Em Si do Homem

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ANTONIO MENEGHETTI

O EM SI DO HOMEM

5a edição Revisada

Ontopsicológica Editora Universitária

Recanto Maestro 2015


Título do original italiano: MENEGHETTI, Antonio. L’In Sé dell’uomo. 5. ed. Roma: Psicologica Editrice, 2002.

M541e

Meneghetti, Antonio, 1936-2013. O Em Si do homem / Antonio Meneghetti ; tradução Ontopsicológica Editora Universitária. – 5. ed. – – Recanto Maestro, Restinga Seca, RS: Ontopsicológica Editora Universitária, 2015. 256 p. ; 21 cm. Título original italiano: L’In Sé dell’uomo ISBN 978-85-64631-26-7 1. Ontopsicologia. 2. Metafísica. 3. Existência. 4. Intencionalidade - psíquica - ôntica. 5. Consciente - Inconsciente. 6. Em Si ôntico. I. Título. CDU (1997): 111 Catalogado na publicação: Biblioteca Humanitas da AMF.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................9 Primeiro Capítulo

A EXISTÊNCIA................................................................................................................... 13 Segundo Capítulo

O SINCRONISMO DOS MODOS EXISTENCIAIS......................................................................................... 19 Terceiro Capítulo

POR QUE O MEU AQUI E AGORA .................................................... 25 Quarto Capítulo

O VALOR DA INDIVIDUAÇÃO .............................................................29 Quinto Capítulo

A GÊNESE DO FENÔMENO......................................................................... 33 Sexto Capítulo

A MORTE COMO REENTRADA ........................................................... 43 Sétimo Capítulo

METAFÍSICA DA MORTE ................................................................................. 51 Oitavo Capítulo

O FIM PRIMÁRIO DA EXISTÊNCIA................................................... 59


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O Em Si do homem

Nono Capítulo

O VALOR INTRÍNSECO DA MORAL .............................................67 Décimo Capítulo

O QUE É A PSICOTERAPIA ONTOPSICOLÓGICA.............................................................................................. 83 Décimo Primeiro Capítulo

DA PSICOTERAPIA À PESQUISA DO HOMEM................................................................................ 91 Décimo Segundo Capítulo

A CONSCIÊNCIA TOTAL.................................................................................97 Décimo Terceiro Capítulo

O INCONSCIENTE COMO EM SI DE UM CONTÍNUO DINÂMICO......................................103 Décimo Quarto Capítulo

O EM SI DO HOMEM .............................................................................................. 111 Décimo Quinto Capítulo

A INTENCIONALIDADE PSÍQUICA .............................................. 117 Décimo Sexto Capítulo

O INSTINTO COMO TERCEIRO EVENTO DO CONSTITUINTE HOMEM ................................................................. 123 Décimo Sétimo Capítulo

A TRIPLICIDADE ENERGÉTICA PSICOSSOMÁTICA..................................................... 127


Sumário

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Décimo Oitavo Capítulo

O CONHECIMENTO COMO EXPERIÊNCIA DO EM SI.................................................................................. 139 Décimo Nono Capítulo

A CONSCIÊNCIA....................................................................................................... 149 Vigésimo Capítulo

O EU COMO CATEGORIA DE CRESCIMENTO.................................................................................................... 161 Vigésimo Primeiro Capítulo

AFETIVIDADE E CONHECIMENTO............................................... 167 Vigésimo Segundo Capítulo

O ALHEIO NO HUMANO OU GRELHA DE DEFORMAÇÃO....................................................... 177 Vigésimo Terceiro Capítulo

A LINGUAGEM............................................................................................................... 191 Vigésimo Quarto Capítulo

DA INTENCIONALIDADE ÔNTICA À INFORMAÇÃO HISTÓRICA: INDIVÍDUO E SOCIEDADE.......................................................................... 197 Vigésimo Quinto Capítulo

SEMINÁRIO ABERTO: INTERROGAÇÕES.......................... 207 Vigésimo Sexto Capítulo

O QUE É O EM SI ÔNTICO............................................................................ 221 BIBLIOGRAFIA DO AUTOR...................................................................... 249



