ISBN 978-85-64631-22-9
Para mais informações: www.antoniomeneghetti.org.br
ANTONIO MENEGHETTI
Não é possível definir em esquemas lógicos correntes a obra e a personalidade do Acadêmico Professor Antonio Meneghetti. Sem dúvida, como todos os grandes, exula dos parâmetros da norma. O ponto-chave que dá partida e função a toda a sua atividade científica como clínico e cientista é a sua descoberta do campo semântico. “O campo semântico”, como ele mesmo explica, “é informação que a natureza media no interior das próprias individuações. No âmbito dos comportamentos elementares da energia, antes da fenomenologia ondular ou corpuscular, como entendido pela compreensão da física moderna, especifica-se uma indução eidética formalizante dos processos dos instintos, dos conjuntos ou contextos funcionais. Estes últimos, com evidência física concreta. Os campos semânticos são reais que efetuam os acontecimentos energéticos. Esses acontecimentos energéticos permanecem definidos e não é possível fazer-lhes variância formal se não se possui o conhecimento lógico dos primeiros reais ou causas. Esse feixe de processos é capaz de se definir a cada vez, até a exatidão de cada presença inerente àquele campo. Entre os tantos efeitos, o campo semântico dá as coordenadas ‘no âmbito antropológico’ de qualquer estrutura portante do sujeito em exame. Qualquer realidade que faz ato, ação-ponta ou de destaque no presente, existe somente e enquanto está no design da vetorialidade do campo semântico. Obviamente, sabendo ler os efetuais dinâmicos, pode-se acessar a intrínseca etiologia e variar os seus processos. Aperfeiçoando ou sintonizando racionalmente o analisador ao acontecer do evento histórico ou somático, decifra-se a etiologia do sintoma ou do fato e a possibilidade de correção”. Antes da reflexão consciente existe a rede das informações biológicas e, antes ainda, as variáveis intencionais que estruturam os vetores da energia física. Se estes não são captados, a nossa percepção e consequente medida não são exatas para fazer ciência objetiva e reversível.
CAMPO SEMÂNTICO
Original intelectual do nosso tempo, é autor de mais de 50 obras, em grande parte traduzidas para o inglês, português, russo e chinês. Com excepcional formação em teologia, filosofia, sociologia, direito, psicologia e economia, foi talvez uma das últimas grandes mentes da história recente, como os grandes do passado, com capacidade de formalizar um saber unitário por evidência racional e aplicação concreta. Para ele, a Ontopsicologia, ciência que formalizou nos últimos 40 anos, é a capacidade de evidenciar-se no nexo ontológico. Será necessário algum tempo para se compreender a causalidade operativa das suas descobertas. Descobertas que consentirão familiaridade com o mundo-da-vida ou a continuidade reversível entre consciência e causalidade real. Fundou e presidiu a Associação Internacional de Ontopsicologia, ONG com status consultivo especial junto ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas. No Brasil, foi patrono da Antonio Meneghetti Faculdade, instituição de ensino superior credenciada pelo Ministério da Educação em 2007, e da Fundação Antonio Meneghetti, instituição criada em 2010 que, com o respaldo do governo brasileiro, visa garantir e perpetuar a obra e os resultados da ciência ontopsicológica no território nacional.
ANTONIO MENEGHETTI
CAMPO SEMÂNTICO
Antonio Meneghetti (1936, Itália 2013, Brasil) alcançou quatro doutorados. Segundo os critérios canônicos das Universidades Romanas, foi Doutor em Filosofia e em Ciências Sociais (Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, Roma) e Doutor em Teologia (Pontifícia Universidade Lateranense, Roma). Na Rússia, obteve, em 27 de abril de 1998, da Suprema Comissão de Avaliação Interacadêmica da Federação Russa, o título de Grand Doktor Nauk em Psicologia (protocolo 0104). Obteve também a láurea em Filosofia com endereço psicológico (Universidade Católica do Sagrado Coração, Milão) e recebeu a láurea honoris causa em Física pela descoberta do “campo semântico” (Universidade Pro Deo, Nova York).
ANTONIO MENEGHETTI
CAMPO SEMÂNTICO 4ª edição
Ontopsicológica
Editora Universitária
Recanto Maestro 2015
Do original italiano: MENEGHETTI, A. Campo Semantico. 4. ed. Roma: Psicologica Editrice, 2012.
