Cadernos pastorais 5 final

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MĂ­stica e Profecia

Rede Marista


Apresentação O alicerce da Instituição Marista é a espiritualidade, presente desde a interioridade, oração, até as ações educativas e relações fraternas. Nossa forma de vivenciar a mística tem como cerne visualizar e compreender o que nos cerca a fim de intensificar a relação com Deus. O Caderno Pastoral 5 – Mística e Profecia propõe uma reflexão a respeito da interioridade. Estamos vivenciando o Ano La Valla, o terceiro em preparação ao bicentenário do Instituto Marista, tempo em que lembramos a casa de La Valla, primeira comunidade de Irmãos e ícone desse período. O Irmão Emili Turú nos convida a um olhar especial ao subsolo da casa, local que até pouco tempo era oculto aos visitantes. Contemplar o simbolismo desse espaço significa cultivar nossa interioridade. O silêncio, os momentos de oração pessoal e comunitária e a escuta atenta à Palavra de Deus são atitudes que nos levam a ser contemplativos na ação. Essas estão entre as experiências que propomos nesta edição dos Cadernos Pastorais. A ideia é que, a partir do texto de referência, da proposta de encontro de formação, de celebração e das dicas, seja possível contribuir para o fomento da dimensão mística em nossas vidas e em nossos espaços de atuação. Que a Boa Mãe e São Marcelino Champagnat inspirem nossa criatividade!

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Sumário Texto referência Reconhecidos/as pela mística e profecia

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Encontro de formação

Que não haja entre vós senão um mesmo coração e um mesmo espírito

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Celebração

Místicos/as com atitudes proféticas

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Dicas

Danças Circulares

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Fábulas

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Filme

58

Livros

59

Músicas

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Orações

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Poemas

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Publicações

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Textos

80

Vídeos

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Texto referência

Reconhecidos/as pela mística e profecia Contextualização Cada um dos três anos de preparação para a celebração dos 200 anos do Instituto Marista foi inspirado em um ícone (imagem simbólica) para evidenciar características importantes no período. De outubro 2014 a julho 2015 foi o Ano Montagne; de julho 2015 a julho 2016, foi o Ano Fourvière.


Texto referência

O último ano, portanto, foi iniciado em agosto de 2016 e segue até agosto de 2017. O ícone motivador para esse período é a casa de La Valla, composta de três andares: o andar superior, lugar amplo, luminoso, aberto ao mundo e que nos recorda o Ano Montagne e a chamada para nos dirigirmos às fronteiras e às margens; o andar térreo é onde está a mesa de nossas origens, que representa o símbolo da fraternidade entre Irmãos, Leigos/as e Colaboradores/as Maristas chamados/as a construir uma Igreja de rosto mariano, fazendo referência ao Ano Fourvière. O local da casa que está no subsolo é o cerne da reflexão neste terceiro ano. Ao evidenciar o subsolo, é importante lembrar que essa parte da casa, até pouco tempo atrás, estava oculta aos visitantes. O espaço nos convida a refletir sobre a dimensão mística de nossas vidas. O Ir. Emili Turú assim o descreve:

1 Texto do vídeo de apresentação do Bicentenário Marista, disponível em http://maristas. org.br/bicentenario

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É um pequeno espaço no subsolo, descendo as escadas. Simboliza aquele nosso espaço interior habitado pelo Mistério. É o espaço da interioridade, da dimensão mística de nossas vidas. Sabemos que o compromisso com o crescimento espiritual era algo fundamental para o Pe. Champagnat: seu profundo espírito de fé o fazia viver na presença de Deus com toda a naturalidade, seja nos bosques de l’Hermitage ou nas ruidosas ruas de Paris. Viver como ele implica cultivar o silêncio, dar tempo suficiente à oração pessoal e comunitária, colocar-se na escuta da Palavra do Senhor, como Maria da Anunciação. Como ela, que guardava e meditava todas as coisas em seu coração, dispomo-nos a ser contemplativos na ação.1

Ser contemplativo/a na ação implica compreender que vivemos em Deus e Deus vive em nós, somos humano-divinos/as, não há uma separação entre corpo e alma, entre sagrado e profano.

“A mística, contudo, não nasce de nós nem se destina só a nós. Ela é resultado do meu relacionamento com o Espírito de Deus, que me habita e habita o mundo e pode ser experimentada em espaços onde este Espírito se manifesta: no meu quarto, nas montanhas, no deserto, na praia, num livro, nalguma igreja, na comunidade, na eucaristia, numa visita a doentes ou necessitados” (UMBRASIL, 2008, nº 11).

Os espaços sagrados por onde circulamos e as relações que tecemos neles são lugares de sabores e sentidos e se tornam sagrados quando lhes atribuímos sentido, devotamo-lhes carinho e os olhamos com os olhos do coração – quando neles somos pessoas místicas.

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Texto referência

Da II Assembleia Internacional da Missão Marista, que aconteceu em Nairóbi em 2014, vem a inspiração para o título desta edição do Caderno Pastoral. Irmãos/ãs, Leigos/ as, Colaboradores/as reunidos em torno do fogo, símbolo forte para a cultura africana, sentiram o apelo do Espírito Santo e entre os sonhos3 ali intuídos era que Maristas de Champagnat fossem reconhecidos/as como místicos/as e profetas/tizas. Será que crianças, adolescentes, jovens e adultos em nossos espaços de missão nos reconhecem como místicos/as e profetas/tizas?

3 Nosso sonho é que, Maristas de Champagnat, sejamos reconhecidos como: místicos; profetas; homens e mulheres que vivem a comunhão. II Assembleia Internacional da Missão Marista – Nairóbi 2014.

Espaços de missão, mesas de fraternidade

2. Definição encontrada em http://michaelis. uol.com.br/ busca?r=0&f=0&t =0&palavra=Deus acesso em 14/11/2016.

Uma pessoa mística, em tempos de superficialidade e de uma aparente decodificação de tudo e todas as coisas, constitui-se em uma atitude profética. A pessoa mística é aquela que aspira a uma união pessoal ou à unidade com o absoluto, o transcendente, que podemos chamar de Deus, força suprema e cósmica, grande mente universal, ser supremo2, e tantos outros nomes. Para revelar nossa mística e profecia, quem assume o carisma marista encontra-se com o desafio do constante reconhecimento da presença de Deus em nós, nos seres, na comunidade da vida, na natureza, entre outros espaços. Isso faz com que sejamos pessoas com presença significativa, pois estaremos conectados/as com os espaçotempos onde somos chamados a viver.

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Encontrar um assento que proporcione à criança um certo nivelamento com as outras pessoas da mesa, seja em casa ou em restaurante, é símbolo do acesso autônomo ao alimento do próprio prato. Esse ato possibilita a inclusão, o cuidado com quem é mais frágil, o suporte para suprir uma necessidade. Tratar as crianças com dignidade é respeitar os seus direitos. Os espaços de missão marista são como uma mesa. Reúnem adultos, jovens, adolescentes e crianças – e cada um tem o direito de sentar-se à mesa. São espaços de fraternidade, de solidariedade, de partilha, de inclusão, de construção do conhecimento, de protagonismo, de cultivo pessoal, de cuidado integral com a pessoa humana. São locais de vivências que desafiam cada um a dar sentido à vida e a experienciar processos educativo-evangelizadores. 11


Texto referência

Um dos aspectos que nos move a chamar quem está em qualquer um de nossos espaços de missão a sentar-se à mesa é o mesmo que motivou Champagnat em La Valla. Marcelino não olhou para o local onde exerceu sua missão de presbítero como um lugar de acomodação e conformismo (UMBRASIL, 2008, nº 99). Viu, ali, um espaço no qual revestiu-se de entusiasmo pela causa do/a outro/a, do/a pobre, do/a humilde, de apelo à vida, e “vida em abundância” (Jo 10, 10). Chamou companheiros e, de modo organizado e dedicado, moveram-se em vista de um mesmo propósito, lançaram-se a construir outras possibilidades que não fossem aquelas que sentenciavam à morte os que pouco têm. Então, o que tem de mística e profecia o fato de compreender os espaços de missão marista como uma mesa? Vamos a alguns indicativos:

Acreditar em um futuro melhor

4 Cf. https:// www.youtube. com/ watch? v=YdqfH3EShCk

Nossa atuação está permeada de esperança. Por mais desafiantes que sejam as realidades em que estamos inseridos/as, acreditamos que nosso agir tem em vista algo melhor, porque somos seres de esperança. E a nossa esperança, como diz o filósofo Mário Sergio Cortella4, é do verbo esperançar que se configura dinamicamente, é ativa, vai em busca, faz algo para que as coisas não tão boas sejam melhores. Nossa esperança é firme, proativa e não esmorece, pois nasce da fé no Deus de Jesus de Nazaré. Nesse sentido, para quem optou pela fé cristã, recordamos que “o cristão do futuro, ou será místico ou não será cristão”. Essa frase de 1965, cunhada pelo teólogo católico Karl Rahner, no livro Cristãos do futuro, aponta para uma reflexão necessária. 12

