Painel de Azulejos figurativos, pintados Ă mĂŁo.
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1. Primeiro símbolo utilizado pelo Partido Socialista, oferecido por Enzo Brunori, militante do Partido Socialista Italiano, Agosto de 1973. 2. Programa do Partido Socialista Português, 1928. 3. Participantes no Congresso da Acção Socialista Portuguesa reunido em Bad Munstereifel, 19 de Abril de 1973, que decidiu fundar o Partido Socialista.
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Sede do Partido Socialista português desde 1975, este histórico edifício guarda as recordações de um tempo antigo e as memórias de um tempo novo - aquele em que, depois de meio século de regime autoritário, se construiu e consolidou uma democracia moderna em Portugal, tendo nesse processo o PS desempenhado um papel fundador e fundamental. Teatro de importantes decisões políticas, algumas delas determinantes na história contemporânea portuguesa, é neste palácio que, actualmente, funciona o gabinete do Secretário-Geral, reúnem os órgãos directivos e estão instalados os departamentos, gabinetes e serviços que constituem a estrutura nacional do PS. Longa e combativa é a história do socialismo português. Desde a criação do primeiro Partido Socialista Português até à actualidade decorreram já mais de
130 anos. Antecedendo a fundação do actual PS, em 1964 foi criada, em Genebra, a Acção Socialista Portuguesa (ASP), reconhecida pela Internacional Socialista, em 1972. Para responder à necessidade de uma intervenção política mais eficaz e visível internacionalmente no combate à ditadura, a ASP, ainda na clandestinidade, decidiu transformar-se em Partido Socialista, a 19 de Abril de 1973, em Bad Munstereifel, na Alemanha, elegendo Mário Soares como seu primeiro secretário-geral. Em Agosto de 1973, foram aprovados o Programa e a Declaração de Princípios que consagraram os valores do Socialismo Democrático - a Liberdade e a Justiça Social. Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, o Partido Socialista desempenhou um papel determinante na consolidação de uma Democracia moderna em Portugal e na integração plena e activa na Europa. Das suas fileiras, saíram já três primeiros-ministros e dois Presidentes da República Portuguesa.
1 1. O Largo do Rato e arredores na Carta Topográfica de Lisboa, 1857. 1 2. Praça Brasil, actual Largo do Rato, 1935. 2 3. Obras Municipais no Largo do Rato, 1957. 2 4. Fachada principal do Palácio Praia, 1970. 2
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Arquivo Arco do Cego / Arquivo Municipal de Lisboa. Arquivo Fotográfico / Arquivo Municipal de Lisboa.
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De linhas austeras no seu traçado, o edifício foi mandado construir de raiz, cerca de 1781, por Luiz José de Brito, Contador do Real Erário e Tesoureiro das Contribuições para a Superintendência das Obras das Águas Livres, em terrenos da antiga Real Fábrica da Louça (1767-1835). Em 1817, foi adquirido pelo 1º Barão de Quintela, Joaquim Pedro Quintela (17481817), e herdado, em 1828, pela neta do Barão, D. Maria do Carmo da Cunha Quintela (1814-1888), Marquesa de Viana por via matrimonial. Durante este período foi objecto de várias modificações internas, de modo a adequar-se às solicitações dos seus novos habitantes. De 1842 a 1855, são construídos novos salões e remodelados outros: inauguram-se o “fumoir de estylo turco, forrado de estofos orientaes” (1842), o “salão de leitura e de jogo” (1843), dividido por um arco e
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sustentado por colunas, com paredes forradas a papel “moiré amarelo” e uma nova sala “mobilada à renaissance” (1855); no salão de baile abrem-se arcos de modo a facilitar a comunicação com os três novos salões (1843). No lado poente (Rua das Amoreiras), conclui-se o acrescento do palácio e constrói-se a varanda do jardim (1852). Já em 1839, o Marquês de Viana havia comprado os terrenos e o edíficio da Real Fábrica da Louça, edificando nesse local o palacete contíguo que foi também acrescentar o Palácio Viana no lado nascente, junto à Calçada de Bento da Rocha Cabral. Nesse edifício, o Marquês construiu uma capela (com traça do arquitecto Joaquim Manuel de Sousa - 1774/1851), mais tarde conhecida como a Capela do Rato, celebrizada nos anos 70, pela vigília de protesto que nela se efectuou contra a Guerra Colonial.