M541c
Meneghetti, Antonio, 1936-2013.
Campo Semântico / Antonio Meneghetti ; tradução e revisão Ontopsicológica Editora Universitária – 4. ed. – Recanto Maestro, Restinga Seca, RS: Ontopsicológica Editora Universitária, 2015. 280 p. ; 21 cm. ISBN 978-85-64631-22-9 1. Ontopsicologia. 2. Ontologia. 3. Comunicação - diádica. I. Título. CDU (1997): 111 Catalogado na publicação: Biblioteca Humanitas da AMF.
© 2015 Todos os direitos reservados à Ontopsicológica editora Universitária Rua Oniotan, 490 | Un. 21 | Distrito Recanto Maestro 97230-000 | São João do Polêsine | RS | Brasil +55 55 3289 1140 | info@ontopsicologia.com.br | www.ontopsicologia.com.br
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SUMÁRIO
PREFÁCIO...................................................................................... 11 Primeiro Capítulo
A DESCOBERTA E A EXPERIÊNCIA OPERATIVA DO CAMPO SEMÂNTICO......................................13 1.1 Pródromos da pesquisa ontopsicológica.......................................13 1.2 A descoberta do campo semântico...............................................16 1.3 A verificação clínica.......................................................................17 1.4 Esclarecimentos psicoterapêuticos................................................20 1.5 A seleção do complexo.................................................................29 1.6 Vetorialidade e programação.........................................................31 Segundo Capítulo
SÍNTESE CIENTÍFICO-PROSPECTIVA DOS CAMPOS SEMÂNTICOS......................................................33 2.1 Comunicação e psique..................................................................33 2.2 Elucidações sobre o campo semântico segundo a Ontopsicologia...................................................................37 Terceiro Capítulo
O CAMPO SEMÂNTICO NA CONCEPÇÃO ONTOPSICOLÓGICA.....................................43 3.1 Informação e cifremática................................................................43 3.2 A indagação do real para o homem...............................................45
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3.3 O conceito de “campo”.................................................................46 3.4 O “campo” na pesquisa.................................................................47 3.5 Matemática e empirismo...............................................................48 3.6 Universo semântico e função.........................................................49 3.7 A variável constante.......................................................................51 3.8 O critério da pesquisa....................................................................52 3.9 Ação e informação........................................................................53 3.10 Campo e logística da ação..........................................................54 3.11 Autoindagação do pesquisador...................................................55 3.12 O campo semântico....................................................................56 3.13 A introspecção psicológica das imagens.....................................57 3.14 O real formal................................................................................59 3.15 Especularidade e constante H.....................................................60 3.16 O papel da consultoria de autenticação.......................................62 3.17 Síntese conclusiva.......................................................................63 Quarto Capítulo
CAMPO SEMÂNTICO LINGUÍSTICO E CAMPO SEMÂNTICO ONTOPSICOLÓGICO.........................65 Quinto Capítulo
CAMPO SEMÂNTICO E CONHECIMENTO...............................71 5.1 A objetividade da subjetividade......................................................71 5.2 Informação de natureza e conhecimento organísmico...................73 5.3 O critério de verdade.....................................................................81 5.4 O campo semântico como reforço ao critério científico..................84 5.5 A leitura do campo semântico como recuperação do princípio operativo do conhecimento..............................................90 5.6 O campo semântico como critério em psicoterapia.......................96
Sumário • 7
Sexto Capítulo
CONFORMAÇÃO E PERCEPÇÃO DO CAMPO SEMÂNTICO..........................................................105 6.1 A fenomenologia do campo semântico........................................105 Descrição de alguns traçados......................................................105 Elucidações sobre o fenomenizar-se do campo semântico....................................................................107 6.2 Formação e percepção do campo semântico..............................109 Fases de formalização do campo semântico................................109 Modos do campo semântico........................................................110 O efeito rede................................................................................111 O efeito trigger.............................................................................114 6.3 Campo perceptivo e conhecimento.............................................116 O campo perceptivo.....................................................................116 Um modelo racional de conhecimento.........................................117 Conhecimento parapsíquico e campo semântico.........................120 6.4 Campo semântico e remoção......................................................121 6.5 A transdução informática.............................................................126 Aspectos do receptor...................................................................127 O corte da imagem......................................................................131 Responsabilidade individual e metanoia........................................132 O campo semântico positivo........................................................134 6.6 Esquema conclusivo....................................................................136 Sétimo Capítulo
