PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA COORDENAÇÃO DE PASTORAL DA REDE MARISTA RS | DF | AMAZÔNIA - ANO 6 - NÚMERO 10 - 2015
e d e r m e s ó N Corresponsabilidade na missão de evangelizar Das lideranças aos colaboradores, a evangelização é missão de cada marista que se compromete com a continuidade do projeto de Champagnat Páginas 3, 4, 5 e 6
AÇÕES COTIDIANAS DÃO VIDA À EVANGELIZAÇÃO Páginas 7, 8 e 9
A IMPORTÂNCIA DA VIVÊNCIA GRUPAL PARA A PJM
Páginas 12 e 13
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COORDENAÇÃO DE PASTORAL
SUMÁRIO
Evangelizar em e na Rede Gerente da Coordenação de Pastoral, Ir. Valdícer Fachi Integrar fé e vida, promover o diálogo e uma Igreja acolhedora, participativa, evangélica, profética, fraterna, disposta a desenvolver e partilhar sua dimensão mariana são desafios constantes para a nossa missão. A partir do coração do Evangelho, se reconhece a conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana, que se deve necessariamente exprimir e desenvolver em toda a ação evangelizadora. Com esse contexto e a partir da experiência de São Marcelino Champagnat, entendemos a educação como meio privilegiado de evangelização, através do qual somos chamados a testemunhar e a anunciar Jesus de Nazaré. Portanto “pela educação evangelizamos.” Para isso não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração. Nossos espaços educativos (Colégios, Unidades Sociais, Universidade, Hospital) precisam ser plataformas privilegiadas de evangelização e nelas se promova uma educação inclusiva, crítica, comprometida, compassiva e transformadora das realidades. A luz desse contexto, a 10º edição do Nós em Rede traz na editoria Especial, nossas inspirações e os desafios da evangelização nos contextos atuais e dos espaços educativos. Já na editoria Missão nos relembra alguns espaços privilegiados para a missão, a luz da celebração do Bicentenário Marista. Na editoria PJM, apresenta a vivência grupal pautada no princípio da formação integral, para transcender-se; fazer, construir e dar sentido a existência. Que a leitura possa nos ajudar/inspirar para sermos profetas evangelizadores para o nosso tempo! Boa leitura!
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ESPECIAL Evangelizar: missão, inspiração e desafios
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Informativo da Coordenação de Pastoral da Rede Marista (RS, DF, Amazônia). Ano 6 - Nº 10 - 2015 Gerente Ir. Valdícer Fachi Equipe responsável Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva, Jaquelini Alves Debastiani, José Jair Ribeiro, Laura Skavinski Aparicio, Marcos José Broc, Vera Lucia Ribeiro. Comentários e sugestões pastoral.pmrs@maristas.org.br 2
Produção: Comunicação Corporativa Textos: Luísa Medeiros Fotos: Arquivo Coordenação de Pastoral, Unidades Maristas e Assessoria de Comunicação Corporativa Diagramação: Design de Maria Revisão: Ir. Salvador Durante Jornalista Responsável Lidiane Amorim (DRT/RS 12725)
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PASTORAL NAS UNIDADES Ação evangelizadora ganha forma em iniciativas cotidianas
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MISSÃO Evangelização: essência da missão marista
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PJM Vivência grupal: lugar privilegiado para a formação integral
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DIRETRIZES Não somos uma ilha
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EM REDE Relembre algumas atividades do primeiro semestre
ESPECIAL
Evangelizar: missão, inspiração e desafios “Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo.” As palavras do Papa Francisco, durante a apresentação da Evangelii Gaudium, em 2013, resumem a importância da evangelização para a Igreja e toda comunidade cristã. Mas como compreender a evangelização nos dias de hoje? Que desafios o cenário contemporâneo apresenta à ação evangelizadora para instituições que têm na evangelização o cerne de sua missão? De acordo com o documento Evangelizar na Rede Marista, a evangelização é missão fundamental de todo o cristão. Esta missão não é somente no sentido de dizer o Evangelho, mas também no sentido de viver e fazer, trazendo em si Jesus de Nazaré e seu projeto, por meio do serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão. É ser testemunha do Evangelho como forma de contribuir com a construção do Reino de Deus na terra. Atualmente, assumir esse compromisso é estar comprometido em promover uma sociedade onde o amor generoso e gratuito transcenda o individualismo, a cooperação e o ato de compartilhar coloca a solidariedade acima da competição. O Reino ‘traduzido’ para os dias de hoje, é um modelo de sociedade em que prevalece a defesa da vida, em que o sucesso pessoal não coloque em detrimento o compromisso com o outro, em que a dignidade e a compaixão superem a indiferença1. Evangelizar é, assim, a missão fundamental de todos os que creem em Deus e em seu projeto. Em outras palavras, de todos aqueles que acreditam em uma realidade social justa e democrática, onde cada pessoa dá sua contribuição para o desenvolvimento e o bem de todos.
O documento Evangelizar na Rede Marista foi elaborado pela Coordenação de Pastoral, em consonância com o Conselho Provincial, após a escuta de diversos interlocutores da Rede Marista. Tem o objetivo de proporcionar alinhamento conceitual e definir direcionamentos evangelizadores e pastorais para as áreas de missão da Rede Marista: Educação, Assistência Social e Saúde.
