O ensino pelas próprias mãos (1971-75)
Foi nas baixadas da cidade - mais precisamente no bairro de Jurunas - que surgiram as primeiras escolas. Os bairros aí localizados, cujos moradores representam cerca de 41% da população, ocupam uma área que corresponde a cerca de 45% da cidade. Essas áreas são constituídas por terras cujas curvas de nível não ultrapassam a cota 4 (cota 4 é o nível do mar) e são habitadas por famílias de baixíssimo nível de renda. A vida aí é pra lá de difícil. A precariedade é quase total: atendimento médico-hospitalar, escolar, sistema de saneamento, tudo deficiente, quando não inexistente. Boa parte, construída pelos próprios moradores, sem nenhum apoio técnico-financeiro dos órgãos públicos que, é claro, vão investir seus recursos em outras bandas mais valorizadas pelo mercado imobiliário. A essas condições de vida subumanas que acreditamos não precisar muito detalhamento, pois, infelizmente, é semelhante ao de tantas outras regiões deste país - some-se mais uma: a ausência do título de posse da terra. A enorme insegurança que representa estar "ilegal", ser "invasor", "posseiro", ou seja lá o nome que se dê. Aliás, a bem da verdade, não se trata de mais um, e sim do problema. Isto porque boa parte da população que habita
estas e outras baixadas é, na sua maioria, oriunda da zona rural. O problema agrário da falta de um pedaço para plantar, as precariíssimas condições de trabalho no interior do Estado, a verdadeira invasão das grandes companhias multinacionais e nacionais que, sob a capa do progresso, têm implantado vorazmente, nas duas últimas décadas, uma ordem econômica concentradora de renda (e terra) e espo1iadora das riquezas da região - são as causas que trouxeram toda essa gente a procurar vida melhor em Belém. Na origem, portanto, o problema já era o da terra. Só que a cidade atrai e depois repulsa para suas zonas mais desprovidas. Contudo, não é do problema da terra que queremos falar aqui, mas, sim, do educacional. O sistema de ensino em Belém é tão perverso quanto no resto do país. Talvez, um pouco mais que em certas regiões mais favorecidas e um pouco menos que em outras mais gritantemente abandonadas. O que importa, contudo, é que não absorve - e quando o faz não tarda em expelir- a grande maioria da nossa população infantil em idade escolar. Perverso e hipócrita na medida em que, por lei, deveria absorver e não o faz, embora procure provar o contrário.
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