ENERGIA E TRANSDUÇÃO FORMAL.......................................139 7.1 Transdução informática e módulo receptor..................................139 7.2 Campo semântico e estereótipos................................................142
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Oitavo Capítulo
DO AMBIENTE TOTAL À COMUNICAÇÃO DIÁDICA.....................................................145 8.1 Individuação e ambiente total......................................................145 8.2 O hipercampo ou agente universal..............................................151 8.3 O código de sentido da realidade................................................153 8.4 Interação, metabolização, conhecimento.....................................157 8.5 Fé e realidade orgânica................................................................164 Nono Capítulo
CAMPOS SEMÂNTICOS E REALIDADE COTIDIANA.......................................................167 9.1 A dimensão do inconsciente........................................................167 9.2 Buracos negros e mediadores energéticos..................................172 9.3 A resposta à necessidade...........................................................178 9.4 Pré-constituição do receptor e estruturação organísmica............184 9.5 A subjetividade autoconhecedora................................................191 Décimo Capítulo
O CAMPO SEMÂNTICO NA EVIDÊNCIA PSICOBIOLÓGICA E PSICOTERAPÊUTICA..............................................................193 10.1 O homem como ponto-força de um campo-rede......................193 10.2 Paráfrases sobre a remoção......................................................196 10.3 O inconsciente semântico no ambiente familístico.....................198 10.4 Anterioridade histórica e orgânica nos processos conscientes...............................................................206 10.5 Tese..........................................................................................210 10.6 Exposição casuística sobre a esquizofrenia...............................211 10.7 Inconsciente familístico e descarga patológica...........................213 10.8 O campo semântico da remoção: a resistência.........................216
Sumário • 9
10.9 Os deslocamentos da agressividade e da sexualidade .............216 10.10 Autonomia de ressonância e estrutura psico-práxica...............220 10.11 Reencarnação.........................................................................222 10.12 A rede de comunicação familiar ..............................................232 10.13 Palavra, emoção, psicoterapia ................................................233 10.14 Informação e biologia..............................................................233 10.15 A projeção artística de semânticas exógenas..........................239 10.16 O campo semântico na descrição neurobiológica ...................240 10.17 Aplicações ao campo semântico.............................................246 10.18 A informação orgânica como medianicidade de intenção................................................................248 10.19 Campo semântico e distonia existencial..................................249 10.20 Proprioceptividade do receptor................................................252 10.21 Sociedade e responsabilidade do indivíduo.............................256 Conclusão
Ontologia da percepção.................................................259 1. Percepção.....................................................................................259 2. Ontologia ......................................................................................260 3. Da Percepção à Ontologia.............................................................264 4. .....................................................................................................271 5. Campo semântico e sociologia......................................................271
BIBLIOGRAFIA DO AUTOR.......................................................273
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PREFÁCIO
A Ciência Ontopsicológica, delineada pelo seu fundador Antonio Meneghetti em mais de quarenta textos, já pode se considerar plenamente formalizada. No curso de mais de 40 anos, Antonio Meneghetti continuamente precisou o próprio pensamento através de lições especialísticas, congressos mundiais, encontros de cultura ontopsicológica, residences de autenticação e desenvolvimento de lideranças. Uma das três descobertas fundamentais da Ontopsicologia é o campo semântico. Como o próprio autor o define: “O campo semântico é um projeto momentâneo da energia em si, e se exaure em efeito específico, é atinente ao interior também das variáveis psico‑emotivas; porém, refere-se a todas as comunicações que traduzem sinais”. Esta coletânea monográfica fornece uma sistematização de todos os escritos de Antonio Meneghetti sobre o campo semântico desde 1976 até o presente momento. O critério seguido para organizar o material foi o de apresentar antes de tudo os escritos que consentem a compreensão do campo semântico como informação-base da vida, e concluir a coletânea com os escritos que – mesmo se cronologicamente primeiros – dão a prospectiva do campo semântico no aspecto patológico (campo semântico negativo). O conhecimento do campo semântico negativo é basilar para a psicoterapia clínica. Parafraseando o autor, de per se o campo semântico – sendo
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um informador de realidade – é uma relação de vida: é o aspecto continuativo entre o homem e o inteiro, ou ainda, é o aspecto do concrescimento entre o homem e o ambiente. Ou ainda, por deformação adicionada, é ativador de regressão. Resultam fundamentais para a compreensão deste texto, as seguintes obras do autor: O Em Si do homem, O monitor de deflexão na psique humana, A imagem alfabeto da energia, Manual de Ontopsicologia.