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INTRODUÇÃO

O texto divide-se em duas partes: a existência e o Em Si. Ambas confirmam o homem como objeto e sujeito à ecceidade que é. O íntimo do homem é o avesso centralizado do infinito exposto. Por isso, quando e onde o homem atua o próprio a priori, reconhece o discurso existencial como própria fenomenologia. Em tal ato, o homem reúne o real único como introverso e extroverso. Na medida em que está em atraso com o próprio encontro total, o mundo da vida lhe é estranho. Desde quando vejo o Em Si do homem, encontro grande dificuldade em ensinar a sua evidência. Eu intenciono aquilo que ele é, mas o homem insiste nos símbolos perdidos. Indaga pegada por pegada e não vê o próprio pé que corre e o sustenta, aquele pé que carrega a causa. Dou-me conta da não aceitabilidade racional das minhas afirmações. Se é importante ter em mãos a alavanca de comando da própria existência, então a estrada que tracei é funcionalidade ôntica. Vale dizer que se tem aquele saber que é poder sobre a vida. O fato da vida, a partir do momento em que se individua, é autóctise e não admite boa-fé. A partir do momento em que se existe, é determinístico o fazer conforme o projeto. Se o ato é função egológica, o homem resulta côngruo e tudo anda bem. Do contrário, é angústia.


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O Em Si do homem

A intencionalidade é a atualidade do ato, não convicção fideísta. A vida é aquilo que se age, não aquilo que se crê. O Em Si evidencia-se por trás da fenomenologia de objeto e sujeito e concede-se manifesto somente ao homem que tenha se tornado conforme ao próprio ato apriórico. Se a psicologia é ciência da alma, é inevitavelmente ciência numênica (noumenon-nous que devém, o Em Si como se move), isto é, Ontopsicologia: ciência do Em Si do homem. A angústia existencial demonstra que o homem não possui a causa de si mesmo, nem ciências, filosofias e fé valem para garanti-lo. Sente-se importante e não sabe confirmar-se; sabe-se nascente e constata-se poça de lama. Para dar-lhe a consistência numênica e, portanto, o poder do Em Si causal, devo ensinar­ ‑lhe o acontecimento constante do rio e do mar como síncronos a sua nascente. O Em Si do homem causa-se na transcendência de todas as fenomenologias. Isso significa que a individuação se alimenta onde o ser corre multíplice, mas recolhido uno em si mesmo. Nessa simplicidade, eu nasço e devenho. Quando vim a saber que os outros conheciam somente através de alguns símbolos psicolinguísticos, busquei em muitos modos a mediação ao real. Não obstante a presença da grelha de deformação1 (mecanismo histórico regulador do fazer mundano), a única passagem é a fidelidade ao imediato visceral do aqui e agora do indivíduo. “A curiosidade contínua e amorosa pelo fenômeno empírico de onde você se encontra abre o íntimo da estrutura portante do seu aqui e agora. Se você se vai de onde é, a sua casa se tornará acampamento de estranhos e você se sentirá excluído em um ângulo, isto é, em angústia psíquica e somática. Quando quiser   O autor tratou de modo exaustivo esse mecanismo intrapsíquico na obra MENEGHETTI, A. O monitor de deflexão na psique humana. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2005. 1


Introdução • 11

chamar-se pelo nome, você usará apelidos depreciativos como sua identidade; você existe com consciência alheia e o seu Em Si primeiro chorará, depois sofrerá e, finalmente, o matará”. O Em Si mata inexoravelmente toda vez que o histórico tende a fixar. A morte deriva de uma volição fora da intencionalidade do ser, portanto a morte é normal autoexclusão do jogo da grande vida. Quando você quer a si mesmo onde não é, começa a não existir. Sob os limiares fenomenológicos do Eu e do superego, expõe-se a solar positividade do Em Si do homem. Somente o contato com ele certifica as funções do real e os relativos valores egoicos para o indivíduo. O Em Si fornece o código de interpretação para qualquer fenomenologia e consente o reencontro do significante e do significado. A interpretação está nas mãos do Em Si e somente aquele que é evidência vivente do próprio Em Si é mestre do verdadeiro, em qualquer lugar e de qualquer forma que gerencie a própria especificidade histórica. Mas a sua sabedoria será clara apenas a quem está próximo de si mesmo, isto é, do próprio Em Si.