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1. A “Mãe d’ Água” e os Arcos do Jardim das Amoreiras. 2. Avenida de Álvares Cabral. 3. Arco Triunfal do Aqueduto. 4. Rua da Escola Politécnica.
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Entre 1828 e finais de 1860, o Palácio Viana - como passou a ser denominado viveu o seu período áureo, de grande ostentação e sociabilidade, acolhendo nos seus salões a elite social oitocentista e a própria família real. A par dos saraus e espectáculos em que se cantava ópera, sucediam-se os bailes e os jantares onde brilhava a elegância das vestes. As crónicas da época descreveram a opulência das salas, do mobiliário e dos objectos decorativos. Entre estes, destacava-se a baixela em prata dourada que havia pertencido a Catarina da Rússia. As luxuosas festas dos Marqueses de Viana, como as de toda a “sociedade de 1840”, funcionaram quase como um “reduto protegido” da agitação política e social das ruas. Após a ruína dos Marqueses de Viana, o Palácio foi comprado, em 1876, por D. Luís Coutinho de Albergaria Freire (1797-?), 1º Visconde de Monforte. Herdou esta
casa nobre sua filha, D. Maria José Coutinho Maldonado Albergaria Freire, casada com D. António Borges de Medeiros Dias da Câmara e Sousa (1829-1913), 1º Marquês da Praia. A partir dessa data, passou a ser conhecido como Palácio Praia e Monforte. Nos seus interiores sucederam-se importantes programas de valorização ornamental, além de uma nova organização dos espaços. Numa primeira fase o Palácio, abandonado e deteriorado após a ruína dos Marqueses de Viana, foi revitalizado imprimindo-se-lhe uma nova decoração de acordo com os revivalismos de finais do século XIX. São dessa época a reconstrução da Sala Chinesa, cujas pinturas assinalam datas entre 1881/3; a sanca e as sobreportas da Sala dos Brazões onde figuram as armas da família Praia e Monforte, as telas que emolduram a escadaria (1880), e todas as citações herál-
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1. Hall de entrada do Palácio. 2. Corredor com galeria de fotos de dirigentes. 3. Escadaria principal. 4. Sala de reuniões do Secretariado Nacional.
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dicas espalhadas pelas salas, incluindo o brasão aposto no frontão da fachada poente. A partir de 1921 e depois da separação dos dois edifícios por motivo de partilhas, o Palácio adapta-se a um quotidiano centrado na funcionalidade dos espaços. No piso nobre, demolem-se paredes e escadas de serviço, repartem-se salas de modo a permitir a instalação de um escritório, vários quartos, casas de banho, uma sala de jantar, uma cozinha com despensa e copa. Nos outros pisos, cria-se espaço para arrumações e para os vários serviços da casa. O palácio permaneceu na família até ao 4º Marquês da Praia e Monforte, Dr. Duarte António Borges Coutinho da Câmara (1921-1981). Destacado economista,
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1. Sala da Música (auditório com 100 lugares sentados). 2. Salão Nobre, local de reuniões. 3. Sala Chinesa. 4. Gabinete do Secretário-Geral. 5. Gabinete do Secretário Nacional para a Organização.
foi também dirigente desportivo, tendo assumido, em 1969, a presidência do Sport Lisboa e Benfica por oito anos. Este belo edifício, cedido em 1975 e depois arrendado, foi mais tarde adquirido pelo Partido Socialista (31 de Dezembro de 1986) aos descendentes do 4º Marquês da Praia e Monforte, e passou a integrar, desde então, o seu património.