1 Evangelizadores entre os jovens – Documento de referência para o Instituto Marista. (FTD, 2011) 3
ESPECIAL Uma realidade humanizada, em que as relações humanas são acolhedoras e desinteressadas. Nas palavras do Papa Francisco, todo cristão é chamado a esse compromisso, a tornar real esse modelo ideal de sociedade, a partir da integração entre fé e vida. Promover o diálogo com diferentes culturas e religiões, promover uma Igreja acolhedora, participativa, evangélica, profética e fraterna, e promover os valores humanos e cristãos para a transformação social estão entre as atitudes esperadas de quem se compromete com a missão de evangelizar. Ao compreender tais dimensões, fica evidente a importância do trabalho pastoral junto a todos os setores da Igreja e suas missões. Dom Jaime Spengler, Arcebispo metropolitano de Porto Alegre, explica que a evangelização tem a tarefa de promover o cultivo dos sentimentos que foram os de Jesus, apresentar Jesus e seu evangelho na sua pureza e radicalidade. “A evangelização tem o dever de, prudente, corajosa e ousadamente, sair ultrapassando fronteiras, raças, condição socioeconômica, preconceitos e discriminações, e ir ao encontro das periferias existenciais. Enfim, somos convidados a deixar o mundo um pouco melhor para as novas gerações”, resume. Nesse sentido, o Arcebispo explica que é responsabilidade da Igreja Católica estar atenta aos possíveis desrespeitos e ameaças à vida. “A Igreja, comunidade dos que se sabem filhos e filhas de Deus, não pode se calar diante da injustiça. Seguindo o Evangelho, encontramos exemplos abundantes de atitudes de Nosso Senhor diante das mais variadas formas de sofrimento, injustiça e morte. Atentos ao modo como Ele reagia, somos nós também incentivados a não permanecer indiferentes. Ele nos deixou um exemplo para que façamos a mesma coisa.” 4
“Maria é para os evangelizadores escola de fé destinada a conduzir e a fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra e com o Redentor da humanidade.” (trecho do documento Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província Marista do Rio Grande do Sul)
Jeito Marista de Evangelizar Se a evangelização é missão primordial da Igreja Católica, para as Unidades Maristas não poderia ser diferente. Evangelizar é o coração da missão marista, em todas as frentes de atuação. Nesse sentido, o que diferencia e caracteriza o jeito marista de evangelizar? O presidente e provincial da Rede Marista, Irmão Inacio Etges, explica que a principal característica é a ótica marial para toda e qualquer ação evangelizadora. “Somos, por essência, pessoas solidárias, responsáveis, que respeitam o próximo. Não apenas no sentido conceitual, mas vivencial. Ser um exemplo de vida é a nossa grande razão de existir. De Maria herdamos o espírito de família, a ação colaborativa pelo bem comum”, afirma. Do fundador, São Marcelino Champagnat, é herdado o espírito prático – evangelizar pelo exemplo, não apenas pelas palavras. Irmão Inacio narra histórias da trajetória de Champagnat que demonstram a preocupação com os Irmãos, a prioridade da vida: “No início da história marista, trabalhávamos muito em parceria com as prefeituras das pequenas cidades francesas onde os Irmãos atuavam. Certa vez, depois de visitar uma casa de Irmãos, ele escreveu uma carta para um prefeito exigindo melhores condições de vida e bem estar para aqueles que faziam o impor-
tante trabalho de evangelização – sob o risco de cancelar o trabalho no local”. O exemplo de cuidado inspira ainda hoje os líderes do Instituto Marista em todo o mundo. Irmão João Carlos do Prado, Diretor do Secretariado de Missão do Instituto Marista, narra que são quatro as formas mais tradicionais de evangelizar no contexto marista: • a mais tradicional, que vem desde os tempos de Champagnat, é o trabalho educativo; • através da representação e articulação política, quando maristas lutam pelos direitos e pela vida, onde ela se encontra ameaçada, sendo a mobilização a forma de evangelizar; • pela instrumentalização de teorias e estudos que embasam o trabalho direto com crianças e jovens; • por meio da presença marcante como testemunho, seja de Irmão ou Leigo marista. Com base nesses conceitos, Ir. João afirma que é preciso, permanentemente, repensar o papel comunitário das ações, sejam elas em escolas, unidades sociais, universidades, centros de saúde ou comunidade de Irmãos. “Precisamos ser comunidades irradiadoras de missão marista e, naqueles contextos não-cristãos, evangelizar pela presença de Deus. Precisamos ser alegres, apaixonados e comprometidos com o carisma marista”, ressalta.
Estar atento às mudanças Nas instituições confessionais a evangelização é algo intrínseco, está no seu DNA constitutivo, evangelizar é um desafio que ultrapassa os séculos e que encontra, em seu caminho, as transformações vividas pelas sociedades. Adaptar-se constantemente a essas realidades é primordial para a efetividade da ação evangelizadora. Diversos são os estudiosos que buscam compreender e caracterizar o atual contexto sócio-histórico e as relações interpessoais. O sociólogo Zygmunt Bauman denomina de Modernidade Líquida, este tempo marcado por transformações aceleradas, quando as relações, efêmeras, possuem uma forte tendência à ruptura com a tradição. Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, demonstra preocupação à cultura do exterior, imediato e superficial, traços do tempo presente. “O individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares”, afirma no documento.
