Revista Cenarium 05/2022

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Maio de 2022 • Ano 03 • N.º 23 • R$ 15,99

Gestão

em pauta Administração de Teresa Surita em cinco mandatos como prefeita colocou a capital de Roraima entre as cidades mais bem avaliadas do País. Políticas públicas focam no bem-estar humano



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Expediente Diretora-Geral Paula Litaiff – MTb-793/AM www.paulalitaiff.com paulalitaiff@revistacenarium.com.br

AGÊNCIA CENARIUM O MELHOR CONTEÚDO EM MULTIPLATAFORMA

Gerente Administrativa Elcimara Oliveira

Gestores de Conteúdo – On-line Omar Gusmão (1º turno) Eduardo Figueiredo (2º turno) Editora-Executiva – Revista Digital/Impressa Márcia Guimarães

Fotojornalismo/Cinegrafia Ricardo Oliveira Jander Souza Redes Sociais Ana Camargo Jhualisson Veiga Designers Isabelle Chaves Thiago Alencar Projeto Gráfico e Diagramação | Revista Digital/Impressa Hugo Moura Núcleo de Revisão Adriana Gonzaga (On-line) Gustavo Gilona (On-line) Jesua Maia (Impresso) Secretária-Executiva Ana Pastana Supervisor de Logística e Marketing Orson Oliveira Consultor Jurídico Christhian Naranjo de Oliveira (OAB 4188/AM) Telefone Geral da Redação (92) 3307-4394 Circulação Manaus (AM), Belém (PA), Brasília (DF) e São Paulo (SP)

Roraima: grandes desafios

O maior desafio de todo gestor público é promover políticas que desenvolvam uma sociedade autônoma e, segundo registros científicos, isso só é possível a partir do trato correto com a primeira fase de vida do ser humano, usando métodos que vão além do “decorativo” e seguem correntes como a “construtivista” de Jean Piaget (1896 - 1989).

Roraima, o menor Estado do Brasil em população e em Produto Interno Bruto (PIB), mas que guarda enormes desafios. Unidade da Federação menos populosa e menos povoada do País, Roraima tem vivenciado grandes impactos em questões como a crise humanitária e migratória da Venezuela; os conflitos e a vulnerabilidade em terras Yanomami; o isolamento e a fragilidade dos sistemas de energia elétrica e da economia do Estado. São desafios que os próximos governantes terão que encarar.

Pesquisas em áreas das ciências, como neurociência, psicologia do desenvolvimento e sobre os impactos de políticas públicas voltadas para a infância, apontam que o período de maiores possibilidades para a formação das competências humanas ocorre entre a gestação e os seis anos.

Editor-Executivo – TV Cenarium Web Gabriel Abreu

Apresentação – Programa ‘Cenarium Entrevista’ Liliane Araújo

Uma sociedade construtivista

Piaget foi revolucionário de sua época na análise da construção do conhecimento e defendia que as experiências da infância eram essenciais para o desenvolvimento do conhecimento. Antes dele, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) demonstrou, em sua obra “Emílio”, que para a sociedade ter um adulto capaz é preciso que “sua” criança seja tratada como tal e com liberdade para a melhor obtenção do conhecimento.

Supervisora de Recursos Humanos Edne Ramos

Núcleo de Reportagem – On-line/Digital/ Impresso Ana Carolina Barbosa Bruno Pacheco Iury Lima – Correspondente/Rondônia Ivina Garcia Marcela Leiros Priscilla Peixoto Wânia Lopes – Colunista/Brasília

Editorial

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8h às 17h

Em pesquisas da REVISTA CENARIUM nas histórias das gestões administrativas da Região Norte, a capital do Estado de Roraima, Boa Vista, foi a primeira em que um gestor passou a priorizar o que os grandes pensadores e cientistas defendem, há mais de 300 anos. Esse processo se deu nos cinco governos municipais de Teresa Surita, turismóloga e gestora. O resultado da administração psicopedagógica de Surita rendeu, pela primeira vez, a uma capital do Norte, Boa Vista, o Selo Unicef - certificado do Fundo das Nações Unidas para a Infância, que reconheceu avanços reais e positivos na promoção, realização e garantia dos direitos de crianças e adolescentes por meio do projeto “Família que acolhe”. Para se ter uma ideia da importância da primeira infância para Surita, o principal ponto turístico de Roraima e um dos mais conhecidos da Amazônia, o Parque do Rio Branco, foi planejado com base na técnica arquitetônica europeia para atender ao desenvolvimento psicomotor de crianças até os seis anos. Diante do exemplo de Boa Vista, a REVISTA CENARIUM decidiu fazer um especial sobre a importância de uma administração estratégica com foco no ser humano e seus reflexos para uma sociedade, que após um processo construtivista, possa ser independente no pensar e no agir.

Com uma população estimada em 652.713 habitantes, de acordo com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, a Unidade Federativa é a menos populosa e a menos povoada do País, com densidade demográfica de 2,01 hab/km², conforme o último Censo, realizado em 2010. Roraima também tem o menor PIB do País, calculado em R$ 14,2 milhões pelo IBGE, em 2019. Nos últimos anos, Roraima, fronteira com a Venezuela, enfrenta a crise migratória e humanitária de milhares de pessoas que chegam ao Estado fugindo da miséria e da falência institucional do país vizinho. Dados da operação Acolhida, missão humanitária, em 2019, mostravam que entravam, em média, 550 venezuelanos em Roraima por dia, ou 16,5 mil pessoas por mês. O Estado não tem estrutura para absorver tamanho fluxo em curto espaço de tempo. Com o menor PIB do País, há poucas chances de absorção dessa mão de obra pelo mercado. Além disso, os serviços públicos sobrecarregam. Roraima vive também uma intensa invasão do garimpo ilegal em terras indígenas, em especial na Terra Yanomami. Dessa invasão decorrem o aumento do desmatamento, conflitos entre indígenas e garimpeiros, aumento da violência e da vulnerabilidade deste povo, além dos prejuízos à imagem externa do Estado. Somam-se ainda entraves históricos, como o isolamento geográfico do Estado mais ao norte do País e o isolamento energético da única unidade da Federação não conectada ao Sistema Integrado Nacional (SIN) de transmissão de energia, além da fragilidade de uma economia que gira em torno do funcionalismo público e do pequeno comércio. Está montada a teia de desafios a serem trabalhados pelos que assumirem os cargos de comando do Estado. O ano é de escolhas importantes e Roraima tem muito ainda a crescer. As eleições de outubro podem traçar os novos rumos.

De segunda a sexta-feira, exceto feriados.

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Paula Litaiff Diretora-Geral

Márcia Guimarães Editora-Executiva


Sumário

Leitor&Leitora

Maio de 2022 • Ano 03 • Nº 23

💬 Dia dos Povos Indígenas Parabéns à REVISTA CENARIUM pela edição de abril em homenagem ao Dia dos Povos Indígenas. As matérias são totalmente relevantes e atuais, por conta desse desgoverno que temos vendendo nossa terra, causando mais destruição e danos à humanidade. Francisco Sousa Belém – PA

💬 Luta dos povos originários “Indígenas no século 21”, essa matéria me chamou a atenção por mostrar que o passado e o futuro podem andar lado a lado. A tradição, a luta e a resistência dos povos indígenas tendo como aliadas a tecnologia, levando informação em tempo real de ataques e invasões a um povo que luta para sobreviver. Está na hora de o Brasil reconhecer esse genocídio e preservar o que ainda resta dos nossos antepassados. Moisés Oliveira

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Manaus – AM Crédito: Ricardo Oliveira

💬 CENARIUM faz dois anos Parabéns à REVISTA CENARIUM pela cobertura da Guerra na Ucrânia, com imagens e matérias exclusiva. Acredito que seja a primeira empresa do Amazonas a ter uma cobertura internacional. Nesses dois anos de CENARIUM, a empresa está grandiosa, alcançando, rapidamente, lugares inimagináveis, aparecendo no exterior e participando de exposição em Portugal. Daniela Silveira

Crédito: Ricardo Oliveira

Manaus – AM

💬 Trabalho informativo Gostaria de elogiar a REVISTA CENARIUM e sua equipe que, por meio de seu trabalho informativo, é responsável por promover um olhar objetivo sobre questões atuais do campo social. É por isso que, para estar conectado com o que acontece agora, é imprescindível reconhecer os argumentos trazidos pela CENARIUM. Estes são significativos para conhecer a realidade atual.

Quero parabenizar a REVISTA CENARIUM por apoiar e participar do selo verificado do Sindicato dos Jornalistas. A imprensa amazonense necessitava desta iniciativa diante de mais de 200 blogs existentes na cidade fazendo “matérias” de qualquer jeito.

Rayza Ramos

Sandra Passos

Manaus – AM

Manaus – AM

💬 Selo de qualidade

38 Crédito: Ricardo Oliveira

► PODER E INSTITUIÇÕES

► MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE Territórios sob ameaça.....................................................42

Olhar para a transformação social..................................08

Proteção ao sagrado.........................................................44

Capital da primeira infância............................................12

► ECONOMIA & SOCIEDADE

Tendência do turismo em 2022.......................................18

Todos pela Zona Franca de Manaus................................46

Cultura do empreendedorismo.......................................22

CENARIUM em novo layout...........................................52

Incentivo à cultura...........................................................24

O ‘senhor do Rio Negro’ e a cheia no Amazonas...........54

Atenção especial à saúde..................................................26

Empresas na ‘corda bamba’.............................................56

Teresa Surita......................................................................28

► CENARIUM+CIÊNCIA

► POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS AMEAÇA DO GARIMPO

Mulheres na ciência..........................................................30

Yanomami: um povo em agonia.....................................58

Elas na computação ........................................................32

Narcogarimpo alicia jovens.............................................60

Artigos Acadêmicos..........................................................34

Ataque aos Xipaia.............................................................62

► ARTIGO – CAROLINA CASTELLO BRANCO Sobre opinião...................................................................35 ‘A gente precisa ser ouvido’ .............................................36 ‘Prevenir e reprimir com rigor os delitos ambientais’....38

💬 E-mail: cartadoleitor@revistacenarium.com.br | WhatsApp: (92) 98564-1573

Crédito: Bruno Kelly Hay

GESTÃO HUMANA

► PODER & INSTITUIÇÕES

💬 MANDE SUA MENSAGEM

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Coluna Via Brasília ..........................................................40

► ENTRETENIMENTO & CULTURA Casas de poesia.................................................................66 Talento periférico.............................................................68

► ARTIGO – ROZENHA A potência Amazônica.....................................................70


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Olhar para a transformação social

Crédito: Divulgação

PODER E INSTITUIÇÕES

Após vivenciar a administração pública com foco no bemestar humano integral, em cinco mandatos da ex-prefeita Teresa Surita, Boa Vista, capital de Roraima, é, atualmente, uma cidade voltada para a primeira infância Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

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OA VISTA (RR) – Governar uma capital no Brasil não é fácil, são vários os desafios que precisam ser vencidos em diversas áreas, como saúde, educação, infraestrutura, social, empreendedorismo e turismo. E esses são alguns dos pilares que marcaram a gestão da única prefeita eleita cinco vezes para cuidar de uma capital no País. Teresa Surita (MDB) aceitou o desafio de transformar Boa Vista e revolucionou a forma de cuidar das pessoas. Não é por acaso que a capital do Estado de Roraima ficou conhecida no mundo por cuidar da primeira infância, com um programa idealizado por uma mulher. O trabalho voltado à primeira infância em Boa Vista é reconhecido por fundações como Getulio Vargas, Maria Cecília Souto Vidigal, MELQO e Bernard Van Leer, que são parceiras na construção da cidade que soube olhar da forma correta e diferenciada para as crianças. Constantemente, essas instituições visitam a capital para acompanhamentos, estudos e consultorias em ações voltadas ao público infantil. A capital faz parte do maior bioma tropical do mundo, a Amazônia, e, justa-

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mente por estar nessa região, tanto quanto isolada, sendo referência na implantação de políticas públicas, acabou por chamar a atenção de outros países que se debruçam em “cases” bem-sucedidos pelo mundo afora. Nos últimos sete anos, a menor capital do Brasil viu sua população praticamente dobrar ao receber imigrantes venezuelanos, além de brasileiros de toda a parte do País. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só em 2021, a estimativa populacional de Boa Vista cresceu em 4,4%, passando de 419.652 habitantes para 436.591. Todo esse crescimento recebeu atenção de uma gestão estratégica voltada à primeira infância, que teve início em 2013, quando as palavras ‘primeira infância’ e ‘fortalecimento de vínculos’ eram totalmente desconhecidas pelo poder público no Estado de Roraima e nem mesmo a sociedade sabia da importância e o ganho de se cuidar da primeira infância, recomendados pela ciência e pelo Nobel da Economia. Desde então, a cidade vem recebendo investimentos voltados ao desenvolvimento infantil para a formação de adultos mais saudáveis,

Ex-prefeita de Boa Vista, Teresa Surita com crianças atendidas nas modernas e bem-avaliadas escolas municipais 09


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PODER E INSTITUIÇÕES múltiplas áreas, visando, principalmente, ao bem-estar humano, renderam à cidade o título de uma das 26 cidades mais felizes do Brasil, em 2019, segundo a Revista Bula. A publicação realizou um levantamento de dados de estudos nacionais que medem a qualidade de vida da população do País. O ranking foi elaborado com base em indicadores que mostram a sensação de bem-estar e a satisfação da população dos 5.570 municípios brasileiros, entre eles: renda, longevidade, educação, emprego, saúde, saneamento básico e trabalho. Apenas três capitais se destacaram, entre elas, a de Roraima.

Praça do Nova Cidade, modelo de intervenção urbana planejado e voltado ao desenvolvimento da primeira infância.

produtivos e com mais oportunidades de crescimento profissional e pessoal. No centro da política pública implementada por Teresa Surita está o programa “Família Que Acolhe”, que garante às gestantes e seus bebês uma atenção especial do município. Porém, o alcance da política pública vai muito além, ao integrar de forma intersetorial os serviços nas áreas de saúde, educação, gestão social, urbanismo, tecnologia e comunicação para as mulheres e crianças, que são acompanhadas da gestação até os seis primeiros anos de vida. Essas ações visam ao desenvolvimento integral dos pequenos cidadãos de Boa Vista e resultam numa futura geração bem mais feliz e preparada.

INÍCIO DA VIDA A primeira infância é o período que vai da gestação aos 6 anos de idade, quando se formam as capacidades do ser humano, 10

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pois o cérebro está mais apto a absorver e a processar informações. É a fase de maior intensidade na conexão dos neurônios, segundo Jack P. Shonkoff (diretor fundador do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard, nos EUA), onde sentimentos de afeto, formação de linguagem, cognição e ludicidade possibilitam à criança se tornar um adulto saudável e mais preparado para o convívio em sociedade.

aprendizagem é fortemente influenciada por todo o meio onde a criança se encontra e com o qual interage”.

Segundo técnicos do Ministério da Saúde, no estudo “O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância na Aprendizagem”, publicado em 2014 pelo Comitê Científico, Núcleo Ciência pela Infância, “a aprendizagem inicia-se desde o começo da vida. Muito antes de a criança entrar na escola, enquanto cresce e se desenvolve em todos os domínios (físico, cognitivo e socioemocional), ela aprende nos contextos de seus relacionamentos afetivos. Especialmente na primeira infância, a

Mas os avanços não ficaram só na primeira infância e se estendem por todas as áreas, como a econômica, com a implantação de uma cultura do empreendedorismo, incentivo à cultura, fortalecimento do turismo, da agricultura rural e indígena, investimento em Ciência e Tecnologia, além das inúmeras melhorias na infraestrutura que transformaram Boa Vista. Praças modelo com selvinhas amazônicas, ciclovias, quadras de tênis, campos society, pistas de skate e bicicross e a evolução em

Foi com essa perspectiva e com esse olhar que Teresa Surita aperfeiçoou sua forma de governar, que prova ser possível implantar uma política pública capaz de ajudar as crianças a se desenvolverem melhor na família, na escola e na vida.

OUTROS AVANÇOS

Aqui, somos um povo forte que não se abate e recebe as adversidades com resiliência e alegria. A gente vê na dificuldade uma oportunidade para se superar”

Teresa Surita, ex-prefeita de Boa Vista.

O trabalho que levou Boa Vista aos títulos de “capital da primeira infância” e uma das cidades mais felizes do Brasil é o tema principal desta reportagem.

Capacidade de gestão e experiência são primordiais para executar políticas públicas A cada ano de gestão, Boa Vista foi aprofundando ainda mais os conhecimentos e reiterando a importância de investir-se nas crianças para que o futuro possa ser mais próspero e humano. A partir das políticas públicas que se iniciaram no FQA, a cidade passou a ser vista pelo Brasil e o mundo como uma capital modelo nos cuidados com as crianças, tendo como referência os ensinamentos implementados por Teresa, como gestora de uma capital/Estado, onde vive 70% da população de Roraima.

Crédito: Divulgação

Crédito: Fernando Teixeira

“Aqui, somos um povo forte que não se abate e enfrenta as adversidades com

resiliência e alegria. A gente vê na dificuldade uma oportunidade para se superar. Mesmo com a situação enfrentada por Boa Vista, com planejamento e trabalho a gente conseguiu uma educação de qualidade, dar um atendimento decente na saúde, ter uma cidade limpa e organizada, aumentar a quantidade de praças e investir em toda infraestrutura para gerar oportunidades de trabalho e melhorar a qualidade de vida da população”, destacou a ex-prefeita Teresa Surita, na época em que a cidade foi eleita uma cidade feliz.

Em seus cinco mandatos à frente da Prefeitura de Boa Vista, Teresa Surita realizou diversas obras de infraestrutura 11


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PODER E INSTITUIÇÕES

Capital da primeira infância Projetos voltados ao fortalecimento de vínculos familiares, educação e ação social transformam a capital de Roraima em referência internacional

Teresa Surita, ex-prefeita de Boa Vista (RR).

