Teatro e Ensino de Física

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R7354 Rossi, Amanda Ferraz Teatro e Ensino de Física: Uma proposta inovadora para integrar ciência e arte/Amanda Ferraz Rossi. Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 112 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0366-6 1. Ciência 2. Arte 3. Ensino-aprendizagem 4. Educação I. Rossi, Amanda Ferraz. CDD: 370 Índices para catálogo sistemático: Educação Teatro

370 372.66 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi Feito Depósito Legal

Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 contato@editorialpaco.com.br


Dedico esse livro ao meu esposo, Douglas, pela paciência e companheirismo, à minha irmã, Paola, por todo auxílio e contribuição e a todos que acreditam na transformação educacional.



Agradecimentos Foram muitos os que contribuíram durante toda a caminhada, e não conseguiria, brevemente, agradecer a todos. Agradeço a Deus pelo dom da vida e por colocar tantos anjos em meu caminho. Aos meus pais, Marcos e Sandra, por terem considerado a minha educação e a dos meus irmãos prioridade, sempre valorizando a importância do conhecimento em nossas vidas. Ao meu esposo, Douglas, por me encorajar e me apoiar nessa desafiadora jornada. Por todo amor, paciência, companheirismo e dedicação. À minha irmã, Paola, pois, sem a sua ajuda, contribuição, dedicação, paciência, seria impossível concretizar esse trabalho. Acabou por se tornar grande parceira nessa longa caminhada e minimizou significativamente os obstáculos apresentados. Ao meu cunhado, Márcio, que se tornou um irmão, por sempre me lembrar o quanto a Física é fascinante e alimentar o fogo da curiosidade. A toda a equipe da E. E. E. F. M. Major Alfredo Pedro Rabaioli que possibilitou a realização desse projeto. À turminha especial que tornou esse trabalho possível, Alessandro, Bruno, Gabriel, Kleofer, Lucca, Mário, Milena, Myriellen, Raphael, Thalia, Wesley, integrantes do projeto “Ciência com arte”, vocês tornaram essa experiência inesquecível. Aos professores e a toda a equipe do programa EDUCIMAT (Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática do IFES), por todo o conhecimento e por todas as experiências fundamentais para aprimoramento profissional e fundamental a fim de expandir minha visão da educação. À minha orientadora Michele Waltz Comarú, por todo auxílio e contribuição. Um agradecimento especial à professora Doutora Priscila Chisté, por toda colaboração durante a realização do trabalho e por me incentivar na produção desse livro.



Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. Paulo Freire



Sumário Prefácio.....................................................................................11 Introdução.................................................................................15 CAPÍTULO 1 FUNDAMENTOS................................................................................19 1. Ensino de Física...........................................................................19 2. Ciência e Arte..............................................................................34 2.1 Metodologias lúdicas..........................................................37 2.2 Teatro e ensino de Física....................................................39 3. Divulgação científica..................................................................47

CAPÍTULO 2 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................53 1. Etapa 2: Desenvolvimento do projeto “ Ciência com Arte”..................................................................................................53 1.1 Criação dos roteiros de peças teatrais envolvendo conceitos de Física.....................................................................53 1.2 Construção dos cenários e figurinos................................56 1.3 Apresentação das peças......................................................64 2. Etapa 3: Desdobramentos do projeto “Ciência com Arte”...................................................................................................70 2.1 Metatextos.............................................................................71 2.1.1 Metatexto extraído da entrevista concedida pelo aluno 1..........................................................................71 2.1.2 Metatexto extraído da entrevista concedida pelo aluno 2..........................................................................72 2.1.3 Metatexto extraído da entrevista concedida pelo aluno 3..........................................................................73 2.1.4 Metatexto extraído da entrevista concedida


pelo aluno 4..........................................................................74 2.1.5 Metatexto extraído da entrevista concedida pelo aluno 5..........................................................................75 2.1.6 Metatexto extraído da entrevista concedida pelo aluno 6..........................................................................76

Considerações finais.................................................................................87 Referências...............................................................................................91 Anexos Anexo A: Peça Rapunzel.......................................................................95 Anexo B: Peça Chapeuzinho Vermelho.............................................97 Anexo C: Peça Branca de Neve e os 7 Nerds...................................100


