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AUP 5859 - ESTÚDIO DE INFRAESTRUTURA VERDE

PIRES

plano de infraestrutura verde para a bacia do córrego

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


PIRES

plano de infraestrutura verde para a bacia do c贸rrego


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plano de infraestrutura verde para a bacia do córrego

Trabalho de conclusão da disciplina AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde ministrada pelo Prof. Dr. Paulo Pellegrino no Programa de Pós-graduação da FAUUSP. Elaboração: Textos: Evy Hannes e Juliana M S Freitas Desenvolvimento: Evy Hannes e Juliana M S Freitas Diagramação: Juliana M S Freitas Maquete eletrônica: Cauê Martins São Paulo, dez. 2015


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APRESENTAÇÃO Este trabalho tem como escopo principal apresentar, de forma completa e concisa, a proposta de implementação de infraestrutura verde na bacia córrego Pires, situado no distrito do Butantã, São Paulo. Este estudo foi desenvolvido ao longo da disciplina “Estúdio de Infraestrutura Verde” oferecida pelo Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo e se estruturou através do diagnóstico das potencialidades e restrições dos espaços abertos da região em estudo. Primeiramente, houve o estudo teórico-conceitual orientado pela ótica da Infraestrutura Verde e a partir do qual se estabeleceu o recorte da área de intervenção. A próxima etapa consistiu-se pelo levantamento de dados empíricos – visita a campo, levantamento da base de dados socioculturais e ambientais, uso de vídeos e fotografias – com o intuito de diagnosticar as possibilidades projetuais da área. Ao final, apresentouse um estudo preliminar para a implantação de um Sistema de Infraestrutura Verde ao longo da bacia do córrego Pires que primasse pela maximização das funções ecológicas e paisagísticas do seu entorno e FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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que proporcionasse uma nova apreensão dos espaços verdes à população residente no seu entorno. Para um melhor entendimento da proposta foram feitas duas ampliações para que se pudesse chegar a escala local, uma na região das nascentes, de modo a assegurar as condições adequadas do solo e consequentemente contribuir para o equilíbrio hidrológico, e outra próxima à foz, em uma área que proporcionasse a aproximação da população e a interação da mesma com a paisagem circundante. Com esta abordagem, pretendeu-se demonstrar que a criação de uma nova ambiência urbana, onde os processos naturais pautem as diretrizes do desenvolvimento, é possível. Dessa forma, o espaço urbano proposto vem estabelecer uma nova relação entre homem e meio ambiente e, consequentemente, funciona como estratégia de incremento da qualidade ambiental e urbana, aumentando qualidade de vida dos moradores da região.

Ocupação das margens do córrego Pires Foto: acervo próprio

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SUMÁRIO 1. A Bacia do Pirajuçara e o Córrego Pires 2. Parâmetros Contextuais e Ambientais 2.1 Considerações Gerais 2.2 Reconhecimento do território 2.3 Infraestrutura Verde: conceitos e tipologia 2.4 Objetivos pretendidos com a aplicação da IEV 3. Plano Geral para a Bacia do Pires 3.1 Diretrizes Gerais e Etapas de Implantação 3.2 Propostas Áreas de Amortecimento Área 1 - Parque das Nascentes Área 2 - Habitação Social “Verde” Área 3 - Educação Ambiental Área 4 - Rua Compartilhada Área 5 - Parque “Wetland”

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4. Propostas Pontuais 4.1 Área 1 - Parque das Nascentes 4.2 Área 5 - Parque Wetland 5. Considerações Finais 6. Notas 7. Referências

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A BACIA DO PIRAJUÇARA E O CÓRREGO PIRES A observação de diferentes paisagens hidrológicas abriu as discussões da disciplina “Estúdio de Infraestrutura Verde” e embora não fosse obrigatório, decidiu-se dar continuidade às primeiras análises referentes ao córrego Pirajuçara[1] e sua bacia hidrográfica. Esta escolha se justifica pelo fato do Pirajuçara ser um dos mais significativos afluentes do rio Pinheiro, possuir alto grau de urbanização ao longo de sua bacia (90% de sua área é urbanizada, segundo OSTROWSKY, 2000) e pelas recorrentes inundações que afetam áreas estratégicas para a mobilidade da RMSP. Para um melhor entendimento do objeto de estudo deste trabalho faz-se necessário tecer um breve panorama sobre a bacia do córrego Pirajuçara e o recorte adotado. A bacia do rio Pirajuçara, localizada no setor oeste da RMSP, é um dos principais afluentes da margem esquerda do rio Pinheiros e ocupa uma área de aproximadamente 73 km2. Com formato longilíneo e orientada na direção SO-NE, sua extensão total é de FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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cerca de 18 km, atravessando os municípios de Embu, Taboão da Serra e São Paulo, onde tem sua foz.[2] Segundo OSTROWSKY (2000), seu solo é predominantemente de natureza silte-argilosa, podendo constituir dezenas de metros de espessura. Tal característica confere à região um alto potencial de escoamento, agravado pela crescente impermeabilização do solo.

