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Tasso Rezende de Azevedo

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Holger Brauer

Holger Brauer

o desafio

do desenvolvimento de baixo carbono

The Challenge of Developing Low Carbon

O Brasil precisa criar o seu modelo próprio de desen- volvimento, que seja voltado para a construção de uma sociedade educada, saudável, segura, ética, feliz e que seja capaz de respeitar as gerações passadas e ao mesmo tempo se manter compromissada com as gerações futuras.

Esse novo modelo deve ser uma evolução das con- quistas recentes em estabilidade econômica e social e se conectar à urgente necessidade de reduzir drasticamente a intensidade de emissões de gases do efeito estufa, ou seja, estar articulada com o que se convencionou chamar uma economia de baixo carbono. O desafio é superar uma ló- gica minimalista de indicadores de crescimento, focando numa evolução da prosperidade e sustentabilidade.

Desenvolver-se de forma sustentável pode significar inclusive decrescer. Por exemplo, o uso de transporte pú- blico ou bicicleta, como alternativa de transporte ao car- ro particular, contribui para um ambiente menos poluído e amplia a prática física saudável. No entanto, baseia-se numa cadeia de produção de menor valor agregado, e a migração de um modelo para outro pode significar um de- crescimento pelos conceitos tradicionais.

A busca do desenvolvimento sustentável neste século XXI está intrinsicamente ligada à ideia de descarboniza- ção da economia global. Esse processo é necessário para que as emissões do planeta sejam reduzidas em pelo menos 80% até 2050, de forma que a temperatura média do planeta não suba mais do que 2 °C, evitando uma série de impactos negativos de enorme magnitude. É o desafio da humanidade e de fundamental importância para o Brasil, que poderá ser um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas globais, em especial quanto às alterações no regime hídrico que colocam em risco a agricultura e a geração de energia elétrica. A orientação para essa nova economia descarbonizada será geradora de grandes oportunidades. A necessidade da descoberta de novas soluções tecnológicas desafiará nossos cientistas e deverá estimular uma expansão significativa de nossa capacidade de P&D. A grande maioria das alternativas energéticas renováveis está baseada em ativos muito abundantes no Brasil, como é o caso da energia solar, eólica, de biomassa e de hidroelétrica - rio e marés. O Brasil tem uma das maiores áreas de insolação do planeta e um dos maiores potenciais eó

Brazil must create its own development model, aimed at building an educated, healthy, safe, ethical and happy society, capable of respecting past generations, while at the same time committing to future generations.

This new model must be an evolution of recent conquests in terms of economic and social stability and tied to the urgent need of drastically reducing the intensity of greenhouse gas emissions, i.e., it must be linked to what has been termed a low carbon economy.

The challenge is to overcome a minimalist logic of growth indicators, to focus on an evolution of prosperity and sustainability.

To develop in a sustainable manner may even mean to grow negatively. For example, to make use of public transportation or a bicycle, as alternatives to using a private car, contributes to a less polluted environment and fosters healthy physical practices.

However, this is based on a production chain of lower aggregate value and the migration from one model to another may imply growing negatively according to traditional concepts.

The search for sustainable development in this 21 st Century is intrinsically linked to the notion of decarbonizing the global economy. This process is necessary so that the planet’s emissions are reduced by at least 80% until 2050, and so that the average temperature on the planet will not increase by more than 2 o C, avoiding a series of negative impacts of gigantic magnitude.

This is a challenge for mankind and of fundamental importance for Brazil, since the country may be one of the most affected by global climate change, particularly as related to alterations in the hydric regime that endanger agriculture and the generation of electric power.

The orientation afforded this new decarbonized economy will generate great opportunities. The need to discover new technological solutions will challenge our scientists and is expected to foster a significant expansion of our R&D capacity. Most renewable energy alternatives are based on assets that are abundant in Brazil, as is the case of energy generated from the sun, the wind, from biomass and hydroelectric energy (from rivers and the tide).

" Desenvolver-se de forma sustentável pode significar inclusive decrescer. O uso de transporte público ou bicicleta, como alternativa ao carro particular, contribui para um ambiente menos poluído e amplia a prática física saudável. "

licos, tanto em terra quanto em mar. Além disso, temos a maior capacidade de produção de biomassa de todo o planeta, além do domínio de tecnologias de biocombustíveis.

Outras áreas também deverão ser cobertas. Os combustíveis fósseis, grandes vilões das emissões, são também base da indústria de plásticos, fertilizantes e outros químicos derivados. O Brasil já produz plástico biodegradável, feito diretamente da biomassa de cana-- -de-açúcar, e investimentos bem orientados na área de biotecnologia que, nas biorefinarias, podem viabilizar alternativas renováveis para a quase totalidade dos produtos da indústria petroquímica.

O caminho para esse novo modelo de desenvolvimento deve ser traçado o quanto antes. As decisões tomadas hoje em relação ao planejamento da infraestrutura, educação e tecnologia não podem ser revertidas no curto prazo. Uma nova termoelétrica a carvão mineral, quando contratada, indica, de fato, o contrato, por décadas, de emissões de gases do efeito estufa. Da mesma forma, o modelo educacional implantado hoje afetará toda uma geração, e não terá retorno.

Nos últimos 20 anos, o Brasil conseguiu avanços significativos na formação como nação, alcançando a estabilidade econômica e implementando uma efetiva política de inclusão social. Agora, é preciso ir além, é hora de se colocar a sustentabilidade no centro da pauta de debate do país. O processo eleitoral de 2010 se apresenta como uma excelente oportunidade de fazer essa reflexão e debate, e, quem sabe, independente do vencedor, tenhamos uma inflexão do Brasil para o foco no desenvolvimento sustentável.

Brazil has one of the largest insolation areas on the planet and one of the highest eolic potentials, both on land and at sea. Furthermore, we have the largest capacity to produce biomass on the entire planet, in addition to dominating biofuel technologies.

Other areas too will be covered. Fossil fuel – the main emissions’ villain – is also the basis for the plastic, fertilizer and other chemical derivative industries. Brazil already produces bio-degradable plastic, made directly from sugarcane biomass, and has made well-oriented investments in biotechnology, which, in the “bio-refineries”, can make feasible renewable alternatives for almost all products of the petrochemical industry.

The path to this new development model must be laid out as soon as possible. Decisions made today with respect to planning infrastructure, education and technology cannot be reverted in the short-term. A new thermoelectric plant, when contracted, in fact is a contract with a life of decades of greenhouse gas emissions. By the same token, an educational model implemented today will affect an entire generation, and there is no way back.

In the last 20 years, Brazil advanced significantly in terms of its formation as a nation, achieving economic stability and implementing an effective social inclusion policy. Now is the time to go beyond and place sustainability in the center of the country’s debating agenda.

The electoral process of 2010 stands out as an excellent opportunity to reflect on this and to bring about the debate, and, who knows, regardless of who turns out to be the winner, make Brazil turn to focus on sustainable development.

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