florescer das luzes
E
ste livreto que está em suas mãos é um memorial da aluna Paula Cruz, de DRE 110055595, aluna do professor Leonardo Ventapane na disciplina de Fotocriação C 2011.1 da Escola de Belas Artes UFRJ. Aqui abordo o processo de conceituação, criação, planejamento e execução do stop motion Florescer das Luzes.
o florescer das luzes? A primeira certeza do projeto foi a escolha da técnica: stop motion. O apreço de filmes e curtas que utilizam esta prática moldou em mim uma curiosidade e desejo de trabalhar com este meio de expressão. Determinado o tema, a dúvida: como explorar o movimento do stop motion? Qual objeto utilizar como protagonista do meu curta metragem? Após alguns momentos de controvérsia, percebo em minha própria casa um ator. O abajur em forma de cerejeira apresenta galhos feitos por arame e flores de plástico recolocáveis, ou seja, é um objeto que pode ser manipulado, torcido e modificado. Simultaneamente a esta questão, o professor Ventapane mostra a turma o texto Um Morder a Língua de Italo Calvino sobre um homem, Palomar, que morde a língua cada vez que é forçado se calar. Uma das frases deste conto me chamou muito a atenção: mesmo o silêncio pode ser considerado um discurso.
A partir desta sentença, penso numa animação feita somente com pontuação. Um ponto final que se transforma em vírgula, para depois se tornar reticências e posteriormente exclamações. Esta evolução da expressão em grafismos comunicativos calados surgiu, então, como minha segunda opção. Tendo duas alternativas, faço uma análise comparativa. Por mais que a ideia da comunicação silenciosa me agrade, acabo por escolher a da cerejeira que floresce luzes, já que me proporcionaria um trabalho fotográfico interessante com luz, forma e cor.
sobre as luzes Escolhido o tema, pesquisei em livros e sites sobre os aspectos e comportamentos da luz em áreas diversas, lendo opiniões e estudos de físicos, fotógrafos e cineastas. Para os físicos, a luz é uma dualidade. Hoje considera-se a luz simultaneamente uma partícula e uma onda, mas esta é uma ideia contemporânea. Ela já foi considerada uma corrente de partículas minúsculas na Grécia antiga e séculos depois, por volta de 1655, Christian Huygens demonstrou-a como uma onda. Quase duzentos anos depois, Thomas Young retomou a teoria de Huygens e através de um experimento com frestas de luz, sugeriu que o raio de luz se espalha, irradia para fora. A luz desabrocha. Aos olhos do cineasta, a luz expõe e aumenta o efeito dramátco dos filmes. Com o aprimoramento das técnicas, a iluminação deixou de ser simplesmente um aparato físico que se limitava a fornecer luz suficiente sobre os atores para permitir a
filmagem e tornou-se uma questão de estética e narrativa cinematográficas. Conforme Fellini, em seu livro Fazer um Filme: No cinema, a luz é ideologia, sentimento, cor, tom, profundidade, atmosfera, história. Ela faz milagres, acrescenta, apaga, reduz, enriquece, anuvia, sublinha, alude, torna acreditável e aceitável o fantástico, o sonho, e ao contrário, pode sugerir transparências, vibrações, provocar uma miragem na realidade mais cinzenta, cotidiana. Com um refletor e dois celofanes, um rosto opaco, inexpressivo, torna-se inteligente, misterioso, fascinante. A cenografia mais elementar e grosseira pode, com a luz, revelar perspectivas inesperadas e fazer viver a história num clima hesitante, inquietante. (...) Com a luz se escreve o filme, se exprime o estilo. Portanto, a luz é um personagem sutil que pulsa e transforma a cena.
execução e teoria aplicada Tendo em mente a questão do expansiva e o caráter representativo da luz, improvisei um estúdio na sala da minha casa, marquei o local do tripé e comecei de fato a fotografar. A primeira experiência com a produção de um stop motion aconteceu através de um enquadramento vertical e com pouca variação de movimento, luz e cor (figuras abaixo). O roteiro do curta consiste no florescer da árvore conectado com o acender das luzes; os galhos torcem e abrem-se de maneira a retratar o desenvolvimento da própria forma ao passo que preparam o surgimento da essência luminosa.