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Todo esse trabalho pela primeira infância é reconhecido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, MELQO e Bernard Van Leer, que são parceiros de Boa Vista na construção da cidade e tem como foco as crianças. Essas instituições visitam frequentemente

Crédito: Diego Dantas

Nós temos, hoje, uma política pública de primeira infância integrada e intersetorial, além do apoio de muitos parceiros, que colaboram com o conhecimento colocado em prática dentro dos equipamentos urbanos: nas creches Casas Mãe, PróInfâncias, UBSs, nos prédios e espaços públicos”

O NCPI avaliou os investimentos e as ações que impactam na primeira infância. O foco da pesquisa foi, principalmente, as intervenções urbanísticas realizadas pela prefeitura na cidade. O levantamento citou as manifestações artísticas em muros

e calçadas, assim como a restauração de espaços públicos. Outras intervenções avaliadas foram as feitas nas unidades de saúde e creches, como exemplo de ações para tornar os espaços mais amigáveis às crianças.

Crédito: Divulgação

Em um estudo realizado pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), a cidade

foi apontada como modelo em políticas públicas para a primeira infância no Brasil. Para considerar Boa Vista como exemplo, o estudo analisou práticas inovadoras no espaço urbano por meio de ações voltadas para as crianças.

Crédito: Divulgação

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OA VISTA (RR) – Uma das principais marcas da gestão da ex-prefeita Teresa Surita (MDB) foi começar, em 2013, uma verdadeira transformação na área social, educação e saúde, priorizando as crianças, desde a gestação, por meio de uma política pública integrada, que desenvolve diversas ações de forma intersetorial e fizeram de Boa Vista a capital brasileira da primeira infância.

Crédito: Divulgação

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

Gestão de Teresa Surita priorizou o desenvolvimento das pessoas a partir da primeira infância 13


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Crédito: Divulgação

Crédito: Igorh Martins

PODER E INSTITUIÇÕES

A educação é um dos principais focos da gestão voltada à primeira infância

Os conceitos da política de Boa Vista foram base também para a criação do Programa Criança Feliz, da Secretaria Nacional de Atenção à Primeira Infância do governo federal. Essa metodologia inovadora da capital de Roraima já chegou a mais de 3 mil municípios brasileiros. Em 2013, a Prefeitura Municipal de Boa Vista, antes mesmo da Lei Federal n.º 13.257/2016 - Marco Legal da Primeira Infância, estabeleceu como prioridade a política pública integrada inteiramente voltada às crianças, tornando a cidade a “Capital da Primeira Infância” e referência nacional e internacional. Para isso, a atenção começa quando a mãe ainda está na gestação, por meio do 14

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Intervenções para primeira infância Dentre as intervenções urbanas, em Boa Vista, voltadas à primeira infância, destacam-se as “Selvinhas Amazônicas”, que são brinquedos em tamanho gigante, caracterizados pela fauna e flora da região. Conforme a prefeitura, desde 2013, foram implantados 52 playgrounds com acessibilidade nas escolas municipais e 30 parques em praças públicas. Os prédios públicos municipais também ganharam um cantinho especial para as crianças. Há, ainda, brinquedos e fontes interativas nas praças e obras por toda a cidade, que oferecem espaços lúdicos, educativos e seguros para as crianças. A capital possui, ainda, o projeto “Caminhos da Primeira Infância”, que são tra-

jetos usados pelas crianças, interligando os equipamentos públicos do bairro de forma lúdica, divertida e segura. São escolas, creches, unidades básicas de saúde, praças e outros equipamentos públicos conectados. Teresa Surita (MDB) afirma que o trabalho vai além da gestão e muda vidas para melhor. “Eu acredito em políticas públicas sérias. Boa Vista se consolidou como a ‘Capital da Primeira Infância’ e é modelo para todo o País e para o mundo. Esse trabalho é a prova de que a transformação que buscamos deu certo e que, para acontecer de fato, precisa passar pela educação, saúde e pelo cuidado com as pessoas”, reiterou.

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a capital para acompanhamentos, estudos, consultorias e parcerias em ações voltadas ao público infantil.

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programa Família Que Acolhe, que acompanha a criança até os 6 anos de idade. Ao confirmar a gravidez, a gestante se cadastra no programa e passa a frequentar os encontros da Universidade do Bebê, que trabalha temas voltados aos cuidados com a saúde dela e da criança, a importância dos primeiros anos, do amor, carinho, do afeto e do brincar nessa fase da vida, estendendo essas e outras informações também aos familiares. A frequência no programa é importante para garantir uma vaga na creche quando a criança completa 2 anos, além de todo enxoval e o leite, como complemento alimentar. Segundo a ex-prefeita Teresa Surita, esse cuidado integral precisa acontecer na fase mais importante da vida de uma criança.

“Nós temos, hoje, uma política pública de primeira infância integrada e intersetorial, que presta um atendimento conectado entre saúde, educação, social, comunicação, tecnologia, urbanismo, além do apoio de muitos parceiros, que trazem o conhecimento colocado em prática dentro dos equipamentos urbanos: nas creches Casas Mãe, Pró-Infâncias, UBSs, nas praças, nos espaços públicos”, destacou Surita. Na área social, a prefeitura conseguiu atender cerca de 27 mil famílias por meio dos projetos e programas sociais. Só o Família Que Acolhe atendeu mais de 23 mil famílias. Por conta das ações sociais promovidas pela Prefeitura de Boa Vista, o município recebeu, em 2016, o Selo Unicef.

Fortalecer vínculos O programa Família Que Acolhe (FQA) tem o objetivo de fortalecer os vínculos familiares para que a criança alcance o pleno desenvolvimento. A iniciativa tem como foco ações que cuidam da criança desde a gestação até os 6 anos de idade. Em relação às políticas educacionais, os professores fazem uso do primeiro currículo infantil do País, assegurando um ensino de qualidade. Além disso, o município promove campanhas para sensibilização da população sobre a importância de cuidar bem dos bebês e das crianças. O Poder Executivo promove, ainda, capacitações dos servidores sobre os cuidados com a primeira infância.

Crédito: Andrezza Mariot

Crédito: Divulgação

Intervenções urbanísticas foram avaliadas em estudo do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), que apontou Boa Vista como modelo em políticas públicas para a primeira infância no Brasil

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Tendência do turismo em 2022

Crédito: Divulgaçaõ

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436 mil Boa Vista é a única capital brasileira totalmente acima da linha do Equador, com população estimada em 436 mil pessoas em 2021, segundo o IBGE.

Boa Vista está entre os 25 destinos mais procurados para este ano, segundo pesquisa do Ministério do Turismo Gabrie Abreu – Da Revista Cenarium

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OA VISTA (RR) – Uma pesquisa divulgada pelo Ministério do Turismo apontou que Boa Vista está entre os 25 destinos considerados tendência para 2022. A capital do Estado menos populoso e povoado do Brasil foi citada no periódico especial “Tendências do Turismo”, da Rede de Inteligência de Mercado do Turismo (Rimt).

Crédito: Richard Messias

Crédito: Fernando Teixeira

Boa Vista é a única capital brasileira totalmente acima da linha do Equador, com população estimada em 436 mil pessoas em 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O local também é conhecido como “berço de Macunaíma”, o “antiherói” protagonista do livro publicado, em 1928, por Mário de Andrade.

PARQUE RIO BRANCO Um dos principais cartões-postais de Boa Vista é o Parque do Rio Branco. Inaugurado em 2020, o complexo turístico Parque do Rio Branco é também uma obra social. Ele foi erguido às margens do Rio 18

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Crédito: Fernando Teixeira

Com suas serras e montanhas, Roraima recebe turistas do mundo todo. O primeiro destino turístico fica localizado no extremo Norte do Estado e forma a tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e República Cooperativa da Guiana. O Monte Roraima, que tem mais de 2,8 mil metros de altura e um platô de 34 km² – a forma de relevo constituída por uma superfície elevada – é um local único.

A cidade de Boa Vista é conhecida como “berço de Macunaíma”, o “anti-herói” protagonista do livro publicado, em 1928, por Mário de Andrade 19


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PODER E INSTITUIÇÕES Branco, que banha o Estado de Roraima, e fica localizado no bairro Francisco Caetano Filho, zona que sofria anualmente com alagamentos causados pelas fortes chuvas, o intenso fluxo de tráfico de drogas e a prostituição. Quando as obras foram iniciadas, mais de 350 famílias em situação de vulnerabilidade que residiam no local foram indenizadas e deslocadas.

No parque, há ainda a maior “Selvinha Amazônica” de Boa Vista, com elementos

da fauna e da flora amazônica, o espelho d’água em formato de meia-lua, uma praia artificial, quadras de esportes, calçadões para a prática de caminhadas, murais artísticos, com 34 pinturas de artistas regionais, e uma obra gigante pintada pelo artista de renome internacional Eduardo Kobra. Outro local turístico que é referência na capital é o Complexo Ayrton Senna. Quem passeia pelo local nem imagina que já foi uma imensa vala, com mais de três quilômetros de extensão. As obras

de transformação do espaço iniciaram ainda durante as primeiras gestões da ex-prefeita Teresa Surita. Ao sair do Aeroporto Internacional, os visitantes podem conhecer as Praças do Triângulo, das Águas, Fábio Marques Paracat e o Palco Velia Coutinho. São cerca de dois quilômetros das mais variadas opções para quem gosta de lazer, esportes, skate, bicicleta ou quer, simplesmente, fazer caminhadas

e atividades físicas ao ar livre. O espaço também é pensado especialmente na primeira infância, os pequenos têm à disposição playgrounds com pisos emborrachados e brinquedos interativos e desafiadores, que vão desde balanços, cavalinhos, minhocão, escorregadores, caracol, além dos infláveis, pula-pula, carros elétricos e outros. Para quem deseja conhecer a capital, há a possibilidade de chegar por via

aérea e terrestre, pela BR-174, rodovia federal que liga Boa Vista a Manaus e à Venezuela. A culinária também é um dos carros-chefes para os visitantes. Ao longo do Complexo Ayrton Senna, várias guloseimas nos quiosques como o sanduíche chamado ‘aloprado’, batizado com esse nome por ser um sanduíche grande e recheado de ingredientes. Outras opções para os turistas são a damorida e a paçoca, pratos típicos dos macuxis.

Vista aérea do Mirante Edileusa Loz, em Boa Vista

Crédito: Divulgação

Crédito: Fernando Teixeira

Crédito: Fernando Teixeira

Diversos atrativos turísticos compõem o local. Uma das experiências marcantes e imperdíveis que os turistas podem ter

ao visitar o Parque Rio Branco é o Mirante Edileusa Lóz, que tem 120 metros de altura, sendo o ponto de observação mais alto de Boa Vista e da Região Norte, possibilitando uma vista panorâmica de 360º de toda a cidade. De um lado, toda a arquitetura da capital e, de outro, a orla do Rio Branco e outros atrativos da natureza. A parte superior do mirante possui 250 metros quadrados, com piso e guarda-corpo de vidro.

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Artesã exibe, com orgulho, seus produtos no Mercado Municipal de Boa Vista

Cultura do empreendedorismo Investimento no fortalecimento do comércio e na oferta de serviços é um dos pontos fortes da economia em Boa Vista Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

Com Teresa, Boa Vista ganhou o novo Mercado Municipal, a reconstrução da praça de alimentação do Complexo Ayrton Senna, a construção do Centro Comercial Wakiri, teve entrega de barracas e carrinhos aos comerciantes ambulantes e até investimentos em “start-ups” que estimularam o empreendedorismo e a geração de emprego e renda a partir da criação de empresas que hoje prestam serviços digitais. 22

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CENTRO COMERCIAL WAKÎRI O Centro Comercial Wakîri é um espaço que impulsiona, ainda mais, o desenvolvimento do comércio na cidade, bem na área central de Boa Vista. Ele foi pensado e construído para atender às famílias que comercializavam produtos e prestavam serviços em áreas distintas da cidade, sem qualquer segurança ou local apropriado.

Espaços públicos Cerca de 1.600 pessoas trabalham em quiosques de Boa Vista. Mais de 300 quiosques de praças, mercado, terminal e centro comercial foram construídos ou reformados, desde 2013. Em meio à crise que o País vive, com elevados índices de desemprego, fica cada vez mais difícil ingressar no mercado de trabalho. Por isso, uma das alternativas da gestão municipal foi a construção de quiosques em espaços públicos, favorecendo os empreendedores. A gestão garantiu para esse ramo oportunidade de geração de emprego e renda a muitas famílias.

Com os investimentos, 110 famílias de Boa Vista foram diretamente beneficiadas com a oportunidade de ter um local seguro e confortável para garantir o sustento, gerar emprego e renda. “Essa foi uma obra social muito importante, assim com outras, porque tiramos muitas pessoas das ruas, trabalhando sem nenhuma condição. Essa é uma das várias obras de Boa Vista que aconteceram porque tive, durante minhas gestões, a parceria com o ex-senador Romero Jucá, que trazia recursos de Brasília”, lembrou a ex-prefeita Teresa Surita.

Ciência e Tecnologia Foram entregues, em Boa Vista, mais de 320 novos pontos comerciais. Todos esses investimentos trouxeram novas oportunidades de negócios para as famílias. Enquanto prefeita, Teresa também investiu nas tradicionais feiras livres da cidade, ampliando áreas de comercialização e incentivando, principalmente durante a pandemia, centenas de comerciantes com descontos em impostos e taxas.

emprego e renda na capital e incentivou o fortalecimento da economia.

Às vésperas de terminar o quinto mandato, a ex-prefeita Teresa Surita entregou a Praça de Alimentação Moisés Lima da Silva (Picote), localizada no Complexo Ayrton Senna. Toda a estrutura da antiga praça foi ampliada e modernizada e, atualmente, conta com 80 espaços destinados aos comerciantes. Além de proporcionar conforto e lazer aos boa-vistenses, este foi mais um investimento que garantiu

A moderna estrutura do mercado proporciona espaços para comercialização de alimentos, prestação de serviços, venda de artesanato, dentre outros. Quem gosta de um bom café da manhã regional também tem muitas opções.

MERCADO MUNICIPAL Um dos espaços entregues durante o último mandato da ex-prefeita foi o novo Mercado Municipal de Boa Vista. Totalmente reconstruído, o espaço ficou mais amplo e contribui com a geração de emprego e renda.

“Boa Vista recebeu um novo conceito de mercado, com uma proposta de ser referência daquilo que é a nossa identidade, além de ser um dos prédios públicos com

O desenvolvimento da área de tecnologia e inovação também é destaque, por meio de conceitos que garantem modernidade a Boa Vista. No Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação (CCTI) ocorreram eventos onde os empreendedores participantes do Programa de Talentos tiveram a oportunidade de apresentar suas start-ups para investidores.

Crédito: Divulgação

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OA VISTA (RR) – Como o comércio é a principal atividade econômica da capital de Roraima, a oferta de serviços em Boa Vista é um dos pontos fortes da economia local. Com isso, houve grandes investimentos no setor durante a gestão da ex-prefeita Teresa Surita, quando os empreendedores tiveram uma atenção especial.

placas solares que geram energia limpa para os comerciantes e usuários. Tudo isso representa um sonho realizado, uma grande contribuição para a nossa cidade e a todos que aqui vivem ou que virão a conhecê-la”, destacou a ex-prefeita.

Crédito: Divulgação

Crédito: Katarine Almeida

PODER E INSTITUIÇÕES

O Programa de Talentos foi criado com o intuito de fomentar o surgimento de novas empresas de Tecnologia da Informação, por meio da seleção de jovens profissionais talentosos, com o objetivo de obter investimentos para os seus negócios crescerem. Os profissionais que atuam no desenvolvimento das soluções tecnológicas enxergam o Programa de Talentos como uma oportunidade de crescimento profissional. 23


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Crédito: Divulgação BVB

Incentivo à cultura Teatro Municipal, festas culturais e ajuda financeira reforçaram cenário cultural

Outras realizações culturais

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

Um marco para a cultura de Boa Vista foi a entrega do Teatro Municipal de Boa Vista, em 2017, com um palco de 620 metros quadrados, seguindo as especificações internacionais para espaços cênicos, como piso em carpete, paredes revestidas de madeira e teto com placas acústicas, além de saídas de incêndio laterais. A entrega do teatro marcou um novo momento na cena artística de Roraima, que conta com um grande espaço para a apresentação de espetáculos musicais, teatro, dança e outros movimentos culturais. O prédio conta, ainda, com um “teatro escola” de 166 lugares, que dá suporte aos 24

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O teatro possui, ainda, estilo arquitetônico moderno e alta tecnologia dos equipamentos de cena, como as máquinas de luz, som e imagem, além de palco com fosso para orquestra sinfônica. Além disso, a marca do teatro foi inspirada em grafias do povo Yanomami, que ocupa a maior terra indígena do Brasil, grande parte localizada no Estado de Roraima. São quatro grafismos que representam os quatro sentidos dos seres humanos: visão, audição, tato e paladar.

NATAL DA PAZ Outro importante evento realizado em Boa Vista é o Natal da Paz, que nasceu na gestão da ex-prefeita Teresa Surita, com a proposta de reunir as famílias para um momento especial, onde a mensagem natalina contagiasse a todos os corações,

O Teatro Municipal é um marco cultural de Boa Vista

além de sempre encher a todos de esperança quanto ao novo ano que virá em seguida. “Começamos esse trabalho lá atrás e ele foi crescendo a cada ano, transformando-se em uma verdadeira tradição. É um momento mágico, onde reunimos as famílias para transmitir essa mensagem de esperança e renovação que o espírito natalino representa”, disse a ex-prefeita. O Natal da Paz acontece todos os anos no bairro Pintolândia, um dos mais afastados do Centro, que reúne, pelo menos, 15 mil pessoas para assistir ao espetáculo com a participação de centenas de integrantes de projetos sociais do município. Mais que entretenimento, o Natal da Paz também representa geração de emprego e renda para diversos profissionais envolvidos direta e indiretamente no espetáculo, incluindo desde os montadores da estrutura do palco, a maquiadores e coreógrafos. Mais de 400 pessoas participam do processo de criação e idealização desse grande espetáculo. Além disso, vários comerciantes aproveitam a data para faturar uma renda extra.

Corrida Internacional 9 de Julho Há, ainda, a Corrida Internacional 9 de julho. A atividade faz parte do calendário municipal de eventos em comemoração ao aniversário de Boa Vista, que, neste ano, completará 132 anos. A competição é considerada a maior de Roraima e a única da Região Norte reconhecida oficialmente pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), integrando o Calendário Nacional de Corrida de Rua da Caixa/CBAt.