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Primeiro Capítulo
A DESCOBERTA E A EXPERIÊNCIA OPERATIVA DO CAMPO SEMÂNTICO1
1.1 Pródromos da pesquisa ontopsicológica
A realidade inovadora que a compreensão sobre a existência do campo semântico comporta revolucionará o sistema crítico de investigação do conhecimento e da consciência do homem. O campo semântico é uma das descobertas próprias da Ontopsicologia. Toda a biblioteca ontopsicológica permanece incompreensível a quem não conhece a existência da realidade dos campos semânticos. Não podemos considerar objetiva nenhuma pesquisa sobre o humano, se o pesquisador não tem experiência dos campos semânticos. O campo semântico, no entendimento ontopsicológico, exclui qualquer referência a expressões similares; por isso, mesmo tendo utilizado um termo que foi usado e que até hoje é corrente na literatura filosófica, linguística, psicanalítica e sociológica, não reconhecemos nenhuma afinidade com o que é entendido por essas disciplinas. A escola ontopsicológica nasce da falência e da verificação de não operatividade das ciências complementares que inicialmente pareciam prometer o êxito do conhecimento do homem. De Exposição desenvolvida pelo autor no decorrer do VIII Congresso Internacional de Ontopsicologia, realizado no Hotel Cavalieri Hilton de Roma de 10 a 14 de dezembro de 1980. Publicada em Atti del VIII Congresso Internazionale di Ontopsicologia. Roma: Ontopsicologica Ed., 1981 (edição esgotada). 1
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fato, por mais que tais ciências fossem escrupulosas na sua investigação sobre a casuística do desenvolvimento de um indivíduo, permanecia constante um setor de incompreensão. A oficialidade científica ficava sempre aquém desse ponto. Por exemplo, o complexo mundo da percepção extrassensorial (ESP) permanecia atrelado a “saltos”, definidos inexplicáveis ou fideístas. Sem minimamente invalidar a norma da fé humana, por ora permanece o fato da não operatividade constante dessas estradas de salvação. Em sede social externa, posso conotar um indivíduo ainda que não o tenha fisicamente diante de mim, isto é, ele existe nas suas referências (casa, mulher, marido, trabalho etc.). Por isso posso conhecê-lo através de uma pessoa-meio que com ele tenha contato. De todo modo, seguindo as múltiplas experiências de diversas escolas, permanecia um dado constante: a carência de precisas configurações e a verificação de acontecimentos inexplicáveis que impunham o limite de uma tomada de consciência ao sujeito paciente. A seguir, junto a outras escolas (Estados Unidos), foi evidenciado o efeito-rede de um contexto. Começou-se a falar do fato que seres humanos, colocados num certo ambiente, o sofriam a tal ponto que cada indivíduo se tornava o exposto de uma dinâmica geral. Por exemplo, um homem – ao observar uma partida de futebol – pode entrar na forma de um outside comum e de uma tipologia determinável de agressividade. Porém, na minha experiência, notava que esse efeito-rede do contexto podia dar algumas voltas, podia ser determinado como ilha, mas depois, não se sustentava quando eu queria indagar o indivíduo último. Sucessivamente, falou-se acerca da probabilidade de efeitos de plágio voluntarista ou ideológico no sujeito: um indivíduo que parece autônomo, dentro de si pode sofrer as presenças que ele
A descoberta e a experiência operativa do campo semântico • 15
mesmo, de alguma maneira, acusa e não acusa, para ser submetido a uma forma de plágio educativo como sistema ideológico desde a infância. Segundo o tipo de educação e de dependência afetiva que tivemos, sofremos quando adultos; pelo fato de termos sido aculturados, não podemos dispor do verdadeiro de nós mesmos. Também nesse caso, porém, mesmo compreendendo tais situações, o sintoma permanecia intacto: manifestava-se em dor de cabeça, ou em incapacidade de se relacionar, ou em incapacidade sexual, ou numa incapacidade funcional como ser pleno para si mesmo. Através da psicanálise ortodoxa, aprendemos a situação do processo de introjeção e, sobretudo, aquele de identificação: enquanto objeto passivo de uma educação, o sujeito teria assimilado dentro de si o ideal de uma outra pessoa, teria se conformado a ela e teria se desenvolvido, identificando-se