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Partindo desta primeira problematização geral, concluiuse que o trabalho deveria prosseguir questionando a abordagem tradicional em prol de um projeto urbano sensível às águas, buscando diretrizes que auxiliassem o processo de desenvolvimento e remodelação urbana no que concerne a inclusão do ciclo hidrológico e dos fluxos naturais como premissas principais. Dessa forma, tendo como foco a bacia do Pirajuçara e visando compatibilizar tais questionamentos em uma escala onde se pudesse alcançar os objetivos propostos pela disciplina cursada, optou-se pelo recorte na subbacia do córrego Pires (ver marcação nos mapas ao lado), contribuinte da margem direita do Pirajuçara. A escolha foi motivada pelas características de uso e ocupação da região e por a mesma apresentar grande potencial de aplicação dos elementos de IEV. As questões levantadas, apesar do foco na hidrologia, sempre consideraram os aspectos culturais e sociais, uma vez que o principal norteador desta pesquisa foi a relação do homem e o meio ambiente, discutido no próximo capítulo.

Bacia do Pirajuçara: Uso e ocupação (1) e Relevo (2) Elaboração: autoras

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PARÂMETROS CONTEXTUAIS E AMBIENTAIS

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2.1

CONSIDERAÇÕES GERAIS Este trabalho utiliza como ponto de partida duas questões relativas às relações entre homem, natureza e cidade. A primeira parte do cenário atual, realidade da maior parte das grandes cidades do mundo, onde a mancha urbana se expande cada vez mais para acomodar as demandas crescentes do êxodo rural e avança sobre os limites das áreas de proteção ambiental, leitos de rios e encostas. A segunda analisa os resultados da primeira e sua relação com o homem que habita esses espaços, relação essa que vem sendo perdida e onde o homem se encontra cada vez mais afastado da natureza e distante da experiência direta com a paisagem e seu simbolismo estético, filosófico, cultural e espiritual. Pretende, através da identificação dos problemas decorrentes da situação descrita anteriormente, usá-los como oportunidade para criar um novo cenário, favorável, com uma nova lógica de ordenação do território onde meio natural e construído convivam em harmonia e a cidade possa atingir um equilíbrio sistêmico, criando as condições necessários para seu desenvolvimento sustentável e resiliência urbana. Esse novo cenário resgata a relação perdida entre homem e meio ambiente e qualifica o espaço como todo, funcionando como estratégia de aumento da qualidade ambiental e urbana e consequente qualidade de vida dos moradores da região.

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2.2

RECONHECIMENTO DO TERRITÓRIO

Área: 253,74 ha Vazão: 56,71 m3/s Extensão: 2.630,00 m

Bacia do Pires: Uso e ocupação Elaboração: autoras

O Distrito da Vila Sônia, em especial a bacia hidrográfica do córrego Pires, foi escolhido como área de estudo pois apresenta-se como interessante oportunidade de pesquisa acerca da qualidade ambiental dos bairros situados nas bordas da cidade, e no caso da Zona Oeste de São Paulo, próximas ao seu limite político e legislativo mas não tão próximas dos limites da urbanização metropolitana. Tal configuração coloca a localização como área de urbanização consolidada mas que apresenta ainda grandes áreas vegetadas, fragmentos de mata nativa, terrenos não construídos, córregos não canalizados e nascentes preservadas (ver imagem ao lado). Possui caráter majoritariamente residencial, com fortes centralidades de escala do bairro. Seus inúmeros terrenos vazios tem sido alvo das grandes incorporadoras, principalmente com a construção da Linha Amarela do Metrô, cuja Estação Vila Sônia ainda não está em funcionamento. A área da bacia do córrego Pires apresenta duas importantes vias estruturais do bairro, a Rua Luiz

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Migliano e a Av. Dr. Guilherme Dumont Vilares, que correm paralelas ao seu leito e apresentam poucas ligações entre as mesmas, já que o córrego, somado a topografia de aclives acentuados, configuram um limite natural. Essas vias também configuram centralidades lineares da região. O bairro também conta com centralidade polar próximo à praça em frente ao colégio Guilherme Dumont Vilares, importantes instituições de ensino e tem ocupação prioritariamente residencial de médio padrão, formada principalmente por edifícios de habitação coletiva. Possui diversas áreas verdes caracterizadas como pequenas praças de bairro, não muito utilizadas pela população, inúmeros terrenos vazios e com vegetação em estágio de recomposição. Das nascentes que formam o córrego, algumas se encontram preservadas e outras foram cobertas por construções. O leito do córrego encontra-se canalizado em aproximadamente metade de sua extensão, parte dessa sob as ruas e avenidas do bairro. Seu trecho aberto encontra-se a partir do início da Rua Olímpio Rodrigues da Silva e assim ele corre até encontrar a Av. Professor Francisco Morato, onde deságua no Pirajuçara em local muito próximo ao piscinão Cedrolânia, o piscinão do Taboão da Serra. Recebe ligações clandestinas de esgoto apenas quando passa sob a favela Vila Praia. As potencialidades da região são inúmeras e configuram clara possibilidade de criação de um sistema de espaços verdes que forneça serviços ecossistêmicos, urbanos e sociais para a comunidade do bairro. Esses serviços e diretrizes serão detalhados adiante. Ocupação das margens do córrego Pires Fotos: acervo próprio

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2.3

INFRAESTRUTURA VERDE: Conceitos e Tipologias

Meio ambiente

Corpos hídricos

IEV Comunidade

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Nos últimos dez anos têm-se falado muito sobre infraestrutura verde. Esse conceito foi utilizado pela primeira vez em 1994, em um documento elaborado pela Florida Greenways Comission que apontava a importância dos sistemas naturais no contexto urbano, sendo esses equivalentes ou até mais importantes que a infraestrutura convencional, ou infraestrutura cinza. (FIREHOCK, 2010). Embora o termo seja recente, seu conceito é antigo e pode ser definido como: “Infraestrutura verde é o sistema de suporte de vida natural - uma rede interligada de cursos d’água, zonas úmidas, florestas, habitats selvagens e outras áreas naturais; caminhos verdes, parques, áreas de conservação; fazendas, ranchos e florestas; desertos e outros espaços abertos que sustentam espécies nativas, mantém o processo ecológico natural, sustentam fontes de ar puro e reservas de água limpa e contribuem para a saúde e qualidade de vida para as pessoas e comunidades (...)”. (BENEDICT; MCMAHON, 2001, p.1,

