Diretrizes da Ação Evangelizadora do Rio Grande do Sul

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DIRETRIZES DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA PROVÍNCIA MARISTA DO RIO GRANDE DO SUL



Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província Marista do Rio Grande do Sul 2010 a 2017

CMC Maio de 2011


Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província Marista do Rio Grande do Sul Provincial: Ir. Inácio Etges Conselho Provincial: Ir. Arlindo Corrent, Ir. Gilberto Zimmermann Costa (Vice-Provincial), Ir. Lauro Hochscheidt, Ir. Onorino Moresco, Ir. Pedro Ost e Ir. Sandro Bobrzyk Texto Grupo de estudo: Ir. Deivis Alexandre Fischer (Asdepas), Ir. Dionísio Rodrigues (Asdepas), Alexander Goulart (Ascomk), Edison Carlos Jardim de Oliveira (CVCL), José Jair Ribeiro (PJM), Marcos José Broc (Cesmar) e Rafael Rossetto (PUCRS). III Encontro Provincial de Evangelizadores, Veranópolis, 9 a 11 de setembro de 2010. Elaboração e revisão: Ir. Dionísio Rodrigues, Ir. Deivis Alexandre Fischer, Aline da Cunha, Gustavo Balbinot, José Jair Ribeiro, Karen Theline C. S. Silva. Redação final: Ir. Deivis Alexandre Fischer e José Jair Ribeiro Revisão Conceitual: Rodinei Balbinot, P. Hilário Dick e P. Ivanir Rodigheiro Produção: CMC/ Ascomk Supervisão Editorial: Alexander Goulart Projeto Gráfico: Alessandra Müller Editoração: Roberto Winck Revisão: Ir. Salvador Durante

PROVÍNCIA MARISTA DO RIO GRANDE DO SUL B579

Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província Marista do Rio Grande do Sul/ Elaboração e organização da Assessoria de Pastoral. – Porto Alegre: CMC, 2011. 68p. : il. ; Color. ISBN: 978-85-61171-05-6 1. Evangelização. 2. Teologia Pastoral. 3. Diretrizes. 4. Planejamento. 5. Ação Pastoral. I. Assessoria de Pastoral. II. Título.

CDD 250

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Patrícia Saldanha CRB10/1666

Província Marista do Rio Grande do Sul Rua Ir. José Otão, 11 - Bom Fim CEP: 90035-060 – Porto Alegre/RS Tel (51) 33140300 asdepas@maristas.org.br


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 10

CAPÍTULO 1 – Ver Evangelização e Carisma: Espiritualidade, Espírito e Missão Marista........................ 15 Evangelização e mudança de época....................................................................... 18

CAPÍTULO 2 – Julgar Jesus Cristo e seu projeto....................................................................................... 28 Maria, seguidora de Jesus...................................................................................... 44 Marcelino Champagnat e a evangelização............................................................. 46 Critérios de evangelização..................................................................................... 54

CAPÍTULO 3 – Agir Prioridade 1: Cultivo da espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo, libertadora e profética, inspirada em Maria e Champagnat..................................... 58 Prioridade 2: Presença fortemente significativa entre as crianças e jovens, prioritariamente os empobrecidos.......................................................................... 59 Prioridade 3: Evangelização inserida e articulada com a comunidade eclesial e a sociedade............................................................................................ 60 Prioridade 4: Animação vocacional de Irmãos, leigos, crianças e jovens................... 61 Prioridade 5: Formação continuada dos evangelizadores......................................... 62

HORIZONTES DAS DIRETRIZES......................................................................... 63

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 64


Nossa Senhora da Nova Terra, Sergio Ceron


Com Maria, Maristas Novos para uma Terra Nova!

Maria, tu és companheira de caminho e principal inspiradora de nossa peregrinação rumo ao Bicentenário marista. Bem-vinda sejas, hoje, a nossos corações e a nossas casas! Tua abertura, tua fé e tua liberdade são convites para que também nossos corações se abram ao Espírito, dom do teu Filho Jesus. Irmãos e Leigos, maristas de Champagnat, nós queremos mudar. Olhamos para ti, modelo e companheira, para viver a nossa vocação de seguimento de Cristo, com a alegria, a sensibilidade, o amor e a energia que manifestavas ao educar Jesus. Tu nos convocas e reúnes, de todos os lugares do mundo, para formar uma comunidade internacional que leva teu nome e quer ser sinal de comunhão na Igreja e no mundo. Ao contemplar-te, mulher cheia de fé, sentimos que tuas iniciativas e intuições nos impulsionam, como a Marcelino, a ser Boa-nova para as crianças e jovens pobres de hoje, em “novas terras”. Cheios de confiança dizemos, como Champagnat: “Se o Senhor não construir a casa…” e proclamamos: “Tudo fizeste entre nós”. Magnificat! Contigo, Maria, vamos ao Pai, unidos a Jesus e no Espírito de amor. Amém.


Apresentação Estamos entregando às comunidades educativas maristas as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província Marista do Rio Grande do Sul. Depois de um exaustivo trabalho, em “mutirão”, reuniu-se neste documento o resultado de reflexões e consultas, realizadas a partir de uma prática já implantada há muito tempo em nossas Unidades. As Diretrizes desejam dar unidade e comunhão ao nosso proceder evangelizador. Também, desejam ser um trabalho de cunho eclesial colocando-se de acordo com as diretrizes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), como está definido no Plano Estratégico da Província: “A pastoral deve promover a evangelização sob o ideal marista, e alinhada com a Igreja”. As Diretrizes também contemplam a Missão definida no Plano Estratégico da Província: “A Missão da Província é evangelizar crianças, jovens e adultos, segundo o carisma Marista, com vistas a formar cidadãos comprometidos com uma sociedade justa e fraterna”. O Plano recomenda como diretrizes gerais de atuação: “separar a evangelização da catequese e do proselitismo religioso; promover a espiritualidade também em espaços onde haja outras religiões; atuar de forma integrada, em rede e de forma complementar com a CVCL; elaborar programas, projetos e planos para distintos públicos e ambientes; o alvo da missão deve ser o universo de crianças, jovens e os adultos e suas temáticas”. As diretrizes gerais ainda recomendam uma intensificação na capacitação dos agentes pastorais. As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província estão alinhadas com o Plano Estratégico da Província e desejam promover a implementação deste ideal em nossa Província com uma metodologia própria, mas também tendo um olhar transversal, isto é, toda e qualquer ação promovida em nossas Unidades


devem se alinhar com a Missão Marista no Rio Grande do Sul. Cada realidade tem as suas peculiaridades, mas a partir das Diretrizes, é possível impulsionar processos provinciais e locais para “tornar Jesus Cristo e Maria conhecidos e amados”. A missão de “tornar Jesus Cristo e Maria conhecidos e amados” deu origem ao nosso Instituto, que tem o intuito de “formar bons cristãos e cidadãos virtuosos”. Essa é a razão de nosso existir. As Diretrizes aqui expostas desejam contribuir para alargar os horizontes de nossa ação educativo-evangelizadora. Dessa forma, a “leitura da vida, da história e de outros campos do conhecimento”, não só serão feitos de forma “plana”, mas a partir de uma leitura de fé. Esta leitura tem uma metodologia própria, já consagrada na Igreja Latino-americana: partindo da realidade (ver), passa-se para a análise, confrontando esta realidade vivida com os valores do Evangelho (julgar), para, por fim, esboçar uma dinâmica transformadora (agir). Assim as Diretrizes abrem o caminho para processos de sensibilização à solidariedade, à justiça, à fraternidade, ao encantamento pela pessoa de Jesus Cristo e sua mensagem, processos que ajudam na internalização dos valores do Evangelho, de conhecer e aceitar esses valores, procurar vivêlos no cotidiano e deixar-se transformar por eles. Desejo que estas Diretrizes sirvam para elaboração de projetos de evangelização inovadores em nossas Unidades, que formem convicções e abram perspectivas de projetos de vida baseados nos valores do Evangelho. Que Maria seja guia e companheira neste itinerário.

Ir. Inácio Nestor Etges Provincial Porto Alegre, 25 de janeiro de 2011, Festa da conversão do Apóstolo São Paulo, o Grande Evangelizador.


Introdução


Você está tomando em mãos as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província Marista do Rio Grande do Sul. Não é simplesmente a reedição do documento anterior, mas uma nova estrutura e nova escrita. O que é uma diretriz? Diretriz pode ser definida como linha reguladora do traçado de um caminho ou de uma estrada, um conjunto de instruções ou indicações para se tratar e levar a termo um plano, uma ação; diretriz ajuda a indicar a direção, a traçar um caminho a ser seguido. As Diretrizes são um marco balizador para todos os planos, projetos e ações pastorais. Elas inspiram, orientam e ajudam a “tornar Jesus Cristo e Maria conhecidos e amados”. Trata-se de um documento importante dentro da caminhada que a Província vem fazendo para dar conta de sua missão fundacional. Elas continuam reforçando a tomada de posição da Província diante da defesa da vida, diante dos modelos cristológicos e dos vários cenários eclesiais existentes. Perante essas questões não dá para ser neutro ou camuflar a posição. É preciso um posicionamento claro e preciso. As Diretrizes estão inseridas no universo de documentos da Igreja Católica e do Instituto Marista. Nesse sentido, não podem ser lidas de maneira isolada. A construção se deu dentro de um processo participativo, numa caminhada que contou com a participação de muitas pessoas, comprometidas com a missão marista


nas diversas Unidades da Província. A primeira versão das Diretrizes entrou em vigor no ano de 2005 e contou com a participação ampla das Unidades Maristas na sua redação. Após dois triênios em vigor, no início de 2010, foi sugerida pela Assessoria de Pastoral da Província a realização da avaliação, e ao mesmo tempo, a elaboração das novas Diretrizes. O processo avaliativo contou com o envolvimento de 800 pessoas das Unidades Maristas. A partir dessa avaliação foi realizado o III Encontro Provincial de Evangelizadores com a participação de 96 pessoas. Nesse encontro foram dadas as orientações gerais e o esquema para a nova redação. A partir disso a Assessoria de Pastoral da Província produziu o texto que você tem em mãos. Este documento, dessa forma, é uma construção coletiva, que congregou muitas mãos, mentes e corações. As Diretrizes seguem a metodologia do método do padre belga Joseph Cardjin, consagrado na Igreja Católica do Brasil e da América Latina. Esse método é composto de três partes: Ver, Julgar e Agir. Na parte do ver a realidade serão apresentadas tendências da atual mudança de época pela qual a humanidade vem passando. Não será realizado nenhum diagnóstico cultural, econômico, social, político, religioso, mas apenas apontados alguns elementos importantes que ajudarão cada uma das Unidades a ler a realidade na


qual estão inseridas; na parte do julgar são apresentadas as três pessoas que nos inspiram no processo evangelizador: Jesus Cristo, Maria e Champagnat. A partir de todo o processo realizado na revisão das Diretrizes, percebeu-se a necessidade de aprofundar a dimensão do projeto de Jesus Cristo, visto que é o centro de toda evangelização; na parte do agir serão apresentadas as 5 prioridades pastorais, assumidas no III Encontro Provincial de Evangelizadores. Essas 5 prioridades embasarão os projetos pastorais da Província e das Unidades. Cada prioridade apresenta algumas propostas de ação que ajudam a interpretar a prioridade, além de orientarem a definição de ações pastorais. As Diretrizes da Ação Evangelizadora são como um mapa. Se não há quem o interprete e trace um plano de percurso, de nada serve. Assim as Diretrizes, para se efetivarem precisam, por um lado, de um processo de planejamento e, por outro, de planos ou projetos de ação. Que as Diretrizes da Ação Evangelizadora ajudem a Província e as Unidades Maristas a estarem em pastoral, ajudem as pessoas envolvidas com o carisma marista a serem testemunhas vivas e atuais de Jesus Cristo e sua mensagem e a terem processos pastorais estruturados e organizados, gerando vida nos espaços onde estão inseridos. Equipe da Assessoria de Pastoral


CapĂ­tulo 1

Ver


Evangelização e Carisma: Espiritualidade, Espírito e Missão Marista Quando buscamos fazer uma leitura de mundo, precisamos nos perguntar a respeito de nossa identidade: Quem somos? De onde viemos? Onde estamos? O que fazemos?