Crédito: Fernando Teixeira

TEATRO MUNICIPAL

O teatro é um prédio imponente e moderno, localizado na Avenida Glaycon de Paiva, no bairro São Vicente. O espaço conta com sala de espetáculos com 1.100 lugares e espaço para exposições, pronto para receber espetáculos musicais, teatrais, de dança e outros movimentos culturais. É comparado a grandes teatros em cidades como Berlim, Paris e Londres, reconhecidas mundialmente como centros culturais.

Durante a pandemia, quando o comércio precisou ser fechado e os eventos ficaram impossibilitados de acontecer, a Prefeitura de Boa Vista garantiu a renda de cerca de 5 mil profissionais da cultura, com o pagamento de cachês para shows on-line. Também realizou, de forma virtual, o Boa Vista Junina, garantindo a renda de quem sobrevive dos eventos.

Cenas do Natal da Paz, espetáculo que já se tornou tradição em Boa Vista

Crédito: Fernando Teixeira

As festas tradicionais da cidade ganharam uma atenção diferenciada. Em Boa Vista, acontece, anualmente, “O Maior Arraial da Amazônia”, o Carnaval e o espetáculo “Natal da Paz”. Essas festas movimentam a economia da cidade, lotam o setor de hotelaria, beneficiam os segmentos de transportes, prestadores de serviços, costureiras, ambulantes e comerciantes em geral.

cursos de artes cênicas e música desenvolvidos em quatro salas de aula. O espaço possui o sistema de energia solar mais moderno do País, que gera 90% da energia que alimenta o teatro.

Crédito: Igorh Martins

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OA VISTA (RR) – O setor cultural recebeu grandes investimentos durante as gestões da ex-prefeita Teresa Surita (MDB). Entre as marcas de seu governo estão a entrega do Teatro Municipal de Boa Vista, os investimentos em festas tradicionais e na Corrida Internacional 9 de Julho.

Além de fomentar o setor cultural com eventos, a ex-prefeita Teresa Surita incentivou projetos que beneficiam a ocupação dos espaços públicos com shows de artistas locais nas praças. Esses artistas participam de editais de Cultura e recebem cachês para realizar apresentações culturais.

1.100 O Teatro Municipal de Boa Vista conta com sala de espetáculos com 1.100 lugares.

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Quando assumi a prefeitura, era um cenário assustador. Eu me lembro que no Hospital da Criança faltava tudo, de equipamentos, medicamentos até alimentação para os pacientes. Então, a partir de 2013, a gente foi transformando tudo, desde o primeiro dia.”

Crédito: Divulgação

Atenção especial à saúde

Teresa Surita, ex-prefeita de Boa Vista.

as especialidades de Pediatria, Ortopedia, Otorrinolaringologia, Psiquiatria e Neurologia. O hospital possui 114 leitos no geral e dez de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Investimento em hospital referência para crianças com até 13 anos, ala dedicada a indígenas e a construção e reforma de UBSs estão entre as principais ações na saúde Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

O hospital recebeu investimentos, reformas e equipes médicas. Todas as alas são humanizadas e decoradas para proporcionar maior bem-estar das crianças e diminuir o medo. Outro avanço foi a inauguração de uma ala especial na unidade para atender crianças indígenas. Os povos indígenas Macuxi, Wapichana e Yanomami que vão buscar atendimento na capital recebem um cuidado diferenciado, dentro dos costumes e tradições de suas comunidades, com ala preparada com redes e um tradutor para auxiliar nos atendimentos. A cidade ainda recebeu a construção, reforma e ampliação das Unidades Básicas de Saúde (UBSs). À época, foram encontradas somente sete unidades básicas de 26

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saúde. Ao assumir o quarto mandato, Teresa reverteu o cenário e construiu sete novas unidades e reformou outras 20. Atualmente, a cidade conta com 34 UBSs.

DESAFIO Em 2013, ao retornar à Prefeitura de Boa Vista, a ex-prefeita Teresa Surita foi ao Hospital da Criança Santo Antônio, onde relatou que encontrou diversos problemas de infraestrutura e até a presença de formigas no local. O inseto é um dos vetores mais perigosos para a transmissão de doenças dentro das unidades hospitalares. “Quando assumi a prefeitura, era um cenário assustador. Eu me lembro que no Hospital da Criança faltava tudo, de equipamentos, medicamentos até alimentação para os pacientes. Então, a partir de 2013, a gente foi transformando tudo, desde o primeiro dia”, relembra Teresa.

com serviços emergenciais, ambulatoriais e especialidades médicas. Em 2014, a unidade ganhou mais 63 leitos. Em 2018, foi entregue a reforma e a ampliação do Bloco B do hospital, que abriga os setores de exames, imagens e o laboratório de análises clínicas. E, em 2017, foi feita a entrega do Bloco C, que aumentou o número de leitos e enfermaria e implantou novos leitos de UTI. Em 2020, o hospital recebeu novos equipamentos e a prefeitura inaugurou a reforma do Bloco E, que concentra a cozinha, lavanderia, farmácia e setores como nutrição, depósito, almoxarifado, necrotério e salas administrativas.

TRANSFORMAÇÃO

Também foi entregue o Bloco H, com 60 leitos.

O Hospital da Criança Santo Antônio foi inaugurado em agosto de 2000 e é a única unidade pediátrica de referência do Estado, atendendo crianças de até 13 anos

A unidade hospitalar atende, em média, 8.500 crianças mensalmente, em diversas especialidades de média e alta complexidade. A maior demanda é para

Povos indígenas Outra área que recebe atenção especializada é a saúde indígena. Em Roraima, está situada grande parte da Terra Indígena Yanomami (TIY), a maior do Brasil. A população Yanomami é de 19.338 pessoas, povoadas em 228 comunidades, segundo dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde. A Terra Indígena Yanomami cobre 9.664.975 hectares dos Estados de Roraima e Amazonas, e ocupa mais de 96.650 quilômetros quadrados de floresta tropical. E é em Boa Vista que os povos tradicionais encontram uma unidade hospitalar de acordo com seus costumes e tradições. O Hospital Infantil Santo Antônio possui uma ala especial para atendimento das crianças indígenas.

Crédito: Divulgação

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OA VISTA (RR) – A saúde é uma das principais áreas onde houve amplos avanços em Boa Vista. A capital de Roraima conta com o Hospital da Criança Santo Antônio, unidade hospitalar de média e alta complexidade que atende a população infantil de todo o Estado de Roraima, das comunidades indígenas e ainda as que vêm da Guiana e da Venezuela.

Mães e seus bebês atendidos em ala indígena no Hospital da Criança Santo Antônio

A unidade funciona com oito blocos: A (administrativo, onde fica a direção, as coordenações e os ambulatórios de especialidades), B e C (laboratório de Análises Clínicas, o setor de Imagem, Emergência, Trauma e UTI), D (Farmácia, Cozinha, Refeitório, Lavanderia e outros), além de E, F, G e H, de internação.

Hospital da Criança é uma unidade de média e alta complexidade

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OA VISTA (RR) – Maria Teresa Saenz Surita Guimarães é formada em Turismo e filiada ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Com mais de 30 anos na vida pública dedicados ao Estado de Roraima, em especial à capital Boa Vista, onde foi eleita prefeita cinco vezes para comandar a cidade que abraça quase 70% da população do Estado. Além de prefeita por cinco mandatos, Teresa chegou, por duas vezes, a exercer o cargo de deputada federal por Roraima. Nasceu no interior de São Paulo, em São Manuel, mas mudou para Boa Vista em 1987, quando Roraima ainda era Território.

Teresa Surita Crédito: Divulgação

Gabriel Abreu - Da Revista Cenarium

Foi quando começou a trabalhar em um programa de voluntariado e teve a oportunidade de conhecer e identificar as necessidades do então futuro Estado de Roraima, distante do centro econômico e político do País e pouco conhecido. Para Teresa, aquele não foi um trabalho qualquer. Foi o início de uma entrega de coração e alma, que a introduziu na vida pública e justifica toda sua carreira até hoje. Em toda sua atuação como gestora, sempre procurou cuidar das pessoas, defendendo ser a política a principal ferramenta de transformação social. Anos atrás, foi bem-sucedida com os alcances que obteve no projeto “Crescer”, reconhecido nacionalmente, premiado, que tirou das ruas muitos adolescentes em situação de vulnerabilidade e reduziu índices de violência urbana. Antes do penúltimo mandato como prefeita, especializou-se em Harvard, nos Estados Unidos, em Primeira Infância. Não deixou de lado jovens e adultos, mas é comprovado cientificamente que investir nas crianças, desde a gestação, traz muito mais mudanças para a sociedade, com aspectos humanos mais desenvolvidos e moldados para a convivência familiar. Foi assim que foi implantado o Família Que Acolhe. No ano de 1992, Teresa foi eleita, pela primeira vez, prefeita de Boa Vista. Em 2000, foi eleita para seu segundo mandato, sendo reeleita em 2004. No ano de 2012, foi eleita prefeita de Boa Vista pela quarta

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vez e, em 2016, novamente reeleita para o quinto e último mandato.

ela. Trabalha para fazer e afirma que as dificuldades não a assustam.

Foi eleita pela primeira vez para assumir uma das oito vagas do Estado na Câmara dos Deputados, em 1990, quando renunciou, dois anos depois, para assumir a Prefeitura de Boa Vista. Em 2010, pela segunda vez, concorreu ao cargo de deputada federal e foi eleita para representar Roraima, em Brasília.

“Eu penso assim. Acredito que para tudo existe uma solução. A diferença é a forma de fazer, para que o resultado seja para sempre. Temos desafios sérios a enfrentar em Roraima, a começar pela saúde, educação, segurança, as estradas e a geração de emprego e renda. Tudo é prioridade, na verdade, e todas as áreas precisam de planejamento, recursos e transformação. Precisamos trabalhar e avançar”, afirmou Teresa.

Entre os avanços, a capital Boa Vista é a única cidade brasileira, dos mais de 5.500 municípios do País, que oferece sete meses de licença-maternidade para servidoras públicas da prefeitura. Esses 30 dias a mais da mãe com a criança são importantíssimos, porque é quando o bebê entra na fase da introdução alimentar. A presença da mãe também torna o bebê mais seguro, confiante, o que vai contribuir muito com a formação de um adolescente e um adulto muito melhor, mais compreensivo e sensato em suas decisões.

O QUE PENSA: Acredita que a política é o principal instrumento de transformação de realidades. A boa política muda, de fato, a vida das pessoas. Ela sempre diz que a diferença de um político para o outro não está no que ele fala, mas no que ele faz. Para conhecer bem o político, é só olhar sua história.

IDEALISTA Considera-se uma pessoa determinada e idealista. Sempre alimenta a esperança e o propósito de fazer a diferença no Estado de Roraima. Preparou-se, durante anos, e tem objetivos viáveis para Roraima. Para ela, um gestor público precisa estar bem preparado para cada conquista que almeja. Gosta de trabalhar com técnicos, gente boa, capacitada, que sabe fazer bem feito. Ninguém faz nada sozinho. Acredita no trabalho em equipe e valoriza cada pessoa no processo de construção.

NÃO TEM MEDO DE DESAFIOS Quando dizem “isso é problema” ou “está muito difícil de resolver”, é com

A ex-prefeita Teresa Surita é a pré-candidata do MDB ao Governo de Roraima, nas eleições 2022. Em fevereiro deste ano, quando lançou a pré-candidatura, disse que quer fazer pelo Estado o que fez em Boa Vista. Após cinco mandatos no comando da Prefeitura de Boa Vista, ela terminou sua gestão, em 2020, com 93% de aprovação popular. “Um Estado, para ser forte, precisa da capital funcionando bem, uma cidade modernizada, com recursos e serviços que atendam bem a população e, felizmente, preparamos Boa Vista para estar assim. Mas um Estado nunca será forte se o interior for fraco. E eu quero mudar isso. Precisamos de municípios apoiados, com infraestrutura, atenção, tecnologia, estradas, para promover, de fato, as mudanças que precisam acontecer. Mas isso não pode ser só discurso. Para mim, é modelo de desenvolvimento”, destacou. Entre os objetivos para o futuro, Teresa Surita destaca: reconstruir escolas e a educação, hospitais e o atendimento à saúde pública, fazer de Roraima uma das maiores fronteiras agrícolas do Brasil; fortalecer a segurança pública e reduzir os índices de violência contra a mulher, crimes violentos e suicídios que, atualmente, colocam Roraima na pior classificação do País; criar alternativas de geração de energia limpa e renovável; reconstruir a principal malha viária de Roraima e o acesso por vicinais e, com certeza, trabalhar uma política de desenvolvimento da primeira infância em todo o Estado.

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Crédito: Ricardo Oliveira

uma carreira na área de biológicas surgiu no Ensino Médio, quando tive aulas maravilhosas com uma professora de Biologia. Então, eu sabia que queria seguir nessa área e logo comecei a pesquisar profissões que envolviam mais a parte prática, pesquisas laboratoriais… Eu queria ser cientista”, lembrou Aldenora.

Mulheres na ciência Desafios de atuar na área persistem, mas são encarados com bravura

É recompensador trabalhar com o que se gosta (...) E sem a ciência desenvolvida por nós, o mundo seria muito pior” Aldenora Vasconcelos, biotecnóloga.

Bruno Pacheco — Da Revista Cenarium

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ANAUS (AM) — Margaret Hamilton, Nancy Roman, Grace Hopper, Hipácia de Alexandria e Rosalind Franklin são apenas algumas das grandes mulheres cientistas que fizeram história ao inovarem na área da pesquisa e cujos nomes inspiram, há décadas, jovens e futuras pesquisadoras a ingressarem no segmento. Seja no passado ou no presente, os desafios de atuar no setor tecnológico ou científico ainda persistem, mas são encarados por elas com bravura. A biotecnóloga Aldenora Vasconcelos, de 24 anos, mestranda em Biotecnologia, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), revela que o trabalho como pesquisadora é árduo, mas, mesmo em meio à falta de apoio do governo federal para o desenvolvimento dos estudos, acaba sendo recompensador. “Não é uma área fácil [de atuar], com certeza, [ela] te cobra mentalmente e fisicamente, pois você precisa de horas de dedicação mental, pesquisando artigos e elaborando discussões para entender os processos biológicos e, ao mesmo tempo, você se cansa fisicamente, pois você precisa passar o dia no laboratório, fazendo experimentos, lavando vidrarias e isso, no fim do dia, é bastante cansativo. E o trabalho não acaba no laboratório, chegando em casa você ainda precisa se dedicar ao seu trabalho. O governo também não oferece

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as condições necessárias para o desenvolvimento da pesquisa, faltam recursos para a compra de reagentes e equipamentos”, conta a jovem pesquisadora.

Na faculdade, a jovem começou a atuar como pesquisadora em projetos de iniciação científica, ainda no segundo período. “Ao todo, eu realizei dois projetos de iniciação científica, todos no Inpa [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia]. Posteriormente, foi meu projeto de TCC [Trabalho de Conclusão de Curso]. Agora, eu trabalho como tecnóloga de laboratório de microscopia [na UEA], auxiliando na obtenção de resultados de diversas pesquisas científicas”, frisou, orgulhosa.

Pesquisa e incentivo Após um 2021 difícil para a ciência, com os laboratórios fechados ou com revezamento de pessoas por conta da pandemia da Covid-19, a pesquisadora Aldenora Vasconcelos afirma que a meta para 2022 é de emplacar pesquisas em plataformas científicas renomadas mundo afora. Este ano, a cientista vai defender a sua dissertação de mestrado pela Ufam. “Em meu mestrado, eu trabalho com prospecção enzimática por cogumelos. Terminando, pretendo fazer o doutorado, que é fundamental para a minha área”, destacou.

“Mesmo assim, resistimos. É recompensador trabalhar com o que se gosta, obter os resultados que você espera, responder questionamentos por meio de muito esforço e perceber que aqueles lindos resultados são frutos da tua dedicação. E, sem a ciência desenvolvida por nós, o mundo seria muito pior”, reforçou Aldenora Vasconcelos. Natural de Urucurituba e com boa parte da juventude vivida em Itacoatiara, ambos municípios do interior do Amazonas, a pesquisadora, de origem humilde, migrou para Manaus, em 2016, com o objetivo de estudar na sonhada faculdade de Biotecnologia da Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas (ESA/UEA). É por meio da Educação que Aldenora busca realizar os sonhos que tem com a família. “Eu não vim de uma família rica, minha mãe sempre batalhou muito para me criar. Então, desde que me entendo por gente, eu sabia que a única forma de eu crescer na vida seria por meio da educação, mas, até o momento, eu não tinha escolhido qual profissão trilhar. A vontade de seguir

“Até que cheguei na Biotecnologia, que englobava tudo o que eu estava querendo e, no mesmo ano que eu iria prestar vestibular, abriu uma turma na UEA de oferta especial. Foi a minha chance”, revelou.

Aos 24 anos, Aldenora Vasconcelos é pesquisadora, cientista e mestranda em Biotecnologia

Questionada sobre o que é preciso para que mais meninas e mulheres sejam incentivadas a ingressarem na ciência, a cientista menciona o apoio do governo. Segundo Aldenora, é necessário ampliar e melhorar as condições para a realização de pesquisas, seja por meio de recursos, equipamentos ou bolsas. “Ingressar na ciência é um trabalho como qualquer outro e sem bolsa de apoio não tem como. Além disso, as mulheres precisam de apoio da sociedade como um todo, pois, muitas vezes, carregam o peso de cuidar da família e o seu sonho acaba ficando de lado”, ponderou. 31


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Aos 8 anos, Lara Farias fala da importância de se ter mulheres na ciência mundial e se espelha em Hipácia, de Alexandria, considerada a primeira mulher matemática da história

Caminho para a transformação Para a pequena modelo, atriz e digital influencer Lara Farias, de 8 anos, que ama a ciência e a tecnologia, o mundo científico é o caminho para a transformação. Lara foi uma das 12 meninas que participaram do projeto Garotas Espertas, dando vida à matemática, filósofa e astrônoma Hipácia de Alexandria (351/370 a.C).

É preciso mostrar exemplos de mulheres que têm histórias parecidas, onde as meninas possam se reconhecer”

“A ciência tem uma grande importância para toda a humanidade. Por meio da ciência, podemos descobrir curas e fazer grandes descobertas. A educação é o caminho para a transformação”, comentou Lara Farias. A jovem afirma sentir orgulho ao ver uma mulher sendo lembrada como um dos grandes nomes da ciência mundial.

