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A ignorância e o terrorismo
“Nada no mundo é mais perigoso do que a ignorância sincera e a estupidez conscienciosa”, disse Luther King (1955-1968), ativista político, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, que combateu a segregação racial, nos Estados Unidos, até ser assassinado pelo extremista James Earl Ray, que acreditava ser “patriota” e defendia a própria tese de que Luther King enfraquecia a política e a economia do país ao lutar pelos direitos civis dos negros.
A história mostra que a ignorância pode ser um fio condutor para o extremismo, genitor do terrorismo, termo pouco usado nos livros de História do Brasil e que se tornou uma das palavras mais pesquisadas na internet após os atos do dia 8 de janeiro, em Brasília. Considerados um dos maiores ataques à democracia brasileira desde a redemocratização (1975-1985), os atos foram cometidos por correligionários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que invadiram e saquearam a estrutura dos Três Poderes em busca de um golpe de estado.
Baseada em investigações preliminares da Polícia Federal (PF), do Ministério Público Federal (MPF) e na apuração de sua própria reportagem, a REVISTA CENARIUM busca, nesta edição de janeiro, mostrar aos seus leitores quem pode estar por trás desses atos, principalmente, na maior capital da Amazônia, Manaus (AM), onde Bolsonaro teve 61,28% dos votos no segundo turno contra 38,72% do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Entende-se como antidemocrático/golpista quem incita, publicamente, a ditadura e a animosidade entre as Forças Armadas e os Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo. Juristas explicam que protestos que pedem a intervenção militar atacam a própria Constituição e não estão protegidos pelo direito à liberdade de expressão, mas para o extremista, a ignorância era fator de justificativa. “Era”, porque, agora, está claro que a ignorância pode ser motivo de prisão, e prisão inafiançável.
De volta à história do assassino de Luther King, Earl Ray, que se colocava como “patriota americano”, tinha um histórico de racismo e defendia a “hegemonia ariana”. O extremista deixou a escola aos 15 anos e entrou para o Exército no final da Segunda Guerra Mundial. Ele morreu acreditando que seu crime foi sua maior “prova” de patriotismo aos Estados Unidos.
Digitais antidemocráticas
Quem pagou os ônibus que levaram os bolsonaristas extremistas com motivações golpistas para a invasão aos Três Poderes em Brasília? De quem era o dinheiro que pagou dois meses de picanha dos churrascos nos acampamentos nos quartéis? De onde vieram os recursos para a compra de armas e explosivos de terroristas que planejaram explosões na capital federal? Para além de quem deu a verba, quem são os donos das digitais que estão por trás dos financiadores do terror antidemocrático no Brasil? Essas são perguntas que, urge, precisam ser respondidas com responsabilização, sob pena de se tornar cada vez mais fértil no País o terreno para um regime totalitário.
É sobre essas questões que se debruça a reportagem de capa da REVISTA CENARIUM de janeiro. Esta edição aborda o que se sabe até agora sobre os financiadores das cenas de terror no Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF). Traz ainda análises sobre a quem interessam os atos antidemocráticos, o envolvimento dos destruidores da Amazônia nas ações de terror e quais estratégias podem ser eficazes para “cortar o mal pela raiz”, antes que floresça e dê ainda mais frutos.
Em seu pronunciamento após a invasão aos Três Poderes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou possível participação de “garimpeiros ilegais”, de “madeireiros ilegais”, do “agronegócio maldoso” e já se sabe que parte do financiamento dos atos antidemocráticos saiu de Estados da Amazônia Legal que fazem parte do arco do desmatamento. A Amazônia, mais uma vez, no epicentro do furacão político do País.
E, diante desse caldeirão efervescente, a inquestionável conclusão: o Brasil segue violentamente dividido. De parte a parte, os discursos seguem em tom agressivo. Lula chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PT) de “genocida” e o acusou de estimular atos golpistas. O ex-presidente respondeu dizendo que repudia “as acusações, sem provas”, a ele atribuídas, “por parte do atual chefe do executivo do Brasil”. Os atos antidemocráticos e manifestações pró democracia refletem nas ruas a animosidade entre as lideranças políticas. Unificar e pacificar o Brasil é o desafio mais urgente.
Paula Litaiff Diretora-GeralLeitor&Leitora
�� Conteúdo informativo
Muito bom conteúdo, as matérias são bem precisas e com um conteúdo informativo muito importante e relevante, aprecio bastante o trabalho da REVISTA CENARIUM. Muito sucesso para todos envolvidos que estão desenvolvendo esse grande trabalho.
Devanir Aparecido São Paulo - SP
�� Confiabilidade
Um conteúdo ótimo, de uma fonte confiável de notícias, que mostra que a REVISTA CENARIUM reporta suas informações com a mais alta qualidade e cuidado com o meio ambiente e assuntos do dia a dia. CENARIUM é uma revista além dos fatos, parabéns!
Edson Camussia
�� Leitor fiel
Acompanho a REVISTA CENARIUM desde a edição que trouxe na capa as lideranças que perderam a vida lutando pela Amazônia. É uma revista como poucas, jornalismo incrível.
São Paulo - SP
Sumário
Letícia Silva Brasília - DF �� Conteúdo amazônico
É pela REVISTA CENARIUM que me informo sobre tudo que acontece na Região Norte do País. Enfim, uma revista com conteúdos amazônicos.
�� Experiência de leitura
A REVISTA CENARIUM oferece ótima experiência e credibilidade ao seu público. É prática, diversa e cultural.
Rodrigo Tremembé
Itarema - CE
�� Inclusão
Sempre inclusiva, coerente e arrojada. Vejo um jornalismo responsável com as notícias, o que nos possibilita uma leitura segura.
Rosemar Farineli Rio de Janeiro - RJ
Giselle Loreti Brasília - DF
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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
Águas de resistência 08 ► CENARIUM+CIÊNCIA
À beira da extinção 12 Diagnóstico das águas 14 ► PODER & INSTITUIÇÕES
TERRORISMO BRASIL
Quem sustenta o golpismo no País? 16 Financiadores na Amazônia 22 Aqueles que anseiam quebrar a democracia 26 ‘O mundo espera o Brasil’............................................... 30 Combate à fome
32 Desenvolver e preservar 34 Amazônia Legal: novos mandatos começam 36 Manaus tem reforço para Educação
38 Portas para vidas novas ................................................... 40 ► ARTIGO – WALMIR DE ALBUQUERQUE
BARBOSA
CRÔNICAS DO COTIDIANO: “A flecha do tempo” .... 41
►
ECONOMIA & SOCIEDADE
‘Otimismo e esperança’ 42 Vigilância on-line ............................................................ 44
Plantar originário 46 Certificação inédita 50 ‘Donas’ da Amazônia 52 ► POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS
Território devastado no Pará 54
► ENTRETENIMENTO & CULTURA
(Re)start na cultura 56 Um despertar à reflexão .................................................. 58 ► VIAGEM & TURISMO
Turismo ‘fora da caixa’ 60 ► DIVERSIDADE
Com prioridade ............................................................... 64 Moda ‘Worecü’ ................................................................. 66
► ARTIGO – SAMIZA SOARESA
A ausência de problemas nunca foi garantia de felicidade ...................................................... 70
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Águas de resistência
MANAUS (AM) – Último igarapé preservado dentro da cidade de Manaus, o Água Branca é símbolo de resistência ante o avanço da urbanização na capital do Amazonas. Localizado no bairro Tarumã, Zona Oeste da cidade, o igarapé se mantém vivo, apesar da ameaça de destruição das nascentes.
Importantes para a alimentação dos rios e preservação da fauna e flora, os outros igarapés da capital, cerca de 120, já foram afetados pela ocupação humana.
O assentamento no entorno desses cursos de água causa danos permanentes para a existência dos mananciais.
Presidente da Organização Não Governamental Mata Viva, Jó Fernandes Farah é um dos responsáveis pela preservação do curso d’água do Água Branca, que é uma das nascentes que formam o Igarapé Tarumã-Açu. Jó é dono do terreno por onde o pequeno rio deságua e cuida de inúmeras micronascentes no local, há mais de 20 anos.
Igarapé Água Branca resiste à expansão urbana e ainda mantém suas águas límpidas
Dentre as atividades realizadas pela ONG, a abertura do local para a visita de alunos de escolas municipais e estaduais, bem como de universitários e pesquisadores, ecoa na busca pela preservação. Jó conta que, frequentemente, pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) levam alunos, de 8 a 10 anos, ao local para conhecer o espaço.
O lugar oferece atividades como trilhas, escalada na copa das árvores, banho de igarapé e até sauna natural, para quem o visita. Jó também tem o trabalho de distribuição de mudas para estudantes e coleta de árvores da região para, futu-
PRESERVAÇÃO
O igarapé, que nasce nas matas protegidas do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes e vai até a Cachoeira Alta, no Tarumã, tem mais de 7 quilômetros de extensão e faz parte da lista de Áreas de Preservação Permanente (APPs) que, segundo o Novo Código Florestal Brasileiro, Lei n.º 12.651/12, são áreas protegidas que buscam preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, proteção
do solo e assegurar o bem-estar das populações humanas que vivem no entorno.
A luta pela proteção do Igarapé Água Branca já chegou à Justiça, após uma empresa de energia conseguir autorização para desmatar um trecho próximo ao curso da água. A ONG conseguiu provar que a companhia desmatou mais que o dobro do acordado e acabou impactando diretamente no igarapé, que perdeu, pelo menos, dois metros de profundidade.
Educação e Pesquisa
ramente, reflorestar o entorno de outros igarapés já poluídos.
“Tenho cerca de 1.500 mudas aqui para plantar no Mindu, algum dia (risos)”, diz Jó, referindo-se ao Igarapé do Mindu, que corta a capital e já foi um local potável, onde pessoas iam para se banhar e era ponto de lazer em Manaus.
Além da visita ao local, Jó conta que, pelo menos, três pesquisas já foram escritas no espaço. Uma delas sobre o próprio igarapé, falando sobre o solo. E outras duas sobre os animais que vivem na região, sendo uma delas já concluída,
sobre formigas, e outra em produção, sobre os pássaros.
O ativista conta que existem pássaros em extinção que ainda resistem dentro da mata no entorno do igarapé, assim como outras espécies de animais, como o sauim-de-coleira, espécie ameaçada de extinção.
“Tinha uns três bandos de Sauim aqui, com cerca de 30 animais, mas, hoje em dia, deve ter em torno de dez deles. O desmatamento e a perseguição são os responsáveis por ‘expulsar’ esses animais daqui”, conta.
Natural de regiões mais ao norte do Amazonas, o peixe cardinal é criado dentro da APP do igarapé
A empresa chegou a ser multada em cerca de R$ 500 mil, mas, segundo Jó, a permanência dela, bem como dos maquinários pesados que derramam óleo e outros materiais ao longo do igarapé ameaçam, frequentemente, a limpidez do local.
O desmatamento ao longo das margens do igarapé impacta diretamente no curso das águas e na robustez do riacho. “Não só essa empresa de energia, mas outros empreendimentos aqui no entorno ameaçam o igarapé. A margem desse lado do igarapé era cercada por floresta, hoje em dia não é mais, e se você tirar isso aqui (árvores) da beira do igarapé, acabou”.
Jó conta que quando chegou no local, no início do milênio, acabou destruindo algumas nascentes naturais, que, até hoje, trabalha para a recuperação, fazendo replantio da floresta nativa e criação de peixes nativos que ajudam no processo natural da manutenção do igarapé.
“Eu, quando cheguei aqui, fiz tudo errado, desmatei tudo para fazer minha casa. Se fosse hoje, eu não faria isso, eu teria preservado essa área com a floresta nativa e tinha construído minha casa lá em cima, mais distante do igarapé”, conta.
Em uma das micronascentes, que ficam localizadas a poucos metros do igarapé, o ativista conta que faz medições periódicas e já chegou a registrar a produção de 30 mil litros de água por dia. Ao longo da extensão do curso da água, Jó conta que existem milhares de micronascentes que colaboram para a robustez do rio, o que explica a perda de profundidade, já que a empresa aterrou algumas delas.
“É delicada e fundamental a presença de floresta na margem do igarapé, porque senão ele simplesmente morre. As raízes das árvores criam galerias e caminhos que levam a água das micronascentes para o igarapé”, explica.
Cardinal no Tarumã
Um dos pontos curiosos encontrados no Igarapé Água Branca é um pequeno aquário natural, com uma diversidade de peixes de rio doce, sendo um deles o cardinal. Naturalmente encontrado no Alto Rio Negro, o peixe ornamental, conhecido no mundo inteiro, chega a ser vendido por 1 dólar a unidade.
Habitantes de águas escuras, os peixes cardinais, normalmente, são encontrados em águas ácidas, onde há presença de mata ciliar, ou seja, florestas perto de pequenos rios, igarapés e lagos. O ativista cria um cardume de cardinais em uma das nascentes do Igarapé Água Branca, junto a outras espécies não predadoras.
“É delicada e fundamental a presença de floresta na margem do igarapé, porque senão ele, simplesmente, morre”Jó Farah, jornalista e ativista ambiental. Jornalista e ativista ambiental, Jó Farah e seus vizinhos lutam pela preservação do Água Branca
boto-cor-de-rosa da Amazônia, a onça-pintada, os lagartos da Caatinga e os recifes de corais do Nordeste estão, justamente, entre as espécies mais ameaçadas pela contaminação das águas e as mudanças no uso do solo: garimpo ilegal, desmatamento e transformação de floresta em pasto pelo rastro do fogo, além dos efeitos da crise climática.
de vida, do nosso bem-estar, da nossa saúde”, acrescentou.
“Essa crise da biodiversidade também está fortemente relacionada com a crise da nossa qualidade de vida, do nosso bem-estar, da nossa saúde”
Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. Animais tidos como
Gerente de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano diz que o principal motivo da perda de espécies é o desmatamento e a conversão dos habitats. Ela também explica porque o desaparecimento da fauna é maior na América Latina.
À beira da extinção
Duas em cada dez espécies ameaçadas estão no Brasil; 70% da vida selvagem desapareceu, em 50 anos Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – O Brasil, lar da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, foi listado como um dos países que mais perde habitats e, por consequência, parte da biodiversidade. Duas de cada dez espécies ameaçadas de extinção no planeta são encontradas nos biomas brasileiros. Os dados são do relatório Planeta Vivo, atualizado a cada dois anos pela rede WWF, que reúne pesquisas feitas ao redor do mundo com o monitoramento de fauna.
O estudo, que analisou 32 mil populações de animais de mais de 5 mil espécies, apontou que 69% da abundância de vida selvagem desapareceu da face da Terra em menos de meio século, entre 1970 e 2018.
O maior declínio ocorreu na América Latina: 94%.
AMÉRICA LATINA NO TOPO
O relatório alerta para um caminho que pode não ter volta. Bichos tidos como símbolos da fauna brasileira, como o
“Como os dados do relatório começam a ser medidos a partir da década de 1970, o que ele está mostrando é que existem algumas regiões, especialmente na América Latina, onde a fronteira de desmatamento, de degradação, é mais ativa, atualmente. Então, na América do Norte, na Europa, essa degradação já aconteceu antes da década de 1970. Por isso que nessas regiões, não há uma redução tão intensa”, detalhou a especialista à REVISTA CENARIUM.
Depois da América do Sul, que lidera o ranking, aparece a África, com perda de 66% das populações de espécies monitoradas, além de parte da Ásia, onde 55% da vida selvagem desapareceu.
POTENCIAL DESPERDIÇADO
Do levantamento anterior para cá, foram incluídas 11 mil novas populações de 838 novas espécies, sendo 575 do Brasil. Cerca de 3,2 mil populações de vida selvagem foram monitoradas no País, tido como um dos piores em conservação dos habitats.
“A gente lamenta esses resultados, mas, para quem é da área ou depende desses ativos naturais para a própria sobrevivência, como as populações indígenas e tradicionais, não é novidade alguma”, diz o ambientalista e coordenador do “Projeto
Saúde e Alegria”, Caetano Scannavino, em entrevista à REVISTA CENARIUM. Ele destaca que nunca faltaram alertas sobre a gravidade do problema e que, “ao invés de reduzirmos a degradação ambiental, o que vem acontecendo é o oposto”.
Resultado desse problema que vai além dos biomas brasileiros, é que 1 milhão de espécies de plantas e animais estão ameaçados de extinção ao redor do globo e até 2,5% dos mamíferos, répteis, aves, peixes e anfíbios já foram extintos.
“Um estudo anterior, também do WWF, apontava uma nova espécie sendo descoberta pela ciência a cada dois dias, somente na Amazônia (…) De repente, você tem a cura da Covid-19, a cura do câncer; você tem ativos naturais que podem render, inclusive, dividendos ou insumos para a Indústria Farmacêutica Made in Brazil”, defende Scannavino.
SEM ANIMAIS, SEM VIDA
Em tempos de negacionismo, especialmente no tema ambiental, é preciso
dizer que desaparecendo a floresta, os animais e os recursos naturais, desaparece, também, o homem. O Relatório Planeta Vivo estima que se a temperatura global continuar subindo e aumentar em 2,0°, menos de 1% dos corais de água quente devem sobreviver. Também reforça que os impactos no solo, muito atrelados ao crime ambiental, continuam como o fator mais devastador para os ecossistemas, afetando, inclusive, a vida humana. É código vermelho para bicho e gente.
“Não estamos perdendo apenas as espécies ou tendo essas populações reduzidas, estamos perdendo qualidade de vida. Quando a gente fala que o boto amazônico tá muito impactado, seja pelas barragens, seja pela contaminação de mercúrio, a gente quer dizer que essa contaminação também acontece por conta dos garimpos ilegais nas populações ribeirinhas, que dependem altamente de peixes”, ressaltou Mariana Napolitano. “Essa crise da biodiversidade também está fortemente relacionada com a crise da nossa qualidade
Perda de vida selvagem
“Se continuar assim, a gente tá caminhando para um apocalipse (…) Então, faz-se necessário repensar esse modelo de ocupação, sobretudo, nas nossas áreas de floresta, nos biomas, no Cerrado, na Amazônia. Até porque ele [uso do solo] vem beneficiando alguns poucos, mas deixando a conta e o estrago para todo mundo pagar, inclusive, as próximas gerações”, alertou Caetano Scannavino.