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A identidade marista remonta a Marcelino Champagnat, que funda, em 2 de janeiro de 1817, o Instituto dos Irmãos Maristas, originalmente chamados de Petits Frères de Marie (Pequenos Irmãos de Maria). O Instituto Marista nasce para responder aos apelos que o Espírito Santo suscita em Champagnat, que oferece à Igreja e ao mundo um carisma 1. O carisma marista é formado por três elementos: espiritualidade 2, espírito e missão.

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Nossa espiritualidade é mariana e apostólica. “Brota do amor de Deus, cresce pelo dom de nós mesmos aos outros e nos conduz ao Pai” (C 3. 7). Nossas Constituições afirmam que levamos o nome de Maria, para “que vivamos do seu espírito” (C. 4). Maria é nossa inspiração

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1 “Entendemos carisma como um dom do Espírito oferecido para o bem da Igreja, que se estende a toda a humanidade. [...]. O carisma de um Instituto tem longa permanência no tempo e é construído por muitas pessoas”. Seán SAMMON. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado: a vida apostólica marista hoje. Circulares do Superior Geral dos Irmãos Maristas, 2006, p. 28-29. 2 “Ao longo da existência, nossa realidade espiritual interage dinamicamente com a experiência vital. De um lado, à medida que nos integramos à vivência cotidiana, vai-se formando o que entendemos ser nossa espiritualidade. De outro, esta espiritualidade constrói o modo como compreendemos o mundo, as pessoas, Deus e como nos relacionamos com eles. Quando mencionamos a espiritualidade cristã, referimo-nos ao fogo inextinguível que arde em nós e nos impregna da paixão pela construção do Reino de Deus. Ela representa a força propulsora de nossa vida, ao permitirmos que o Espírito de Cristo nos conduza. Todo cristão que vive isso, cresce em santidade”. INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Água da Rocha: espiritualidade marista, fluindo da tradição de Marcelino Champagnat, 2007, p. 14. 3 C (Constituições do Instituto dos Irmãos Maristas).

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Questões fundamentais sobre a identidade

Início do Instituto

Espiritualidade Mariana e Apostólica


como educadora (cf. C. 84). É nosso recurso habitual, que “tudo fez entre nós”. Ela nos leva a seu Filho Jesus, pois sempre o carrega “em seus braços ou em seu coração”. Isso pode ser percebido no lema: “Tudo a Jesus por Maria, tudo a Maria para Jesus” (C. 4). Maria nos inspira a vivenciarmos as virtudes da simplicidade, humildade e modéstia, características de nosso jeito de ser. “Essas virtudes imprimem autenticidade e benevolência a nossas relações” (C. 5). A nossa espiritualidade é apostólica, porque, como Igreja, está fundada sobre os Apóstolos (cf. Mt 16,18-20 e Ef 2,19-20) e manifestada na consciência da presença de Deus, tão cara a nosso Fundador. “Descobrimos e experimentamos Deus nas realidades temporais, próprias do ministério que exercemos, e percebemos o mundo como o lugar onde escutamos, servimos e amamos a Deus” 4. marista alimenta sua força e paixão no amor 4 Odo espírito Deus da Vida para com as pessoas. Manifesta-se no

Espírito marista

espírito de família, espelhado no lar de Nazaré e no amor ao trabalho. (cf. C. 6).

5 Marcelino Champagnat e da sua atenção às necessidades Nossa missão nasce da experiência de Deus realizada por

A educação como meio para a evangelização

de seu tempo. O Espírito Santo suscitou-lhe a missão de “tornar Jesus Cristo conhecido e amado (...), para a educação cristã das crianças e dos jovens, particularmente os mais necessitados” (C. 2). A partir da experiência de Marcelino, entendemos a educação como meio de evangelização, através do qual somos chamados 5 a testemunhar e a anunciar Jesus Cristo. Realizamos nossa missão 4 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Documento do XIX Capítulo Geral, 1993, nº 12. 5 Reconhecemos a importância da linguagem inclusiva de gênero. No entanto, fizemos a opção de não utilizá-la sempre neste documento, em vista da fluência do texto.

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enviados pela Igreja (cf. C. 80). “Animados de igual zelo, continuamos o carisma do Fundador respondendo aos anseios e às necessidades dos jovens de hoje” (C. 81). Com o tempo, o Instituto Marista se espalhou pelos cinco continentes, inspirados pelo Fundador que afirmava que “todas as dioceses do mundo entram em nossos planos” 6.

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No Rio Grande do Sul, os primeiros Irmãos chegaram em 2 de agosto de 1900. Eles vieram para atender aos pedidos feitos a partir de 1897 pelo então bispo de Porto Alegre, Dom Cláudio José Ponce de Leão. Em 1900, o SuperiorGeral, Ir. Teofânio, enviou uma circular aos Irmãos da Província Marista de Beaucamps, ao norte da França, solicitando voluntários para serem missionários no Brasil. Obteve a resposta de três Irmãos: Weibert (Auguste Marx), JeanDominici (Johann Fattler) e Marie-Berthaire (Pierre Redt). Antes de saírem da França, foram ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus de Montmartre em Paris, onde consagraram a obra que iriam fundar. Chegaram com o intuito de formar professores destinados ao ensino nas paróquias da zona rural do Rio Grande do Sul.

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Em pouco tempo a obra marista se expandiu no Sul do Brasil, buscando evangelizar crianças e jovens das mais variadas formas: por meio de escolas, da catequese, movimentos e pastoral juvenil, organização popular, universidade, hospital, centros sociais, centros vocacionais, e outros espaços de educação e pastoral.

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6 F. Paul SESTER. Cartas de Marcelino Champagnat, 1997, nº 93, p. 209-210.

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Expansão do Instituto Marista

Chegada dos Irmãos Maristas ao RS

Campos da ação evangelizadora dos Irmãos Maristas no sul do Brasil


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A escuta atenta aos sinais dos tempos

Hoje somos continuadores dessa missão. A missão de atualizar o carisma requer que estejamos atentos aos sinais dos tempos, buscando compreender os apelos do Espírito Santo em nossos dias, adaptando nossas metodologias, nossa forma de nos aproximar de crianças e jovens 7, procurando responder aos desafios da missão de evangelizar pela educação.

Evangelização e mudança de época

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Nossa forma de ver o mundo que nos cerca é marcada pela dimensão da fé. É um Ver com, na e pela Fé. A razão de ser de nossa missão é a evangelização, ou seja, vemos, discernimos e agimos pautados nos ensinamentos do Evangelho. Nosso esforço primeiro está em encarnarmos e testemunharmos a boa notícia de Jesus de Nazaré e imbuirmo-nos dos critérios evangélicos para realizar a leitura dos contextos onde estamos inseridos.

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Considerando os aspectos da fé e do carisma, trabalhamos para que nossas Unidades sejam e estejam em pastoral. Estar em pastoral é contribuir na missão de construir o Reino de Deus, agindo pela força do Evangelho, com um jeito marista. Essa missão se realiza em contextos socioculturais que têm características próprias, mas que, também, são influenciados pelas propostas culturais globais, que atingem as pessoas. Nestes últimos tempos, esse contexto cultural vem passando por algumas transformações profundas.

Nosso olhar é marcado pela dimensão da fé

Estar em pastoral é agir pela força do Evangelho

7 Para maior aprofundamento, cf. CNBB, Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais, Documentos da CNBB 85, 22007.

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O Documento de Aparecida afirma que “vivemos uma mudança de época, e sua dimensão mais profunda é a cultural” 8. Poderíamos dizer que o que está acontecendo em nosso tempo é uma profunda mudança de época, marcando uma transformação no modo de pensar e de ser da humanidade.

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Um dos sinais dessa transformação está na noção de tempo e espaço. Até há pouco, o tempo era visto como história: uma relação de passado-presente-futuro, e o espaço como algo visível e resultado da ação humana. Essa noção de tempo e espaço foi posta em questionamento com o surgimento dos meios de comunicação sem fio, o computador, a internet, o celular. As pessoas conseguem se comunicar instantaneamente, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância. O tempo dessa comunicação é real, no agora, mas o espaço não é visível, é virtual tendo apenas a sua imagem, as suas palavras, expressões e gestos. Por isso, de certa forma, passamos a conviver com uma noção de espaço-tempo que escapa de nossa percepção.

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A noção de identidade também sofre mudança. Hoje supõe a diferença e a pluralidade. A construção da identidade se dá na relação de respeito e no diálogo com o plural e o diverso. Ter identidade significa ter clareza dos valores que acredita, e não necessariamente ser igual ou idêntico. É, antes, compartilhar missão e valores.

8 CELAM. Texto conclusivo da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe: Aparecida, 52008, nº 44.

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Profunda mudança cultural

Mudança na noção de tempo e espaço

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Mudança na noção de identidade


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A diluição dos centros de influência e das instituições sociais é outro sinal dessas transformações. Há cerca de 50 anos, em alguns lugares a menos de 20 anos, as pessoas conheciam e sabiam distinguir as instituições sociais e os centros de influência. Eram basicamente a família, a Igreja, a escola, os grupos/comunidades locais e os meios de comunicação. Hoje é praticamente impossível enumerarmos e distinguirmos as fontes das quais as pessoas recebem influências. As próprias instituições sociais se transformaram. A família é um exemplo dessa transformação. Se até bem pouco tempo a família tinha um modelo nuclear definido (pai-mãe-filhos), hoje convivemos com várias formas possíveis de organização familiar.

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Outro sinal dessa transformação é a mudança do conceito de autoridade. A autoridade era identificada com pessoas que ocupavam cargos tidos como fundamentais e importantes, como o pai na família, o padre na Igreja, o prefeito e o delegado na cidade, o professor na sala de aula, as pessoas mais idosas... Essa forma de autoridade identificada com cargos e funções institucionais dá lugar a uma autoridade definida pelo interesse e pelo convencimento que pode ser através do testemunho, do conhecimento e de outros meios.