naquilo que considera uma forma de força. Na prática clínica, porém, via que o traçado mnéstico, as lembranças traumáticas da infância podiam ser tocadas, eu podia manobrá-las e trazê-las à superfície da consciência, podia remeter toda a história do passado diante da possibilidade consciente do sujeito, mas o sintoma permanecia igual, e essa era a prova constante da falência. O mesmo acontecia aceitando certos planos de visão parapsíquica em sentido genérico. Também nesse caso, o sintoma desaparecia algumas vezes, mas depois retornava igual ou pior. Não basta dizer que o sintoma é um aspecto de resistência e que foi adquirido através do ambiente, porque se conheço exatamente a sua causa devo saber encontrar a solução. Não saber eliminar a patologia significa não conhecer nem mesmo a etiologia do sintoma. Do que estou falando, deveria ser evidenciado que a descoberta do que depois foi definido “campo semântico” nasceu de um duro estresse, onde a verificação de um sucesso era a solução humana, o desaparecimento estável daquele sintoma.
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1.2 A descoberta do campo semântico
No âmbito do training, eu podia me dar conta do falar cindido do sujeito. O paciente aparecia de um modo e existia de outro, seja por meio dos cifrados do campo cinésico-proxêmico, seja por meio da indução, análise, anamnese e tudo o que se conhece no ofício de psicanalista. Porém, permanecia o fato que, mesmo quando eu dava consciência do comportamento esquizofrênico ao sujeito, o sintoma não desaparecia. Durante o training, não obstante a conotação externa que o paciente dava deste ou daquele outro fato, eu acusava frequentes distrações e frequentes fantasias que continuamente se associavam às distrações iniciais. Era como se a minha distração tivesse um deslocar-se autônomo de onde eu, racionalmente, queria me concentrar. A distração era constante quando eu colocava em foco a possibilidade de introspectar o paciente. Não obstante a minha cultura e o esforço logístico para a interpretação de todas as tipologias que o paciente pudesse indicar ou que eu mesmo pudesse revelar, dando uma interpretação mais exata do momento – e sempre disposta a qualquer variação – eu devia frequentemente constatar em mim a insistência da distração. Acontecia também durante a interpretação onírica. Estava para fechar o consultório, resignando-me a deixar aos outros a possibilidade de continuar a psicoterapia. Sem discutir, pretendia me afastar. Antes de me render, quis provar em sede séria, se aquilo que eu conscientizava como distração, como fantasia associada era probabilidade de clarividência, isto é, comecei a trabalhar seriamente naquilo que o meu esforço logístico tendia a excluir. Comecei a colocar o suporte de realidade a todo aquele mundo que até aquele dia me parecia absurdo, não controlável. Experimentei
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colocar toda uma concretude de seriedade e, toda vez que colocava o suporte de realidade a todo aquele conjunto fantasmagórico sem sentido, não somente encontrava o paciente de forma muito mais objetiva, como também o sintoma desaparecia. Colocando-me na ótica das indicações fantasiosas fora de lugar, encontrava a realidade do outro, encontrava onde ele tinha a sua casa, onde ele verdadeiramente existia. Dando seriedade, mas uma seriedade igual àquela que um engenheiro pode dar aos seus cálculos enquanto calcula o cimento armado, ou àquela de um físico nuclear quando calcula a probabilidade de massa, finalmente via todo o outro também onde ele não se sabia, e o sintoma desaparecia. Cuidei-me bem, todavia, para não definir o fato como um dom paranormal. Tendo tomado, com realidade, tudo aquilo que era desarranjo de fantasia, eu colocava ali a mesma lógica, definida racional em outro lugar. Substancialmente, aplicava os mesmos parâmetros da razão naquilo que tinha o único erro de não parecer real externo. Portanto, não se tratava de anular a razão, mas de investi-la em zonas consideradas irreais, não existentes. Quando Cristóvão Colombo partiu com as três caravelas para alcançar as Índias, colocava-se fora do plano do conhecimento geográfico da sua época, mas na realidade aplicava o instrumento da navegação numa fronteira que se considerava não existente, mas que, ao contrário, existia. 1.3 A verificação clínica
