Educomunicação Popular e Mestiça

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©2016 Henrique Oliveira de Araújo Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

Ar12 Araújo, Henrique Oliveira de Educomunicação Popular e Mestiça: Transformação das presenças/Henrique Oliveira de Araújo. Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 252 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0621-6 1. Educação 2. Comunicação popular e mestiça 3. Educomunicação 4. Brasilidade. I. Araújo, Henrique Oliveira de. CDD: 370 Índices para catálogo sistemático: Educação Comunicação

370 302.2 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi Feito Depósito Legal

Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 contato@editorialpaco.com.br


A todos que ousaram acreditar comigo. Aos que, mesmo diante da descrença, se engajaram. Aos que aceitaram a transformação. Teimaremos em continuar!



Agradecimentos Este estudo não seria possível sem um esforço de inclusão. Junto com o movimento que a educomunicação mestiça me colocou, tive que, cada vez mais, me abrir à generosidade das pessoas que, durante anos de pesquisa, experiências, leituras, viagens e recomeços se esforçaram para fazer da presente obra algo que se pudesse escrever e comunicar. Tenho certeza de que cometerei injustiças ao agradecer apenas a algumas pessoas, mas num exercício de abraço caloroso e muito sincero gostaria de iniciar agradecendo a todos que, em algum momento, acreditaram que essas ideias seriam possíveis de se concretizar neste livro. Em primeiro lugar, gostaria de deixar meu sincero abraço de reconhecimento e muito amor à minha família – meus pais (Carlos Oliveira e Gicélia Araújo); meus irmãos (Rodrigo Araújo e Monique Araújo) e à minha companheira (e amiga para todas as horas) Bernadete Barreto – que, sempre com muito amor e paciência, souberam segurar compreender os desafios das minhas próprias intermitências no decorrer desse percurso. Posso dizer que este livro é muito deles, porque aqui está cravado um pouco da alma dessas pessoas maravilhosas. Agradeço com muito carinho também aos meus professores e amigos Antenor Rita Gomes (Universidade do Estado da Bahia) e Victor Amar (Universidade de Cádiz – Espanha), com os quais aprendi a reconstruir sempre de forma aberta e humana minhas próprias experiências e a enxergar o mundo de uma forma muito mais abrangente – sempre buscando outros aspectos que não só aqueles dos vieses míopes da academia. Grandes mestres! Também agradeço aos meus colegas comunicadores populares – sempre tão sonhadores e idealistas! – lutadores por um mundo mais justo e inclusivo. Com eles, ao longo de cinco anos de trabalho e “peleja”, minhas ideias avançaram a outro patamar: consegui enxergar as pessoas de forma diferente; aprendi a di-


versidade real, aquela que se grava na pele e que não se compreende senão pelo contato e pela interação. De forma não menos intensa, deixo meu agradecimento especial aos professores e alunos do Cetep que, neste estudo, enxergaram um início: o começo de uma construção educomunicativa, capaz de nos levar para um “lugar” mais próximo dessa calorosidade humana que nos forma. Muito obrigado por construírem esses primeiros pedaços de chão comigo. Por fim, não poderia deixar de abraçar os muitos amigos os quais tive a oportunidade de conhecer. As pessoas mudam nossa vida das formas mais inesperadas e todos os meus amigos fazem parte do movimento em que “me encontro sendo” agora. Esse trabalho também tem as lágrimas e suor deles, porque eles são o movimento da minha vida. Espero que a gente continue se transformando!


Assim, podemos agora reconhecer que que a vida se constrói no movimento de sua destruição, organiza-se no movimento de sua desorganização. Edgar Morin



Sumário Apresentação

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Prefácio De Bahia a Bahía

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Introdução Construindo e desconstruindo em colaboração

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Capítulo 1 Construindo nossa compreensão 1. A possibilidade racional da mestiçagem 2. Compreensão multirreferencial 3. Sujeitos em colaboração 4. Alunos e professores do Cetep 5. Alguns dados e considerações importantes sobre os professores brasileiros 6. Os professores do Cetep 7. Professores e formação dos estudantes 8. Os comunicadores populares do CAA 9. O modelo de assessoria da ASA: um pouco sobre a articulação 10. A visão dos comunicadores 11. Lócus de pesquisa 12. O CAA 1) Segurança alimentar e nutricional das famílias em situação de vulnerabilidade 2) Ações de participação e controle social nos territórios 3) Capacitação e formação de lideranças locais, em especial mulheres e jovens (ampliando de forma proativa sua atuação na sociedade civil e no setor público)

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4) Processos de educação na região semiárida incorporam a abordagem da convivência com o semiárido como processo cultural e político 5) Consolidação institucional do CAA, com gestão democrática e transparente 6) Processos de gestão social do Território de Irecê 7) Convivência com o semiárido e desenvolvimento rural sustentável 13. O Cetep 14. Chegada ao retorno: os objetivos traçados 15. A primeira pretensão: o ideal do ciclo colaborativo 16. Formando o grupo: momentos da pesquisa