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A superação tecnológica, quase diária, qualifica e modifica os recursos de informação. Esse processo tem impacto direto nas relações interpessoais e sociais. Desde o celular até as redes sociais proliferam meios que redefinem o espaçotempo e os lugares no processo de comunicação. Receptores e emissores de mensagens coexistem simultaneamente, mesmo que situados em territórios geograficamente distintos, porém aproximados por interesses e narrativas em

Diluição dos centros de influência

O conceito de autoridade está mudando

A informação e a comunicação modificam as relações

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comum. Compreender a nova configuração das trocas comunicacionais e avançar no uso adequado dos recursos de interatividade é imprescindível para alcançar a coabitação, por meio da qual será possível estabelecer comunidades de partilha com os agentes de interesse, reduzindo assim, os riscos da incomunicação. No que diz respeito à economia, evidenciamos duas grandes tendências: o aprofundamento do capitalismo neoliberal e a emergência de uma economia solidária e sustentável. O capitalismo de mercado tenta impor a cultura do consumismo, interessada demasiadamente no lucro. Constatamos que a sociedade consumista conduz a humanidade à autodestruição, pois os recursos são escassos e muitos deles não são renováveis. Além disso, concentra a riqueza nas mãos de poucas pessoas e de grupos econômicos, gerando grandes desigualdades sociais. Por outro lado temos instituições, movimentos que continuam sua missão de anunciar que um “outro mundo é possível” 9. Visualizamos alguns sinais: cresce a consciência ecológica e a responsabilidade social planetária; há uma tendência política de governos que têm certo compromisso com a população mais pobre; são criadas cooperativas de produção e distribuição da renda, entre outros.

9 Uma iniciativa que anuncia “outro mundo possível” é o Fórum Social Mundial, iniciado em 2001, na cidade de Porto Alegre, e tem como intuito ser um “espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo, e busca alternativas às políticas neoliberais”. Disponível em http://www.forumsocialmundial.org.br/main.php?id_menu=19&cd_language=1. Acesso em dezembro de 2010.

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Economia neoliberal X economia solidária e sustentável


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Nestes últimos anos a consciência ecológica da humanidade vem mudando. Aumenta a consciência da interligação da vida 10 e de que a vida na Terra e, especialmente a vida humana, está em perigo. Essa ameaça vem, sobretudo, das mudanças climáticas e destruição da natureza. As mudanças climáticas afetam a todos, mas principalmente os mais pobres, pois o maior desafio nos vem da ecologia social que é a mais violada de todas. Atualmente o ser mais ameaçado da criação é o pobre, condenado a morrer antes do tempo.

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O paradigma das redes sociais redefine as formas de relacionamentos e de mobilização coletiva na contemporaneidade. A partir da troca de mensagem mediada, são estabelecidas comunidades de interesse aceleradas e aproximadas pela internet que resultam na circulação ampla de ideias e incorporação constante de novos interlocutores baseados na busca de algo em comum, que, entre outras causas, pode ser a da transformação social. Com baixa configuração hierárquica, simetria entre os interlocutores e horizontalidade, a rede proporciona a circulação intensiva de informação e conhecimento com forte potencial para promover a adesão às ideias partilhadas, à colaboração e, eventualmente, à ação. Diante desse potencial, as redes sociais têm, naturalmente, assumido lugar como espaço de participação das juventudes.

Mudança na consciência ecológica

Redes sociais, um novo paradigma

10 Para maior aprofundamento, cf. F. CAPRA. As conexões ocultas – ciência para uma vida sustentável, 2005.

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Em uma sociedade plural e democrática, percebemos que a ação em rede é imprescindível. O paradigma da rede requer ações construídas em conjunto, compartilhando valores e causas. Um exemplo são as lutas sociais por políticas públicas para minorias sociais.

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Com relação às juventudes contemporâneas, percebe-se a busca de autonomia e reconhecimento 11. Querem ser reconhecidas por aquilo que são, que vivem, que sonham, que desejam; buscam autonomia no pensar, no agir, na livre escolha. Na busca da autonomia e reconhecimento trazem em si algumas marcas 12: “medo de sobrar” por causa do desemprego; “medo de morrer” precocemente por causa da violência e “a vida em um mundo conectado” por causa da internet. Essas marcas apontam para a necessidade de promover mudanças mais profundas e estruturais no modelo de desenvolvimento econômico-social adotado no país, com reorientação de investimentos que garantam os direitos básicos da população, e aos jovens em particular, nas áreas de educação, criação de empregos, infraestrutura urbana, saúde, acesso à cultura e ao lazer, que têm repercussões na situação de segurança pública.

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Os direitos 13 são uma construção social e não um dado natural. Foram sendo conquistados por meio de lutas sociais: primeiro, os direitos cívicos; depois os direitos políticos e, somente na segunda metade do século passado, os direitos sociais, demandados pelas classes trabalhadoras na pers-

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11 Para maior aprofundamento sobre a autonomia e reconhecimento, cf. C. S. OLIVEIRA. Sobrevivendo no inferno – a violência juvenil na contemporaneidade, 2001, p. 33-128. 12 Cf. R. NOVAES e C. VITAL. A juventude de hoje: (re)invenções da participação social. In. A. THOMPSON (org.). Associando-se à juventude para construir o futuro, 2006, p. 112-113. 13 Cf. Helena Wendel ABRAMO. Quais direitos? In: Revista Onda Jovem, ano 2, nº 05, julho/outubro de 2006, p. 34-38.

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A importância da ação em rede

As juventudes buscam autonomia e reconhecimento

As lutas pela conquista dos direitos


pectiva de estabelecimento dos padrões de uma vida digna. Hoje, vivemos um período de expressão das demandas das diferentes subjetividades, ou dos “sujeitos singulares”: as crianças, as mulheres, os negros, os indígenas, as pessoas com deficiência, os idosos. São situações de vida, atravessadas por vários planos de diferenças e desigualdades, que demandam o estabelecimento de regras e medidas sociais para serem incluídos na condição de cidadãos. O segmento juventude vem sendo tomado como sujeito de direitos, o que significa, portanto, em primeiro lugar, reconhecer a especificidade de sua condição e a singularidade da sua experiência geracional e, em segundo lugar, olhar suas demandas como relevantes e pertinentes ao debate público.

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Hoje vemos emergir com grande intensidade a questão da espiritualidade 14 . Esse fenômeno surge na busca de repostas, de sentido para a vida, principalmente no contexto de mudança de época que estamos vivendo. A espiritualidade é uma das fontes primordiais de inspiração do novo, de esperança promissora, de geração de um sentido pleno e de capacidade de autotranscendência do ser humano. A humanidade recorre à espiritualidade, pois ela produz dentro de nós uma mudança, a procura pelo sentido profundo da vida.

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Constata-se mudanças na forma de viver e de cultivar a fé. A fé por tradição, transmitida pelos pais e herdada pelos filhos, dá lugar a uma fé por convicção. A fé por tradição tinha um forte acento nas normas morais do grupo e na obediência às autoridades instituídas. A fé por convicção segue a lógica da opção pessoal e pode ou não estar relacionada a vínculos e compromissos comunitários.

A busca pelo sentido da vida

Mudanças na forma de viver e cultivar a fé

14 Cf. Leonardo BOFF. Espiritualidade – um caminho de transformação, 2001.

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Vemos em nossos dias um pluralismo religioso que se percebe pelas diversas manifestações religiosas. Esse fenômeno nos desafia a sermos pessoas que sabem da razão da fé, que sabem ser ecumênicas e que valorizam o diálogo inter-religioso, o que supõe tolerância, respeito e abertura ao diálogo, ao mesmo tempo que nos desafia a ter clareza da nossa identidade.

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O ato evangelizador na Igreja Católica se movimenta dentro de cenários 15. Hoje existem vários cenários. Em alguns deles tende-se a doutrinar, evangelizando através da pregação, na perspectiva de que a fé é transmitida por tradição. Isso supõe que haja alguém que detém a fé e que pode transmiti-la a outros, ou seja, alguém já evangelizado, que a outros evangeliza. Em outros cenários tende-se ao diálogo com as culturas, integrando fé e vida. A nova cultura pede mais experiência prática da fé. Os jovens, hoje, por exemplo, querem ir à realidade, vendo, sentindo, tocando, refletindo e agindo. A experiência é condição inicial de conscientização. Há outros cenários que oscilam entre um e outro. Dentro desse contexto, o Documento de Aparecida pede conversão pastoral: “A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” 16. A conversão pastoral supõe conversão pessoal e das estruturas.

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15 Cf. João Batista LIBÂNIO, Cenários da Igreja, 32001. 16 CELAM. Texto conclusivo da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe: Aparecida, 52008, nº 370.

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Pluralismo religioso, um desafio

Vários cenários eclesiais


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Testemunhar Jesus Cristo e sua mensagem

A mudança de época que vivemos e o chamado à conversão pastoral requerem que testemunhemos e anunciemos Jesus Cristo e sua mensagem, pois “a evangelização é o centro e a prioridade de nossas ações apostólicas” 17. Sentimo-nos chamados por Deus para “evangelizar, integrando fé e vida e promovendo o diálogo com as diferentes culturas e religiões; sendo fermento e promovendo uma Igreja acolhedora, participativa, evangélica, profética e fraterna, dispostos a desenvolver e partilhar sua dimensão mariana; promovendo os valores humanos e cristãos para a transformação social e a renovação de nossas obras, a fim de torná-las, evangelicamente, mais fecundas” 18. Isso requer que aprofundemos o conhecimento e experiência acerca de Jesus Cristo, Maria e Champagnat, no intuito de iluminar a realidade, buscando a fidelidade criativa ao carisma marista.

17 UMBRASIL. Conclusões do XXI Capítulo Geral – Corações Novos para um mundo novo, 2009, p. 25. 18 UMBRASIL. Ecos de Mendes. Carta, documento final e celebração da Assembleia Internacional da Missão Marista – Um coração uma missão, 2007, p. 14.

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CapĂ­tulo 2

Julgar


Jesus Cristo e seu projeto

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O projeto de Deus para a humanidade

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Jesus e as relações familiares

A história da salvação é marcada por muitos sinais significativos da presença de Deus. Sinais esses que foram sendo contados de geração em geração, celebrados e, depois, escritos, dando origem a um dos livros mais importantes da humanidade: a Bíblia. A Bíblia mostra que Deus está sempre presente: vê, ouve, acompanha, anima e respeita a liberdade dos seus filhos e filhas. Jesus Cristo, Palavra encarnada, é Deus que assume a condição humana. Apresenta-se como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) 19. Em Jesus Cristo encontramos a concretização da vontade de Deus. Ele é a nossa fonte inspiradora. Jesus nasceu em uma família humilde 20 e migrante 21, da região da Galileia. Provinha de Nazaré, uma aldeia na qual foi criado e que lhe deu o nome pelo qual era conhecido: Jesus de Nazaré. Sua língua materna era o aramaico. Em Nazaré viveu a maior parte da sua vida, filho de artesão (carpinteiro) e trabalhando com toda a probabilidade no mesmo ofício do pai. Com a família viveu as primeiras experiências da fé, seguindo os costumes religiosos do povo judeu, cujo fundamento era a Lei (Torá) e os Profetas. O Evangelho diz que “Ele crescia em graça e sabedoria” (Lc 2, 40).