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Texto referência

Quero colocar-me na situação de um cristão comum do futuro, particularmente o de um Leigo, e perguntar o que especialmente o afeta (...). Não importa se a situação ocorrerá daqui a 20, 30 ou 100 anos. (...) Nessa data futura haverá comunidades cristãs por todo o mundo, embora não distribuídas uniformemente. Por toda parte, haverá um pequeno rebanho, porque a humanidade cresce mais rapidamente do que a cristandade e porque os homens não serão cristãos por costume e tradição, por causa das instituições e da história, ou por causa da homogeneidade de um ambiente social e opinião pública, mas (...) serão cristãos apenas por causa de seu próprio ato de fé, obtido numa luta difícil e continuamente reconquistado. O estágio da história humana será mais uma unidade simples do que já é; todos serão vizinhos de todos, e a ação e a atitude de cada um contribuirá para determinar a situação histórica objetiva de todos. E “cada um” significa cada nação, civilização, realidade histórica e, proporcionalmente, cada indivíduo (...) tudo interagirá historicamente. E visto que os cristãos formarão apenas uma minoria relativamente pequena, sem campo de existência histórica independente, eles, embora em graus variados, viverão na “diáspora dos gentios”. Em nenhuma parte haverá “nações católicas” que coloquem uma marca cristã sobre as pessoas antes de qualquer decisão pessoal. Por toda parte, os não cristãos e os anticristãos terão plenos e iguais direitos, e talvez possam, pela ameaça e pressão, contribuir para dar à sociedade seu caráter e até mesmo crescerem juntos em poder e jurisdições como sinais e manifestações do anticristo. E onde quer que, em nome da necessidade de educação e organização uniforme, o Estado, ou talvez o futuro superEstado, estabeleça por imposição uma única ideologia, com todos os meios de pressão e formação modernas de enormes multidões de pessoas, não será uma filosofia cristã que será proclamada como ideologia oficial da sociedade. Os cristãos serão o pequeno rebanho do Evangelho, talvez respeitado, talvez perseguido, talvez dando testemunho da santa mensagem de seu Senhor com voz clara e respeitada no coro polifônico ou cacofônico do pluralismo ideológico, talvez apenas em uma voz baixa, de coração para coração. 14

Eles estarão reunidos ao redor do altar, anunciando a morte do Senhor e confiando às trevas de sua própria sorte uma escuridão de que ninguém será poupado mesmo no superEstado de Bem-Estar do futuro - às trevas da morte de seu Senhor. Eles saberão que são como irmãos e irmãs um do outro, porque haverá poucos deles que não têm por sua própria decisão deliberada fixada em seu próprio coração e vida em Jesus, pois não haverá vantagem terrena em ser um cristão. Eles certamente preservarão fiel e incondicionalmente a estrutura de sua sagrada comunidade de fé, esperança e amor, a Igreja, como é chamada, como Cristo a fundou. Eles certamente farão uso livre de tudo que o futuro lhes oferecer em termos de organização, comunicação de massa, tecnologia etc. A Igreja tem sido conduzida pelo Senhor da história para uma nova época. Ela dependerá em tudo da fé e do santo poder do coração, pois ela não será mais capaz de extrair alguma força, ou muito pouca, do que é puramente institucional, e que não mais sustentará o coração das pessoas, mas a base de tudo que é institucional será o próprio coração das pessoas. E assim eles perceberão que são irmãos e irmãs, porque no edifício da Igreja cada um deles, quer ocupando o ofício, ou sem ofício, dependerá sempre do outro, e aqueles no ofício, reverentemente, receberão toda obediência dos outros como um maravilhoso dom livre e amoroso. (...) Será claro e evidente ver que toda dignidade e todo ofício na Igreja é serviço não convencional, não levando consigo honra aos olhos do mundo, não tendo importância na sociedade secular. Mais aliviado de tal responsabilidade, talvez (quem sabe?), não mais constituirá uma profissão no sentido social e secular. A Igreja será um pequeno rebanho de irmãos da mesma fé, da mesma esperança e do mesmo amor. Ela não se orgulhará disso e não pensará de si mesma como superior às épocas mais antigas da Igreja, mas obediente e agradecidamente aceitará sua própria época como a que é designada para ela por seu Senhor e por seu Espírito, e não meramente que é forçada a ela pelo mundo perverso (RAHNER, 2004, p. 78).

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Texto referência

Ser místico/a diz respeito ao cultivo da oração, da meditação e da contemplação que encontram na vida cotidiana os sinais do Espírito Santo. Essa experiência de interioridade a partir da realidade de cada um leva a descobrir Deus, é impulso para a profecia, entendida como denúncia e anúncio. Estamos nesse tempo futuro, 51 anos depois, e quem confessa a fé cristã é provocado/a a deixar-se tocar pelo mesmo Espírito que moveu Jesus. Para isso, é necessário superar o orgulho e, humildemente, importar-se com aquilo que de fato faz sentido. Aspectos que, muitas vezes, são suaves toques da alma em nosso coração. Para nos mantermos fieis à fé cristã, trilhando sendas dos passos de Jesus, precisamos ser míticos/as. Como chegar a isso?

Mobilizar os sentidos em vista da vida em plenitude Irmãos, Leigos/as e Colaboradores/as são convidados/ as a ser cidadãos/ãs planetários/as, sensibilizados/as com a terra agredida, os rios machucados, a destruição de florestas perto e longe de si e a poluição do ar. Somos chamados/as a cuidar da existência e da vida de todos os seres que compartilham conosco a aventura de ser, também, natureza (FRANCISCO, 2015, nº 6). Em nossos espaços de missão, temos o desafio de sensibilizar as pessoas para a complexidade da vida, seus detalhes, suas dinâmicas, seus gritos. Para isso, dependerá de que cada um/a de nós vá, primeiro, onde pretende que os/as outros/as estejam. Ou seja, se queres que seus/suas educandos/as ou estudantes sejam éti-

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Texto referência

cos/as, testemunhe a eticidade; se queres estudantes comprometidos/as com a superação das injustiças, promova debates e formulação de consensos; se queres um ser humano novo, mostre que é possível transformar-se e reinventar-se a cada dia; se queres um ser humano amoroso, paute tua vida na fraternidade e solidariedade. Que cada um/a responda sincera e pessoalmente: como torno-me um ser humano equilibrado e que testemunha, a partir da minha própria vida, o que discurso?

Para mobilizar os sentidos, um exercício que nos fará ser reconhecidos como místicos e profetas pode ser aquele que nos introduz na lógica de escutar e agir mais do que falar e esperar que outros/as façam. Um caminho para que tenhamos nossos sentidos mobilizados é a slow movement (movimento desacelerado), prática silenciosa que se apresenta como possibilidade neste contexto.

Todos/as os/as grandes místicos/as, cristãos/ãs ou não, podem nos ajudar nessa busca. Eles/as tornaram-se referências porque o que diziam era visível pelo forte argumento de suas vidas. De uma forma ou de outra, tinham os seus sentidos mobilizados e se entregavam longamente em exercícios para se perceberem envolvidos/as pelo grande silêncio.

“Desafia a cultura da velocidade, da acumulação, do frenesi, da quantidade sobre a qualidade. Não para tentar impor o seu contrário, mas para repor equilíbrio nas diferentes áreas da vida. Esse movimento pretende proteger um bem escasso que é transversal a tudo o que fazemos — o tempo —, interrogando-se sobre como o gerimos e o que fazemos dele. Não se trata de recusar as tecnologias, as conquistas ou aspectos positivos da globalização, mas de os tornar aliados no objetivo da sustentabilidade. Não se trata de fazer a apologia da lentidão ou de encarar o trabalho de maneira negativa, mas sim de enaltecer o revigoramento que pode surgir quando se vive segundo um modelo em que se sabe quando é necessário abrandar ou acelerar, não deixando que o desacelerar se torne estagnação, nem que a hiperatividade se torne obsessão”.5

Quantas vezes Marcelino deve ter colocado o coração de joelhos para discernir, em um silêncio profundo, qual era a vontade de Deus diante de decisões significativas?

“No silêncio das árvores, ainda há o agitar dos ramos movidos pelo vento. No silêncio das águas, ainda há o cantar da correnteza, atravessando as pedras. No silêncio dos céus, ainda há o cintilar das estrelas, carregado de mensagens. Não basta não falar para atingires o silêncio. Enquanto os cuidados te agitam ainda não penetraste na área do grande silêncio. E aí, somente aí, se escuta a voz de Deus” (RAMPON, 2013, p. 398).

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5 Para saber mais, buscar em: https:// www.publico. pt/sociedade/ noticia/trabalharmenos-trabalharmelhor-1704803, acesso em 16/09/2016.

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Reconhecer o mistério no cotidiano da vida A música Mistérios6, do cantor popular Zé Vicente, ajuda-nos a lembrar e reconhecer que nem tudo na vida é explicável, e é bom que assim seja. Diante da morte, talvez seja o momento onde mais somos lançados/as a silenciar, pois as explicações são frágeis como a vida. O dia em que cada um de nós deixará de viver nessa vida é uma realidade que se agiganta como mistério diante da pequenez da inteligência humana.

Assim, não conseguir desacelerar por decisão consciente e espontânea pode nos levar a fazê-lo forçadamente pelo stress, depressão, somatizações, doenças que nos parecem inesperadas. No fundo, muitas enfermidades são resultado de uma certa desatenção aos ritmos que empreendemos no dia a dia. Uma vida conduzida pelo acaso é espaço fértil que contribui para a fragmentação e transformação da vida em uma realidade nebulosa onde os sinais vitais de Deus passam despercebidos. Afinal, qual é o real propósito de cada ser humano nessa existência?

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A vida é envolvida de mistérios e, diante deles, uma atitude saudável é silenciar, deixar que o estado orante prevaleça e a contemplação ganhe espaço diante da ânsia de codificar, rotular, nomear e responder a perguntas não feitas. Jesus foi mestre nessa prática. Diante do cego Bartimeu, fez uma pergunta: o que quer que eu faça por você? (Mc 10, 51). No caminho de Emaús (Lc 24,15), caminhou, ouvindo em silêncio o relato dos discípulos que andavam desanimados diante da, até então, morte de seu mestre (Lc 24,19-24). Ao mergulhar no silêncio, o mistério tira a ânsia por explicações e nos lança no terreno da novidade, do inesperado e de sonhar com algo inédito.