Alguns problemas foram percebidos rapidamente: a luz ambiente estava fraca e inexpressiva, a mesa não deveria aparecer nas fotos de maneira tão óbvia, a câmera não permaneceu imóvel o suficiente e os galhos deveriam se portar com mais abertura e vivacidade. Além disso, o enquadramento vertical não funcionaria para vídeos. A partir destas observações, faço a segunda sessão de fotos. Dessa vez, o enquadramento é horizontal e dá mais valor à forma da cerejeira. Os galhos foram melhor aproveitados nessas tomadas, já que apresentam maior rmovimento e
Aqui ao lado você pode ver a segunda sessão de fotos
mais fotografias foram capturadas. A câmera aqui permanece mais estática do que na tentativa anterior. Introduzo alguns elementos visuais novos nesta parte do projeto. Um deles é o desfoque usado para apresentar o nascimento das luzes, para dar mais ênfase no florescer luminoso. Outra adição visual adicionada é questão da introdução e do final mais intimistas, ou seja, do começo e do fim serem constituídos de zoom nas partes da cerejeira (figura abaixo). Para tal, utilizo um formato de vídeo simples com aproximação manual no momento que as luzes estão apagadas, sem as flores, e
em outro instante que a árvore já floresceu e está acesa. O vídeo apresenta uma música do Daft Punk, Make Love, para acompanhar o ritmo que nascem as flores. A tipografia do título é fina e simples para acompanhar a sutileza e delicadeza do stop motion. Ao mostrar o vídeo para a turma e para o professor Ventapane, recebi boas instruções e dicas para meu projeto de vídeo. A primeira delas foi explorar mais o zoom e o caráter intimista dele. Disseram-me também para aproveitar luzes de natal e usá-las como trepadeiras na cerejeira. Além dessas indicações, o professor me atentou ao enquadamento das fotos, pois a mesa deveria ser mais delgada, aparecer menos. Também foi indicado fotografar no escuro, já que isto daria mais valor às luzes da cerejeira e, portanto, aumentaria a qualidade do projeto como um todo.
A terceira e última sessão fotográfica apresentou várias mudanças técnicas que definiram o ritmo do vídeo. Para garantir um ângulo inalterável, prendi a câmera com fita durex no tripé. Testei os vários modos de fotografar da câmera digital e, como sugerido pelo professor, mudei o sistema de iluminação ambiente. Estas modificações me proporcionaram uma variação de cores melhor. Esta mudança me encaminhou, por exemplo, ao tom alaranjado do amanhecer das luzes no começo do vídeo. O curta metragem começa no escuro. Apliquei o zoom sugerido no começo e no final, mas em formato de stop motion e não em vídeo sequência como foi feito anteriormente. No início é usado zoom e, à medida que este esmorece, vem à tona a totalidade da árvore. O processo contrário ocorre para fechar o vídeo. Um número maior de fotos foi selecionado para induzir ainda mais ação e deslocamento de componentes. A
versão anterior possuía apenas sete segundos de stop motion propriamente dito, enquanto esta versão final tem cerca de cinquenta segundos. O florescer das luzes foi marcado com mais afinco também nesta etapa, pois utilizo mais desfoque nas fotografias do momento que surgem, que nascem as luzes. Outra mudança significativa foi o tecido usado sobre a mesa. Antes ele apresentava-se reto e resultava numa discrepância com os outros corpos do vídeo. Para tirar tal dano, reinvento a forma do tecido para que este contenha um teor orgânico, que se assemelhe a uma montanha ou um monte de terra. As trepadeiras, ou seja, as luzes de natal são de duas cores. A primeira, mais tímida, possui o mesmo tom que a da cerejeira. A segunda trepadeira, azul, modifica totalmente a iluminação do vídeo, demonstrando como a luz não somente desabrocha, mas também modifica-se e sofre mutações.
As luzes azuladas geradas por uma das trepadeiras formam cores frias que se contrastam com as cores quentes do começo, fortalecendo ainda mais a transformação da luz. A tipografia do título foi modificada e aderiu melhor ao conjunto da obra. O “florescer” constituído de fonte script pertence ao mesmo nível de suavidade do resto do curta.
anteriormente, acontece o processo contrário ao do início: a imagem amplia-se conforme o zoom é mais e mais utilizado, até a figura desfocafa que escurece totalmente para fechar o projeto do stop motion. Demonstro, então, por meio deste projeto, como as luzes desabrocham, mudam, brotam. Este é o florescer das luzes.
Outra adequação foi a escolha musical. A música anterior, por mais que tenha o ritmo das fotos, não possuía a fragilidade necessária para se mesclar sinestesicamente ao conteúdo e ao visual do projeto. Para isso, foi escolhida a música Lights de Ellie Goulding. Além de apresentar um casamento feliz com a delicadeza das imagens, as teclas do teclado parecem reflexos do florescer das luzes. O projeto termina do mesmo jeito como começou: o quadro é apenas negro, pois é o escuro formado pela ausência da luz. Como dito
As próximas páginas possuem quadros do curta metragem. O que você está esperando para folhear esta aqui?