Ao olharmos para os sujeitos, tomando como exemplo os jovens contemporâneos, as mudanças são ainda mais evidentes. A geração atual é reflexo de seu tempo, e consequentemente é muito distinta das gerações e tempos passados. A psicóloga Carmem Oliveira2 afirma que os jovens de hoje querem ser reconhecidos por aquilo que são, que vivem, que sonham, que desejam; buscam autonomia no pensar, no agir, na livre escolha. Nesse cenário de transformações, quais seriam as estratégias para uma evangelização efetiva? Para Dom Jaime, é uma só: o testemunho. “O testemunho de quem se sabe amado pelo Senhor; o testemunho de quem fez a experiência do encontro com o Senhor; de quem vive na intimidade com seu Senhor, através da prece, da contemplação, do estudo, do diálogo com os irmãos; o testemunho de quem sabe que não pode conservar para si tal experiência e, por isso, se sente corresponsável na obra de anunciar a Boa-Nova aos homens e mulheres de boa vontade”, afirma.
O próprio Papa Francisco é citado como um dos maiores exemplos de evangelizar pelo testemunho. Nesses dois anos de pontificado, ele tem mostrado que a maneira mais efetiva de evangelização, hoje, se dá pelos gestos coerentes e sinais marcantes. Essa convicção é compartilhada pelo Irmão Inacio Etges que acrescenta, ainda, a evangelização pela ação solidária – o deixar-se tocar de forma subjetiva pela realidade do outro. “A época racional, dos grandes discursos, já passou. Vivemos a era do afeto, do humano, da subjetividade. Precisamos fazer como Champagnat e olhar o mundo com os olhos de uma criança. Com o olhar sensível, a afetividade, o espírito de família, a evangelização se torna um processo natural”, diz o Irmão. Por ser dinâmica, a sociedade apresenta, ainda, um outro desafio para os evangelizadores: a diversidade de credos. Em um contexto heterogêneo, novamente as palavras do Papa Francisco ganham destaque: “As diferenças entre as pessoas e as comunidades por vezes são incômodas, mas o Espírito Santo, que suscita esta diversidade, de tudo pode tirar algo de bom e transformá-lo em dinamismo evangelizador que atua por atração”. É muito comum encontrar, nos espaços de missão marista, diferentes contextos religiosos. Irmão João Carlos do Prado lembra que é preciso aprender a entender as diferentes manifestações de Deus nessas religiões, percebendo, também, que todos compartilham de uma mesma espiritualidade, a planetária e ecológica. Estabelecer o diálogo, com predisposição para a construção da paz e do Reino de Deus é fundamental para o processo de evangelização. 2 Sobrevivendo no inferno – a violência juvenil na contemporaneidade. ( C. S. Oliveira, 2001) 5
ESPECIAL
Evangelizador, outro nome para dizer cristão Nesse tempo de globalização mais intensa, em que tudo o que é local é global e vice-versa, e ao mesmo tempo de pluralismo cultural e religioso penetrando todos os espaços, enquanto há uma tendência tipicamente pós-moderna de liquidificação das identidades fortes, de flexibilização e aceitação do pluralismo e da relatividade, há também reações fundamentalistas e busca de redefinições de fronteiras até com construção de muros os mais variados. Em meio a esta turbulência que atinge também as religiões, é crucial alguma resposta à pergunta: quem somos nós, os cristãos? Ser cristão é ser seguidor de Jesus Cristo – simples assim! Mas o que isso implica? O cristianismo, na origem, não era uma religião, mas um movimento que acolhia gente de diferentes origens religiosas. Sua atenção se voltava para o que aconteceu com Jesus e sua mensagem: tinham a convicção de ter recebido uma boa notícia e de que deveriam passar adiante esta boa notícia. Jesus, justo em sua humanidade até a fragilidade de morte no suplício romano da cruz, revelou Deus próximo dos frágeis, dos que morrem, dos humildes e dos que precisam de amparo. Ele é o Messias, o indicado e o responsável para realizar esta maravilha de Deus em meio às lutas e dores humanas. Ser cristão, portanto, é ser messiânico, é assumir junto com Jesus esta 6
indicação e esta responsabilidade que ele desempenhou em torno do Reino de Deus que se abre em sinais e festa para os pequenos deste mundo. Não é uma boa notícia para os que pretendem dominar sobre os demais, para os que tem sua confiança somente no dinheiro e nas astúcias deste mundo, e por isso o cristão que desempenha bem sua missão é incompreendido, zombado e, se for perturbador, é perseguido por quem se sente poderoso neste mundo. Importante é compreender que a fé cristã não se circunscreve numa religião institucional com seus quatro elementos sempre presentes – os ritos, os mandamentos, as doutrinas, as hierarquias – e não precisa ser uma religião como um território que precisa ser defendido e onde se demarca quem está dentro e quem está fora. Jesus se encontrou com homens zelosos pela religião e com o oficial romano e a mulher cananeia que não eram da mesma tradição religiosa, e deu a todos a mesma atenção e importância. Ser seu seguidor, ser um cristão, não é, portanto, zelar por um território de inclusão de uns e exclusão de outros. Pelo contrário, todos os encontros de Jesus foram encontros de hospitalidade, ora ele mesmo hospedando, acolhendo e recebendo, atendendo sem acepção com seus sinais do Reino de Deus, ora ele mesmo se oferecendo para a hospitalidade de outros, surpre-