19 As citações bíblicas utilizadas no decorrer do texto são extraídas da Bíblia Sagrada Edição Pastoral, 40º 1990. 20 Cf. José Antonio PAGOLA. Jesus – aproximação histórica, 2010, p. 61-86. 21 José, pai adotivo de Jesus, era da tribo de Judá. Os relatos bíblicos falam de um recenseamento que obrigou José e Maria voltar para a sua tribo e, neste processo, em Belém, nasceu Jesus.

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Por volta dos 30 anos de idade teve contato com o movimento religioso em torno de João Batista 22, que anunciava a conversão e a vinda do Messias. João Batista cultivava uma tradição religiosa que pretendia ser fiel a uma experiência de fé e vida baseada no Êxodo. Tudo indica que entre os judeus da Galileia também havia forte presença dessa tradição, baseada numa organização sociorreligiosa igualitária. Não é de estranhar, portanto, que Jesus tenha buscado João Batista, no deserto, para batizar-se, em vez de cumprir esse ritual no templo de Jerusalém. Essa experiência espiritual foi decisiva na sua vida, tanto que o levou a deixar a sua família em Nazaré e a começar uma atividade itinerante como profeta, anunciando e testemunhando o Reino de Deus. Durante três anos Jesus percorreu caminhos e povoados da Galileia, com incursões na Samaria e passagens por Jerusalém.

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A humanidade de Jesus nos leva a compreender a divindade não como poder autoritário, mas como amor e serviço. Demonstrou sua humanidade com atitudes: visitou amigos (cf. Lc 10,38-42), chorou-lhes a morte (cf. Jo 11,35), comoveu-se diante da tristeza da mãe viúva que havia perdido um filho (cf. Lc 7,13), participou de refeições com pessoas (cf. Mc 2,15) a ponto de ser chamado de comilão e beberrão (Mt 11,19). Na relação com as pessoas, Jesus transmitia uma afirmação incondicional da vida, uma grande capacidade de acolher, respeitar e acreditar nas pessoas, uma sensibilidade profunda de sintonia e compaixão diante do sofrimento. Manifestou sua profunda humanidade de modo preferencial aos pecadores, pobres e excluídos. Viveu entre eles. Fez-se pobre com os pobres, pois se sentia amado, unificado e impulsionado pelo amor.

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22 Cf. José Antonio PAGOLA. Jesus – aproximação histórica, 2010, p. 87-107.

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O contato de Jesus com João Batista

A compaixão de Jesus perante a vida


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Encontrou na história do seu povo, na convivência familiar e na escuta da Palavra de Deus em comunidade os elementos principais e fundamentais para ir se formando como ser humano.

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Jesus era uma pessoa de oração e com frequência o encontramos rezando. A oração de Jesus é um espaço em que confronta a sua prática, suas atitudes, suas escolhas com a vontade Daquele que o enviou. Era ligada à vida; àquilo que via e vivia. Jesus rezava pedindo pelo Reino: “venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6,10); pelos seus: “eu peço por eles. Não peço pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17,9); louvava porque o Projeto ia acontecendo e porque os pobres recebiam a Boa-Nova: “eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos...” (Mt 11,25-27); rezava diante da dor e da cruz que se aproximavam (Lc 22,42-44).

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Sua espiritualidade nos leva a conhecer o rosto de Deus. Deus é Pai e Mãe que acolhe e escuta, cheio de ternura e misericórdia, os seus filhos e filhas. Jesus ajuda a superar certas ideias de um Deus justiceiro ou mal-humorado, pois Deus é amor, e o amor vem de Deus. Por isso nos dá o mandamento novo: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34). Apresenta-nos um Deus profundamente interessado pelos humanos, de entranhas de compaixão, que não é propriedade de religião alguma.

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Tem em sua vida a presença e ação do Espírito Santo. Entende o Espírito como vento que sopra, como fogo que arde. Crê no Espírito Santo como força e capacidade de lutar por um mundo diferente: “o Espírito do Senhor está

Influências na formação de Jesus

Jesus, um homem em constante oração

A espiritualidade de Jesus nos leva a conhecer o rosto de Deus

O Espírito Santa conduz Jesus

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sobre mim, porque me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19). O segredo da atuação profética de Jesus está na forma singular de sua relação amorosa com Deus. É Deus mesmo, com seu projeto, que está no centro de sua vida, como presença que o transforma interiormente e o leva a ser aberto, acolhedor e a ter compromisso gratuito com os outros. Jesus é o modelo de espiritualidade e de oração, revelando a missão que o evangelizador tem para consigo mesmo e para com o mundo, pois tudo aquilo que anuncia e pede aos outros ele próprio ouve e põe em prática. Do ponto de vista da liderança 23, Jesus tinha algumas características fundamentais: “poder de cura, comensalidade, fascínio pessoal, jogo entre proximidade e distância, inteligência perspicaz nas discussões e contador de histórias” 24. Suas histórias assumiam a forma de parábolas por meio das quais passou conteúdo importante de seus ensinamentos. O fascínio pessoal de Jesus e sua mensagem eram o que mais encantava o povo. A simpatia que tinha diante das pessoas é devida ao testemunho em palavras e em atos. As pessoas o percebem imediatamente como profeta de Deus, curador da vida, defensor dos últimos e como um mestre de vida que ensina a viver de maneira a realizar, na prática, os sinais do 23 Cf. João Batista LIBANIO. Qual o futuro do cristianismo?, 2006, p. 48-51. 24 Ibid., p. 48.

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Deus e seu projeto estão no centro da vida de Jesus

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Jesus, um líder

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Uma vida centrada no testemunho e nas ações


Reino de Deus. Muitos daqueles que não aderem a Jesus pela fé são provavelmente seduzidos pela atenção prestada por Ele, em sua prática social, aos marginalizados e excluídos, pela nobreza de seu ensinamento ético, que encontramos, por exemplo, no sermão da montanha (Mt 5, 1-12). Admira-se também sua notável insistência no perdão e na solidariedade.

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Um mestre que insiste na mudança do coração

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O que é o Reino de Deus?

As pessoas o chamam de rabi, porque o veem como um mestre, como um sábio que ensina a viver respondendo a Deus, porque têm a impressão de estar ouvindo de seus lábios um caminho de vida diferente daquilo a que estavam acostumadas. Seu ensino tem um caráter transformador. Utiliza uma linguagem extraída da sabedoria popular. Insiste na mudança do coração. Quer levar a todos para além da lei, pois sua meta é chegar ao amor, pois o amor é condição essencial para a promoção do Reino de Deus. Na boca de Jesus, o Reino de Deus 25 era uma “boa notícia” que dava novo sentido à vida das pessoas. “Reino de Deus é aquela presença ativa e revolucionária de Deus dentro do universo: presença cósmica, comunitária, social, pessoal, presença íntima a cada pessoa humana. Porque o Reino de Deus está dentro de cada pessoa, e é a partir do interior de cada ser humano que Deus mesmo produz transformações. O Reino de Deus é a presença transformadora de um Deus que se acercou de nós e veio buscar o que é seu: seus filhos e filhas, para resgatá-los, purificá-los e assim transfigurá-los, a eles e a tudo o que os cerca, a natureza e o universo” 26. 25 Para aprofundar o tema sugerimos Jon SOBRINO. Jesus, o libertador. I. A história de Jesus de Nazaré, 1994, p. 105-199. 26 Cf. Leonardo BOFF. Espiritualidade – um caminho de transformação, 2001, p. 31-36.

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O Reino é o grande projeto do Pai, a grande utopia de Deus de fazer uma família de filhos e irmãos, um lar para todos, uma humanidade libertada de toda a opressão, reconciliada com a natureza, entre si e com Deus, onde a pessoa possa se sentir e ser, verdadeiramente, irmã dos outros e filha de Deus. É realizar “os novos céus e a nova terra” anunciados pelos profetas (Is 65,17-25). Jesus anuncia essa “boa notícia” a partir daquilo que o Evangelho chama os “pequenos”: pobres, doentes, pecadores, prostitutas, enfim todos os excluídos do convívio social e religioso com os quais Jesus convive e se senta à mesa para devolver-lhes a dignidade e integrá-los na vida novamente.

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Para Jesus, o Reino de Deus não era uma teoria, mas uma vivência, uma prática. Nos seus atos e palavras, Deus tocava as pessoas nas situações concretas da vida. Eram sinais do que poderia ser a vida humana em sociedade se Deus fosse de fato o unificador da vida, se a vida humana fosse organizada segundo o que Deus sonha para os seus filhos e filhas. Tem plena consciência de que o reinado de Deus começa neste mundo, mas que não se realiza plenamente aqui e agora.

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A pedagogia que Jesus utiliza para testemunhar e anunciar o Reino de Deus é a pedagogia que aprendeu do seu próprio Pai. A pedagogia utilizada por Deus aparece claramente no texto do Ex 3, 7-9: “Eu vi bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo do poder dos egípcios e para fazê-lo subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e mel (...). O clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e eu estou vendo a opressão com que os

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Reino, o grande projeto de Deus

Reino de Deus... vivência e prática

Uma pedagogia baseada na pedagogia do Pai


egípcios os atormentam”. A expressão definitiva dessa pedagogia é Jesus Cristo. Assim nos relata São Paulo: “nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos antepassados por meio dos profetas. No período final em que estamos, falou a nós por meio do Filho. Deus o constituiu herdeiro de todas as coisas (...). O Filho é a irradiação de sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo” (Hb 1, 1-3).

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Ao longo de três anos Jesus acompanhou os discípulos 27. Ele era o amigo (Jo 15,15) que convivia, comia, andava, alegrava-se e sofria com eles. Era através dessa convivência que eles se formavam. Muitos pequenos gestos refletem o testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e das discípulas: o seu jeito de ser e de conviver, de relacionar-se com as pessoas e de acolher o povo que vinha falar com ele. Era a maneira de dar forma humana à sua experiência de Deus.

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O seguimento evangélico tem um duplo sentido: estar e formar comunidade com Jesus e ir em missão (Mc 3,13-15), indicando o relacionamento do discípulo com o mestre. Os discípulos “seguem” o mestre e se formam na convivência diária com ele, dentro do mesmo estilo de vida.

Jesus, o acompanhante dos discípulos/as

O duplo sentido do seguimento

O seguimento de Jesus tinha três dimensões que perduram até hoje e que formam o eixo central do processo de formação dos discípulos: imitar o exemplo do Mestre - Jesus era o modelo a ser recriado na vida do discípulo 27 Os números 45 a 52 se referem ao seguimento de Jesus. Utilizamos como referência a palestra de C. MESTERS e F. OROFINO. Jesus, formando e formador, 6 a 11 de outubro de 2009. Para aprofundamento sugerimos José COMBLIN. O caminho: ensaio sobre o seguimento de Jesus, 2004.