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Primeiro Capítulo

A EXISTÊNCIA

“Existência” significa sair fora do fundamento, emanação daquilo que é em si. Toda indagação a respeito do significado da existência torna indispensável precisar o modo de referir-se à vida. Não é necessário considerar que a vida seja um bem, absoluto, desejado por todos. Partamos de um ponto de vista de psicologia antropológica, isto é, o homem no seu concreto existencial. Não façamos uma pesquisa com escopo de uma ciência a si, porque uma ciência a si é uma forma sem conteúdo que contribuirá para tornar os diversos existentes ainda mais ausentes do próprio íntimo, da possibilidade de objetivar a si mesmos no real. Se tratamos alguma coisa referente ao homem, devemos tratar seja aquela coisa, seja a referência e também o homem. Para dar um exemplo claro: se digo “S. ama a vida” ou, em vez disso, digo “O homem ama a vida”, ou ainda se pergunto “O homem ama a vida?” e “F. ama a vida?”, a impostação do problema muda. Muda a ótica, muda a resolução. O nome, uma referência bem precisa sobre um homem, esse aqui e agora, muda todo o problema metafísico. A verdade é um aqui que se atua como força prevalente, portanto necessita concretizar os singulares, os diversos contrapostos, as individuações aporéticas. Uma vez especificadas, correlaciona-se a elas uma solução que permanece dependente da problemática exigente das próprias individuações.


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O Em Si do homem

Toda pesquisa é feita sempre segundo a ótica de um existencialismo historicamente definido, porque o ser define-se como problema somente enquanto existe um modo de requerê­ ‑lo. A ideia idéia vida não é um problema do Ser. Se é um problema, o é de nós aqui existentes. O ser é problema a partir do momento em que eu existo, e posso resolvê-lo somente partindo do meu aqui e agora circunstanciado. Dadas essas premissas, pode-se supor, e é demonstrável, que a vida não interessa a todos em igual medida e não é para todos um dado certo, positivo. A religião fala da vida, mas no sentido de que aquela verdadeira seria possível somente depois desta que eu objetalmente posso tocar, portanto permanece implícito que a vida que neste momento escorre não é boa. Mas, se não é bom isto onde eu existo e se eu devesse existir em uma outra vida, aquele não seria mais eu. Em filosofia são conhecidos diversos modos, como pessimismo, niilismo, existencialismo negativo etc. Portanto, é preciso partir de um ponto de vista que considero universal, ou seja, a relatividade da vida. Isso por duas razões. Antes de tudo, porque nós existimos, porque o ser determinou-se nestes locais, nestas pessoas, entre os infinitos possíveis. Em segundo lugar, caso se observem esses existentes, eles suportam a vida; todos têm uma esperança, todos tendem para além do lugar onde estão, portanto suportam a vida e em essência a negam. Dito isso, começamos a compreender que não deveríamos nos culpar pelo fato de não desejar em cem por cento a vida. Se a verificamos, por exemplo, nas crianças, elas a concebem como uma defesa, até as últimas consequências, de uma própria afirmação sobre os outros que não surge a partir de um conhecimento positivo da vida; é um correr para estar com aqueles que parecem ser os mais bem-sucedidos. Indiretamente é


A existência • 15

uma demonstração da vida, mas não é que eles entendam a vida. Somente o homem maduro entende propriamente a vida; ele a conhece, a sabe e não tem necessidade de mover-se de onde existe para tê-la toda. A vida é relativa porque nos é dada e também retirada. Mesmo que nós nos concebamos em uma dimensão não moritura, a realidade externa nos fixa ao fato de que a nossa certeza interior é falimentar, ao menos assim parece. Além disso, uma vez que se é, como existir? Muitos consideram que valeria a pena existir se estivessem melhor. Definem esse melhor ou para além de um deficit evidenciado, ou na realização dos desejos: projetamos o sucesso da vida onde quer que possa ser preenchida uma carência que sentimos. Ser ou não ser é experiência incessante do ser homens. A vida depende, como ato constante e contínuo, de uma decisão que devemos renovar a cada momento. A origem da vida, onde se deu? Muitos estudiosos procuram definir se a vida teve origem neste planeta e há quantos séculos. Alguns indagam quais foram as primeiras formas da vida e se estamos em um processo evolutivo ou involutivo. O meu ponto de vista pessoal é que a evolução não existe. Nós viemos do mais. Historicamente estiveram neste planeta civilizações precedentes muito superiores à nossa que, por um acúmulo de conflitos ou cataclismos, desapareceram. Eram civilizações que tinham alcançado um poder sobre a matéria, sobre as formas da vida, até saber manipular forças superiores àquelas atualmente conhecidas, como o campo eletromagnético, a energia atômica, o hipercampo psíquico, a intuição ôntica etc. Posso crer em um retorno de grandes ordens que existiram ou ainda em um retorno de ordens que são atuais em outros planetas ou galáxias.


