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7.1 Digital Não é Igual em Todos os Mercados

Um ponto crucial para entender toda essa conversa de transformação é que o digital definitivamente não é o mesmo em todos os mercados. Dependendo dos produtos e serviços, a cadeia [aliás, rede!] de valor e os usuários, a digitalização pode acontecer em diferentes gradações, em tempos diferentes, e velocidades desiguais por setor. E nem toda região, às vezes dentro do mesmo país, terá as mesmas condições para se mudar para o digital, pelo mesnos de uma hora para outra. Isso quer dizer que haverá quem fique para trás por causa do contexto? Sim, infelizmente, sim. Já existe um digital business divide 51 , que tende a se alargar.

A figura abaixo 52 é de 2014 e vale até hoje. Na vertical, ela indica se a cadeia de valor tem uma infraestrutura digital ou não. Na horizontal, se os produtos são físicos ou digitais. No quadrante laranja, estão os mercados apoiados pelo digital, como mineração e agricultura, onde digital apoia o processo produtivo. Não há nenhuma chance da gente comer uma alface digital, ou usar uma peça de ferro digital. São setores físicos por natureza. No quadrante vermelho estão os setores empoderados pelo digital, onde os bens também são físicos, mas a

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51 What the Companies on the Right Side of the Digital Business Divide Have in Common, na HBR, em bit.ly/2zbpJeG. 52 Charting the Digital Economy: Part III, The METIS Files, bit.ly/2vlogVT.

cadeia de valor pode ser radicalmente digitalizada, como varejo, atacado e saúde. Aliás, digital terá um grande impacto em saúde, no futuro próximo, inclusive por causa da insuficiência de capital humano no setor 53 .

No quadrante azul há os setores enquadrados pelo digital, como TICs num negócio qualquer, onde até que há componentes fortemente digitais, mas a cadeia de valor não é altamente digitalizada [é a TIC antiga, legada]. Por fim, no quadrante verde, temos os setores naturalmente digitais, onde o digital já está embarcado, como na indústria de mídia, software como serviço, infraestruturas e plataformas de informação como serviço, mais tudo que possa ser imaginado sobre serviços digitais na web, redes sociais, internet das coisas e muito mais. Este é quadrante de XaaS, qualquer-coisa-como-serviço, para onde tudo o que é digital está indo.

Essa classificação é importante porque nossa conversa, o tempo todo, foi sobre pessoas, -e pessoas dentro dos negócios. Pessoas como vetores de transformação digital. E como mostra um estudo da Capgemini 54 , desde que começamos a eletrificar fábricas, no começo da segunda revolução industrial, foi necessário um quarto de século para que ocorresse um surto de produtividade por lá.

Levou tempo para mudar processo fabril, plantas, máquinas, processos -tudo para não trocar, simplesmente, vapor por eletricidade e continuar fazendo as mesas coisas. Mudou a precisão dos equipamentos, tipos de motores, novas formas de controle passaram a ser possíveis. Nos primeiros 25 anos da eletricidade houve um crescimento 1.16% composto, agregado, por ano. Isso mais que dobrou nos quinze anos seguintes, até 1930, subindo para 2.5% por ano. Quando mudou tudo -quando as pessoas mudaram-, mudou muito.

Tempo. Pessoas precisam de tempo para entender e, depois, criar novas formas para executar e, com o tempo, tirar o melhor dessas novas formas de fazer. Isso não é de hoje; todo processo cultural passa por isso e digital, assim como outras tecnologias pelos quais já passamos, não é só tecnologia, é e sempre será, também, cultura.

53 Digital transformation in the healthcare space, na Roland Berger, em bit.ly/2wCLHsZ. 54 Figura 1 de Organizing for Digital: Why Digital Dexterity Matters, da Capgemini, bit.ly/2hXzA4P, com legendas em português.

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