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Entrevista: Haymée Cogle

Business Angel e Team Leader da Founder Institute Luanda

Haymée Cogle é a Directora da Founder Institute Luanda, a maior aceleradora pre-seed de startups do mundo. É uma mulher empreendedora, Business Angel, e tem uma carreira vasta em Business Development, marketing, vendas, mas sempre ligada ao ramo das telecomunicações, inovação e tecnologias. Vive há 30 anos em Angola e garante que estudar e ganhar conhecimento são pontos fulcrais para que qualquer pessoa, homem ou mulher, seja bem sucedida. O seu percurso académico passou por vários países e isso trouxe-lhe uma experiência de mercado bastante sólida.

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Haymée Cogle is the Team leader of Founder Institute Luanda, the largest pre-seed accelerator of startups in the world. She is an entrepreneurial woman, a Business Angel, and has a vast career in Business Development, marketing, sales, always linked to the telecommunications industry, innovation, and technology. She has been living in Angola for 30 years and guarantees that studying and gaining knowledge are key points for any person, man or woman, to be successful. Her academic path passed through several countries and that brought her a very solid market experience.

A Haymée tem uma formação académica vasta, e ganhou conhecimento empresarial em países como Cuba e Ucrânia. O desenvolvimento do mercado de Angola está muito afastado destes?

Eu vivo aqui em Angola há 30 anos, estudei fora e acabei os meus estudos universitários com 23 anos, com formação de base similar a Engenharia Industrial, com grau de Master em Economia. Sempre estive muito ligada às tecnologias de informação, principalmente depois de estudar. Em Cuba, no início do meu percurso profissional, e uma vez que fazia parte de uma equipa de projecto em Comunicações Electrónicas, tive que estudar Sistemas de Informação à noite durante três anos, para perceber esta indústria, que era nova para mim. Assim, por exigência da própria indústria, que era muito dinâmica, e por exigência dos projectos em que estava envolvida, fui me especializando na vertente Business das TICs (Comercial, Vendas, Marketing e depois Desenvolvimento de Negócios). De facto, investi sempre muito na minha formação e no meu conhecimento e, durante estes anos todos, fiz muitos cursos e várias pós-graduações, sempre ligados à transformação digital e ao empreendedorismo tecnológico. Entre Angola e estes países, a diferença que eu noto é precisamente em termos de infraestruturas, não no facto de as pessoas quererem aprender ou estudar, porque acho que o povo Angolano é empreendedor por natureza, jovem e tem garra, mas há de facto grandes problemas de infraestrutura. Evidentemente, ao longo destes anos, Angola tem mudado para melhor nestes aspectos, mas ainda temos muitos gaps a preencher. Por exigência da própria pressão da população jovem, da necessidade que há de o país ter de ir para a frente, deste impacto tecnológico e de inovação tão forte que existe, é algo que evidentemente vamos ter que abraçar porque de outra maneira o país não vai poder avançar. Se não se investe em inovação, não há outra maneira.

Haymée has a vast academic background and gained business knowledge in countries like Cuba and Ukraine. Is the development of the Angolan market far removed from these?

I have lived here in Angola for 30 years, studied abroad, and finished my university studies at the age of 23, with a degree similar to Industrial Engineering, with a Master’s degree in Economics. I have always been very involved in information technology, especially after my studies. In Cuba, at the beginning of my professional career, and since I was part of a project team in Electronic Communications, I had to study Information Systems at night for three years, to understand this industry, which was new to me. So, by demand of the industry itself, which was very dynamic, and by demand of the projects I was involved in, I specialized in the Business side of ICTs (Commercial, Sales, Marketing, and then Business Development). I have always invested heavily in my training and knowledge, and during all these years I have taken many courses and several post-graduate courses, always related to digital transformation and technological entrepreneurship. Between Angola and these countries, the difference that I notice is precisely in terms of infrastructure, not in the fact that people want to learn or study, because I think the Angolan people are entrepreneurial by nature, young, and have guts, but there are major infrastructure problems. Evidently, over these years, Angola has changed for the better in these aspects, but we still have many gaps to fill. As a result of the pressure from the young population itself, of the country’s need to move forward, of this very strong technological and innovation impact that exists, it is something that we will have to embrace because otherwise, the country will not be able to move forward. If you don’t invest in innovation, there is no other way.