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O edifício situa-se no Largo do Rato, um dos centros irradiadores da cidade de Lisboa e lugar de grande importância histórica e urbanística. Nesta área da capital surgiu o primeiro parque industrial por incremento do Marquês de Pombal e à sombra do Aqueduto das Águas Livres, constituído pela Real Fábrica das Sedas (1757-1855), pela Real Fábrica da Louça (1767-1835) e por múltiplas fábricas subsidiárias. A casa é de uma plasticidade discreta e obedece ainda aos moldes pombalinos. Na fachada principal de 11 vãos, distribuída por dois pisos, a contenção ornamental é apenas contrariada no recorte curvo das molduras das sacadas do piso nobre, nos cunhais de remate e na acentuação do portal central elevado ao vão superior, pela inscrição de uma pedra de fecho na verga.
O amplo átrio com tecto trabalhado em estuque pintado (atribuído ao pintor/ estucador Rodrigues Pita) conduz à magnífica escadaria de aparato que, a partir do primeiro patamar, se reparte em dois lanços. O efeito cenográfico da sua concepção deixa entrever o acesso aos salões nobres, e repete, em jogo de espelhos, as citações heráldicas inscritas nas guardas de ferro, na sanca e nos vãos. Servindo de enquadramento à escadaria, três telas a óleo (c. de 1880) representam o Outono, o Verão e a Primavera. Estão assinadas pelo pintor portuense Joaquim Vitorino Ribeiro (1849-1928). Os apontamentos ornamentais das paredes envolventes, assim como dos três salões nobres, revelam um pendor nitidamente neoclassicizante, muito próprio do gosto oitocentista. No Salão da Música, que hoje é lugar para a realização de reuniões políticas, sociais e culturais, a decoração do tecto e das paredes onde meninos alados segurando instrumentos musicais intervalam com musas esvoaçantes, é uma alusão nítida à música e à dança. O Salão Nobre ou Salão dos Espelhos destaca-se pelo tecto em masseira, totalmente decorado por ornamentos dourados em estuque e gesso, que se estendem, também, às sobreportas e às molduras das paredes. Duas belíssimas colunas torsas, revestidas por elementos vegetalistas onde pousam águias, ladeiam a entrada do salão. Ainda no piso nobre, outras salas exibem o gosto eclético da época, como a Sala Chinesa de portas revestidas a pinturas de motivos orientalistas, relatando cenas do quotidiano. As sobreportas mereceram trabalho elaborado nos painéis em relevo. As colunas, que delimitam os panos murários - em estucaria imitando palhinha -, e a belíssima lareira, são também valorizadas por incrustações de madrepérola e elementos em cerâmica. Este trabalho (c. 1881) tem assinatura do pintor Jorge C. Ferreira Pinto.
A Sala dos Brasões, local de reunião da Direcção do Partido, tem tecto em masseira, e contém, nas sobreportas, os brasões das famílias das casas Praia e Monforte. Os ornamentos do tecto, originalmente em branco e dourado, e recuperados no tempo do Barão de Quintela, sobressaem das tonalidades verde e cinza, adicionadas em data recente. O corredor principal faz actualmente a ligação entre os salões nobres, os gabinetes de trabalho do SecretárioGeral, os dos Secretários Nacionais e o jardim. É revestido por silhares de azulejos, alguns esponjados e de aguadas azuis sobre fundo branco, inspirados em gravuras francesas com motivos das fêtes galantes de Watteau (1684-1721), ou com paisagens marítimas, cenas de caça e, ainda, outros grupos, de molduras policromas onde sobressai o manganés, com putti em movimentações lúdicas. A meio do corredor, uma escadaria secundária de tecto em abóbada com elaborado trabalho em estuque e paredes marmoreadas, conduz aos pisos inferiores. O nicho do primeiro patim exibe, agora, um busto da República. A fachada posterior mantém o recorte curvo nas portadas do corpo central em ressalto, coroado por frontão triangular onde foi aposto, como nota nobilitante, o brasão com as armas das casas Praia e Monforte. Articulase com o jardim numa vivencialidade intimista.