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tradução nossa). Os autores Benedict e McMahon abordam ainda a questão das diferentes escalas envolvidas nos projetos de infraestrutura verde: “(...) o termo significa diferentes coisas dependendo do contexto no qual ele é empregado: pode ser desde o plantio de árvores que tragam benefícios ecológicos em áreas urbanas; para outros se refere a estruturas de engenharia tais como manejo de enchentes ou tratamento de águas projetado para tornar-se ambientalmente amigável. No entanto infraestrutura verde pode ter um significado mais ambicioso e abrangente”. (BENEDICT; MACMAHON, 2001, p.1, tradução nossa). O conceito é interdisciplinar e engloba áreas relacionadas ao Planejamento Urbano, Arquitetura da Paisagem, Ecologia, Geografia, Biologia, Conservação, Patrimônio e Transportes. Segundo Franco: “No planejamento e desenho ambiental, a infraestrutura verde pode ser entendida como uma rede interconectada de áreas verdes naturais e outros espaços abertos que conservam valores e funções ecológicas, sustentam ar e água limpos e ampla variedade de benefícios para as pessoas e a vida selvagem e deverão nortear as ações de planejamento e desenvolvimento territoriais que devem garantir a existência dos processos vivos no presente e no futuro” (FRANCO, 2010, p.141). Podemos então dizer que infraestrutura verde é uma rede de conexões que funciona na forma de sistema, considerando os elementos naturais ou projetados e que visa o equilíbrio e a conservação dos processos da

Rua Verde Fonte: City of Portland, 2008.

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paisagem, promovendo benefícios econômicos, culturais e sociais. São projetos de baixo impacto e alto desempenho e deverão ser o suporte dos ecossistemas da paisagem urbana, provedores de biodiversidade e fornecedores de abrigo para fauna e flora, exercendo múltiplas funções na sociedade. (HERZOG, 2010) Pellegrino (2015) coloca sua importância como modelo inovador de infraestrutura urbana, multifuncional e interdisciplinar, em contraste com os modelos tradicionais, que tem se mostrado ineficientes. São redes entrelaçadas ao tecido urbano que podem fornecer uma grande variedade e diversidade de serviços ambientais, urbanos e sociais. Ressalta também seu papel como estratégico na formação de cidades mais sustentáveis e resilientes.

Jardim de chuva Fonte: PUB Singapore’s National Water Agency

As tipologias de infraestrutura verde constituem soluções multifuncionais e que apresentam desempenho potencializado quando utilizadas associadamente, em forma de sistema e associadas a outras modalidades de infraestrutura urbana como mobilidade, captação e tratamento das águas urbanas. Nesse trabalho abordaremos os elementos a seguir: - Jardim de Chuva: são canteiros e pequenos jardins, em área pública ou privada, que acumule as águas das chuvas retardando sua devolução ao sistema de captação de águas pluviais e também permitindo sua infiltração no solo para recarga das águas subterrâneas. As espécies vegetais, suas raízes e o solo cuidam da filtragem e remoção de poluentes. Biovaleta Fonte: PUB Singapore’s National Water Agency

- Biovaletas: são semelhantes aos jardins de chuva mas funcionam em forma de canal, retardando a chegada das águas ao seu ponto mais baixo e também FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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permitindo que parte da mesma infiltre no solo durante seu percurso. - Escadas verdes: são uma versão dos canteiros pluviais só que trabalhados nos escadões e vielas entre quadras. Permitem com que a água infiltre no solo e diminuem a velocidade das enxurradas, contribuindo também para purificação das águas. Wetlands Fonte: PUB Singapore’s National Water Agency - Lagoas pluviais: são reservatórios que abrigam as águas

das chuvas nos períodos de cheia, devolvendo parte da mesma ao sistema de captação de águas pluviais mas mantendo parte da água como reservatório permanente que pode ser utilizado para funções paisagísticas e de esportes e lazer. - Canais naturalizados: tratam da recomposição de cursos d’água canalizados que são transformados e renaturalizados, tendo suas margens recompostas e voltando a correr a céu aberto.

a. camada impermeabilizante; b. camada drenante; c. camada filtrante; d. membrana de proteção contra raízes; e. solo e vegetação.

- Wetlands: são as áreas rasas e vegetadas nas bordas dos cursos d’água que funcionam como berçário de espécies vegetais e animais. Apresentam importante papel filtrante das águas de escoamento antes que as mesmas atinjam os cursos d’água e tem lugar de destaque no processo de recomposição da biodiversidade.

Telhado Verde Fonte: Revista Infraestrutura Urbana

Telhados verdes: são coberturas verdes sobre construções e podem variar em sua composição, trabalhando com elementos simples como placas prontas estilo ecotelhado à jardins mais complexos com maior quantidade de terra e vegetação de maior porte. Podem também ser utilizados para composição de hortas urbanas.