“O povo Angolano é empreendedor por natureza”

“The Angolan people are entrepreneurial by nature”

Portanto, são estes os principais desafios deste desenvolvimento.

Temos vários desafios, o primeiro deles tem a ver com a cultura de pensamento. E sobre isto, há um famoso escritor ligado à Gestão, que é o Peter Drucker, que dizia que “o maior perigo em tempos de turbulência não é a turbulência, é agir com a lógica de ontem”. E é isto que eu acho que é verdadeiramente importante, principalmente nos nossos países em desenvolvimento. Temos que romper certos paradigmas, temos que olhar para os problemas com novas soluções e não podemos resolvê-los como resolvíamos antigamente. E aqui a tecnologia é a aliada mais importante para que isso aconteça. Temos que nos focar nas vertentes das infraestruturas básicas e serviços (energia, água, estradas, acesso a cobertura das telecomunicações). Tem sido feito um esforço muito grande neste sentido, mas ainda assim temos muitas dificuldades. Da educação: é importantíssimo adaptar os nossos currículos às novas condições, preparar os nossos estudantes para as competências, em Ciências, em Tecnologia, Matemática, Física, Biologia, porque efetivamente a Ciência é que nos vai levar à inovação e, fundamentalmente, à inovação disruptiva. Assim como é preciso apostar na Literacia financeira, alterar os métodos de ensino. E para que toda esta população de jovens que temos fora das escolas tenha acesso a isso, temos de ver como é que podemos resolver esta situação, porque de repente não podemos construir escolas e alterar tudo, não temos tempo para isso. O Capital Humano hoje nas empresas e nas instituições precisa mesmo de um processo de upskilling, focar na criatividade, na resolução de problemas. Outro aspecto que eu acho que afecta muito é o nosso doing business no País, que é muito baixo e por muitos motivos já conhecidos. E, obviamente, temos que criar um framework, uma base legislativa, que permita que se crie empreendedorismo, porque de outra forma as empresas não vão conseguir evoluir. O Estado tem que ter um papel menos interventivo e mais de apoio, de acompanhamento, de criação de mais condições - como infraestruturas -, e deixar as empresas fazerem o seu trabalho. São desafios não apenas para Angola. O empreendedorismo é uma alternativa para resolver problemas da pobreza, fome, saúde, educação, emprego, mas é necessário investir neste ecossistema sobre um framework que facilite o seu funcionamento, crescendo com inovação tecnológica. Aqui, todos os agentes do ecossistema têm um papel, mas o sector público tem responsabilidades acrescidas.

So these are the main challenges of the current development.

We have several challenges, the first of which has to do with the culture of thought. And about this, there is a famous writer connected to Management, who is Peter Drucker, who said that “the greatest danger in turbulent times is not the turbulence, but acting with yesterday’s logic. And this is what I think is important, especially in our developing countries. We have to break certain paradigms, we have to look at problems with new solutions, and we cannot solve them the way we used to solve them. And here technology is the most important ally for this to happen. We have to focus on basic infrastructure and services (energy, water, roads, access to telecommunications coverage). A great effort has been made in this direction, but we still have many difficulties. Education: it is extremely important to adapt our curricula to the new conditions, to prepare our students for competencies in Science, in Technology, Mathematics, Physics, and Biology, because it is effectively Science that will lead us to innovation and, fundamentally, to disruptive innovation. We also need to invest in financial literacy and change teaching methods. And for all this population of young people we have outside of schools to have access to this, we have to see how we can solve this situation because suddenly we can’t build schools and change everything, we don’t have time for that. Human Capital today in companies and institutions needs an upskilling process, focus on creativity, on problem-solving. Another aspect that I think affects a lot is our doing business in the country, which is very low and for many reasons already known. And we have to create a framework, a legislative base, that allows entrepreneurship to be created because otherwise, companies won’t be able to evolve. The State has to play a less interventionist role and more of a supportive, accompanying role, creating more conditions - such as infrastructures - and letting companies do their work. These are challenges not only for Angola. Entrepreneurship is an alternative to solve problems of poverty, hunger, health, education, and employment, but it is necessary to invest in this ecosystem over a framework that facilitates its operation, growing with technological innovation. Here, all the agents of the ecosystem have a role, but the public sector has added responsibilities.

O que significou para si trazer para Luanda uma aceleradora que está presente em mais de 180 cidades e é considerada a maior aceleradora de startups a nível mundial?