Tanara Lauschner, professora e uma das fundadoras do projeto Garotas Espertas.

Crédito: Cunhantã Digital

criança, sempre gostou de números e isso a inspirou a ir em busca de conhecimento em processos computacionais.

Professora Tanara Lauschner, uma das fundadoras do projeto Garotas Espertas, mudou-se para o Norte aos 6 anos. Hoje, é doutora em Informátic Crédito: Cunhantã Digital

Elas na computação

“Não tive muito contato [com a área tecnológica/científica na infância]. Morava no interior, não tinha praticamente nenhum acesso à tecnologia. Em casa, tínhamos uma TV em preto e branco, de 18 polegadas, que os jovens nem devem saber o que é, e tínhamos sinal de TV

Número de mulheres que atuam na área caiu nas últimas décadas, mas elas permanecem na busca por mais espaços

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Ainda segundo a USP, em cinco anos (2013-2018), apenas 9% dos alunos formados no curso de Ciências da Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em São 32

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Carlos eram mulheres; no bacharelado em Sistemas de Informação, foram 10% e em Engenharia de Computação, 6%, números que não se restringem somente à universidade e que são percebidos e vistos como desafios já no mercado de trabalho, de acordo com a professora Tanara Lauschner, doutora em Informática e professora do Instituto de Computação (Icomp) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “O principal desafio que eu penso é ser mulher em computação — que, de fato, não é um desafio apenas na minha área, mas um desafio das áreas onde a maioria

Além de professora, Tanara Lauschner é uma das fundadoras do projeto Garotas Espertas, que busca incentivar a participação de crianças e adolescentes na área da ciência e tecnologia.

das pessoas são do gênero masculino. É preciso sempre saber se colocar, manter-se atualizada, pois você será colocada constantemente em dúvida pelo único fato de que mulheres inspiram menos confiança nessas áreas”, ressaltou a professora Tanara Lauschner. Nascida em São José do Cedro, no Estado de Santa Catarina, Tanara Lauschner mudou-se para o Norte do Brasil aos 6 anos e passou a infância no município de Maués, no interior do Amazonas. Ela conta que, apesar de não ter tido muito contato com a ciência e a tecnologia quando

Tanara conta que sempre estudou em escola pública, no interior do Amazonas, em Maués, e que se mudou para Manaus para estudar na antiga Escola Técnica

Federal do Amazonas (Etfam), hoje Instituto Federal do Amazonas (Ifam), onde escolheu o curso de Eletrônica, depois Engenharia Elétrica, quando começou a trabalhar com programação. Então, surgiu a oportunidade de fazer mestrado em Computação, em um programa interinstitucional da Ufam com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Incentivo às crianças

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium ANAUS (AM) – Na década de 1970, de acordo com dados da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 70% dos alunos do curso de Ciências da Computação, no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, em São Paulo, eram mulheres; em 2018, essa porcentagem baixou drasticamente para apenas 15%.

poucas horas por dia. A minha inspiração eu penso que tenha sido mesmo o meu gosto pelos números, pela matemática, que são processos computacionais. Lembrando que a computação veio bem antes que os computadores”, salientou.

A educadora afirma que para que o público jovem feminino seja incentivado a ingressar nesse universo de sabedoria, é preciso de mais ações específicas para elas e mostrar que todas podem sim entrar na área da tecnologia e da ciência. “É preciso mostrar exemplos de mulheres que têm histórias parecidas onde as meninas possam se reconhecer”, exemplificou. Crédito: Cunhantã Digital

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ARTIGO – CAROLINA NOBRE CASTELLO BRANCO

Para ter seus artigos científicos publicados na REVISTA CENARIUM, os estudantes devem entrar em contato por meio do e-mail: redacao@revistacenarium. com.br e aguardar análise da diretoria da empresa

Tanto no campo reflexivo, da pessoa em si, quanto no campo econômico, só beneficia a sociedade” Renan Albuquerque Rodrigues, professor doutor.

Crédito: Fotos Públicas

Artigos Acadêmicos Nova editoria da REVISTA CENARIUM abre espaço para conteúdos universitários Diovana Rodrigues – Da Revista Cenarium

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ANAUS (AM) – A ciência acompanha a humanidade em todas as áreas. Na tecnologia, na saúde, na manutenção do meio ambiente e na comunicação, por exemplo, a ciência se faz presente, mesmo que, às vezes, nem seja percebida. Engana-se quem pensa que a ciência, produzida no ambiente acadêmico, não tem a sua importância. Diante desta premissa, a REVISTA CENARIUM lança a editoria “Artigos Acadêmicos”.

Esse espaço permitirá o compartilhamento de estudos recentes com impacto para compreender, descrever, explicar e analisar os fenômenos, assim como as relações formadas entre eles, com o uso do método científico e da tecnologia para o aprimoramento das hipóteses e busca de resultados conclusivos.

A nova seção tem por objetivo a divulgação de artigos acadêmicos dos mais variados assuntos. Para a publicação do material, é necessário que o estudante coloque em anexo uma declaração de matrícula devidamente assinada pela instituição de ensino.

Para o professor doutor Renan Albuquerque Rodrigues, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ambientes Amazônicos da Universidade Federal do Amazonas (Nepam/Ufam), a iniciativa é importante, visto que fortalece a divulgação científica. “Esse ato nos leva

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ARTIGOS E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

a incorporar diversos outros públicos, o que, evidentemente, fortalece o trabalho dos(as) cientistas. O maior impacto da divulgação dos portais é o impacto da disseminação das pesquisas em jovens, para que entendam qual é a relevância de uma pesquisa para a sua vida”, afirma o pesquisador. Sobre os projetos de iniciação científica, o professor doutor pontua dois fatores principais: a expansão de consciência e a consciência de mundo; e, para quem está na academia, a verificação de bolsas. “Tanto no campo reflexivo, da pessoa em si, quanto no campo econômico, só beneficia a sociedade. Para isso, a gente tem que ter aportes, sobretudo do governo federal, dos governos estaduais e municipais, porque, a partir disso, vamos poder concretizar”, afirma Renan Albuquerque Rodrigues. Para o diretor da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), Allan Rodrigues, a divulgação dessas pesquisas motiva o pesquisador a produzir mais, além de conseguir ter uma medida mais exata do impacto que o seu estudo causou na sociedade. “A iniciativa é produtiva. Quanto mais canais se abrem para que o conhecimento científico chegue até as pessoas e, assim, possam se apropriar desse conhecimento para melhorar a sua qualidade de vida, melhor”, comenta. “O aluno vai aprender junto com o pesquisador, que tem mais experiência, os caminhos da pesquisa, como desenvolvê-la e também já vai sentir um gosto na graduação do que é essa produção do conhecimento, de como a ciência pode contribuir para melhorar a vida das pessoas”, argumenta o professor doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia sobre a importância das pesquisas.

Sobre opinião

Crédito: Acervo Pessoal

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Carolina Nobre Castello Branco

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ui convidada para escrever artigos de opinião para esta revista. Tema livre, posso falar sobre o que eu quiser. Posso mesmo? Tenho refletido, há algum tempo, sobre o significado de opinião e o impacto que isso representa em nossas vidas e em nosso convívio social. Acredito que seja uma boa forma de começar. Em uma realidade em que basta ter um celular para ser capaz de dizer o que se pensa em redes sociais, o espaço para reflexão é curto e o risco do equívoco é grande. No livro Nudge, Richard Thaler e Cass Sustein explicam que a ilusão cognitiva é tão poderosa que a maioria das pessoas nem sequer está disposta a crer na possibilidade de suas crenças estejam erradas. Motivadas por uma forma de gatilho – o nudge – que aciona seus sistemas automáticos, as pessoas acabam agindo de um certo modo não porque refletiram sobre o assunto, mas por concordarem com as descrições das coisas, já que se assemelham com o que de fato pensam. Assim, enxergam padrões em acontecimentos aleatórios que, muitas vezes, distorcem a percepção da realidade. O fato é que nossas escolhas estão sendo influenciadas a todo momento e nossa opinião também. No ambiente digital, somos estimulados a curtir, comentar e dizer o que pensamos sobre os mais variados assuntos. Não percebemos os “nudges” pelo caminho e, quando nos damos conta, já temos opinião sobre geopolítica, biomedicina e hermenêutica constitucional. Como resultado, temos a propagação massiva de (des)

informações que tomam conta da sociedade digital, mas essas informações, muitas vezes, não passam de uma opinião. Em sociedades democráticas, isso pode ser considerado um efeito natural da ampliação do diálogo, mas acredito que estamos perdendo parâmetros. É preciso perceber que opinião não é argumento. Alguns assuntos demandam conhecimento técnico e método para se chegar a uma conclusão racional. E, nesse aspecto, o método científico foi desenvolvido como um caminho racional para a descoberta da verdade, ainda que essa verdade seja uma verdade temporária. Sob o argumento da liberdade de expressão, opinamos basicamente sobre tudo, ainda que nosso contato com o assunto tenha sido superficial. É verdade, a Constituição Federal de 1988 garante a liberdade de opinião no artigo 5º, IV (livre manifestação de pensamento). Mas, se continuarmos lendo o artigo 5º veremos, por meio de uma interpretação sistemática, que a liberdade de opinião é limitada até mesmo pela própria Constituição, quando veda o anonimato e, logo no inciso V, assegura o direito de resposta e indenização por danos morais, materiais ou à imagem.

todos que uma opinião descuidada pode gerar prejuízos pessoais até mais graves do que aqueles previstos pelo sistema jurídico. Então, eu posso falar o que eu quiser? Tenho essa liberdade? Sim, mas devo suportar o peso da responsabilidade pelas minhas atitudes, pois não há liberdade sem responsabilidade. (*) Carolina Nobre Castello Branco é doutora em Direito Constitucional pela Unifor. Mestre em Direito Constitucional e especialista em Processo Civil pela PUC-SP. Membro da Associação Brasileira de Direito Processual Constitucional. Advogada e professora de cursos de graduação e pós-graduação.

Isso significa que, no exercício da minha liberdade de opinião não posso ofender terceiros, sob pena de ser responsabilizada. Além disso, o sistema jurídico cuida de criminalizar certas condutas ofensivas, como o racismo, mas o sistema moral também acaba exercendo um papel relevante no controle do excesso das opiniões e, pior, de modo automático. O caso Monark demonstrou para 35


‘A gente precisa ser ouvido’ Jovens do Amazonas falam da experiência no 18º Acampamento Terra Livre (ATL) Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium

Acampamento da diversidade A coordenadora nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), organização que realiza o evento, Sônia Guajajara, falou sobre a presença dos jovens amazonenses. “Aqui, todos os Estados se complementam e cada um que chega soma na luta. Para o Amazonas, sendo o maior Estado indígena em tamanho e população, é muito importante que se faça, cada vez mais, presente. O que a gente quer é isso, que os Estados possam chegar, cada vez mais, longe. É caro para vir, mas a presença é muito importante e muito valiosa para o nosso movimento”, explicou. De acordo com a organização, a 18ª edição do ATL reuniu, nos dez dias do encontro, mais de 8 mil participantes de mais de 200 povos indígenas do Brasil, com a presença maior de jovens, mulheres e LGBTQIA+. “É muito importante aumentar, cada vez mais, essa troca de gerações. Aqui no acampamento, tem vindo muita criança, jovens e a gente fez um recorte na programação para trazer a pauta LGBTQIA+, que são muitos. Então, somos esse lugar acolhedor de diversidade, da luta de povos nos territórios, nas suas regiões e é toda essa presença de gerações que faz essa potência toda que virou o Acampamento Terra Livre”, ressalta a dirigente.

Jovens indígenas de diferentes regiões do Amazonas marcaram presença no ATL de 2022 Crédito: Yusseff Abrahim

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RASÍLIA (DF) – Concluída a 18ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que reuniu indígenas de todo o País em Brasília, em abril, cinco participantes de regiões distintas do Alto Rio Negro, no Amazonas, fizeram um balanço de suas experiências para a REVISTA CENARIUM. O ATL marcou as mobilizações pelos direitos indígenas, no mês em que se comemora o dia dos povos originários.

2019), a necessidade da afirmação política indígena.

Da etnia Tukano e natural da Ilha de Duraka, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, a artista plástica Viviane Carneiro Borges leva, da sua segunda participação no ATL (a primeira foi em

Morando, atualmente, em Suzano, em São Paulo, na Comunidade Itaporã, a jovem Tukano é filha de uma liderança do Alto Rio Negro, o cacique Duraka-Kapuamu, que chefia uma região que

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“Se a gente não estiver aqui, se a gente não dá as caras e não faz um movimento, se não fazemos marchas, ninguém vai saber que existe indígena. Por isso, precisamos trazer mais pessoas para fazer um movimento cada vez mais forte, principalmente, da minha região do Rio Negro, de onde vem pouca gente”, afirmou Viviane.

O ato O Acampamento Terra Livre é considerado a maior mobilização indígena do mundo. Realizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em 2022, o evento voltou a Brasília, após dois anos da pandemia de Covid-19, com o tema ‘Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política’. Ao longo dos dez dias de mobilização, mais de 8 mil pessoas, de 200 povos indígenas das cinco regiões do País, participaram do ATL.

compreende 45 famílias, laço que a coloca em contato constante com o seu povo. “Eu sempre faço essa troca de experiências para articular com os indígenas da minha região. Mesmo estando longe, eu também estou ganhando uma experiência fora. Porque mesmo a gente estando em um lugar, a gente nunca vai saber a realidade do outro. Somos um movimento de ocupação, não somos movimentos de passeatas, por isso ocupar Brasília é algo bastante simbólico”, comenta. Outro participante Tukano, mas morador da Comunidade de Taraquá, no Rio Uaupés, Hélio Gessem Monteiro Lopes é ligado à Coordenadoria DIAWI’I, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. Ele ressalta que o mais

Crédito: Yusseff Abrahim

PODER & INSTITUIÇÕES

Coordenadora nacional da Apib, Sônia Guajajara, falou sobre a presença dos jovens amazonenses

importante, depois da vivência no evento, é levar o resultado dos debates para as 200 famílias de sua comunidade. “Por causa da logística, a gente fica sem informações do que acontece aqui [Brasília], ficamos de fora das lutas e as informações, às vezes, chegam distorcidas. Não entendemos o sentido das palavras, além de que a política da capital tem diferença para a política das comunidades. Por isso, quando eu voltar, quero que as pessoas entendam o que vou dizer”, explica Hélio.

POLÍTICA AFIRMATIVA X POLÍTICA LOCAL Após acompanhar as edições anteriores do ATL virtualmente, a Tuyuka Florinda Lima Orjuela teve, finalmente, sua primeira participação presencial. Como diretora-executiva da Associação Indígena da Etnia Tuyuka dos Moradores de São Gabriel da Cachoeira (Aietum), ela comentou suas impressões sobre as diferenças das discussões políticas do evento em comparação à prática política no Amazonas. “Este ano, vamos viver de novo, como lá na região fala, que é ‘época de político comer com índio, dançar com índio e experimentar o que é do índio’, para enganar, na maioria das vezes, os povos indígenas. E vários povos já estão cientes disso, mas, muitas vezes, a gente cai na conversa do político”, comenta. Para ela, a máxima do “parente vota em parente”, enfatizada durante todo o ATL 2022, precisa de um recorte mais específico para ‘parentes’ mais comprometidos com parentes. “É difícil adivinhar quem está falando a verdade, mas a gente sempre dá o voto de confiança para quem vai fazer o melhor

pelo nosso município. Hoje em dia, a gente já vê pessoas das associações de comunidades participando mais da política, se candidatando, mas ainda não tiveram sucesso. Vamos ver de agora em diante”.

Estudantes longe de casa Vivenciando a experiência acadêmica na Universidade de São Carlos (UFSCar), os estudantes Tulio e Arlison se consideraram satisfeitos com as discussões políticas do ATL 2022. O Dessano Tulio Soares da Silva nasceu na Comunidade do Matapi, constituída por cerca de 90 pessoas, no distrito de Taraquá. Ele reconheceu que os direitos só são conquistados como frutos de disputas. “Desde quem foi escravizado, até a classe trabalhadora, ninguém conseguiu direito sem que houvesse luta, sem que houvesse reunião como o ATL, sem que houvesse greve. Não se avança, em nada, se as pessoas não tiverem consciência do seu papel”, comenta o finalista do curso de Ciências Sociais. No início de sua jornada acadêmica no curso de Engenharia de Produção, Arlison Marinho Ferraz, oriundo do povo Wanano-Kotiria, que habita aldeias nas regiões de Yauaretê, São Gabriel da Cachoeira e Caruru-Cachoeira, mostrou-se motivado para transmitir tudo o que aprendeu no podcast “Papo de Maloca”, do grupo de jovens do qual faz parte, da Rede Wayuri do Rio Negro. “A gente precisa ser ouvido e é importante que a juventude esteja trabalhando na base para que nossos representantes se mobilizem e articulem de acordo com essa base. Acreditamos que vai dar tudo certo e que não vamos parar”. 37


PODER & INSTITUIÇÕES

REVISTA CENARIUM

talização das organizações criminosas; a repressão e o combate à corrupção e ao desvio de recursos públicos; a atuação forte e coordenada para a prevenção e repressão de crimes eleitorais; a proteção do meio ambiente e a repressão dos respectivos delitos; e a repressão e o combate ao tráfico de seres humanos, à exploração sexual infantojuvenil e aos crimes cibernéticos. Mas, é importante lembrar que a Polícia Federal também exerce atividades administrativas relevantes e que continuarão a ser desempenhadas com dedicação por nossos servidores, como o controle migratório, a expedição de passaportes, o controle de armas, a fiscalização de agências bancárias, o controle de precursores químicos, dentre outras.