PREFÁCIO A arte como mecanismo de aproximação entre professores e alunos reorganizando o espaço escolar como ambiente de apropriação de conhecimento, espaço que respeita e valoriza a diversidade, onde o aluno desenvolve o sentimento de pertencimento. Espaço de descoberta de potencialidades, humanidade, da utópica igualdade enquanto seres humanos. Quando crianças (claro, passado o período de adaptação), adoramos ir à escola. Com o passar dos anos, este entusiasmo vai diminuindo até chegar ao ponto do insuportável, quando tudo que os alunos querem é ir embora ao fim do turno e torcem pela chegada da sexta e lamentam a chegada da segunda. Que cenário lamentável, a época em que ainda estamos seguros das cobranças e responsabilidades da vida adulta, muitas horas do nosso dia são transformadas em verdadeira tortura. O que mudou? O encantamento, as relações. Quando pequenos, somos cercados de mimos e palavras doces das tão queridas “tias”, que com o passar dos anos se tornam professoras (e ai se chamar de tia; sou por acaso irmã da sua mãe ou pai?). A relação aluno-professor vai se tornando mais fria, as atividades mais mecânicas e sem graça. O entusiasmo das descobertas na infância (as atividades são pensadas para apresentar o mundo às crianças, estimulá-las, despertar a curiosidade!) dá lugar a conteúdos, avaliações (ou, pior ainda, provas) que te categorizam e decidem se você é bom ou não. Não desenvolve bem as atividades propostas? Deve ter problema de aprendizado! Pergunta demais? Atrapalha a aula! É agitado? Encaminha para o médico, deve ser hiperativo! Dispersa muito? Deve ser disléxico! Quando pequenino... É agitado? É saudável! Pergunta demais? É curioso! Não desenvolve bem as atividades? Calma, é criança, vai aprender no seu tempo! Dispersa muito! Esse aí vai se destacar, é pensativo, precoce, analisa as coisas! 11


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Quando mais jovens, a educação é pensada (e praticada) de forma a permitir o desenvolvimento da criança, para que ela cresça saudável e feliz! Muitas vezes deixando-as à vontade durante a realização de atividades. À medida que crescem, a educação é desenvolvida de forma a padronizar, deixar todos iguais. Conteúdos predeterminados, atividades e avaliações que determinam quem é bom e quem não é. Iniciam-se os estigmas e estereótipos para depois dizermos: não façam bullying! Qual o nome do que a escola faz? Não é discriminatório trabalhar o conhecimento, desenvolver atividades, aplicar avaliações iguais a todos os alunos, sendo eles tão diferentes? Ah, a não ser que tenha laudo, aí nem precisa aplicar avaliação, pois este deve ser aprovado de qualquer jeito! Quanta hipocrisia! O mercado precisa de pessoas criativas! Como ser criativo se a fase crucial para o desenvolvimento da personalidade, o amadurecimento das emoções e valores, a aproximação com a realidade social, histórica, do universo em que está inserido acontece em um espaço tão frio, rígido, celetista, classificatório? (Você é classificado de acordo com sua nota, então cuidado!) Temos então a arte, que trabalha as emoções, as relações humanas, transforma sua forma de ver o mundo e a realidade! E acompanhada da ciência?! Possibilita aguçar novamente a curiosidade... ah, a curiosidade que moveu e move tudo! O teatro, particularmente, possibilita o retorno à infância! Quando fazíamos perguntas, tínhamos atitudes de acordo com nossa vontade sem o medo do julgamento, sem os pudores e receios do ridículo que desenvolvemos enquanto nos tornamos adultos. Não queremos ser classificados como burros, estúpidos, então devemos ter atitudes inteligentes, fazer perguntas inteligentes. Às vezes (muitas vezes) me pego pensando: por mais qualificado que um professor seja (especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado), em que momento ele se torna habilitado em definir o que seu aluno deve aprender, como deve aprender e quais conteúdos (ah, os conteúdos) ele deve aprender? Aí vem Paulo Freire (de quem particularmente sou fã!) que fala de uma utopia 12


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mega utópica! Como partir da realidade e interesse do aluno se temos 45 alunos em sala? Então a gente põe tudo num balde, seleciona meia dúzia e é isso aí! Bom, mudar tudo isso não depende apenas de nós professores, mas também reclamar do governo não tem ajudado em nada! O que fazer então?! Tenho a resposta! Mas é claro que não! O que sei, e venho tentando aplicar, é resgatar o gosto pela ida à escola, transformar o espaço escolar em espaço de sonhos, possibilidades, felicidade e, por que não, utopias! O teatro (baseando-se nas experiências vividas!) tem possibilitado essa transformação, tem desenvolvido, nos alunos participantes, o sentimento de pertencimento à escola, sentimentos de amizade, respeito a diferenças, sentimento de grupo, família (carência real de muitos alunos), possibilitando a então formação de um ser crítico, reflexivo, feliz! Ao pensar na escola como um lugar bom, pode-se estender ao pensamento de que o conhecimento é bom. O aluno (ser humano!), ao se sentir valorizado, respeitado, admirado, se torna mais confiante, pessoas mais confiantes são mais decididas, felizes, mais fortes para encarar os tantos desafios que a vida por si só traz a todos nós! Não me encaixo em lugar nenhum. É isso, não me encaixo, me sinto como uma peça defeituosa de um quebra-cabeça. E de tanto quebrar a cabeça pra entender esse quebra cabeça, depois de tentar, exaustivamente, me encaixar, uma luz clareia a escuridão em que me encontrava... o problema não era a peça, o defeito estava no quebra-cabeça, que só permitia o encaixe de peças que não transformasse a imagem final. O encaixe foi programado para apenas permitir peças que resultassem a mesma imagem... aquela escolhida para não perturbar a ordem, não tirar ninguém da zona de conforto... que mantenha todos em sua caixa... garantindo o equilíbrio social! (Amanda Rossi)