Foi um desafio, mas ao mesmo tempo uma satisfação muito grande. Eu, por natureza, gosto de empreender e de criar coisas. Com a experiência que eu tenho, eu e várias pessoas que se uniram para construir este projecto, achámos que podíamos incidir e contribuir bastante para criar uma base de suporte que permitisse que os jovens direccionassem o seu talento empreendedor para solucionar problemas reais e importantes, e não pôr elitismo ou pelo facto de empreender ser “chique”. O Founder Institute nasceu há 10 anos em Silicon Valley [EUA], e obviamente que as condições lá não têm nada a ver com as nossas, mas nunca foi objetivo copiar. E algo que gostei desta rede internacional é que é valorizada a adequação e o contexto de cada cidade, porque o empreendedorismo tem a ver muito com as comunidades. E, de facto, esse foi o maior desafio: tratar de promover este mindset empreendedor, de inovação, destas boas práticas, de utilizar esta postura e trazer isto para o nosso contexto, que é totalmente diferente. Mas ao longo dos dois primeiros dois programas fomos conseguindo ultrapassar estas diferenças e, com a ajuda dos outros chapters em África - estamos em cinco cidades -, com este intercâmbio de experiência, conseguimos adequar esta plataforma global no nosso contexto africano e, especificamente, aqui em Angola. Em paralelo aos negócios, vamos trabalhar o inglês porque toda a plataforma faz com que as pessoas sintam que é importante dominar a língua inglesa. Nós focamo-nos na ideação e na validação dos negócios porque achamos que é ali que se define o sucesso da ideia. E muitas startups e negócios convencionais falham porque esta fase inicial não é bem gerida. E falo também pela minha própria experiência, porque passei por esta fase de criar um negócio tecnológico e de facto não é fácil.

What did it mean to you to bring to Luanda an accelerator present in more than 180 cities and is considered the largest startup accelerator in the world?

It was a challenge but at the same time a great satisfaction. I, by nature, like to enterprise and create things. With the experience that I have, I and several people who came together to build this project, felt that we could focus and contribute a lot to create a support base that would allow young people to direct their entrepreneurial talent to solve real and important problems, and not by elitism or the fact that entrepreneurship is “chic”. The Founder Institute was born 10 years ago in Silicon Valley [USA], and obviously, the conditions there have nothing to do with ours, but it was never the goal to copy. And something I liked about this international network is that the suitability and context of each city are valued because entrepreneurship has a lot to do with communities. And that was the biggest challenge: trying to promote this entrepreneurial mindset, of innovation, of these good practices, of using this attitude and bringing this to our context, which is different. But throughout the first two programs we were able to overcome these differences and, with the help of the other chapters in Africa - we are in five cities - with this exchange of experience, we were able to adapt this global platform to our African context and, specifically, here in Angola. In parallel to business, we are going to work on English because the whole platform makes people feel that it is important to master the English language. We focus on ideation and business validation because we think that is where the success of the idea is defined. And many startups and conventional businesses fail because this initial phase is not well managed. And I speak also from my own experience because I went through this phase of creating a technology business and it is not easy.

Qual é, então, o principal papel da Founder Institute Luanda?

O papel principal é ajudar a criar negócios e startups de base tecnológica com impacto social, que resolvam grandes problemas reais do País. E que estas soluções sejam soluções que podem ser, de facto, escaláveis, que tenham crescimento para conseguir as nossas empresas de sucesso.

What is the main role of Founder Institute Luanda?

The main role is to help create technology-based businesses and startups with social impact, that solve big real problems in the country. And that these solutions are solutions that can be scalable, that have the growth to make our businesses successful.

O que é preciso para um negócio ser considerado escalável e vir a ser apoiado pela Founder?