Para Napolitano, ainda há esperança. “Ao mesmo tempo que é uma grande ameaça, temos uma grande oportunidade de mudar os nossos meios de produção, de reforçar as nossas ações de conservação e garantir, sim, a conservação de muitas espécies”, finalizou a gerente de Ciências do WWF-Brasil.
é o principal
Diagnóstico das águas
Projeto pioneiro da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) visa mapear qualidade das águas da Bacia Amazônica e a identificar pH
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – O Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas, desenvolvido pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA), com apoio do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), vai mapear a qualidade das águas dos principais rios do Amazonas e identificar o pH.
A expedição, realizada de 10 a 22 de janeiro, utilizou o barco de pesquisa “Roberto dos Santos Vieira” para percorrer o Rio Negro até o município de São Gabriel da Cachoeira. Com uma equipe de 17 pesquisadores que, além das águas, mapeou o solo e o ar. A campanha é coordenada pelo professor e doutor Sergio Duvoisin Junior.
Um dos principais objetivos da pesquisa é mapear o pH das águas do Amazonas, isso porque o sistema utilizado atualmente em pesquisas é o mesmo usado nos rios de São Paulo, que não correspondem com a realidade amazônica.
“A pesquisa já existe há três anos e, com essa campanha, vamos dar um passo importante para o mapeamento do índice de qualidade da água do Amazonas”, explica Duvoisin Junior, responsável pelo estudo.
Outro destino da campanha é o Rio Solimões, conhecido pela invasão garimpeira. Conforme Sergio, a presença de mer-
cúrio no Rio Solimões é óbvia, mas não se sabe o quanto isso afeta o entorno.
“Vamos mapear as águas em três diferentes níveis de superfícies, média e em profundidade, além de detectar a presença do mercúrio nos solos e nos principais peixes consumidos na região”, pontua o pesquisador.
Os dados recolhidos pela pesquisa serão disponibilizados no site do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia e
podem ser utilizados para produção de artigos, matérias e principalmente mapear o atual estado ambiental do Amazonas para ser utilizado como base para políticas públicas ambientais pelo Governo do Amazonas.
CONTAMINAÇÃO
Recentes pesquisas mostram que em diferentes pontos da Amazônia rios e peixes apresentam índices alarmantes de
Bacia do Tapajós
Relatório do Ministério Público Federal do Pará, de maio de 2022, mostrou que pelo menos seis diferentes rios da bacia do Tapajós estão infectados com mercúrio proveniente do garimpo: Teles Pires, Tapajós, Cururu, Kabitutu, das Tropas e Kadriri. O relatório ainda estima que a mineração ilegal de ouro despeja cerca de 221 toneladas de mercúrio, anualmente, no leito do Rio Tapajós.
Pesquisas também apontam que de 57,9% a 99,09% dos indígenas Munduruku avaliados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), na Bacia do Tapajós estão com níveis de mercúrio acima dos limites seguros para humanos.
De acordo com as pesquisas disponibilizadas para o MPF, sete a cada dez adolescentes, entre 10 e 19 anos, apresentam altas concentrações de mercúrio. Nas crianças menores de 12 anos são 8 a cada 10; entre as menores de 5 anos, 4 em cada 10 apresentam amostras de mercúrio. O estudo verificou também que 72,72% dos examinados relataram algum sinal ou sintoma de contaminação e que, entre esses, pelo menos 87,5% eram de origem neurológica.
As pesquisas ainda apontaram que o pescado da região, fonte de alimentação de muitos indígenas, é uma das principais vias que levam à contaminação de mercúrio a níveis muito acima dos limites reconhecidos como seguros.
contaminação por mercúrio. Águas na Terra Indígena Yanomami (TIY), que alcança Roraima e Amazonas, estão contaminadas.. A região vem sofrendo com a invasão garimpeira dos últimos anos. Também estão contaminados rios no Pará e em Rondônia.
Estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Evandro Chagas e Universidade Federal de Roraima (UFRR), divulgado no final de agosto de 2022, mostrou, por exemplo, que o peixe
Amazonas
Em novembro de 2021, um laudo da Polícia Federal (PF) apontou que o mercúrio no organismo de moradores do Rio Madeira, no Amazonas, é três vezes maior que o limite considerado admissível pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados surgiram após balsas e dragas de garimpo invadirem a região naquele ano, em busca da exploração ilegal de ouro.
Sergio Duvoisin Junior, responsável pelo estudo.
consumido pela população de Roraima apresenta concentrações de mercúrio maiores ou iguais ao limite estabelecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O estudo foi desenvolvido em quatro pontos da Bacia dos Rios Branco, Mucajaí e Uraricoera. As amostras coletadas entre 27 de fevereiro e 6 de março de 2021 revelaram índices altos de contaminação em trecho do Rio Branco, na cidade de Boa
Vista (25,5%), Baixo Rio Branco (45%), Rio Mucajaí (53%) e Rio Uraricoera (57%). Segundo o estudo, 45% do mercúrio usado em garimpos ilegais para extração de ouro é despejado em rios e igarapés da Amazônia, sem qualquer tratamento. O metal pesado, altamente nocivo, pode permanecer por até cem anos em diferentes compartimentos ambientais e pode provocar diversas doenças em seres humanos e em animais, incluindo comprometimento neurológico.
Mercúrio utilizado no garimpo ilegal é uma das principais causas de contaminação dos rios amazônicos Barco Laboratório do Instituto de Proteção da Amazônia (Ipaam) cedido para pesquisadores da Universidade Estadual do Amazonas“Vamos mapear as águas em três diferentes níveis de superfícies, média e em profundidade, além de detectar a presença do mercúrio nos solos e nos principais peixes consumidos na região.”Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação UEA
MANAUS (AM) – A escalada antidemocrática que teve início logo após o resultado das eleições para presidente da República, em 30 de outubro de 2022, e culminou com a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes da República em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, acendeu um alerta entre as autoridades federais: é imperiosa a urgente identificação e responsabilização dos financiadores dos atos antidemocráticos e terroristas, sob pena de se fracassar na empreitada de desarticular os movimentos e impedir seu fortalecimento.
A existência de financiadores dos movimentos antidemocráticos ficou primeiramente evidente com a longa permanência de acampamentos em frente a quartéis generais em todo o País, com estruturas que incluíam desde banheiros químicos, barracas para abrigar os manifestantes pró-golpe, até alimentação diária para centenas de pessoas.
O financiamento dos atos antidemocráticos e terroristas ficou mais evidente
ainda com a locação de ônibus, que saíram das mais diversas localidades do Brasil, transportando gratuitamente manifestantes golpistas que acabaram por espalhar o terror na Praça dos Três Poderes.
REAÇÃO
Após os ataques terroristas às sedes do Supremo Tribunal Federal (STF), Congresso Nacional e Palácio do Planalto, que deixaram os prédios onde estão instaladas as mais importantes instituições da República em situação de terra arrasada, tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto os representantes dos demais Poderes da República estabeleceram como uma das prioridades a identificação e punição dos financiadores dos atos.
“Vamos descobrir quem são os financiadores de quem foi a Brasília hoje, e todos eles pagarão com a força da lei. (...) Quem fez isso será encontrado e punido.
A democracia garante o direito de livre expressão, mas também exige que as pessoas respeitem as instituições”, declarou
descobrir quem são os financiadores de quem foi a Brasília hoje, e todos eles pagarão com a força da lei.”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil.
QUEM SUSTENTA O GOLPISMO NO PAÍS?
Instituições democráticas e sociedade civil priorizam combate a financiadores para tentar esvaziar movimentos antidemocráticos
Omar Gusmão – Especial para a Revista Cenarium Extremistas invadindo o Congresso Nacional, no dia 8 janeiro“Vamos
o presidente Lula, em pronunciamento logo após os atos terroristas. Na ocasião, o presidente anunciou decreto de intervenção federal na segurança do Distrito Federal para apurar as responsabilidades sobre os atos que levaram aos ataques aos Três Poderes. O decreto foi aprovado pelo Congresso Nacional no dia seguinte.
Em seu perfil no Twitter, também no domingo, 8 de janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, adotou o mesmo tom: “Os desprezíveis ataques terroristas à democracia e às Instituições Republicanas serão responsabilizados, assim como os financiadores, instigadores, anteriores e atuais agentes públicos que continuam na ilícita conduta dos atos antidemocráticos. O Judiciário não faltará ao Brasil”, publicou em postagem.
A estratégia inicial adotada pelas autoridades federais para chegar aos financiadores é o interrogatório realizado com pessoas presas e detidas por participarem dos atos. A obtenção dos nomes de quem contratou os ônibus que levaram os golpistas a Brasília, junto à Polícia Rodoviária Federal, também foi usada como estratégia inicial de investigação.
Outra estratégia de identificação de participantes das invasões e de seus financiadores é a importante atuação da sociedade civil. Ao se vangloriar da presença nos ataques, os próprios extremistas criaram provas contra si mesmos com vídeos e publicações nas redes sociais e aplicativos de troca de mensagens. Espontaneamente, criaram-se perfis na internet, como o @contragolpebrasil, onde rapidamente milhares de seguidores começaram a enviar fotos e a identificação dos inva-
sores. Além disso, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal criaram e-mails com a mesma finalidade.
Até o fechamento desta matéria, a Polícia Federal (PF) contabilizava 1.159 pessoas presas. No total, foram 1.843 pessoas detidas para esclarecimentos, mas 684 foram liberadas por questões humanitárias, por serem pessoas idosas, mães acompanhadas de seus filhos e doentes.
Dentre os presos há empresários, funcionários públicos, profissionais liberais, comerciantes, microempreendedores, fazendeiros, esteticistas, guardas municipais de outros Estados, enfim, uma extensa gama de ocupações e profissões. A média de idade das pessoas presas, calculada pelo jornal “Correio Brasiliense”, é de 45 anos, três meses e 18 dias.
De acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Administração Penitenciária do DF (Seape-DF), são 499 pessoas do sexo masculino e 265 mulheres. A média de idade das mulheres é de 49 anos, ao passo que a dos homens é de 45 anos.
FINANCIADORES
O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou, no dia 9 de janeiro, que mais de uma dezena de mandados de prisão foram expedidos contra os golpistas, incluindo possíveis patrocinadores. Segundo ele, a PF identificou financiadores em ao menos dez Estados.
O “Jornal Nacional”, da Rede Globo de Televisão, em sua edição do dia 9 de janeiro, veiculou reportagem na qual alega que, conforme apuração feita por seus profissionais, presos afirmaram que receberam financiamento para participar dos ataques e que, em muitos casos, o patrocínio veio de Estados diferentes de seus domicílios, como Pará, Rondônia e Mato Grosso.
Coincidentemente ou não, os Estados citados estão localizados na Amazônia e compõem o principal arco de desmatamento do bioma, bem como contêm áreas onde o avanço do agronegócio, do garimpo ilegal e da invasão de Terras Indígenas ocorrem.
“Nós temos a relação de todos os contratantes dos ônibus, todas essas pessoas serão chamadas a prestar esclarecimentos.
Porque são pessoas que contrataram ônibus que não eram para excursões turísticas.
O que eu posso acentuar, frisar, realçar é que, seja quem for, os financiadores serão chamados à responsabilização penal e civil”, afirmou Flávio Dino.
O ministro Flávio Dino, contudo, não deu mais detalhes sobre as pessoas e empresas já identificadas pela força-tarefa montada após os atos terroristas, mas é sabido, com a paulatina divulgação de algumas listas em veículos de comunicação, que o rol inclui empresas de transporte, de turismo, do agronegócio,
madeireiras e até mesmo um Sindicato Rural do interior do Paraná.
BLOQUEIO DE BENS
A Advocacia-Geral da União (AGU), por sua vez, informou já ter identificado mais de 100 empresas suspeitas de terem financiado os atos terroristas em Brasília.
E sinalizou que planeja solicitar o bloqueio dos bens dessas empresas, cujos nomes também não foram divulgados até o fechamento desta edição.
Um dos objetivos dos bloqueios dos bens das empresas suspeitas de financiar
A obra “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, avaliada em R$ 8 milhões, foi encontrada com sete rasgos
Danos materiais
A ação terrorista dos golpistas nas sedes dos Três Poderes da República, em Brasília, acarretou em danos materiais cujo valor total ainda está por ser calculado. Dados divulgados até o fechamento desta edição dão conta de que, somente na Câmara dos Deputados, para se ter uma ideia, o prejuízo já ultrapassa R$ 3 milhões.
Somente naquela Casa Parlamentar foram destruídos 400 computadores, 40 impressoras, aparelhos de rede de dados, vidros diversos, “vídeo wall”, duas TVs, 11 telefones, três cadeiras, tapeçaria e duas caminhonetes. A sanha destruidora dos
golpistas se repetiu nos demais prédios por onde a turba passou, com especial requinte destruidor na sede do STF.
Obras de arte também não ficaram imunes à ação dos terroristas. No Palácio do Planalto, a obra “As Mulatas”, uma das mais importantes da produção de Di Cavalcanti, avaliada em R$ 8 milhões, foi encontrada com sete rasgos de diferentes tamanhos.
Os vândalos também fizeram um buraco na obra “Muro Escultório”, um painel gigante de autoria de Athos, feito especialmente para o projeto de Oscar Niemeyer para a decoração do Salão
Verde e do Salão Nobre da Câmara dos Deputados.
A escultura “O Flautista”, do artista Bruno Jorge, com valor estimado em R$ 250 mil, foi encontrada totalmente destruída. O mesmo ocorrendo com um relógio trazido ao Brasil por Dom João VI, em 1808.
A peça foi um presente da corte de Luís XIV de França, considerada rara, tendo apenas uma outra similar no mundo. Enfim, a totalidade de prejuízos físicos, patrimoniais e culturais ainda está por ser calculada. A destruição do patrimônio público – isso já é certo – foi incomensurável.
“Os desprezíveis ataques terroristas à democracia e às Instituições Republicanas serão responsabilizados, assim como os financiadores, instigadores, anteriores e atuais agentes públicos que continuam na ilícita conduta dos atos antidemocráticos”Alexandre de Moraes, ministro do STF e
presidente do TSE.Cadeira do plenário do STF foi arrancada de dentro da sede do tribunal e exposta com brasão da República, também arrancado de uma parede do prédio
“Seja quem for, os financiadores serão chamados à responsabilização penal e civil”
Flávio Dino, ministro da Justiça.
os atos é utilizar os recursos privados para cobrir o prejuízo causado ao patrimônio público pela ação terrorista em Brasília.
TERRORISTAS E ANTIDEMOCRÁTICOS
Especialista em Ciência Política, com ênfase em Relações Internacionais, Bilaterais e Multilaterais, a professora da Faculdade La Salle Thays Cavalcante explica que chamar os atos de 8 de janeiro de “terroristas” e “antidemocráticos” é correto e encontra respaldo no Código Penal brasileiro.
“O Código Penal Brasileiro, no título XII, nos descreve quais são os crimes contra o Estado Democrático de Direito. No Capítulo II desse título, o CP nos aponta os crimes contra as instituições democráticas, então nós temos os crimes de Insurreição, Golpe de Estado, Conspiração, entre outros”, explica a professora.
“Desses, podemos observar claramente nos atos de domingo, a tentativa de um Golpe de Estado e a Insurreição, ou seja, a tentativa, com emprego de grave ameaça ou violência, impedir ou dificultar o exercício do poder legitimamente constituído, ou alterar a ordem constitucional estabelecida”, afirma Thays, justificando o porquê de os atos serem antidemocráticos.
Já para ilustrar o teor terrorista dos atos praticados pelos golpistas em Brasília, a professora também recorre ao Código Penal, mas em seu Capítulo III, artigo 137, que define Terrorismo: “Praticar, por motivo de facciosismo político ou religioso, com o fim de infundir terror,
ato de devastar, saquear, explodir bombas, sequestrar, incendiar, depredar ou praticar atentado pessoal ou sabotagem, causando perigo efetivo ou dano a pessoas ou bens”.
“Então, os atentados golpistas e terroristas de domingo, foram classificados corretamente, segundo o Código Penal.
Tais atos violam nossa democracia, pois atentam contra a legitimidade do processo eleitoral e das instituições e nos mostram também o quão fragilizados estamos entrando no novo governo. Cabe agora punir, conforme a lei, como já está acontecendo em Brasília, os responsáveis por esses atos”, afirma a professora.
Thays Cavalcante também observa que a crença da sociedade na boa-fé dos acampados nas portas dos quartéis generais levou aos atos de 8 de janeiro. “Vimos isso acontecer diante dos nossos olhos (os acampamentos nas portas dos QGs) e acreditamos na boa-fé, e isso levou aos atos do último domingo (08/01)”, opina Thays Cavalcante.
A responsabilização de financiadores, bem como a dos golpistas que aterrorizaram a Praça dos Três Poderes, em Brasília, é fundamental para que a democracia saia fortalecida dos episódios de 8 de janeiro, na opinião da professora Thays Cavalcante. “A Câmara dos Deputados deve instalar uma CPI, esperamos que se cumpram as cassações dos envolvidos e, sempre, que se cumpra a lei. Afinal, o próprio Código Penal indica as medidas a serem tomadas para quem praticou tais atos contra a democracia”, defende.
A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu, em 12 de janeiro, o bloqueio de bens de 52 pessoas físicas e sete jurídicas, num total de R$ 6.539.100. Segundo o órgão, os alvos são responsáveis por pagar o fretamento de ônibus para levar pessoas para participar dos atos de vandalismos ocorridos em Brasília, em 8 de janeiro.A Justiça concedeu o bloqueio.
O órgão informou se tratar de um valor inicial, baseado na estimativa preliminar de prejuízos materiais calculados somente pelo Senado (R$ 3,5 milhões) e pela Câmara dos Deputados (R$ 3,03 milhões). Restam ainda a contabiliza-
Bloqueio de R$ 6,5 milhões
ção dos danos causados ao Palácio do Planalto e à sede do Supremo Tribunal Federal (STF), amplamente depredados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Entre os bens na mira do pedido da AGU estão imóveis, veículos e valores em contas-correntes. A lista dos alvos do bloqueio foi elaborada com o auxílio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), incluindo apenas aqueles que contrataram os ônibus que acabaram apreendidos por transportar pessoas que participaram dos atos golpistas.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, argumentou que as pessoas físicas e jurídicas listadas devem responder pelo vandalismo junto com aqueles que praticaram os próprios atos violentos. Ele justifica que “a aglomeração de pessoas com fins não pacíficos só foi possível graças ao financiamento e atuação das pessoas listadas”.