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ou da discípula (Jo 13,13-15). A convivência diária com o mestre permitia um confronto constante. Nessa “escola de Jesus” só se ensinava uma única matéria: o Reino! E esse Reino se reconhecia na vida e na prática do Mestre. Isso exige leitura e meditação constantes do Evangelho para olharmos no espelho da vida de Jesus; participar do destino do Mestre - a imitação do Mestre não era um aprendizado teórico. Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e “estar com ele nas tentações” (Lc 22,28), na perseguição (Jo 15,20). Devia estar disposto a carregar a cruz e a morrer com Ele (Mc 8,34-35). Isso exige um compromisso concreto e diário de fidelidade com o mesmo ideal comunitário com que Jesus, fiel ao Pai, se comprometia; ter a vida de Jesus dentro de si - depois da Páscoa, surge uma terceira dimensão, fruto da fé na ressurreição e da ação do Espírito na vida das pessoas. Trata-se da experiência pessoal da presença de Jesus ressuscitado, que levava os primeiros cristãos a dizer: “eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Eles procuravam refazer em suas vidas a mesma caminhada de Jesus que tinha morrido em defesa da vida e da salvação da humanidade, e foi ressuscitado pelo poder de Deus. Isso exige de nós uma espiritualidade de entrega contínua, alimentada na oração e nos sacramentos.

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Desde o primeiro momento do chamado, Jesus envolve os discípulos na missão que ele mesmo estava realizando em obediência ao Pai. A participação efetiva no anúncio do Reino faz parte do processo formador, pois a missão é a razão de ser da vida comunitária ao redor de Jesus: Jesus convocou os Doze e lhes deu poder e autoridade sobre os

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As dimensões do seguimento

Jesus envolve os discípulos/as na missão


demônios e para curar as doenças (Lc 9,1-2). Enviou-os para anunciar a chegada do Reino (Lc 10, 9), anunciar a paz (Mt 10,13) e rezar pela continuidade da missão (Lc 10,2).

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Jesus utiliza-se do método participativo das parábolas para ajudar a formar os seus discípulos. A parábola é uma forma participativa de ensinar e de educar. Não dá tudo mastigado e pronto. Leva a descobrir. Muda a percepção da pessoa, ajuda a ser contemplativa, observadora da realidade. Leva a pessoa a refletir sobre a sua própria experiência de vida, e faz com que essa experiência a leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano da vida de cada dia. O método da parábola provoca e questiona a ter uma atitude.

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Jesus tem consciência de que precisa ir formando os seus discípulos e seguidores. Não basta só andar e conviver com Ele. É preciso estar atento para não se deixar levar e seduzir por valores que se contrapõem ao seu projeto. O “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a ideologia dominante da época, tinham raízes profundas na vida daquele povo. A conversão que Jesus pedia e a formação que ele oferecia procuravam atingir e erradicar de dentro deles esse “fermento” da ideologia opressora e dominante. Também hoje, a ideologia do sistema neoliberal renasce sempre de novo na vida das comunidades e dos discípulos e discípulas. O “fermento do consumismo” tem raízes profundas na vida e exige uma vigilância constante. Jesus ajudava os discípulos a viverem num processo permanente de formação. É a ajuda fraterna com que Ele, atento ao processo de formação dos discípulos, intervinha para ajudá-los a dar um passo e criar nova consciência.

As parábolas... uma ferramenta pedagógica/ metodológica

Jesus, o formador dos discípulos(as)

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Os conteúdos e recursos didáticos em que Jesus mais insistia eram vários: testemunho de vida: “Segue-me” (Lc 5,27). “Venham e vejam” (Jo 1,39). O discípulo tem na vida do Mestre uma referência; vida e a natureza: Jesus descobre a vontade do Pai nos fenômenos mais comuns da natureza e a transmite aos discípulos e discípulas. Na chuva que cai sobre bons e maus ele descobre a misericórdia do Pai que acolhe a todos (Mt 5,45); nos pássaros do céu e nos lírios do campo ele descobre os sinais da Divina Providência (Mt 6,26-30); as grandes questões do momento e as perguntas do povo: A queda da torre de Siloé em construção que matou 18 operários (Lc 13,1-4), a fome do povo (Lc 9,13), o ensinamento dos escribas (Mc 12,35-37) e tantos outros problemas, fatos e perguntas do povo; jeito de ensinar em qualquer lugar: Em qualquer lugar onde encontrava gente para escutá-lo, Jesus transmitia a Boa-Nova de Deus, como nas sinagogas durante a celebração da Palavra nos sábados (Mc 1,21), em reuniões informais nas casas de amigos (Mc 7,17), andando pelo caminho com os discípulos (Mc 2,23), na montanha, de onde proclamou as bem-aventuranças (Mt 5,1-12); momentos a sós com os discípulos: Várias vezes, Jesus convida os discípulos para ir com ele a um lugar distante, seja para instruir (Mc 4,34), seja para descansar (Mc 6,31); a Bíblia e a história do povo: Jesus se orientava pela Sagrada Escritura para realizar sua missão e ele a usava para instruir os discípulos e o povo; a Cruz e o sofrimento: Quando ficou claro para Jesus que as autoridades religiosas não iam aceitar a sua mensagem e que decidiram matá-lo, Ele começou a falar da cruz que o esperava em Jerusalém (Lc 9,31).

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51 Os recursos didáticos utilizados por Jesus


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Jesus os chama para que compartilhem sua experiência de irrupção do Reino de Deus e, com Ele, participem da tarefa de ajudar as pessoas a acolhê-lo. Tudo era humilde e pequeno, como um “grão de mostarda”. Com eles irá se definindo, dentro da cultura dominante do Império, uma vida diferente: a vida do Reino de Deus em que os discípulos de Jesus já não vivem sujeitos a César; com eles Jesus cria um espaço novo sem dominação do masculino; aproximam-se dos que estão fora ou às margens do sistema, pois abandonaram as estruturas do Império e saíram do seu grupo familiar; aprenderam a viver na insegurança; aprenderam a ser alegres e servidores.

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Através da vivência nesse novo espírito comunitário foram se tornando referência para as pessoas, para os povoados. Conseguiam criar um ambiente novo por onde passavam. A alegria espalhava-se por toda a aldeia ao correr a notícia de alguma cura. Era preciso celebrar o fato. Os enfermos podiam integrar-se outra vez na convivência. Os leprosos e endemoninhados podiam sentar-se novamente à mesa com seus entes queridos. Naquelas refeições, sentados com os discípulos de Jesus, estreitavam-se os laços, caíam as barreiras, aos vizinhos tornava-se mais fácil perdoar-se mutuamente os agravos. De maneira humilde, mas real, as pessoas experimentavam os sinais da chegada do Reino de Deus. Assim iam se criando as bases para uma nova sociedade, sadia e fraterna, digna e feliz.

O chamado de Jesus é para experienciar os sinais do Reino de Deus

Os discípulos experienciam o novo modelo comunitário

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O anúncio do Reino de Deus provocou muitas reações, algumas positivas, outras negativas. Esse mesmo projeto levou Jesus a tomar posição perante o poder político e religioso e, por causa disso, foi morto violentamente numa cruz.

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A reação dos discípulos de Jesus perante a morte violenta na cruz foi de fuga 28. Fugiram para a Galileia. Passaram por uma crise profunda e radical. Teriam perdido a fé em Jesus? Ruiu a adesão a Ele e a Seu projeto? Agora são discípulos desolados que fugiram do perigo, desconcertados e apreensivos diante do que aconteceu.

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Pouco tempo depois aconteceu algo surpreendente. Esses homens e mulheres retornaram a Jerusalém e se reuniram em nome de Jesus, proclamando a todos que o profeta injustiçado dias antes pelas autoridades do Templo e pelos representantes do Império está vivo, a morte não tem poder sobre Jesus, o crucificado está vivo, Deus o ressuscitou dos mortos. Entendem que Deus deu razão a Jesus e Lhe fez justiça, ressuscitando-o dos mortos. Passam a fazer a interpretação da morte de Jesus aos olhos da ressurreição. Passam a entender e interpretar mais profundamente tudo o que Jesus havia dito em vida. Conseguem entender que a morte não pode com o Deus da VIDA, entendem as palavras de Jesus sobre sua morte, sobre sua ressurreição ao terceiro dia, sobre a vinda do Espírito Santo. Jesus “se deixa ver” (1Cor 15,5-8), aparece a eles cheio de vida, e isso faz com que vivam agora um processo que não só reavivou a fé que tinham em Jesus, mas os abriu para uma experiência nova e inesperada de sua presença entre eles.

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28 Cf. José Antonio PAGOLA. Jesus – aproximação histórica, 2010, p. 490-494.

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O anúncio do Reino de Deus provoca reações

Perante a morte de cruz de Jesus os discípulos/as fogem

A ressurreição de Jesus produz esperança e vida


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A fé em Jesus ressuscitado leva a constituir comunidades

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As primeiras comunidades cristãs interpretam a história de Jesus

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O Espírito de Jesus age nas primeiras comunidades cristãs

A ressurreição os fez constituir novamente comunidade e superar a frustração causada pela morte de Jesus. Recuperaram a fé no Senhor. Passaram a testemunhar e anunciar a fé no Ressuscitado provocando nas pessoas adesão ao projeto de Deus. As primeiras comunidades cristãs nascem da fé na ressurreição daquele que haviam seguido e que a injusta condenação e a trágica morte de cruz havia tirado do meio deles. Os discípulos, juntamente com as primeiras comunidades, passaram a interpretar a história de Jesus com um novo olhar, a reavivar o que experimentaram junto Dele. Impulsionados pela fé em Jesus crucificado-ressuscitado, começaram a recordar suas palavras, mas não como se fossem o testamento de um mestre morto que pertence para sempre ao passado, e sim, como palavras de alguém que está “vivo” no meio deles e continuava a lhes falar com a força de seu Espírito. Cheios do Espírito Santo, os discípulos testemunharam com palavras e atos que Jesus está vivo, pois Deus o ressuscitou. Continuaram narrando, lembrando o que aconteceu com Jesus. É em nome de Jesus e em sua memória que realizam milagres, que convocam as pessoas para O seguirem, para serem testemunhas Dele. No livro dos Atos dos Apóstolos podemos encontrar muitos relatos a respeito do testemunho dos discípulos: “Pedro e João ainda estavam falando ao povo, quando chegaram os sacerdotes, o chefe da guarda do Templo e os saduceus (...). Prenderam Pedro e João e os colocaram na prisão até o dia seguinte (...). No dia seguinte se reuniram em Jerusalém os chefes, os anciãos e os doutores da Lei (...). Fizeram Pedro e João comparecer diante deles e os interrogavam: 40


com que poder, ou em nome de quem vocês fizeram isso? Pedro, cheio do Espírito Santo, falou para eles: ‘Chefes do povo e anciãos, hoje estamos sendo interrogados em julgamento porque fizemos o bem a um enfermo e pelo modo com que ele foi curado. Pois fiquem sabendo todos vocês, e também todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré – aquele que vocês crucificaram e que Deus ressuscitou dos mortos – é pelo Seu nome, e por nenhum outro, que este homem está curado diante de vocês. Jesus é a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular’ (...)” (At 4, 1-12). Os discípulos tinham consciência de que é o Espírito de Jesus que estava agindo neles. Intuíam que, narrando as histórias de Jesus, conseguiriam manter vivo o que disse o “Profeta de Nazaré”. Também sabiam que é na vida diária e em confronto com ela que poderão continuar fazendo a experiência do ressuscitado e testemunhando com atos essa experiência. Dão às pessoas aquilo que de mais precioso têm: a vida plena em Jesus Cristo. Perceberam que, caminhando pelos caminhos da vida, encontrando pessoas, partilhando experiências, denunciando as injustiças, encontrariam Jesus, o Senhor da vida. As primeiras comunidades cristãs nasceram a partir da ação de Jesus, o Nazareno, da sua ressurreição e do envio do Espírito Santo. Nasceram para continuar a missão de testemunhar os sinais do reinado de Deus, narrando a todos e todas a história de Jesus.