6 Encontrada em https://www. youtube.com/ 7 Papa Francisco explica como se faz a oração de contemplação. Artigos da Rádio Vaticano. Roma, 2015. Disponível em http://pt.aleteia. org/2015/02/03/ papa-franciscoexplica-como-sefaz-a-oracao-decontemplacao/ > Acesso em 13/10/2016. watch?v= ZzPAdvls8Mg acesso em 30/09/2016.

Faz parte do mistério deixar-se envolver pela contemplação. Contemplar, segundo Papa Francisco7, ajuda-nos a viver da substância do Evangelho. A oração contemplativa nos faz manter o olhar fixo em Jesus e a nos envolver no mistério de Deus, pois é um modo de

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participar do Seu poder criador. Para essa prática, basta pegar o Evangelho, ler e imaginar-se na cena, visualizar o que acontece e conversar com Jesus, em um diálogo que brota do coração. Da mesma forma, podemos contemplar vivências de Marcelino Champagnat. Imaginar que estamos em La Valla, como ele esteve, é um convite à experiência de mobilidade. Nosso destino é sair de La Valla, descer a montanha e nos colocarmos a caminho. La Valla é o espaço interior habitado pelo mistério. O espírito de La Valla não é de permanência infinita ali, é momento transitório, mas só pode ser compreendido assim, se houver escuta ao convite para sair. E os convites para sair dependerão do quanto nossos sentidos estiverem mobilizados para nos perceber e perceber os problemas sociais próximos ou distantes. É justamente na realidade, na qual também estamos, que encontraremos traços reveladores de Deus, e esses nos farão retornar para a interioridade, reunir forças e continuar a luta em defesa da vida.

Perceber o sagrado sentido das coisas Uma pessoa mística não é aquela que reza porque está prescrito como norma em sua rotina, mas porque compreende que a espiritualidade precisa de cultivo. Também não é aquela pessoa que pensa que somente rezando é que se cultiva a espiritualidade. Até porque existem muitas pessoas piedosas que são duras de coração no trato diário com as pessoas e com tudo quanto se relaciona. O segredo da pessoa mística está em olhar para o que vê com os olhos de Deus e se perguntar: o que Deus está pedindo de mim aqui onde estou? Nesse sentido, não há momento, lugar ou situação em que não seja possível perceber a dimensão divina na cotidianidade da vida.

Querer entender o ser humano, ignorando aquilo que é mistério, é o mesmo que querer entender um peixe sem considerar a água na qual está imerso/inserido. Para viver consciente dos mistérios que compõem a vida, precisamos mergulhar nas inspirações da relação Trinitária. Supõe suspirar desejosos/as de que possamos viver com as pessoas próximas, tamanha comunhão, tão grande fraternidade e harmoniosa fidelidade aos impulsos daquilo que nos faz genuinamente humanos.

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8 Os passos para o exercício da presença de Deus segundo o Pe. Champagnat consistia em: “1º - Conservar-se no estado de graça, vigiar pensamentos, palavras e toda a conduta para nada dizer, nem fazer que fira a consciência e desagrade a Deus; combater as tentações com este pensamento: DEUS ME VÊ; 2º - Oferecer todas as ações a Deus e procurar em tudo sua maior glória; 3º - Rezar frequentes orações jaculatórias durante o dia, mesmo durante a noite nos intervalos do sono; 4º - tomar Jesus Cristo como modelo nas ações; lembrarse de suas virtudes, sofrimentos, sua maneira de tratar com os homens, aplicando-se em falar e agir como Ele fez, ou faria em semelhante ocasião; 5º - contemplar Deus nas criaturas,

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Uma vida reconhecidamente mística, para este tempo, é aquela que pratica o amor-serviço ao modo de Jesus. Revela-se mística aquela pessoa que tem o desejo de orar sem se incomodar com longos períodos, mas que, de igual modo, empenha-se em equilibrar o tempo dedicado à oração com o tempo qualificado para a comunhão com os outros seres; em sentir a presença de Deus em nós e entre nós, não como presença purificadora, mas unificadora e iluminadora. Em certa medida, perceber Deus em tudo e que somos portadores/as Dele nos dá uma capacidade maior de ter paz interior nos momentos mais difíceis da vida. O Irmão Ivo Strobino nos oferece um exercício de transposição da presença de Deus, da época de Marcelino8 em que, provavelmente, Deus era situado no além, no céu, para a presença de Deus aqui, dentro da gente.

Perceber o sagrado sentido no cotidiano é estabelecer uma relação de amor que impacta profundamente o modo de a pessoa se relacionar. É admitir a atração em deixar-se conduzir pelas inspirações do Espírito Santo. A pessoa mergulhada em Deus esforça-se para tornar-se aquilo que ama a ponto de ser comum em si o pensamento: “já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós.” (ICor 6, 19) No fundo, a pessoa reconhece que ela é um lugar sagrado, templo e morada de Deus.

louvá-lo e bendizêlo pelos serviços que elas nos prestam, confiar na Providência, submetermo-nos a seus desígnios em todos os acontecimentos, sejam quais forem, e esperar dela somente o socorro em nossas dificuldades e precisões” (FURET, 1999, p. 297). Para aprofundar o tema sobre o exercício da presença de Deus, orienta-se o estudo do Capítulo Quinto da obra Vida de São Marcelino José Bento Champagnat.

“Tomo consciência de que a presença de Deus está em mim, não está fora de mim. Então o meu exercício da presença de Deus é o exercício de voltar-me, de vez em quando, para o meu interior, para o meu coração, onde está a presença amorosa, silenciosa e orante do divino Espírito Santo. Isso é fazer o exercício da oração interior.” (GRUPO MARISTA, 2016, p. 86)

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Texto referência

O exercício da presença de Deus era uma das práticas de oração que São Marcelino Champagnat priorizou na vida pessoal e recomendou com insistência aos primeiros irmãos (GRUPO MARISTA, 2016, p. 84). Se seguirmos esse exercício, de reconhecer Deus como presença aqui ou em situações distantes, seremos desafiados/as à profecia. Aquela pessoa morta por uma bomba na Síria, ou aquele canto de floresta que queima na Amazônia, ou o lixo exposto em terrenos baldios, ou o esgoto jogado nos riachos sem tratamento, ou os milhares de jovens vitimados pela violência, diz respeito a mim.

Admitir nossa fragilidade

Então, toda e qualquer situação que fere a dignidade da comunidade da vida ou da ecologia integral é imperativa para erguer a voz e denunciar profeticamente as mais sutis formas de injustiça.

Podemos constatar que, embora o mundo contemporâneo tenha tido grandes avanços em diferentes aspectos da ciência e da tecnologia, dando vazão ao antropocentrismo, há um veemente clamor pelo resgate da centralidade da ternura, da compaixão e do cuidado.

Há uma dimensão nos seres humanos que não se pode compreender por meio da razão calculista, analítica e objetivista: o sentimento, a capacidade de emocionar-se, de estabelecer empatia com o que está ao seu redor, de envolver-se, de mobilizar-se diante do/a outro/a, bem como a fragilidade e impotência frente à sua própria natureza.

Necessitamos cuidar e ser cuidados/as. Somos interdependentes e estamos intrinsecamente ligados em relação com cada elemento da complexa teia da vida. A consciência da fragilidade brota da convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo. De que somos seres inacabados/as, que não podemos tudo sozinhos/as. Ao pedir ajuda ou no fato de ajudar alguém, a alma se expande e nos lança ao conhecimento de que aquilo que temos não é nosso, pois “adotamos um estilo de vida simples em nível pessoal e institucional. Procuramos ser autênticos e humildes, reconhecendo nossas potencialidades e limitações. Tratamos a todos com respeito, suscitando o que há de melhor em seus corações” (REDE MARISTA, 2015, p. 37). Cabe aqui a pergunta: o que nos torna fortes? 26

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Texto referência

O apóstolo São Paulo reconhece que, “quando se é fraco, daí é que se é forte” (2 Cor 12,10). Que lógica é essa, afinal, onde “quem se humilha será exaltado/a e quem se exalta será humilhado/a?” (Mt 23, 12). Sem dúvida, precisamos refletir sobre o que é ser forte. De um modo geral, atribuímos o conceito de forte a uma pessoa quando ela tem muito dinheiro, um grande número de empregados/as, é proprietário/a de muitas terras, tem uma grande frota de automóveis ou outros bens. Porém, será que, de fato, isso define a força de alguém? Dom Helder Câmara diz:

9 Frase de Dom Helder Câmara, do livro Mil razões para viver disponível em http://anaecond. blogspot.com. br/2011/06/sotem-braco-fortequem-sustenta-flor. html, acesso em 16/09/2016. 10 Disponível em https://celiarangel. blogspot.com. br/2012/10/ educador-marista. html, acesso em 16/09/2016.

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“Só tem braço forte quem sustenta a f lor. Não creias na força de quem bajula os fortes e de quem humilha os fracos. De quem não sorri diante de crianças brincando. De quem não tem olhos para a beleza e é incapaz de parar, mesmo na maior pressa, para contemplar uma f lor.”9

Parece então que ser forte reside justamente em poder permear a vida com a supremacia da simplicidade. Quem, então, é capaz de fazer a mística e a profecia acontecer nos espaços de missão marista? Na poesia10, do Irmão Lauro Daros, está uma resposta e sugerimos que a leitura seja feita substituindo a palavra educador pelo seu próprio nome.

