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Restaurant with rooms
Born to be a country house, fate would have it that it became a hotel all about gastronomy, agriculture and architecture Nasceu para ser uma casa de campo e acabou sendo um hotel que tem tudo a ver com gastronomia, agricultura e arquitetura
TEXT PAULO SANTOS • PHOTOS MIGUEL NÓBREGA
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The kitchen has an open door, as though it were not separate from the restaurant's dining room. It might seem like a detail, but it says a lot about the concept of the Socalco Nature Hotel, Chef Octávio Freitas's dream come true. 'It's a restaurant with rooms', he says in conversation with Essential in the very same area that transitions into the kitchen, where the team works and clients watch, as though they are watching a play.
Fresh tuna, porgy, arugula and fennel from the orchard. This was the inspiration for this day, in a restaurant where the kitchen is driven by 'impulse and instinct', admits the chef, for whom it is important to 'meet the customer's predisposition'.
The space is called 'A razão' ('the reason'), but does not feature a plaque with a menu at the door, in fact, it does not have a permanent menu. 'It was conceived to meet the needs
Acozinha tem portas abertas, como se não existisse separação em relação à sala do restaurante. Parece um detalhe, mas diz muito sobre o conceito do Socalco Nature Hotel, o sonho do Chefe Octávio Freitas, tornado realidade.
“É um restaurante com quartos”, define em conversa com a Essential, precisamente nessa zona de transição para a cozinha, onde a equipa trabalha e os clientes observam, como se assistissem a uma peça de teatro.
Atum fresco, pargo, rúcula e funcho da horta. Esta foi a inspiração para este dia, num restaurante onde a cozinha funciona muito por “impulso e por instinto”, admite o chefe, para quem é importante “ir ao encontro da predisposição do cliente”.
O espaço tem o nome de ‘A razão’, mas não tem uma placa com menu à entrada, aliás, nem tem menu fixo. “Foi pensado para ir ao encontro das necessidades de quem está alojado, dar o máximo de privacidade”, explica Octávio Freitas, que se refere ao restaurante como “o meu ateliê”. E esta ideia diz muito sobre o conceito. Mas há um princípio: “Produtos frescos, o máximo de proximidade com os produtores e o máximo de interação local”.
Para além do restaurante os detalhes são a essência deste lugar, com 20 unidades de alojamento, todas diferentes e encaixadas na encosta abrupta, suavizada em socalcos, aos quais o hotel foi buscar o nome. «É um projeto que se sente!», sintetiza o chefe proprietário, que acrescenta: “estou a viver isto de uma forma descontraída”
O Socalco Nature Hotel acabou sendo algo totalmente diferente do que estava pensado. O terreno começou por ser adquirido para uma casa de campo para o chefe. “Apaixonei-me pelo terreno, para fazer um projeto pessoal. Mas ao desbravar o matagal acumulado por anos de abandono “fui descobrindo os socalcos” que mostraram um potencial maior.
CHEF OCTÁVIO FREITAS
of guests, affording maximum privacy', explains Octávio Freitas, who refers to the restaurant as 'my atelier'. And this idea says a lot about the concept. But there is a principle: 'Fresh products, total proximity with producers and maximum local interaction'.
Beyond the restaurant, details are the soul of this place, with 20 accommodation units, all different and set on the abrupt slope. 'It is a project that can be felt!', sums up the owner and chef who adds: 'I'm living this in a very relaxed way'.
The Socalco Nature Hotel ended up being completely different from what was expected. The land was first acquired for a country house for the chef. 'I fell in love with the land, for a personal Project. But making my way through the bushes that grew over years of abandonment 'I ended up discovering bumps' which tipped me off to the land's greater potential'.
The idea of doing something more came about. At first, the idea was to build three houses, in combination with the fact that it is an agricultural terrain, limited in construction. The process ended up licensed as a hotel for agrotourism with 20 accommodation units.
Each house has a name, chosen for the element that surrounds it: Casa do Ribeiro ('creek'), Casa da Cascata ('waterfall'), Casa da Gruta ('cave')... These were 'temporary names' sent to the architects early on in the Project but they stuck and became definitive.
The units were born by the interpretation of the space. Hence why all are different. At Casa da Cascata, the view of one of the windows overlooks the waterfall from the creek that runs across the estate. At Casa da Palha ('hay'), a glass wall behind the bed reveals a cave where plants grow. At Casa da Gruta, the bed is actually set inside a cave.
CASA DA GRUTA
Nasceu a ideia de fazer algo mais. Inicialmente foram pensadas três casas, combinando o facto de se tratar de um terreno agrícola, limitado na construção. O processo acabou num licenciamento hoteleiro de agroturismo com 20 unidades de alojamento.