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- Corredores verdes: são os caminhos verdes, vegetados, que na ecologia da paisagem funcionam como elo de ligação entre as manchas verdes urbanas criando condições favoráveis ao equilíbrio ecológico dessas áreas. Podem variar desde ruas extensamente arborizadas e canteiros de avenidas à caminhos lineares nas bordas de rios e estradas. - Agricultura urbana: abrange todo tipo de produção de alimentos vegetais, como hortas e pomares, desenvolvidos em pequena e média escala no contexto urbano. Podem ser implantados nos quintais particulares, sobre lajes de edifícios e em áreas públicas trazendo variedade Agricultura urbana de uso de solo e incentivando o desenvolvimento da Fonte: www.terreform.info atividade comunitária. A produção dessas hortas pode Acesso: 11 dez 2015 ser também comercializada em feiras organizadas pela comunidade. - Floresta urbana e manchas verdes: são áreas densamente vegetadas ou fragmentos de floresta situados na mancha urbana que funcionam como refúgio de fauna. São muito importantes para a manutenção do equilíbrio da ecologia urbana e para a qualidade do ar e diminuição da ilha de calor. - Pisos permeáveis: são pavimentos que permitem e penetração da água através de sua superfície. Contribuem com o processo de infiltração de águas no solo, consequente recarga das águas subterrâneas e ajudam a prevenir enchentes. Agricultura urbana Fonte: www.terreform.info Acesso: 11 dez 2015

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2.4

OBJETIVOS PRETENDIDOS COM APLICAÇÃO DA IEV Como visto no item 2.3, infraestrutura verde trata de uma rede de elementos e intervenções que fornecem serviços ecossistêmicos e benefícios sociais, culturais e econômicos à população. O foco da implantação de um sistema de infraestrutura verde é criar intervenções que funcionem em forma de sistema, visando o equilíbrio ecológico do mesmo, onde seus elementos forneçam serviços e benefícios múltiplos e que contribuam no processo de desenvolvimento sustentável e resiliência urbana da área tratada e entorno. Os ganhos obtidos com a implantação desse tipo de intervenção são inúmeros e os objetivos diretos que se pretende atingir são a criação de espaços de lazer e convívio comunitário com o incentivo ao uso multifuncional das áreas livres, a melhoria da acessibilidade geral através da criação de novas vias peatonais, de veículos e ciclovias, a melhoria da qualidade e umidade relativa do ar através da implantação de vegetação e abertura e tratamento dos cursos d’água, diminuição da ilha de calor, preservação das áreas verdes, aumento da biodiversidade, melhoria das condições de drenagem

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urbana para posterior revitalização da área do piscinão Cedrolândia, recuperação da qualidade das águas e margens dos cursos d’água e incentivo à utilização de fontes alternativas de captação de energia. Além dos objetivos citados acima, esse plano de intervenção visa, como colocado no item 2.1, propiciar a reconexão do homem com a natureza da cidade. Não apenas a natureza presente na cidade e sim a natureza da cidade, aquela que já se relaciona com o urbano e se desenvolve junto a ele, adaptada ao mesmo. Prevê uma mudança de percepção dos elementos naturais da cidade e sua valorização como elementos culturais formadores da paisagem urbana. Propõe também esclarecer e clarificar o forte elo existente entre os processos naturais e os interesses humanos. (HOUGH, 1995). Para reestabelecer essa conexão é necessário medir de que forma sua ausência impactou a vida do homem, sua percepção psico-fisiológica do ambiente urbano, seus impactos comportamentais e culturais que influenciaram diretamente em sua qualidade de vida. (FORATTINI, 1991). A qualidade de vida pode ser medida e se baseia em indicadores sociais, sanitários, urbanos, habitacionais e ambientais, estando dentro dessa última categoria questões como qualidade da água, do ar e do solo. (PAPAGEORGIU, 1976). Dessa forma, fica claro que, somados, os objetivos dessa proposta de intervenção através da implantação de um sistema de infraestrutura verde para a bacia do córrego Pires, traduzem-se em uma mudança positiva na qualidade ambiental e urbana das áreas de intervenção e consequente melhoria na qualidade de vida de seus moradores. FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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PLANO GERAL PARA A BACIA DO PIRES

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3.1

DIRETRIZES GERAIS E ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO Como objeto de estudo inicial o presente trabalho considerou toda a bacia hidrográfica do córrego Pires onde analisou-se tanto os aspectos naturais como a ocupação existente no território. Com o intuito de elaborar um diagnóstico da região, além da análise dos dados disponibilizados na literatura, foram feitas duas visitas a campo que se pautaram pela observação dos seguintes critérios: - áreas de alto valor de conservação: áreas que já apresentam certa densidade e diversidade de espécies ou que apresentam alto potencial para seu incremento;

LEGENDA FAVELAS ÁREAS VERDES VIAS COLETORAS VIAS ARTERIAIS CÓRREGO / LIMITES SUB-BACIA EQUIPAMENTOS PÚBLICOS

Bacia do Pires: Diagnóstico inicial Elaboração: autoras

- áreas de pressão: áreas com baixo índice de densidade e diversidade de espécies, mas que oferecem oportunidade de transformação por estarem situadas entre áreas de alto valor de conservação e por possuírem áreas não edificadas; - áreas de assentamentos subnormais: áreas de baixo índice de densidade e diversidade de espécies e que

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impactam negativamente no entorno (e.g., lançamento de esgotos diretamente nos corpos d’água); - áreas urbanas frágeis: áreas íngremes que apresentam solo descoberto e sujeito a erosão e áreas sujeitas a assoreamento dos corpos hídricos. Além destes critérios observou-se ainda a relação entre os vazios urbanos e seu entorno edificado, a relação da população local com as áreas verdes e a dinâmica de desenvolvimento da região. Este diagnóstico inicial permitiu que fosse identificada a situação atual e se vislumbrasse a situação desejada para a região, conforme quadro abaixo.