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O Em Si do homem

Para pensar corretamente, é preciso habituar-se a crer que o universo é um pouco como a Terra, onde coexistem primitividades absolutas e populações mais evoluídas no campo das máquinas, dos computadores etc. Suponham que se desencadeasse uma guerra de inteligência, feita de armas telecomandadas pelo campo semântico1: poderia­ ‑se destruir os homens de um certo nível de pensamento e a humanidade automaticamente regrediria a tal ponto de não possuir mais as atuais energias de consumo. Na Lua existiu a vida e de forma mais exuberante do que na Terra: planeta menor, era mais fácil o incremento e os encontros. Os seres inteligentes potencializam-se quando se encontram. Enquanto que um homem sozinho poderia alcançar um certo potencial, nas interações o metabolismo das inteligências potencia alguns dessa massa. Em seguida, a vida na Lua desapareceu. Nós desenvolvemos o conhecimento segundo a energia quântica física, mas se a escolha histórica do caminho científico se tivesse voltado para o campo da química pura, o potencial de energia manobrável pelo homem seria agora muito superior. Somos um acontecimento histórico não entre os mais felizes de épocas e de civilizações que muito antes de nós se desenvolveram em altíssimos níveis. Conhecemos somente algumas civilizações que existiram; outras, das quais não permaneceu nenhum escrito, para nós correspondem ao nada. Toda civilização que se afirmou destruiu os traçados memoriais da potente civilização vencida. Em todo caso, saber toda a história anterior a nós não mudaria uma vírgula a possibilidade de sermos realizados aqui.   O conceito de campo semântico é tratado de modo completo no texto MENEGHETTI, A. Campo semântico. 4. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2015. 1


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Um outro problema importante é o tempo. Até que ponto é real? O tempo é uma unidade de medida da existência humana alojada sobre este planeta. Nós podemos colher somente aquele tipo de realidade que é relativo à nossa situação; de todo o real existente, podemos colher somente aquelas realidades relativas ao nosso modo de vida. Mesmo existindo outros mundos, outras formas de inteligência, não as podemos encontrar, porque estão fora do nosso campo de percepção, da nossa unidade de medida. A vida sempre existiu. Mas se falamos desta forma de vida, nesta unidade de tempo, de onde vem? Quando começou? A vida provém da decadência de um modelo de existência superior àquele que experimentamos hoje. A prova evidente disso é que, quando acreditamos estar evoluindo, alcançamos lugares que descobrimos serem já existentes. No momento em que se devém e se conhece mais, descobre­ ‑se que já se era. As nossas assim chamadas conquistas do saber – tanto interior quanto exterior – são um reencontrar algo que era antes de nós. O crescimento é um retorno. A vida é possível em outros planetas, em diversas formas e modos, não poderia existir aqui na Terra se não existisse contemporaneamente em todo o universo. A existência de vida terrestre é fenomenologia de um conjunto, que se concausa similar em quase todo o universo e pode sustentar-se porque um conjunto a metaboliza continuamente. A vida deve ser estudada e indagada lá onde aparece suprema, mais elevada segundo a nossa experiência, vale dizer no homem. É inútil buscar a vida dentro de um fóssil, ou dentro de uma planta. Indaguemos, em vez disso, os horizontes do ser psíquico do homem, que nos dirá muito mais. Essa pesquisa tem um escopo psicológico, individual, que depois vai inevitavelmente em direção a um escopo metafísico.


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