endendo com suas ofertas a Zaqueu, à Samaritana, ao oficial romano, tanto quanto aceitava a hospitalidade das mulheres Marta e Maria, de Nicodemos. Uma vez ressuscitado, continua com a mesma lógica em Emaús ou na Galileia. Somos, em meio a tantas formas de religião, a religião da hospitalidade, do encontro, do reconhecimento, da valorização do outro. Nisso consiste a substância da boa notícia, do evangelho, do Reino de Deus: que todos somos hóspedes e hospedeiros. E ser cristão é ser evangelizador desta notícia, simples assim. Luiz Carlos Susin, Frei capuchino, doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, professor na PUCRS e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Estef )
PASTORAL NAS UNIDADES
Ação evangelizadora ganha forma em iniciativas cotidianas Marcelino Champagnat optou pela educação como um dos meios privilegiados para evangelizar. Por isso, expressou a missão do Instituto Marista da seguinte forma: tornar Jesus Cristo conhecido e amado. Eis o sentido de nossa vocação e a finalidade de nosso instituto. Se falharmos nesse propósito, nosso Instituto será inútil. Na biografia do fundador, escrita pelo Irmão João Batista Furet, existe um depoimento de que, em dado momento, Champagnat afirma que não bastava um Irmão Marista ensinar as ciências humanas ou a instrução religiosa – para isso serviam professores e catequistas. “O nosso objetivo é mais abrangente. Queremos educar as crianças, isto é, instruí-las sobre seus deveres, ensinar-lhes a apreciá-los, infundir-lhes o espírito (…), as virtudes do cristão e do bom cidadão.” O modelo de educação idealizado por Champagnat, há quase 200 anos, até hoje inspira a ação evangelizadora marista em todo o mundo. Na Rede Marista, cada espaço, unidade, empreendimento são compreendidos como espaços de evangelização. A compreensão sobre o compromisso com a evangelização está expresso no documento Evangelizar na Rede Marista, lançado recentemente. Vem de Novo Hamburgo, um exemplo de como a evangelização se concretiza em ações e iniciativas cotidianas nas distintas unidades. Trata-se do projeto de acolhida aos novos colaboradores, realizado no Colégio Marista PIO XII, em Novo Hamburgo. Uma vez por ano, todos os colaboradores (em todos os níveis) são convidados a participar de
O Encontro de acolhida, realizado no Marista Pio XII, é um primeiro contato com a proposta evangelizadora da instituição
um momento formativo e de reflexão sobre os valores, objetivos, missão e história maristas – é um primeiro momento possível de evangelização realizado pelo Serviço de Pastoral. A meta é atingir 100% dos novos colaboradores. Eles são recebidos em um ambiente acolhedor, preparado especialmente para esse momento. Além da ambientação, músicas buscam “quebrar o gelo” e estimular que eles se conheçam melhor. “O primeiro momento consiste em uma oração. É um momento bem vivencial quando, além de conhecer os símbolos maristas e seus significados,
eles são convidados a partilhar sua experiência e conhecimento da Rede Marista”, explica a Coordenadora de pastoral do colégio, Cláudia Raquel Büttenbender. Os símbolos maristas também são visitados, com contextualização de seus significados. Datas importantes, como o bicentenário do Instituto Marista e o centenário da atuação marista em Novo Hamburgo também são lembrados durante o encontro. Ao olhar para a história, se percebe o exemplo de vida como forma de evangelizar nos valores, no respeito às diferentes crenças. 7
PASTORAL NAS UNIDADES
Dessa forma, o colégio consegue colocar em prática a iluminação que norteia a evangelização na Rede Marista (ainda segundo o Evangelizar na Rede Marista, que cita o documento Evangelii Nuntiandi): “chegar a atingir e como que modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade”. O professor de Geografia Pedro Manfroi, que participou do último encontro, realizado em março, diz que foi uma oportunidade de conhecer os ideais de Champagnat. “Compreendi que a Rede Marista é muito mais que uma escola particular, que uma missão: é formada por pessoas e ideais que demonstram ser possível manter laços de solidez em nossa sociedade, cada vez mais líquida”, resume.
Para além da sala de aula Evangelizar em um contexto de grande diversidade cultural e religiosa é o grande desafio para os Irmãos e educadores do Centro Social e Escola Marista Aparecida das Águas, localizados na Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto Alegre. A educadora Rosana Modzeiski, responsável pela Pastoral nas unidades, diz que os valores e exemplos maristas são trabalhados desde cedo, na Educação Infantil, mesmo que de forma bem subjetiva. Músicas, histórias bíblicas e conteúdos ligados às datas litúrgicas fazem parte do dia a dia dos alunos. Estar atento às diferentes realidades, em um contexto social muitas vezes difícil, também faz parte da ação pastoral. Especialmente com os adolescentes e jovens, o cuidado deve ser maior: muitos trazem, naturalmente, resistências aos temas religiosos. Herança, na maioria das vezes, de famílias
que ou seguem religiões diferentes que não a católica ou que não fazem qualquer referência a isso, em casa. “É aí que trabalhamos com o testemunho, com o cuidado de mostrar valores e princípios, muitas vezes até sem falar no nome de Jesus, Maria ou Champagnat. Tentamos adequar a linguagem para ficar o mais acessível possível”, explica Rosana. O Irmão Deomar Biondo, que atua no Centro Social, diz que essa abordagem gera uma relação de proximidade com as crianças e os jovens. Eles são chamados a trazer temas dos seus cotidianos para serem discutidos em encontros, sob um viés mais humano. O Irmão usa a parábola do semeador para ilustrar o tipo de ação evangelizadora realizada na Ilha: “Tudo o que trabalhamos, aqui, são sementes que vamos jogando pelo caminho. O ensino, a espiritualidade, o exemplo, são valores que os jovens, pouco a pouco, vão absorvendo e passando adiante, em suas famílias, mais tarde para seus filhos”, afirma.