Quando uma mãe me trazia uma criança, na idade de um mês até os dez anos, na qual se manifestava um sintoma, eu a via apenas por alguns minutos e depois solicitava à mãe, aparentemente sadia, que se deixasse tratar e não me trouxesse, nem me falasse mais do filho. Não obstante as iniciais objeções da mãe, eu colocava este
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aut-aut: “Ou a senhora se deixa tratar, ou não há nada a fazer pelo seu filho”. Se a mãe me dava a permissão de se deixar indagar e discutir, refletindo somente a si mesma em sentido egoico, no período de um mês no máximo, verificava-se o desaparecimento total do sintoma no filho. Depois eu quis experimentar nos fenômenos de insônia e de cefaléia. Por exemplo, uma pessoa me procurava e antes de iniciar o training, sofria de insônia por anos; depois da análise, pedia-lhe que se separasse do costumeiro amigo, do costumeiro partner ou da pessoa com quem habitualmente convivia e, se o sujeito atuava a diretiva, a insônia desaparecia. Tendo diante de mim o paciente com doença exposta, devia indagar numa outra direção, não nele. Jamais devia investigar propriamente o sintoma, mas uma outra estrada, a mesma que os sonhos indicam de modo mais clarividente, do que no modo das associações e projeções; investigava aquela estrada que me era sempre dada seguindo aquela outra realidade que se movia na aparência da distração2. Quanto mais eu era fiel às aparentes Na análise onírica, com o critério semântico se responde à pergunta: o símbolo em que direção vai e a quem diz respeito? Os camundongos do sonho onde estão na minha direção ou na direção do outro? Quem tem a boneca nos braços? Eu ou minha avó? Onde se vê o símbolo, ali está à direção da ação. Não basta ver a causa em si, o aspecto funcional, mas também temos de ver a direção ou destinatário, que identifica o quântico de investimento do sonhador na situação dramatizada pelo sonho. Significa isto: uma cliente conta um sonho, por exemplo: “Estou no mar, vejo que se vende sorvete e compro um Cremino”. Enquanto ela conta, eu – que estou aberto à leitura semântica – sinto o sinal no pênis, o que significa que a cliente está contando com ingenuidade seu sonho, porém enquanto o descreve sinto uma tumescência no meu pênis. Se ao invés relaciona-se a outra pessoa – considerando a hipótese que se trata de sexo – então eu advirto a tumescência somente da mulher, que é dirigida a outro. O campo semântico se verifica na presença daquele que expõe o sonho. Isto comporta também a direção de agressividade indica “em direção a quem é”, diz se sou eu
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distrações, mais me encontrava onde o sintoma verdadeiramente nascia. Este desaparecia de modo inequívoco tão logo o paciente que estou lendo a carta ou se é outro, enquanto o sonho traz a destinação. Quando, por exemplo, um cliente conta um sonho falso, não existe nenhuma semântica: é um que tagarela fora do próprio real. Ao invés quando o sonho é real, se colhe a motivação em ação e se centra também o referimento de modo concreto. O símbolo onírico, quando é real, se conjuga em conjunto com a informação biológica do sujeito e dá a informação: em direção a quem vai. É aqui a grande confusão que fazem homens e mulheres, que podem sentir a pulsão sexual que é positiva, mas erram o referimento: “Sinto essa pulsão, então faço sexo com meu marido/com minha mulher...”. Ou então uma mãe em direção ao filho ou uma mãe com sua irmã ou outra mulher que, por exemplo, diz odiar porque “dá piscadinhas” ao marido ou filho, e se vê ao invés um conúbio sexual entre as duas. O sonho psicoplástica a materialidade do referimento semântico. É óbvio que para exercitar esse método é necessário ter feito a metanoia (do grego metanoevw [metanoéo] = mudança da mente), isto é, substancialmente é preciso tolher aqueles estereótipos e aqueles complexos sobre os quais a consciência do Eu se apoia, mas que não refletem a reversibilidade. Metanoia significa alcançar uma situação de consciência que reflete a realidade orgânica, biológica, física, psíquica do sujeito. Não significa entrar na transcendentalidade, na grandeza