Acervo próprio

Imagem ilustrativa

Bacia do Pires: Cenário atual x Cenário pretendido Elaboração: autoras

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T1

CURTO PRAZO: - Ciclovias; - Jardins de chuva e biovaletas; - Programa de Educação Ambiental nas escolas e instituições comunitárias.

Conforme exposto anteriormente, a Vila Sônia está passando por intensas transformações, tanto com a construção de novos empreendimentos imobiliários quanto de intervenções em escala urbana[3] (e. g., ampliação da linha amarela do Metrô e outras obras referentes à OUC Vila Sônia). Com o intuito de que tais transformações incorporassem os processos naturais e dessa forma colaborassem com a construção de uma cidade mais resiliente, elencou-se as possíveis intervenções em uma escala temporal[4] que levasse em conta a consolidação das iniciativas propostas. As principais diretrizes estabelecida foram:

T2

MÉDIO PRAZO:

T3

LONGO PRAZO:

- Criação de novas áreas verdes e de lazer; - Implantação de hortas urbanas; - Renaturalização dos cursos d’água; - Incentivo a criação de fachada ativa por parte dos condomínios com grandes extensões de muro.

- Criação de conexões verdes externas à Bacia do Pires; - Implantação da “Praça do Piscinão”; - Reurbanização da favela Vila da Praia.

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- incremento da vegetação no entorno das nascentes e criação de parques urbanos. Estabeleceu-se que as áreas de nascente que ainda não tenham sido edificadas devem fazer parte de um sistema de áreas verdes que objetiva a conservação dos recursos hídricos e manutenção da biodiversidade local. A vegetação, entre tantas outras funções que a mesma possui, é responsável por estabilizar o solo impedindo a erosão e o assoreamento dos corpos d’água. Dessa forma, propõe-se a criação de um parque urbano de pequeno porte entre as ruas Dr. Luiz Migliano, José da Silva Ribeiro e João Simões de Souza, região que abriga quatro nascentes que contribuem para a formação do córrego estudado. - implantação de biovaletas e jardins de chuva. Como medida mitigadora dos resultados dos processos de urbanização e impermeabilização excessiva do solo, adotou-se um sistema de jardins de chuva e biovaletas a ser implantado em toda a bacia hidrográfica do Pires. O plano de implementação destes elementos de

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Gráfico esquemático das alterações nos hidrogramas de vasão decorrentes do processo de urbanização Elaboração: autoras

Infraestrutura Verde considera o sistema de águas urbanas como um todo, auxiliando no manejo eficaz e adequado das águas desde o início do evento da precipitação, minimizando e até eliminando as ocorrências de alagamentos e inundações a jusante do córrego. - requalificação dos cursos d’água. A busca pela melhoria hidromorfológica visa não apenas auxiliar o controle de inundações mas, principalmente, oferecer à população do entorno ambientes mais naturais e saudáveis. Para tento parte-se de uma abordagem ecossistêmica que se soma aos dois critérios anteriores e considera o território total da bacia como objeto de requalificação para que se possa alcançar o objetivo principal perseguido por este estudo. - requalificação do piscinão. A montante de onde o Pires deságua no córrego Pirajuçara pode-se encontrar o piscinão Cedrolândia, circundado pela rodovia Régis Bittencourt/ avenida Prof. Francisco Morato. A região além de ser altamente impermeabilizada e hostil ao pedestre, sofre com frequentes FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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inundações. Considerando as intervenções proposta para toda a bacia do Pires, conclui-se que esta área poderia voltar a ser um espaço verde e abrigar uma wetland, uma vez que o volume de água escoado diretamente para a região diminuiria consideravelmente. O ganho viria não apenas em proporcionar um ambiente mais humanizado favorecendo o pedestre, mas também em demonstrar que existem outras soluções possíveis, mais afinadas com a visão ambiental e que não acarretem em altos custos de manutenção e reconstrução. Exemplo de proposta de implantação de ciclovias Elaboração: Arq. César Barros (Recife Enxerido)

Exemplo de proposta de fachada ativa Elaboração: PMSP Concurso Ensaios Urbanos

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- ampliação das ciclovias. A intenção ao incluir este critério foi promover a construção de rotas mais humanizadas, que incentivassem o uso de bicicleta em detrimento dos veículos motorizados, contribuindo assim, com a redução das emissões de CO2. Ao minimizar o impacto dos transportes sobre o meio ambiente tem-se ainda o ganho em saúde pública e bem estar da população que vive nas proximidades, além de incorporar o cenário pretendido ao cotidiano das pessoas de forma efetiva. - incentivo à fachada ativa. Seguindo o conceito estabelecido no item anterior, de promoção de espaços humanizados para ciclistas e pedestres, verificou-se a necessidade de modificação da ambiência dos longos trajetos adjacentes aos muros dos condomínios presentes na região. Esse tipo morfologia não incentiva o percurso a pé, tanto pela falta de atrativos como por questões de segurança. Propõem-se dessa forma, a criação de incentivos fiscais para aqueles empreendimentos que optem pela retirada destes muros. Uma possibilidade é a criação de pequenos comércios e praças de bolso em parceria público-privado.