O nosso founder, o nosso empreendedor, finaliza o Programa com um modelo de negócio validado, com uma certeza de como é que o negócio vai funcionar, com os fundamentos e o feedback do mercado de que de facto esse negócio tem pernas para andar. Uma vez graduado do Programa de Aceleração, com a empresa totalmente estruturada, com todo o suporte em termos legais, ele vai continuar a ser acompanhado, pois a nossa pretensão é continuar em “lifetime support”. O que é importante para um negócio ser escalável é saber se o produto responde adequadamente às necessidades. Isto leva tempo, porque o founder, depois que acaba o Programa, tem que testar e focar-se totalmente no negócio para conseguir a sua primeira versão do produto, a primeira versão real no mercado. O negócio deve ter o elemento importante “Product/ Market Fit” validado pelo mercado. Mas o que é que interessa ao Founder Institute para dar apoio em termos de financiamento? O projecto tem que provar várias coisas. São quatro características importantes: primeiro, ele tem que ter o produto provado no mercado e os clientes têm que estar a pagar, tem que ter tracção, tem que ter receita. Não importa a quantidade, o problema aqui não está no volume, o volume vamos conseguir depois; a característica seguinte é a dedicação full time desse empreendedor no seu negócio, porque para nós o negócio é importante, mas mais importante é o empreendedor e a equipa, a responsabilidade assumida; a terceira coisa que ele tem que ter é o mínimo de equipa estruturada, porque nós não aprendemos sozinhos, precisamos de uma equipa para distribuir tarefas; e a última: o negócio tem que estar estruturado com um plano preparado para iniciar este processo de fundraising, de procura de financiamento. Ainda sobre o conceito de fundraising: a actividade de fundraising é desconhecida para muitos ou demasiado complicada e fechada para outros. Acho que o foco, no contexto Angolano, deve ser: negócios com impacto , na fase Seed, com o objetivo de conseguir que os projectos prometedores não morram por falta de suporte financeiro. Queremos fazer parcerias com VC funds, como braço financeiro do Founder Institute Luanda, sendo a oportunidade que, adicionada ao resto dos benefícios do Programa, irá fazer a diferença no mercado. Uma oportunidade para atrair os investidores privados através de um instrumento financeiro qualificado. Para um empreendedor que já tenha o seu pitch deck, o Founder Institute já tem um programa específico para ele: o Founding Lab, onde o ajudamos a preparar-se para as entrevistas, a sair para o mercado para conversar com os potenciais investidores. Ainda não chegamos a esta fase, pois temos duas edições de startups, e ainda nenhuma das startups entrou neste processo porque se encontram ainda a afinar as suas soluções.

What does it take for a business to be considered scalable and to be supported by Founder?

Our founder, our entrepreneur, ends the Program with a validated business model, with a certainty of how the business will work, with the fundamentals and the feedback from the market that in fact, this business has legs to walk. Once graduated from the Acceleration Program, with the company fully structured, with all the support in legal terms, it will continue to be monitored because we intend to continue in “lifetime support”. What is important for a business to be scalable is to know if the product responds adequately to the needs. This takes time, because the founder after he finishes the Program, has to test and fully focus on the business to get his first version of the product, the first real version on the market. The business must have the important element “Product/Market Fit” validated by the market. But what does the Founder Institute care about in terms of funding support? The project has to prove several things. There are four important characteristics: first, it has to have the product proven in the market and the clients have to be paying, it has to have traction, it has to have revenue. The next characteristic is the full-time dedication of this entrepreneur in his business because for us the business is important, but more important is the entrepreneur and the team, the responsibility assumed; the third thing he has to have is the minimum of a structured team because we don’t learn alone, we need a team to distribute tasks; and the last one: the business has to be structured with a plan prepared to start this fundraising process, the search for funding. Still on the concept of fundraising: the activity of fundraising is unknown to many or too complicated and closed to others. I think the focus, in the Angolan context, should be: impactful businesses, at the seed stage, with the goal that promising projects do not die for lack of financial support. We want to partner with VC funds, as the financial arm of Founder Institute Luanda, being the opportunity that, added to the rest of the benefits of the Program, will make a difference in the market. An opportunity to attract private investors through a qualified financial instrument. For an entrepreneur who already has his pitch deck, the Founder Institute already has a specific program for him: the Founding Lab, where we help him prepare for the interviews, to go out into the market to talk to potential investors. We haven’t reached this stage yet, because we have two editions of startups, and none of the startups have entered this process yet because they are still refining their solutions.

A Haymée é também Business Angel. Sendo este, ainda, um mundo considerado maioritariamente masculino, como é que é ser uma mulher de negócios de sucesso?