‘Prevenir e reprimir com rigor os delitos ambientais’ Novo superintendente da Polícia Federal no Amazonas fala sobre as prioridades de sua gestão Ívina Garcia e Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

RV – A questão do meio ambiente dentro da Polícia Federal está estancada, desde a gestão do Saraiva. Você irá priorizar o tema em sua gestão? EAF – Essa, sem dúvida, é uma demanda que merece toda a nossa atenção e a Polícia Federal atuará com muita responsabilidade para zelar pela preservação da Amazônia, prevenindo e reprimindo com rigor os delitos ambientais. Superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes citou, entre suas prioridades, o combate ao tráfico de drogas, proteção a crianças e adolescentes e o enfrentamento à corrupção

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Fontes assume o cargo substituindo Leandro Almada, que, agora, está à frente da Superintendência Regional de Polícia Federal (PF) na Bahia. Ele possui gradua38

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ção em Direito, pela Faculdade Integrada de Itapetininga, e é especialista em Segurança Pública com Direitos Humanos, pelo Ministério da Justiça. O novo superintendente já foi procurador do Estado de São Paulo e delegado da Polícia Civil no Paraná. Atualmente, Eduardo Fontes, além de ter experiência na área de inteligência com foco na segurança pública, também é coach da Ad Verun, coordenador do Instituto Iberoamericano de Estudos Jurídicos (Iberojur Brasil), professor e coordenador de pós-graduação no Complexo de Ensino Renato Saraiva, autor de livros e coordenador de coleção pela Editora Juspodivm. À REVISTA CENARIUM, o superintendente da PF no Amazonas falou sobre quais serão as prioridades da nova ges-

tão, sem esquecer do combate aos crimes ambientais praticados na Amazônia. Leia a entrevista com o novo superintendente da PF: REVISTA CENARIUM – Quais são seus eixos prioritários nos primeiros passos da gestão da superintendência amazonense? Eduardo Alexandre Fontes – Sem descuidar da repressão e investigação das demais infrações penais de atribuição investigativa da Polícia Federal, os eixos prioritários da minha gestão à frente da Superintendência da PF no Estado do Amazonas serão o recrudescimento da repressão e do combate ao tráfico ilícito de drogas e ao crime organizado; o combate à lavagem de dinheiro visando à descapi-

EAF – A situação geográfica do Estado do Amazonas, notadamente em virtude da tríplice fronteira Colômbia, Peru e Venezuela, reclama uma atuação estratégica, planejada e com inteligência policial para neutralizar as incursões do narcotráfico e de grupos criminosos que atuam nos vizinhos amazônicos. Fiquei muito feliz por encontrar, na Superintendência da Polícia Federal do Amazonas, policiais vocacionados e com a necessária expertise para fazer frente a essa importante e difícil missão. RV – Outro problema que temos é a corrupção nos Poderes. Tivemos grandes operações envolvendo todas as esferas, qual será a sua atuação nesse eixo? EAF – Infelizmente, a corrupção é um câncer que se espraia por todo o mundo e

Eduardo Alexandre Fontes também quer focar sua gestão na Superintendência da PF no Amazonas no combate aos crimes ambientais e na preservação da Amazônia

Crédito: Ricardo Oliveira

ANAUS (AM) – Premiado como melhor delegado de polícia do Brasil na categoria jurídica, autor de livros e pesquisador na área do Direito Penal, Direito Processual Penal e Criminologia, o delegado federal Eduardo Alexandre Fontes é o novo superintendente Regional de Polícia Federal (PF) no Amazonas. Ele é o segundo a assumir a regional do órgão no Estado, desde que Alexandre Saraiva foi exonerado após “bater de frente” com o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusando-o de favorecimento a esquemas de extração ilegal de madeira.

RV – No Amazonas, temos alguns pontos específicos em que a Polícia Federal vem atuando, um deles é no tráfico das fronteiras e o crime organizado. Você, que é especialista nessas áreas, acredita que pode trazer alguma mudança para o cenário atual do Estado?

em todas as esferas de poder. É fato que o Brasil teve um enorme avanço no combate à corrupção institucionalizada e a Superintendência da Polícia Federal no Amazonas sempre realizou brilhantes trabalhos nesse eixo e continuará a agir fortemente e de forma integrada com os demais órgãos de segurança pública e de fiscalização, para minimizar os efeitos nefastos desse crime para a nossa sociedade. RV – O Amazonas possui grandes problemas com a segurança infantil, seja de crianças vulneráveis nos interiores e estradas, ou quanto à disseminação de pornografia na internet. A Polícia Federal tem feito um trabalho minucioso em outros Estados a respeito disso. Você pretende bater nesse ponto? EAF – Com certeza. De fato, esse é um cenário preocupante e o combate à divulgação de material pedopornográfico será uma de nossas prioridades. Na PF, já tive oportunidade de trabalhar em diversos casos bem-sucedidos envolvendo pornografia infantojuvenil e as boas práticas investigativas serão aplicadas pelos colegas que estarão à frente desses casos aqui na Superintendência.

Essa, sem dúvida, é uma demanda que merece toda a nossa atenção e a Polícia Federal atuará com muita responsabilidade para zelar pela preservação da Amazônia”

Eduardo Alexandre Fontes, superintendente Regional de Polícia Federal no Amazonas. Crédito: Ricardo Oliveira

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Trunfo eleitoral

Coluna Via Brasília

Se o recebimento dos R$ 400 do Auxílio Brasil já surtia algum efeito nos índices de popularidade de Bolsonaro, a aprovação pela Câmara de uma emenda que prolonga para além deste ano o benefício tira da oposição uma de suas linhas críticas: a de que o pagamento dos R$ 400 mirava apenas a reeleição de Bolsonaro porque não teria continuidade no ano que vem. Analistas da cena política avaliam que não adiantará os petistas alegarem que o governo aumentou o valor pensando em benefício próprio. Quem recebe o dinheiro está mais interessado que os trocados pinguem frequentemente.

Ações em série no STF e Procuradoria Eleitoral e conversas com ministros: estratégias para salvar a ZFM Envolta na defesa a ataques sistêmicos do governo do presidente Jair Bolsonaro que solapam os polos mais importantes da Zona Franca de Manaus e minam a sua competitividade, a classe política do Amazonas recorre a variadas táticas para manter vivo o modelo. Dois decretos presidenciais atingem em cheio os polos de duas rodas, de eletroeletrônicos, de informática e de concentrados de refrigerantes: um reduz em 35% e 25% o IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, e o mais mortal, no caso dos concentrados, zera o tributo e torna insustentável a permanência das gigantes Coca-Cola e Ambev no Amazonas.

Crédito: Marcos Santos | Usp Imagens | Fotos Públicas

PF sem reajuste Aparentemente, Bolsonaro parece ter aceitado os argumentos do ministro da Economia, Paulo Guedes, para deixar para o ano que vem a reestruturação das três carreiras policiais. O presidente dá, frequentemente, sinais contraditórios sobre a promessa que fez no fim do ano passado de reajuste a policiais Crédito: Divulgção Suframa

Bola com Moraes Mas, nem tudo é notícia ruim à ZFM. A edição de um novo decreto que aprofundou o corte do IPI para 35% anulou os efeitos do anterior e possibilitou que as ações saíssem das mãos do ministro “terrivelmente evangélico” de Bolsonaro, André Mendonça, e fossem para a órbita de Alexandre de Moraes, desafeto do presidente. Com isso, o governador Wilson Lima e a bancada amazonense adotaram a estratégia de protocolar ações em série no STF e manter conversas de sensibilização reservadas com ministros da Corte. Vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos foi além: questionou a Procuradoria Eleitoral do MPF acerca da concessão de benefício sem contrapartida, prática vedada em ano eleitoral. A estratégia garantiu a primeira vitória, com Moraes suspendendo os efeitos dos decretos federais no que se refere a produtos da Zona Franca de Manaus. 40

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federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários. O ministro da Justiça, Anderson Torres, que encampa a proposta, disse, no entanto que nada está decidido e que há muita especulação sobre o assunto. Mas, entre os ministros, Torres ficou isolado na defesa dos interesses das polícias.

Novo marqueteiro de Lula Centenas de milhares de robôs Mal vibravam com a compra do Twitter pelo bilionário Elon Musk, as redes bolsonaristas sofriam um “inchaço” de centenas de milhares novos seguidores. A movimentação não parece orgânica, com características de robôs. Foi o que denunciou a plataforma Bot Sentinel, que verificou, em apenas um dia, que mais de 61 mil novas contas haviam sido criadas. Outra plataforma, a Social Blade, confirmou a manobra massiva nas contas do presidente Jair Bolsonaro, dos seus filhos e aliados, como o general Augusto Heleno, os ex-ministros Damares Alves e Tarcísio de Freitas, além das deputadas Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF). O Twitter nega que a movimentação tenha sido artificial.

Dispostos a apagar o incêndio que tomou conta da comunicação da pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, dirigentes do PT agem para substituir o marqueteiro Augusto Fonseca, que vive às turras com um dos homens de confiança do partido na área da comunicação, Franklin Martins. Petistas já dão como certa a contratação do baiano Sidônio Palmeira, que fez a campanha de Fernando Haddad, em 2018. Segundo os dirigentes, ele e o partido já teriam acertado as condições. Mas, falta o aval de Lula. A assessoria do ex-presidente não comenta e o PT diz que só vai se manifestar com a decisão tomada. Crédito: Fotos Públicas

*Informações atualizadas até o fechamento desta edição.

Crédito: Ricardo Stuckert | Fotos Públicas

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REVISTA CENARIUM

Terras: luta e resistência O guardião da floresta Ari-Uru-Eu-Wau-Wau, amigo de infância de Txai Suruí, citado por ela na COP26 e reconhecido em festivais internacionais de cinema pelo documentário “O Território”, foi uma das vozes do ativismo indígena silenciadas por posseiros de terras. Ari morreu aos 34 anos, assassinado por denunciar a invasão da TI de seu povo e a exploração madeireira. O crime completou dois anos em abril e, até hoje, não teve solução. “2 anos sem Ari. 2 anos sem respostas. 2 anos sem justiça”, escreveu a ativista Txai Suruí, no Twitter.

Territórios sob ameaça

PA: COMBATE E CONTROLE, JÁ! A especialista ressalta que “a maioria das Terras Indígenas que apresentam a maior ocorrência de desmatamento ao redor do limite territorial estão localizadas no Pará” e que por isso o Estado “necessita, urgentemente, de uma intensificação das ações de fiscalização e de combate ao desmatamento, priorizando esses territórios que estão sendo mais ameaçados e mais desmatados”, argumentou ela.

Pará e Rondônia: Estados têm Terras Indígenas mais ameaçadas pelo desmatamento na Amazônia, revela Imazon Iury Lima – Da Revista Cenarium

Terras indígenas nos estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia estão entre as mais ameaçadas pelo desmatamento

Crédito: Gabriel Uchida | Reprodução

V

ILHENA (RO) – Estudo publicado na semana de “Luta e Resistência dos Povos Indígenas” confirma algo que os guardiões da floresta dizem incansavelmente há muito tempo: as Terras Indígenas (TIs) da Amazônia estão padecendo, cada vez mais, com a ação de invasores, especialmente de garimpeiros e desmatadores ilegais, dentro e fora das aldeias. Os dados são do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e revelam que, de todas as TIs mais ameaçadas pela derrubada e queimadas

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de matas em seu entorno, 60% ficam no Pará, Estado seguido por Rondônia, que concentrou 40% dos territórios na mira do avanço da destruição ao longo de 2021. O mapeamento que identificou e ranqueou as terras mais ameaçadas pela ação criminosa apontou também que está em Rondônia a TI mais ameaçada de todo o bioma: o lar do povo Uru-Eu-Wau-Wau, com população inferior a 250 pessoas. A pesquisa do Imazon considera uma área de até 10 quilômetros de distância das reservas

e foi, segundo o instituto, realizada com o objetivo de evitar que elas sejam invadidas. “Além de monitorar o desmatamento nas Terras Indígenas, é importante, também, entender a dinâmica do desmatamento ao redor desses territórios, porque conhecendo as áreas mais ameaçadas em relação ao desmatamento é possível que os órgãos de fiscalização atuem de forma preventiva e impeçam invasões e o uso ilegal desses territórios”, explicou a pesquisadora do Imazon Larissa Amorim.

Terras Indígenas mais cercadas pelo desmatamento em 2021 RANKING

TERRA INDÍGENA (TI)

TI Uru-Eu-Wau-Wau | RO

TI Trincheira/Bacajá | PA

TI Parakanã | PA

TI Baú | PA

TI Cachoeira Seca do Iriri | PA

TI Arara | PA

TI Aripuanã | MT

TI Karipuna | RO

TI Apyterewa | PA

10°

TI Aripuanã | MT/RO Fonte: Imazon

Ao longo de 2021, o Estado concentrou seis das dez TIs mais ameaçadas, ou seja, mais da metade dos territórios ranqueados.

LUTA DOS URU-EU-WAU-WAU Considerando todas as ocorrências de desmatamento em 2021, ano em que a devastação da Floresta Amazônica foi a maior em, pelo menos, 14 anos, o Imazon aponta que a TI mais cercada pelo desmatamento foi a do povo Uru-Eu-Wau-Wau. O território percorre 12 dos 52 municípios rondonienses, em uma área de quase 2 milhões de hectares. ‘Ameaça’, segundo o instituto, “é a medida do risco iminente de ocorrer desmatamento no interior de uma Área Protegida (AP)”. O Alerta de Desmatamento (SAD), outra medição feita pelo Imazon, confirma que a TI Uru-Eu-Wau-Wau foi a principal vítima da ameaça de desmatamento ao seu redor, tendo

Crédito: Agência Brasil

MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE

caído de posição nos meses finais, mas seguindo entre os dez territórios que mais correram perigo. “A Terra Indígena mais ameaçada no ano passado foi a TI Uru-Eu-Wau-Wau, localizada em Rondônia (…) Apesar da forte ocorrência de desmatamento ao redor desta TI, ainda não houve uma intensificação desse desmatamento dentro do seu limite territorial. Este é um exemplo de onde deve ocorrer ação preventiva de forma que proteja esse território e impeça que ocorram invasões ilegais dentro dela”, enfatizou Larissa Amorim.

Direitos garantidos, escudo erguido Ainda de acordo com o Imazon, no último ano, as Terras Indígenas foram a categoria territorial que mais impediu o avanço do desmatamento, apesar da grande ameaça e pressão ao redor (que aumentou 29%, em 2021). Daí, a evidência de que a demarcação é necessária não só para assegurar os direitos dos povos originários à terra, mas, também, para garantir a manutenção dos ecossistemas da Amazônia. O ano passado fechou com 10.362 quilômetros quadrados de destruição do bioma, sendo que apenas 2,5% disso, ou seja, 263 quilômetros quadrados, foram registrados dentro das TIs. “Demarcar novas áreas é uma ação efetiva de combate ao desmatamento”, constatou o estudo do Imazon.

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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE

REVISTA CENARIUM

Proteção ao sagrado Populações originárias são responsáveis por retardar a destruição da Floresta Amazônica

Crédito: Ricardo Oliveira

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

sistema de alerta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Deter, que observou uma aceleração multiplicada por 1,7 na média dos três últimos anos quando comparada com a média de 2016 a 2018. “Esse aumento no desmatamento na Amazônia se deve à falta de fiscalização e investimento de políticas públicas para combater e prevenir o desmatamento ilegal, o que tem favorecido também outras atividades ilegais, como a grilagem, o garimpo, a exploração madeireira ilegal e que estão destruindo a Floresta Amazônia”, salientou a pesquisadora Julia Shimbo.

PIORA NO GOVERNO BOLSONARO O estudo do MapBiomas também compara os alertas de desmatamento do Deter em territórios indígenas entre 2016 e

março de 2022, onde os números mostram saltos sucessivos, com ênfase nos anos do Governo Bolsonaro. O aumento ocorre tanto no desmatamento em geral quanto no desmatamento por mineração.

GARIMPO O levantamento do MapBiomas também revela dados sobre o garimpo. Segundo o estudo, que mapeou áreas de mineração de 2010 a 2020, a área ocupada pelo garimpo em Terras Indígenas cresceu 495%. As maiores áreas de garimpo em Terras Indígenas estão em território Kayapó (7602 ha) e Munduruku (1592 ha), no Pará, e Yanomami (414 ha), no Amazonas e em Roraima. Conforme o estudo, 93,7% do garimpo do Brasil em 2020 estava concentrado na Amazônia.

Dados sobre alerta de desmatamento e desmatamento por mineração ANO

As Terras Indígenas estão entre as áreas mais protegidas nos últimos 30 anos

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ANAUS (AM) – No País onde o desmatamento é, cada vez mais, uma pauta rotineira, o Brasil tem nos povos originários a esperança para salvar a floresta da destruição. É o que aponta um estudo do MapBiomas, que mostra que as Terras Indígenas estão entre as áreas mais protegidas nos últimos 30 anos. O estudo foi publicado no dia 19 de abril, data em que é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. O levantamento aponta que, no Brasil, a perda geral de vegetação nativa nos últimos 30 anos foi de 69 milhões de hectares, mas apenas 1,6% (1,1 milhão de hectares) do desmatamento recai sobre as Terras Indígenas. Em contrapartida, nas áreas privadas, a perda de vegetação nativa chegou a 47,2 milhões de hectares, o que

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representou 68,4% de toda a perda no País entre 1990 e 2020. No Brasil, as Terras Indígenas ocupam 13,9% do território e contêm 109,7 milhões de hectares de vegetação nativa, que correspondem a 19,5% da vegetação nativa em 2020. Segundo o estudo, nos últimos 30 anos, as TIs no País perderam apenas 1% de sua área de vegetação nativa, enquanto nas áreas privadas a perda foi de 20,6%.

TERRAS INDÍGENAS SÃO BARREIRAS Para Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), os dados do estudo reforçam a tese de que as Terras Indíge-

nas são como barreiras ou escudos ao avanço do desmatamento. À REVISTA CENARIUM, a especialista afirmou que são esses territórios que estão protegendo a natureza em um cenário de aumento da destruição da floresta. “São esses territórios que estão mantendo e protegendo a Floresta Amazônica em um cenário de aumento do desmatamento nos últimos anos e que, inclusive, estão sendo ameaçados por invasões de garimpo, exploração madeireira e desmatamento ilegal”, explicou.

AUMENTO De acordo com o MapBiomas, houve um aumento no desmatamento em Terras Indígenas na Amazônia, nos últimos anos. Os dados foram detectados pelo

Terras Indígenas

Fonte: DETER/INPE

► As terras indígenas ocupam 13,9% do território brasileiro e contém 109,7 milhões de hectares de vegetação nativa.