A petição com a lista completa de pessoas físicas e jurídicas listadas é pública e pode ser encontrada no portal da AGU. Com informações da Agência Brasil e AGU.
Cozinha foi montada na calçada do Comando Militar da Amazônia e possuía botijas de gás, três fogões industriais e depósitos de caixa d’água com gelo para armazenar as bebidas
Financiadores na Amazônia
A REVISTA CENARIUM identificou financiadores de acampamento extremista em frente ao Comando Militar da Amazônia. Outros estão sendo investigados em outros Estados amazônicos Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Os protestos antidemocráticos contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que pediam por intervenção federal duraram 70 dias em Manaus, capital do Amazonas. Iniciado no dia 2 de novembro de 2022, em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), zona Oeste, o movimento recebeu doações e incentivos de ao menos cinco empresas do Estado.
Caminhões e carros com fardos de água, carnes e mantimentos eram enviados diariamente ao local, que contava com uma estrutura de cozinha industrial, com uma equipe de ao menos sete pessoas responsáveis pela alimentação.
A “cozinha golpista” foi montada na calçada daquele que é considerado o maior Comando Militar da América Latina e possuía botijas de gás, três fogões industriais
e depósitos de caixa d’água com gelo para armazenar as bebidas.
Na noite do dia 16 de novembro de 2022, a juíza federal Jaiza Fraxe decretou que os financiadores e incentivadores das manifestações em frente ao CMA fossem identificados. A magistrada destacou na conclusão que o ato “continuava na ilegalidade, […] pela promoção de atos similares à anarquia – quando o país é uma
República Federativa e todos devemos obediência às leis e à Constituição”.
Fraxe chegou a nomear um perito para colaborar na identificação da “fonte de custeio da alimentação, quem fornece, se existe autorização da vigilância sanitária, se há venda, comércio e notas fiscais e se efetivamente existem policiais fazendo uso de refeições no local”. Mas até janeiro de 2023, nenhuma prisão ou depoimento foi divulgado pela Justiça.
O acampamento foi desmontado 70 dias após o início da manifestação. Barracas, maquinários, bancos, materiais de cozinha e banheiro foram removidos em uma ação integrada entre agentes de segurança e sociais do Estado. No local, no dia seguinte, restaram apenas cheiro forte de urina e gramado danificado.
EMPRESÁRIOS DO AM
A REVISTA CENARIUM flagrou, no dia 18 de novembro, a entrega de uma das doações ao ato extremista em frente ao CMA. Um carro modelo Chevrolet S10 abastecia os manifestantes com água e refrigerante. A reportagem investigou os dados da placa do veículo e conseguiu
identificar que o dono é um empresário do ramo de varejo.
O homem que aparece de camisa vermelha nas imagens flagradas pela CENARIUM foi identificado como responsável pela entrega das doações. O carro que ele usou está em nome Ednei Rocha da Silva, o empresário é dono das lojas Elshaday Variedades e da Planet Pet Shop, ambas localizadas no bairro Armando Mendes, zona Leste de Manaus.
A reportagem também teve acesso a um vídeo que mostra outra doação de fardos de água, desta vez da empresa Tuboaços da Amazônia. Nas imagens, o narrador, membro do ato antidemocrático, declara ser “mais uma doação da Tuboaços”. O manifestante pede para divulgarem o vídeo. “Compartilha aí, que a Tuboaços é nossa amiga”.
Durante a apuração, a reportagem identificou três nomes no quadro societário da empresa Tuboaços da Amazônia: Fabiano Moreira Magalhães, Maria de Fátima Moreira e Sergiani Costa de Alcântara. A empresa é responsável por fabricar expositores, material de ponto de venda, artigos promocionais e sinalizadores.
“Eu não posso chamar isso de movimento organizado, porque ele não tem caráter reformista ou revolucionário. Ele [o protesto] tem caráter litigioso, de estabelecer a confusão e o caos, apenas para ver o resultado da sua força”
Paulo Queiroz, antropólogo.
A CENARIUM localizou, ainda, um processo no nome de Fabiano Moreira Magalhães, movido pela Agência Nacional de Minério. De acordo com a ação, Fabiano foi multado por não pagamento ou pagamento fora do prazo legal da Taxa Anual por Hectare (TAH), que com os juros chega a R$ 5 mil.
Uma das primeiras empresas a realizar doação de alimentos e bebidas para os protestos antidemocráticos em Manaus, no dia
Homem de camisa vermelha, identificado como responsável pela doação de alimentos, usou carro que está em nome de Ednei Rocha da Silva, empresário dono das lojas Elshaday Variedades e da Planet Pet Shop, de Manaus
Crédito: Ricardo OliveiraPODER & INSTITUIÇÕES
11 de novembro, foi o supermercado Baratão da Carne, do empresário Edilson Rufino, citado em vídeos em que funcionários aparecem abastecendo um veículo de manifestantes com comidas e bebidas.
No vídeo, uma mulher não identificada fala sobre a doação recebida: “Estamos nesse momento, pegando, aqui, para levar para a manifestação [..], 12 caixas de frango, dez fardos de refrigerante, fardo de farinha, fardo de café, dez pacotes de calabresa […], praticamente, R$ 5 mil em doação”, diz a mulher.
Outros flagrantes de doações enviados à CENARIUM mostram o caminhão de uma empresa de serviços metalúrgicos descarregando fardos de bebidas no local.
Pela placa, a reportagem identificou a empresa Jumar Indústria Comércio e Serviços Metalúrgicos, que tem como sócios os empresários Sardis Chaves Monteiro Junior e Ladilson Almeida Lima.
O caminhão está registrado no nome da empresa e na imagem é possível notar a presença de funcionários fardados descarregando as bebidas.
O veículo registrado em nome da empresa Portal Vidros também foi flagrado descarregando mantimentos na manifestação antidemocrática no Comando Militar da Amazônia. Registrada nos nomes dos sócios Tulhio Moreira Israel e Luiz Israel da Silva, a caminhonete preta foi vista realizando doações por moradores que enviaram a foto à CENARIUM
Há indícios de que existem outras empresas envolvidas em doações e no financiamento das manifestações antidemocráticas em Manaus. De acordo com fontes da reportagem, a Polícia Federal apura o envolvimento dos empresários no financiamento dos atos antidemocráticos.
Mensagens compartilhadas nos grupos de WhatsApp por pessoas que parecem estar na organização dos atos indicam a existência de outros doadores. Membros do grupo de conversa orientam para que o compartilhamento dos vídeos e fotos das empresas e materiais recebidos seja interrompido.
BLOQUEIO DE CONTAS
Em novembro de 2022, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes suspendeu e bloqueou as contas bancárias de 43 empresas e pessoas físicas suspeitas de financiar atos antidemocráticos em Brasília.
Na decisão, o magistrado lembrou que o direito à greve e manifestação são legítimos, contanto que não machuquem o bem-estar social e o estado democrático de direito. À época, ataques como os que ocorreram na Praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro, ainda não haviam sido registrados.
Conforme levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Distrito
Federal, a maioria das pessoas envolvidas estava ligada aos setores de transporte e agronegócio.
A maioria dos identificados são do Mato Grosso, dos municípios de Sorriso, com 21 pessoas físicas e jurídicas citadas na ação, em seguida, Água Boa (4), Cuiabá (2), Nova Mutum (2), Tapurah (2), Campo Novo do Parecis e Guarantã do Norte –com um nome, cada.
ATAQUE AOS TRÊS PODERES
Em Brasília, ônibus foram fretados para levar manifestantes até o Quartel General do Exército, onde ficou concentrado o maior acampamento bolsonarista do País. Aliados do ex-presidente Bolsonaro arquitetaram a invasão aos prédios do Supremo Tribunal Federal (STF), Senado, Câmara dos Deputados e ao Palácio do Planalto.
A invasão foi antecedida por furo no bloqueio realizado por policiais militares do Distrito Federal, flagrados tirando fotos com manifestantes e comprando água de coco, enquanto extremistas já estavam ocupando o telhado do Palácio do Planalto.
Nos dias seguintes à depredação, que resultou na danificação, roubo e destruição de peças de artes e documentos, o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão do ex-secretário se segurança do DF, Anderson Torres, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro, além de afastar o governador Ibaneis Rocha, por 90 dias.
Anderson Torres foi preso no dia 14 de janeiro, em Brasília, ao retornar dos Estados Unidos.
A justificativa é de que os poderes do Estado já havia demostrado certa animosidade quanto às manifestações agressivas e não se prepararam de forma prudente para impedir a invasão ocorrida no segundo domingo de 2023.
Em 12 de dezembro, durante a diplomação de Lula, um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro tentou invadir o prédio da Polícia Federal em Brasília após a prisão de um dos líderes do acampamento. Na ocasião, ônibus foram incendiados e delegacias foram depredadas.
Dias após o ataque na Polícia Federal, um explosivo foi detectado próximo ao aeroporto de Brasília, na véspera de Natal. O responsável pelo artefato foi identificado como George Washington de Oliveira, 54 anos, que saiu do Estado do Pará e participava dos atos antidemocráticos em Brasília.
Conforme relatos da investigação, George, que se identificou como gerente
de postos de combustíveis com renda mensal entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, tinha em sua posse armas e munições avaliadas em, aproximadamente, R$ 170 mil, que levou consigo no dia 12 de novembro para Brasília. Na época de sua prisão, o então futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que seria investigada a suspeita de que George foi financiado por outras pessoas.
“Movimento Popular”
O homem tinha registro de caçador (CAC), mas portava armas que não faziam parte do arsenal permitido. Em depoimento, George afirmou que o arsenal serviria para armar outros protestantes que estavam no acampamento em Brasília.
Os manifestantes de extrema-direita afirmaram para a imprensa que os protestos realizados em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), em Manaus, não possuíam organização e eram “movimentos populares”, liderados pelo povo. No local, há 70 dias, estavam alugados e disponíveis para o apoio dos protestantes 16 banheiros químicos, gerador de energia, tendas para almoço e barracas para descanso.
A reportagem entrou em contato com o líder do Movimento Conservador em Manaus, Sérgio Kruke, responsável por organizar manifestações e atos pró-Bolsonaro, e ele negou organização dos atos em frente aos quartéis. “Não há liderança nesse movimento em frente aos quartéis, é uma manifestação orgânica da população”, disse.
O financiamento de atos antidemocráticos é crime e pode levar à prisão
dos doadores identificados. Conforme o Artigo 286 do Código Penal, quem “incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade” pode ser detido por três a seis meses, ou multado.
O professor universitário, escritor e antropólogo Paulo Queiroz explica que movimentos sociais são ações que buscam revelar a indignação de um povo que tem em vista estar incluído no processo democrático de direito. Segundo ele, na antropologia, esses movimentos são chamados de “identitários”.
“Identitários porque eles têm uma identidade social, como, por exemplo, as pautas de reivindicação de melhorias em bairros, os movimentos feministas, de ambientalistas, LGBTQIA+, de ribeirinhos… Esses são movimentos sociais”, diz.
Os manifestantes que estavam em frente aos quartéis pediam por intervenção federal por não concordarem com o resultado da eleição presidencial deste ano. Apesar de não gritar frases golpistas e trocarem o discurso de “intervenção militar”, especialistas afirmam que as palavras usadas eram uma maquiagem para pedir ditadura.
Paulo Queiroz afirma que o que ocorreu em frente ao CMA não pode ser chamado de movimento organizado, isso porque a manifestação antidemocrática visava atacar o processo democrático de direito.
“Eu não posso chamar isso de movimento organizado, porque ele não tem caráter reformista ou revolucionário. Ele [o protesto] tem caráter litigioso, de estabelecer a confusão e o caos, apenas para ver o resultado da sua força”, finaliza Paulo.
Funcionários de metalúrgica descarregam bebidas de caminhão para manifestantes A reportagem teve acesso ao vídeo que mostra doação de fardos de água da empresa Tuboaços da AmazôniaPODER & INSTITUIÇÕES
Aqueles que anseiam quebrar a democracia
Recentes atos antidemocráticos levam à reflexão sobre que setores da sociedade desejam romper com o estado democrático de direito
Omar Gusmão – Especial para a Revista CenariumMANAUS (AM) – Enquanto a poeira dos atos terroristas antidemocráticos ocorridos em Brasília, no dia 8 de janeiro, baixa, algumas reflexões se impõem à sociedade brasileira. A que parcela da sociedade interessa o rompimento com a democracia e a instauração de um estado de exceção? Que setores da coletividade brasileira anseiam pela instauração de um regime totalitarista?
Para o analista político Helso Ribeiro, a questão é histórica e vem de muito tempo atrás. Ele lembra que o atual regime democrático teve início com José Sarney, em 1985, e, mesmo sendo o maior período democrático já vivido pelo Brasil, são apenas 38 anos de uma jovem democracia. “Desde o ‘descobrimento’ até hoje, estamos vivendo o maior lapso democrático da História do Brasil. Então, nós não fomos acostumados, não fomos ensinados a viver numa democracia”, pontua.
Helso Ribeiro lembra que a construção democrática deve ser algo cotidiano e que muitos não têm interesse na democracia. “As pessoas querem atalhar caminhos. E não é por meio da democracia que se vai
atalhar caminhos. A democracia exige tempo, exige aperfeiçoamento constante. Muitas pessoas querem resolver ‘na marra’, do jeito delas. Não aceitam o contraditório, não aceitam transigir”.
Para o analista político, a situação atual é apenas um desabrochar. A gestação das pessoas que defendem um estado de exceção, segundo Helso, é mais antiga. “Esse monstro aí que surgiu em Brasília tem esperma da ditadura militar de 1964, tem DNA da ditadura Vargas, tem DNA da escravidão brasileira”, opina.
“Então, tem pessoas que não estão acostumadas. Sentem saudades de repressão, defendem a ideia de que bandido bom é bandido morto, quando não é para eles. Quando é para eles, passam a respeitar direitos humanos. Ainda há uma massa muito grande que tem saudades desse período. Então, é a eles que interessa essa situação, num primeiro momento”, afirma.
GRUPO HETEROGÊNEO
Sobre as pessoas que se fizeram presentes nos atos terroristas em Brasília, Helso Ribeiro afirma que é difícil generalizar,
Imagem do Congresso Nacional, um dos símbolos do estado democrático de direito, atacado no dia 8 de janeiro
posto que trata-se de um grupo heterogêneo. “Não considero ali todos terroristas. Uns baderneiros, outros terroristas, outros vândalos, outros golpistas. Tem um pouco de tudo”, avalia.
O analista político lembra que esta foi a eleição mais dura que houve desde a época do ex-presidente Fernando Collor. “As pessoas, às vezes, não conseguem entender que 1 a 0 decide o campeonato. A vitória foi muito curta, muito pequena. E essas pessoas não estão acostumadas. Conheço bolsonaristas que achavam que Bolsonaro ia ser reeleito, depois o filho, depois o outro filho. E ia ficar perpetuando”, diz. Estabelecer como vilões o agronegócio, o garimpo ilegal e a extração de madeira ilegal é algo perigoso, na opinião de Helso Faria. “O agronegócio, por exemplo, é
uma commodity que o Brasil precisa saber aproveitar. Precisa saber surfar nessa onda. Então, eu diria que o público que fez isso é um público heterogêneo, não é um público uniforme. Vejo também militares, golpistas. Vejo um público bem diverso”.
BOLSONARO
Para o ambientalista Ricardo Ninuma, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) tem responsabilidade pela atual situação no Brasil. Ele compara os golpistas a ladrões que se sentem à vontade para invadir residências mesmo com os moradores acordados e alertas. “Antigamente, para um ladrão roubar uma casa, ou ele entrava quando as pessoas estavam dormindo, ou quando não tinha ninguém”, pondera.
“Esse governo, do Bolsonaro, fez com que aquele sentimento de poder, de ‘eu quero, eu posso’, que estava adormecido, acordasse. Com isso, armou não só a questão da personalidade, mas também materialmente, com armas. Com isso, o ladrão não quer saber se a pessoa está dormindo ou se tem alguém em casa. Ele entra armado e rouba”, compara.
Ninuma compara a ação do ladrão de seu exemplo fictício aos criminosos ambientais, como garimpeiros e madeireiros. “Em gestões anteriores, tinha o Ibama [Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]. O pessoal tinha medo do Ibama. Tinham mais medo do Ibama do que da Polícia Federal porque era crime inafiançável e a detenção era certa”, diz.
“Desde o ‘descobrimento’ até hoje, estamos vivendo o maior lapso democrático da História do Brasil. Então, nós não fomos acostumados, não fomos ensinados a viver numa democracia”
Helso Ribeiro, analista político.
Segundo o ambientalista, ao assumir o governo, Bolsonaro “esvaziou a casa” (lembrando a analogia anterior, do ladrão) e ainda armou os bandidos. Para Ninuma, os criminosos ambientais estão sentindo agora que o novo governo vai não só ocupar a casa, mas vai também colocar um vigia lá.
“Quem tentar entrar na casa vai ser duramente punido. E, além do mais, está se retirando as armas. Então, eles ficaram todos revoltados. Então, aqueles que desmatam: o agronegócio, os madeireiros, os garimpeiros vão sentir um aperto forte para cima deles. Então, realmente existe uma preocupação dos ilegais com a atuação deste novo governo”, opina o ambientalista.
Para Ricardo Ninuma, a solução imediata para coibir os arroubos golpistas é mesmo a prisão. “Prende e tira ele de cena. Ninguém gosta de ser preso. Às vezes, as pessoas falam: ‘aplica uma multa’. Não vai pagar, vai enrolar, alegar que não tem dinheiro. Agora, prisão é prisão”, diz.
Mesmo desenhando um cenário não muito positivo para a democracia brasileira, o ambientalista não acredita que possa se instalar no Brasil um regime de exceção totalitário. “Eu particularmente não vejo nenhum indício de que possa surgir um regime totalitário aqui. O Brasil é muito forte. Está muito acima disso. O que eu vejo é que precisamos criar uma disciplina na escola de cultura ambiental”, conclui.