Conhecer, qualificar, agir
Educandos do Centro Social Marista Aparecida das Águas conhecem os valores maristas através de atividades didáticas
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A experiência de imersão em uma região de vulnerabilidade social para repensar processos, posturas e olhares resultou em um novo norte para a atuação pastoral nas Unidades Sociais da Rede Marista. Em maio de 2014, Pastoralistas e Responsáveis pelas Pastorais nessas unidades se reuniram no Centro Social Marista Aparecida das Águas, na Ilha Grande dos Marinheiros, para o 1º Encontro Mistagógico Marista Provincial. A vivência foi transformadora. Iluminados pelo tema do Encontro, Princípios da ação pastoral Marista em contextos de vulnerabilidade social, e percebendo as carências e dificuldades
Encontro Mistagógico consolidou os princípios da atuação pastoral nas Unidades Sociais da Rede Marista
do ambiente em que estavam, os educadores puderam compartilhar os desafios que encontram no dia a dia e discutir sobre os valores que orientam o seu trabalho. A partir dessas reflexões, foram definidos os Princípios da atuação pastoral Marista em contextos de vulnerabilidade social: Realidade, Reino de Deus, Solidariedade e Formação Permanente. Francisco Geovani Leite, Supervisor de Pastoral das Unidades Sociais narra que os princípios foram elencados para serem a base de toda e qualquer construção de projetos e Planejamento Pedagógico-Pastoral. “Os princípios foram formulados para serem vividos, experienciados. É um norte para o olhar mais apurado diante dos contextos onde cada unidade está inserida e quais ações deverão ser realizadas nesse meio. Todos foram convidados a pensar quais os princípios que estão presentes nos projetos em andamento e quais podemos inserir naqueles que ainda serão realizados”, afirma. Com os quatro elementos no horizonte de ação, a Gerência Social da Rede Marista tem acompanhado os empreendimentos e se surpreendido com os
resultados positivos: “Percebemos uma mudança de mentalidade. Com consciência dos princípios, percebe-se que não é possível fazer de qualquer jeito, que o jeito marista de realizar segue princípios e isso gera um senso de pertença de educadores e das famílias à instituição”, revela Leite.
Resultados que são percebidos também dentro das unidades. Os anfitriões do evento que definiu as diretrizes, o Centro Social e a Escola Marista Aparecida das Águas, estão, pouco a pouco, implementando esse novo paradigma de ação. A educadora Rosana Modzeiski conta que, a cada novo projeto, são revisados os princípios de atuação. “O nosso modo de agir e se organizar está mudando. Agora já direcionamos os nossos projetos diretamente para atender aos princípios, adaptando para a nossa realidade e as necessidades da nossa região”, narra. Rosana enfatiza que este é um processo contínuo, por isso é fundamental a participação nas formações contínuas, como o II Encontro Mistagógico, que foi realizado em 2015. “A longo prazo, acredito que esses princípios vão transformar a forma de agir e fazer a ação pastoral na Rede Marista”, afirma.
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MISSÃO
Evangelização:
essência da missão marista ”Nossa forma de ver o mundo que nos cerca é marcada pela dimensão da fé. É um Ver com, na e pela fé. A razão de ser de nossa missão é a Evangelização.” Evangelizar educando, especialmente crianças e jovens, é, em síntese, a missão marista desde a fundação do Instituto. Para o Irmão João Carlos do Prado, é importante compreender que não apenas escolas, centros sociais ou universidades são espaços para a educação. Mesmo que sejam, genuinamente, lugares para esse fim, é preciso perceber a dimensão mais ampla do termo educação. “Há espaços formais e informais de formação humana e todos es10
ses espaços são privilegiados. Dentro dessa ótica, surgem alguns desafios: manter os espaços de missão naquelas áreas que já estamos presentes e ao mesmo tempo nos movermos para novas fronteiras, e também ampliarmos a nossa visão de oportunidades e desafios para a evangelização”, afirma. Ele explica que cada marista tem no cerne de sua missão o caráter missionário e profético, no sentido de sermos presença naqueles espaços onde está o grito da vida. É importante, assim, estar nas periferias e nos contextos de grande diversidade religiosa, preservando o entendimento de que o evangelho também se realiza em outras profissões de fé. “Nosso papel é, também, ajudar essas pessoas a serem fieis aos valores que seguem, respei-
tando as diferenças”, indica. Champagnat deu exemplo, à sua época, de que a evangelização poderia ser bem mais que anunciar o evangelho. Cada pessoa é, em seu tempo, chamada a trabalhar a diversidade sem perder a identidade e valores, reafirmando suas crenças. “Esse processo pode ser feito pela educação. Mas não uma educação desprovida de sentido, mas uma educação transformadora, uma educação que evangeliza. Evangelização, nesse contexto, é a própria promoção da vida. Jesus disse eu vim para que todos tenham vida em abundância, então ao levar a palavra de vida, estamos evangelizando. No silêncio das nossas línguas, muitas vezes, estamos promovendo a vida.”
