A ULTREIA É a realidade de um GRUPO que existe antes, durante e depois do acto da Ultreia. -
O mais importante da Ultreia são AS PESSOAS que constituem eese grupo que habitualmente se reune. Porque Cristo derramou o seu sangue por cada uma dessas pessoas.
- A CRISTO O QUE INTERESSA É A PESSOA ! - Em função do grupo que se reúne, poderemos definir a Ultreia como: - A comunidade espiritual de uns cristãos em atitude de conversão progressiva que, por sentir-se unidos numa só Fé, num só Senhor e num só batismo, se reune para COMPARTILHAR e potenciar mutuamente as suas vidas, a vivência do fundamental cristão, e descobrir e concretizar a nossa maneira de vivê-lo, onde Deus nos colocou, de acordo com a nossa vocação pessoal. - As nossas Ultreias têm uma razão de ser, uma finalidade e um modo de ser. - A sua razão de ser, radica em que, sendo um grupo de cristãos em atitude de conversão progressiva, que nos sentimos unidos numa só fé, num só Senhor e num só batismo, porque somos irmãos e nos sabemos Filhos de Deus, irmãos de Cristo e Templos vivos do Espírito Santo, queremos reunir-nos, porque somos Amigos e mais cristãos. - A finalidade última da Ultreia é a nossa progressiva conversão integral e a descoberta da nossa salvação pessoal, i.e., a vivência autêntica continua e progressiva do fundamental cristão, a maneira comunitária, e a descoberta do nosso lugar na Igreja e no mundo. - Gostaria de salientar que não existe um modelo “oficial” de fazer Ultreias. - Existem, isso sim, critérios. - Compete aos Secretariados experimentar formas de Ultreia diferentes, tendo em conta o nível de crescimento do Movimento em cada local. - Também gostaria de alertar, que às vezes na procura de novos esquemas, se possa transformar a Ultreia em algo totalmente diferente do que deve ser. - Ás vezes pode-se cair apenas numa Escola de Bíblia, Assembleia de oração ou uma simples catequese de adultos. - Por tudo isto irmãos, permitam que vos deixe alguns critérios, para os casos em que achem conveniente realizar novas experiências, sem sair dentro dos objectivos da Ultreia. CRITÉRIOS: - A Ultreia enquanto reunião, é um tipo especial de “CONVIVÊNCIA”. - Esta convivência, constitue de facto, o acto da Ultreia. - Possívelmente não se tem dado à convivência toda a importância que ela deve ter, apesar de dever ser o mais importante da Ultreia. 1
CONVIVÊNCIA - A convivência é o que permite a vivência da caridade fraterna; é o que possibilita o convívio, o que intensifica a amizade. - A convivência é o que nos permite ganhar amizade para compartilhar as vidas, ou seja, o pôr em prática “o tal amor” despertado no Cursilho. - No Cursilho aprendemos e experimentámos a vivência numa pequena comunidade, amando-nos uns aos outros, porque nos sabemos irmãos e comecámos a ser amigos; queremos continuar a reunirmo-nos para reforçar mais esses laços de amigos e irmãos. - As Ultreias permitem viver também, gradualmente esta experiência, com aqueles que não viveram o mesmo Cursilho connosco, e para ir aprendendo a amar não só aqueles que nos amam, dos quais disse o Senhor que isso também o fazem os pagãos. - O proporcionar esta convivência, deve ser o objectivo especial quando planificamos a Ultreia. - Há que estudar a circunstância que facilita a convivência e as que se tornam obstáculo Aqui permitam que chame a atenção para a necessidade de algumas pessoas manterem alguma perspicácia, no que reporta à convivência: - Os responsáveis que estiveram nos Cursilhos de, pelo pemos o Ano Pastoral anterior, verificarem a presença dos que estiveram com eles nos Cursilhos, e conviver com eles; - Se a ausência de alguns se mantiver, dando-lhe uma palavrinha de alento e entusiasmo; - Os vogais de Pós-Cursilho, devem agir na mesma linha, fazendo de quando em vez, uma análise, quer no Secretariado do Centro de Ultreia, quer na Escola de Responsáveis; - Os próprios novos Cursilhistas, devem começar a sentir esta preocupação, particularmente pelos que estiveram com eles no Cursilho, fazendo sentir aos ausentes que sentem a sua falta, - É que “o êxito” de uma Ultreia, depende, muitas vezes, de coisas muito insignificantes, que às vezes nos podem passar despercebidas e em que nós podemos ajudar. - A própria disposição da sala, a sua ornamentação, a colocação da frase do Mês, a distribuição de tarefas pelo maior número possível de irmãos, são factores importante, que também contribuem para uma sã e alegre convivência. - É que, onde existe a convivência, com Cristo no meio, está encontrado o verdadeiramente belo e interessante, que são as pessoas; - Onde a convivência não existe, a nossa actuação será sòmente a de escutar e, ocasionalmente compartilhar alguma vivência; - Onde a convivência existe, falta-nos até tempo para poder conhecer a todos, (quando a Ultreia é grande); 2
- Onde a convivência não se consegue, costuma suceder, que a verdadeira Ultreia se consegue parcialmente depois da Ultreia, quando, nalguns casos, as pessoas ficam então em grupos, quer ainda no salão, ou mesmo no exterior, indo tomar alguma bebida num bar ou café, porque a sua sede de convivência não havia ficado saciada.
