Antonio Meneghetti sobre...
Inteligência e
Donnità
Fundação Antonio Meneghetti Recanto Maestro - RS 2017
M541a
Meneghetti, Antonio, 1936-2013. Antonio Meneghetti sobre... Inteligência e Donnità / Antonio Meneghetti – Recanto Maestro, São João do Polêsine, RS: Fundação Antonio Meneghetti, 2017. 195 p. ; 20 cm. Obra produzida com material inédito do autor Quarto livro da coleção “Antonio Meneghetti sobre...” ISBN 978-85-68901-11-3 1. Ontopsicologia. 2. Mulher. 3. Feminino. 4.Líder. 5. Estereótipo I. Título. CDU (1997): 159.9-055.2
Catalogado na publicação: Biblioteca Humanitas da AMF. Capa: Obra “Donna”, técnica mista, 70x50, São Paulo, 2006, de Antonio Meneghetti. Realização
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SUMÁRIO
PREMISSA..............................................................9 INTRODUÇÃO....................................................11 Primeiro Capítulo A MULHER COMO FESTA DA VIDA............13 1. O evento “mulher”...............................................13 2. Exemplo aplicado: Elizabeth I e a lógica do poder.............................18 3. O modo feminino.................................................21 4. A festa...................................................................24 5. Graça e consciência..............................................34 6. O valor de donnità...............................................38 7. Casuística.............................................................46 Caso I...................................................................47 Caso II..................................................................54 Caso III................................................................61
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Segundo Capítulo CINELOGIA DO FILME “CISNE NEGRO”................................................69 1. O egoístico orgulho do idealismo social..............71 2. A solução..............................................................77 Terceiro Capítulo SEXO E PSIQUE.................................................81 1. Introdução............................................................81 2. A que leva a “convivência” entre sexo e psique...............................................85 3. Estereótipos e sexo...............................................87 4. Sexo e perda de si mesmo....................................88 5. A contaminação de si mesmo parte do olho.........90 6. Casuística.............................................................97 Caso I...................................................................97 Caso II................................................................102 Quarto Capítulo DO ERRO AO CARISMA EXISTENCIAL..............................113 1. O ponto nevrálgico que faz graça ou regressão: a relação íntima..................................................113 2. O estereótipo da submissão................................116 3. A incisividade psíquica de algumas civilizações humanas..........................................119 4. Por que a mulher erra? ......................................124 5. Conclusão: do erotismo virgíneo à liderança existencial......131
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6. Casuística empresarial.......................................135 Caso I.................................................................135 Caso II................................................................142 Caso III..............................................................150 Caso IV . ............................................................156 Caso V................................................................167 Caso VI...............................................................176 BIBLIOGRAFIA DE ANTONIO MENEGHETTI.............................185
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PREMISSA
A Coleção “Antonio Meneghetti sobre...”, que inclui as obras “A riqueza como arte de ser”, “Projeto Terra” e “Jovens e realidade cotidiana”, e procede com este livro sobre o tema “Inteligência e Donnità1”, não pretende substituir a produção de mais de 40 anos de atividade científica ontopsicológica, distribuída em mais de 50 livros e inúmeros editoriais e artigos publicados em diversos periódicos, com destaque para a Revista Ontopsicologia, posteriormente intitulada Nova Ontopsicologia. O escopo é o de reunir e sistematizar o material inédito extraído de conferências realizadas por Antonio Meneghetti no curso de residences e seminários, e colocá-lo à disposição de quantos já tenham conhecimento da bibliografia do autor. Por tal razão, o estilo do texto pode parecer em certos casos um pouco “enxuto”, porque se buscou – por quanto possível – excluir (ou reduzir ao Donnità: uma espécie de nobreza interior, um carisma de feminilidade, um específico segredo de algo maravilhoso, transcendente, próprio da mulher. Cf. MENEGHETTI, A. A feminilidade como sexo, poder, graça. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2013. p. 91. 1
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essencial) os conteúdos já inseridos e revisados pelo Prof. Meneghetti nos livros que publicou em vida. As fontes bibliográficas de referência para estudo e aprofundamento de tais conteúdos estão indicadas em nota. Além disso, todos os capítulos, ainda que coligados por uma estrutura lógica, podem ser trabalhados e estudados de modo independente. Desejando que este instrumento possa resultar em um suporte funcional ao estudo e ao ensino da Ontopsicologia, agradecemos antecipadamente àqueles que queiram oferecer sugestões de melhoria ao presente trabalho. Os editores
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INTRODUÇÃO1
Pode-se distinguir o específico da inteligência feminina, como especial angulação racional de fazer cultura e história social. A inteligência feminina possui passagens desconhecidas à dedutiva inteligência masculina. O mundo do saber intuitivo (presente seja no homem quanto na mulher) na mulher é mais baseado na intencionalidade indutiva. E também quando se especifica, possui sempre a visão do resultado holístico. O homem, dos particulares chega ao inteiro; a mulher colhe os particulares, vivendo o inteiro. Até hoje tradição, história e cultura colheram a donnità como semelhança ao modelo masculino. Em vez disso, a donnità, na percepção ontopsicológica, é inteligência diversa e sempre complementar àquela masculina. A inteligência ao feminino é também um colher a mulher fora do seu papel e composto biológico. Trata-se de conhecê-la no seu específico a priori de inteligência e ação. Texto inédito do autor, 2011.