Paulo Freire fala da utopia, de uma utopia que esteja entrelaçada a ações coerentes com essa utopia. Amo essa citação de 13


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Freire! Mas o que quero mesmo é ter a utopia, transformá-la em desejo e este em ações, podendo revolucionar sentimentos e transformar realidades! Entendo que sou apenas uma andorinha, vez ou outra encontro outras andorinhas afins. Sei que o mundo é muito vasto para as pequenas andorinhas. Não sei se a gente chega a fazer verão (não vou abusar da utopia!), mas acredito que conseguimos umas manhãs de sol. Ainda prefiro as manhãs de sol a constantes dias nublados. Talvez (a longo prazo) essas manhãs se estendam para tardes, noites de lua cheia, um verão tímido, até, quem sabe, meses de verão! (não tem jeito com a tal utopia!) Ao me reconhecer professora (isso levou certo tempo), decidi que queria transformar a educação, fiz algumas tentativas que após análise pareceram-me sem muito sucesso. Esse quadro só começou a mudar quando entendi que somos incapazes de transformar qualquer realidade enquanto não transformarmos a nós mesmos. Primeiro devemos fazer uma “faxina” em nós mesmos revendo valores, julgamentos, atitudes, objetivos. Fazendo isso, então, entendi! Não transformamos nada, nem ninguém, transformamos após as faxinas (são muitas ao longo da vida, isso eu também aprendi) a nossa tolerância, a capacidade de levantar das quedas, injetamos um “gás” na utopia (olha ela aí de novo), a nossa forma de enxergar o mundo e as pessoas, nossa percepção da realidade. O que foi já não é mais... e assim sigo certa! Que dificilmente saberei qual o melhor sentido, serão muitos tropeços, algumas lágrimas (não muitas, elas dão rugas e botox é caro!), mas enquanto tiver risos estarei na direção que me conduzirá à felicidade, que, pra mim, é estar em paz, com o dever que então assumi quando me tornei de fato professora: ser a ponte para além do conhecimento em Física, auxiliar na travessia para o reencontro com o encantamento com a vida, auxiliar meu alunos a se transformarem em peças que não encaixam no quebra-cabeça. Amanda Rossi 14


Introdução Muitas são as teorias a respeito da escolha da profissão. Alguns acreditam que é um dom com o qual nascemos, outros consideram que deve ser uma decisão pautada na vertente mercadológica e financeira. Há quem acredite que se deve seguir o sonho. Enfim, não existe uma fórmula ou padrão que determine a carreira a seguir. Pensando nisso, entendo que não nasci, nem decidi ser, mas em algum momento me tornei professora. A escolha inicial não foi pela licenciatura, mas pela ciência, pela curiosidade de compreender melhor os fenômenos naturais (esses conhecimentos não foram bem compreendidos no ensino básico), fato que me motivou a ingressar no curso de licenciatura em Física. A escolha por licenciatura foi a tentativa de atrelar a busca pelo conhecimento à possibilidade de ingresso no mundo do trabalho. Nos primeiros contatos com os alunos, principalmente por meio dos estágios, senti as mesmas dificuldades e a insegurança que a maioria dos professores iniciantes vivencia. Passado o período turbulento e podendo me dedicar mais a observar as ocorrências no espaço escolar, me deparei com a magia do aprender. A felicidade expressada por meus alunos ao compreender o que até então nem se tinha conhecimento que existia e os impactos dessas apropriações em suas atitudes me motivaram mais. Os problemas encontrados no desempenho da profissão foram significantemente minimizados diante do novo quadro. Possibilitar às pessoas a descoberta de um universo até então desconhecido se tornou minha paixão e ideal educativo. Comecei a reparar que a motivação dos meus alunos variava de acordo com o assunto e com os métodos desenvolvidos nas aulas. Quando o trabalho era pautado em entendimento e aplicação de teorias e conceitos, tendo como instrumento básico a resolução de exercícios, a interação e os resultados não eram os esperados. Diferente de quando adotava metodologias alternativas que possibilitavam uma maior interação e movimentação dos alunos, 15


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