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Farmers’ Market: all of Madeira in one place

Inaugurated in 1940, the Farmers’ Market is part of the islanders’ routine and a must-see for visitors to Madeira Inaugurado em 1940, o Mercado dos Lavradores faz parte da rotina dos madeirenses e é um local de passagem obrigatória para os visitantes da Madeira

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For almost half a century José Pestana, born in Câmara de Lobos, has been happy fixing and selling fish in the emblematic Farmers’ Market, a place of obligatory passage for both Madeirans and visitors.

The shopkeeper proudly states that he has "the best job of all," and the truth is that seeing him at work is to feel the passion he has for his profession. He has been catching fish since he was 10 years old, and when he finished school, he followed in his family's footsteps. His father was a fisherman, as well as his uncles, and the direction his life took was organic. "This is a fun job, where there is room to socialize with friends and customers, who come here every week to buy fish," he tells us happily, stressing that the product he sells most is swordfish, followed by mackerel, horse mackerel, and tuna. Born on the Ilhéu de Câmara de Lobos, but living in Funchal for many years, he reveals that he feels privileged to be part of a place that exudes so much history, culture, and tradition.

The Farmers’ Market was built in the 30's of the 20th century, being a testimonial work of the dictatorship of the Estado Novo, for its imposing and grandiosity, designed by the architect Edmundo Tavares, who combined modernism with art deco.

Entering this place, which opened its doors on November 25, 1940, idealized as

Há quase meio século que José Pestana, natural de Câmara de Lobos, é feliz a arranjar e a vender peixe no emblemático Mercado dos Lavradores, um local de passagem obrigatória tanto para os madeirenses como para quem nos visita.

O comerciante afirma com orgulho que tem “o melhor trabalho de todos”, e a verdade é que vê-lo a trabalhar é sentir na pele a paixão que desempenha pela sua profissão. Desde os 10 anos que arranja peixe, e quando acabou a escola seguiu as pisadas da família. O seu pai era pescador, bem como os seus tios e foi orgânico o rumo que a sua vida tomou.

“Este é um trabalho divertido, onde há espaço para conviver com amigos e com os clientes, que vêm cá todas as semanas comprar peixe”, conta-nos com alegria, sublinhando que o produto que vende mais é a espada, seguindo-se a cavala, o chicharro e o atum. Nascido no Ilhéu de Câmara de Lobos, mas residente no Funchal há muitos anos, revela que se sente privilegiado por fazer parte de um local que exala tanta história, cultura e tradição.

O Mercado dos Lavradores foi construído na década de 30 do século XX, tendo sido uma obra de testemunho da ditadura do Estado Novo, pela sua imponência e grandiosidade, projetada pelo arquiteto Edmundo Tavares que combinou o modernismo com a art déco.

Entrar neste sítio, que abriu portas a 25 de novembro de 1940, idealizado como o grande polo abastecedor da cidade, é encontrar a súmula da Madeira num único espaço. Fruta exótica, vegetais frescos, flores exuberantes, aromas e cores únicas, são os ingredientes que continuam a cativar muitos madeirenses que têm como ritual sagrado fazer aqui as suas compras, especialmente à sexta-feira e ao sábado de manhã.

A atmosfera do Mercado dos Lavradores não deixa ninguém indiferente. Ao observar o funcionamento das diversas bancas ou praças, a interação entre os clientes e os vendedores deixa claro o espírito familiar que este local de referência possui desde a sua origem e que se mantém até aos dias de hoje.

Élvio Barros, natural do Jardim da Serra, é outro comerciante que coloca o coração naquilo que faz. À Essential começou por contar com entusiasmo e com notórias saudades as

the great supply centre of the city, is to find the sum of Madeira in a single space. Exotic fruits, fresh vegetables, exuberant flowers, unique aromas and colours, are the ingredients that continue to captivate many Madeirans who have a sacred ritual to do their shopping here, especially on Friday and Saturday mornings.

The atmosphere of the Farmers’ Market leaves no one indifferent. When observing the operation of the various stalls or squares, the interaction between customers and vendors makes clear the family spirit that this reference place has since its origin and that remains until today.

Élvio Barros, a native of Jardim da Serra, is another merchant who puts his heart into what he does. To Essential, he began by enthusiastically recounting his childhood memories of working at the Farmers’ Market. "My father was already in this business and the smell of fruit is something that stays with us," he says with a twinkle in his eyes. "My brothers and I used to cry to skip school and come here. At the time, when I was 9 years old, there was a man who sold rice cakes that I loved, and I always asked my father to go with him to work so I could eat the cakes," he says with a laugh.

At first, his tasks were to deliver the bags to his father and the customers, until later he took on the responsibilities of a merchant and maintained the family legacy. After 30 years, he maintains the same enthusiasm, although without the stimulation of rice cakes. Every Friday and Saturday he has a smile to offer the customers, many of whom he has known for more than 20 years.

At this time, he explains that the clientele's preference is for the custard apple and tangerine, fruits of the autumn and winter season. In the summer, cherries, guava,

suas memórias de infância quando começou a trabalhar no Mercado dos Lavradores. “O meu pai já andava nisto e o cheiro da fruta é algo que fica em nós”, conta com um brilho nos olhos. “Eu e os meus irmãos chorávamos para faltar à escola e vir para aqui. Na altura, quando eu tinha 9 anos, havia um senhor que vendia bolos de arroz que eu adorava e pedia sempre ao meu pai para acompanhá-lo no trabalho para poder comer os bolos”, salienta entre risos.