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Este é o ponto diferencial da essência da inteligência feminina: ela conhece (quando conhece e é consciente) estando já dentro do objeto de pesquisa. Obviamente, tudo isso deve ser defendido e demonstrado em comportamento e obra pela mulher. Sem feminismo ou vingança contra o homem. Se a mulher não goza do devido primado, isto devese à atitude e comportamento da mulher. Disso, o homem executou inconscientemente o papel também do filho devoto e, depois, de déspota.
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Primeiro Capítulo
A MULHER COMO FESTA DA VIDA1
1. O evento “mulher” Não farei uma teorização ou uma sistematização, porque qualquer tentativa que procure colocar em sistema um evento trai a realidade, não dá a identidade do que se quer explicar. Qualquer verbalização de um fenômeno não exaure e não explicita o fenômeno em si. Darei a vocês, portanto, uma experiência interior do fato de ser mulher. A mulher é um evento da vida. “Evento” é mais que uma experiência, que uma forma ou gestalt: é uma síntese de componentes que estruturam – em Reelaboração das conferências realizadas pelo autor durante o residence para mulheres “A mulher: o consciente e o inconsciente” realizado em Bernia (São Petersburgo, Federação Russa), em 25-27/02/2011. O capítulo é enriquecido com três entrevistas abertas realizadas pelo autor durante residences no Brasil, cujas referências são indicadas em nota para cada caso. Para aprofundamentos, em particular sobre a análise onírica segundo a ótica ontopsicológica, cf. MENEGHETTI, A. A imagem e o inconsciente. 4. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2012; e MENEGHETTI, A. Prontuário onírico. 6. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2012. 1
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referência a alguma coisa ou a um sujeito – uma situação única. Um conjunto de fatores formalizados por uma intencionalidade que efetua um resultado novo e diverso dos fatores causa, um fato que acontece por multíplices fatores que se tornam uno em relação ao resultado mais importante para aquela coisa ou para aquele sujeito. Portanto, a mulher é um evento da vida para si mesma e para os outros que a encontram ou convivem com ela. As diversas linguagens não são unânimes ao definir esse ser humano que se diferencia do outro ser humano chamado homem. Partindo da raiz latina2 (mas, maris), “macho” deriva de “costume” (mos, moris), “mestre” (magister), “algo que incide uma forma”. Em latim existem os termos femina3 e
Enquanto os gregos tinham uma língua que se baseava no conceito de objeto, adjetivo, fenômeno, isto é, como algo aparecia, como era mais ou menos útil para a humanidade, os latinos tinham uma língua muito prática, na qual as raízes de cada palavra eram sempre um derivado da ação: qualquer coisa, sujeito ou individuação eram definidos em relação a o que produzia, portanto, era um externar um modo da ação, em sentido total, geral, no interior do processo da vida. Por isso, as palavras entendidas com a raiz latina dão o primeiro modo lógico como sistematizar o evento da ação da vida. Mas a ação da vida é um composto, é um modo sempre aberto que não se consegue concluir nunca. Então se tomam alguns setores, se entra nas existências particulares, que são definidas segundo a função que explicitam. 3 Do lat. foetus, derivante por sua vez de feo, similar ao gr. fuvw [phyo] (= produzo). Femina: aquela que produz, gera, dá à luz. 2
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domina4: femina, do qual se origina “fêmea”, é o ser humano que se diferencia do macho; “donna”5 deriva de domina. Na literatura feminista, o conceito mais alto, quase um pouco secreto, é aquele da “donnità”, a senhoria da feminilidade. “Senhora” é um termo que deriva da nobreza romana: os poetas italianos do séc. XI, XII, por exemplo, costumavam dirigir-se à sua mulher amada chamando-a “Madama, minha senhora”6. Na minha vida, em multíplices experiências, nunca encontrei uma mulher que soubesse o que é a feminilidade em si e o significado integral de “mulher”. Os homens às vezes intuem a fêmea, enquanto a mulher é um conceito cultural de avançada civilização, é uma evolução do evento fêmea. É um conceito altamente socializado da base fêmea. Conheço a mulher há cerca de 30 anos. Até 30 anos atrás também eu estava curioso por compreendê-la. À parte a minha sensibilidade, inteligência, experiência científica e experimentação, à parte a minha própria cultura em diversos campos, o modo que me consentiu entender a mulher foi a minha capacidade de interação – através do campo semântico7 – na realidade Do lat. domus (= casa), portanto: a patroa da casa, senhora, soberana, imperatriz. 5 Manteve-se a palavra “donna” na língua original italiana, cuja tradução é mulher, para não perder a correspondência com o latim [Nota do Tradutor - N. d. T.]. 6 No italiano “Madonna, mia signora”. Para “madonna” encontrou-se as traduções: madama, senhora, dama [N. d. T.]. 7 MENEGHETTI, A. Campo Semântico. 4. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2015. 4