ÁREA/HA Alerta de Desmatamento(*)

Desmatamento por Mineração(*)

2016

16.289,66

58,43

2017

23.219,92

910,18

2018

26.354,7

1.451,54

2019

53.702,04

2.975,31

2020

28.924,31

2.016,51

2021

27.769,18

2.409,34

2022 (até março)

975,88

206,9 Fonte: DETER/INPE

► Esse número corresponde a 19,5% da vegetação nativa no país em 2020. ► A perda de vegetação nativa no Brasil foi de 69 milhões de hectares nos últimos 30 anos (1990 - 2020).

Sagrado para indígenas A líder indígena e presidente da Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (Arman), Clarice Gama, do povo Tukano, explica à REVISTA CENARIUM que as populações originárias têm uma forte relação com a floresta e que, para eles, a natureza significa algo sagrado, que deve ser respeitado. Para ela, os dados do MapBiomas mostram, claramente, que os povos indígenas são os que cuidam, verdadeiramente, da natureza.

visa ao lucro e não à vida. Não respeita a natureza”, comentou a líder indígena.

“A natureza significa, para nós [povos indígenas], um sagrado e nós fazemos reverência, com todo respeito, à natureza. Para nós, a natureza sempre está interligada com a vida e é por isso que nós respeitamos a vida. Sobre as áreas privadas perderem 20,6% do território em 30 anos, para nós, significa que esse lado

Clarice reforça, ainda, que a floresta representa a mãe e a identidade dos indígenas e que nela existem histórias mitológicas, cosmológicas e filosóficas que contemplam todas as vidas dessas populações que são negativamente impactadas pelo desmatamento.

Para Clarice Tukano, o avanço do desmatamento em áreas privadas compromete as regiões onde residem os povos indígenas, que sofrem com as mudanças climáticas ou eventos extremos ocasionados pela destruição da floresta e também impactam os animais, que dependem do meio ambiente para sobreviverem.

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ECONOMIA & SOCIEDADE

REVISTA CENARIUM

Todos pela Zona Franca de Manaus Lideranças do Amazonas deixam diferenças políticas de lado para se mobilizar contra as medidas do governo federal que acabam com a competitividade do polo industrial Crédito: Divulgação

Bruno Pacheco - Da Revista Cenarium

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ANAUS (AM) – A luta pelos interesses econômicos da Zona Franca de Manaus (ZFM) tem feito lideranças do Amazonas deixarem de lado diferenças políticas para unirem forças por um objetivo comum: a manutenção do modelo econômico que sustenta o Estado. Seja da esquerda, do centrão ou da direita, governador, parlamentares, ex-prefeito e outras lideranças se mobilizam para derrubar as medidas do governo federal que ameaçam a competitividade do polo industrial. O cenário incerto sobre o futuro do maior motor financeiro do Amazonas, que gera mais de 100 mil empregos diretos e 500 mil indiretos, foi instalado com o Decreto n.º 10.979, de 25 de fevereiro de 2022, publicado no Diário Oficial da União (DOU) e assinado por Bolsonaro, reduzindo a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25% para todo o País, sob o argumento de baixar os preços dos carros e de eletrodomésticos não produzidos pela ZFM. Depois, no final de abril, em novo decreto, o governo federal aumentou para 35% a redução da alíquota do IPI dos eletrodomésticos e, em um golpe considerado fatal pelos economistas, zerou o IPI dos

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concentrados, sufocando a competitividade das indústrias deste setor, que geram empregos e movimentam a economia em Manaus e em outros municípios do Estado, como Maués e Parintins. Sem a isenção fiscal que coloca a ZFM em vantagem frente a outros polos de indústria do Brasil, o modelo perde competitividade e deixa de ser atraente para as empresas, que devem migrar para outras regiões ou até deixar o País. Por isso, a necessidade de articulações políticas, independentemente de diferenças políticas. Encabeçadas pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), a mobilização conta com a bancada federal do Estado, com senadores e deputados federais, como Marcelo Ramos (PSD), o ex-prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio Neto (PSDB), além de outras lideranças políticas e empresários. Uma medida de reação da mobilização das lideranças do Amazonas é a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) movida pelo governador Wilson Lima no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a concessão de medida cautelar para suspender a redução da alíquota do IPI para os produtos da ZFM. Apesar do confronto direto com o presidente da

Compromisso firmado Em 20 de abril deste ano, ficou decidido pelos parlamentares federais do Amazonas o ingresso, na Corte Suprema Eleitoral, da mesma ação judicial de Lima, a ADI. Pelo acordo firmado entre os parlamentares presentes, coube ao partido Solidariedade, presidido pelo deputado federal Paulinho da Força, de São Paulo, elaborar a ação judicial. Estavam presentes na reunião o coordenador da bancada, senador Omar Aziz (PSD-AM), ao lado dos senadores Eduardo Braga (PSDB-AM) e Plínio Valério (PSDB-AM). Apesar da bancada do Amazonas no Senado estar completa, o encontro contou somente com a metade dos parlamentares do Estado na Câmara Federal. Apenas os deputados federais Marcelo Ramos (PSD-AM), José Ricardo (PT-AM), Sidney Leite (PSD-AM) e Bosco Saraiva (Solidariedade-AM) marcaram presença. Já os deputados Átila Lins (PSD-AM) e Silas Câmara (Republicanos-AM) se comprometeram a subscrever a ação, enquanto Alberto Neto (Republicanos-AM) e Delegado Pablo (União Brasil-AM) não se pronunciaram sobre a decisão de acionar o STF.

Temos nossas diferenças, mas é hora de nos unirmos em favor dos interesses do Amazonas. O importante mesmo é termos comida na mesa dos amazonenses”

Arthur Virgílio Neto, diplomata, exsenador e ex-prefeito de Manaus. A Zona Franca de Manaus inclui o Polo Industrial de Manaus e outras estruturas responsáveis por mais de 600 mil empregos diretos e indiretos no Amazonas 47



ECONOMIA & SOCIEDADE

REVISTA CENARIUM

Crédito: Divulgação Assessoria

A minha maior preocupação nesse processo é a manutenção dos empregos, daquele homem e daquela mulher que está com o emprego em uma empresa do Distrito Industrial e que precisa de dinheiro para sustentar suas famílias”

Governador do Amazonas, Wilson Lima, e lideranças políticas do Amazonas reunidas com o presidente Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes

República, Jair Messias Bolsonaro (PL), Wilson Lima afirmou que o diálogo com o governo federal continuaria. “A minha maior preocupação nesse processo é a manutenção dos empregos, daquele homem e daquela mulher que está com o emprego em uma empresa do Distrito Industrial que precisa de dinheiro para sustentar suas famílias. A gente toma essa decisão, mas também mantém o diálogo com o governo federal para entender que caminhos a gente pode seguir”, declarou o governador Wilson Lima, ao protocolar a ação judicial. O documento apresenta 35 páginas e destaca uma série de argumentos para demonstrar que a competitividade e os diferenciais da ZFM estão amplamente amparados na Constituição Federal (CF). No mérito, a ADI solicita que a Corte Suprema declare a inconstitucionalidade parcial do Decreto n,º 11.046, de 14.04.2022, vedando sua aplicação a quaisquer produtos fabricados na ZFM que tiverem projetos aprovados no Conselho de Administração da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). As mobilizações começaram a dar resultado e, em 6 de maio, o ministro do STF 50

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Wilson Lima, governador do Amazonas. Alexandre de Moraes suspendeu os efeitos do decreto de redução das alíquotas do IPI no que diz respeito aos produtos produzidos na ZFM. A Ação Direta de Inconstitucionalidade foi protocolada pelo partido Solidariedade no dia 2 de maio, em nome da bancada do Amazonas no Congresso Nacional. Na decisão, Moraes explica que a suspensão dos efeitos do Decreto n.º 11.052, de 28/04/2022, e dos Decretos n.º 11.047, de 14/04/2022, e n.º 11.055, de 28/04/2022, aplicam-se apenas “no que se refere à redução das alíquotas em relação aos produtos produzidos pelas indústrias da ZFM que possuem o Processo Produtivo Básico”.

DIVERGÊNCIAS À PARTE Ignorando as divergências, o diplomata, ex-prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio Neto (PSDB) convidou o governador do Amazonas para lutarem, juntos, pela proteção da Zona Franca. Para o “tucano”, que admite ter diferenças políticas com Wilson Lima, o momento é de união, com o objetivo de garantir a comida na mesa da população. “Temos nossas diferenças, mas é hora de nos unirmos em favor dos interesses

do Amazonas. O importante mesmo é termos comida na mesa dos amazonenses, é termos empregos, termos a Zona Franca funcionando a todo vapor e sendo reformada com recursos federais, para que a gente possa criar um polo sólido e que, um dia, nem precise de incentivo fiscal nenhum”, defendeu Arthur Virgílio. O ex-prefeito afirma que é possível evitar mais prejuízos para a região, se todos se unirem por ela. Para Arthur Virgílio, as sucessivas reedições do decreto que desonera o IPI são um duro golpe aos produtos de linha branca do PIM. Virgílio é autor e coautor de duas Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no STF e duas Ações Populares na Justiça Federal. “O momento pede a união de todos, indistintamente, em defesa da única matriz econômica que garante a floresta, os empregos amazonenses e sustenta, enfim, a vida de todos nós. A Zona Franca precisa ser defendida e sustentada”, reafirmou.

CONDUTA VEDADA

Apoio estadual

Mostrando-se solícitos quando o assunto é a Zona Franca de Manaus,

membros da bancada amazonense no Congresso Nacional se uniram para alinhar uma poderosa jogada, considerada a mais correta, para tentar revogar a redução do IPI. O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PSD), protocolou, em 15 de abril, uma ação na Procuradoria Eleitoral do Ministério Público contra Bolsonaro, por prática de conduta vedada. Segundo o parlamentar, o chefe do Executivo concede benefício em ano eleitoral sem contrapartida, violando o Artigo 73, § 10º, da Lei n.º 9.504/1997, também chamada Lei Eleitoral. Em artigo à REVISTA CENARIUM, o deputado chama a atenção do decreto publicado pelo presidente e afirma que a medida mata empregos e a economia do Amazonas, mas não reduz preços. De acordo com Ramos, o IPCA, índice oficial de inflação do governo, mostra que bens como geladeira, máquina de lavar, fogão e carros continuaram subindo de preço entre fevereiro e abril deste ano, pressionando a inflação. *Informações atualizadas até o fechamento desta edição, em 1º de maio de 2022.

Ordem pelo Amazonas A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), presidida pelo amazonense Beto Simonetti, também se engajou na luta por manter a competitividade da Zona Franca perante as indústrias instaladas em outros Estados. O presidente nacional da OAB solicitou que a Comissão de Estudos Constitucionais da entidade realize estudo para saber qual é o melhor instrumento jurídico para contestar o decreto de Bolsonaro. Simonetti busca a análise, principalmente, na tentativa de salvar empregos na ZFM e evitar um agravo na crise econômica da região, já afetada pela pandemia da Covid-19. Além disso, para o presidente da OAB, o decreto de Bolsonaro ofende a Constituição. O estudo, solicitado por Simonetti, foi aplaudido por lideranças da Ordem, como o ex-presidente da OAB do Amazonas, Marco Aurélio Choy, e a vice-presidente da Comissão de Direito Eleitoral e Direitos Humanos da OAB-AM, Amanda Praia. A expectativa é que a medida ajude a revogar o decreto.

Entre os deputados estaduais, a decisão de ingressar a ADI também ganhou força. Em declaração à imprensa, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) deputado Roberto Cidade (União Brasil) declarou apoio ao governador Wilson Lima e afirmou que o novo decreto de redução do IPI, sem excepcionalizar a ZFM, está em desacordo com o que foi alinhado junto ao governo federal. “A publicação do novo decreto sem deixar a ZFM à exceção da redução está em desacordo ao que as lideranças políticas e empresariais do Amazonas alinharam com o governo federal. Estou consultando a procuradoria da Assembleia Legislativa para vermos de que forma podemos nos posicionar legalmente sobre o assunto. Pessoalmente, apoio a decisão do governador Wilson Lima em ingressar com uma Adin. É de suma importância que mantenhamos a competitividade do Modelo Zona Franca. Estamos todos unidos nessa luta”, declarou o parlamentar.

Forças políticas do Amazonas têm buscado medidas para reagir a decretos federais que prejudicam o modelo Zona Franca de Manaus Crédito: Divulgação Assessoria

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ECONOMIA & SOCIEDADE

REVISTA CENARIUM

CENARIUM em novo layout

Para acompanharmos este crescimento e ajudar nosso parceiro a atingir, cada vez mais, novos leitores, iniciamos um estudo de um novo layout para o site, de modo a melhorarmos o desempenho e a experiência do usuário” Camilo Alencar, diretor da Click Multiplataforma.

Revista eletrônica reformula apresentação das notícias online com o intuito de melhorar a experiência dos leitores Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

preciso mudar para melhorar a experiência do usuário, que cresce de forma vertiginosa. “Para acompanharmos este crescimento e ajudar nosso parceiro a atingir, cada vez mais, novos leitores, iniciamos um estudo de um novo layout para o site, de modo a melhorarmos o desempenho e a experiência do usuário ao acessar o site da REVISTA CENARIUM”, pontua.

O desenvolvedor e diretor da Click Multiplataforma, Vitor Calderaro, explica que o site anterior “já era muito bom”, mas o propósito é sempre buscar e oferecer melhorias. “Monitoramos a experiência de uso e vimos alguns pontos para melhoria, como tamanho de fonte, cores e posicionamento dos blocos de matérias na home, e a programação bem estruturada, para que o site seja mais veloz e seguro”, disse ele.

No dia 15 de abril de 2020, a REVISTA CENARIUM estreou nas plataformas digitais e, desde então, tem se tornado referência em Jornalismo na Amazônia. Multiplataforma, os meios de comunicação — podcast, TV Web e digital, e revista impressa — também estão integrados ao site.

Algumas novas funcionalidades também podem ser encontradas, como a equipe, com as respectivas identificações de todos os colaboradores da REVISTA CENARIUM, assim como um espaço reservado ao leitor, que poderá usufruir de um canal específico de comunicação. Ainda será possível ouvir todos os episódios do podcast “Cenarium Diversidade”. Também diretor da empresa desenvolvedora, Camilo Alencar acrescenta que foi 52

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CENARIUM MULTIPLATAFORMA

A CEO da empresa, Paula Litaiff, comemora as conquistas e lembra que o novo layout celebra um novo ciclo, mas sem deixar de lado a essência. “Há dois anos, temos a missão de falar sobre os mais variados temas da Amazônia. Nossas reportagens sobre diversidade, meio ambiente, política, economia, sociedade, turismo e cultura são pautadas na ética e na seriedade e, apesar de ser um novo layout, isso não vai mudar. Agradeço aos nossos seguidores, leitores e espectadores por acreditarem na REVISTA CENARIUM”, finaliza.

Crédito: Thiago Alencar

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ANAUS (AM) – A REVISTA CENARIUM completou dois anos de atividades, no dia 15 de abril, e, para comemorar este novo ciclo, lançou o novo layout da revista eletrônica, com um design de interface mais moderno e acessível. A nova proposta visa a melhorar a experiência dos leitores que acessam o site, assim como também facilitar o trabalho dos gestores que entregam, diariamente, reportagens sobre a Amazônia.

Novo layout de apresentação das reportagens na REVISTA CENARIUM na internet 53


REVISTA CENARIUM

O ‘senhor do Rio Negro’ e a cheia no Amazonas

Crédito: Ricardo Oliveira

ECONOMIA & SOCIEDADE

Após comparar os modelos de precipitação climática brasileiro, americano e europeu, Deydila Bonfim destacou que as bacias da Amazônia estão sendo afetadas pelo fenômeno La Niña, que consiste na diminuição da temperatura ou resfriamento da superfície das águas do Oceano Pacífico, provocando chuvas acima da média.

O TRIMESTRE

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

“Em 118 anos, as maiores cheias ocorreram 94 vezes no mês seis [junho]. Dezoito vezes, a máxima de enchente ocorreu em julho e somente seis vezes ocorreu em maio. A medição começou aqui no Porto de Manaus, em 15 de setembro de 1902, já em época de vazante”, comentou Valderino. Para o medidor experiente, não há como saber qual o mês exato em que o rio pode parar de subir ou não, porque existem essas variações. Valderino declara também que ninguém pode dizer o que vai acontecer com as águas, pois a natureza é imprevisível. “Em 2012, por exemplo, quando teve a segunda maior enchente, o Rio Negro parou de subir no dia 29 de maio. No ano passado, que foi a maior, parou no dia 16 de junho. Ou seja, as variações são muitas. Você não chega aqui e diz que o rio vai parar só em maio, mas há previsões, probabilidades”, reforçou.

O engenheiro civil Valderino Pereira da Silva, de 73 anos, é conhecido por medir o nível das águas do Rio Negro, em Manaus

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Valderino acompanhou de perto, em 2021, a maior enchente do Rio Negro, quando a marca da água atingiu 30,02 metros acima do nível do mar. O nível é o mais alto desde que a medição da série histórica começou, em 1902. Ao todo, além de Manaus, quase todos os outros 61 municípios do Amazonas costumam 54

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registrar inundações e estragos, segundo a Defesa Civil estadual. Somente no ano passado, foram mais de meio milhão de pessoas atingidas pela cheia. Em 2022, os níveis das águas do Amazonas estão perto de atingirem o ápice e atingirem em junho, como no ano passado, um número surpreendente de pessoas afetadas. O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), que tem o trabalho de Valderino como referência, divulgou no dia 29 de abril, o segundo Alerta de Cheia, que estima que o nível do Rio Negro deve chegar a 29,80 metros, neste ano. O cenário atual, contudo, é melhor que o anterior, mas a estimativa do Estado é que cerca de 385 mil pessoas sofram alguma consequência com a subida das águas. A previsão da Defesa Civil do Estado é que até 45 cidades tenham prejuízos

com a enchente ocasionada pelo período chuvoso, que atinge o Amazonas desde os primeiros meses do ano. Ainda em relação às chuvas, a mestre em Meteorologia e analista de Ciências e Tecnologia no Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) Deydila Bonfim afirma que parte das bacias amazônicas vão enfrentar precipitação acima do normal ainda neste trimestre de maio, junho e julho de 2022. Segundo destacou a especialista, durante a divulgação do segundo Alerta de Cheia do Amazonas, o prognóstico de chuvas fora da normalidade é para as bacias dos rios Negro e Branco, o curso principal do Rio Solimões e seus afluentes da margem esquerda, como os rios Içá e Japurá, além da margem direita, a exemplo de Tefé e Coari.