PELA DEMOCRACIA
No dia seguinte aos ataques de extremistas em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com os chefes do Judiciário e do Legislativo e juntos, de mãos dadas, caminharam pela Praça dos Três Poderes para reafirmar que se mantém o estado democrático de direito no País e que não há disposição de recuar. No mesmo sentido, manifestações populares foram realizadas em diversas cidades do País em defesa da democracia, mostrando que grande parcela da sociedade civil não corrobora com os objetivos golpistas.
Omissão e conivência
BRASÍLIA – O inquérito contra o governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PL) Anderson Torres apura eventual responsabilidade de autoridades nos atos golpistas que depredaram as sedes dos três Poderes no dia 8 de janeiro. A abertura da investigação foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Torres era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal (DF) no dia dos atos e havia viajado aos Estados Unidos. Além de Ibaneis e de Torres, serão investigados o ex-comandante-geral da Polícia Militar do DF Fábio Vieira e Fernando de Sousa Oliveira, que era secretário interino de Segurança Pública do Distrito Federal quando houve os atos de vandalismo.
A decisão do ministro foi tomada no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos que investigavam inicialmente condutas relacionadas às tentativas golpistas nas comemorações de 7 de Setembro.
Segundo Moraes, “a omissão e conivência de diversas autoridades da área de segurança e inteligência” foram demonstradas com “a ausência do necessário policiamento, em especial do Comando
de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal” e “a autorização para que mais de 100 ônibus ingressassem livremente em Brasília, sem qualquer acompanhamento policial, mesmo sendo fato notório que praticariam atos violentos e antidemocráticos”.
Ele também disse que houve “a total inércia no encerramento do acampamento criminoso na frente do QG do Exército, nesse Distrito Federal, mesmo quando patente que o local estava infestado de terroristas, que inclusive tiveram suas prisões temporárias e preventivas decretadas”.
ESTADO DE DEFESA
No dia 12 de janeiro, o jornal Folha de S. Paulo revelou que, durante operação de busca e apreensão na casa de Torres, a Polícia Federal encontrou no local uma minuta (proposta) de decreto para o então presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O objetivo, segundo o texto, era reverter o resultado da eleição, em que Lula saiu vencedor. Tal medida seria inconstitucional.
A PF vai investigar as circunstâncias da elaboração da proposta. Ele nega ser o autor da minuta e disse que uma pilha de documentos na sua casa iria ser triturada.
(*) Com informações da Folhapress
A Constituição Federal sendo erguida em uma das manifestações em favor da democracia, no dia seguinte aos ataques aos Três Poderes
“Esse governo, do Bolsonaro, fez com que aquele sentimento de poder, de ‘eu quero, eu posso’, que estava adormecido, acordasse. Com isso, armou não só a questão da personalidade, mas também materialmente, com armas”
Ricardo Nimuna, ambientalista.
Mentores intelectuais
A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 12 de janeiro, a abertura de inquérito para identificar os autores intelectuais dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.
Inicialmente, o pedido não incluía o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como um dos possíveis autores, mas após novo pedido da PGR que foi aceito pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, ele passou a ser um dos investigados. Bolsonaro emitiu publicamente durante
todo o seu mandato diversas falas incitando fechamento do Congresso Nacional e do STF e no dia 10 de janeiro publicou vídeo em suas redes sociais que tinha como tema o questionamento da regularidade das eleições 2022, o que pode agora ser caracterizado como motivação aos atos antidemocráticos.
A investigação também mira os financiadores, os executores dos atos e a responsabilidade de autoridades públicas.
A PGR adotou como linha de investigação a apuração das condutas omissiva (praticados por meio de conduta negativa,
por inação) e comissiva (cometidos de maneira positiva) dos investigados.
Segundo a Procuradoria da República, a medida vai permitir agilidade no processo, que também vai levar em conta postagens feitas nas redes sociais por pessoas que participaram dos atos.
A ideia é que sejam investigados aqueles que comunicaram ataques às urnas, insinuações de fraudes eleitorais, deslegitimação do processo eleitoral e ataques ao Supremo. É citado o autointitulado filósofo Olavo de Carvalho, morto em 2022 nos EUA, um dos maiores ideólogos do bolsonarismo.
‘O mundo espera o Brasil’
Mencius Melo – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – Uma semana antes da invasão de bolsonaristas extremistas aos Três Poderes, no dia 1º de janeiro, a cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi realizada sem intercorrências e com forte esquema de segurança. O evento foi marcado pelo discurso do presidente em defesa da democracia e repleto de simbolismos que exaltaram a diversidade do povo brasileiro e sua “entrada” nos espaços de poder.
Lula e seu vice Geraldo Alckmin (PSB) tomaram posse no Congresso Nacional, em cerimônia comandada pelo presidente do Congresso Nacional (CN), senador
Rodrigo Pacheco, na presença do 1° secretário do CN, Luciano Bivar, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) ministra Rosa Weber e o procurador-geral da República Augusto Aras.
A potência do País e a retomada de um Brasil de todos esteve nos diversos pontos destacados pelo presidente. “O mundo espera o Brasil. Vamos governar com a força do povo e as bênçãos de Deus e haveremos de reconstruir esse País. Muito obrigado”, disse Lula.
Em suas palavras, Lula agradeceu e reconheceu o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), “que soube nos guiar em um dos períodos mais obscuros do
nosso País e ajudou a fortalecer a nossa democracia”.
O presidente também ressaltou o relatório da equipe de transição de governo que, segundo ele, “mostra a destruição das políticas públicas”, “o desmonte da educação, da saúde, do meio ambiente, estatais e bancos públicos”, e que será enviado a ministros do Judiciário, senadores, deputados, universidades e sindicatos para que todos saibam a realidade do País.
Lula também falou sobre combate à fome e ao desemprego, retomada do portal da transparência, responsabilização de agentes públicos corruptos, e revogação de decreto de armas. “O povo brasileiro
“Vencemos uma fase aguda e obscura e digo: ditadura nunca mais. Democracia para sempre!” Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil.
“Vamos trazer o PAC de volta, fortalecer o BNDES e a Petrobras. Nossa meta é desmatamento zero porque não precisamos avançar sobre os nossos biomas para fortalecer nosso agronegócio, por isso, criei o Ministério dos Povos Originários, porque ninguém conhece mais nossas florestas do que os povos indígenas. A esse povo que estava aqui, desde os primórdios, temos uma dívida histórica e devemos pagar com respeito”, afirmou.
com deficiência, uma criança, um idoso, um homem negro, uma mulher branca e uma negra subiram a rampa com ele. A faixa foi de mão em mão e, ao final, a mulher negra a entregou ao presidente da República do Brasil.
não precisa de arma na mão, o povo brasileiro precisa de livros, de programas de combate à fome, de educação, de saúde, de ambiente saudável”, destacou.
DITADURA E DEMOCRACIA
Uma das mais aplaudidas falas de Lula foi quando exaltou a democracia. “O Brasil é grande demais. Apesar de criticada, a política é o melhor meio para dirimir dúvidas e gerar consensos entre as partes. Não respeitar a política é abrir caminho para a barbárie. É ir em direção à tirania. Vencemos uma fase aguda e obscura e digo: ditadura nunca mais. Democracia para sempre!”, emendou sob aplausos efusivos do Congresso.
Após a fala dirigida aos indígenas, Lula direcionou para a cultura e o povo negro. “Vamos refundar o Ministério da cultura e da Igualdade Racial. Vou recriar as políticas voltadas para as mulheres, no Ministério das Mulheres. Não é possível aceitar que uma mulher ganhe menos que um homem exercendo a mesma função. Vamos demolir o castelo secular da desigualdade com as mulheres. Isso é cidadania. Porque cidadania é o outro nome da democracia”, falou sob fortes aplausos.
MOMENTO HISTÓRICO
Ao subir a rampa do Palácio do Planalto, Lula recebeu a faixa de um grupo de cidadãos que representou o povo brasileiro. Um líder indígena, uma pessoa
O gesto que também remete à diversidade emocionou o presidente e muitos foram às lágrimas com o simbolismo de uma cena que já entrou para os anais da história do Brasil. A multidão à frente do palácio ovacionou o presidente eleito e empossado. Aline Sousa, de 33 anos, foi a mulher que entregou a faixa. Ela é catadora desde os quatorze anos. Em seguida, o hino nacional foi executado e uma grande bandeira do Brasil se abriu sobre a multidão.
Em seu discurso no parlatório, para uma multidão, Lula agradeceu o acampamento “Lula Livre”, durante os mais de 500 dias em que ficou preso e afirmou que “a ninguém interessa um País dividido” e que vai “governar para todos e todas”. “Chega de ódios, fake news, guerras e bombas. Não existem dois ‘brasis’. Somos um só País. Uma só Nação. E ainda que nos arranquem todas as flores, a primavera há de chegar e ela chegou”, falou.
Posse de Lula foi marcada por discurso em defesa da democracia e simbolismos que exaltaram diversidade do povo brasileiroLula subiu a rampa do Palácio do Planalto com um grupo de pessoas que representou a diversidade do País. A catadora Aline Souza entregou a Lula a faixa presidencial que passou pelas mãos de todos do grupo Crédito: Tomaz Silva Ag Brasil
MANAUS (AM) – O governador do Amazonas, Wilson Lima (União), e o vice-governador, Tadeu de Souza (Avante), tomaram posse no dia 1° de janeiro de 2023, em cerimônia realizada no Teatro Amazonas, um dos principais cartões-postais da cidade. Durante a solenidade, o chefe de Estado anunciou a ampliação dos programas “Auxílio Estadual Permanente” e “Prato Cheio”, como ferramentas que vão potencializar as ações de combate à fome. Wilson Lima foi reeleito em 2022, com 56,66% (1.004.420) dos votos válidos.
Perfil de Wilson Lima
Nascido em Santarém, no Pará, Wilson Lima, 46 anos, já atuou como assessor técnico da Secretaria de Turismo da Prefeitura de Itaituba/PA, foi locutor comercial e apresentador de um programa jornalístico também no Estado de origem.
Em 2006, veio para Manaus, cursou Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, trabalhou em rádio e apresentou programa de notícias em
uma emissora local, atuando, ainda, como mestre de cerimônia na Prefeitura de Manaus.
Em 2018, filiado ao (PSC), Wilson Lima foi eleito governador do Amazonas também em segundo turno, recebendo 1.033.950 votos, 58,50% dos votos válidos, vencendo o então adversário Amazonino Mendes (PDT), que teve 733.366 votos (41,50%).
“Em relação às metas que nós estamos estabelecendo para o próximo mandato, para programa social e geração de emprego e renda, vamos ampliar o nosso ‘Auxílio Estadual Permanente’ para mais 50 mil famílias nesse ano de 2023 e ampliaremos a quantidade de restaurantes populares no
Estado do Amazonas. Quando eu assumi o governo, eram sete, hoje são 44 e nos próximos quatro anos nós entregaremos 41 restaurantes populares”, informou Wilson.
O governador relembrou ainda a trajetória ao segundo mandato. “Serei não só o governador de quem votou em mim,
mas de todos os amazonenses (…) Há exatos quatro anos, estava aqui, vivendo este momento, pela primeira vez. Hoje, eu volto e sou um homem diferente, sem dúvida. Ao longo desse primeiro mandato tivemos descobertas incríveis, aprendizados difíceis de serem medidos, grandes alegrias, tristezas enormes, erros e muitos acertos”, declarou Wilson.
SOLENIDADE
Tadeu de Souza
Natural de Manaus, o procurador Tadeu de Souza (Avante) passou parte da infância no município de Manacapuru, retornando para Manaus na década de 1980. Ele realizou os estudos do Ensino Médio na Fundação Mathias Machline, antes de ser aprovado no vestibular de Direito da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Foi servidor da Justiça Federal do Amazonas antes de ingressar na Procuradoria-Geral do Estado, após aprovação em concurso público, em 2004. Atuava no contencioso tributário e na cobrança da taxa de dívida ativa antes de ser nomeado procurador-geral do Estado, na gestão do governador interino David Almeida (Avante), em 2017. Foi nessa época que passou a ser o homem de confiança de David.
À esquerda, Taina Lima, primeira-dama, ao lado de Wilson Lima, governador, Tadeu de Souza, vice-governador, e a esposa Jade Amorim
A solenidade de posse foi conduzida pelo presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), deputado estadual Roberto Cidade (União). O rito de posse está previsto na Constituição do Estado do Amazonas. Segundo o Artigo 50, o governador do Estado e o vice-governador devem tomar posse, perante Assembleia Legislativa, no dia 1° de janeiro do ano subsequente ao da eleição, prestando o compromisso de “manter, defender e cumprir as Constituições da República e do Estado, observar as leis, preservar a cultura e os valores amazônicos e promover o bem geral do povo amazonense”.
Secretariado mantido
Da Revista Cenarium*
No dia 2 de janeiro, o governador do Amazonas, Wilson Lima, nomeou a primeira lista com nomes que vão compor seu secretariado neste segundo mandato. Das 67 estruturas governamentais, Lima divulgou 41 dirigentes que fizeram parte do primeiro mandato e continuam nos cargos nesta segunda gestão. Segundo o governador, as nomeações têm o objetivo de dar seguimento a projetos e ações em execução.
Entre os secretários mantidos estão os de áreas consideradas “sensíveis” pelo governador. Na Secretaria de Fazenda permanece Alex Del Giglio; na Administração e Gestão, Fabrício Barbosa; e na Secretaria de Saúde, Anoar Abdul Samad. Também continuam Kuka Chaves, na Educação, e Marcos Apolo Muniz, na Cultura. A Segurança Pública segue comandada pelo general Carlos Alberto Mansur. (*) Com informações da assessoria
Governador do Amazonas, Wilson Lima, durante cerimônia de posse Ao tomar posse, governador do AM, Wilson Lima, anuncia ampliação de programas sociais Gabriel Abreu – Da Revista CenariumDesenvolver e preservar
Meio ambiente, fome e educação: desafios para o segundo mandato de Helder Barbalho, no Pará Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Pará encerrou o ano de 2022 sendo líder em derrubada de floresta entre os nove Estados da Amazônia Legal. Além disso, domicílios com insegurança alimentar e baixas condições educacionais nas zonas rurais estão entre os desafios que devem ser enfrentados pelo governador reeleito Helder Barbalho (MDB) para os próximos quatro anos.
Durante suas cerimônias de posse, que ocorreram entre os dias 1º e 3 de janeiro, em quatro municípios do Pará, Barbalho fez um balanço das metas alcançadas no primeiro mandato. “Sempre orientei que a
saúde fiscal não pode representar sacrifício para sociedade. Tem que ser instrumento alavancador para o Estado entregar o que propõe. Estamos entregando o primeiro mandato com investimentos recordes da ordem de R$ 12 bilhões, significando 16% de nosso orçamento”, ressaltou Helder.
Destaque nacional por ser o governador mais votado do País, eleito em primeiro turno com 70% dos votos válidos, Helder também assume, em 2023, o cargo de presidente do Consórcio de Governadores da Amazônia Legal, escolhido de forma unânime em votação feita com os demais governadores.
Durante cerimônia realizada em Marabá, Sudoeste do Pará, Helder destacou o apoio ao produtor rural, pecuária e agricultura, mas deixou claro que não permitirá crimes ambientais. “Nós não aceitaremos e não pactuaremos com crimes ambientais. Quem produz dentro da lei terá o apoio incondicionalmente, quem continuar a desafiar a lei, terá a força do Estado na fiscalização, monitoramento e controle. Isto é determinante para proteger a Amazônia”, disse.
MEIO AMBIENTE
Na COP27, Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para mudanças climáticas, que ocorreu em Sharm el-Sheikh, no Egito, e contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Helder participou como representante do consórcio, antes mesmo de ser eleito presidente, e apresentou uma carta de compromisso comum de transição climática para a Amazônia, assinada pelos nove governadores dos Estados que compõem a região.
“Esse é um momento especial para reafirmar o compromisso do nosso Estado no impulsionamento desta nova vocação, que é a bioeconomia. Estamos considerando o conhecimento, a ciência, a tecnologia e o saber dos nossos ancestrais, mas, por outro lado, construindo o financiamento público subsidiado para estimular negócios verdes”, ressaltou o governador do Pará.
Helder pontuou que a conciliação da tradição com a inovação é um desafio enfrentado pelos governadores da Amazônia, que precisam lidar com pessoas e com a floresta viva, principais pilares da região. Barbalho ainda aproveitou a ocasião para lançar o Plano de Bioeconomia do Pará, que visa gerar receita de R$ 129 milhões até 2040, e propôs que a COP30 seja realizada em algum Estado da Amazônia em 2025.
O aceno de Helder às políticas ambientais tem como principal norte, a redução do desmatamento. O Estado registrou baixa de 21% no desflorestamento entre agosto de 2021 e julho de 2022, e agosto de 2020 e julho de 2021, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mas segue sendo o líder de desmate, com 3.858 quilômetros quadrados de florestas paraenses derrubadas ao total.
“Esse é um momento especial para reafirmar o compromisso do nosso Estado no impulsionamento desta nova vocação, que é a bioeconomia. Estamos considerando o conhecimento, a ciência, a tecnologia e o saber dos nossos ancestrais” Helder Barbalho, governador do Pará.
INSEGURANÇA ALIMENTAR
O acesso à alimentação também sofre com diferenças sociais. A insegurança alimentar mede o nível de privação nutricional de uma sociedade. Dados divulgados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan) mostram que mais da metade do País está em algum nível de insegurança alimentar, tendo índices mais graves na Região Norte, com 18% das pessoas passando fome.
Educação
O Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Pará divulgou, em julho de 2022, um balanço sobre visitas realizadas em escolas públicas nas zonas rurais, que apontavam para problemas de infraestrutura, logística e jornadas exaustivas para professores e alunos.
Em entrevista a um veículo de comunicação, o governador afirmou que a educação será seu principal foco nos próximos quatro anos, em busca de melhorar os índices de desenvolvimento da educação básica, reduzir os abismos educacionais criados pela pandemia da Covid-19 e ampliar o número de escolas em tempo integral.
