Valor-Aparência

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Valor-AparĂŞncia AparĂŞncias de classe e hierarquias do cotidiano




Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antônio Carlos Giuliani Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Eraldo Leme Batista Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa

Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Magali Rosa de Sant’Anna Prof. Dr. Marco Morel Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt

©2016 Janaína Vieira de Paula Jordão Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

J251 Janaína Vieira de Paula Jordão Valor-Aparência: Aparências de classe e hierarquias do cotidiano/Janaína Vieira de Paula Jordão. Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 368 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0639-1 1. Classificacão de aparência 2. Classe social 3. Sociedade de consumo 4. Pierre Bourdieu I. Jordão, Janaína Vieira de Paula CDD: 301 Índices para catálogo sistemático: Classes sociais

305.5

Cultura e instituições

306 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal

Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 contato@editorialpaco.com.br


Para Luizas.



Agradecimentos

Esta obra é fruto de vivências e trabalhos enriquecidos por discussões dentro do curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, especialmente com o meu querido orientador, Prof. Dr. Manuel Ferreira Lima Filho, que assina o prefácio deste livro. Ricas discussões foram feitas também pelos Professores Doutores Jordão Horta Nunes (UFG), Francisco Evangelista Rabelo (UFG), Marcia Perencin Tondato (ESPM/ SP) e Carmen Silvia Rial (UFSC) nas bancas de qualificação e defesa. Da mesma forma, novos problemas e olhares foram sugeridos pela grande amiga e Profa. Dra. Maria Luiza Martins de Mendonça (UFG) e Henrique Jordão, que acompanharam de perto toda a trajetória que culminou neste livro e a quem devo eterna gratidão. O agradecimento ao Henrique daria outro livro. À Profa. Dra. Maria Ligia de Oliveira Barbosa (UFRJ), por ser tão inspiradora. Ao Guilherme Borges e à equipe, pela ajuda em campo, à Cynthia Feitosa pela leitura atenta e ao Prof. Dr. Juarez Maia, pelo incentivo desde sempre. E, por fim, agradeço imensamente aos meus amados e guerreiros pais, Zeurith e Célia, e irmãos, Luciano e Leonardo, pelo amor, paciência e torcida; e aos amigos e familiares já citados, mas também outros não menos importantes, como Julliana Araújo e Eleonora Hsiung, pelos respiros borbulhantes e revigorantes.



Sumário

Prefácio.................................................................................13 Introdução............................................................................17 Capítulo 1

Classes e estratificação social...................................................25 1. As classes existem? O conceito de classe social de Pierre Bourdieu................................................................31 2. Habitus, classe e habitus de classe..................................37 3. As relações entre o conceito de classe em Bourdieu e em Marx..........................................................................44 3.1 Campo da produção e campo das práticas..............45 3.2 Posições dominantes, dominadas e luta de classes...........................................................................49 3.3 Antagonismo e consciência de classe.......................52 4. Relações entre os conceitos de classe social de Pierre Bourdieu e Max Weber.....................................................56 Capítulo 2

Classe média: contexto do surgimento e principais características........................................................................65 1. Formação de classes e capitalismo no Brasil..................72 2. É possível falar em “Nova Classe Média”?.....................87 3. Classe média e estratificação social................................92 Capítulo 3

As representações coletivas e sociais......................................105 1. O conhecimento no cotidiano e as representações sociais de Serge Moscovici.........................................................109


Capítulo 4

A mediação da mídia............................................................119 1. Apresentação e representação midiáticas: a classe média e a “nova classe média”......................................................131 2. “Eu quero é que pobre se exploda” ............................149 Capítulo 5

O valor-aparência: a aparência classificada............................161 1. Copresença em locais públicos....................................164 2. O caráter multifacetado do consumo..........................169 3. Os bens como portadores de significados....................176 4. Cercas ou pontes: o consumo e as classificações sociais..........................................................................179 5. O consumo como competência: o consumo adequado......................................................................199 6. A classificação moral das classes..................................214 7. O valor-aparência e o capital social.............................226 Capítulo 6

Caminhos metodológicos.....................................................245 Capítulo 7

Aparências de classe: as relações entre valor-aparência e noções de classe social......................................................................255 1. A aparência imediata: a imagem estática da pessoa classificada....................................................................255 1.1 Higiene, parecer asseada.......................................257 1.2 Roupas apropriadas ao local.................................258 1.3 Estar em bom estado............................................260


2. A conduta: a pessoa em ação.......................................260 2.1 Discrição..............................................................263 2.2 Disponibilidade sexual pela aparência...................265 2.3 Responsabilidade de classe....................................267 3. A noção de classe social..............................................269 4. O valor-aparência em relação à classe social atribuída a alguém.........................................................................274 5. Oportunidades de vida...............................................282 6. O consumo................................................................292 6.1 O consumo da classe popular: “só pra se amostrar”...................................................................297 7. A “Nova Classe Média” existe?....................................302 7.1 Representações sobre a “Nova Classe Média”........309 8. A identificação com as classes sociais..........................315 Discussão e conclusões.........................................................321 Referências...........................................................................341