Crédito: Ricardo Oliveira

O trimestre de maio, junho e julho é o período que os níveis da enchente atingem os maiores patamares e onde se encontram as variações que registram quando a água para de subir. O engenheiro Valderino, que, além de medir a cota do Rio Negro, crava milimetricamente na memória datas e números das enchentes, explica que a prevalência em registrar a cota máxima cabe ao mês de junho.

Cheia do Rio Negro, neste ano, não deve superar a de 2021, mas já apresenta níveis elevados

ANAUS (AM) – O engenheiro civil Valderino Pereira da Silva, de 73 anos, hoje aposentado, é o homem engenhoso que, mesmo com problemas na vista e andar cuidadoso, é considerado o “cara” da medição, há quase 35 anos, do nível do majestoso e imponente Rio Negro, que banha Manaus. A missão é primordial para a previsão de enchentes na capital do Amazonas, que tem enfrentado eventos climáticos extremos, nos últimos anos.

Valderino, no Porto de Manaus, na área da régua que mede a elevação do nível das águas do Rio Negro

Você não chega aqui e diz que o rio vai parar só em maio, mas há previsões, probabilidades”

Valderino Pereira da Silva, engenheiro civil aposentado.

O senhor do Rio Negro Seja como o “Senhor do Rio Negro”, o “Homem do Rio” ou o “Príncipe dos Rios”, títulos que ganhou dos colegas, Valderino Pereira da Silva é referência e amplamente conhecido no Porto de Manaus. O trabalho detalhista dele começou, oficialmente, após a aposentadoria de um ex-servidor, o José Cavalcante Paiva, responsável direto, também, por fazer as medições diárias do rio, em meados da década de 1970. O engenheiro civil, formado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), contudo, atua no Porto de Manaus há, pelo menos, 53 anos. Sua trajetória na região teve início na labuta pesada de serviços gerais. Ele recolhia lixo, fazia faxina, ajudava outros trabalhadores que precisavam de uma mão amiga, mas sempre foi apaixonado mesmo pela medição

do rio, momento em que podia desfrutar da paisagem e observar a natureza amazônica. “Eu tenho 53 anos de porto. Formei em Edificações, pela antiga Escola Técnica Federal do Amazonas (Etfam), na década de 1970, e depois eu vim estagiar aqui no Porto, quando fui começar a saber tirar a cota. Quando o Paiva estava de férias, era eu quem fazia a leitura. Quando o Paiva se aposentou, eu fiquei como o responsável, e sou até hoje”, frisou o medidor Valderino. É nesse convívio diário com a medição que Valderino notou algumas peculiaridades. Uma delas diz respeito à mudança de comportamento do rio na região de Tabatinga, no Alto Solimões, que reflete em Manaus. Ou seja, se registrado algum evento climático nas águas da cidade

de Tabatinga, o Rio Negro também pode sentir no período aproximado de três semanas. Casado, pai de três filhos, Valderino conta que o pai dele também trabalhou no Porto de Manaus, motivo que o levava a estar, frequentemente, naquela região. O engenheiro civil conta, com orgulho, que, quando o Rio Negro está em época de cheia ou vazante, equipes de jornalistas ou pesquisadores do Brasil todo o procuram para entrevistas ou para colher informações. “Falo, com muito orgulho, pois é gratificante. Hoje, sou aposentado, mas venho até o Porto, com muito prazer. Fazer a medição nunca fez parte das minhas obrigações, mas sempre fiz questão de estar à frente dessa atividade”, finalizou. 55


ECONOMIA & SOCIEDADE

REVISTA CENARIUM Crédito: Ricardo Oliveira

Empresas na ‘corda bamba’

Empresários no AM veem como ‘preocupante’ cenário econômico no primeiro semestre de 2022 Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

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ANAUS (AM) – Um estudo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas (Fecomércio-AM), por meio do Instituto Fecomércio de Pesquisas Empresariais do Amazonas (IFPE-AM), publicado no início deste ano, mostrou que 34% dos empresários com empreendimentos no Estado veem como “preocupante” o cenário econômico no primeiro semestre de 2022, por conta dos impactos das variantes da Covid-19 e da Influenza no Comércio de Bens, Serviços e Turismo. O levantamento foi realizado pelo instituto, no período de 10 a 14 de janeiro deste ano, e serve para ajudar as empresas do comércio varejista na tomada de decisões, investimentos e planejamentos de compras. Ao todo, foram ouvidas as dificuldades e expectativas de 52 empreendimentos. Segundo o presidente da Fecomércio-AM, Aderson Frota, a pesquisa busca ainda identificar as preocupações dos empresários nos agravamentos dos casos da pandemia. “Buscamos entender o momento e identificar as necessidades dos empresários do segmento. Aproveitamos a oportunidade para reiterar a importância da adesão de todas as medidas protetivas adotadas na primeira e na segunda onda da pandemia”, disse.

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PESQUISA O levantamento foi dividido em quatro tópicos: Expectativas em relação ao cenário econômico no primeiro semestre de 2022; Medidas necessárias para a retomada da economia; Impacto da Covid-19/Influenza na empresa; e Avaliação em relação às medidas adotadas pelo Governo do Estado do Amazonas após o aumento dos casos de Covid-19 (variante Ômicron) e de Influenza (variante H3N2). Quanto às expectativas, além dos 34% dos empresários que classificaram como “cenário preocupante” a economia para os próximos meses, 33% esperam um “cenário desafiador”, e 33% um “cenário positivo, com o aumento nas vendas”. Em relação às medidas necessárias para a retomada da economia, a pesquisa mostrou que a maioria dos empresários (60%) entendem que são necessárias ações voltadas para a concessão de “linhas de crédito com juros baixos e menos burocracia”, outros 36% optam pela “redução nos custos dos fretes” e 4% pela “flexibilização das leis trabalhistas”. Ao responderem sobre a Covid-19 ou Influenza na empresa, 60% dos entrevistados disseram que o “afastamento do colaborador” traz mais impactos nos estabelecimentos e 40% responderam que

Comerciantes do Amazonas sentem os impactos dos surtos de Covid-19 e da Influenza

a infecção pelo vírus resulta na “diminuição nas vendas”. Sobre a avaliação dos empresários participantes da pesquisa em relação às medidas adotadas pelo Governo do Amazonas após o aumento do número de casos da Covid-19 e da Influenza, 38% responderam que as ações estão sendo “prudentes e necessárias”; 37% “concordam plenamente” e 25% “concordam parcialmente”.

33%

Segundo pesquisa da Fecomércio, 33% dos empresários ouvidos esperam um “cenário desafiador”, nos primeiros seis meses de 2022, e 33% um “cenário positivo, com o aumento nas vendas”.

60%

Em relação às medidas necessárias para a retomada da economia, a pesquisa mostrou que a maioria dos empresários, 60%, entendem que são necessárias ações voltadas à concessão de “linhas de crédito, com juros baixos e menos burocracia”.

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POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS

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Durante seis anos, estamos sofrendo, as autoridades brasileiras não tomaram providências. Principalmente o governo federal, o Governo Bolsonaro não retirou os garimpeiros da Terra Yanomami”

Yanomami: um povo em agonia Em relatório, associação Yanomami revela abusos sexuais contra indígenas, fornecimento de internet a garimpeiros e atuação de facção criminosa de SP Gabriel Abreu e Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

As mulheres Yanomami têm sido vítimas de violência sexual cometida por garimpeiros invasores e se contaminado com Doenças Sexualmente Transmissíveis Crédito: Ricardo Oliveira

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ANAUS (AM) – Um relatório intitulado “Yanomami sob ataque – Garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo”, elaborado e divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), mostra o avanço da atividade garimpeira na maior Terra Indígena do Brasil, localizada entre os Estados de Roraima e Amazonas. O documento, de mais de 100 páginas, aponta detalhes de como o garimpo ilegal está destruindo o patrimônio dos povos tradicionais. O estudo, publicado em 11 de abril deste ano, mostra um crescimento de quase 50% no garimpo ilegal e como os garimpeiros se aproveitam da situação para seduzir mulheres indígenas que trocam sexo por alimentos. O texto cita, ainda, o fornecimento de pacotes de internet nas áreas invadidas. Empresas de telefonia enviam funcionários para realizar a instalação nos acampamentos. De acordo com o vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, é um relatório preocupante e triste. “Durante seis anos, estamos sofrendo. As autoridades brasileiras não tomaram providências. Principalmente o governo federal, o Governo Bolsonaro não reti-

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Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

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rou os garimpeiros da Terra Yanomami”, afirmou o vice-presidente da Hutukara. Além da terra devastada pela ação do garimpo ilegal, segundo os pesquisadores, há diversas denúncias de estupro de mulheres e até de crianças indígenas. Em um dos casos, houve uma espécie de casamento arranjado entre uma adolescente Yanomami e um garimpeiro, mediante a promessa de um pagamento de mercadoria. Para o professor de Epidemiologia em Saúde Pública, da Fiocruz, Paulo Basta, esse modo de aliciamento das mulheres, em troca de alimentos, mostra-se uma estratégia altamente perversa. “Porque os garimpeiros se aproveitam de uma condição de vulnerabilidade social e ambiental, provocada pela própria presença deles, e usam dessa condição para fazer esse aliciamento. Essas mulheres são embriagadas, ludibriadas e enganadas. Muitas vezes, os garimpeiros transmitem Doenças Sexualmente Transmissíveis. Os casos de sífilis, nesses territórios tradicionais, têm aumentado. Sífilis gestacional, congênita, são graves impactos provocados pela presença de invasores nos territórios tradicionais”, afirmou Basta.

Assassinatos Dois Yanomamis foram executados e cinco ficaram feridos em um tiroteio no início da tarde de 11 abril deste ano, durante conflito com garimpeiros e indígenas da Comunidade Tirei. A informação foi confirmada pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yekuana, Júnior Yanomami, que estava em Brasília, participando do Acampamento Terra Livre, para a reportagem da REVISTA CENARIUM. Em outro grave caso de violência, uma adolescente indígena de 12 anos foi morta, após ser violentada sexualmente por garimpeiros na Comunidade de Palimiú, em Roraima, segundo denunciou, no dia 25 de abril, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami. Em uma publicação nas redes sociais, o líder indígena reportou ainda que uma criança de 4 anos, que viajava com a jovem de barco, caiu no rio da região e está desaparecida.

O garimpo ainda impacta os povos com a disseminação da malária e com a contaminação pelo metilmercúrio, subproduto da atividade, que sobrecarrega o sistema de saúde. “Existe a poluição do nosso rio, destruição das nossas casas, aumento do garimpo ilegal, muita violência, e abuso sexual, e também muita bebida alcoólica, no terreno Yanomami. E também muito crescimento de arma de fogo na terra Yanomami”, disse Dário Kopenawa.

INTERNET EM ÁREAS INVADIDAS De acordo com os pesquisadores indígenas, os garimpeiros contam com diversos

Desassistência Sanitária Outro grave problema enfrentado pelos indígenas é a falta de medicamentos e postos de saúde dentro da reserva para a prestação de serviços aos doentes. Os casos de malária na região explodiram, de 2019 para 2020. A malária cresceu 247% e as famílias envolvidas nesse sistema são tragadas pela penúria, fato que fica evidente pelo agravamento da desnutrição infantil. Atualmente, 63% das crianças menores de cinco anos da região estão com déficit nutricional. Em 2021, as mortes passaram a ocorrer também em função da desassistência sanitária, uma vez que o polo-base do Arathau foi sendo paulatinamente abandonado pelo Distrito Sanitário Especial

pontos de antenas de internet para saber sobre operações dos órgãos ambientais. O relatório mostra acampamentos próximo à Comunidade Uraricoera que contam com antenas de internet, via rádio ou satélite. O serviço é oferecido livremente nas redes sociais e é comercializado por empresas de Boa Vista que chegam, inclusive, a oferecer seus funcionários para realizar a instalação da rede nos acampamentos.

Yanomami e Ye’kuana (DSEI-YY). Em 2020, foram realizados 11.277 atendimentos de saúde, neste polo, e, em 2021, o número caiu para 8.541. Como consequência, diversos pacientes com doenças passíveis de tratamento tiveram o seu quadro agravado e alguns chegaram a óbito, aponta o relatório. Este é o caso de um xamã, de 50 anos, que morreu na Comunidade Macuxi Yano, em outubro, por não conseguir atendimento médico. E também a situação de duas crianças da casa Xaruna, que morreram de malária em outubro, e de uma terceira criança da mesma comunidade vítima de malária e pneumonia, em novembro.

Os moradores da calha do Rio Uraricoera relataram, desde o final de 2020, um tráfego intenso de aeronaves e helicópteros em direção à fronteira com a Venezuela. É muito comum avistar o modelo Robinson 35 transitando pelo céu da TIY. Mas, no Uraricoera, os indígenas afirmam ver, frequentemente, modelos maiores de helicópteros a serviço do garimpo, “iguais aos do Exército, 36”.

Crédito: Bruno Kelly Hay

AMEAÇA DO GARIMPO

O garimpo ilegal nas terras Yanomami provoca a devastação da floresta amazônica

Essas mulheres são embriagadas, ludibriadas e enganadas. Muitas vezes, os garimpeiros transmitem doenças sexualmente transmissíveis” Paulo Basta, professor em Epidemiologia em Saúde Pública, da Fiocruz. 59


POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS

REVISTA CENARIUM

AMEAÇA DO GARIMPO

Narcogarimpo alicia jovens

Relatório da Hutukara mostra a presença de organizações criminosas que abordam jovens, armam indígenas e ganham espaço no território Yanomami Gabriel Abreu e Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

armas na posse de jovens indígenas”, relata um trecho do texto.

FACÇÕES CRIMINOSAS Outro ponto que merece destaque são os indícios de aproximação do crime organizado de áreas afetadas pelo garimpo ilegal. Em um dos incidentes mais aterrorizantes de 2021, a série de ataques às comunidades do Palimiú, o envolvimento de agentes do Primeiro Comando da Capital (PCC) na exploração ilegal de ouro foi explicitado, pela primeira vez, no contexto Yanomami. A aproximação entre o tráfico de drogas e o garimpo na Amazônia, contudo, não se restringe a Roraima. Em diversas outras regiões, como

Pará e Mato Grosso, aquilo que alguns têm chamado de “narcogarimpo 13” tem sido o comportamento padrão.

AFLUENTES E PISTAS O relatório destaca ainda a situação do Rio Mucajaí (afluente do Rio Branco). De acordo com o constatado no documento, as águas do Mucajaí se tornaram um dos destinos preferidos dos garimpeiros, desde 2010, período de crise e aumento do ouro no mercado internacional. “O Rio Mucajaí tem sido alvo de sucessivas ondas de invasão garimpeira, nas últimas décadas, com picos e vales de intensidade (…) ele foi um dos destinos preferenciais dos garimpeiros na TIY, jus-

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Os jovens, entusiasmados com a possibilidade de terem acesso a um número maior de mercadorias e ignorantes dos impactos da atividade, acabam cedendo ao assédio dos garimpeiros” Hutukara Associação Yanomami, em relatório divulgado em abril deste ano.

tamente por se tratar de uma zona que demandava uma logística menos complexa”, afirma o relatório, destacando a abertura de novas pistas aéreas dentro e fora da área indígena.

ANAUS (AM) – Uma denúncia recebida pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) descreve o processo de aliciamento de jovens indígenas nas cidades de Boa Vista e Mucajaí. Segundo o documento, os aliciadores abordam os indígenas nos locais onde buscam por atendimento de saúde, serviços bancários ou lugares que vendem ferramentas agrícolas, roupas, material de higiene, entre outros objetos.

A diminuição da fiscalização na região e o uso de pistas que, anteriormente, eram exclusivas para o Distrito Sanitário também foram ocupadas pela logística dos exploradores, como, por exemplo, a pista do Kayanau, na confluência do Rio Couto de Magalhães com o Mucajaí, afirma o relatório, revelando que, atualmente, há, pelo menos, 12 pistas mapeadas nas Terras Indígenas a serviço do garimpo, sem considerar as pistas do Homoxi e do Apiaú.

Os jovens, entusiasmados com a possibilidade de terem acesso a um número maior de mercadorias e ignorantes dos impactos da atividade, acabam cedendo ao assédio dos garimpeiros e facilitam a aproximação do grupo nas comunidades, sem que os demais Yanomami estejam de acordo ou mesmo tenham ciência desse arranjo”, diz trecho do relatório.

“Em um vídeo de WhatsApp compartilhado por moradores da região, um garimpeiro, cercado de jovens Yanomamis armados, envia um recado para o seu chefe, “Val”, dizendo que já acertou com os “índios” a divisão da zona de exploração entre dois donos diferentes (“negão” e “madeira”). Duas coisas chamam atenção no vídeo: a primeira é o modelo territorialista do garimpo, assim como descrito no Uraricoera, e a segunda é a quantidade de

“Esse esquema alimentou a destruição de mais de 200 hectares de floresta, em 2021, estando a maior parte concentrada no polo-base Kayanau, onde registram-se alguns dos relatos mais comoventes dos impactos do garimpo no território Yanomami. Ali, a enorme pressão que o garimpo imprime sobre as comunidades tem deixado um terrível rastro de fome, morte e exploração sexual de mulheres indígenas” ressalta.

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Garimpeiros ilegais estão ocupando, cada vez mais, espaço nas terras dos Yanomami

Crédito: Bruno Kelly Hay

Os jovens que fazem esta intermediação são, frequentemente, presenteados com armas e, assim, passam a defender os interesses dos invasores contra o restante da comunidade que se opõe à atividade.

Além das pistas mapeadas, foram identificadas, segundo o documento, outras quarenta, mas é possível que este número seja maior. Investigações da Polícia Federal apontam inclusive que, nas fazendas do entorno, mais do que pistas, havia, ainda, um tanque de armazenamento de combustível em um terreno limítrofe à Floresta Nacional de Roraima, mantido por grupos de garimpeiros.