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físico-orgânico-psíquica (portanto intelectual) da feminilidade em si. Viver conscientemente a inseidade daquela pessoa. Não que eu assuma, por exemplo, os ovários ou uma variação do meu cérebro em sentido físico, mas, entrando no campo semântico emanado por uma mulher, sou capaz de sentir a emoção, ver e entender como a mulher colhe, analisa e compreende a si mesma. Portanto, não somente o seu estado real, mas também o seu Eu lógico, como raciocina sobre si mesma e, daquele si mesma, como depois opera fora, e também como conhece e colhe a mim8. Com esse sistema, consegui entender como a mulher é feita, o que pensa, como vive e, sobretudo, como se arruína. O drama mais forte nas minhas diversas experiências é que as poucas mulheres que encontrei quase totalmente realizadas estavam todas além dos 50 anos: três, quatro freiras, duas fundadoras de ordens religiosas, outras três eram mulheres que tinham ultrapassado os 70 anos, foram mães de família, mas todas as três não tinham mais nenhuma ligação afetiva com os seus filhos, netos, marido etc. Elegantemente conseguiram liberar-se do papel, da Naturalmente, antes de cumprir essa passagem, verifico se aquela mulher está em estado de graça porque, se faço a identificação consciente em um estado não positivo, depois sofro a forma negativa. Advém um “contágio psíquico”, que sucessivamente pode ser eliminado, mas é necessário certo esforço. Entre outras coisas, para entender uma mulher quando se encontra em uma situação negativa, não é necessário interiorizar-se na sua intencionalidade, porque os efeitos que mostra, isto é, a fenomenologia do seu comportamento, emanam sinais bem marcados, sem nuances. 8
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roda do estereótipo da fêmea feita para a família, para o marido, para os filhos9. Eram senhoras brilhantes e ricas por atividade própria, não pelo marido. A algum filho que tivessem tido, haviam dado aquilo que se podia dar, depois cada uma delas se isolou para viver a própria vida de arte e solidão solar. A inteligência – quando está viva – tem sempre uma ambição de percurso e a vida é muito maior e apetitosa quando se evolui bem: há mais sede, mas também mais resposta para e da vida, que não havia quando tinham 20, 30 anos. A exigência de viver de um jovem de 20 anos é um tanto estreita, muito materialista, não tem as capacidades de universos mais amplos. Em vez disso, depois se tem fome de qualquer satisfação que é espírito, inteligência, soberania de pessoa. Quando se alcançam os vértices da cultura universal, vive-se de intrínseca felicidade. Isso significa ser A mulher provisoriamente pode ser mãe ou esposa, mas esse não é o seu destino. Em uma sociedade como hoje, eu sou da opinião de fazer os casamentos por tempo determinado, por exemplo, por cinco, dez anos ou até que os filhos alcancem os 12 anos. Entre outras coisas demonstrou-se que as crianças podem crescer também sem família. No início têm necessidade de um adulto de referência de valor, depois vão sozinhas e querem ir sozinhas. De fato, todas as crianças têm a tendência a fugir de casa. Cada um tem o seu Em Si ôntico. Para aprofundamentos sobre esse tema cf. MENEGHETTI, A. Pedagogia Ontopsicológica. 3. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2014 (em particular as duas conferências realizadas pelo Prof. Meneghetti em 2006 e em 2007 junto à UNESCO em Paris: ‘Uma nova pedagogia para a sociedade futura’, p. 193-213; e ‘Pedagogia contemporânea: responsabilidade e formação do líder para a sociedade futura’, p. 215-229). 9
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causa, autoprodutor da própria alegria. Tudo isso não depende dos outros: o próprio sujeito é nascente viva em si mesmo, por isso tem uma constante plenitude. À parte essas poucas mulheres, nas outras que se tornaram personalidades históricas, atrás dos bastidores havia sempre um homem, atrás das suas vidas sempre esteve um mestre10. Sempre procurei uma mulher que tivesse se tornado famosa e grande sozinha: não existe. Analisando bem a vida de uma mulher realizada, o inspirador daquela grandeza é sempre um homem – um mestre particular, uma mente particular – que é escolhido por essa mulher. Eis onde está a sua inteligência: em ter escolhido aquele homem, que pode ser um pai, um irmão, um sacerdote, um professor, um cientista, talvez um sábio real. 2. Exemplo aplicado: Elizabeth I e a lógica do poder11 Por meio do filme Elizabeth deve-se entender a motivação pela qual Elizabeth vence e a rainha Maria perde. Cf. MENEGHETTI, A. Seis mulheres e a imaculada conceição. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2013 (em particular a análise de Greta Garbo, p. 61-65; e de Elizabeth I da Inglaterra, p. 77-80). 11 Este item, extraído da cinelogia sobre o filme Elizabeth realizada pelo autor em Moscou, em 16/04/2000, integra o quanto exposto pelo autor sobre o mesmo filme, reportado nos seguintes livros: Cinelogia Ontopsicológica (2015), O modo maschio (2016), Seis mulheres e a imaculada conceição (2013), todos da Ontopsicológica Editora Universitária. 10