Prefácio

Nem tão igual assim: aparências, valores e classificações em Goiânia Manuel Ferreira Lima Filho

Nos últimos anos os brasileiros passaram por um contexto social e econômico que os tirou de uma situação inflacionária para um cenário de certa calmaria e fortalecimento da economia – caracterizada por vários programas sociais nomeados de inclusivos pelo Estado. Recentemente o quadro mudou drasticamente e os indicadores inflacionários voltaram fortemente a impactar a sociedade brasileira acompanhados por uma profunda crise política que tem colocado várias lideranças políticas e grandes empresas sob a mira de investigações, desenhando redes quase intermináveis de corrupção que têm colocado em xeque o processo de construção das instituições democráticas no Brasil. Do ponto de vista sociológico tal situação se traduz por um momento metodologicamente estratégico para se pensar como o país se vê, se classifica e se move nesse mundo relacional de valores, aparências e também de discursos. Afinal, a democracia pressupõe a convivência com a diferença, e valores tais como gosto e educação, seguindo uma inspiração de Pierre Bourdieu, têm sido considerados critérios sociológicos avaliadores de como a sociedade se pensa e se classifica na ciranda relacional de pessoas que partilham uma comunidade imaginada como o Brasil, por exemplo. 13


Janaína Vieira de Paula Jordão

Com uma perspicácia de pesquisadora atenta e focada, Janaína Jordão mergulha em buscas de respostas para a sua curiosidade inquietante. De fato estava se configurando uma mobilidade de estratos sociais para aquilo que fartamente a mídia chamou de “Nova Classe Média”? E o que pensa o Brasil por meio de uma de suas cidades – Goiânia – sobre tal mobilidade? As aparências das pessoas são diluídas nessa imaginada ascensão social ou na gramática bourdieusiana – capital social – quando um maior poder de fogo de consumo, impulsionando um maior fluxo de pessoas, aponta para um perfil de sociedade brasileira mais democrática e menos hierárquica? Estamos mais solícitos com a diferença? Quais seriam os critérios de valores adotados pelos classificadores sociais para julgar os outros e por tabela a si mesmos? Janaína apresenta ao leitor seus dados cuidadosamente analisados por categorias conceituais sociológicas importantes como classe e representação social, apoiada tanto por uma “estatística sociológica” quanto pelos extratos das narrativas das camadas sociais atentamente ouvidas pela pesquisadora, que dão um sabor a mais à empreita sociológica. Entre números, tabelas e falas o leitor vai montando o seu quadro interpretativo tendo uma autora que instiga o diálogo com um estilo direto de escrita. Munida por um alto senso de controle de dados quantitativos por meio de entrevistas fechadas em lugares-chave para captar o fluxo das pessoas, como o aeroporto, uma feira popular num bairro nobre da cidade e um camelódromo, Janaína se utiliza ainda de entrevistas abertas, a fim de mapear categorias sociológicas advindas dos discursos das classes média e baixa sobre as classificações de aparência, valor e, dessa maneira, ela vai construindo um espelho que reflete como diferentes estratos da sociedade se veem. Nessa imagem refletida de si e do outro, a sociedade vai perfilando valores como higiene, aparência, educação, comportamento que levam a outras águas classificatórias, como disponibilidade sexual e responsabilidade. E assim as pessoas vão sendo 14


Valor-Aparência: Aparências de classe e hierarquias do cotidiano

classificadas de um polo positivo ao negativo a depender da sua posição inferida pelo classificador na estrutura social: da classe média limpa, educada e discreta à classe popular, apresentada com gosto pelo excessivo, colorido demais e barulhenta. Essa escala de valores sobre a aparência e comportamento vai migrando para quem classifica em valores negativos perspectivados pela sua própria classe. Os inferiores a mim, portanto, são menos educados, menos limpos, mais barulhentos e mais disponíveis sexualmente, por exemplo. O valor-aparência, percepção analítica da pesquisadora, atravessa a cadeia hierárquica de classificações social. E assim, as aparências não enganam tanto assim! A festejada mobilidade de pessoas de classe mais populares a aeroportos, bens de consumo como celulares e linha branca de eletrodomésticos não significa necessariamente uma acolhida igualmente festejada pelas classes mais altas. Afinal, não tem mais graça ir a Nova Iorque, pois o porteiro do prédio da Danuza Leão já podia também assistir aos musicais da Broadway. O aeroporto do Rio de Janeiro, para uma professora de uma universidade daquela cidade, se igualava a uma rodoviária pela presença de um senhor por ela classificado pela aparência, como sendo um popular comum das ruas do Brasil. Embora o poder de consumo seja um indexador diferencial no jogo de classificações encontrado por Janaína, avistando uma possível mobilidade, ou seja, ascensão social, ela nos mostra que a força da ideologia de “cada qual em seu lugar” apresenta a sua eficácia em manter o status quo das hierarquias de classe no Brasil. O leitor ganha, assim, mais um estudo criterioso e de densidade teórica que nos ajuda a compreender melhor quais os caminhos das distinções sociais que ainda trilhamos.

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