“Nesses últimos quatro anos dobramos o número de escolas em tempo integral, e nossa meta era chegar a 80, no Pará, mas após conversar com o novo secretário de Educação, vamos avançar para a meta de 200 escolas”, afirmou Barbalho.
O Estado do Pará possui o pior vetor da região, com 61,2% dos domicílios em insegurança alimentar, apesar de boa recuperação de investimentos e do crescimento da colaboração do Estado para o Produto Interno Bruto (PIB).
A Câmara Intersecretarial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan) divulgou, em novembro de 2022, o 3º Plano Estadual de Segurança Alimentar Nutricional e Sustentável (Pesans-PA) 2020-2023, elaborado pelas secretarias
e órgãos, para assegurar a segurança alimentar do Estado.
“O que nos importa é pensar em unir forças e parcerias para executar a Política de Segurança Alimentar de forma positiva e constante”, destacou a diretora da Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Sestaser), Nazaré Costa, ao fazer balanço do programa. De acordo com ela, quando iniciaram a gestão, apenas 14 municípios executavam o Programa de Aquisição de Alimentos, depois 61 e finalizaram 2022 com 104 municípios.
Helder Barbalho (MDB), governador reeleito no Pará, durante cerimônia de posse em Marabá Indígenas participaram da posse do governador Helder Barbalho, no Pará Helder Barbalho entrega carta do Consórcio Amazônia ao presidente Lula na COP27 Crédito: Ag Pará Crédito: Ricardo StuckertAmazônia Legal: novos mandatos começam
Diálogo com governo federal, foco na educação, saúde e combate à pobreza estiveram presentes em discursos de posse de governadores
Gabriel Abreu – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – Oito dos nove governadores dos Estados que compõem a Amazônia Legal foram reeleitos e iniciaram, no dia 1º de janeiro deste ano, seus segundos mandatos. Na tônica dos discursos de posse, estiveram presentes palavras que destacaram a necessidade de diálogo com o governo federal: o combate à pobreza e investimentos com focos em áreas como saúde e educação. Apenas no Amapá, o governador eleito dá início ao primeiro mandato. Quatro governadores tomaram posse de manhã e outros cinco à tarde no dia 1º.
AMAPÁ
O governador eleito do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade), de 50 anos, tomou posse durante as primeiras horas do dia 1° de janeiro, como governador do Estado, em cerimônia realizada na Assembleia Legislativa do Amapá (Alap). O governador empossado destacou, em seu discurso, que precisa do apoio da população para a realização de mudanças que almeja realizar na estrutura governamental.
“Reafirmamos os pontos como saúde, educação emancipadora, desenvolvimento e geração de renda, segurança pública e o combate à fome e à pobreza. Agradeço a todos que, de alguma forma, nos ajudaram a chegar até aqui. Peço aos amapaenses que nos ajudem a mudar o nosso Estado. Não é uma obra de um homem e governador só, e sim de uma sociedade”, afirmou o governador.
ACRE
O governador reeleito do Acre, Gladson Cameli (PP), e sua vice, Mailza Assis (PP), foram empossados no fim da tarde, às 18h, em sessão na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac). Em seguida, seguiram para o Palácio Rio Branco, onde fizeram seu pronunciamento, receberam a faixa e também empossaram os novos secretários.
AMAZONAS
O presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), deputado estadual Roberto Cidade (União), deu posse ao governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima (União), e ao vice-governador,
Tadeu de Souza (Avante). Na solenidade realizada no Teatro Amazonas, Wilson Lima ressaltou a ampliação de programas sociais de combate à fome e disse que governará para todos.
MATO GROSSO
O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União), e o vice, Otaviano Pivetta, foram empossados no final da tarde, na sede da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). Mauro Mendes é o 56° governador do Estado, conquistando a cadeira de comandante do Palácio Paiaguás.
MARANHÃO
No Maranhão, Carlos Brandão (PSB) e Felipe Camarão (PT), respectivamente, governador e vice-governador, tomaram posse durante sessão solene que aconteceu no plenário Nagib Haickel, na Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema), em São Luís.
O governador afirmou que a principal bandeira do seu governo será a educação. Brandão reforçou que o Estado deve
ampliar os investimentos na infraestrutura, nas áreas sociais e na segurança alimentar.
“O nosso governo é de continuidade, mas com avanços. Naturalmente, ainda tem muita coisa para ser feita, mas nós temos que seguir fortalecendo a educação. A educação é a única maneira da gente mudar a vida das pessoas. Precisamos também investir na infraestrutura, no social, na segurança alimentar. Em todas as áreas precisamos ampliar. Educação, eu diria, será o carro-chefe da nossa gestão, mas sem esquecer as demais áreas”, afirmou o governador.
PARÁ
No Pará, o governador reeleito, Helder Barbalho (MDB), e sua vice, Hanna Ghassan, tomaram posse, oficialmente, durante cerimônia, no plenário da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), em Belém. Helder Barbalho afirmou, no seu primeiro discurso como governador reeleito, que o Pará não pode mais “permitir que ilegalidade ambiental seja prática de costume e da cultura do uso da terra”.
“Sabemos que este modelo incrementado nos anos iniciais de nossa gestão avançou o Estado do Pará ao protagonismo nacional e internacional. Não podemos recuar, pois o mundo nos olha. O mundo aprecia aqueles que estão dispostos a liderar esse novo modelo”, afirmou Barbalho.
RONDÔNIA
Reeleito para segundo mandato à frente do Poder Executivo de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (União) tomou posse ao lado do vice-governador Sérgio Gonçalves. A cerimônia foi realizada no Teatro Palácio das Artes, em Porto Velho.
Marcos Rocha nasceu no Rio de Janeiro e se mudou para Rondônia quando tinha 21 anos. Atualmente, com 54 anos, ele tem quatro filhos e é casado com Luana Oliveira Santos.
RORAIMA
Antonio Denarium (Progressistas) e Edilson Damião (Republicanos), respectivamente, governador e vice, tomaram posse em uma solenidade na Assembleia
Legislativa de Roraima (Alerr), no final da tarde do dia 1º e, às 19h, participaram de uma cerimônia simbólica onde Denarium recebeu a faixa de governador na esplanada do Palácio Senador Hélio Campos, sede do Executivo estadual.
TOCANTINS
No Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos) tomou posse, ainda pela manhã, para o segundo mandato, durante sessão solene no plenário da Assembleia Legislativa do Estado (Aleto). Ele prestou juramento à Constituição e assinou termo de posse com o vice, Laurez Moreira (PDT).
“Eu queria dizer aos senhores que nós compreendemos as razões ideológicas, mas não comungamos com todas elas. Eu votei em um candidato a presidente, mas eu tenho que conviver e conviver bem com o escolhido pela maioria dos brasileiros. Eu não quero e não vou prejudicar o Estado do Tocantins e os tocantinenses por falta de boa convivência. Vou continuar batendo à porta de todos”, afirmou o governador, durante o discurso.
Dos nove governadores da Amazônia Legal, oito foram reeleitos para um segundo mandatoManaus tem reforço para Educação
MANAUS (AM) – A Prefeitura de Manaus terá um orçamento 19% maior em 2023, em comparação ao de 2022 (R$ 7,1 bilhões). Serão R$ 8,5 bilhões para aplicar nas melhorias à cidade, conforme a Lei Orçamentária Anual (LOA), aprovada no dia 16 de dezembro do ano passado, pela Câmara Municipal de Manaus (CMM).
Junto com a proposta encaminhada pelo prefeito David Almeida, os vereadores também aprovaram 240 emendas impositivas, com destinação às mais diferentes áreas da administração pública.
Entre as prioridades da atual gestão estão recursos para a continuidade dos investimentos estruturantes nas áreas essenciais, como saúde, educação, assistência social e infraestrutura, pasta na qual está previsto o início de grandes obras neste ano.
Estão programadas, para 2023, obras de viadutos, construção de grandes parques e projetos voltados ao lazer e ao fomento do turismo na capital amazonense. Está previsto o início de obras como dos parques
Gigantes da Floresta, Encontro das Águas Rosa Almeida e de um mirante.
Conforme detalhamento da LOA 2023, a maioria dos recursos será para a área de educação (R$ 2,2 bilhões). O segundo maior volume de recursos é direcionado ao urbanismo (R$ 1,6 bilhão), seguido da saúde (R$ 1,5 bilhão), valor 19,5% maior que o definido na LOA que vigorou no ano de 2022.
RUAS ASFALTADAS
Por meio do programa “Asfalta Manaus”, a Prefeitura de Manaus concluiu mais uma rua no bairro Planalto, na zona Centro-Oeste da capital. Os serviços de recapeamento asfáltico contemplam a Rua Idelfonso Pinheiro, que há mais de 20 anos não recebia serviços de manutenção.
Toda ação é coordenada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), que atuou com o apoio de 20 trabalhadores para a aplicação de 70 toneladas de massa asfáltica em toda a extensão da via.
O superintendente da Seminf e fiscal da obra, engenheiro Ítalo Oliveira, destacou
Entre as prioridades da Prefeitura para 2023 está o investimento em ações voltadas à educação
+19%
Orçamento da Prefeitura de Manaus em 2023 será maior que o de 2022.
que a Prefeitura de Manaus vem mudando a história e a situação das ruas na cidade.
“Por meio do programa ‘Asfalta Manaus’, está sendo possível mudar a realidade que os moradores enfrentaram durante anos sem infraestrutura, na zona Centro-Oeste. Os trabalhos estão sendo intensificados, gradativamente, assim como em todas as zonas da cidade, essa é a
determinação do prefeito David Almeida e o secretário de Obras, Renato Júnior, empregar a trafegabilidade e resgatar a felicidade e a esperança, no olhar da população”, afirmou Ítalo.
A moradora Renata Martins, 20, é nova no bairro e compartilha a felicidade em ver a rua asfaltada. “Eu me mudei recentemente para o bairro. Quando cheguei
aqui, vi a realidade precária do local que passaria os próximos anos da minha vida, muito buraco, asfalto nem existia de tanta cratera, mas, em poucos dias, a Prefeitura resgatou a minha esperança. Agora, é felicidade que não cabe no peito, na minha rua tem asfalto, tem Prefeitura. Obrigada, prefeito e secretário Renato Júnior”, disse.
(*) Com informações da Assessoria
Portas para vidas novas
PL de Roberto Cidade incentiva atuação da sociedade civil na realização de ações para o desenvolvimento social
Da Revista Cenarium*MANAUS (AM) – Aprovado pelo plenário da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), o Projeto de Lei (PL) N° 62/2022, de autoria do deputado Roberto Cidade (União), presidente da Casa, cria a “Política Estadual de Incentivo aos Cursos Sociais, Populares e Comunitários”, com objetivo de subsidiar as ações organizadas e realizadas por iniciativa da sociedade civil e destinadas à população carente.
De acordo com Cidade, o projeto tem o objetivo de melhorar a estrutura de atividades já existentes e, desta forma, aprimorar o aprendizado dos participantes e, consequentemente, da sociedade. A ideia é que o governo estadual, por meio de seus órgãos, auxilie no desenvolvimento de atividades com recursos, estrutura física e equipamentos para a realização de cursos voltados para o esporte, cultura, apoio educacional e incentivo ao mercado de trabalho.
“Os cursos sociais são fundamentais para gerar oportunidades aos moradores de comunidades carentes, que, infelizmente, muitas vezes, não conse-
guem acessar essas oportunidades por vias públicas ou privadas. É justo que o Estado auxilie a sociedade civil a realizar um papel tão importante e que contribui para a melhoria da sociedade. O PL visa a melhorar, desburocratizar, para que a população possa ser mais assistida”, disse Cidade.
Até o fechamento desta edição, o PL aguardava sanção governamental.
FOMENTO
Entende-se como curso social, popular e comunitário aquele organizado por iniciativa da sociedade civil, por meio de movimentos, coletivos, entidades, bem como outras organizações de caráter não oficial, que ofereçam cursos, oficinas, treinamentos ou aulas de reforço, regularmente, e sem finalidade econômica, direcionados para a comunidade. Tais como: pré-vestibulares; curso de informática; aulas de reforço escolar; oficinas de artes visuais, artes cênicas, artes marciais, dança ou música; treinamento desportivo, dentre outros.
Segundo o parlamentar, a Política Estadual de Incentivo aos Cursos Sociais, Populares e Comunitários tem como diretrizes o fomento à organização e constituição de cursos sociais, populares e comunitários; o incentivo à educação popular; o apoio e a formação continuada de professores e tutores voluntários; a integração entre a comunidade e a administração pública; além de propor o uso por parte da comunidade dos espaços públicos em dias e horários em que estejam ociosos.
“Esses cursos oferecem uma terceira via para aquela parcela da população que se sente excluída de oportunidades, tanto na área social quanto na esportiva, e mesmo relacionadas ao mercado de trabalho. Temos de incentivar aqueles que atuam nessas lacunas existentes na nossa sociedade, para que possam continuar incentivando no desenvolvimento social. Isso é de vital importância para as comunidades, para a população e, a nós, Legislativo e Executivo, cabe auxiliar nessas ações”, reforçou.
(*) Com informações da assessoria
CRÔNICAS DO COTIDIANO: “A flecha do tempo”
Quando Isaac Newton (1643-1727) deu vida científica à Física, promoveu a divisão do conhecimento em dois mundos: o das ciências da natureza, fundamentadas nos modelos matemáticos; e abriu caminho para as ciências do homem, fundadas nas subjetividades. A primeira ocupou o espaço das certezas e a segunda, o das possibilidades.
Os tempos são outros. “Não existe mais o abismo entre as ciências exatas, que falariam de certezas, e as ciências inexatas, que tratariam das possibilidades. É claro que a existência de uma flecha do tempo comum é apenas uma condição necessária consistente” (Ciência, Razão e Paixão, Editora Livraria da Física, 2009, p.32).
E quem nos diz isso? Um dos maiores articuladores da ciência contemporânea, o físico-químico Ilya Prigogine (1917-2003), Nobel de Química, em 1977, por seus estudos e formulação das Teorias Dissipativas e que, generosamente, as usou como pontes interdisciplinares, não só com as ciências da natureza, mas, também, dessas com as ciências humanas, dando força a uma nova compreensão das problemáticas que se apresentam como desafio no final do século XX e clamam por uma aceitação na atualidade. E o que isso tem de significativo, além de um saudável papo acadêmico sobre a metodologia das ciências? É que os tempos são tempos de transição, de “bifurcações” e de “flutuações”; e as ciências servem para ajudar na compreensão e solução do que nos aflige.
Na Segunda Grande Guerra, o mundo defrontou-se com os seus monstros: a
luta econômica pelos mercados; o grau mais alto do colonialismo como modo de extrair riquezas explorando povos e territórios; o supremacismo racial; a imposição do eurocentrismo como modelo de aspiração e progresso dos povos; e o confronto disruptivo das ideologias. O ocidentalismo, como modelo de vida, de produção de conhecimento e de cultura, é obrigado, depois da barbárie do nazifascismo e do stalinismo – dos quais quase todos foram vítimas -, a enfrentar novas bifurcações e novas flutuações que as teorias começam a explicar, tanto para o que acontece na natureza quanto nas sociedades e na cultura, tendo como pano de fundo as novas tecnologias voltadas para a produção de mercadorias e de comunicação, estruturantes da sociedade pós-moderna.
A irreversibilidade aos modelos societários de antigamente constatada só comprovou a eficácia do caos, contrariamente pensado como fim dos tempos, e, agora, em sua entranha sistêmica e complexa, um gerador de incertezas e de um novo mundo, que ainda está sendo trabalhado. A história não acabou, a flecha do tempo nos leva a outras contingências e enfrentamentos que a vida passa a exigir, o que nos obriga a repensar os nossos posicionamentos frente à natureza e aos padrões econômicos, sociopolíticos e culturais, o que envolve o consumo, os costumes, as religiões e as ideologias.
Os determinismos estão em dissenso e a energia quântica nos envolve, apontando para outros possíveis consensos que
podem redundar em benefícios para todos, já que parecem ser parte desse contexto de organização sistêmica: as globalizações. Flutuam, no entanto, as formas como esses novos elementos que se destacam podem se reorganizar e produzir efeitos mais positivos.
E foi Prigogine, na sua imaginação de filósofo da ciência e na maturidade de seu pensamento interdisciplinar sobre as complexidades dos problemas sociais mais cruciantes, que nos apontou o que chamou de algumas “interconexões interessantes”. Dentre elas, destaca: “combater as desigualdades, privilegiar uma visão multicultural, favorecer a participação de todos na cultura, facilitar o contato de cada um com a natureza. Em todo o caso, o que é certo, hoje, é a necessidade de uma política de religação, de solidariedade entre os homens entre si e com a natureza” (PRIGOGINE, obra citada, p. 42-43).
O momento nacional brasileiro, como parte desse caos onde se gesta um novo tempo, pode espelhar-se bem nessas recomendações que a nova ciência nos propõe e desdobrá-las em pautas acordadas de ações que sejam firmes e, ao mesmo tempo, acompanhem essa flecha do tempo que nos empurra para o encontro dos mundos que não podem mais conviver separados.
(*) Jornalista Profissional, graduado pela Universidade do Amazonas; doutor em Ciências da Comunicação, pela Universidade de São Paulo; professor Emérito da Universidade Federal do Amazonas.
‘Otimismo e esperança’
Sentimentos representam desejos de 76% dos brasileiros para o ano de 2023, aponta pesquisa
Mencius Melo – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – Brasileiros e brasileiras têm 76% de ‘otimismo e esperança’ no novo ano que se aproxima. É o que diz a pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Dados do ‘Observatório Febraban e Radar Febraban’ apontam que, em todas as camadas sociodemográficas analisadas, a soma de sentimentos positivos em relação a 2023 passa de 70%, chegando a 85% entre os jovens de 18 a 24 anos e a 79% entre as mulheres. Os pessimistas somam 23%.
A pesquisa foi realizada entre os dias 29 de novembro e 5 de dezembro de 2022, com 3 mil pessoas, nas cinco regiões do País, e apontou, ainda, outros sentimentos da população. A “esperança”, por exemplo, desponta como o sentimento mais citado, com 38% das menções. A “alegria” é o segundo sentimento mais citado, 19%. A “confiança” figura como terceiro sentimento predominante, 13% e, finalmente, “tranquilidade” e “orgulho” são apontados por 4 e 2% dos entrevistados, respectivamente.