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As primeiras comunidades cristãs narram o que aconteceu com Jesus

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As primeiras comunidades cristãs nascem da ação de Jesus e da ação do Espírito Santo


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Para a ação evangelizadora na contemporaneidade não é diferente, pois o Deus de Jesus é o nosso Deus. A causa de Jesus é a nossa causa. Ele é nossa paixão, e seu Espírito nosso elã. “Sem o Espírito Santo, Deus está longe; Cristo fica no passado; o Evangelho é letra morta; a Igreja não passa de mera organização; a autoridade se converte em domínio; a missão, em propaganda; o culto, em evocação; e os deveres dos cristãos, em moral própria de escravos. Porém, nele, o cosmo se desperta e geme na infância do Reino; Cristo ressuscitou; o Evangelho aparece como potência de vida; a Igreja, como comunhão trinitária; a autoridade é um serviço libertador; a missão, um pentecostes; a liturgia, memorial e antecipação; a ação humana, algo divino (Ignatios de Lattarquié)” 29. Ele é para nós fonte de vida, alimento para a oração, luz para conhecer a vontade de Deus nos acontecimentos e força para viver em fidelidade nossa vocação de educadores e educadoras.

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Os paradigmas mudam, e nós continuamos afirmando com a mesma paixão de Jesus que o nosso paradigma, inalterável, definitivo, total, é sempre o Reino de Deus. Inspirados pelas experiências dos primeiros cristãos, temos também nós a missão de continuar nos organizando em comunidades para testemunhar nossa fé no crucificado-ressuscitado, continuar acreditando e trabalhando para que os sinais do reinado de Deus se estabeleçam neste mundo.

Jesus é para nós fonte de vida

O nosso paradigma é o Reino de Deus

29 Cf. Antonio José de ALMEIDA. Paróquia, comunidades e pastoral Urbana, 2010, p. 251-252.

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Para isso queremos viver e construir uma Igreja, povo de Deus 30, rede de comunidades 31 que seja: missionária, capaz de ir ao encontro dos afastados, inculturando também o Evangelho no mundo urbano, nas juventudes, nas crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social; ministerial, assumindo os dons e disponibilidade de cada um, para que todos a construam a seu jeito; samaritana, em defesa dos que sofrem e dos que não têm defesa, capaz de educar e educar-se para a prática da justiça e de trabalhar para transformar a realidade social; dialogante, capaz de falar a linguagem do homem e da mulher de hoje, ensinando e aprendendo, reconhecendo valores fora de suas fronteiras, em efetiva colaboração ecumênica com cristãos de outras denominações e no diálogo interreligioso; acolhedora, para os que chegam e para os que já estão dentro, menos legalista e mais misericordiosa, construtora de comunidades capazes de despertar a mesma exclamação que brotava diante da vida dos primeiros cristãos: “Vejam como eles se amam”; criativa, capaz de se transformar sem perder o essencial, para responder a situações novas, capaz de responder ao desejo de mais participação, construindo novas relações e superando a liderança petrificada que não dá espaços para novas pessoas, novas ideias, novas maneiras de agir; evangelizada e evangelizadora, em suas palavras, ações, celebrações e modo de viver; comunidade fraterna, em que as pessoas se valorizam mutuamente e se querem bem; alimentadora da espiritualidade, para se encontrar permanentemente na presença do Senhor e ajudar a educar para a oração, 30 Para um maior aprofundamento sobre a teologia do Povo de Deus sugerimos José COMBLIN, O Povo de Deus, 2º 2002. 31 CELAM. Texto conclusivo da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe: Aparecida, 5º 2008, nº 170 a 180.

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Uma Igreja Católica povo de Deus e rede de comunidades


a celebração, a experiência mística; profética, no anúncio e na denúncia, na vigilância e no testemunho; e mariana, com características maternas, capaz de perceber as necessidades das pessoas e se colocar a serviço.

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Jesus de Nazaré é o centro do cristianismo

Hoje e cada vez mais, precisamos encarnar o Espírito de Jesus. Talvez seja a única forma de viver em processo de conversão permanente nas comunidades cristãs e em cada uma das pessoas que creem se nos atrevermos a viver mais abertos ao Espírito de Jesus que testemunhou uma vida plenamente feliz para toda a criação, uma vida libertada para sempre e vivida a partir da Fonte. “A primeira coisa e a mais decisiva é esta: pôr Jesus no centro do cristianismo. Todo o resto vem depois, é secundário. O que pode haver de mais urgente e necessário para os cristãos do que despertar entre nós a paixão pela fidelidade a Jesus? Ele é o melhor que temos na Igreja. O melhor que podemos oferecer e comunicar ao mundo de hoje” 32.

Maria seguidora de Jesus

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Maria... é a mulher do sim

Maria é a mulher que diz sim ao projeto de Deus. Era uma adolescente no momento da anunciação. Teve coragem para aceitar ser a interlocutora do Pai em seu projeto de enviar seu Filho ao mundo para a salvação da humanidade. Quando disse “sim”, não tinha clareza das implicâncias do todo de sua missão, mas soube, no decorrer de sua vida, ser fiel ao sim dado ao projeto do Pai.

32 José Antonio PAGOLA. Jesus – aproximação histórica, 2010, p. 566.

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Dentro da história da salvação obteve a missão de conceber, educar e acompanhar seu Filho até seu sacrifício definitivo. Assim, adquire um papel fundamental, pois se tornou uma mulher... livre e forte: emerge do Evangelho conscientemente orientada para o verdadeiro seguimento de seu Filho; solidária: percebe a necessidade de sua prima Isabel, e vai visitá-la e ajudá-la. Percebe as necessidades dos noivos em Caná e busca uma solução; do povo: canta o Magnificat, exaltando as maravilhas que o Senhor realiza na história e anunciando a justiça divina; aflita perante algumas situações da vida, pois precisa dar respostas: “como se fará isso?” (Lc 1, 34), “meu filho por que fizeste isso conosco?” (Lc 2, 48); discípula do seu Filho: aponta para Ele, exortando a “fazer tudo o que Ele disser” (cf. Jo 2,5); mãe: perpassa geração em geração, acompanhando os povos, que a ela recorrem, atribuindo a ela diversos títulos; que ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos de seu Filho; que cria comunhão e educa para um estilo de vida compartilhada e solidária, em fraternidade, na atenção e acolhida do outro, especialmente ao empobrecido. Dentre as mulheres presentes no Pentecostes está Maria. Está presente com os Apóstolos, pois é seguidora de Jesus, tem consciência de que precisa continuar a missão evangelizadora do seu Filho. “Maria foi a primeira missionária, a primeira mensageira do Evangelho, a primeira pessoa a anunciar a Boa-Nova de Jesus Cristo ao outro. E realizou isso simplesmente acolhendo o Senhor em seu seio. Maria nos adverte de que a missão pouco tem a ver com transmitir a mensagem por palavras; mas tem tudo a ver com o movimento ao encontro do outro, com Jesus no 45

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Maria é a mulher com um papel fundamental

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Maria é modelo de seguimento


coração” 33. Nela descobrimos as características do discipulado: a escuta amorosa e atenta (cf. Lc 1,26-28); a obediência à vontade do Pai (cf. Lc 1,38); a fidelidade a ponto de acompanhar seu filho até a cruz (cf. Jo 19,25-27).

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Maria é exemplo de evangelização

Maria é para os evangelizadores escola de fé destinada a conduzir e a fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra e com o Redentor da humanidade.

Marcelino Champagnat e a evangelização

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Na França, na época da Revolução Francesa, emergia nova visão referente às questões sociais. Eram apregoados os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade. No entanto, a vontade de mudar havia se transformado em perseguições, especialmente a religiosos e políticos, porque viam na Igreja uma instituição que ajudava a manter a situação social vigente.

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O sistema educacional estava numa situação difícil. As pessoas dedicadas ao ensino enfrentavam condições complicadas. Há registros de que havia professores sem formação, até mesmo malvistos moralmente, sem condições de exercerem a função de educadores.

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Em 1789, nasceu Marcelino Champagnat, nono filho de uma família de dez. O pai, dedicado às questões políticas, era um líder na região de Marlhes. A mãe se dedicava ao cuidado da família. Também morava com a família

Tempos de Revolução Francesa

Sistema educacional em crise

Marcelino e as relações familiares

33 Seán SAMMON, Em seus braços ou em seu coração. Maria, nossa Boa Mãe. Maria, nossa fonte de renovação, 2009, p. 43.

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uma tia religiosa, Luiza, Irmã de São José de Chambèrry, que teve que abandonar o convento, devido à Revolução. Essas três pessoas, principalmente, influenciaram na educação e na personalidade de Champagnat 34. Na família, cultivava-se a fé, mesmo com as dificuldades impostas pela Revolução. O amor a Maria nasceu no berço familiar de Marcelino.

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Família... cultivo da fé

A primeira experiência na escola foi decepcionante: mais velho que os colegas, sem saber ler, Marcelino se deparou com uma atitude que o fez não querer mais voltar à escola. Solicitado pelo professor para que lesse, um colega, ao ver que Marcelino não sabia, pôs-se à sua frente e iniciou a leitura, o que resultou em uma bofetada dada pelo professor.

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Essa experiência intrigou o menino Marcelino: “Como pode um professor agir daquela maneira?”. Pensando que não tinha vocação para o estudo, Marcelino decidiu não ir mais à escola. Queria dedicar sua vida ao cuidado das ovelhas, o que poderia ser um bom negócio.

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Essa resolução seria modificada com um convite: “Deus o quer”. Um sacerdote chegou à família Champagnat e lançou o convite a Marcelino para ser sacerdote. Esse convite intrigá-lo-ia, e o inquietaria até decidir entrar no seminário.