Educador Dedicar-se à profissão certa é um dos meios de ser feliz. O educador demonstra isso pelo brilho nos olhos e pelo prazer natural de se doar à missão educativa. O educador faz do trabalho uma arte. Há encanto em levantar, exercitar os sentidos, esperar pelo sol ou pela chuva, envolver-se com as pessoas, aprender sempre e partilhar sabedoria. O educador traz magia e beleza dentro de si e as projeta sobre as pessoas e sobre o ambiente de trabalho. Mesmo que a política esteja corrompida, que a ciência seja falível, que a economia gere insegurança, que a religião não dê todas as respostas, que as pessoas decepcionem, o educador se mantém saudável e distribui esperança. A pressão psicológica para manter o status, garantir o bem-estar da família, educar os filhos, honrar os compromissos sociais, proteger-se das violências, acompanhar a velocidade do conhecimento, é uma situação desleal à vida, mas o educador crê na transcendência e sabe que o fim último é Deus.

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Texto referência

O educador sabe que a vida não é linear e sabe que a condição humana é frágil. Por isso, cultiva a espiritualidade, a ética, a solidariedade. O educador é mais que cidadão: torna-se cidadão planetário. Sensibiliza-se com a Terra agredida, cuida da existência e da vida. O educador é chamado a existir e a viver para amar, sonhar, criar, conviver com todos os seres, maravilhar-se com a beleza da Terra e encantar-se com a vida, que é breve e sagrada, presente gentil de Deus. Como a Boa Mãe, o educador marista vive a bondade, a delicadeza, a ternura e torna o espaço físico agradável, acolhedor, seguro. Como Champagnat, o educador marista cultiva a mente das crianças e dos jovens com bons valores e semeia sonhos em seu coração!

11 Cf. Preâmbulo da mensagem final da 2ª. Assembleia Internacional da Missão Marista – Nairóbi 2014.

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Enfim, para sermos reconhecidos/as como místicos/as e profetas/tizas precisamos ver o mundo com os olhos misericordiosos de Deus; ser a Igreja do Avental, colocando-nos a serviço; caminhar com, pois, para irmos longe, importa que caminhemos juntos/as11.

Bibliografia BÍBLIA SAGRADA (1990). Edição Pastoral. São Paulo: Paulus. FRANCISCO (2015). Sobre o cuidado da casa comum – “Laudato Si”. São Paulo, Paulinas. FURET, Jean-Baptiste (1999). Vida de São Marcelino José Bento Champagnat. São Paulo: Loyola, SIMAR. GRUPO MARISTA (2016). Sobre a oração: Irmão Basílio Rueda. Curitiba: Champagnat. RAHNER, Karl (2004). O Cristão do Futuro. São Paulo: Cristã Novo Século. RAMPON, Ivanir Antônio (2013). O caminho espiritual de Dom Helder Câmara. São Paulo, Paulinas. RED INTERAMERICANA DE ESPIRITUALIDAD MARISTA (2014). La Valla: ícone da relação – identidade marista. Disponível em http://maristas.org.br/bicentenario/subsidios, acesso em 27/10/2016. REDE MARISTA (2015). Plano estratégico da Rede Marista 2015-2022 – documento de referência. UMBRASIL (2008). Caminhos da educação e amadurecimento na fé: a mística da Pastoral Juvenil Marista. SP: FTD.

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Encontro de formação

Que não haja entre vós senão um mesmo coração e um mesmo espírito. (Champagnat, 1840, testamento espiritual)

Apresentação A proposta é de que este momento formativo possibilite uma vivência mística e profética, contribuindo para uma experiência de profundo encontro conosco mesmo, com os/as outros/as, com a criação e com o transcendente. Outrossim, visa a uma formação integral, contemplando as nossas diversas dimensões enquanto seres humanos.


Encontro de formação

Materiais: imagens de São Marcelino Champagnat e da Boa Mãe, imagens/fotos de partes do corpo (cabeça, olhos, ouvidos, boca, nariz, mãos, pernas, pés, braços, tronco), papel pardo, folhas de oficio, canetinha, giz de cera, lápis de cor, post it, rádio ou aparelho de som (notebook que reproduza as músicas), folhas com as músicas, bíblia, vela, espelho, fósforo e pano. Pode-se propor aos participantes que tragam um lanche para partilha.

Preparação Propiciar um ambiente que possibilite a atividade em grandes e pequenos grupos. Deixar as imagens/fotos de partes do corpo suspensas. Colocar, ao centro, um espelho virado para baixo, bíblia, vela e pano.

Desenvolvimento CHEGAR Espalhar várias imagens do corpo humano pela sala e colocar música ambiente. Convidar todos a caminharem ao entorno, observar, escolher uma e parar diante dela. Conversar com o grupo formado diante da imagem o motivo da escolha e o significado para si.

OLHAR Dividir os participantes em pequenos grupos com materiais diversos à disposição para que, em uma folha de 34

ofício, eles possam desenhar um corpo de uma pessoa e colocar (escrever ou desenhar) o que é necessário para essa pessoa viver. É interessante que a atividade seja feita ao som da música É preciso saber viver, do Titãs. Após, os participantes partilham para o grande grupo sobre o que refletiram.

DISCERNIR Sugestão de reflexão a partir da leitura de 1Cor 12, 4-30: “Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; 35


Encontro de formação

a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer. De fato, o corpo é um só, mas tem muitos membros e, no entanto, apesar de serem muitos, todos os membros do corpo formam um só corpo. Assim acontece também com Cristo, pois todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo, quer sejamos judeus ou gregos, quer escravos ou livres. E todos bebemos de um só Espírito. O corpo não é feito de um só membro, mas de muitos. Se o pé diz: Eu não sou mão; logo, não pertenço ao corpo, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. E se o ouvido diz: Eu não sou olho; logo, não pertenço ao corpo, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfato? Deus é quem dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. Se o conjunto fosse um só membro, onde estaria o corpo? Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo. O olho não pode dizer à mão: não preciso de você; e a cabeça não pode dizer aos pés: não preciso de vocês. (...) se um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros participam de sua alegria. Ora, vocês são o corpo de Cristo e são membros dele, cada um no seu lugar. Aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas;

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em terceiro lugar, mestres... A seguir vêm os dons dos milagres, das curas, da assistência, da direção e o dom de falar em línguas. Por acaso, são todos apóstolos? Todos profetas? Todos mestres? Todos realizam milagres? Têm todos o dom de curar? Todos falam línguas? Todos as interpretam?”

ASSUMIR Convidar os participantes para que se sentem no chão, formando um grande círculo e partilhem, de forma espontânea, as seguintes questões a partir desta reflexão da Palavra: O que ela nos provoca? O que nos inspira? Como traduzir esta passagem no dia a dia, nas nossas relações e onde estamos envolvidos/as? Montar uma mandala com o papel pardo de fundo e com cada corpo (individual). No centro colocar o que fica como mensagem que levamos dessa reflexão. Qual nossa profecia?

CELEBRAR Realizar um momento de relaxamento, percebendo o corpo, suas dores, alegrias, sentindo-o. Fazer uma viagem interior, identificando sinais que contribuem para um maior conhecimento sobre nós mesmos/as percebendo-nos por dentro, o que queremos nos dizer? Qual são as nossas orações pessoais? Com quem gostaríamos de estar conversando agora? Somos seres que nos completamos com o/a outro/a, o que tenho em excesso que posso dar para o/a outro/a e o que preciso do/a outro/a para me completar. 37


Encontro de formação

AVALIAR Qual o ensinamento que adquirimos a partir da vivência realizada?

DESPEDIR-SE A partir da reflexão da integralidade, do completar-se e complementar-se com nossas relações com o universo, com o planeta, com a sociedade, com o/a outro/a, com o transcendente, comigo mesmo/a, propor uma dança circular para sintonizarmos, harmonizarmos com o Deus que vive em ti e habita em mim.

Madre terra, Pachamama https://www.youtube.com/watch?v=YjpdYgdcmb8

Passos da dança para inspirar-se: https://www.youtube.com/watch?v=WK_lyFwRmoU

Encerramento Possibilidade de concluir este encontro com a música Somos uno (Axel), que representa a reflexão proposta e finalizar com a frase dita por Champagnat no seu testamento espiritual “Que não haja entre vós senão um mesmo coração e um mesmo espírito”.

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Somos uno (Axel) Yo soy lo que soy no soy lo que vê Yo soy mi futuro y soy mi ayer Y hoy son tan sólo este amanecer Y los ojos que te vieron nacer Soy tan simple que casi ni me vê Yo soy lo que soy no soy lo que vê No soy cuna de oro ni simple moisés Soy el desamparo del corazón De aquel que pelea y no tiene voz Soy la mano que te quiere ayudar No hablo solo de mí cuando digo que soy Te hablo de ese lugar donde nace el amor que sueñas Somos tan distintos e iguales Somos el que siente y el que no está Somos tan distintos e iguales Todos somos uno con los demás La piedra y el río, el cielo, la flor Todos somos uno con los demás El lobo, el cordero, y el mismo Dios Todos somos uno Yo soy lo que soy no soy lo que vê Soy mi pasado y soy mi después Soy libre y dichoso por elección Soy un loco inquieto pidiendo paz Soy la mano que te quiere ayudar No hablo solo de mí cuando digo que soy Te hablo de ese lugar donde nace el amor que sueñas

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Celebração

Místicos/as com atitudes proféticas


Celebração

Orientações: • Esta é uma sugestão de celebração inspirada no Ano La Valla, que compõe as comemorações do Bicentenário Marista; • É uma Celebração Eucarística, que pode ser adaptada para Celebração da Palavra; • É importante que se leve em consideração a realidade de cada Unidade, assim como os/as interlocutores/as, o espaço físico etc; • Preze pelo aspecto vivencial da proposta; • Os comentários antes de cada momento são propostas de condução e sinergia do momento. Não são, necessariamente, para serem lidos, servem como inspiração/sugestão para condução;

• Seria interessante reservar um tempo para os ensaios dos cantos sugeridos ou outros que venham compor a celebração.

Ambientação: Organizar o espaço para que se construa um ambiente de oração, de tranquilidade, que possa motivar a serenidade. Música ambiente ao estilo de Taizé12 também poderá contribuir para esse clima: www.youtube.com/watch?v=k95tnMUvwVY.