A economista Denise Kassama acredita que o novo ano trará mudanças significativas e para melhor. “Estou com muito otimismo e esperança. Estou representada nesses números”, declarou com humor. “Acho que muito dessa positividade vem da posse do Governo Lula. A gente sabe que será um governo com mais foco no social e no combate ao desemprego e na distribuição de renda. Ele tem propostas
majoritariamente voltadas para as camadas mais baixas da população”, destacou.
JOVENS
Para Kassama, Lula irá focar nos jovens e nas mulheres. “O desemprego atinge, majoritariamente, as camadas mais jovens da população. E ele deve criar políticas para geração de emprego, que é o que faz a roda da economia girar. Gente empregada é gente com renda e renda gera consumo e consumo gera riqueza. Dinheiro estimula o comércio e o comércio estimula a indústria”, detalhou.
“Outro público que, provavelmente, será impactado é o das mulheres. Lula sabe do papel ativo das mulheres na sociedade e, principalmente, na economia”, analisou.
No mesmo sentido, a tributarista Djane Sena avalia que muito dos números da pesquisa é resultado da confiança que a população tem nas políticas sociais e econômicas do novo presidente. “O Brasil, realmente, experimentou um grande crescimento no poder de compra dos brasileiros durante a era Lula e parte do Governo Dilma. Essas lembranças animam a população, de forma geral, e ajudam o governo a ter segurança de aplicar projetos sem ter que temer reações adversas do mercado”, afirmou.
“Na verdade, o mercado nem deveria ter esse temor porque, de fato, os bancos tiveram lucros recordes durante o Governo Lula”, relembrou Djane Senna.
Para economistas e tributaristas, o otimismo vem da experiência do novo governo e das propostas de políticas economicamente inclusivas
Mesmo esperançosa, ela tem reservas. “Acredito em novos tempos, mas, não podemos esquecer que os estragos provocados pelo Governo Bolsonaro são enormes. Isso obrigou, por exemplo, Lula a criar mais ministérios e mais ministérios significa mais gastos com a máquina pública”, ponderou a tributarista.
PESSIMISMO
A pesquisa também elencou números que estão na outra ponta do trabalho levantado pelo “Observatório Febraban e Radar Febraban”. São brasileiros e brasileiras que não acreditam em melhorias substanciais, com o novo governo, para 2023. A “desconfiança” é o sentimento mais citado,
mas por apenas 8%. O “medo” aparece em segundo lugar, com 7% de menções. A “tristeza” é o sentimento citado por 5% do total dos entrevistados.
Mesmo com a presença dos números que mostram pessimismo, a tendência também é de otimismo quanto à recuperação da situação financeira após a pandemia, que estagnou boa parte do mercado. Entre os entrevistados, 60% percebem que a economia está se recuperando, enquanto 23% vislumbram essa recuperação só depois desse ano. Outros 9% são os que avaliam que sua situação financeira não foi afetada, e os mais pessimistas, que não vislumbram recuperação, somam 3%.
Antônio Lavareda, sociólogo, cientista político e presidente do Conselho Científico do Ipespe.
Família
As expectativas também são favoráveis no quesito vida pessoal e familiar para 2023. Entre os entrevistados, 74% acreditam que sua vida irá melhorar no novo ano. Outros 11% imaginam que não haverá mudanças e 10% são mais pessimistas e acreditam numa piora. Finanças é o primeiro tema, com mais chances de melhorar, em 2023, com 36%. Em segundo, vem a saúde física, com 28%. A saúde mental vem em terceiro com 26%. Trabalho ou emprego tem 23%. Relações interpessoais com 16%. Lazer e entretenimento têm 12% das menções e moradia com 10% dos respondentes.
“O Observatório Febraban mostra que a esperança é o principal sentimento em relação ao ano novo, sobretudo, entre as mulheres. Também aponta perspectivas otimistas quanto à queda do desemprego, aumento do acesso ao crédito e do poder de compra, acompanhados de uma atitude cautelosa em relação à taxa de juros e inflação/custo de vida”, observou o sociólogo e cientista político Antônio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipesp).
“O Observatório Febraban mostra que a esperança é o principal sentimento em relação ao ano novo, sobretudo, entre as mulheres.”
Vigilância on-line
Instituto lança portal sobre desmatamento na Amazônia a partir de ações judiciais
Mencius Melo – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – O Portal JusAmazônia é uma nova ferramenta de mapeamento on-line sobre os processos jurídicos voltados para o combate ao desmatamento na Amazônia Legal. Lançado em 16 de dezembro de 2022, na plataforma YouTube, no canal IDS, o portal reúne informações sobre as ações civis públicas ambientais e leva a assinatura do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). Os dados podem ser acessados gratuitamente.
No portal é possível ter acesso a informações no âmbito das demandas jurídicas. Só nos últimos dez anos, foram quase 6 mil ações civis públicas movidas por conta de desmatamento ilegal na Região Amazônica. Das ações, apenas 1.272 (22%) tiveram alguma sentença. Entre os Estados que compõem a Amazônia Legal, Roraima é o que acumula um déficit jurídico considerável, com 44,8% dos processos parados há mais de 720 dias. São dois anos sem movimentação processual.
Em entrevista para a REVISTA CENARIUM, André Lima, advogado e consultor sênior de Política e Direito Socioambiental do IDS, idealizador e coordenador do Portal JusAmazonia, explicou a motivação de criação do portal. “Ele nasce da necessidade de entender e analisar, com base em dados atuais e oficiais, o papel e o desempenho do judiciário brasileiro e de seus operadores em temas relacionados aos desmatamentos ilegais na Amazônia”, detalha o advogado.
COMPROMISSO
De acordo com o profissional, o País que detém a maior parte do bioma Amazônia tem metas a alcançar. “O Brasil assumiu compromisso e metas de zerar o desmatamento na Amazônia e em outros biomas até 2030. Para isso, precisamos ter um Judiciário presente, eficiente, eficaz e que, de fato, responsabilize os autores de crimes e infrações ambientais, inclusive, no âmbito da reparação do dano ocorrido na Floresta Amazônica. O portal garante
que pesquisadores tenham acesso a esses dados”, detalhou.
POSITIVO
Segundo os dados do JusAmazônia, o Estado que concentra números animadores é o Amazonas, cujo dados se destacam positivamente, com 77,5% dos processos com alguma movimentação nos últimos 90 dias. Esses dados são resultados do trabalho do JusAmazônia.
André destacou a estrutura que resultou na construção do portal. “Destaco o papel do Imazon, do Jusbrasil e da empresa Jusmanager, junto com o Fundo da Noruega e o IDS. Juntos estamos desenvolvendo esse projeto e, vale frisar, tem apoio financeiro do programa de Mudanças Climáticas e Florestas da Noruega”, destacou.
Com a pressão sobre a floresta, aumentaram as buscas por respostas por parte do Judiciário. A demanda pode ser avaliada nos dados. O número de processos sobre desmatamento ilegal, em andamento, nos Estados da Amazônia Legal, saltou de 2,4 mil, em 2018, para os atuais 6 mil, um aumento expressivo de 250%. Mesmo com a alta demanda, o reflexo das decisões, ou mesmo movimentações, não corresponde ao desempenho. Apenas um terço das áreas identificadas de desmatamento acima de 50 hectares foi alvo de ações civis públicas.
No Pará, onde a pressão sobre a floresta figura entre as mais altas da região, foram constatados 5.552 focos de desmatamento acima de 50 hectares, porém, há registros de apenas 1.405 ações civis públicas. No Estado do Amazonas, por sua vez, mais da metade dessas áreas desmatadas é alvo de ações civis: são 2.161 polígonos de desmatamento e 1.223 processos na Justiça.
“O Brasil assumiu compromisso e metas de zerar o desmatamento na Amazônia e em outros biomas até 2030. Para isso, precisamos ter um Judiciário presente, eficiente.”
André Lima, advogado e consultor sênior de Política e Direito Socioambiental do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).
Concentração
Na ferramenta lançada pelo IDS é possível obter informações gerais e abrangentes sobre os índices de ações jurídicas de combate aos desmatamentos. Um dado interessante é sobre os Estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso e Roraima. Juntos, eles são responsáveis por 87% do desmatamento na Amazônia Legal e concentram 97% das ações civis públicas registradas entre 2017 e 2022. Esses e outros números, além das íntegras dos processos, podem ser acompanhados em tempo real no Portal JusAmazônia.
O portal reúne dados atualizados sobre os andamentos de processos de crimes de desmatamento nos tribunais de Justiça da Amazônia Legal André Lima, idealizador do portal JusAmazônia, acredita que o acesso a dados do Judiciário podem contribuir com a democracia e a sustentabilidade no BrasilPlantar originário
Estados da Amazônia concentram a maior faixa de agricultores indígenas do País, aponta estudo
Mencius Melo – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou recente estudo sobre as produções agropecuárias e extrativistas, segundo os grupos de cor ou raça de seus produtores. O Censo Agro 2017 fez um recorte sobre as populações indígenas e apontou que os maiores percentuais de produtores indígenas estão nas regiões Norte (5,0%) e Centro-Oeste (1,29%). Roraima (33,63%), Amazonas (20,43%), Amapá (10,96%), Acre (6,09%) e Mato
Grosso do Sul (4,52%) detêm os maiores números de produtores indígenas.
O Censo apontou recortes territoriais específicos sobre as terras indígenas distribuídas pelo País afora e para Unidades de Conservação – Reservas Extrativistas (Resex), Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e as Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais. Para Marta Antunes, do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais, o estudo aponta a família como elo produtivo. “Isso se dá, princi-
palmente, nos estabelecimentos dedicados ao autoconsumo. Nos estabelecimentos dirigidos por indígenas também encontramos maior diversidade de produtos, que ocasiona mais segurança alimentar para essas famílias”, explicou.
O levantamento do IBGE também demonstra que as atividades ligadas ao plantio e cultivo por parte das comunidades e famílias indígenas têm finalidades estabelecidas na necessidade do consumo. Em 67,08% dos estabelecimentos agrope-
88,01%
Dos estabelecimentos dirigidos por indígenas não utilizaram agrotóxicos, entre as populações pesquisadas pelo IBGE.
cuários, em terras indígenas, a finalidade principal da produção de horticultura é o consumo do produtor e seus familiares. Entre o total de estabelecimentos encontrados pelo Censo Agro 2017, esse percentual é menor (43,54%).
SAUDÁVEL E DIVERSO
Além de familiar, as culturas praticadas pelas comunidades indígenas são diversas e com maior grau de saudabilidade. Entre as populações pesquisadas, 88,01% dos estabelecimentos dirigidos por indígenas não utilizaram agrotóxicos. O percentual cai se observados nas demais populações, os pretos (76,86%), pardos (74,73%), amarelos (59,56%) e brancos (55,88%).
Os indígenas têm produção mais diversificada (43,24%), classificados como diversificados e muito diversificados, segundo a classificação de grau de especialização da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Conforme o técnico em agropecuária e antropólogo Alvatir Carolino, é interessante observar a pesquisa. “Interessante notar que o resultado aponta para o Norte porque, realmente, é no Norte do País que estão concentradas a maioria das populações indígenas”, detalhou. Alvatir também destaca que a complexidade da Amazônia impõe condições às populações indígenas. “É preciso entender a pesquisa sob as realidades impostas pela Amazônia e pela própria cultura desses povos. Existem povos que não veem a agricultura como nós vemos. Os Tariano têm suas roças, já os Gau preferem não ter”, observou.
“São complexidades, diversidades e sistemas desses povos, que nem a estatística geográfica dará conta de contabilizar a produção. Os Gau, os Makú, preferem
não ter roças próprias e o sistema agrícola é completamente diferente porque são povos que circulam em várias regiões do alto Rio Negro”, analisou. “Já os Mura, da aldeia Muraí, na área de Autazes, deixaram de criar bubalinos depois da demarcação de sua terra. E, agora, estão se voltando para o extrativismo florestal, a castanha e o babaçu”, contou Alvatir.
CULTURAL
O técnico explica que mesmo com a abundância do babaçu na região dos Mura, os próprios indígenas deste povo não sabiam, exatamente, como explorar o fruto. “Eles ouviram falar que os antigos trabalhavam o babaçu de tal forma, ou seja, foi preciso desenvolver pesquisa para encontrar as formas de aproveitamento do babaçu pelos Mura. Como eles estão, agora, na teia do mercado de consumo, o Ifam [Instituto Federal do Amazonas] está desenvolvendo técnicas para estabelecer produtos agroindustriais do babaçu, e assim tornar os Mura autossustentáveis no extrativismo”, adiantou.
Quanto a questão do uso de defensivos, Alvatir Carolino explica: “Como técnico e antropólogo, dialogamos com muitos povos sobre produção agrícola. Temos, via Ifam, o curso de Agroecologia, que orienta os povos indígenas que já vivem os fundamentos de uma sociedade de mercado
para manter distância da chamada agricultura convencional que usa adubação sintética e o uso de biocidas, pois assim há possibilidade de aumentar a produção com produtos orgânicos”, afirmou.
“Está provado que os produtos orgânicos detêm um poder de mercado enorme no Brasil, ainda mais quando trazem selos de segurança alimentar. Com essa perspectiva é possível aumentar, em muito, a produção. Para se ter uma ideia, os produtos orgânicos na cidade de Manaus chegam a ser 300% mais caros que os convencionais. Trazendo selo de certificação com dois valores agregados, o fato de ser orgânico e de vir de uma terra indígena, esses produtos ganham ainda mais um enorme valor de mercado”, salientou Alvatir.
Produção
A pesquisa do IBGE trouxe, ainda, dados sobre a produção e as culturas mais praticadas entre as populações originárias. Entre os produtos mais cultivados pelos indígenas, de acordo com o Censo Agro 2017, estão a pimenta, o cará e a batata-doce. Na lavoura temporária, os produtos mais presentes nos estabelecimentos dirigidos pelos indígenas são, em ordem decrescente, a mandioca, o milho em grão, o abacaxi e o feijão-fradinho.
Aslavouras indígenas são voltadas em quase sua totalidade para o consumo do produtor e sua famíliaO extrativismo é uma das práticas produtivas das populações indígenas e ganhou destaque na pesquisa do IBGE
Certificação inédita
REVISTA CENARIUM se torna primeira revista de notícias certificada com ISO 9001; norma visa consolidar jornalismo técnico
MANAUS (AM) – Com foco na qualidade da informação que busca oferecer aos seus leitores, a AGÊNCIA CENARIUM , que edita a REVISTA CENARIUM, conquistou a certificação internacional ISO 9001 e, agora, é a primeira revista eletrônica de notícias certificada, conforme registros da empresa Global Certification System (GCS).
A sigla ISO é a abreviação do conceito em inglês para International Organization for Standardization, que significa, em tradução livre, Organização Internacional de Padronização, uma entidade formada por 162 organismos de normalização. No Brasil, a ISO é representada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
A ISO 9001 tem validade em 121 países e pode ser definida como um sistema de gestão para garantir a otimização de processos e a maior agilidade na produção e no desenvolvimento de produtos a fim de satisfazer os clientes e alcançar o sucesso sustentado. Para atender aos requisitos da ISO, a revista criou sua própria política de qualidade, conforme descrito abaixo:
“A CENARIUM busca a melhoria contínua de seus serviços em comunicação, inovando conteúdo sobre a Amazônia, pautada no cenário local e nacional, trabalhando com responsabilidade, conquistando a satisfação dos seus clientes e colaboradores”.
A diretora-executiva da CENARIUM, jornalista Paula Litaiff, afirma que a certificação ISO 9001 leva à padronização de processos, aumentando a responsabilidade e o compromisso da empresa com o jornalismo profissional, pautado na técnica, assim como também diferencia o veículo de comunicação.
“A CENARIUM já possuía a preocupação com a qualidade do jornalismo e, agora, isso vai se intensificar com a certificação, buscando a melhoria contínua para oferecer produtos com a excelência ISO 9001”, afirma Litaiff, que relembrou o período de implantação da ISO. “Foram 18 meses de muito trabalho com criação de instruções de trabalho, manual de redação e outros padrões no processo administrativo da revista”.
EXCELÊNCIA
Para alcançar esse objetivo, a equipe da revista contou com a consultoria e treinamento da empresa Exithus, do economista Marcus Evangelista, presidente do Sindicato dos Economistas do Amazonas (Sindecon-AM), que se estendeu aos colaboradores de Manaus, aos representantes nos Estados da Amazônia e junto à sucursal de Brasília (DF).
Evangelista aponta que, entre outros benefícios empresariais da ISO 9001, estão a capacidade de prover consistentemente
O certificado da ISO 9001 alcança as edições on-line, digital e física da CENARIUM
produtos e serviços que atendam aos requisitos do cliente e aos requisitos estatutários e regulamentares aplicáveis; facilitar oportunidades para aumentar a satisfação do cliente; abordar riscos e oportunidades associados com seu contexto e objetivos; e a capacidade de demonstrar conformidade com requisitos especificados de sistema de gestão de qualidade.
“A empresa, de uma maneira geral, sai ganhando porque evita o retrabalho, começa a produzir com mais eficiência, e todos saem ganhando no final”, disse ele. “Então é um prêmio muito importante e a gente espera realmente que isso seja valorizado não só pelos clientes, pelos leitores, como também pelos próprios colaboradores”, explica Evangelista.
“A CENARIUM já possuía a preocupação
Novos desafios
O próximo passo da REVISTA CENARIUM é conquistar a ISO 14001, que atesta o desenvolvimento de uma estrutura para a proteção do meio ambiente e rápida resposta às mudanças das condições ambientais. A norma considera aspectos ambientais influenciados pela organização e outros passíveis de serem controlados por ela.
Marcus Evangelista, economista, responsável pela empresa Exithus,
prestou consultoria à CENARIUM.
“A empresa, de uma maneira geral, sai ganhando porque evita o retrabalho, começa a produzir com mais eficiência, e todos saem ganhando no final.”
queMarcela Leiros – Da Revista Cenarium O economista Marcus Evangelista, da Exithus
com a qualidade do jornalismo e, agora, isso vai se intensificar com a certificação, buscando a melhoria contínua para oferecer produtos com a excelência ISO 9001.”Paula Litaiff, diretora-executiva da CENARIUM.