Eu não me considero mulher de sucesso (risos). Eu não conhecia o que era ser Business Angel há anos atrás, tinha uma ideia, como ainda muita gente tem, de que era algo difícil e fora de alcance, muito complicado e que havia que ser quase rico para poder investir em startups. Com este envolvimento do Founder Institute a nível global, conheci de facto o que é investir em startups e, sendo mentora de negócios para empreendedores, já estava a investir nelas, porque o conhecimento, aconselhamento e acompanhamento já são investimentos, é o chamado “mentor capital”. É verdade que é um mundo geralmente dominado por homens de negócios. Comecei a conhecer Investidores Anjos aqui e fora daqui, entrei em contacto com a ABAN, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente os seus fundadores e líderes, como Tomi Davies e outros, também os “Anjos do Brasil”. É um mundo que me apaixona de facto. Eu nunca senti qualquer dificuldade neste ramo por ser mulher, porque eu desde o início estou numa indústria (telecomunicações, internet) que é dominada por homens. E algo que nós podemos fazer, eu como mãe fiz, é tratar de tirar esse paradigma e essa ideia de que as meninas, as jovens, as senhoras não têm condições para estar envolvidas com a Ciência e a Tecnologia. Isto é algo que temos colocado na cabeça durante muito tempo. Se se começa desde o início a dar todo o acesso, a empoderar a mulher como deve ser para que de facto possamos ter acesso, possamos ter esse estudo e essas possibilidades, o resto acontece. E hoje em Angola nós temos muitas mulheres nas Tecnologias, na Indústria Química… temos espaço para mais se continuarmos de facto a fazer esse empoderamento. Sei que sempre houve essa situação, mas consegui sempre dar a volta porque sempre me preparei para isso. É muito importante estar preparado, ter o conhecimento necessário para, quando se vai discutir um assunto, se poder mostrar que se sabe. Quando uma mulher demonstra que sabe, não tem problemas. Não tem como ter.

Haymée is also a Business Angel. This is still a largely male-dominated world, what is it like to be a successful businesswoman?

I don’t consider myself a successful woman (laughs). I didn’t know what it was to be a Business Angel years ago, I had an idea, as many people still have, that it was something difficult and out of reach, very complicated and that you had to be almost rich to be able to invest in startups. With this involvement of the Founder Institute globally, I got to know what it is to invest in startups and, being a business mentor for entrepreneurs, I was already investing in them, because the knowledge, advice, and accompaniment are already investments, it’s the so-called “mentor capital”. It is indeed a world generally dominated by businessmen. I started meeting Angel Investors here and abroad, got in touch with ABAN, had the opportunity to personally meet its founders and leaders, like Tomi Davies and others, also the “Angels of Brazil”. It is a world that I am passionate about. I have never felt any difficulty in this business because I am a woman, because I have been since the beginning in an industry (telecommunications, internet) that is dominated by men. And something that we can do, I as a mother did, is to try to take away this paradigm and this idea that girls, young women, ladies are not able to be involved in Science and Technology. This is something that we have put in our heads for a long time. If you start from the beginning to give all the access, to empower women as it should be so that we can have access, we can have this study and these possibilities, the rest happens. A nd today in Angola we have many women in Technologies, in the Chemical Industry... we have room for more if we continue in fact to do this empowerment. I know that this situation has always existed, but I have always managed to get around it because I have always prepared myself for this. It’s very important to be prepared, to have the necessary knowledge so that when you go to discuss an issue, you can show that you know. When a woman shows that she knows, she has no problems. You can’t have any.

“Quando uma mulher demonstra que sabe, não tem problemas. Não tem como ter”

“When a woman shows that she knows, she has no problems. You can’t have any”

Ser membro do Conselho do Women’s Indian Chamber of Commerce and Industry é importante porquê?

Eu fiquei muito surpresa com o convite que me fez a Presidente do Conselho, aqui em Angola, que é a Lúcia Stanislas. Vejo a minha contribuição como membro deste Conselho mais ligada à promoção do empoderamento da mulher enquanto criadora e gestora de empresas. Em particular, de inovação tecnológica. Ajudo a promover a troca de experiências e suporte de mentoria, o envolvimento nos projectos e a potencial oportunidade de financiamento de experts indianas, instituições e empresas que estas pessoas dirigem. A Índia tem uma expertise e um capital humano invejáveis, em termos das condições em que se tem desenvolvido. As mulheres têm precisado de um esforço adicional e hoje temos representantes mulheres indianas em muitos sectores a nível industrial e tecnológico. A minha contribuição aqui em Angola é tratar de promover o empoderamento de outras mulheres e outras jovens aqui no País. E, em especial, aproveitar a expertise que têm as indianas para empoderar e para atrair a atenção delas sobre o que é que nós aqui em termos de empreendedorismo e de liderança feminina estamos a fazer. Acho que aqui há muito espaço para parcerias.