O jardim, disposto em dois níveis, mantém uma relação natural e orgânica com o terreno. No plano superior, a “arca d’água” e o tanque com bica são reminiscências do antigo logradouro do edifício original. No plano inferior, um elegante fontanário com lago circular, centrado no eixo da escadaria, distingue a zona privilegiada do jardim. A dupla escadaria coroada por gradeamento e revestida de albarradas de azulejos policromos, promove a união entre os dois planos. A escolha de alguns motivos do desenho dos azulejos faz apelo à simbologia: águias, alianças e coroas entrelaçadas em apontamentos florais, sugerindo a união das casas Praia e Monforte. O velho Palácio, desabitado desde o seu último ocupante, foi revitalizado quando o Partido Socialista fez dele a sua sede. Preservando a dignidade histórica e artística do edifício revitalizou-o e requalificou-o através da refuncionalização dos espaços, da actualização das suas potencialidades e da valorização da sua dignidade arquitectónica e patrimonial. Este processo tem imposto um programa permanente de preservação e restauro, que tem sido executado e que vai da fachada principal ao jardim. Situada num dos mais centrais largos de Lisboa, nesta bela casa cruzam-se as marcas dos séculos anteriores com as novas tecnologias e a arte contemporânea. Estão presentes as memórias do passado, remoto ou recente, e é nela que se tomam importantes decisões sobre o futuro.
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Pormenores:
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1. Vitral, na entrada do palácio. 2. Sala dos Brazões. 3. Salão Nobre. 4 e 5. Sala Chinesa. 6. Salão da Música. 7. Sala da Caça. 8. Estátua do Chafariz, no jardim.
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A sede do nosso partido no Largo do Rato, um dos centros históricos da cidade de Lisboa, é a casa de família de todos os socialistas. Outras sedes distritais e concelhias não lhe disputam a importância e a centralidade. É um edifício nobre, de excelente traça arquitectónica, dotado de interiores de grande nível funcional e decorativo. O pós-25 de Abril passou por ele. Da sua varanda, e perante o povo que espontaneamente em frente se reunia, festejaram-se as mais importantes vitórias. Nele foram discutidas fundamentais resoluções políticas para o futuro do nosso país. Medidas de defesa e consolidação da democracia após Abril, e de instituição do nosso Estado de Direito. Ali se definiram novos desígnios para Portugal: a opção europeia, designadamente. Ali tem o Secretário-Geral do PS o seu gabinete partidário. Ali se reúnem o Secretariado e a Comissão Nacional do partido. Ali se recebem visitas e delegações, nacionais e estrangeiras.
Ali se comemoram datas e acontecimentos que marcaram a vida do PS, e fazem hoje parte do seu património histórico. Ali se dirigem os militantes em busca de informações, esclarecimentos e soluções para os seus problemas. Quando o tempo o torna convidativo, convívios calorosos têm lugar no seu aprazível jardim. E nas campanhas eleitorais, quando o material de propaganda é indispensável como elemento de trabalho, ali se dirigem os mais diligentes militantes em busca de aliciantes contributos. A galeria dos retratos dos Secretários-Gerais, desde Mário Soares a José Sócrates, e dos Ex-Presidentes, de António Macedo a Almeida Santos, é um registo vivo da vida do PS. Os retratos de Antero de Quental e José Fontana trazem para a actualidade a sua mais remota história. Todas as famílias precisam de uma casa-mãe. Esta é a casa-mãe da família socialista.
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Fevereiro de 2009 Fotografias de Ricardo Oliveira