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3. Velocidades: Exponenciais e Lineares

Num mundo estável, a dispersão organizacional teria impacto imperceptível em muitos negócios. Uma ou outra instituição seria mais eficaz que a nossa. Algumas dinâmicas periféricas passariam desapercebidas por um certo tempo, mas certamente bastaria um pouco de governança para recuperar a performance perdida. O problema é que a mudança causada por inserção de novas tecnologias em alguns mercados é radical. E tecnologias de informação e comunicação, em particular internet e mobilidade, causaram mudanças infraestruturais em todos os mercados. E não só. A mudança tem se tornado mais rápida, mais larga e mais profunda. Mais rápida porque acontece em menos tempo. Mais larga porque acontece em mais facetas da tecnologia e nos mercados que afeta. E mais profunda porque está mudando cada vez mais dramaticamente cada uma dessas facetas.

Mobilidade, internet das coisas, inteligência artificial, acesso global a tecnologias

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de informação e comunicação. A curva da mudança tecnológica se tornou exponencial há duas décadas, resultando em conectividade e disseminação quase universal de muitas tecnologias. Mudanças de comportamento nos levaram, como indivíduos, a fazer mais, melhor, mais rápido, mais barato e em escala exponencial. Mas a performance dos negócios vem crescendo linearmente ou, em alguns negócios, sublinearmente. Pior: há muitos negócios em que a performance está decrescendo 10 devido à incapacidade de capturar o valor das

10 Digital Transformation is Failing. Why?, P. Taylor, bit.ly/2nH89ua; Rewriting the rules for the digital age, DUP, bit.ly/2v7KVF8.

novas plataformas, fundações e funcionalidades -os novos habilitadores da produtividade dos negóciosnuma era de maturidade das tecnologias da informação e comunicação. Mas esse não é um problema de tecnologia, cuja disponibilidade é global. É, fundamentalmente, um problema de gente, de capital humano.

E o problema, mesmo, é criar as estratégias que empoderam e criam as opções ao redor do capital humano. Estratégias que pensam, organizam, administram, cuidam da evolução, alinhamento, coordenação e criação de propósito comum para as pessoas na organização. Um grande problema para grandes organizações, com altos níveis de governança, e para pequenas organizações com donos, que não estão entendendo o que está rolando no mundo. Mais que isso. Elas não têm a capacidade de entender. Não terão a capacidade de entender a partir da ótica, visão, foco e e limites de seus atuais mercados e operações.

E isso é de se esperar. Quem propõe tecnologia, o faz na velocidade da criação. Tecnologia está no domínio da possibilidade. Há um hiato natural entre quem propõe e quem usa, consome tecnologia. Se um time da Amazon cria algo que parece com Instagram, mas onde os produtos na imagem são clicáveis, compráveis -e a Amazon acabou de lançar isso- levará algum tempo para que cada pessoa e, depois, grupos delas consigam entender pra que serve e como é usada essa nova função. Aprender como novas tecnologias e modos de uso agregam valor às nossas vidas, hábitos e culturas gasta tempo. De experimentar. Errar e aprender.

Se indivíduos precisam de um tempo para acompanhar a velocidade das tecnologias, negócios precisam não só de um tempo, mas de muitas ações. Para acompanhar mudanças de plataformas, os negócios têm que investir na mudança de estratégias, métodos, processos e renovar seu conhecimento do negócio. Têm que entender a nova disponibilidade de tecnologia, os pros e contras de cada uma, seus potenciais e riscos, e como elas podem e devem ser tratadas para que os negócios -e clientes- absorvam as novas práticas. E tudo isso leva tempo.

Um dos meios que poderia ser melhor utilizado para acelerar a adoção de tecnologias pelos negócios são as políticas públicas. Infelizmente, os governos são muito mais lentos que quase todos os negócios. E pessoas, enquanto agentes do Estado, tendem a se mover muito mais lentamente do que pessoas em negócios privados. Até porque quase ninguém as motiva para ser de outra forma. O que é uma pena. Até porque exceções, às vezes muito grandes e de muito sucesso, como o Banco do Brasil, provam que poderia ser muito diferente. Quando isso acontece, o impacto é gigantesco. Tinha que acontecer mais. Muito mais.

Fora as honrosas exceções, [quase] não há como políticas públicas andarem mais rápido do que os negócios. E negócios vão se mover muito mais devagar que pessoas. Então... haverá tecnologia puxando, lá na frente, um conjunto inicial e pequeno de indivíduos, que estarão sintonizados com a diversidade da performance tecnológica disponível e têm meios para apostar no que se chama, normalmente, de novo. Alguns negócios conseguirão acompanhar, mais ou menos de perto, entendimento e demandas dos indivíduos por novas tecnologias e performances. Lá atrás, o Estado vai propor políticas públicas para lidar com tudo isso. Quando der, quando puder. Ou -mais provavelmente- nunca 11 . Enquanto isso, vai se formando uma massa crítica de pessoas que, cada vez mais capazes de usar os limites atuais da tecnologia para seus propósitos, se distancia das empresas, que passam, literalmente, a correr atrás. Tem sido assim em todos os mercados, em todas as culturas.

11 A imagem acima é a figura 2 de Rewriting the rules for the digital age, bit.ly/2v7KVF8, da DUP, com legenda em português.

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