Why is being a board member of the Women’s Indian Chamber of Commerce and Industry important?

I was very surprised with the invitation that the President of the Council, here in Angola, Lúcia Stanislas, made to me. I see my contribution as a member of this Council more linked to the promotion of women empowerment as creators and managers of companies. In particular, technological innovation. I help to promote the exchange of experiences and mentoring support, the involvement in projects, and the potential funding opportunity for Indian experts, institutions, and companies that these people run. India has enviable expertise and human capital, in terms of the conditions under which it has developed. Women have needed additional effort and today we have Indian women representatives in many sectors at the industrial and technological level. My contribution here in Angola is to try to promote the empowerment of other women and other young women here in the country. And, in particular, to take advantage of the expertise that Indian women have to empower and to attract their attention about what it is that we here in terms of entrepreneurship and female leadership are doing. I think there is a lot of room for partnerships here.

Angola precisa de mais mulheres nos negócios?

Sim, a mulher Angolana é empreendedora por natureza. Vemos isto na luta da mulher por manter a família, por colocar recursos em casa. Encorajar e facilitar o acesso da mulher, desde menina, às Ciências e Tecnologias, romper com paradigmas do passado. É, também, importante ir mais longe através do “capacity building”. É importante, é justo e necessário para o País. Temos capacidade natural para multi-tasking e não precisamos de ser iguais ao homem, precisamos sim de ser nós próprias. E, uma vez empoderadas , encontrar o nosso caminho , o nosso lugar na sociedade, e juntos fazer melhor todos os dias. Criar , adicionar valor, melhorar a vida das pessoas.

Angola needs more women in business?

Yes, the Angolan woman is entrepreneurial by nature. We see this in the woman’s struggle to maintain her family, to put resources at home. Encourage and facilitate the access of women, from a young age to Science and Technology, breaking with the paradigms of the past. It is also important to go further through capacity building. It is important, fair, and necessary for the country. We have a natural capacity for multi-tasking and we don’t need to be equal to men, we need to be ourselves. And, once empowered, find our way, our place in society, and together do better every day. Create, add value, improve people’s lives.

A Haymée fala publicamente, e várias vezes, em “empreendedorismo com propósito”. O que é que isto quer dizer?

Eu falo disto várias vezes porque é algo que também tratamos de promover muito na rede do Founder Institute. Às vezes criam-se muitas startups, muitos produtos que por vezes são interessantes, mas o impacto que têm na vida das pessoas é mínimo. Em países como o nosso, em que existem problemas sociais e económicos sérios, temos que olhar para o empreendedorismo como uma via para resolver problemas reais. Isto tem que ter impacto positivo na melhoria da vida das pessoas. Isto é empreender com propósito. Empreender não é elitista, requer esforço, requer escolhas e requer deixar de fazer muitas coisas que gostamos de fazer para nos dedicar totalmente a uma que vai exigir de nós muito esforço. Mas esta também é uma jornada que é preciso desfrutar com coragem e com gosto, e é uma jornada que começa e não acaba, passamos de um ciclo para outro ciclo e assim sucessivamente.

Haymée has spoken in public, and several times, about “entrepreneurship with purpose.” What does this mean?

I talk about this several times because it’s something we also try to promote a lot in the Founder Institute network. Sometimes a lot of startups are created, a lot of products that are sometimes interesting, but the impact they have on people’s lives is minimal. In countries like ours, where there are serious social and economic problems, we have to look at entrepreneurship as a way to solve real problems. This has to have a positive impact on improving people’s lives. This is entrepreneurship with purpose. Entrepreneurship is not elitist, it requires effort, it requires choices, and it requires giving up doing many things we like to do to fully dedicate ourselves to one that will require a lot of effort from us. But this is also a journey that must be enjoyed with courage and with gusto, and it is a journey that begins and does not end, we go from one cycle to another cycle and so on.

“Aqui, todos os agentes do ecossistema têm um papel, mas o sector público tem responsabilidades acrescidas”

“Here, all the agents of the ecosystem have a role, but the public sector has added responsibilities”

O que é um projecto de impacto social?