No contexto do bicentenário de fundação do Instituto Marista, ao mesmo tempo em que voltamos nosso olhar para o passado, emerge o desafio de revitalizar a essência do carisma marista, com olhos voltados para o futuro. O novo começo que marca o encerra-
Irmão Joaquim Clotet Reitor da PUCRS
Rogério Anele Superintendente dos Colégios e Unidades Sociais da Rede Marista
Verónica Rubí Missionária Leiga Marista que atua no Distrito Marista do Amazonas
mento de um ciclo e o início de outro, exige pensar no que é necessário para que a missão de evangelizar permaneça atual e pulsante. Como é possível nos reinventarmos e mantermos nossas convicções ao longo do próximo centenário? De que forma podemos
repensar a evangelização nos diversos espaços de atuação? Convidamos três lideranças dos empreendimentos maristas para refletir de que modo a evangelização se concretiza nos espaços onde atuam e como ela se renova à luz do bicentenário.
“Conforme a exortação apostólica Ex Corde Ecclesiae, que constitui o marco referencial da Igreja Católica para suas instituições de Educação Superior, todos os princípios, projetos e atividades nelas desenvolvidos devem estar em sintonia com a doutrina e orientações contidas nesse documento. No que se refere aos professores e técnicos administrativos católicos, recomenda-se fidelidade à Igreja e, de outros integrantes, espera-se respeito ao caráter próprio da instituição. A PUCRS, além da disciplina de Humanismo e Cultura Religiosa oferecida aos alunos, disponibiliza também para a comunidade universitária os serviços do Centro de Pastoral e Solidariedade, como retiros, preparação para os sacramentos, grupos de oração, orientação ou acompanhamento pessoal e atividades de lazer e de voluntariado. Outros temas como a formação e a vivência da espiritualidade marista integram também uma parte das atividades do Centro, de modo especial neste período que precede à celebração do Bicentenário Marista.” “Reforçamos a evangelização por meio de diversas ações pedagógico-pastorais, que neste momento seguem, naturalmente, a trajetória até o Bicentenário. Percebo as unidades envolvidas com a temática, apropriando-se cada vez mais dos elementos fundacionais do Instituto. No início deste ano letivo, por exemplo, tivemos jornadas de estudos com os educadores em que esta temática esteve presente, bem como, em outros eventos que serão realizados em nossos Colégios e Unidades Sociais, que têm como referência as contribuições de um grupo de trabalho dedicado exclusivamente à data. Este é um tempo de reflexão que permite enxergar o nosso potencial de transformação e imergir no conceito que está por trás da história do Instituto Marista. Temos a oportunidade de projetar o futuro olhando para trás, orgulhando-se da caminhada percorrida. Nossa responsabilidade é grande, mas estamos preparados para este novo começo. “ “A caminhada rumo ao Bicentenário, na tríplice fronteira de Brasil-Peru-Colômbia nos encontra no desejo e no esforço de gerir um novo projeto de comunidade, de presença marista: uma comunidade internacional, mista e missionária. Na experiência Montagne, o Padre Champagnat se viu interpelado pela realidade daquele jovem. A doença foi o motivo do encontro e a oportunidade para Marcelino revelar o Amor do Pai. A partir desse momento nada foi igual e, como bom homem de fé, não só se deixou interpelar pela indignação, mas procurou as maneiras de dar resposta. Hoje somos nós que damos continuidade ao sonho do Padre Champagnat. Como maristas, Irmãos e Leigos de mãos dadas, queremos estar atentos às situações atuais onde a vida clama e, com docilidade e disponibilidade, oferecer o que somos e temos para que muitos outros possam conhecer o Amor do Pai.”
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Vivência grupal: lugar privilegiado para a formação integral
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Em grupos, adolescentes e jovens têm a chance de ser protagonistas e artífices da renovação social.
• promove crescimento pessoal e espiritual, tornando-se protagonistas da sua existência e tendo a oportunidade de construir seu projeto de vida, pautado na realização pessoal e na participação da transformação do mundo;
A PJM quer ser uma resposta às necessidades de adolescentes e jovens e à forma de compartilhar os dons peculiares entre si e com outros/as, tornando-se um lugar privilegiado para a educação e amadurecimento na fé, pois:
• é lugar onde se tornam mais conscientes da sua identidade, se comprometem a servir os/as outros/as e participam ativamente na vida da Instituição, da sociedade e na missão da Igreja.