do ser: é a base completa, sadia de natureza. Porque o modo mental, de consciência que cada um teve até hoje é errado, então é necessário mudar o modo de pensar, reportando ao reflexo da própria realidade. O sonho se tornou críptico para todos e isso demonstra que a consciência dos seres humanos é desviada do real informático da natureza orgânico-biológica do indivíduo. É necessário também sempre recordar que na maioria das vezes os sonhos são interpretados, na melhor das hipóteses, com a convicção dos estereótipos, pior ainda quando é a dos complexos. Estereótipo é um hábito de comportamento, mais ou menos neutro. Pode parecer funcional, também se não é completamente exato, e não leva a resultados patológicos. Pode ser simplesmente o resultado da alienação da profundidade original da vida. Ao invés quando eu falo de “complexo”, existe um comportamento consciente ou inconsciente do sujeito que sempre produz doença. Para aprofundamentos, cf. Meneghetti, A. A imagem e o inconsciente. 4. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2012.
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ou um outro latente se afastava psicologicamente dentro de si mesmo. Isto é, o filho curava quando a mãe o cortava internamente de si para viver a sua vida. Ou então, tratando-se de um paciente adulto, quando eu lhe evidenciava a imanência de um subcondutor no interior da sua psique, era suficiente que ele cortasse aquela interferência com uma decisionalidade consciente e emotiva, para que o sintoma desaparecesse imediatamente. Para readquirir o inteiro de sanidade, no caso de sintomas que tivessem tido uma ponderável alteração orgânica, o tempo era em relação à velocidade orgânica: uma semana ou, no máximo, um a dois meses. Como quer que os seres humanos ajam, entendam, reflitam, pretendam o conhecimento objetivo de si mesmos e dos outros, na realidade, são sempre subconduzidos: contemporaneamente aos seus sistemas de conhecimento, são também subconduzidos permanentemente por campos semânticos. 1.4 Esclarecimentos psicoterapêuticos
“Campo” é um espaço hipotético convencional, referente a vetorialidades dinâmicas segundo centros-força resultantes. O conceito é aqui entendido no sentido em que pode ser tratado pela física nuclear. Quando se diz “psique”, entende-se uma decisividade de intencionalidade; o conceito de intencionalidade é o máximo conceito de energia. A intencionalidade psíquica é a forma primária de energia existente segundo centros-força resultantes de um hipotético espaço existencial. Por “centros-força” não se devem entender somente aglomerados magnéticos, pontos gravitacionais, intensidades moleculares ou variações energéticas subatômicas que, dadas no seu conjunto, determinam de todo modo um impulso, uma variação de movimento. Centros-força podem ser, em sede muito maior, aquilo que são duas, três, quatro
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ou cinco pessoas. Damos potência a uma pequena parte da matéria e esquecemos aquilo que é um ser humano. “Semântico”, segundo a escola ontopsicológica, é entendido como a virtualidade, a capacidade de colocar em ato efeitos segundo a informação exclusiva do intencionante vetorial, isto é, ato com efeito segundo o primeiro significante. Esse ato se configura no momento da significância, na autorreprodução da possibilidade, e o significado (o resultado) do impulso é a sua inevitável ou normal fenomenologia. Uma vez que se deu um campo semântico, o efeito inevitavelmente é aquele e não outro. A energia psíquica é mais precisa do que qualquer matemática, não há desperdício, não tem variabilidade de halo: é exata, sincrônica e recolhe precisa a si mesma, sempre com economia perfeita. Com o termo “semântico”, entendo um impulso que, enquanto se move, cria a forma que depois será sofrida como significado pelo receptor ou pelo resultante que chamamos efeito ou sintoma. Chegamos à conquista de que a unitariedade do homem consente a conversibilidade entre sintoma psíquico e sintoma somático, ou então, entre um órgão e outro; sabemos que um pensamento, uma fantasia, uma aspiração podem sempre se veicular deslocando-se em diversas facetas de ação. Também em âmbito psicanalítico se especifica que o complexo pode se constelar em diversos fenômenos, ou sintomas. Assim, o complexo de uma pessoa pode se exteriorizar em outro sujeito, permanecendo latente no portador: um indivíduo é o portante do complexo, e o outro, que o ama, é o seu exposto doente, porque eles são divididos fora, mas íntimos dentro. O mandante do campo semântico, ou primeiro ativante, expõe uma pulsão própria, consciente ou inconsciente, exteriorizando-a no psicoorgânico da colônia-partner. No executor-partner a