‘Donas’ da Amazônia
Presença feminina em posições de liderança e nas várias etapas das cadeias extrativistas vem crescendo na região Valdeniza Vasques – Especial para a Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Cada vez mais as mulheres estão se tornando protagonistas de atividades que antes eram predominantemente masculinas - um movimento que vem provocando verdadeiras transformações na vida e cotidiano de populações amazônicas. Um exemplo é o avanço da presença feminina em postos de liderança e ao longo de todas as cadeias extrativistas na Amazônia.
“A gente costuma dizer que a mulher não é dona só do lar, nós também somos donas da terra e trabalhamos na proteção do território”. É assim que a líder indígena Shirley Arara, da Terra Indígena (TI) Igarapé Lourdes, em Rondônia, explica a
participação das mulheres na organização social das comunidades extrativistas tradicionais da Amazônia.
A comunidade de Shirley trabalha com a coleta e comercialização da castanha-da-amazônia e do açaí. Se antes essas cadeias de valor eram dominadas por homens, que realizavam desde a coleta até o beneficiamento desses produtos, hoje a presença feminina se tornou mais forte. Segundo Shirley, as mulheres são responsáveis por grande parte da produção extrativista na Terra Indígena Igarapé Lourdes.
Essa tendência de crescimento da presença feminina nas cadeias extrativistas se repete em outros locais, como no municí-
pio de Beruri, no Estado do Amazonas, que possui uma usina de beneficiamento de castanha-da-amazônia. Por lá, aproximadamente, 40% dos trabalhadores formais da usina são mulheres.
“Antigamente, as mulheres não eram envolvidas na cadeia. Elas cozinhavam, cuidavam dos filhos e da casa para que seus maridos entrassem nos castanhais enquanto elas faziam o trabalho doméstico. Essa realidade mudou. Hoje, as mulheres vendem a própria produção e querem ter acesso ao mercado também”, conta Sandra Amud, diretora presidente da Associação dos Agropecuários de Beruri (Assoab), organização que administra a usina de beneficiamento.
A Assoab adquire castanha in natura de 342 famílias coletoras da TI Itixi Mitari e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus. Desde 2015, Sandra está à frente da gestão da associação e promoveu uma série de melhorias administrativas para solucionar os gargalos da cadeia da castanha. Para ela, ter uma mulher na liderança de uma organização como a Assoab acabou inspirando outras
Sociobiodiversidade
O projeto ‘Cadeias de Valor Sustentável’ atua nas cadeias de valor da castanha-da-amazônia, açaí, pirarucu e madeira de manejo comunitário. Em 2021, as intervenções do projeto beneficiaram economicamente mais de 36 mil pessoas com atividades de manejo sustentável. Na cadeia da castanha, por exemplo, o projeto contribuiu para a geração de R$ 5,5 milhões em renda para os castanheiros, apenas no Estado de Rondônia.
O projeto também capacitou, no mesmo ano, 71 organizações de base comunitária que lideram negócios sustentáveis na Amazônia. Até 1,2 mil pessoas foram treinadas anualmente para exercer melhor suas funções nas cadeias de valor e no manejo dos recursos naturais em seus territórios durante os sete anos da iniciativa. Todo esse trabalho chegou a mobilizar mais de R$ 20 milhões em um ano para a conservação da biodiversidade, além do valor investido pela USAID.
mulheres a se envolverem mais na atividade extrativista e a serem líderes em suas comunidades.
“Estar à frente da associação serve de exemplo para outras mulheres. Você acaba empoderando elas a se envolverem em movimentos sociais, mudando a vida de suas famílias. As mulheres estão engajadas e envolvidas na cadeia da castanha e de outros produtos da sociobiodiversidade”, diz Sandra.
Mas para chegar ao cenário de hoje, as famílias extrativistas associadas à Assoab receberam parcerias valiosas que incentivaram a organização social e produtiva, e resultaram em melhorias significativas na comunidade.
PARCERIAS DE VALOR
Sandra é natural de Lábrea, município do interior do Amazonas, e descendente de imigrantes libaneses que trabalhavam com a extração de borracha. Desde cedo, já era empreendedora, apesar de ter apenas o Ensino Médio completo. Em 2011, ela liderou um grupo de mulheres que produziam e comercializavam quitutes à base de castanha. Quatro anos depois, quando assumiu a gestão da Assoab, teve que encarar uma série de desafios.
“Busquei apoio de pessoas e parceiros que acreditaram no trabalho de uma mulher. Não foi fácil como uma mulher sem formação de Administração, só com o Ensino Médio, ninguém acredita. Foi desafiador e eu tive que mostrar na realidade como se trabalhava”, relembra.
Uma das parceiras que acreditaram e apoiaram o trabalho de Sandra e da Assoab foi o projeto Cadeias de Valor Sustentáveis, iniciativa resultado de um acordo de cooperação internacional entre a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o governo brasileiro. Por meio da parceria, a Assoab levou treinamento sobre boas práticas de manejo na cadeia da castanha, construiu paióis comunitários para armazenamento dos produtos, disponibilizou Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e proporcionou capacitações em gestão e organização comunitária para as comunidades extrativistas.
“O projeto abriu as portas para que pudéssemos chegar nas comunidades, levando conhecimento para que houvesse uma produção de qualidade e as pessoas trabalhassem de forma organizada. Isso não era feito antes. As pessoas costumavam vender direto para o atravessador sem saber por quanto saía a produção delas. Quando começamos a fazer esse trabalho de campo, isso mudou a realidade dos castanheiros de Beruri”, explica Sandra.
Um exemplo de mudança foi que, com a nova gestão e qualificação dos extrativistas, a saca da castanha-da-amazônia deixou de ser comercializada por R$ 30 e passou para R$ 50, um valor acima do mercado, que vem beneficiando muitas famílias extrativistas.
A unidade de Beruri foi a primeira usina de castanha no Brasil de base comunitária a receber a certificação Cadastro Geral de Classificação (CGC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que permite à Assoab conduzir as primeiras experiências para exportação da castanha produzida pelos associados.
TRABALHO QUE INSPIRA
A presença de mulheres na liderança inspira outras mulheres a se engajarem. No caso de Keivan Neves, diretora adminis-
trativa da Assoab, o trabalho na cadeia da castanha a inspirou a ter coragem para ser ela mesma. Keivan é transsexual e declara que, por meio do trabalho desenvolvido junto aos extrativistas, pode finalmente assumir a sua real identidade de gênero.
“Fui me empoderando por meio do meu trabalho, aplicando meus conhecimentos para que esse trabalho pudesse ser desenvolvido da melhor forma possível e fui mostrando para as pessoas que eu tinha potencial de contribuir com minha comunidade e organização”, revela Keivan.
Fortalecimento da comunidade
O fortalecimento das mulheres nas cadeias extrativistas da Amazônia também se relaciona com a valorização das comunidades que vivem dessas atividades. “Toda essa transformação gerou engajamento de jovens e mulheres que não havia antes. Estamos falando de uma cadeia produtiva que nos últimos quatro anos conseguiu alocar mais mulheres na atividade de coleta e na usina de beneficiamento, oportunizando a muitos jovens que tivessem acesso à renda na primeira experiência profissional no mercado”, afirma Keivan.
O projeto realizou, ainda, um curso de formação em gestão de empreendimentos comunitários entre 2020 e 2022, intitulado Formar Gestão, que contou com uma imensa participação feminina das áreas protegidas. Entre os temas
abordados ao longo dos cursos, oficinas, intercâmbios e assessoria técnica estão, gestão produtiva, organização social e produtiva, boas práticas de manejo de recursos, pré-beneficiamento e processamento industrial dos produtos extrativistas e qualidade sanitária da produção.
“Assim que o projeto veio, fortaleceu muito a cadeia produtiva. A comunidade teve um aumento muito grande na geração de renda, onde fortaleceu as mulheres indígenas, que têm a maior produção, e a nossa juventude, evitando que os nossos jovens se retirem da aldeia em busca de emprego e renda”, conta Shirley Arara, da etnia Arara-Karo. Para ela, o impacto vai além da questão financeira: é também cultural, pois mantém a cultura e o modo de vida da comunidade vivos e valorizados.
Mulheres indígenas que atuam na cadeia extrativista da castanha-da-amazônia Mulher realizando a extração da castanha-da-amazônia Crédito:Território devastado no Pará
Mais de 1,5 milhão de árvores foram derrubadas pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Munduruku
Gabriel Abreu – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – O Sistema de Alerta de Desmatamento em Terras Indígenas com Registros de Povos Isolados (Sirad) divulgou, por meio do Instituto Socioambiental (ISA), que o garimpo ilegal causou desmatamento de mais de 1,5 milhão de árvores derrubadas entre 2020 e 2022, na Terra Indígena (TI) Munduruku, localizada na região sudoeste do Estado do Pará, no município de Jacareacanga, margem direita do Rio Tapajós. A região do Rio Cabitutu, a segunda mais populosa da TI, onde há a ocorrência de um registro de povo indígena isolado, é uma das áreas mais pressionadas pelo garimpo, ficando atrás somente da localidade que fica próximo ao Rio Tapajós. Os dados foram divulgados no dia 2 de dezembro de 2022.
O monitoramento do ISA aponta que o território do povo Munduruku está entre os mais pressionados e invadidos pela atividade ilegal de garimpo na Amazônia. O monitoramento do Sirad-I já identificou, de janeiro até o momento, aproximadamente, 440 hectares de desmatamentos
ocasionados por essa atividade ilegal dentro da TI Munduruku.
Outubro foi o mês de maior aumento da área desmatada – 136 hectares. Nesse período, foi identificada a expansão de garimpos antigos e a presença de novos. Entre setembro e outubro, outros 156 hectares foram desmatados na TI. O Sirad-I deu início ao monitoramento desta TI, em julho de 2020, desde então já foram registrados 2.652 hectares de desmatamento relacionados ao garimpo. Isso equivale a mais de 1,5 milhão de árvores derrubadas nesse período.
MONITORAMENTO
Segundo o Greenpeace Brasil, a drástica redução no orçamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para realizar atividades de fiscalização e controle, e a explícita disposição do governo Bolsonaro em abrir os territórios indígenas para a mineração são outros fatores que não só facilitam a atuação criminosa dos invasores, mas, até mesmo, as estimulam.
Em apoio ao povo Munduruku, o Greenpeace Brasil está monitorando o avanço da atividade garimpeira na região. Trata-se de garantir e defender a própria sobrevivência de um povo milenar que estava aqui antes do problemático processo de colonização da América.
Por meio de sobrevoos de monitoramento e das análises realizadas, conseguimos evidenciar a escala devastadora da atividade executada ilegalmente dentro do território Munduruku. O garimpo ilegal nessas áreas conta com aviões, helicópteros, retroescavadeiras hidráulicas e dragas (grandes balsas flutuantes) que sugam a terra do fundo dos rios, o que indica uma
ação orquestrada de grupos criminosos com alto poder aquisitivo.
MERCÚRIO
Em novembro de 2021, a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) atestou, em um estudo em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), altos níveis de exposição da população do Tapajós ao mercúrio, provocado pela invasão de garimpeiros ilegais na TI Munduruku.
O trabalho foi realizado na Terra Indígena Sawré Muybu, de ocupação tradicional do povo Munduruku, ainda em fase de identificação e delimitação pela Funai, localizada nos municípios de Itaituba e Trairão. O Pará concentra uma das maiores
reservas de ouro do Brasil e, na região da bacia do Tapajós, onde há grande confluência de Terras Indígenas e jazidas de ouro, há registros de atividade garimpeira desde a década de 1950.
“Fizemos esse trabalho por demanda da Associação Indígena Pariri, que representa o povo Munduruku do médio Tapajós. Nossa intenção era produzir evidências científicas e comprovar que o problema existe, está presente na Amazônia, e não se restringe aos territórios tradicionais e às populações indígenas. Queremos mostrar que o problema é mais amplo do que parece e que todos os cidadãos que vivem na Amazônia podem ser afetados”, explicou o pesquisador Paulo Basta.
“Queremos mostrar que o problema é mais amplo do que parece e que todos os cidadãos que vivem na Amazônia podem ser afetados”
Paulo Basta, pesquisador.O garimpo ilegal é uma das principais ameaças às Terras Indígenas no Brasil
(Re)start na cultura
Com a retomada do Ministério da Cultura, artistas amazônicos têm boas expectativas para a cultura no Brasil
Mencius Melo – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – A cantora baiana e ativista social Margareth Menezes tomou oficialmente posse do Ministério da Cultura (MinC) do Brasil no dia 2 de janeiro, em Brasília. Em seu discurso durante a solenidade, a ministra ressaltou o desmonte e a importância da retomada da pasta. A REVISTA CENARIUM ouviu alguns artistas do Norte do País para saber sobre as expectativas da reconstrução do MinC e das políticas públicas para a cultura no Brasil.
Para o cantor e compositor paraense Nilson Chaves, a volta do MinC é um ato de grande simbolismo. “Recriar o Ministério da Cultura é reacender simbolicamente a renovação da nossa própria cultura em si. Não só da música, mas de todas as manifestações e seguimentos”, destacou. Para o artista do Pará, a nova ministra pode realizar um bom trabalho. “Não conheço a Margareth como gestora, mas, se está à frente, é porque tem capacidade. Estou na torcida”, afirmou.
Para João Fernandes, do Casarão de Ideias, um dos mais respeitados gestores culturais de Manaus, o momento é de reconstruir. “A estrutura que se encontra hoje do que seria o Minc está completamente sucateada. Foram muitos atropelos, normativas desfocadas, extinções e pessoas despreparadas, mas acredito na Margareth. Ela montou uma equipe preparada e já
deve estar articulando um orçamento para 2023”, destacou.
RESSALVA
Otimista, João Fernandes faz algumas ressalvas. “Acho que muitos caminhos já existiam antes de Bolsonaro, então não é preciso inventar coisas, pois nesse primeiro ano temos que tentar, minimante, fazer a cultura voltar com dignidade, apoiar os trabalhadores do setor. Pagar os editais atrasados, tirar a pilha de projetos da Lei Rouanet que estão trancados em alguma ‘sala escura’. Só de fazer assim, já estaremos dando um grande impulso econômico”, avaliou.
O gestor também apontou a ausência do Norte na composição da equipe de Margareth Menezes como algo a ser revisto. “Percebi a ausência de nomes do Norte. À primeira vista, não temos na pasta nenhuma pessoa do Norte. Não é uma questão de nos beneficiar, mas de saber como fazemos a cultura aqui. Acredito que isso será revisto em um futuro próximo”, comentou.
PONTES
O presidente do Conselho Municipal de Cultura de Manaus (Concultura), Tenório Telles, acredita que bons tempos virão no contexto cultural neste novo governo. “O processo cultural é uma construção
João Fernandes, gestor cultural e artista de Manaus.
permanente, que exige sensibilidade, racionalidade e muito trabalho. Em relação ao ciclo que se inicia, espera-se que se construam pontes, diálogos novos e, especialmente, ações e projetos capazes de ampliar as oportunidades de acesso aos bens culturais por parte da sociedade”, analisou.
Tenório acredita que um pacote de políticas pode ajudar na inclusão e na retomada da força da economia produzida pela cultura. “Em paralelo, é imperativa a formulação de políticas públicas que contemplem o fomento e a formação dos jovens talentos e a inclusão social. Torcemos para que tudo se encaminhe de forma produtiva e com bons resultados para todos que atuam no segmento da cultura e para a sociedade”, finalizou.
Cerimônia de posse da nova ministra da Cultura, Margareth Menezes, realizada no dia 2 de janeiro, em Brasília“Acho que muitos caminhos já existiam antes de Bolsonaro, então não é preciso inventar coisas, pois nesse primeiro ano temos que tentar, minimante, fazer a cultura voltar com dignidade.”
Um despertar à reflexão
MANAUS (AM) – Chega ao mercado editorial o romance “Onde Pousam Os Urubus”, do escritor Andre L. Braga, que concorre ao 7º Prêmio Kindle de Literatura. A obra é o sexto romance do escritor nascido em Americana, interior de São Paulo, e que atualmente reside na Holanda.
O livro, publicado pela editora Independente, está à venda no formato e-book, no site Amazon, e traz em suas páginas um romance ambientado na miséria de “NovaAmazônia”, um país fictício encravado na Amazônia brasileira.
Em entrevista exclusiva para a REVISTA CENARIUM, Andre comentou sobre a obra. “A ideia de ambientar o livro em “NovaAmazônia”, uma nação fictícia ao Norte do Brasil, deve-se a uma combinação de fatores. Primeiro, foi uma questão de geografia. A história pedia uma enorme ilha fluvial, com 800 quilômetros quadrados de área e abrigando 2 milhões de habitantes”, explicou.
Com a necessidade de alocar a trama, o escritor observou as dimensões. “Além da imensa e fluviomarítima Marajó, a região abriga diversas ilhas fluviais, como Mosqueiro, Cotijuba e Combu, também
no Pará; Guarajá-Mirim, em Rondônia; e o extenso Parque Nacional das Anavilhanas, no Amazonas. É o cenário perfeito para abrigar a fictícia Pouso Alegre”, detalhou Braga. “Pouso Alegre” é a cidade onde vivem os catadores de lixo do fictício país e a luta política para conquistá-la se estende à conquista de “NovaAmazônia”.
MAPA DA FOME
De acordo com Andre L Braga, abordar fome e miséria em sua nova obra é um exercício de observação. “Uma combinação de fatores externos, associados a políticas públicas equivocadas, como o esvaziamento dos estoques reguladores do governo, trouxe o Brasil de volta ao mapa da fome. A notícia, em si, é chocante, mas dados, números e estatísticas não conseguem traduzir o horror por trás disso tudo, uma fotografia. Foi exatamente isso, uma fotografia, que despertou a urgência em tratar do tema numa obra de ficção”, ponderou.
“No ano passado, me deparei com o registro fotográfico de pessoas disputando restos de comida, na caçamba de um caminhão de lixo. Aquela imagem mexeu comigo. Havia algo, dentro de mim, que berrava: ‘Você precisa escrever sobre isso! Você precisa levar esse tema aos seus
Capa do livro “Onde Pousam Os Urubus”. Miséria, fome e luta política em uma região que é palco dos dramas ambientais brasileiros e mundiais: a Amazônia
leitores e as suas leitoras!’ Acredito que a literatura de entretenimento pode, sim, despertar quem a lê, quem a consome, à reflexão sobre temas da atualidade”, avaliou Braga.