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Crédito: Marcos Colón | Amazônia Latitude

POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS

sabemos o que pode ser feito”, declarou antes da apreensão. De acordo com o sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA) e ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Santilli, a política mineral brasileira passa por um momento grave e afirma a importância na discussão das implicações que a atividade de mineração traz. “Nos últimos três anos, tivemos um aumento de mais de 100% na extensão desse tipo de predação mineral, especialmente na Região Amazônica. É o momento de se discutir profundamente o custo socioambiental para a população”, considera.

A respeito das atividades extrativistas, Márcio acredita que o garimpo, com as tecnologias atuais, é prejudicial tanto para as comunidades indígenas e ribeirinhas, quanto para quem mora nas metrópoles. “Quando se trata de terras indígenas, temos um impacto direto sobre esses povos, na cultura e no modo de viver. Mas, em todos os casos, temos impactos muito graves nos rios e nos cursos d’água, que acabam erodidos e contaminados por mercúrio, de modo que isso acaba comprometendo não só os povos indígenas como as comunidades ribeirinhas que vivem às margens dos rios da Amazônia”, avalia.

Em abril, a Polícia Federal apreendeu balsas de garimpo em terras indígenas, no Pará

Ataque aos Xipaia Invasão de garimpeiros avança por terras indígenas Ivina Garcia – Da Revista Cenarium

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MANAUS (AM) - A invasão de terras indígenas por parte dos garimpeiros se tornou uma rotina de terror para os povos aldeados. Desde o início de 2022, a Polícia Federal (PF), com apoio de órgãos de conservação, vem atuando para impedir a extração ilegal de minérios e a destruição do bioma da Amazônia pelos dejetos expelidos em áreas de conservação. Ainda no mês de abril, pelo menos duas operações sob o comando da Polícia Federal foram realizadas em terras indígenas após denúncia da chegada de garimpeiros com balsas e dragas em regiões de aldeias.

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Cacica Juma Xipaia denunciou invasão de garimpeiros nas terras de seu povo

No dia 16 de abril, após dois dias da denúncia feita pela cacica Juma Xipaia, a polícia conseguiu localizar uma balsa de garimpo próximo à aldeia Kaarimã, em Altamira (PA), a 455 quilômetros de distância de Belém. A denúncia de invasão ilegal feita por indígenas Xipaia ganhou repercussão nas mídias digitais, onde eles relataram o pedido que fizeram ao grupo de garimpeiros para que se retirassem do território e foram recebidos de forma hostil e ameaçados dentro de seu próprio território. Após o alerta, os órgãos de proteção ambiental

realizaram buscas, desde a tarde do dia 15 de abril, nas reservas extrativistas Riozinho do Anfrísio e do Rio Iriri, para localizar a máquina de extração ilegal. A operação mobilizou duas aeronaves para o transporte de sete pessoas que foram encontradas nas balsas usadas para atividades garimpeiras e levadas até a Polícia Federal. De acordo com a publicação oficial do Ministério da Justiça, cinco adultos foram levados para a delegacia da PF, localizada na cidade de Itaituba (sudoeste do Pará), mas foram liberados após prestarem depoimentos, pois o prazo da prisão em

flagrante, que é de 24 horas, já havia vencido. Outros dois menores foram apreendidos e estão sob os cuidados da Justiça.

PEDIDO DE SOCORRO A cacica Juma Xipaia publicou vídeos, nas redes sociais, alertando sobre a chegada das balsas e da invasão ao lado da aldeia Kaarimã, em Altamira, no Pará. “Nos ajudem, esse vídeo é um pedido de socorro! A gente pede apoio dos órgãos competentes, os guerreiros das outras aldeias já pediram para eles saírem, mas eles estão com maquinário pesado, não

Crédito: Reprodução PF

“Garimpeiros predatórios” Segundo Márcio, apesar de não existirem informações sobre o grupo que tentava atuar no local, o tipo de draga encontrada pelos indígenas e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é de grande porte e pode ter sido financiada por grupos maiores que estão atuando na Região Amazônica, nos últimos anos. “A gente está falando de dragas com alto poder de detonação. Estamos falando de balsas gigantescas e de apoio logístico via aérea, como ocorre em território Yanomami. É importante notar que as operações realizadas pela Polícia Federal, recentemente, têm identificado claras conexões entre esses empreendimentos garimpeiros predatórios e o crime organizado”, conclui.

Nos últimos três anos, tivemos um aumento de mais de 100% na extensão desse tipo de predação mineral, especialmente na Região Amazônica” Márcio Santilli, sócio-fundador do ISA e ex-presidente da Funai.

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Crédito: Thiago De Mello

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Crédito: Grego Kellari

ENTRETENIMENTO & CULTURA

Biblioteca Moronguetá & Porantim

aprovação, com quase 10 anos no processo. O estadual é aqui e agora”, acrescenta a produtora.

COMPROMISSO DO GOVERNO DO ESTADO Isabella agradeceu o empenho do governador Wilson Lima e do secretário de Cultura Marcos Apollo Muniz em tornar a memória do poeta da floresta real, por meio dos tombamentos. A roteirista explica que o tombamento estadual ocorrerá a partir de um projeto de lei que está sendo escrito pelo deputado Tony Medeiros (PSD), com assessoria jurídica do Instituto Thiago de Mello. “O Projeto de Lei do Tombamento será apresentado pelo deputado Tony Medeiros. Quem está elaborando o texto e fazendo a assessoria jurídica é o Instituto Thiago de Mello, onde eu assino o Departamento de Projetos Especiais junto com o advogado Neilo Batista. Estamos certos que teremos a aprovação da Casa Legislativa com larga maioria. O deputado Tony acredita na unanimidade”, disse Isabella. “A partir do tombamento, vem o diagnóstico, depois o restauro e, por fim, é visto o destino das casas”, completa.

Isabella Thiago de Mello conta que prometeu ao pai que só sairia de Manaus depois do tombamento estadual de suas casas, em Barreirinha, interior do AM

Casas de poesia

Filha de Thiago de Mello prepara documentário sobre bastidores do tombamento de casas do poeta, no AM Malu Dacio – Da Revista Cenarium

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ANAUS (AM) – Isabella Thiago de Mello, roteirista, cineasta e filha do poeta amazonense Thiago de Mello, está produzindo um documentário que conta a história dos dois processos de tombamento – federal e estadual – de imóveis do artista no município de Barreirinha, interior do Amazonas. Cinco casas do poeta estão em processo de tombamento, quatro dessas pertencem ao Estado e à Prefeitura de Barreirinha e uma pertence à família.

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Isabella já iniciou a primeira etapa das filmagens, no mês de fevereiro deste ano, em parceria com o cinegrafista Grego Kellari, na cidade de Barreirinha, onde estão construídas as únicas obras do arquiteto Lúcio Costa na Amazônia. Isabella conta que, em 2013, soube por meio dos moradores de Barreirinha que a casa do poeta na cidade corria risco de demolição. “Moradores da cidade de Barreirinha avisaram que a casa do poeta, localizada na rua em frente ao Rio Paraná

do Ramos ia entrar no ‘bota-abaixo’ da antiga gestão da prefeitura para fazer a obra de ampliação do porto da cidade”, disse Isabella. Isabella estava em Manaus fazendo pesquisa para um outro documentário sobre ‘As Antigas Civilizações Amazônicas de Tuinho Schwartz’ e fez um texto para a imprensa denunciando o aviso de demolição das casas. Com a notícia do risco de demolição, a produtora fez um texto e reuniu fotos para denunciar o fato.

Após isso, enviou para jornais dos Estados do Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com Isabella, a arquiteta Sheila Campos, Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), leu o jornal e embargou a obra de ampliação do porto, por não haver o Estudo Arqueológico obrigatório e salvaguardou a arquitetura de Lúcio Costa. “Apresentamos registros e documentações sobre a importância cultural e histórica das casas para esse tombamento federal do Iphan. A obra foi embargada, a casa ficou em pé e isso deu um ânimo no papai. Ele parecia um menino de novo”, disse Isabella. “Assim que o papai partiu, em janeiro, eu me despedi dele, beijei sua mão, seu rosto e prometi que só ia sair da terra dos Manaós com o tombamento estadual feito. O tombamento federal do Iphan está iniciado, chegou na última instância para

A casa de Praia do Rio Andirá é a única que faz parte do tombamento (federal e estadual) que é de propriedade particular e que pertence à família do poeta, pois foi a única que o escritor não vendeu para o governo. “A casa que é nossa, com Thiago, meu irmão mais novo à frente, já está totalmente restaurada. Ele teve êxito no projeto de arrecadação de recursos pela internet, o crowdfunding, onde várias pessoas contribuíram para o restauro. Mas, as quatro casas que são patrimônios que o papai vendeu para o governo estão abandonadas”, lembra. Isabella vê o projeto de tombamento com bons olhos, porque, segundo ela, a partir de agora, sob a gestão de Wilson Lima e Marcos Apolo, há plena consciência da importância desse patrimônio e dessas casas para a educação, para a cultura e para o turismo. “Você já imaginou na época do Festival dos Bois de Parintins com turistas que

estão ali, brasileiros e estrangeiros, quando souberem que estão a trinta minutos de lancha de visitar a casa do poeta Thiago de Mello e das únicas obras do arquiteto Lúcio Costa, que é conhecido no mundo inteiro?”, questionou. Isabella Thiago de Mello entrevista o deputado Tony Medeiros e o prefeito de Barreirinha, Glênio Seixas

Crédito: Júnrios Seixa | Sec Bae

Porantim escorado Quando voltaram das filmagens de Barreirinha, Isabella e sua equipe testemunharam que o segundo andar da casa do Porantim estava caindo, porque três vigas principais apodreceram. “Assim que voltei de Barreirinha, em Manaus, a primeira coisa que eu fiz foi avisar ao secretário de Cultura, Marcos Apollo, com as fotos do Relatório Fotográfico Arquitetônico que o Porantim estava caindo e que precisava ser escorado imediatamente, sem esperar tombamento”, lembra. Isabella explica que Porantim é o Remo Sagrado da Nação Sateré-Maué. “Nele está inscrita a história de “Noçoquém”, o Lugar da Felicidade Perdida, o nosso Paraíso. Estão inscritas também as leis dos homens. No livro do antropólogo Nunes Pereira, chamado Moronguetá, ele ensina sobre o Porantim. Papai deu o nome da primeira casa de ‘Porantim do Bom Socorro’”, conta a filha do poeta. “O Porantim vai aguardar o seu restauro de pé, graças ao secretário de Estado de Cultura do Amazonas, Marcos Apolo, e ao prefeito de Barreirinha, Glênio Seixas. Viva o escoramento do Porantim!”, comemorou a produtora. 67


ENTRETENIMENTO & CULTURA

REVISTA CENARIUM

Talento periférico

Filho de pai indígena e criado na periferia de Manaus, Kurt Sutil é um dos maiores talentos do rap e criador de conteúdo Felipe Wanderley – Especial para a Cenarium

“Somos do Norte Prepare pra ver Que o lado esquecido é o mais forte Peço suporte Entidades reinam no meu sangue Tenho hemorragia de estrofe Mano, eu não canto Eu decifro essas vozes” Trecho de “Tupã”, que tem letra e videoclipe com direção criativa de Kurt Sutil.

Ele é uma das minhas maiores apostas da Região Norte no rap contundente, com constância. E ele é muito bom. Ele que faz a mix máster (masterização), faz o vídeo, tem criatividade de sobra. Fico muito feliz que ele esteja sendo notado. Isso é só o princípio” Victor Xamã, rapper e beatmaker amazonense, hoje em SP.

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ANAUS (AM) - Aos 21 anos, o rapper e diretor de vídeo amazonense Kurt Sutil é uma pessoa tranquila, por vezes, de poucas palavras. Apesar disso, o artista, que ainda é pouco conhecido na própria cidade de Manaus, já figura para muitos – dentre eles nomes de peso no rap nacional – como um dos artistas mais talentosos de sua geração.

Nascido em Tapauá, no interior do Estado, e filho de pai indígena do povo Kokama, Kurt traz à tona suas raízes não apenas nos cabelos lisos, rosto moreno e olhos puxados, mas também em músicas e videoclipes repletos de referências à cultura da região, sem deixar de expor feridas e denunciar desigualdades. Não à toa, o artista que, ao contrário do codinome, nada tem de sutil, tem chamado atenção no segmento de rap nacional, com suas letras de “gangsta” e, ao mesmo tempo, seu tom crítico, sem perder o lirismo característico dos bons rimadores. O lançamento mais recente, o videoclipe da música “Ibuprofeno”, foi feito em parceria com o rapper e produtor musical Victor Xamã, que também é amazonense, mas vive em São Paulo, onde tem carreira consolidada, com direito a feats com artistas como Froid e Baco Exu do Blues, e clipes no YouTube com 500 mil visualizações. “O Kurt é moleque de ouro. Para mim, uma das minhas maiores apostas na Região Norte”, diz Xamã, que se interessou pelo trabalho do conterrâneo. “Em 2020, eu estava com um espaço para andar com meus projetos. Eu já curtia bastante o som dele, a estética dele, a impostação de voz, e chamei a gente para fazer um som”, conta.

A primeira parceria, “Ouro no Sol”, já rendeu mais de 100 mil visualizações no YouTube. “Eu tenho plena ciência que ele vai despontar e bater de frente com grandes nomes. Ele e a Nic (Dias, de Belém do Pará) são minhas maiores apostas da Região Norte, de gente que está fazendo um rap que é contundente. E ele é muito bom. É ele quem faz a mix master (ou masterização), ele quem faz o vídeo, ele é um superdiretor, que pensa cinema”, diz Xamã. Com fala tranquila e natural que combina com o apelido, Kurt Sutil contou por telefone para a REVISTA CENARIUM que começou a escutar rap com o irmão. Criado sempre na Zona Leste, disse que já mudou muito de casa, “ora próximo, ora dentro da ‘boca’”, realidade que o inspirou a fazer do rap um instrumento de reflexão sobre a realidade.

Desde criança, eu fazia vídeos, só para mim. Criava história, gravava eles e editava. Eu curto filme, sou muito fã de filme, direção, edição, e carrego e uso isso bastante nos meus clipes” Kurt Sutil, rapper e diretor de vídeo amazonense.

Ao pegar gosto pela coisa, foi logo dando indícios de seu talento. “Desde sempre, a galera elogiou muito. Meus amigos me diziam que eu fazia som melhor do que muita gente que estava ‘estourada’”, conta ele, que, recentemente, lançou o álbum “Não assuste as abelhas”, disponíveis nas principais plataformas de música. O rapper tem lançado videoclipes das faixas presentes no disco, como “Ibuprofeno”, e “Sigo na Sombra” e “Peita da Chronic”, que juntos já somam mais de 20 mil visualizações, somente no YouTube. Agora Kurt Sutil se prepara para lançar um novo projeto: um curta musical, com música, roteiro e direção de sua própria autoria. O lançamento do curta está previsto para o primeiro semestre. “Já está praticamente pronto. Tem história, tem música...”, adianta Kurt, sem dar muitos detalhes sobre o projeto.

Crédito: Divulgação

Palavra de artista

O rapper Kurt Sutil mora na periferia de Manaus e vem ganhando espaço entre os nomes nacionais do rap 69


ARTIGO – ROZENHA

Quer aparecer na

Cenarium? Crédito: Airê Queiroz

A potência Amazônica Rozenha

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s amazonenses foram surpreendidos com medidas que ameaçam a principal fonte de economia do nosso Estado, a Zona Franca de Manaus. Estamos falando de um número por volta de 500 mil empregos diretos e indiretos, nas mais de 600 indústrias situadas em nosso polo. Inicio com essa pauta, não para entrarmos em um viés político, afinal, esse não é o intuito desta coluna. Trouxe este assunto aqui para falarmos um pouco sobre outro viés de nossa economia, aquele que não é enxergado e também nem sempre é valorizado pelo poder público. Nosso potencial para o ecoturismo é indiscutível. São mais de 340 mil turistas que vêm ao Amazonas, anualmente – um número que tem como ser bem maior – em busca de conhecer nossas belezas naturais, nosso povo e nossas raízes. Só a temporada de pesca esportiva, em Barcelos, arrecada cerca de R$ 70 milhões.

A cultura da nossa região é única! O Festival de Parintins é o maior espetáculo folclórico da América Latina e a mão de obra artística de lá é respeitada e disputada no Brasil e fora dele. Saindo do universo bovino, temos o Festival de Cirandas, o Festival Amazonas de Ópera, o Festival Amazonas de Jazz, o Amazonas Film Festival… A flora da nossa região, além de nos presentear com paisagens singulares, nos fornece plantas com alto potencial medicinal e cosmético. Nossos produtos são tão valorizados mundialmente, que em grande parte nem chegam a estampar prateleiras locais, vão direto para o outro lado do oceano. Sabe o famoso Channel nº 5? Leva o nosso Pau-Rosa. O nosso bioma traz oportunidades gigantes de pesquisas nos mais diversos campos: biológicos, geológicos, meteorológicos e por aí vai. Com isso, estou

dizendo que não devemos nos preocupar com a Zona Franca de Manaus? Jamais. Precisamos defendê-la até o nosso último suspiro. Ela é nossa, ela nos faz crescer, ela ajuda a manter a nossa floresta em pé. Mas entende como temos um potencial gigante que pode e deve ser explorado pelo povo amazonense? São novas vias econômicas que respeitam e valorizam a nossa Amazônia, expandindo o nosso leque de atuação. Quando eu falei que criaria uma marca de sapatos, no Amazonas, algumas pessoas duvidaram, afinal, não somos referenciais em moda. Hoje, a Sapatinho de Luxo é um dos maiores players deste segmento. Ainda bem que eu acreditei em nosso potencial, né? (*) Amazônida, pai e sapateiro.

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Ou nós salvamos a Amazônia agora, ou ela nunca mais vai nos salvar. A Amazônia nos salva da falta de biodiversidade, da seca, das mudanças climáticas e até da fome. Duvida? Pois a floresta é a casa de milhões de espécies, protege as nascentes dos rios, ajuda a estabilizar o clima e a irrigar as plantações de alimentos do Centro-Sul. Porém, a Amazônia nunca esteve tão ameaçada. O desmatamento está batendo recordes. O Greenpeace Brasil está lutando para manter a floresta em pé há mais de 20 anos, monitorando o desmatamento, protestando e denunciando crimes ambientais. Somos independentes. Não aceitamos receber recursos de governos, empresas ou partidos políticos. Precisamos de pessoas como você para continuar a nossa luta.

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