Materiais para os momentos: Para o pedido de perdão: Imagens de situações onde a natureza está sendo agredida, que representam o extermínio da juventude negra, a violência contra as mulheres, entre outras situações que atentam contra a vida.

12 Taizé é uma comunidade ecumênica Cristã situada na pequena aldeia de Taizé, no sul da Borgonha, França. Uma das características dessa comunidade é o estilo único de música contemplativa que reflete a natureza meditativa da comunidade. A música de Taizé foca frases simples, usualmente linhas de salmos ou outros trechos da Bíblia, repetidas e algumas vezes cantadas em cânone. Definição disponível em http://olharemtaize. blogspot.com. br/2012/04/ comunidadede-taize_04. html, acesso em 14/11/2016.

Para o ofertório: Organizar previamente símbolos para o ofertório que são significativos e geram vida para a Unidade, grupo, comunidade.

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Celebração

Ritos Iniciais Proposta de condução: Convidar as pessoas para relaxarem, concentrarem-se, tomarem consciência de si, do momento celebrativo-orante, de entrega ao Senhor de sua vida e do tempo de graça que irão viver. Uma pessoa entra com a vela, que será levada até o altar, simbolizando a mesa de La Valla. Nesse momento, pode-se motivar a reflexão de que cada um/a é luz para a vida das outras pessoas – essas que devem estar carregadas de mística e sentidos. No decorrer desse gesto, canta-se o refrão meditativo: /:Ó luz do senhor que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós:/ Comentário: O Ano La Valla nos convida à interioridade e à dimensão mística de nossas vidas, tanto no aspecto pessoal, quanto comunitário e de missão. Simboliza aquele nosso espaço interior habitado pelo mistério. Para ajudar na sintonia com a nossa mística, cantemos:

Proposta de condução: A partir das imagens dispostas no ambiente, motivar para que as pessoas expressem para o que gostariam de pedir perdão.

Canto: Converte meu coração, nº 14 do Livro Cantando Glória Comentário opcional: A mística e profecia também são reveladas nos outros/as, nos seres, enfim, na comunidade da vida. Pedro Casaldáliga já poetizava: “No final do caminho me dirão: Você viveu? Você amou? E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes”. Proposta de condução: Enquanto se canta, motivar para que cada um/a possa expressar para outra pessoa que esteja no grupo, o porquê da glória pela existência daquela pessoa. Canto: Música instrumental, que possa ajudar no clima da partilha entre as pessoas. Pode ser no estilo Taizé ou algum outro mantra.

Canto: Mistérios, de Zé Vicente. Sinal da Cruz Saudação Pedido de perdão

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Celebração

Liturgia da Palavra

• acompanhamos processos que fazem crescer em interioridade, espiritualidade e oração e neles nos envolvemos;

1ª Leitura: Vozes do fogo, mensagem da 2ª Assembleia Internacional da Missão Marista.

• tornamos visível o rosto mariano da Igreja.

Nosso sonho é que nós, Maristas de Champagnat, sejamos reconhecidos como místicos porque: • somos evangelizadores com espírito e fomos transfigurados por Deus; • constituímo-nos como pessoas e comunidades orantes que crescemos em humanidade e tornamos transparente o rosto de Deus; • privilegiamos espaços e tempos de qualidade para aprofundar o ser que dá sentido ao fazer;

Nosso sonho é que nós, Maristas de Champagnat, sejamos reconhecidos como profetas porque: • abandonamos nossas zonas de conforto e estamos em permanente atitude de saída rumo às periferias de nosso mundo, impulsionados a proclamar e construir o Reino de Deus; • vamos com decisão ao encontro dos novos Montagnes e somos presença significativa entre eles e com eles; • promovemos os direitos das crianças e jovens e somos uma voz pública em defesa desses direitos nos foros políticos e sociais que refletem sobre eles e onde as decisões são tomadas; • vivemos uma atitude de disponibilidade missionária global para novos modos de presença encarnada nas periferias nacionais e internacionais; • empenhamo-nos de forma corajosa e decidida para que nossas obras educativas (escolas, universidades, centros sociais...) sejam plataformas privilegiadas de evangelização e nelas se promova uma educação inclusiva, crítica, comprometida, compassiva e transformadora das realidades; • acompanhamos as pessoas e os processos da Pastoral Juvenil Marista dos quais emergem os profetas e evangelizadores para o nosso tempo.

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Celebração

Salmo 142 (143) do Ofício Divino da Juventude Proposta de condução: O salmo pode ser cantado, lido ou recitado em formato de jogral.

Aclamação ao Evangelho Canto: A comunidade dança alegre, Pe. José Freitas Campos. https://www.youtube.com/watch?v=eNxQ9lzMlGU Evangelho: Lucas 5, 1–7.

“Um canto novo Ao Senhor eu vou cantar! Na minha viola O meu Deus quero louvar! Bendito seja o Senhor, que conduz a história. Que fortalece seu povo, e sustenta sua luta. O seu nome é rochedo, que salva e liberta. Nele a esperança da vida, escudo e certeza de nossa vitória. Quem somos nós criaturas pra tanto carinho? O ser humano é tão frágil qual sombra que passa. Olhe pra nossa pobreza nos livre e guarde Das ondas turvas da morte, das mãos do opressor e do falso caminho.

“E aconteceu que, apertando-o a multidão, para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré; E viu estar dois barcos junto à praia do lago; e os pescadores, havendo descido deles, estavam lavando as redes. E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidão. E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede. E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompias-lhes a rede. E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique.”

Que esta nação cresce livre em pleno vigor. Gente irradiando a beleza da arte divina. Nossas colheitas transbordem de toda fartura! Feliz o povo fraterno. Que vive a justiça e pertence ao Senhor.”

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Celebração

Homilia/Partilha Proposta de condução: Após a escuta do Evangelho e das leituras, reservar momento para o silêncio. Dar tempo suficiente à oração pessoal e comunitária e à partilha.

Preces espontâneas Comentário: Convivemos e trabalhamos com pessoas e espaços sagrados. E isso se deve pelas relações que tecemos e pelos sentidos que atribuímos a esses lugares. Nessa sinergia, o convite é para que expressemos espontaneamente momentos, espaços e pessoas que nos ajudam a ser místicos/as e profetas/tizas.

Liturgia eucarística Ofertório Comentário: Quando as ofertas são feitas em comunidade, se maximiza o sentido de fraternidade. Junto ao pão e ao vinho, ofertamos o que dá significado e vida para a Unidade. Canto: Os dons que trago aqui, Pe. Lucas de P. Almeida e Pe. Lauro Palú https://www.youtube.com/watch?v=sooWtdx9NL0

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Rito da comunhão Proposta de condução: Levando em consideração que estamos vivendo o ano La Valla, que também é simbolizado pela mesa, o rito da comunhão poderia ser conduzido ao redor da mesa do altar, ou de alguma outra mesa significativa para a Unidade. Canto: Se calarem a voz dos profetas, nº 95 do livro Cantando. Envio Sugestões: Canto: Caminhando e cantando, Geraldo Vandré Propor uma dança circular. Exemplo: Pachamama Madre Tierra, (https://www.youtube.com/watch?v=J6nJ-At6Xp8)

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Dicas

Fábulas

Livros Músicas Orações Vídeos Poemas

Textos

Danças circulares Publicações

Filme

Na Área do Pastoralista, você encontra os materiais colocados como sugestão. Há links dos vídeos, músicas, documentos, indicações de coreografia para as danças circulares e sites para fazer download dos livros e publicações como sugestão para aprofundamento.


Dicas

Dança Circular Entre os povos indígenas em todas as épocas, a Dança Sagrada sempre fez parte dos rituais. Ao redor de elementos simbólicos, as comunidades celebram momentos de passagem importantes para a vida dos integrantes da comunidade, como nascimento, casamento e morte. Mais do que resgatar uma prática ancestral, a Dança Circular fomenta a concentração e a memória. Sua prática auxilia-nos a tomar consciência do próprio corpo incentivando o contato com o/a outro/a de maneira sensorial. É uma proposta de natureza cooperativa que busca harmonizar as diferenças por meio de uma atividade simples, porém de grande simbolismo místico.

Altíssimo Coração Altíssimo Coração (3x) Que floresça Que floresça a luz (3X) Que floresça

A beleza que amamos A beleza que amamos Seja o que fazemos (4x) São centenas de meios (4x) De ajoelhar e beijar o chão (2x)

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Cânticos para a Mãe Terra (Claudiney Prieto) Heya heya heya ho Heya heya heya ho Heya heya heya ho cante para a Mãe Terra (2x) Ya ya ha, ha Ya ha ha Ya ha a ha ha Cante para o céu (2x) Heya heya heya ho Heya heya heya ho Heya heya heya ho Cante para a Mãe Terra (2x) Ha ya ha ha Ya ya ha ha Ya ya ha ha Cante para o céu (2x) Heya heya heya ho Heya heya heya ho Heya heya heya ho Cante para a Mãe Terra (2x) Ya ya ha ha Ya ya ha ha Ya ya ha ha Cante para o céu (2x)

Ooooh Grande Espírito,venha a nós Ooooh Mãe Terra,ouça nossa voz! (2x) Abra meus olhos para que eu possa ver Os caminhos por onde andar e o que fazer Ooooh Grande Espírito,venha a nós Ooooh Mãe Terra,ouça nossa voz! (2x) Cante-me os sons de força e poder Canções que me digam como proceder Ooooh Grande Espírito,venha a nós Ooooh Mãe Terra, ouça nossa voz! (2x) Mãe, eu te sinto sob os meus pés O seu coração eu posso escutar (2x) Heya Heya heya ya heya heya ho Heya heya heya Heya heya ho (2x) Mãe, eu te sinto sob os meus pés O seu coração eu posso escutar (2x) Heya Heya heya ya heya heya ho Heya heya heya Heya heya ho (2x) Mãe, eu te sinto sob os meus pés O seu coração eu posso escutar (2x)

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Dicas

Heya Heya heya ya heya heya ho Heya heya heya Heya heya ho (2x)

Fábula

Isis, Astarte, Diana, Hecate Demeter, Kali,Inanna (2x)

A Fábula-Mito do Cuidado – Fábula de Higino

Somos um povo antigo O novo povo junto De novo (2x)

“Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco de barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.

