Hórus

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uma novela grรกfica por

paula cruz


PAULA CRUZ

é designer, escritora fajuta e desenhista quase lá. Gosta de chá gelado, capas de livros bonitas e das cores do Wes Anderson. Em breve se tornará bacharel em Artes Visuais pela UFRJ e dominará o mundo. Em breve.


Certa manh達, ao despertar de sonhos inquietos e intranquilos, K. encontrou-se em sua cama metamorfoseado.

que pesadelo estranho...

Metamorfoseado em algo que n達o compreendeu realmente, muito menos de imediato.


Sentia algo vivo, como se houvesse outro ele dentro de si.

Havia alguém ali... mas onde?

O que terá acontecido comigo? levantou-se num ímpeto e, em resposta, suas costas queimaram — como gelo.

meu deus, qUE DOR MALDITA É ESTA!?

descobriu o que o aguardava.

Caminhou até o espelho e após momentos de apreensão...

mas o quê..?


O suspense estendeu-se por poucos instantes, atĂŠ que a verdade tornou-se crua:

o par de olhos piscou como se escrevesse um ponto final.


Olharei de novo. Se ainda estiver lá...

o que terá acontecido comigo? uma dor aguda e gélida nas costas queimou-o outra vez.

o rasparei a facadas. Eram os olhos em resposta à K.

É verdade. Não há como, mas é o que se procede. E eles não me deixaram silenciá-los... K. decidiu que o olhar nas costas seria seu segredo.

Médicos não entenderiam,

Um olho vivo nas costas?

psiquiatras analisariam-no sem fim,

E como eram os olhos de sua mãe?

curandeiros veriam significado onde há apenas pó.

É um sinal do Pai de Todos!


Carregou o fardo por meses,

Para os amigos e familiares, os olhos eram somente tinta sobre pele.

resignavam-se à farsa. A consciência alheia não percebia que não só tinham vida, mas...

...também ganhavam cada vez mais força e presença.

Quando enfim estavam fortes o suficiente para ter voz, falaram-lhe na voz mais impassível e mítica que K. já ouvira:


tudo que morre teve antes um objetivo, uma espĂŠcie de atividade e assim se gastarĂĄ atĂŠ o fim.


após vários sinais ao longo dos anos, k. enfim compreendeu: os olhos protegiam-no.

Os olhos disseram-lhe mais informações indecifráveis, mas esta cravou-se em sua memória palavra por palavra.

De alguma forma, demonstravam ventura nos caminhos que K. escolhia.

Há fortuna que vem como tragédia.

Longos anos depois, K. por fim repousou.


No cadáver estava GRAVADA a expressão da paz eterna, mas a autópsia DEMONSTRAVA a INCÔMODA verdade:

As costas nuas e brancas pareciam intocadas, como se nada estiveSSE lá antes.

O funeral de K. foi envolvido por uma constande sensação de dúvida e assombro.

A verdade permaneceu no silêncio. Não havia nada mais a se proteger.


como prometido, agradeço a todos que me ajudaram com conselhos e apoio. SÍLABAS ESPECIALMENTE GRATAS À pedro caricchio PELA PACIÊNCIA DE UM MONGE, TAÍSSA MAIA PELOS TRUQUES DE GRAFITE E thaís vequE PELAS FRASES HOMEOPÁTICAS.

Capa, texto & arte por:

Paula Cruz

encontre-me em:

Www.behance.net/paulacruz www.thepaulacruz.tumblr.com


numa manhã inoportuna, K. acordou em seu quarto maltrapilho com um incômodo dentro de si. mal suspeitava que a dor em seu âmago era mais do que o ruído de pesadelos passados.


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