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informação sofrida é percebida como motivação própria ou egoica. O receptor não percebe, nem reconhece a informação como proveniente do outro e a contesta com definição egoica: “Eu quero assim... Eu penso assim... Por esse motivo eu morro assim, porque escolhi...”. O passivo não sabe que é, na realidade, colônia do outro, que em sede consciente ele ama, quer, odeia, ou talvez esqueceu, introjetando de todo modo um patrão, que permanece diverso. A especificidade do campo semântico é que este não se torna identidade no interior psíquico do sujeito, mas permanece sempre diverso. Justamente por isso, determina o mal, a alteração, a nãocoincidência, portanto, a incapacidade de uma exata tomada de consciência. O campo semântico permanece operativo no sujeito, dirige-o e condiciona-o dentro, enquanto o portante não sabe de nada; aliás, frequentemente o campo semântico se modula segundo pulsões ou constelações do complexo-base do paciente, ou então do mandante. O organísmico em si, que numa parte desconhecida permanece sadio, acusa o golpe; em todos os modos procura sinalizá-lo ao sujeito através dos sonhos, dos lapsos, dos sintomas, porém o Eu fica impassível na convicção adquirida desde a infância, cronometrando até a sua vida naquele modelo que já considera “Eu”. O organísmico rejeita ser o testa de ferro, mas o Eu consciente insiste, por isso se dá uma luta exasperada entre o Em Si organísmico – que acusa o desvio – e o Eu, que não quer compreender. A não compreensibilidade logística do Eu leva o organísmico ao suicídio. Por ora, é possível individuar, precisar, romper, interferir e modificar um campo semântico somente com o conhecimento ontopsicológico. Uma vez descoberto este real dinâmico que interage, medianicamente, de um indivíduo a outro segundo esquemas de afetividade, pode-se mudar, melhorar, eliminar
A descoberta e a experiência operativa do campo semântico • 23
qualquer sintoma de acordo com a volição do cliente, sempre no âmbito do potencial orgânico. Para apreender a possibilidade de conotar e de operar racionalmente o conhecimento do campo semântico, é necessária uma preparação de experiência e demonstração clínica. O ideograma seguinte (fig. 1) representa um esquema muito simplista, mas dá uma ideia do campo semântico. A parte inferior é a zona do inconsciente. Por “inconsciente” entendemos o quanto de realidade que o sujeito não sabe que existe. A parte superior é a zona do consciente. Os dois campos circunscritos são dois indivíduos, nos quais distinguimos graficamente algumas estruturas psíquicas: complexo, Eu e Em Si organísmico. Suponhamos que o espaço circunscrito de uma pessoa que definimos “A”, por exemplo, uma mãe, tenha uma séria problemática em relação ao comportamento de uma outra pessoa (um filho, uma filha, o marido, um amante etc.). Ela está intensamente preocupada, a ponto tal que sacrifica toda a sua vida para cuidar, por exemplo, do filho usuário de droga, preocupando ‑se com este filho que expõe um sintoma bastante grave e que não consegue curar. Levando a pessoa ao encontro do training ontopsicológico, o ontoterapeuta imediatamente vai verificar o interior do sujeito e procura o manipulador oculto. O sintoma é como se carregasse o nome e o sobrenome da própria casa. Uma vez individuado, inicia com o paciente uma progressiva conscientização, que inevitavelmente se conclui com o desaparecimento do sintoma. Este é exatamente um campo semântico: no dependente afetivo – o coligado partner-colônia – verifica-se uma extraposição de uma causa ativa, latente de per si de modo originário no ativante oculto que, em vez disso, em sede consciente, é aquele que mais se sacrifica e dá. Para que o sintoma desapareça é suficiente
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