Estamos vivos (4x)

Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.

A Deusa está na Terra A magia está no ar

Los Cuatro Elementos Cielo y Tierra (Pedro Vadhar) Tierra mi cuerpo, Agua mi sangre, Aire mi aliento Y fuego mi espíritu.

Madre Tierra (Pachamama) Madre Tierra, Pachamama La Madre Tierra me calienta La Pachamama me alimenta La Madre Tierra me calienta La Pachamama me alimenta Madre Tierra, Pachamama

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Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da terra. Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo, pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Esse tomou a seguinte decisão que pareceu justa: “Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta esse espírito por ocasião da morte dessa criatura. Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer. Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver. E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: essa criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.”

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Dicas

FILME

LIVROS

Jardim Secreto

A carta sobre a oração

Sinopse: sob os cuidados de uma conservadora governanta, encontram-se, em uma grande casa de campo, três crianças – Mary, uma menina órfã e rebelde; Colin, um garoto mimado; e, cheio de manias e Dickon, um garoto gentil e atencioso. Eles descobrem um misterioso jardim abandonado, que se transforma em um lugar mágico.

Autor: Ir. Basílio Rueda e Ir. Ivo Strobino – Grupo Marista

Ano: 1993

https://issuu.com/champagnat/docs/cartasobreaoracao_basilioruedaivost

Editora: Champagnat Ano: 2015 Discorre que pela oração nos aprofundamos na dimensão mística, profética e missionária do nosso Instituto.

A misericórdia e os Maristas de Champagnat Autor: Grupo Marista Editora: Champagnat Ano: 2015 A obra busca retratar a história da espiritualidade Marista, a partir da misericórdia. O livro contém a bula Misericordiae Vultus, do Papa Francisco, e propõe reflexões a respeito da postura misericordiosa de São Marcelino Champagnat que inspirou a produção de muitos documentos do Instituto Marista. Disponível em http://pjmgrupomarista.org.br/wp-content/ uploads/sites/17/2016/01/A-miseric%C3%B3rdia-e-os-Maristas-de-Champagnat.pdf

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Dicas

Raízes, encontrando estabilidade na vida

O Cristão do futuro

Autor: Anselm Grun Editora: Vozes Ano: 2016 Atualmente, muitas pessoas perderam suas raízes, não têm conhecimento delas, procuram viver só no presente, sem refletir em suas origens. Nesta obra, Anselm Grün explica como podemos (re)descobrir nossas raízes e nossa identidade de um modo diferente. A Bíblia, o significado de nossos nomes, a filosofia de vida de nossos antepassados ou os rituais nos mostram como podemos encontrar nosso lugar na vida.

Autor: Karl Rahner Editora: Fonte Editorial Ano: 2004 Nessa obra, o teólogo Karl Rahner assina uma famosa interjeição: “O cristão do futuro ou será um místico ou nada será!”. O autor refere que sempre na história da Igreja cristã existiram movimentos e personagens que procuravam desenvolver o pensamento eclesiástico, interagindo com a sua época. Quando isso não ocorria, originavam-se grandes crises entre Igreja e sociedade, reduzindo a mensagem do Cristo a apenas um detalhe. Karl Rahner procura estimular a Igreja a ser sensível às mudanças e ao futuro.

Um Deus que dança - Itinerários para a oração Autor: José Tolentino Mendonça Editora: Paulinas Ano: 2011 Obra original em que o autor mescla poesia, filosofia e história, oferecendo ao público leitor um itinerário de oração e reflexão, a partir do cotidiano. A obra apresenta-se em duas partes. A primeira, Livro das Pausas, é constituída por um conjunto de meditações intituladas Sete Pausas na Beleza, inspiradas em sete textos bíblicos. Na segunda, Livro dos Andamentos, constam orações poéticas, situadas no contexto atual, levando a Deus tudo o que temos e o que somos.

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A Mística do Instante - O Tempo e a Promessa Autor: José Tolentino Mendonça Editora: Paulinas Ano: 2014 José Tolentino Mendonça enfatiza que os sentidos do nosso corpo nos abrem à presença de Deus no instante do mundo. Eles são grandes entradas e saídas da nossa humanidade e da nossa fé. A mística do instante nos reenvia para o interior de uma existência autêntica, ensinando-nos a ser realmente presentes: a ver, a ouvir, a tocar, a saborear, a inebriar-nos com o perfume sempre novo do instante.

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Dicas

Inteligência Espiritual Autor: Francesc Torralba Roselló Editora: Vozes Ano: 2012 O livro traz os contextos de anemia espiritual, como este em que nosso tempo se encontra, quando o desenvolvimento da inteligência espiritual abre novos horizontes no coração, mesmo diante da rotina diária, da imediatez e do interesse a curto prazo.

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MÚSICAS Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil) Se eu quiser falar com Deus Tenho que ficar a sós Tenho que apagar a luz Tenho que calar a voz Tenho que encontrar a paz Tenho que folgar os nós Dos sapatos, da gravata Dos desejos, dos receios Tenho que esquecer a data Tenho que perder a conta Tenho que ter mãos vazias Ter a alma e o corpo nus...

E se eu quiser falar com Deus Tenho que me aventurar Eu tenho que subir aos céus Sem cordas pra segurar Tenho que dizer adeus Dar as costas, caminhar Decidido, pela estrada Que ao findar vai dar em nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Do que eu pensava encontrar!

Se eu quiser falar com Deus Tenho que aceitar a dor Tenho que comer o pão Que o diabo amassou Tenho que virar um cão Tenho que lamber o chão Dos palácios, dos castelos Suntuosos do meu sonho Tenho que me ver tristonho Tenho que me achar medonho E apesar de um mal tamanho Alegrar meu coração...

Se eu quiser falar com Deus!

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Dicas

Mistérios (Zé Vicente)

Águia Pequena (Padre Zezinho)

Todas as coisas são mistérios (4x) O que me faz viver O que me faz te amar Nem sequer por que eu penso em você Não consigo explicar O vento que sopra na rosa A luz que brilha em teu olhar O que ferve aqui dentro do peito ao te beijar.

Tu me fizeste uma das tuas criaturas Com ânsia de amar Águia pequena que nasceu para as alturas Com ânsia de voar E eu percebi que as minhas penas já cresceram E que eu preciso abrir as asas e tentar Se eu não tentar não saberei como se voa Não foi à toa que eu nasci para voar.

Tu me fizeste amar o risco das alturas Com ânsia de chegar E embora eu seja como as outras criaturas Não sei me rebaixar Não vou brincar de não ter sonhos se eu os tenho Sou da montanha e na montanha eu vou ficar Igual meus pais vou construir também meu ninho Mas não sou águia se lá em cima eu não morar.

Pequenas águias correm risco quando voam Mas devem arriscar Só que é preciso olhar os pais como eles voam E aperfeiçoar Haja mau tempo haja correntes traiçoeiras Se já tem asas seu destino é voar Tem que sair e regressar ao mesmo ninho E outro dia, outra vez recomeçar.

Tenho uma prece que eu repito suplicante Por mim, por meu irmão Dá-me esta graça de viver a todo instante A minha vocação Eu quero amar um outro alguém do jeito certo Não vou trair meus ideais pra ser feliz Não vou descer nem jogar fora o meu projeto Vou ser quem sou e sendo assim serei feliz.

Todas as coisas são mistérios (4x) Por que tanta dor pela rua Por que tanta morte no ar Por que as pessoas promovem a guerra Em nome da paz? Por que o cientista não mostra Um jeito bem feito afinal Que seja vacina do amor Contra o vírus do mal. Todas as coisas são mistérios (4x) Aquele encontro surpreso Aquela emoção ao te ver Não me peça qualquer explicação Eu não posso dizer O que há de segredo amanhã O que vai ser do meu coração Te procuro amor, por favor Nesse instante o que vale é a canção. Todas as coisas são mistérios (4x)

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Dicas

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Semear o amor (Chimarruts)

Mesa de La Valla (Gustavo Balbinot)

Chega de viver só por viver Chega de pensar só por pensar Faça sua mente esclarecer Dentro de si mesmo vá buscar Amor e harmonia, paz e compaixão Aprenda a perdoar para obter perdão Não espere nada em troca sem estender a mão Para ser verdadeiro tem que ser de coração Na hora boa ou ruim em Deus não se negue a crer Mantenha a mente e o corpo são e não vá se corromper Pela maldade, ganância, exploração Que deixe o homem cego e escraviza o coração Fazendo com que a gente viva a vida apagados Cheios de preconceitos, diferenças, alienados É chegada a hora da gente se ajudar Com fé e humildade, fazendo o mundo mudar Semear o amor, dentro do seu coração Afugentando a dor e a solidão Quando o amor tocar o seu coração A luz da vida vai brilhar para você iluminar

Sentados à mesma mesa, vivemos irmãos e irmãs. Diversidade de dons, os corações se unem no amor. Vidas partilhadas, celebram histórias que revelam a Deus, Nascidas da luz do Céu, vividas em comunhão. Mesa de La Valla, Mesa do Reino. Mesa da fraternidade, Dos olhares e bênçãos de amor, Das tendas itinerantes de vida. Comunidades de vida, horizontes que ousamos viver. Cremos na força do Amor que nos conduz à partilha. Mesas abertas a todos os que quiserem provar O calor e os sabores dos encontros de vida. Mesas de La Valla, Mesas do Reino. Mesas de fraternidade, Dos olhares e bênçãos de amor, Das tendas itinerantes de vida.