De início, as suas tarefas passavam por entregar os sacos ao seu pai e aos clientes até que depois acabou por assumir as responsabilidades de comerciante e manter o legado da família. Passados 30 anos, mantém o mesmo entusiasmo, embora já sem o estímulo dos bolos de arroz. Todas as sextas-feiras e sábados tem um sorriso a oferecer aos clientes, muitos deles que já conhece há mais de 20 anos.

Nesta altura, explica que a preferência da clientela recai pela anona e pela tangerina, frutas da época de outono e inverno. Já no verão, a cereja, a goiaba e a ameixa são os produtos mais procurados. Curiosamente, ao seu lado, tinha o seu sobrinho de 9 anos, que tal como o tio pede sempre para ir ajudar nas vendas, sinal de que também nele já ficou entranhado o cheiro da fruta.

Ao deambular pelo Mercado dos Lavradores, saltam à vista as floristas, trajadas com o típico

and plums are the most sought-after products. Curiously, next to him was his 9-year-old nephew, who, like his uncle, always asks to help in the sales, a sign that the smell of fruit has also become ingrained in him.

While wandering through the Farmers’ Market, the florists, dressed in typical Madeiran costumes, stand out. One of the best known is Mrs. Cecília Fernandes, a native of Câmara de Lobos, who for 50 years has felt this place of reference to be her second home, where she enters every day at 7:00 am and leaves at 7:00 pm. She was only 11 years old when she began to dedicate herself to this craft. Her father sold flowers to florists in Funchal and the taste for plants began to blossom in her from a very young age.

Meanwhile, she went to Madrid to take a florist course and then to Lisbon, where she satiated even more her desire to learn new techniques in flower arranging. She ended up specializing in what she most enjoys doing in life and says she couldn't have any other profession. "I really like to do arrangements, especially with anthuriums and orchids, which are more durable flowers," she tells us, pointing out that customers look for daisies, roses, carnations, or gerberas all year round.

JOSÉ PESTANA ÉLVIO BARROS

fato madeirense. Uma das mais conhecidas é a senhora Cecília Fernandes, natural de Câmara de Lobos, que há 50 anos sente este local de referência como a sua segunda casa, onde entra todos os dias às 7:00 horas e sai às 19:00 horas. Tinha apenas 11 anos quando começou a dedicar-se a este ofício. O pai vendia flores às floristas do Funchal e o gosto por plantas começou a despontar em si com fervor, desde muito nova.

Foi, entretanto, para Madrid fazer um curso de florista e depois para Lisboa, onde saciou ainda mais o seu desejo por aprender novas técnicas no arranjo de flores. Acabou por especializar-se naquilo que mais gosta de fazer na vida e afirma que não conseguiria ter outra profissão. “Gosto muito de fazer arranjos, especialmente com antúrios e orquídeas, que são flores com maior durabilidade”, conta-nos, salientando que os clientes procuram, ao longo de todo o ano, sobretudo as margaridas, as rosas, os cravos ou as gerberas.

É com um olhar ternurento que fala sobre o seu dia-a-dia no Mercado dos Lavradores, sublinhando a sua gratidão aos seus clientes de longa data que já conhece de “ginjeira”.

It is with a tender gaze that she talks about her day-to-day life at the Farmer’s Market, stressing her gratitude to her long-time customers that she already knows like the back of her hand.

Abel Lopes, 54, salesman and producer, is known and sought out especially for the quality of his "cabbage, chard, tomatoes, and spinach. He has worked at the Farmers’ Market for 34 years, and regardless of his shyness, he emphasizes the pride with which he serves his customers. Although today we live in different times, in which most people choose to shop at large supermarkets, Abel Lopes says that the routine of going to the market to choose, smell, and handle the products is still important for most of his regular customers, who appreciate not only buying fresh but also everything that a visit to this space implies, i.e. the atmosphere, the conversation, and the proximity.

In short, it has been 82 years of life of the Farmers’ Market. Much has changed since the doors of this space opened, but the friendly atmosphere, the quality and freshness of what is sold, and especially the humanity of the merchants, which makes all the difference, remains.

Já Abel Lopes, de 54 anos, vendedor e produtor, é conhecido e procurado especialmente pela qualidade das suas “couves, acelgas, tomate e espinafres”. Trabalha há 34 anos no Mercado dos Lavradores e independentemente da sua timidez, realça o brio com que serve os seus clientes. Apesar de hoje viverem-se tempos diferentes, em que a maioria opta por fazer compras em grandes superfícies, Abel Lopes afirma que a rotina de ir ao Mercado escolher, cheirar e manusear os produtos continua a ser importante para a maioria dos seus clientes assíduos, que estimam não só comprar fresco mas também tudo o que implica uma visita a este espaço, ou seja, o ambiente vivido, a conversa e a proximidade.

Em suma, são 82 anos de vida do Mercado dos Lavradores. Muito mudou desde que as portas deste espaço se abriram, mas perdura o ambiente amistoso, a qualidade e a frescura do que é vendido e especialmente a humanidade dos comerciantes, que faz toda a diferença.

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