Edição 25, maio de 1985

Page 31

II~

PARTE

Escolas Comunitárias: Oposição à Escola Pública?

Introdução Maria Cecília de Souza Minayo Neste text o tentar-se-á comentar a expenencia das Escolas Comunitárias de Belém, tendo como referência -a mesma experiência acontecida no âmbito de alguns bairros periféricos ou favelas do Rio de Janeiro. Não se pretende aqui defender tese alguma, nem propor conclusões, apenas levantar algumas questões indicativas a partir deste "fenômeno social", observando-o no seu interior. No caso de Belém, a experiência vem narrada com suficiente clareza, reconstruindo a lógica do seu processo como um "serpentear" na dinâmica do mo vimento social e em confronto com as instituições oficiais de educação. O relato é quase transparente com relação aos grandes traços que caracterizam o movimento das Escolas Comunitárias, no que foi realizado, no que não foi feito, no que foi tentado, nas suas perplexidades, incertezas e lições. Com relação à experiência semelhante do Rio de Janeiro, tomam-se particularmente as escolas da Rocinha como ponto de referência. A escolha deve-se de um lado ao fato de que constituem as primeiras iniciativas desta natureza no Estado e por isso contêm "um pouco mais de história", e de outro, por ter eu acompanhado pessoalmente como técnica e assessora da Unicef os primeiros momentos de contato institucional e sua efetivação como

"Escolas Comunitárias subvencionadas pelo governo municipal e apoiadas técnica e financeiramente pela UNICEF". Sem pretender elaborar uma reconstituição histórica como é o caso do tratamento dado à experiência de Belém, busca-se aqui traçar algumas pinceladas que permitam ao leitor se situar com relação à área, à organização e ao caráter da interferência externa . Para quem desconhece, a Rocinha é a segunda maior favela do Rio de Janeiro, situada entre a Gávea e São Conrado, dois bairros r:esidenciais da burguesia e da classe média alta. Seu número de habitantes é controvertido e para ficar entre os dados oficiais e os das Associações Locais, dir-se-ia que tem na média 100.000 moradores. Como se vê é uma cidade de pobres ladeada e ~frontando os bairros dos ricos e chamando atenção para os incalculáveis problemas sociais do país, representados com extrema nitidez e em miniatura naquela favela: estratificação social dentro da própria pobreza, migração interna, carências de infra-estrutura urbana e de serviços públicos fundamentais. Diferente de outras áreas, a Rocinha se compõe particularmente de "andarejos como muitos outros" (nordestinos, mineiros, capixabas e fluminenses) já com certa estabilidade no Rio de Janeiro. Nela vivem desde comerciantes e especuladores imobiliários que exploram os próprios moradores e gozam de certa estabilidade financeira, trabalhadores industriais, de

29


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.