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Dicas

Cambia Todo Cambia (Mercedes Sosa) Cambia lo superficial Cambia también lo profundo Cambia el modo de pensar Cambia todo en este mundo Cambia el clima con los años Cambia el pastor su rebaño Y así como todo cambia Que yo cambie no es extraño Cambia el mas fino brillante De mano en mano su brillo Cambia el nido el pajarillo Cambia el sentir un amante Cambia el rumbo el caminante Aúnque esto le cause daño Y así como todo cambia Que yo cambie no es extraño Cambia todo cambia Cambia todo cambia Cambia todo cambia Cambia todo cambia Cambia el sol en su carrera Cuando la noche subsiste Cambia la planta y se viste De verde en la primavera Cambia el pelaje la fiera Cambia el cabello el anciano Y así como todo cambia

ORAÇÕES Oração para alcançar a liberdade interior (Autor desconhecido) Colocando-nos em tua presença e conscientes de que és o Espírito de Amor; conscientes de que nos amas a todos nós e a cada um de nós, esperamos confiadamente de ti as luzes que necessitamos neste momento de nossa vida. Pedimos que nos ilumines, para que possamos discernir a tua vontade, para que possamos escutar a tua voz, a tua inspiração onde quer que se encontre. Abre-nos, Senhor, para podermos receber-Te sob qualquer forma com que te apresentes. Despoja-nos de nossos ídolos para que em nossas vidas não tomem o lugar que a Ti pertence. Ajuda-nos a ser indiferentes a tudo, exceto à tua vontade. Leva-nos a recordar a palavra e a vida de Jesus, assim como Ele nos falou de ti e do Pai. Se nos tornamos endurecidos, suaviza a nossa atitude. Se nos achamos enfraquecidos, fortalece o nosso espírito. Devolve-nos a verdadeira liberdade interior. A verdadeira indiferença a tudo o que não há amor a ti e a nossos irmãos. Dá-nos a verdadeira sabedoria que vem de Ti e em tudo e sempre ajuda-nos a pôr em Ti toda a nossa confiança em Ti, em Teus caminhos, em teu amor. Pedimos por Cristo Nosso Senhor que Contigo e com o Pai vivem e reinam pelos séculos. Amém

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Dicas

Senhor Deus de Paz, escutai a nossa súplica! (Papa Francisco)

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Tentamos tantas vezes e durante tantos anos resolver os nossos conflitos com as nossas forças e também com as nossas armas; tantos momentos de hostilidade e escuridão; tanto sangue derramado; tantas vidas despedaçadas; tantas esperanças sepultadas... Mas os nossos esforços foram em vão. Agora, Senhor, ajudai-nos Vós! Dai-nos Vós a paz, ensinai-nos Vós a paz, guiai-nos Vós para a paz.

Tornai-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz, os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão. Mantende acesa em nós a chama da esperança para efetuar, com paciente perseverança, opções de diálogo e reconciliação, para que vença finalmente a paz. E que do coração de todo o homem sejam banidas estas palavras: divisão, ódio, guerra!

Abri os nossos olhos e os nossos corações e dai-nos a coragem de dizer: “nunca mais a guerra”; “com a guerra, tudo fica destruído”! Infundi em nós a coragem de realizar gestos concretos para construir a paz. Senhor, Deus de Abraão e dos Profetas, Deus Amor que nos criastes e chamais a viver como irmãos, dai-nos a força para sermos cada dia artesãos da paz; dai-nos a capacidade de olhar com benevolência todos os irmãos que encontramos no nosso caminho.

Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre irmão, e o estilo da nossa vida se torne: shalom, paz, salam! Amém!

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Oração do Abandono (Charles de Foucauld) Meu Pai, Eu me abandono a Ti, Faz de mim o que quiseres. O que fizeres de mim, Eu Te agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo. Desde que a Tua vontade se faça em mim E em tudo o que Tu criaste, Nada mais quero, meu Deus.

POEMAS Ama a vida (Rubem Alves) Ama a simplicidade Ama a vida Ama a beleza Ama a Poesia Ama as coisas que dão alegria Ama a natureza e a reverência pela vida Ama os mistérios Ama Deus

Nas Tuas mãos entrego a minha vida. Eu Te a dou, meu Deus, Com todo o amor do meu coração, Porque Te amo E é para mim uma necessidade de amor dar-me, Entregar-me nas Tuas mãos sem medida Com uma confiança infinita Porque Tu és... Meu Pai!

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A noite escura da alma (São João da Cruz)

Oh! noite, que me guiaste, Oh! noite, amável mais do que a alvorada Oh! noite, que juntaste Amado com amada, Amada, já no amado transformada!

Em uma noite escura De amor em vivas ânsias inflamada Oh! Ditosa aventura! Saí sem ser notada, Estando já minha casa sossegada.

Em meu peito florido Que, inteiro, para ele só guardava, Quedou-se adormecido, E eu, terna o regalava, E dos cedros o leque o refrescava.

Na escuridão, segura, Pela secreta escada, disfarçada, Oh! Ditosa aventura! Na escuridão, velada, Estando já minha casa sossegada.

Da ameia a brisa amena, Quando eu os seus cabelos afagava, Com sua mão serena Em meu colo soprava, E meus sentidos todos transportava.

Em noite tão ditosa, E num segredo em que ninguém me via, Nem eu olhava coisa alguma, Sem outra luz nem guia Além da que no coração me ardia. Essa luz me guiava, Com mais clareza que a do meio-dia Aonde me esperava Quem eu bem conhecia, Em lugar onde ninguém aparecia.

Esquecida, quedei-me, O rosto reclinado sobre o Amado; Tudo cessou. Deixei-me, Largando meu cuidado, Por entre as açucenas olvidado.

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PUBLICAÇÕES A dimensão do profundo: o espírito e a espiritualidade Leonardo Boff O ser humano não possui apenas exterioridade que é sua expressão corporal. Nem só interioridade que é seu universo psíquico interior. Ele vem dotado também de profundidade que é sua dimensão espiritual. O espírito não é uma parte do ser humano ao lado de outras. É o ser humano inteiro que por sua consciência se percebe pertencendo ao Todo e como porção integrante Dele. Pelo espírito temos a capacidade de ir além das meras aparências, do que vemos, escutamos, pensamos e amamos. Podemos apreender o outro lado das coisas, o seu profundo. As coisas não são apenas coisas. O espírito capta nelas símbolos e metáforas de uma outra realidade, presente nelas, mas que não está circunscrita a elas, pois as desborda por todos os lados. Elas recordam, apontam e remetem à outra dimensão a que chamamos de profundidade. Assim, uma montanha não é apenas uma montanha. Pelo fato de ser montanha, transmite o sentido da majestade. O mar evoca a grandiosidade, o céu estrelado, a imensidão, os vincos profundos do rosto de um ancião, à dura luta da vida e os olhos brilhantes de uma criança, o mistério da vida.

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É próprio do ser humano, portador de espírito, perceber valores e significados e não apenas elencar fatos e ações. Com efeito, o que realmente conta para as pessoas, não são tanto as coisas que lhes acontecem, mas o que elas significam para suas vidas e que tipo de experiências marcantes lhes proporcionaram. Tudo que acontece carrega, existencialmente, um caráter simbólico, ou podemos dizer até sacramental. Já observava finamente Goethe: tudo o que é passageiro não é senão um sinal (Alles Vergängliche ist nur ein Zeichen). É da natureza do sinal-sacramento tornar presente um sentido maior, transcendente, realizá-lo na pessoa e fazê-lo objeto de experiência. Nesse sentido, todo evento nos relembra aquilo que vivenciamos e nutre nossa profundidade, vale dizer, nossa espiritualidade. É por isso que enchemos nossos lares com fotos e objetos amados de nossos pais, avós, familiares e amigos; de todos aqueles que entram em nossas vidas e que têm significado para nós. Pode ser a última camisa usada pelo pai que morreu de um enfarte fulminante com apenas 54 anos, o pente de madeira da avó querida que faleceu já há anos ou a folha seca dentro de um livro, enviada pelo namorado cheio de saudades. Essas coisas não são apenas objetos; são sacramentos que nos falam para o nosso profundo, nos lembram pessoas amadas ou acontecimentos significativos para nossas vidas O espírito nos permite fazer uma experiência de não dualidade, tão bem descrita pelo zenbudismo. Você é o mundo, é o todo dizem os Upanishads da Índia, enquanto o guru aponta para o universo. Ou, Você é tudo como muitos yogis dizem. O Reino de Deus (Malkuta d’Alaha

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ou ‘os Princípios Guias do Todo) estão dentro de vós proclamou Jesus. Essas afirmações nos remetem a uma experiência viva ao invés de uma simples doutrina.

Vida interior: Adentrar-se no próprio mistério

A experiência de base é que estamos ligados e religados (a raiz da palavra religião) uns aos outros e todos com a Fonte Originária. Um fio de energia, de vida e de sentido passa por todos os seres tornando-os um cosmos ao invés de caos, uma sinfonia ao invés de cacofonia. Blaise Pascal, que além de genial matemático era também místico, disse incisivamente; é o coração que sente Deus, não a razão (Pensées, frag. 277). Esse tipo de experiência transfigura tudo. Tudo se torna permeado de veneração e unção.