• é lugar onde se encontram, encontram outras experiências de vivência grupal, possibilitando fazer seu caminho de educação e amadurecimento na fé com outros e outras;
O princípio da formação integral é importantíssimo para vivenciar dentro do grupo um caminho que contemple as dimensões do ser humano. Quando a PJM assume o princípio da formação integral, quer ajudar a construir sujeitos livres, autônomos, criativos, críticos, cuidantes, felizes, op-
tando pela integralidade e supondo que a ação de educação e amadurecimento na fé parta dos/as adolescentes e dos/as jovens e das perguntas que fazem para entender o mundo que lhes cabe viver e construir. A formação integral engloba as dimensões da pessoa e seus diversos processos.
Nesse documento é possível encontrar os demais princípios de ação da PJM.
• Personalização: corresponde à dimensão psicoafetiva. É a constante busca de respostas – não especulativas, mas existenciais – à pergunta: quem sou eu? É o esforço de tornar-se pessoa: descobrir-se, possuir, entregar-se. • Socialização/integração: corresponde à dimensão psicossocial. É a capacidade de descobrir o/a outro/a que, em nosso contexto de grupo cristão, é o/a irmão/ã que queremos conhecer, com quem desejamos nos comunicar e estabelecer um relacionamento profundo. • Sociopolítica: corresponde à dimensão política. Busca responder às perguntas “onde estou e que faço aqui?”. Trata-se de ajudar adolescentes e jovens a descobrir o mundo onde vivem e seu lugar nele, como sujeito de história. • Teológica: corresponde à dimensão mística ou teologal. Todo ser humano indaga sobre a sua origem e destino, sobre o sentido de sua existência. A pergunta “para que existo” precisa ser respondida, precisa ser significada. • Capacitação técnica: corresponde à dimensão técnica ou metodológica da pessoa que procura responder à questão do “como fazer?”. • Vocacional: corresponde à dimensão vocacional que procura responder ao sentido da existência. A vida em si é uma realidade da qual precisamos tomar consciência. Não basta simplesmente estar no mundo, é necessário encontrar um significado que dê sentido aos sucessos e sofrimentos do dia a dia da vida.
A partir do principio da formação integral, adolescentes e jovens não são simplesmente usuários da vivência grupal, mas sim, sujeitos ativos, protagonistas e artífices da renovação social, onde possam ir crescendo em estatura, sabedoria e graça. Uma proposta de vivência grupal pautada no princípio da formação integral precisa oferecer experiências pessoais e de grupos onde adolescentes e jovens possam ser, possuir-se, doar-se no amor; conviver e comunicar-se; situar-se e comprometer-se historicamente; transcender-se; fazer, construir e dar sentido a existência.
“Precisamos caminhar para um formato que nos assegure a liberdade de expressão, diálogos, articulação dentro de uma linha comum: a evangelização. Quem consegue manter esse diálogo, respeitando as diversidades, consegue resgatar nos corações a ternura pela juventude. Nem sempre é fácil, mas o resultado certamente será permanente e muito mais enérgico, prova disto é o carisma sonhado e gestado por São Marcelino Champagnat”. Vanessa Nopes – participa do Setor Diocesano de Juventude da Diocese de Santa Cruz do Sul (Assessora da PJM do Centro Social Marista Boa Esperança)
“A partir da experiência que acontece no grupo, os jovens tem a oportunidade de ter contato e participarem de outras atividades com outros grupos e outros espaços. Um exemplo disso é a possibilidade de participação nos espaços de articulação das políticas públicas de juventude, através das conferências, seminários, fóruns e das redes sociais. Os jovens que fazem estas experiências têm maiores possibilidades de participação cidadã de terem una visão de mundo ampliada”. Maurício Perondi – membro do CONJUVE/RS (coordenador do Observatório Juventudes PUCRS)
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DIRETRIZES
Não somos uma ilha “Se for possível, no que depender de vocês, vivam em paz com todos.” Romanos 12, 18.
A compreensão sobre o conceito de evangelização das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Rede Marista tem uma intuição fundamental para que sejamos eficazes no cumprimento de nossa missão: viver e fazer inspirado no evangelho. Daí poderíamos nos perguntar: Que evangelho é esse? Sem dúvida, a resposta está naquilo que viveu Jesus de Nazaré, no que fez e no como fez tendo por finalidade incluir preferencialmente os pobres em uma outra lógica: a do Reino de Deus. A proposta do Reino é a chave de leitura para que façamos hoje um processo evangelizador coerente com a realidade de nosso tempo. Uma evangelização inserida e articulada, com a comunidade eclesial e sociedade, exige que tenhamos uma consciência planetária coletiva e não exclusivista. Jesus não diz aos Apóstolos para formarem um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos» (Mt 28, 19). Quando diz, ‘todos’, são todos. Cabem todas as diferenças, inclusive de crenças diferentes, até mesmo não cren14