O CLIMA DA ULTREIA - Referi atrás, que a Ultreia deve ter um tipo especial de convivência, não uma convivência qualquer. - E um dos elementos desta convivência é o que se chama “O CLIMA DA ULTREIA”. - Este clima, é a “QUALIDADE” da referida convivência. - Poderemos definir este “CLIMA”, como o conjunto de circunstâncias que determinam o grau de penetração de um ambiente. - Clima é, se preferirmos, o ambiente da Ultreia. - As nossas Ultreias devem ter um clima, um ambiente, e este clima é o que as faz adequadas às pessoas para a convivência, num momento determinado. - Num clima de indiferença, de frieza, de desamor, não pode dar-se uma convivência profunda; - Num clima de desunião, de desrespeito ou de hostilidade, quanto maior fôr a convivência, mais desastrosos serão os resultados. - O clima da Ultreia, tem de ser feito de NATURALIDADE, de ALEGRIA, de SINCERIDADE, de ABERTURA, de IGUALDADE, de RESPEITO pela individualidade e originalidade de cada um, TUDO COM MUITA CARIDADE. - É, em resumo, o clima do terceiro dia do Cursilho –o da projecção apostólica-.
A ATITUDE DOS RESPONSÁVEIS - Este clima não é fruto do acaso, deve ser o resultado de uma planificação do Secretariado do Centro de Ultreia, e quando existir, também duma acção conjunta com a Escola de Responsáveis, ou de Formação. - Disse atrás, que o clima era feito de umas atitudes e umas circunstâncias. - Somos nós, com as nossas atitudes, que daremos o clima à Ultreia: - Se chegamos únicamente em atitude de “ver o que se vai passar”, não se passará absolutamente nada; - Se vamos para ver quem vai dar o tema, aborrecer-nos-emos enormemente; 3
- Se chegamos “armados em santos”, iremos tirando à Ultreia o seu clima de naturalidade e sinceridade; - Se chegamos em atitude de desconfiança, tiraremos à Ultreia o seu clima de abertura; - Se julgamos que somos os melhores ou valemos mais que os outros, roubaremos à Ultreia o seu clima de igualdade; - Se nós, -“TODOS-“, chegarmos tristes às nossas Ultreias, as mesmas serão monótonas e tristonhas; Mais coisas poderia referir a respeito das nossas atitudes, mas destacaria apenas mais uma, que me parece especialmente importante:
A NOSSA ATITUDE DE ADMIRAÇÃO: - A nossa atitude de ver com olhos novos as coisas de sempre; - De descobrir em cada irmão o que há de Cristo nele; - De ver inclusivamente nas suas falhas e defeitos, uma oportunidade de o podermos ajudar e de o amar, porque nós também temos os nossos defeitos;
LENDA: No próximo oriente, conta-se que um jovem chegou a um oásis, junto de uma povoação e, acercando-se de um ancião, perguntou-lhe: “Que espécie de pessoas vivem neste lugar ?” O ancião respondeu-lhe com outra pergunta: “Que espécie de pessoas viviam no lugar donde tu vens ?” Replicou o jovem : “Ah ...!, um grupo de egoístas e malvados; estou encantado de me ter vindo embora de lá, gente ruim...” O ancião respondeu-lhe: “O mesmo irás encontrar aqui !” Nesse mesmo dia, chegou outro jovem para beber água no oásis e, vendo o ancião, também lhe perguntou: “Que espécie de pessoas vivem neste lugar ?” O velho voltou a responder da mesma forma: 4
Que espécie de pessoas vivem no lugar donde tu vens ?” “Um magnífico grupo de pessoas honesta, amigáveis, hospitaleiras... custou-me muito ter que deixá-las !” “Pois o mesmo encontrarás aqui !” Respondeu o ancião. Um homem que havia presenciado ambas as conversas, perguntou então ao velho: “Como é possível dar duas respostas iguais a situações tão diferentes ?” Ao que o velho lhe respondeu: “O homem transforma as coisas de acordo com o que leva dentro do seu coração!” - Já referi que o clima é feito de atitudes e circunstâncias. - Ainda que seja repisar um pouco, gostaria de insistir nas circunstâncias, porque às vezes há lugares onde as circunstâncias ambientais são tão difíceis para que possa existir um clima, que se torna quase impossível ter uma ultreia de convivência minimamente agradável. - Poderá haver casos em que as Ultreias sejam tão solenes, que impossibilitem toda a naturalidade e alegria. - Aí, as circunstâncias são capazes de destruir as nossas melhores atitudes. - Às vezes o próprio espaço onde decorre a Ultreia é tão desproporcionadamente grande, comparativamente com o número de participantes, que cria uma sensação de solidão em vez de proporcionar uma atitude de calor e de alegria; às vezes também com ruidos exteriores excessivos, que tornam desagradável a convivência.
