavam aos olhos de todos. O descaso pelo direito à educação; a gritante contradição entre as "escolas ricas" e as "escolas pobres", de segunda categoria; o desprezo profissional pelo professorado; as cobranças ilegais de certas taxas; a injustiça política de concessão de bolsas que termina por beneficiar os proprietários das escolas privadas; e a falta de planejamento e alternativas para os mini-

mos problemas educacionais foram problematizados, esmiuçados e denunciados pelas lideranças do movimento à população em geral. Vamos agora descrever e analisar alguns fatos surgidos no decorrer da Campanha.

• A campanha "Escola para Todos" Esta Campanha surgiu em fins de 79, a partir da necessidade de a população pobre da cidade enfrentar o grave problema da falta de vagas para seus filhos estudarem. No núcleo motor desta luta estava, portanto, o problema dos excedentes. Muito embora as autoridades educacionais constantemente afirmassem, durante esses anos todos, que nenhuma criança ficaria sem estudar, a realidade era que milhares de crianças anualmente não transpunham os muros do sistema educacional de Belém, O simples fato de as EC's possuírem aproximadamente 20.000 matrículas ao final dos anos 70, já não representava um golpe profundo na retórica oficial? Obviamente que sim. Mas não só o problema dos excedentes. As taxas de matrícula e outras cobradas ilegalmente aos pais representavam outro forte empecilho à entrada dos seus filhos na vida escolar regular. Assim, de acordo com o Boletim n~ 1 da Campanha "Escola Para Todos", de Jan/80 (ver anexo III), "Os CC's são entidades de educação popular informal, isto é, onde se reúnem os Clubes de Mães, os Clubes de Jovens, as Comissões de Terra,

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