INSPIRAÇÃO
Permeado por drama social, político e psicológico, “Onde Pousam Os Urubus”
transita entre a fome no capitalismo (“Ilha das Flores“) e a repressão da liberdade no autoritarismo (“1984“). O primeiro é um documentário brasileiro aclamado de Jorge Furtado e o outro é o mundialmente conhecido romance George Orwell.
“De ‘Ilha das Flores’, busquei a metáfora – nem tão metafórica, na verdade – da ilha, do local distante, de difícil acesso,
para onde se despacha tudo aquilo que a sociedade burguesa não quer ver por perto”, comentou Andre.
Ele explica que na cidade de Pouso Alegre, assim como na ‘Ilha das Flores’, famílias disputam o que comer com ratos e urubus, caçando restos de alimentos em meio ao lixo que vem da cidade grande. Já de ‘1984‘, segundo Braga, vem a falsa impressão de liberdade que paira sobre a capital, e o controle da verdade.
“Em ‘NovAmazônia’, tal qual nas páginas de ‘1984’, a imprensa é controlada pelo Estado, e notícias são manipuladas, em favor dos interesses do partido”, teorizou.
DETALHES AMAZÔNICOS
Questionado sobre os detalhes “amazônicos” na obra de um paulista radicado na Europa, Andre L Braga respondeu: “O trabalho de quem escreve ficção vai muito além da escrita em si. É preciso pesquisar, é preciso conversar com quem já viveu determinada situações, é preciso manter olhos e ouvidos atentos, o tempo todo, em busca de inspiração e de informação. Numa ordem de relevância, acredito que esse trabalho de pesquisa vale as vivências pessoais de quem escreve”, analisou.
“Acredito que a literatura de entretenimento pode, sim, despertar quem a lê, quem a consome, à reflexão sobre temas da atualidade”
Andre L. Braga, escritor.“Onde Pousam Os Urubus”: romance cria ambiente fictício na Amazônia e aborda fome, exclusão social, intolerância e democracia Mencius Melo – Da Revista Cenarium
Turismo ‘fora da caixa’
Vivalá propõe nova experiência para ressignificar a prática no Brasil Mencius Melo –
MANAUS (AM) – Propor uma releitura e ressignificar a prática do turismo no Brasil. Essa é a ideia por trás das expedições da Vivalá – Turismo Sustentável no Brasil. A empresa, que está baseada em São Paulo, comercializa pacotes de viagens que vão muito além do turismo convencional praticado no Brasil. Em sua carta de ofertas é possível encontrar Turismo de Base Comunitária (TBC), volunturismo e TBC de aventura. De acordo com Daniel Cabrera, cofundador e diretor-executivo da agência de turismo, a ideia é dar outra direção para algo que pode ser muito mais que uma prática de mercado. “Quando você pratica turismo sustentável, como em uma Expedição Vivalá, você ressignifica sua relação com o Brasil e as comunidades tradicionais
e vai muito além daquele roteiro padrão de um turista convencional”, destacou Cabrera. Para o executivo, a moeda de troca pode ir muito além da viagem, dos flashes, selfies e roteiros superficiais. Até porque, está no cerne do mercado do turismo, o slogan: “conhecer outras culturas”. E, já que a ideia é conhecer e trocar experiências, a empresa aposta no sentido literal da frase. Por isso, Daniel Cabrera comemora a iniciativa: “São viagens em que todo mundo sai ganhando: o viajante, os comunitários e o planeta”, afirmou.
EXPEDIÇÕES
As expedições seguem um padrão, descreveu Daniel. “As expedições em grupo seguem roteiros de cinco a oito dias, quase sempre em feriados e extensões de feriados, com grupos em torno de 15 a
Agência Da Revista Cenarium Acompanhar e fazer parte das práticas e dos costumes dos povos da selva é uma das opções propostas pela Vivalá – Turismo Sustentável no Brasil“Quando você pratica o turismo sustentável, como em uma Expedição Vivalá, você ressignifica sua relação com o Brasil e as comunidades tradicionais e vai muito além daquele roteiro padrão de um turista convencional”
Daniel Cabrera, cofundador e diretor-executivo da agência de turismo.
20 pessoas. São vivências dentro de Unidades de Conservação (UCs) brasileiras, por meio do turismo de base comunitária junto às populações locais”, explicou.
Para aqueles que não gostam de viajar em grupo ou mesmo têm restrições com um número maior de acompanhantes, a agência desenvolveu pacotes em um estilo, digamos, mais “pocket”. É uma proposta que cabe no tempo e espaço. “Também contamos com as expedições, com datas flexíveis, para você viajar quando e com quem você quiser: sozinha, sozinho, em casal, com amigos ou familiares”, detalhou.
Entre os roteiros amazônicos, estão: “Amazônia Rio Negro – Manaus – AM”, “Amazônia Rio Tapajós – Santarém –PA”, “Amazônia Aldeia Shanenawá – Rio Branco – AC”. Outros destinos são os “Lençóis Maranhenses – São Luís – MA”, “Chapada dos Veadeiros – Brasília – DF”, “Chapada Diamantina – Salvador – BA”, “Sertão Veredas – Brasília – DF” e “Geoparque Seridó – Natal – RN”.
ROTEIROS
Os roteiros se dividem em três propostas: Turismo de Base Comunitária – TBC que, segundo Daniel Cabrera, “é uma imer-
são total nas comunidades tradicionais brasileiras, em que você vai se hospedar, fazer suas refeições e conviver com indígenas, ribeirinhos, quilombolas, sertanejos e muitos outros povos, além de participar de uma série de atrações para conhecer melhor a cultura e o modo de vida delas, como oficinas, culinária local, rodas de conversa, entre tantas outras”, revelou.
A outra proposta é o “volunturismo”. Nesse formato, a expedição une duas formas de turismo ofertadas pela agência. “Nessa experiência, você vai combinar o TBC com o trabalho voluntário, em uma das diferentes áreas em que a empresa atua, junto às comunidades, como saúde, educação, meio ambiente e bioeconomia. Em alguns casos, há exigência de formação específica, mas sempre temos opções para quem está disposto a ajudar!”, pontuou Daniel Cabrera.
A terceira proposta cai como uma luva para aqueles que curtem algo mais denso, com uma carga maior de adrenalina. “O TBC de aventura é a melhor opção para quem quer combinar o TBC com atividade física, com muitas atrações de aventura junto à natureza das Unidades de Conservação onde atuamos, como trekking, por exemplo”, finalizou Daniel Cabrera.
A convivência das comunidades ribeirinhas com o mundo que lhes cerca também faz parte do roteiro de expedições da Vivalá
Com prioridade
Lideranças LGBTQIA+ defendem ‘agenda emergencial’ para o Ministério dos Direitos Humanos
Mencius Melo – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – Lideranças ligadas ao movimento LGBTQIA+ defenderam, em entrevista à REVISTA CENARIUM, uma “agenda emergencial” de ações por parte do Ministério dos Direitos Humanos. A pasta será conduzida pelo filósofo, advogado e ativista dos Direitos Humanos Silvio Almeida, empossado no dia 3 de janeiro, em Brasília.
Para Luiz Mott, doutor em Antropologia e fundador do Grupo Gay da Bahia, o Governo Lula, por meio do Ministério dos Direitos Humanos, tem que priorizar uma agenda prática e efetiva. “Primeiramente, estudar e propor estratégias para erradicar as mortes violentas contra LGBTQIA+.
O Brasil não pode continuar na triste liderança de ser o País que mais mata LGBTQIA+, no mundo, um campeão de assassinatos”, criticou.
O antropólogo acredita que é preciso compor grupos de trabalho para desenvolver essas urgências. “É preciso criar grupos ou comissões para estudar a situação, quais as tendências e características dos crimes contra LGBTQIA+ e propor medidas eficazes no sentido de reverter a triste marca de termos um LGBTQIA+ assassinado por dia no Brasil”, propôs.
EDUCAÇÃO
Além do estudo, Mott também propõe: “É preciso incluir, nas pautas de educação de base e em todos os níveis escolares, informações a respeito de sexualidade, orientação sexual e gênero para que as nossas crianças e jovens aprendam, desde cedo, a respeitar a diversidade. Inclua-se,
também, diálogos com o Ministério da Educação para erradicar o machismo, a misoginia e a homofobia por meio da educação”, destacou.
Ele afirma, ainda, a necessidade de campanhas de combate às drogas e às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). “Temos que ter propostas imediatas na área da saúde no combate às IST/Aids para os jovens gays, que são os mais afetados, mais que usuários de drogas e garotas de programas. E, finalmente, ter uma política de segurança na área onde gays e travestis, que se concentram, principalmente, nas grandes cidades. Isso é necessário para evitar o bullying, a extorsão e os assaltos”, observou.
A presidente da Associação de Travestis Transexuais e Transgêneros do Amazonas (Assotram), Joyce Gomes, defende que é preciso refundar o diálogo com os movimentos e instituições LGBTQIA+ de todo o País. “Dentre as principais medidas, o chamamento dos movimentos e instituições para a criação do plano nacional de política LGBTQIA+”, afirmou a líder.
Segundo Joyce, é preciso também que se estabeleça o retorno de mecanismos já existentes, os quais precisam ser modernizados. “É necessário o retorno do conselho nacional e a consequente volta das conferências. De qualquer forma, já eram medidas adotadas pelo governo, mas que precisamos evoluir, precisamos urgente da criminalização, de uma lei específica, porque, hoje, o que temos são normas e portarias de equiparação e que não são efetivas”, finalizou.
Crédito: Leo Pinheiro Fotos Públicas
A agenda de lutas dos movimentos LGBTQIA+ está sendo recomposta para a retomada dos planos e projetos do novo Governo Lula
estudar e propor estratégias para erradicar as mortes violentas contra LGBTQIA+”
Luiz Mott, doutor em Antropologia e fundador do Grupo Gay da Bahia.
“Primeiramente,
Moda ‘Worecü’
Estilista Tikuna transforma passarela em aldeia, com desfile na Brasil Eco Fashion Week, em SP, inspirado no “Worecü – O Ritual da Moça Nova”.
MANAUS (AM) – A cantora e estilista Weena Tikuna lançou, durante a Brasil Eco Fashion Week (BEFW), que aconteceu entre os dias 1º e 3 de dezembro, no Senac Lapa Faustolo, em São Paulo, a coleção “Worecü – O Ritual da Moça Nova”. O desfile teve um forte componente de afirmação da cultura milenar do povo Tikuna. Na passarela, Weena utilizou 13 figurinos confeccionados especialmente para o desfile.
Para a indígena, artista e ativista, o desfile foi inesquecível. “Foi um momento histórico, não só para mim, mas para a nossa cultura indígena. Nossa arte ancestral pode ocupar todos os espaços. Somos capazes!”, triunfou Weena Tikuna.
Em suas redes, ela agradeceu. “Quero aqui agradecer a todos que estiveram
A ativista Txai Suruí participou do desfile orquestrado pela estilista Weena Tikuna, na passarela do BEFW
Ao final do desfile, Weena reuniu seu “povo” para agradecer o sucesso da coleção ‘Worecü – O Ritual da Moça Nova’, no BEFW
Mencius Melo – Da Revista Cenarium“Foi um momento histórico, não só para mim, mas para a nossa cultura indígena. Nossa arte ancestral pode ocupar todos os espaços. Somos capazes!”
Weena Tikuna, cantora e estilista.
comigo nesta conquista, direta e indiretamente. Gostaria de dedicar esta conquista a todos vocês: primeiramente a nós, povos indígenas do Brasil. O meu povo indígena Tikuna, porque minha arte é a arte do meu povo”, destacou.
De acordo com Weena Tikuna, a coleção criada por ela vem das profundas raízes culturais do povo que habita o oeste do Estado do Amazonas, entre os municípios de Tabatinga e São Paulo de Olivença. “‘Worecü’ é o ritual de passagem feminino e, nele, destacam-se a força do sagrado e as práticas artísticas do povo Tikuna, como as pinturas, os mascarados feitos de tururi e os cantos das anciãs”, descreveu a estilista.
MATERIAIS E SIMBOLISMOS
Ainda segundo Weena, os materiais aplicados na confecção das peças que foram à passarela do Senac Lapa, em São Paulo, são os recursos naturais que vêm da Floresta Amazônica. São produtos que, há muito, fazem parte da vida do povo Tikuna. “Nas peças, trazemos o tururi, a matéria principal, fibra de algodão orgânico e linho. O vermelho vem expressando o sangue, a ‘cor da moça nova’”, descreveu.
Para a passarela do BEFW, Weena escalou um time identificado com a arte exposta nas peças. “Abrindo o desfile, trouxemos da comunidade indígena Wotchimaücü, a modelo indígena Yonne Tikuna. A apresentação musical foi feita por minha irmã, Djuena Tikuna, acompanhada pelo meu cunhado, Diego Janatã. Na percussão e no violino, meu marido Anton Carballo, da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB)”, elencou.
Sobre o BEFWO Brasil Eco Fashion Week (BEFW) é um evento anual que promove as boas práticas de sustentabilidade no mercado e na indústria da moda brasileira, reunindo conteúdos educativos e inspiradores, desfiles, salão de negócios, exposições e atividades de empreendedorismo. O evento é realizado, consecutivamente, desde 2017, e já faz parte do calendário oficial da moda brasileira.
Também definido como uma semana de moda e plataforma digital, o evento agrega cerca de 120 colaboradores somados a dezenas de empresas envolvidas no patrocínio, apoio e realização das edições. O BEFW se estabeleceu em São Paulo, recebendo empreendedores, profissionais, estudantes e consumidores de todas as regiões do Brasil conectados ao propósito de utilizar a moda como uma rede positiva e uma ferramenta de transformação.
A ausência de problemas nunca foi garantia de felicidade
Samiza SoaresaPessoas felizes não são aquelas que não têm problemas. São, de fato, aquelas pessoas que se propõem a parar de ver ameaças para se adaptarem aos desafios, aquelas que deixaram de se culpar pelos erros e resolveram torná-los oportunidades de crescimento.
Precisamos estar abertos para mudanças, permitindo analisar as dúvidas e lidando com o medo que elas trazem. No entanto, é claro que entender isso e associar essa ideia à vida pode não ser tão fácil.
Nós somos obcecados pela busca da felicidade como quem tenta encontrar um tesouro, no entanto, o bem-estar não é um alvo a ser alcançado, mas, sim, um exercício diário que requer a capacidade de mudança de foco e comportamentos adaptativos.
A cada ano, surgem milhares de livros falando sobre a felicidade. As universidades oferecem centenas de cursos sobre essa temática e, além disso, também aparecem várias novas áreas na neurociência, onde vários especialistas mostram o que acontece dentro do nosso cérebro quando somos felizes e o que precisaríamos fazer para potencializar esse estado.
Todas essas teorias e aspectos são muito atraentes e também encantadores. No entanto, há um problema que se destaca entre todas essas vozes: mudamos o conceito de felicidade e o transformamos em um produto de marketing.
E ainda mais, por permanecermos educando a população no assunto “como ser feliz”, estamos, infelizmente, criando uma
crescente cegueira ao mal-estar, à tristeza, à ansiedade ou às incertezas. Pois, a nossa realidade imediata não é exatamente um conto de fadas. Muitas vezes, por mais que nos esforcemos para sermos felizes, a totalidade não nos ajuda. Por isso, necessitaríamos modificar um pouco a nossa visão sobre a felicidade.
A felicidade não é a ausência de problemas. Se assim fosse, ela seria um lugar ao qual poderíamos chegar, ou uma meta que poderíamos alcançar. Só que o nosso ambiente não é um jogo em que podemos chegar ao final. Há e sempre haverá mudanças, imprevistos.
Na verdade, quase todos os dias nos relacionamos com os outros e surgem desentendimentos, discrepâncias de opinião, atritos. Não importa o nosso grau social, a nossa idade ou o lugar em que vivemos. Os problemas sempre aparecerão e ninguém está isento ao que acontece tanto ao seu redor, quanto no próprio mundo interno.
Podemos entender como estamos tentando eliminar fatos como a tristeza e a frustração do nosso repertório emocional, como se a vida que buscássemos só fosse boa se esses sentimentos não fizessem parte dela.
Ao não reconhecê-las e incluí-las em nosso discurso, dando mais importância para as emoções positivas, nos tornamos pessoas analfabetas em assunto emocional. Hoje em dia, nem todos sabem o que fazer com o seu estresse ou sua ansiedade, não é mesmo?
Nem todos sabem o porquê de um nó no estômago ou garganta, o medo que
aparece e paralisa e, até mesmo, pode nos impedir de sair de casa. É importante ressaltar que lidar com a adversidade e esses estados emocionais difíceis também é necessário para poder ser feliz.
Nesse momento, eu gostaria de resgatar um significado de felicidade tão apropriado, quanto inspirador. Muitos concordam com ela, tanto neurocientistas, quanto terapeutas, psicólogos, psiquiatras, economistas e até monges budistas.
Trata-se de dar um significado para a vida, de ter propósitos e assumir um comportamento ativo. É ter disposição para crescer e aceitar adversidades e desafios no dia a dia. Essa seria, em essência, a chave para ser feliz.
Dizer que a felicidade é a ausência de medo, é uma ideia mal interpretada e pode se tornar uma afirmativa bastante cruel. Isso porque o ser humano não pode parar de ter medo, que é uma emoção essencial ao que somos e, como tal, cumpre uma função evolutiva. Várias, na verdade.
Este seria um exemplo: “Pode ser que eu tenha medo de mudar de cidade e iniciar uma vida nova, mas eu sei que devo, pelo menos, tentar. Dar esse passo me permitirá evoluir. Por isso, eu decido me arriscar e o farei, apesar de sentir medo”.
E, para finalizar, resta apenas uma dica: Felicidade é se atrever a agir, apesar do medo e da incerteza… Não deixe esses sentimentos lhe paralisarem. Seja feliz!
(*) Articulista Cenarium, terapeuta e palestrante formada em Psicanálise e Hipnoterapia Clínica Verbal e Não Verbal.