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- implantação de habitação social “verde”. O trecho onde o córrego se encontra canalizado se inicia sob a favela Vila Praia, entre as ruas Máximino Maciel e Dr. Luiz Migliano. A região encontrase em cotas mais baixas (755 a 759, enquanto as nascentes estão situadas em áreas de aclive acentuado, entre as cotas 775 e 785) e não está ligada a rede de esgotos, sendo os dejetos lançados diretamente no córrego. Em visita a campo verificou-se o potencial desta área abrigar uma pequena bacia de detenção que além das funções hidrológicas pudesse oferecer um espaço de lazer e contemplação à população local. Para tanto se faz necessário a remoção das casas localizadas sobre o córrego e em seu entorno imediato, sem no entanto que a população seja expulsa. Propõem-se a criação de um pequeno conjunto habitacional de três pavimentos sobre pilotis dotado de parede e teto verdes, cisterna para captação de águas pluviais e biodigestores para tratamento de dejetos residenciais.

Diretrizes gerais para a bacia do córrego Pires Elaboração: autoras

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3.2

PROPOSTAS

1. PARQUE DAS NASCENTES 2. HABITAÇÃO SOCIAL “VERDE” 3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL 4. RUAS COMPARTILHADAS 5. PARQUE “WETLAND”

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ÁREAS DE AMORTECIMENTO Áreas densamente urbanizadas, situadas às margens de córregos, rios e riachos, sofrem com a deposição de resíduos (como partículas de solo, fertilizantes, produtos químicos, óleo, metais e lixo) trazidos pela água das chuvas em seus cursos d’água, gerando erosão de suas encostas, poluição das águas e sedimentação desses materiais no fundo dos leitos dos rios, o que transforma drasticamente suas características biológicas e naturais.

Zona de Proteção Primária Zona de Proteção Secundária Bacia do córrego Pires.

Áreas de Amortecimento Elaboração: Autoras

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As áreas de amortecimento ou buffer zones são áreas adjacentes à intervenção direta ao córrego que funcionam como área de amortecimentos de impacto ao mesmo, criando zonas intermediárias entre o natural e o urbano com regras de ocupação e uso definidas que visam a não perturbação do equilíbrio ecológico nas áreas de proteção dos cursos d’água e a minimização dos impactos negativos sobre as mesmas, contribuindo também para o desenvolvimento sustentável da região. Essa faixa de proteção será dividida em duas: a primeira, chamada de Zona de Proteção Primária, visa recompor as áreas de proteção legais estabelecidas por lei pelo Código Florestal (Lei no. 12.651, de 25 de Maio de 2012) que estabelece 50 metros no entorno de nascentes e 30 metros ao logo dos cursos d’água de menos de 10 metros de largura. A segunda, denominada Zona de Proteção Secundária, terá extensão variando de 100 a 300 metros ao redor das áreas centrais de conservação, que serão delimitadas pelo perímetro de implantação dos parques e corredores verdes ao longo do córrego, conforme figura ao lado.

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A Zona de Proteção Primária constitui as áreas de proteção ambiental imediatas e lindeiras aos cursos d’água e que deveriam ser livres de qualquer urbanização já que são fundamentais ao equilíbrio ecológico e ao processo de funcionamento dos elementos naturais. Nas áreas livres e possíveis de implantação serão criados parques e corredores verdes que resguardem as características naturais dessas paisagens. As áreas que se encontram ocupadas passarão por análise criteriosa que determine sua viabilidade de remoção. Onde essa remoção não for possível e nas áreas de vias de circulação já implantadas serão aplicadas medidas compensatórias que visam a recomposição de parte das condições naturais locais como a permeabilização do solo e implantação extensiva de vegetação nativa. A Zona de Proteção Secundária constitui de fato a zona de amortecimento de impactos e terá como diretriz a implantação de elementos que contribuam com o aumento da biodiversidade, como a intensificação da arborização urbana; manejo das águas pluviais e enchentes como a ampliação da permeabilidade do solo e microdrenagem, implantação de jardins de chuva e biovaletas, incentivo à utilização de telhados verdes, implantação de lagoas de detenção e tratamento de águas pluviais nas praças e canteiros existentes; implantação de zoneamento ambiental que limite as taxas de ocupação do solo e coeficiente de aproveitamento, bem como incentive usos culturais e de comércio local de baixo impacto ao longo do sistemas de espaços verdes para incentivar o uso do mesmo pela população. Essa zona também prevê a caracterização desses espaços como zonas de transição entre o natural e o FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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urbano. Seguindo o conceito de “parque design” utilizado por Frederick Law Olmsted na implantação do projeto de Riverside em Chicago (NEWTON, 1970), essas áreas de transição estão inseridas na malha urbana da cidade mas apresentam fortes características naturais criando áreas mistas de moradia e lazer e no caso da proposta para o córrego Pires, também permitindo uso cultural e de comércio local. Como sugerido pelo Paisagista seriam áreas onde: “na concepção de suas vias, de linhas curvas graciosas, com espaços generosos, integrando lazer, contemplação, tranquilidade e felicidade”. (OLMSTED; VAUX, 1868 apud NEWTON, 1970).