Cada casa tem um nome, escolhido em função de um elemento que a rodeia: Casa do Ribeiro, Casa da Cascata, Casa da Gruta… Eram “nomes provisórios” enviados aos arquitetos na fase de projeto, que acabaram por se tornar definitivos.
As unidades nasceram da leitura do espaço. Por isso são todas diferentes. Na Casa da Cascata, a vista de uma das janelas dá para uma queda de água do ribeiro que atravessa a propriedade. Por detrás da cama, na Casa da Palha, uma parede em vidro mostra uma gruta onde crescem plantas. Na Casa da Gruta, a cama está instalada precisamente dentro de uma gruta.
Todas as casas e quartos têm privacidade, uma boa vista e o conforto esperado num lugar pensado para o descanso. Houve intenção de recriar algum ambiente de uma casa madeirense “onde as ervas aromáticas se misturam com as flores”. Nas casas foram construídas ‘latadas’ para as vinhas e para as aboboreiras.
A Casa do Chefe, integrada no edifício principal, é um laboratório de experiências, em que o cliente tem a oportunidade de combinar a estadia com as criações gastronómicas feitas pelo chefe na própria casa.
All the houses and bedrooms offer privacy, a good view and the comfort expected from a place designed for comfort. There was the desire to recreate some of the ambience of a Madeiran house 'where aromatic herbs are mixed with flowers'. The houses were built 'with cans' for vines and pumpkins.
Casa do Chefe is integrated into the main building. An experimental laboratory where the customer has the opportunity to combine their stay with the gastronomic craft of the chef in his own place.
An older owner used to run an apothecary, after which one of the houses was named. The estate dates back to 1685. It is the result of the release of some land parcels from the Convent of St Francis, in Calheta.
The manor was renovated in the late 18th century resorting to the gaiola method of anti-seismic construction. One such structure became the central décor element for the reception and living room areas.
Minimalism was an explicit concern and there was great synergy between Octávio Freitas and the MSB Arquitetos team led by Susana Jesus. One example of this is the villas where the standard bedrooms are located, where only the windows stand out, with their metal rings, designed to oxidate and with their orangey-red shade blending against the landscape.
The hotel is framed into the landscape. It did not grow too much over the slope, quite the contrary. The architects made space on the rocks, making it so the houses run along the orography.
Socalco has to do with agriculture. Octávio Freitas cares about sustainability and seeks to develop permaculture.
The orchards, aromatic herbs and vineyard are growing. With time, they will fill the terrains kept to high standards by the chef's own father. It is 'the recreation of my childhood', he says even though he acknowledges the fad of chefs talking about their childhoods. In his case, he assures us, it is not cliché.
Production is not meant exclusively for consumption on the estate. 'The idea is for us to run a Sunday farmers' market, a way for our guests or visitors to be able to buy their create of vegetables'.
This is a place for those who love life in the countryside and want more than just enjoying the view or the pool – which the chef calls a pond – and get down and dirty to make the most out of agriculture.
O antigo proprietário era boticário, nome dado a uma das casas. A propriedade é de 1685. Resulta do desmembramento de parte dos terrenos do Convento de São Francisco, na Calheta.
O solar foi remodelado no final do século XVIII com recurso à técnica das gaiolas pombalinas, uma construção antissísmica. Uma dessas estruturas passou a ser o principal elemento de decoração da zona de receção e sala de estar.
Houve uma preocupação com o minimalismo e verificou-se uma grande identidade entre Octávio Freitas e a equipa da MSB Arquitetos, liderada por Susana Jesus. Um exemplo é as vilas onde se concentram os quartos standard, dos quais apenas os janelões sobressaem, com os seus aros metálicos, pensados para oxidarem e com o seu tom vermelho-alaranjado se misturarem na paisagem.
O hotel está enquadrado na paisagem. Não cresceu em demasia pela encosta, antes, pelo contrário. Os arquitetos criaram espaço na própria rocha, fazendo com que as casas acompanhem a orografia.
O Socalco tem a ver com agricultura. Octávio Freitas preocupa-se com a sustentabilidade e quer desenvolver a permacultura.
As hortas, as ervas aromáticas e a vinha estão a crescer. Com o passar do tempo vão preenchendo os terrenos bem cuidados pelo pai do próprio chefe. É “o recriar da minha infância”, diz apesar de reconhece estar na moda os chefes falarem da infância. Neste caso, garante, não se trata de um clichê.
A produção não se destina apenas ao consumo próprio. “A ideia é fazermos um mercadinho de domingo, uma forma de os nossos hóspedes ou visitantes, poderem comprar a sua caixa de vegetais”.
E para quem gosta da vida no campo e não quer apenas apreciar a vista, ou aproveitar a piscina, que o chefe chama de poço, pode meter mãos à obra e aproveitar a agricultura.
. socalconaturehotel.com