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Capítulo 2 Formação e comunicação em processo 105 1. Juventudes em formação: a estratégia educacional da comunicação popular colaborativa 105 2. Os jovens brasileiros 106 3. Formação por múltiplos caminhos 116 4. A formatividade das presenças em movimento 119 5. A comunicação que nos ultrapassou 121 6. A ruptura comunicativa da educação 126 7. A emergência da educomunicação colaborativa 131 8. Démarche colaborativa 135 9. Educomunicação popular mestiça e em movimento: não à padronização, sim ao recriar 138 10. A desagregação dialética na ação educomunicativa 145 11. Do ecossistema à ecorregião: enfrentando o desafio da gestão educomunicacional 148 12. Ecorregiões educomunicativas: enfrentando o problema de gestão através da associação 154


Capítulo 3 Poder interveniente 1. Do quebra-cabeça ao mosaico: o poder perturbador 2. Ao conflito reformulador: o poder e o esfacelamento do modelo 3. Micropolítica interventora 4. A simbologia da verticalidade: sobre efeito prático da alteza simbólica no contexto escolar 5. Da ideia à prática: a simbologia da alteza e a operação prática do poder 6. A alteza simbólica e a “castração” da mestiçagem 7. O “caso” Clarinha 8. Etnométodos e o trânsito prático da simbologia: o exercício “quase ínfimo” do poder 9. A desconstrução da horizontalidade ideal Capítulo 4 Subjetividade e eco-organização educomunicativa 1. Sujeitos e educomunicação: a evolução biológica de uma nova dimensão formativa 2. A potência da finitude: a organização da desordem 3. Educomunicação eco-organizada: o movimento da vida Capítulo 5 O desafio prático 1. A construção do produto 2. Plataforma aberta ao movimento (In)Conclusão Referências

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Apresentação O presente livro não pretende apresentar soluções. Mais do que um receituário de fazeres e resultados educomunicativos, as ideias que o leitor encontrará se apresentarão muito mais como partes de um esforço problematizador. Gosto de dizer que a presente obra, resultado de dois anos de pesquisa junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Diversidade, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e talhada pelo artesanato comprometido de mãos diversas, antes de qualquer coisa, nos apresenta a possibilidade de verter nossa atuação em prol de uma comunicação, antes verticalizada, em uma educomunicação que aceite a mestiçagem. Nosso propósito então se coloca: ao escrever o presente texto declaramos a nossa abertura em aceitar essa mistura que nos compele a enxergar o subjetivo, as paixões e os sentimentos como construtivos básicos da nossa cultura enquanto sujeitos de discurso, dotados de visão de mundo e, claro, de criticidade frente ao posto. Não nos interessa pensar uma educomunicação em sua potência formadora meramente como uma atividade construtora de verdades reprodutíveis. Passamos ao largo da miríade daqueles conhecimentos tradicionais, meramente objetivos ou finalistas, que embasaram, e ainda embasam, uma noção de educação e comunicação tecnicista, linear e formal. Exatamente por isso, apresentamos os contornos iniciais de uma comunicação interpenetrada pelo outro, que pode considerar os discursos como expressões de identidades transversais fugidias e transformadoras. Trabalhamos com a matéria-prima das presenças em transformação, ousamos assumir a mistura de papéis, em que atores sociais competentes se tornam cocomunicadores e coeducadores num processo que se faz em movimento e se abre à alteridade. Os sujeitos falantes do contexto são o norte e, ao mesmo tempo, a inconclusão do trabalho que se apresenta. Como hermeneutas 15


Henrique Oliveira de Araújo

densos (ou profundos), nos lançamos à reidexicalização das nossas próprias certezas, lançando-nos ao desafio de encarar outro prisma de investigação social e educacional que, partido de uma mirada diferente, amplia seu desafio prático, fundando uma práxis em movimento. Apresentamos aqui uma educomunicação que poder se fazer popular colaborativa e mestiça. Assumimos a oleosidade da nossa brasilidade e, ao nos entregarmos a essa abertura, acreditamos ser possível a eclosão de um movimento criativo, e fomentador de “outras falas possíveis”. O fazer educomunicativo é assim um intenso diálogo com discursos contextualizados, construídos a partir da consideração, interpretação e compreensão dos indivíduos em subjetivação. São esses indivíduos que abrem a possibilidade de construção colaborada do nosso estudo. É a partir deles que percebemos com mais clareza que a comunicação (assim como a educação) humana se constroem sob o próprio ritmo da vida. Em todas as partes deste livro está um pouco do nosso engajamento por construir um movimento educomunicativo de interpenetração constante – um movimento que se inclina a defender um processo comunicacional que ultrapasse a mera aquisição e a aplicação de técnicas para se dedicar a um processo complexo. Como diria Paulo Freire, a educomunicação, ao assumir sua mestiçagem, se coloca como um trabalho que se faz em direção ao outro – um outro entendido enquanto sujeito empoderado e dotado de grande capacidade discursiva e reflexiva. Nosso estudo é, exatamente por isso, mais do que uma revisão teórica ou metodológica. Ele se traduz no nosso compromisso político. No engajamento por um processo criativo formador, inclusivo e crítico. Henrique Oliveira

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