Plano Geral para Riverside. Olmsted e Vaux Fonte: www.riverside.il.us Acesso: 12 Dez 2015

Considerando as intervenções proposta para toda a bacia do Pires, conclui-se que esta área poderia voltar a ser um espaço verde e abrigar uma wetland, uma vez que o volume de água escoado diretamente para a região diminuiria consideravelmente. O ganho viria não apenas em proporcionar um ambiente mais humanizado favorecendo o pedestre, mas também em demonstrar que existem outras soluções possíveis, mais afinadas com a visão ambiental e que não acarretem em altos custos de manutenção e reconstrução. ÁREA 1 - PARQUE DAS NASCENTES

Riverside - Fotografia antiga Fonte: www.olmstedsociety.org Acesso: 12 Dez 2015

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A primeira área de intervenção se situa em uma região que apresenta forte processo de verticalização e adensamento construtivo e que abriga 4 das 9 nascentes que contribuem diretamente para a formação do córrego Pires. Classificada como Macroárea de Urbanização Consolidada na legislação municipal, seu entorno é ocupado por população de renda alta e média alta, cujo deslocamento acontece predominantemente por

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veículo motorizado particular, sobrecarregando a estrutura viária existente. Essa característica somada às barreiras naturais existentes (a configuração do viário, a topografia e o próprio córrego, marginalizado no processo de ocupação) criam um ambiente desconfortável ao pedestre e em consequência afasta ainda mais a população da paisagem circundante.

Estudo hipsométrico da região do Parque das Nascentes Elaboração: autoras

ÁREA 2

ÁREA 1

Mapa de uso e ocupação Fonte: PMSP Renova São Paulo

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Observa-se que os vazios urbanos que estão entrando em processo de ocupação atualmente situam-se em áreas de forte declividade, como o caso da área escolhida, que está situada entre as cotas 770 e 790 e possui trechos onde a inclinação passa dos 45%. Diante da problemática que esta região apresenta, a proposta objetiva predominantemente preservar as nascentes e as áreas de declividade acentuada, criando uma pequena floresta urbana no miolo da gleba. A área de intervenção extrapola os limites exigidos para a preservação dos cursos d’água e nascentes, 30 e 50m respectivamente, como pode ser observado na imagem localizada na página 22. O intuito ao ampliar a área do parque foi promover o acesso e a fruição e, dessa forma, garantir seu uso também como rota de pedestres. Um estudo mais aprofundado se faz necessário, para que se possa verificar a viabilidade da remoção de algumas construções ou até mesmo verificar a possibilidade de permuta de área ou contrapartida fiscal. Neste primeiro momento, de exercício investigativo sobre as possibilidades projetuais da aplicação dos elementos de IEV, tais alterações serão consideradas viáveis. Para que as pessoas possam transitar pela região, propõe-se a criação de passarelas elevadas, conectadas

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VERDE PROPOSTA – FLORESTA URBANA ÁREA PROTEÇÃO DE NASCENTES MIRANTE | CIRCULAÇÃO BACIA DE RETENÇÃO A SER CRIADA EQUIPAMENTOS PASSARELA HABITAÇÃO SOCIAL – RELOCAÇÃO MORADORES FAVELA

ÁREA 2

CÓRREGO ABERTO CÓRREGO CANALIZADO ÁREA DE INTERVENÇÃO ACESSOS DIRETOS ACESSOS INDIRETOS

a pequenas praças mirantes e a equipamentos culturais e de educação ambiental. Ao longo dos caminhos, a intervalos regulares, o visitante/usuário encontra uma estrutura adjacente onde poderá desenvolver o cultivo tanto de horta quanto de mudas para o manejo do parque. Essa estrutura, formada por um sistema aramado e aqui denominada “nuvem”, juntamente com o sistema de passarelas objetivam aproximar a população e a natureza circundante, de forma a imbuir o valor “natureza” no cotidiano da população local. Potencialidades identificadas na área 1: • conexão com o viário adjacente; • incentivo à permeabilidade entre edifícios; • aumento da biodiversidade; • paisagem produtiva; • conexão entre áreas verdes-convivência-lazer; • floresta urbana; • sequestro de carbono; • proteção do aclive. ÁREA 2 - HABITAÇÃO SOCIAL “VERDE”

ÁREA 1

Diretrizes Gerais para o Parque das Nascentes e para a área destinada a Habitação Social “Verde” Elaboração: autoras

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A Favela Vila Praia, situada em área adjacente ao Parque das Nascente, possui 330 domicílios, sendo que 250 ainda não foram urbanizados.[4] Em visita a campo identificou-se que parte das casas da favela foi construída sobre as estruturas da canalização do córrego Pires (como pode ser verificado na foto da página 27). Esse ponto marca o início da canalização que chega até a rua Prof. José Horácio M. Teixeira, onde volta a ser aberto e nota-se que as águas já estão poluídas, provavelmente por ligações clandestinas de esgoto. A área da favela ainda não urbanizada corresponde a apenas 7.424 m2, no entanto propõe-se

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que, em uma etapa posterior, a intervenção ocorra também na parte urbanizada, totalizando 40 mil m2.