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34 Cf. UMBRASIL. Missão Educativa Marista: um projeto para nosso tempo, 32003, p. 17.

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Uma experiência marcada pela decepção...

e quase decisiva

Um convite provocador


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No seminário, enfrentou dificuldades nos estudos e entrou para a “turma da alegria”, o que resultou na orientação de voltar para sua casa. No entanto, o convite inicial continuou “vivo” em seu coração. Marcelino e sua mãe insistiram, e ele conseguiu retornar ao seminário, após romaria ao santuário de Lalouvesc. Dessa vez, procurou superar os limites nos estudos, ficando acordado à noite e estudando sob a luz de velas.

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Ainda no seminário, junto com outros seminaristas, surgiu a ideia de fundar a Sociedade de Maria, que seria constituída de Padres, Irmãos e Irmãs. Marcelino percebeu as necessidades relacionadas à educação e, por isso, ficou com a missão de fundar o ramo dos Irmãos, que se encarregariam da educação cristã das crianças e jovens.

Dificuldades nos estudos

Um projeto começa a nascer..

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Coadjutor em La Valla

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“Não há mais tempo a perder”

Ordenado padre, foi enviado como coadjutor à paróquia de La Valla, onde continuou a se deparar com a situação de abandono das crianças e dos jovens. Uma experiência realizada nesse período em que era coadjutor de La Valla apontou a urgência de pôr em prática seu projeto: um jovem, chamado João Batista Montagne, que vivia no povoado de Les Palais, estava muito doente. O padre Champagnat foi chamado para atendê-lo e se deparou com uma situação de total ignorância religiosa. Marcelino permaneceu um tempo com ele e, ao voltar para casa, recebeu a notícia de que o jovem havia falecido. “Marcelino ensinou a Montagne as coisas de Deus, e Montagne lhe ensinou que não havia mais tempo a perder” 35. 35 Cf. UMBRASIL. Caminho da educação e amadurecimento na fé: a mística da Pastoral Juvenil Marista, 2008, p. 120.

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Percebendo a urgência do seu projeto, Marcelino reuniu alguns jovens com o intuito de fundar uma congregação religiosa de Irmãos dedicada à educação de crianças e jovens. Começou a instruí-los a fim de serem religiosos educadores. Sua obra deveria chegar aos povoados desprovidos do acesso ao ensino (cf. C. 81).

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Mesmo com a desconfiança de autoridades da época, Marcelino levou adiante seu projeto, com a consciência de que a obra prosperaria se fosse inspiração divina, respondendo às necessidades de seu tempo.

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Marcelino se inspirou nas experiências de educação já existentes e deu alguns toques originais à sua proposta educativa, que seguiu sendo adaptada aos diversos ambientes educativos maristas 36: Uma educação que tem como condição o afeto, expresso na frase: “Para bem educar, é preciso antes de tudo, amar”; uma educação inspirada em Maria, a Boa Mãe. Maria é inspiradora da espiritualidade e da maneira de educar marista: “Maria, educadora de Jesus em Nazaré, inspira nossas atitudes para com os jovens” (C. 84); “uma educação integral, atenta ao ser humano em todas as suas dimensões: física, afetiva, cognitiva, comunitária e social, eticovalorativa, estética, transcendente” 37; uma educação envolvida por um ambiente familiar e marcada pelo “espírito de família”; uma educação marcada pela humildade, simplicidade e modéstia; uma educação que valoriza a presença; uma educação gradual; uma educação que visa

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36 Para maior aprofundamento cf. UMBRASIL, Projeto educativo do Brasil Marista, 2010, p. 42-45. 37 Cf. Evilázio Francisco Borges TEIXEIRA, Pensando educação marista com um olhar interdisciplinar, In Educação, 2004, p. 634-638.

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Inicia a fundação do Instituto Marista

Inspiração divina e resposta às necessidades

Características da educação marista


à solidariedade, destinada especialmente às crianças e jovens mais empobrecidos. A missão idealizada por Marcelino contemplava diversas possibilidades como, por exemplo, a educação de crianças surdas-mudas 38 e também de órfãos 39.

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A educação, para Marcelino Champagnat, era um meio para tornar Jesus Cristo conhecido e amado. Assim expressou a missão do Instituto Marista: “Tornar Jesus Cristo conhecido e amado. Eis o sentido de nossa vocação e a finalidade de nosso Instituto. Se falharmos nesse propósito, nosso Instituto será inútil” 40. Certa vez, se expressou assim: “Se fosse apenas para ensinar as ciências humanas aos jovens, não haveria necessidade de Irmãos: bastariam os demais professores. Se pretendêssemos ministrar apenas a instrução religiosa, limitar-nos-íamos a ser simples catequistas. O nosso objetivo, contudo, é mais abrangente. Queremos educar as crianças, isto é, instruí-las sobre os seus deveres, ensinar-lhes a praticá-los, infundir-lhes o espírito e os sentimentos do cristianismo, os hábitos religiosos, as virtudes do cristão e do bom cidadão. Para tanto, é preciso que sejamos educadores, vivamos no meio das crianças, e que elas permaneçam muito tempo conosco” 41.

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A missão marista nasceu da experiência que Marcelino realizou em sua vida e de sua abertura ao Espírito: “Guiado pelo Espírito, Marcelino Champagnat foi cativado pelo amor de Jesus e Maria para com ele e para com os outros. Tal vivência, como também sua abertura aos acontecimen-

A educação é meio para anunciar Jesus Cristo

Marcelino, nosso modelo

38 F. Paul SESTER. Cartas de Marcelino Champagnat, 1997, nº 183, p. 386-388. 39 Cf. Irmão João Batista FURET. Vida de José Bento Marcelino Champagnat (1789-1840): padre Fundador da Sociedade dos Irmãozinhos de Maria, 1989, p. 219. 40 Cf. Ibid., p. 312. 41 Cf. Ibid., p. 498.

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tos e às pessoas, está na origem da sua espiritualidade e do seu zelo apostólico. Torna-o sensível às necessidades do seu tempo, especialmente à ignorância religiosa e às situações de pobreza da juventude” (C. 2). É da experiência de Deus que brota a missão marista. O cultivo de sua espiritualidade permitia-lhe encontrar a Deus “tanto nas ruas de Paris quanto nos bosques de l’Hermitage”. Assim, Marcelino experienciou a presença e o amor de Deus. “Essa presença de Deus se manifesta no sentimento profundo de reconhecer-se amado por Deus e na convicção de que Ele nos acompanha, bem de perto, em nossa experiência humana” 42. O encontro com Jesus Cristo era manifestado por Champagnat nos três primeiros lugares que exortava aos Irmãos: o Presépio, a Cruz e o Altar 43. O amor e a confiança em Maria são outras marcas de sua espiritualidade. Certa vez escreveu: “Sem Maria não somos nada; com Maria temos tudo, porque Maria sempre tem seu adorável Filho nos braços ou em seu coração” 44. Maria é assim, para Marcelino, a medianeira que leva a Jesus. A ela se referia com as expressões “Boa Mãe”, “Recurso Habitual” e “Primeira Superiora”. Essa confiança em Maria era expressa na oração que o Padre Champagnat não cansava de rezar: “Ó Maria, nossa boa Mãe, esta obra é vossa. Vós nos reunistes, apesar das contradições do mundo, para trabalharmos pela glória de vosso divino Filho. Se não vierdes em nosso auxílio, pereceremos, apagar-nos-emos como lamparina chegada à última gota 42 UMBRASIL. Água da Rocha: espiritualidade marista, fluindo da tradição de Marcelino Champagnat, 2007, nº 16. 43 Para aprofundamento dos três primeiros lugares: presépio, cruz e altar, cf. Ibid., números 19-24. 44 F. Paul SESTER. Cartas de Marcelino Champagnat, 1997, nº 194, p. 409-412.

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A espiritualidade marista leva ao amor de Deus

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Espiritualidade marista: pautada no amor e na confiança em Maria


de azeite, mas, se este Instituto desaparecer, não será a nossa obra que perecerá, porém a vossa, pois fostes vós que tudo fizestes entre nós. Contamos, pois, com o vosso poderoso auxílio em que sempre confiamos”.

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Formação continuada... uma necessidade

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Como um pai que acompanha os filhos

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A missão exige condições

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Sempre acreditou na Divina Providência

O padre Champagnat fazia questão de que a cada período de férias os Irmãos se reunissem para continuar sua formação. Não cansava de acompanhar os religiosos educadores como um “afetuoso pai”, expressão que utilizou em várias de suas correspondências. Para o acompanhamento dos Irmãos e de sua missão, utilizou diversos meios: cartas, circulares, visitas e colóquio individual. Esses meios demonstram sua preocupação com a formação dos Irmãos para que pudessem oferecer um serviço de qualidade às crianças e jovens de seu tempo. Champagnat herdara de seu pai uma perspicácia no cuidado com as coisas. Tinha a consciência de que, para desenvolver sua missão, precisava de condições materiais e econômicas mínimas, que exigia das autoridades competentes. Não raras vezes retirou os Irmãos de povoados que não ofereciam o mínimo de condições para o desenvolvimento da missão com qualidade. Apesar das diversas intempéries que enfrentou, Champagnat não desanimou em seu propósito. Não cansava de meditar o salmo “Se o Senhor não construir a casa em vão trabalharão os seus construtores” (Sl 126), com a consciência de que buscava a vontade de Deus. Para isso, contou com os Irmãos, com alguns sacerdotes e bis-

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pos que o apoiaram, pessoas de boa vontade, líderes que necessitavam de educadores em seus povoados. Buscava nas mais diversas possibilidades, recursos que garantissem levar seu projeto adiante. Ele idealizava estender esse projeto a todos os confins da terra: “Todas as dioceses do mundo entram em nossos planos”45. Ainda quando vivia, enviou missionários à Oceania, concretizando já desde então o caráter missionário do Instituto que fundou. O Padre Marcelino faleceu no dia 6 de junho de 1840, quando o Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria ainda não havia sido reconhecido pela Santa Sé. E deixou seu legado a todos aqueles que, tocados pelo Espírito de Deus, do jeito de Maria, buscam responder às necessidades das crianças e jovens que perpassam os tempos. Em 1897, a obra marista chegou ao Brasil, em Congonhas do Campo - MG. Em 1900, chegou ao Sul do Brasil, em Bom Princípio - RS. Em 1903, chegou em Belém - PA. Desde lá, milhares de pessoas, Irmãos e Leigos, foram impulsionados por esse carisma a ir ao encontro de crianças e jovens para testemunhar e anunciar Jesus Cristo, doando sua vida para que crianças e jovens tivessem “vida, e vida em abundância” (Jo 10,10). Hoje essa missão é confiada a Irmãos e Leigos, que, impulsionados pelo Espírito de Deus, buscam construir o Reino inspirados em Jesus Cristo, em Maria e em Champagnat.

45 F. Paul SESTER. Cartas de Marcelino Champagnat, 1997, nº 93, p. 209-210.

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92 “Todas as dioceses do mundo...”