Conheço uma grande empresa, que gera muito lucro, que dedica 1% do mesmo a ajudar a vida animal na África Subsariana. Isso tem impacto social. No Founder Institute também vamos passar a ter especialistas para medir o resultado do impacto que as startups irão ter. Também avaliamos o nível de empregabilidade: se cada uma destas startups conseguir gerar três, quatro empregos, já é um impacto social.

What is a social impact project?

I know a large company, which generates a lot of profit, that devotes 1% of it to helping animal life in sub-Saharan Africa. That has social impact. At the Founder Institute we are also going to have specialists to measure the impact that the startups will have. We also evaluate the level of employability: if each one of these startups manages to generate three, four jobs, it is already a social impact.

Qual o melhor conselho que pode dar a um empreendedor em Luanda neste momento?

O melhor conselho que eu posso dar é que se foquem no negócio, que não queiram fazer tudo ao mesmo tempo. Peçam ajuda se não sabem, partilhem, porque não se empreende sozinho. Que se preparem, têm que se preparar, têm que estudar.

What is the best advice you can give to an entrepreneur in Luanda right now?

The best advice I can give is to focus on the business, not to do everything at once. Ask for help if you don’t know, share, because you can’t do it alone. Prepare yourself, you have to prepare yourself, you have to study.

E a um investidor?

Eu, na verdade, estou também na minha curva de aprendizagem, mas o que eu posso dizer, segundo a minha experiência, é que investir em startups na fase inicial, de pre-seed é de alto risco, pode não ter o final esperado. A pessoa tem que saber qual é o seu perfil enquanto investidor. Tem que saber o que procura. Pode iniciar a investir com valores cuja perda não seja crítica para a sua própria vida, porque pode não resultar, faz parte do processo. É muito importante conhecer o negócio, conhecer a equipa e desenvolver empatia por ela e estudar a startup para poder dar o suporte ideal.

And to an investor?

I am actually on my learning curve as well, but what I can say, from my experience, is that investing in startups in the early, pre-seed phase is a high risk, it may not have the expected end. The person has to know what his profile is as an investor. You have to know what you are looking for. You can start investing with amounts whose loss is not critical to your own life, because it may not work out, it’s part of the process. It is very important to know the business, to know the team and develop empathy for them, and to study the startup to provide the ideal support.

O que falta em Angola para que a transformação do empreendedorismo aconteça?

Nós temos um ecossistema que se está a iniciar, é recente. Contudo, já temos os diferentes agentes desse ecossistema. Primeiro que tudo, já temos startups, que representam o talento, e que são o mais importante. Depois, temos todas as organizações que dão suporte para que essas startups e os seus negócios aconteçam. O ecossistema existe porque os empreendedores e o talento existem. Senão, o resto não tem sentido nenhum. Outro factor importantíssimo é a mentoria, ou seja, a transferência de experiência, conhecimento e capital. Porém, o capital é atraído pelo valor criado através da inovação. A inovação aberta tem um papel essencial em países como o nosso, poderá catalisar o desenvolvimento socioeconómico , atrair a criação de mais infraestruturas de serviços, empregos, parcerias, entre outros. Precisamos de um ecossistema que promova a inclusão, a abertura, a mobilidade de recursos (capital, pessoas), com um framework legislativo adequado e que promova a inovação e o empreendedorismo, onde o papel do Governo seria promover o investimento, encorajar, monitorar o impacto. Precisamos de casos de sucesso no nosso ecossistema e acredito que vai acontecer, mas as premissas, envolvimento e suporte de todos os agentes do ecossistema são críticos.

What is missing in Angola for entrepreneurship transformation to happen?

We have an ecosystem that is just beginning, it is new. However, we already have the different agents of this ecosystem. First of all, we already have startups, which represent the talent, and which are the most important. Then we have all the organizations that provide support for these startups and their businesses to happen. The ecosystem exists because the entrepreneurs and the talent exist. Otherwise, the rest is meaningless. Another very important factor is mentoring, that is, the transfer of experience, knowledge, and capital. But capital is attracted by the value created through innovation. Open innovation has an essential role in countries like ours, it can catalyze socio-economic development, attract the creation of more service infrastructures, jobs, partnerships, among others. We need an ecosystem that promotes inclusion, openness, mobility of resources (capital, people), with an appropriate legislative framework that promotes innovation and entrepreneurship, where the government’s role would be to promote investment, encourage, monitor the impact. We need success stories in our ecosystem and I believe it will happen, but the premise, involvement, and support of all the players in the ecosystem are critical.

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