tes e não-cristãos, pois “todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.“ (Evangelii Gaudium, nº 20). Um modo de viver autenticamente a fé apontando para um horizonte vasto, como o que somos chamados a visualizar, é um desafio a perceber que ninguém e nenhuma instituição é uma ilha. Não há pessoa ou organização que se basta a si mesma e sem humildade pensa ser capaz de fazer o que quiser e de modo isolado. Tudo está implicado. Tudo se relaciona e tudo o que acontece no mundo nos diz respeito. Vivemos na sociedade e o Reino não acontecerá fora dela. “Sociedade vem de socius e id. Id, idade, que diz da força, vigor; força e vigor do socius. Socius é o companheiro. A força que faz e deixa ser companheiro. Companheiros, os que, unidos pela mesma força e vigor, formam um grupo” (CF 2015, texto base p. 6). Os modos de organização de pessoas constituídos com a finalidade de trabalhar pelo
bem comum precisam se perguntar se aquilo que fazem está guiado pelos valores da justiça, fraternidade, paz. A sociedade é dinâmica e se transforma. Quem confessa ser cristão tem seu olhar fixo em Jesus de Nazaré e vive em sociedade. A vida e atuação de alguém que se inspira no evangelho de Jesus de Nazaré é um desafio para ser ativo na sociedade. Os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da sociedade estejam a serviço de todos (CF 2015, texto base p. 6). Daí a importância em somarmos forças, juntar as vozes e esforços com instâncias e organizações que trabalham em vista de causas socialmente justas. Nós, maristas de Champagnat somos igreja. O Instituto Marista, não está separado do catolicismo porque “caminha juntamente com toda a humanidade, participa da mesma sorte terrena do mundo e é como que fermento e a alma da sociedade humana, a qual deve ser renovada em Cristo e transformada em família de Deus.” (Gaudium et Spes. nº 40). Nesse caminho inevitável que a missão cristã tem na/com a sociedade, o serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão devem estar destinados a enfrentar a urgência de “criar estruturas que consolidem uma ordem social, econômica e política na qual não haja iniquidade e onde haja possibilidade para todos. (CELAM. Documento de Aparecida. Nº 384.). Será que esta pauta é um argumento razoável para termos uma articulação com tantas outras formas de organização na sociedade que tem finalidades que somam-se às nossas? José Jair Ribeiro, Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva, Marcos José Broc e Vera Lucia Ribeiro.
EM REDE
Confira algumas ações evangelizadoras que marcaram o primeiro semestre nas Unidades Maristas. No mês de abril, a PJM da Escola Marista Santa Marta (Santa Maria, RS), promoveu torneio de futsal entre os adolescentes e jovens. O torneio é uma oportunidade de confraternização, cultivar o comprometimento com o grupo e, sobretudo, desenvolver o respeito com o adversário, mesmo perdendo a partida em campo, mas ganhando pontos na convivência humana. São dois torneios anuais, já há 15 anos, evangelizando através do esporte.
Com o objetivo de potencializar projetos da área, além de aproximar e possibilitar sinergias e alinhamento entre os empreendimentos, a Coordenação de Pastoral desenvolveu um programa específico que busca sistematizar e qualificar as práticas de voluntariado e desenvolver esforços em Rede. Uma das primeiras iniciativas nesse contexto foi o Encontro de Capacitação do Programa Voluntariado, realizado na Casa Marista da Juventude (Caju), nos dias 18 e 19 de março. Pela primeira vez estiveram reunidos todos os responsáveis pelas ações de voluntariado nos empreendimentos da Rede Marista.
A noite do dia 1º de abril, foi marcada pelo espetáculo A Paixão de Cristo, que levou cerca de mil pessoas para o Estádio Champagnat, no Colégio Marista Roque (Cachoeira do Sul, RS). A apresentação contou as últimas 12 horas de Cristo antes da crucificação. No palco, mais de 200 pessoas estiveram envolvidas na apresentação de música e teatro organizada pelo Departamento de Educação Artística e Cultura (DEAC). Os estudantes das oficinas 1, 2 e 3 do Grupo de Teatro Luz EncenAção apresentaram a história que teve ainda a participação dos estudantes, ex-alunos, pais, professores e colaboradores.
A PJM do Colégio Marista Santo Ângelo (Santo Ângelo, RS) realizou, pelo 4º ano consecutivo, a ação solidária Páscoa Feliz, em benefício das turmas da Escola Municipal Antônio Manoel. No dia 1º de abril, os jovens voluntários entregaram cestas de doces para 170 crianças e proporcionaram momentos recreativos e educativos para celebrar a Páscoa com jogos e brincadeiras. Durante o mês de março, cerca de 50 estudantes que integram a PJM mobilizaram colegas, pais e educadores para conseguir doações de chocolates e outras guloseimas
No mês de abril, os educandos do Polo Marista de Formação Tecnológica (Porto Alegre, RS), participaram de encontros vivenciais para trabalhar projeto de vida. A proposta é trabalhar um instrumento para que cada jovem visualize seu futuro com base naquilo que se é no agora, para que possa contribuir no cuidado e planejamento das suas várias dimensões, a partir de uma motivação ética e com valores cristãos oferecidos pela espiritualidade marista. 15
Rumo aos 200 anos
de presença marista no mundo
A caminho do Bicentenário da atuação marista no Mundo, até julho de 2016, celebramos o Ano Fourvière, que leva o nome do Santuário de Lyon, na França, onde Champagnat e um grupo de jovens sacerdotes realizaram a promessa de fundar uma associação religiosa em homenagem à Maria, que chamaram de Sociedade de Maria. Champagnat lutou para que essa sociedade contemplasse Irmãos dedicados à educação. O nome Maristas, é em devoção à Maria e expressa um jeito próprio de atuar e ser no Mundo. Neste período, recordamos que o nosso futuro está nas mãos de todas as pessoas que acreditam e vivem hoje o projeto de Champagnat.
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