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Padre Champagnat falece, mas não o seu Espírito

94 Chegada dos Irmãos Maristas ao Brasil


Critérios de evangelização

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Evangelizar... missão de todo cristão

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Evangelizar é...

A evangelização é missão fundamental de todo o cristão. Essa missão não é somente no sentido de “dizer” o Evangelho, mas também no sentido de “viver e fazer”. A evangelização traz em si o anúncio explícito da mensagem de Jesus de Nazaré, passando pelo dizer, viver e fazer a partir do Evangelho. O papa Paulo VI, na encíclica Evangelii Nuntiandi, nos apresenta de forma clara e profunda o sentido da ação evangelizadora: “Para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação” 46. Não se trata de demarcar espaços geográficos, mas de atingir e modificar, não de qualquer modo, e sim pela força do evangelho, critérios, valores, interesses, pensamentos e modo de vida da pessoa, da comunidade e da sociedade. Esta missão não é apenas do setor responsável pela pastoral, mas de todos os envolvidos com o carisma marista.

46 SANTA PADRE PAULO VI. A evangelização no mundo contemporâneo – "Evangelii Nuntiandi", 1975, nº 19.

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Diante da importância e da profundidade da ação evangelizadora precisa-se de critérios que ajudem a balizar os projetos pastorais que responderão a ação evangelizadora. A encíclica Evangelii Nuntiandi afirma dois critérios fundamentais: “fidelidade à mensagem revelada e fidelidade ao interlocutor” 47. Diante desses dois critérios somos impulsionados a ter duas atitudes fundamentais: a primeira nos faz olhar para o passado, sobre a revelação de Deus na história e na Igreja, olhando o diálogo existente entre Deus e a humanidade de modo particular no momento principal de tal diálogo, isto é, na pessoa do Filho de Deus, Jesus de Nazaré; o segundo nos impulsiona a olhar para o presente, apontando para o futuro, ou seja, sobre aqueles que tal revelação possui hoje como interlocutores, tendo presente as suas perguntas fundamentais, seus desafios e suas necessidades concretas.

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Inspirados nesses dois critérios, a Província Marista do Rio Grande do Sul utiliza alguns critérios para optar, escolher, discernir, confrontar, decidir e avaliar sua prática evangelizadora. Entende por critério aquilo que fundamenta e baliza a ação educativo-evangelizadora, do qual não se pode abrir mão. Estes critérios são:

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● Jesus Cristo: é a fonte e o centro da ação evangelizadora. ● Maria: é caminho que nos leva a Jesus. ● Marcelino Champagnat: é a inspiração para a nossa ●

ação educativo-evangelizadora. Organização pastoral: a ação evangelizadora exige estruturas de animação e coordenação – recursos humanos, físicos, materiais, financeiros.

47 Ibid., números 3 e 4.

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Fidelidade a mensagem revelada e ao interlocutor

Critérios para evangelizar


● Planejamento pastoral: a ação evangelizadora deve ser pla-

nejada, levar à participação e ao envolvimento comunitário. Acompanhamento pastoral: a palavra acompanhar significa “comer do mesmo pão”, apontar para a mesma direção. Não há processo de amadurecimento na fé sem acompanhamento. ● A realidade como ponto de partida: compreender a realidade que nos cerca é condição prévia para agir a partir das necessidades dos interlocutores e para realizar uma ação evangelizadora eficaz. ● Transversalidade da evangelização: a ação pastoral deve perpassar toda ação educativa desenvolvida pela Unidade, ou seja, é missão de todos, mas animada pelo setor responsável pela Pastoral. ● Mensagem adequada à linguagem dos interlocutores: para gerar diálogo efetivo com adultos e crianças, adolescentes e jovens com os quais busca estabelecer um processo contínuo de comunicação, é fundamental que a ação pastoral tenha como ponto de partida o conhecimento da linguagem que caracteriza cada um desses interlocutores. Com mensagens produzidas a partir da linguagem apropriada, mais facilmente são estabelecidos sentidos e significados em comum entre a ação evangelizadora e seus interlocutores. ● Pedagogia da formação integral: o amadurecimento na fé requer uma constante atenção à pessoa humana em suas várias dimensões. ● Avaliação: o ato avaliativo impulsiona o processo evangelizador, pois a avaliação constante possibilita continuar avançando. ●

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CapĂ­tulo 3

Agir


Prioridade 1: Cultivo da espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo, libertadora e profética, inspirada em Maria e Champagnat. Propostas de ação: ● Realizar

vivências com Irmãos, Leigos (MChFM), colaboradores , educandos49 e familiares (retiros, encontros, experiências solidárias e outras). ● Celebrar datas e festas significativas da Igreja e do Instituto Marista. ● Realizar celebrações da Palavra e da Eucaristia. ● Realizar acompanhamento com os colaboradores maristas para orientá-los na elaboração do projeto de vida. ● Utilizar a música, o canto e a arte como ferramentas para evangelização. ● Realizar peregrinação a santuários marianos, especialmente locais e/ou regionais. ● Participar de Romarias (da Terra, do Trabalhador, Marianas, e outras), de celebrações ecumênicas, de caminhadas solidárias. ● Criar grupos que se encontrem sistematicamente para refletir e rezar. ● Garantir espaço de reflexão/oração em todos os encontros/reuniões nas Unidades. ● Incentivar a participação em cursos, retiros, encontros. ● Realizar oração diária com colaboradores e educandos. ● Criar estratégias e subsídios aos educadores/professores, motivando à prática da oração diária com os educandos. 48

48 Quando utilizarmos a expressão “Colaboradores”, estamos nos referindo a: gestores, educadores, professores e funcionários. 49 Quando utilizarmos a expressão “Educandos”, estamos nos referindo também a estudantes, termo que aparece no Projeto Educativo do Brasil Marista.

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● Oferecer

a pastoral dos sacramentos, conforme orientações de cada Diocese. ● Proporcionar o estudo da Espiritualidade Apostólica Marista/mística (Água da Rocha, Em torno da mesma mesa, Circulares Institucionais,...). ● Realizar congressos, simpósios, cursos de Mariologia, Cristologia e do Fundador do Instituto. ● Incentivar a visita das capelinhas de Nossa Senhora.

Prioridade 2: Presença fortemente significativa entre as crianças e jovens, prioritariamente os empobrecidos. Propostas de ação: ● Organizar o voluntariado em nível local e provincial. ● Incentivar e fortalecer os grupos e o acompanhamento

da Pastoral Juvenil Marista (PJM). Aprofundar os documentos da mística, das Diretrizes e do Marco Operativo da PJM com os jovens e com os colaboradores. ● Ampliar espaços de participação infantojuvenil (encontros de formação, convivência, grupos, rádios, bandas...). ● Proporcionar recreios prolongados com a presença dos educadores/professores junto aos educandos. ● Realizar projetos e ações de solidariedade. ● Ampliar a aproximação entre Comunidades Maristas, Escolas, Centros Sociais, PUCRS e Hospital São Lucas. ● Buscar a continuidade e expansão do trabalho dos Centros Sociais da Rede Marista. ● Realizar espaços de convivência entre crianças e jovens de realidades sociais diferentes. ●

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Proporcionar experiências, projetos acadêmicos e ações de contato com realidades sociais empobrecidas. ● Apoiar projetos de missionariedade. ● Incluir no currículo das Escolas, dos Centros Sociais e PUCRS programa de formação da cultura da solidariedade e da paz. ● Incentivar a participação na Infância Missionária. ● Abrir escolas gratuitas em realidades de vulnerabilidade social. ● Ampliar a presença de Irmãos entre as crianças e jovens. ●

Prioridade 3: Evangelização inserida e articulada com a comunidade eclesial e a sociedade. Propostas de ação: Participar dos espaços da comunidade eclesial, articulando-se com as pastorais. ● Realizar celebrações junto à comunidade eclesial local. ● Disponibilizar espaço físico para a comunidade eclesial. ● Interagir com associações e organizações comunitárias. ● Incentivar o envolvimento dos educadores/professores e educandos nas suas comunidades eclesiais. ● Participar de fóruns, de conselhos, de associações, de espaços de construção de políticas públicas para infância e juventude. ● Garantir a representação da Província na Associação Nacional de Educação Católica (ANEC), União Marista do Brasil (UMBRASIL) e Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). ● Organizar fóruns, debates, espaços formativos nas Unidades Maristas. ●

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Estabelecer convênios com o poder público e parcerias com organizações da sociedade civil, priorizando a infância e a juventude. ● Comunicar os valores cristãos e maristas, utilizando os recursos tecnológicos. ● Motivar para a catequese sacramental. ● Promover o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. ● Promover a interação dos grupos de jovens da PJM com outras pastorais e organizações juvenis, especialmente no entorno da Unidade. ●

Prioridade 4: Animação vocacional de Irmãos, leigos, crianças e jovens. Propostas de ação: Acompanhar Projetos de Vida de colaboradores e educandos. ● Apoiar a vocação dos Irmãos e rezar por eles. ● Incentivar e apoiar núcleos de animação vocacional nas Unidades. ● Aprofundar as vocações específicas de Irmãos e Leigos, com estudos e vivências em cada Unidade. ● Organizar festivais vocacionais em nível local e provincial. ● Promover espaços de convivência entre Irmãos, leigos, crianças e jovens. ● Aproximar os processos de pastoral e animação vocacional da Província. ● Envolver os Vidamaristas na ação evangelizadora. ●

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Incentivar a formação de novas Fraternidades do Movimento Champagnat e cultivar as já existentes.

Prioridade 5: Formação continuada dos evangelizadores Propostas de ação: Criar espaços para aprofundar temas relacionados à Teologia Pastoral: Maria, Jesus Cristo, Champagnat, Bíblia, Documentos da Igreja, do Instituto e do Patrimônio Espiritual Marista, metodologia, planejamento pastoral, análise da realidade e outros. ● Organizar programas de formação para evangelizadores em nível provincial. ● Realizar momentos de formação para colaboradores, educandos e famílias. ● Realizar projeto de acolhida para novos colaboradores maristas. ● Proporcionar formação aos gestores. ● Garantir espaços de formação nos diversos setores e eventos. ● Garantir a participação do setor de Pastoral no planejamento de todos os processos educativos. ● Promover a troca de experiências e práticas na área da evangelização. ●

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Horizontes das Diretrizes Até 2017, almejamos que a ação evangelizadora na Província e nas Unidades caminhe na direção dos seguintes horizontes: 1. Projetos de vida pautados nos valores evangélicos. 2. Comunidades educativas vibrantes em torno de Jesus Cristo e seu projeto, Maria e Champagnat, com relações baseadas na solidariedade, no respeito, na justiça e na paz. 3. Processos de evangelização definidos e claros para as comunidades educativas, assumidos com o sentido de corresponsabilidade pelos diversos sujeitos. 4. O cuidado como paradigma na defesa da vida, na ecologia, no compromisso com as crianças, adolescentes e jovens, especialmente os empobrecidos. 5. A Unidade Marista como sal e luz na comunidade em que está inserida.

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