IRMÃOS: O mais importante é a atitude com que nós próprios chegamos à Ultreia, e que cada homem ou mulher, transforma a sua realidade consoante aquilo que leva no coração; É a fusão deste clima e destas circunstâncias que tornará possível uma convivência que proporciona a vivência do fundamental cristão na Ultreia, como experiência vital de amor a Deus e ao próximo; A convivência feita nestes moldes, i.e., de amor, de igualdade, de irmandade, de abertura, de alegria, torna possível a partilha de vida assente na verdade e na confiança mútua, porque são as verdades que se compartilham a partir da vida (que é isso que convence), logo a Ultreia é vivencial; A convivência nas Ultreias normalmente realiza-se de maneiras distintas, que passo a referir algumas: 5
A) – CONTACTOS PESSOAIS Toda a Ultreia deve estar programada de modo a que possibilite um tempo para contactos pessoais, porque este tipo de relação não admite substituto, (é o trabalho de corredor do Cursilho), porque cada pessoa é um mundo com problemas pessoais, e supõe um mergulhar na individualidade de cada um, o que não admite generalizações nem soluções maciças. Supõe, uma abertura de nós mesmos, para que permita ao outro mergulhar em nós, e buscar em nós aquilo de que necessita. Se cada pessoa é diferente e tem problemas diferentes, não podemos pretender dar soluções comuns a todos, a partir do acto comunitário da Ultreia, daí a importância do contacto pessoal. Há um slogan antigo dos Cursilhos, que diz que “para ensinar latim ao João, o mais importante não é saber latim; mas conhecer o João”. Para este contacto pessoal, os primeiros a chegar (10-15 minutos antes), devem ser os responsáveis, para fazerem o acolhimento.
B) – REUNIÕES DE GRUPO Há Ultreias que têm reuniões de grupo, outras não, no entanto, é nestes grupos, que, por terem menos pessoas, se torna mais fácil a partilha. Assim, as Ultreias que os têm a funcionar, deverão ter muita atenção a este tipo de convivência, pois é onde, para os mais tímidos, se faz a revisão de vida. Nestas reuniões, os responsáveis ou os mais antigos, são apenas mais um. Se necessário deve tomar a iniciativa, dando testemunho de vida e não normas, conselhos ou sermões; consistirá simplesmente em destapar a sua própria vida e abrir o seu coração para que aquilo que nele houver de Cristo, ilumine os outros, por forma a que também dêm o tal passo em frente. A sinceridade torna possível a abertura. Se não há sinceridade perde-se a abertura e, se faltam as duas, não há convivência ! O que quer dizer que tão pouco haverá Ultreia. Às vezes queremos apenas testemunhar grandes feitos, muito bem ornamentados, recordando factos que talvez tivessem ocorrido à bastante tempo, mas que nos pode tornar mais bem vistos diante dos mais novos; ou estamos apresentando uma vida de Fé, de esperança e de caridade, mais baseados no “deve ser” do que na realidade é. E aí, como não fui sincero e humilde, tão pouco os outros se abrem. Se assim continuar, pouco a pouco vai-se destruindo o clima da Ultreia.
B) – O ACTO DA ULTREIA 6
A ultreia deve ser sempre vivencial, começando primeiramente por quem vai desenvolver o tema (seria conveniente que nos habituássemos a chamar-lhe rolho da Ultreia), o qual à semelhança do que acontece no Cursilho, deve ser sempre ilustrado com pelo menos 2 ou 3 vivências; Às vezes “os monumentalistas” escolhem vivências sangrentas, acontecimentos dramáticos, ou muito solenes, e assim, a Ultreia pode deslumbrar, mas não ilumina, nem compromete, porque o que se pretende é que a reunião apresente um leque de possibilidades. Mas nestes casos o que oferece ? - Uma panorâmica de impossíveis, em que predomina o anormal, o extraordinário; - Onde só se levantam aqueles Senhores que têm uma vivência que faz tremer o Céu e a terra, e o “pobre cristão”, só pode dizer: “Isto não é para mim, que sou um pobre pecador!” Em vez de ter sido entusiasmado, para ir e fazer outro tanto, sai assustado; fica deslumbrado mas não iluminado. O inacessível não compromete, como tão pouco compromete aquilo que é raro. Deverá estar fora da intenção da Ultreia, o orientar a convivência colectiva para sermões, que também têm o seu lugar nos Cursilhos, mas não na Ultreia, nem nos encerramentos. O importante não é saber mais, mas viver melhor aquilo que se sabe. A ULTREIA SERÁ AQUILO QUE NÓS LEVARMOS NO NOSSO CORAÇÃO !
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