Uma lei fundamental precede e ilumina toda outra lei, civil, moral ou religiosa. Assim ela se enuncia: Artigo único: É preciso viver. Não há artigo segundo. Necessário viver. Com avidez. Com intensidade. Só é verdadeiro o que se vive. Se a fé em Deus e em Jesus Ressuscitado fosse um entrave à vida, eu recusaria a fé. O que é maravilhoso na fé é que ela não cessa de aumentar a exigência, o combate, o fervor de viver, de viver até a embriaguez: e a paixão de ser homem, a paixão de ser mulher, a celebração do casal, e todos os esplendores da carne e do sangue, e todas as luzes, o rir e o soluçar. Viver. Abraçar. Mesmo a infelicidade. Viver: ter os braços dirigidos aos músicos e como maestro decidir o momento em que a vida vai dançar, cantar, gritar, chorar, talvez. Mas, viver. Escrevo estas linhas com o coração impregnado do Evangelho, do Evangelho do Gólgota e o Evangelho da Ressurreição. Necessário viver. Todas as promessas de Jesus no Evangelho são promessas de vida. Necessário ousar viver. Para saber viver, é preciso ousar viver.

As religiões vivem dessa experiência espiritual. Elas são posteriores a ela. Articulam-na em doutrinas, ritos, celebrações e caminhos éticos e espirituais. Sua função primordial é criar e oferecer as condições necessárias para permitir a todas as pessoas e comunidades mergulharem na realidade divina e atingir uma experiência pessoal do Espírito Criador. Infelizmente, muitas delas se tornaram doentes de fundamentalismo e de doutrinalismo que dificultam a experiência espiritual. Essa experiência, precisamente por ser experiência e não doutrina, irradia serenidade e profunda paz, acompanhada pela ausência do medo. Sentimo-nos amados, abraçados e acolhidos pelo Seio Divino. O que nos acontece, acontece no seu amor. Mesmo a morte não nos mete medo; é assumida como parte da vida, como o grande momento alquímico da transformação que nos permite estar verdadeiramente no Todo, no coração de Deus. Precisamos passar pela morte para viver mais e melhor.

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Jacques Leclerc

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TEXTOS A vida interior Movimento de Vida Cristã

Trazemos em nosso coração o desejo de sermos santos e de construir um mundo mais justo, fraterno e reconciliado. Cremos firmemente que Cristo é a resposta para as perguntas e para os anseios dos homens e mulheres de nosso tempo e de sempre. E estamos convencidos de que a única mudança autêntica do mundo é aquela que brota da mudança pessoal, da própria conversão. Sabemos bem que ninguém dá o que não tem e que por isso o primeiro campo de apostolado é cada um de nós mesmos. Atender à nossa interioridade, cultivar uma vida interior profunda e intensa, não é apenas uma necessidade pessoal, é, para nós, também, um dever social, uma exigência para podermos ser fiéis à missão que o Senhor nos confiou.

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Uma vida interior intensa pela força do Espírito Santo A vida interior é ao mesmo tempo exigente e extremamente planificadora. É comunhão com Deus, no Senhor Jesus, pela força do Espírito Santo. É, antes de mais nada, fruto da graça, um dom de Deus, que nos convida a uma cooperação ativa e decidida. Ela requer que assumamos a nossa parte, que lutemos com fidelidade e Constância, para erradicar das nossas vidas tudo que rompe ou impede esta desejada comunhão, acolhendo a ajuda divina, e que cultivemos positivamente uma vida de fé, de virtude, de oração, de comunhão sacramental, de amor a Deus, e de coerência efetiva em nossas ações. Cooperando assim com a graça divina, somos chamados a crescer em uma comunhão de pensamento, de sentimento e de ação com Deus, uma comunhão que nos realiza, nos plenifica e nos leva a uma mudança, a partir dessa riqueza espiritual, a uma transformação autêntica do mundo, a partir da caridade divina, segundo o Plano de Deus. Uma vida interior intensa é fruto do Espírito Santo, que é o Senhor e Doador da Vida. É Ele quem nos vai configurando com o Senhor Jesus. Ao dizer vida, dizemos vitalidade, e a vida no Espírito Santo é fé ardorosa, esperança e amor. Crescer nela alimenta nossa mente e nosso espírito, nos vivifica.

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Aprender a ver a realidade com os olhos de Deus

Perguntas para o diálogo

Portanto, com as luzes do Espírito, devemos trabalhar em primeiro lugar para ter uma fé profunda na mente, que não é outra coisa, senão ir aprendendo a olhar e entender a realidade com os olhos de Deus, interiorizando os critérios da fé, reconhecendo o sentido das realidades e situações distintas, à luz do plano de Deus e examinando nossa própria vida com uma visão de fé. Para crescer nesta dimensão da nossa vida interior, é imprescindível que estudemos, que entendamos, e que façamos nossos os critérios da fé que encontramos na Sagrada Escritura, nos documentos do Magistério – iniciando pelo Catecismo da Igreja – e nos ricos textos que formam parte da Tradição e da nossa própria espiritualidade.

Por que é importante que eu cultive uma vida interior intensa?

Cultivar nossa vitalidade interior com a fé na mente nos ajuda a apreciar o quanto Deus faz por nós no dia a dia de nossas vidas, nos afasta da superficialidade e do autoengano, nos dá critérios para nos entendermos a nós mesmos à luz do Senhor Jesus, enriquece nossa capacidade de reflexão, e nos prepara para ajudar melhor os nossos irmãos e para conduzir as nossas vidas, respondendo a nossa vocação segundo o plano de Deus.

Qual é o papel de Santa Maria na minha vida espiritual? Quais das suas virtudes estão mais próximas de mim? Quais eu deveria desenvolver mais?

Quem nutre e faz crescer minha vitalidade interior? Que devo fazer para cooperar com meu crescimento e realização interior? Qual é a essência de uma autêntica vida interior? Que posso fazer para aprender, cada vez mais, a ver a realidade com os olhos de Deus? Por que a leitura orante da Bíblia é importante como meio de interiorização e apropriação pessoal dos critérios da fé? Jesus está realmente no centro da minha vida? Reconheço sua presença na minha vida? O que falta para eu me deixar configurar ainda mais com Ele?

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Contemplativos na ação Frei Almir Ribeiro Guimarães Gálatas 1 13-24; Lucas 10,38-42

Ocorre hoje o famoso Evangelho de Maria e Marta. Estamos todos proibidos de dizer que Maria é a contemplativa elogiada por Jesus, e Marta ativa, repreendida. Não é tão fácil abordar de maneira correta essa página do Novo Testamento. Partamos sempre da base do ser discípulo. Queremos e desejamos ser discípulos do Senhor. Desejamos ardentemente criar uma intimidade com o Senhor e desejamos nos colocar a seu dispor para a ação, a missão. Sentimos que somos convidados a sentar e a ouvir o Mestre. Não podemos nos perder numa espécie de ativismo inconsequente. Não alimenta nosso projeto de vida espiritual e cristã uma vida de oração mecânica, externa, sem repercussão nos cantos de nosso interior, do nó mais íntimo de cada um de nós. É desse poço mais profundo que deve brotar uma resposta existencial Àquele que nos convoca. Não podemos ser pessoas derramadas nas coisas. Não é possível deixar de morar em nossa intimidade. Não podemos ser estranhos a nós mesmos. Por isso, neste momento do mundo e de tantas transformações, estamos sendo convidados ao silêncio, à reflexão, à interiorização. Isso ainda não é contemplação. Podemos, no entanto, dizer que essa viagem ao fundo do coração, de alguma forma, constitui uma sala de espera para o Se-

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nhor que pode chegar. Tudo isso vai arrumando nosso interior, colocando ordem no tumulto para podermos ouvir o Senhor que bate à porta de nossa existência e deseja nos levar até o sétimo céu. Isso não quer dizer que tenhamos que levar uma vida de descanso estranho. Há uma Maria em cada um de nós, mas há também uma Marta. Temos tarefas urgentes a serem executadas e precisamos realizá-las com competência. Os casados correm de um lado para o outro, compram, vendem, trabalham… Mas não podem perder-se numa correria qualquer. Precisam construir o casamento, olhar serenamente um nos olhos do outro, ser um casal que deixa Deus tomar conta deles numa oração densa e regular. Não podem pensar apenas em construir uma casa, em querer dar estudos excelentes aos filhos, em correr… correr… Será preciso dar profundidade ao seu ser de casal, à sua família que é Igreja doméstica. Os sacerdotes e agentes de pastoral precisam planejar, programar, executar. Haverá de ter cuidado de não fazer da pastoral alguma coisa de forma mecânica, funcional, burocrática, esquecendo que quem age na catequese, nos sacramentos, na pastoral é Cristo Jesus. Os agentes de pastoral serão contemplativos na ação. “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém uma só coisas é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.” (Lc 10, 38-42) A Marta que existe em nós haverá de conviver com a Maria e a Maria, com a Marta. Contemplação na ação e atividade na contemplação. Quem puder compreender que compreenda.

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VÍDEO Laudato Si’ – CNBB https://www.youtube.com/watch?v=X8Mce8rLO7o

Lembre-se! Confira na Área do Pastoralista, que se encontra no site www.maristas.org.br/pastoral, os materiais de apoio para os desdobramentos das atividades em sua Unidade!

Expediente Cadernos Pastorais | Mística e Profecia | nº 5 | Ano 2017 Organização: Coordenação de Pastoral – Ir. Valdícer Fachi, Emilin Grings Silva, Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva, Jaquelini Alves Debastiani, José Jair Ribeiro, Laura Skavinski Aparicio, Marcos José Broc, Rosimar Heleno de Almeida, Vera Lúcia Ribeiro. Produção: Assessoria de Comunicação Corporativa Editoração: Design de Maria Fotos: Arquivo da Rede Marista Revisão: Irany Dias Rede Marista Rua Ir. José Otão, 11 – Bom Fim 90035-060 – Porto Alegre - RS pastoral@maristas.org.br – maristas.org.br

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