Ocupação sobre o córrego canalizado Fonte: acervo próprio

Diretrizes para a Área 2 Elaboração: autoras

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A diretriz principal para esta localidade é a remoção dos domicílios que estejam invadindo a área de proteção do córrego e dos domicílios do seu entorno imediato, de forma a liberar o solo para a criação de um pequeno wetland com decks de aproximação e trapiches de transposição. Essa área se mostra propícia a esse tipo de intervenção pois apresenta pouca declividade (média de 3,5%). A população seria relocada em habitações coletivas, formadas por edifícios de três pavimentos sobre pilotis. Estes edifícios contariam ainda com teto e paredes verdes, cisterna para captação de águas pluviais e biodigestores para tratamento de dejetos residenciais. O térreo liberado abriga caminhos em pavimento drenante, espaço para horta e grandes jardins. Em uma ampliação da proposta poderia ser discutido a questão da mobilidade, com a implantação de estações de bicicleta e iRoads (aluguel de motos elétricas) e conexão destes com os modais de grande porte (metrô e BRTs), vinculando as questões ambientais ao planejamento urbano e vice-e-versa. Como a proposta prima pela não expulsão da população, entende-se ser necessário traçar alternativas que garantam a permanência da mesma na região. A solução encontrada foi vincular as propostas para a área 1 e 2, por sua proximidade, criando oportunidades de emprego nos equipamentos a serem implantados no parque e ao próprio uso do mesmo (como o caso das hortas e viveiros). O intuito também é levar informação a esta população de forma que ela própria agregue o valor do meio ambiente em seu dia-a-dia e passe a reivindicá-lo como direito.

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Potencialidades identificadas na área 2: • renaturalização do córrego; • criação de área verde qualificada; • integração habitação social x áreas verdes; • conexão entre áreas verdes-convivência-lazer; • eficiência energética; • centro de reciclagem. ÁREA 3 - EDUCAÇÃO AMBIENTAL Diretrizes para a Área 3 Elaboração: autoras

A área denominada como Educação Ambiental abrange trecho ao longo de braço do córrego Pires que corre entre as Ruas Francisco Marcondes Vieira e Prof. José Horácio Meireles Teixeira. O córrego tem uma nascente localizada na Praça Vila de Sintra, que se encontra preservada e outra entre os lotes edificados das ruas citadas acima. Corre canalizado atrás do novo colégio Guilherme Dumont Vilares, passando pela Praça Douro e deságua no leito do Pires no início da Rua Olímpio Rodrigues da Silva. Como mostra a imagem ao lado, a proposta para essa área se baseia na renaturalização do braço do córrego que passa entre os lotes e por trás da escola e a criação de um pequeno sistema verde que o interligue às áreas verdes adjacentes, como a Praça Douro e o terreno livre junto à Rua Olímpio Rodrigues da Silva, criando áreas onde possam ser implantados pequenos comércios e equipamentos que atraiam e mantenham o pedestre no local. O curso d’água terá suas margens trabalhadas com vegetação ripária, alargamento do leito na área da Praça Douro, com wetlands e pequena lagoa de detenção. O trecho final do percurso, que passa em área estreita entre o Carrefour e o centro comercial, será tratada como biovaleta, devido à sua

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inclinação acentuada, com seu trecho final canalizado sob a Av. Dr. Guilherme Dumont Vilares. O colégio que dá fundos para o córrego (hoje canalizado) já utiliza a área para plantio de hortas e árvores frutíferas. Com isso, pretende-se criar um programa de educação ambiental para as crianças, pais e comunidade que mostre à população todas as vantagens que viver em harmonia com a natureza e a preservação dos recursos naturais pode trazer para o bairro e para a vida das pessoas.

Ocupação das margens do córrego na rua Olímpio R. da Silva Fonte: acervo próprio

Potencialidades identificadas na área 3: • renaturalização do córrego; • criação de hortas urbanas • criação de área verde qualificada; • conexão entre áreas verdes-convivência-lazer ÁREA 4 - RUAS COMPARTILHADAS

Diretrizes para a Área 4 Elaboração: autoras

As Ruas José Luna e Olímpio Rodrigues da Silva configuram situação comum na cidade de São Paulo que é o caso das ruas que ladeiam córregos ainda abertos que não possuem margens de preservação adequada. No caso da primeira, o córrego encontrase ladeado por duas ruas locais tomadas por lotes residenciais unifamiliares e pequenas oficinas. Já no caso da segunda, uma de suas margens foi tomada pelos edifícios construídos ao longo do seu leito, que encontra-se murado de um lado, do outro lado da margem encontra-se rua local muito usada como estacionamento de veículos. As diretrizes para essa área consistem em transformar essas ruas em vias de tráfego compartilhado que permitam a convivência pacífica entre veículos, bicicletas e

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pedestres, alargando a calçada em frente às residências, mantendo apenas uma faixa no leito carroçável, criando duas faixas de ciclovia e ampliando a margem do córrego, permitindo a inserção de espécies vegetais e remodelagem de suas bordas, evitando riscos de erosão das mesmas. As ruas compartilhadas surgiram na década de 1970 na Holanda com o conceito de Woonerf e tem sido muito utilizadas em projetos urbanos pois são mais humanas e organizam o fluxo de veículos e pedestres trazendo segurança aos mesmos. No contexto desse trabalho também trazem a intenção de criar conexão entre o pedestre e os elementos naturais através da criação de passeios arborizados ao longo do curso d’água. Potencialidades identificadas na área 4: • requalificação das margens do córrego; • criação de área verde qualificada; • conexão entre áreas verdes-convivência-lazer; • aproximação da população com os corpos d’água; • implantação de dispositivos de IEV • aumento da biodiversidade • implantação de ciclovia ÁREA 5 - PARQUE “WETLANDS” Esta grande área verde, localizada entre a Rua Dr. Luiz Migliano e Avenida Dr. Guilherme Dumont Vilares é cortada pelo leito do córrego e composta pela Praça Dr. Eryides Luz Angelini, que foi adotada e recebe cuidados e manutenção dos moradores do bairro e por terrenos particulares não utilizados, com alguma vegetação em estágio de recomposição. Da praça, o FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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curso do córrego segue pela R. José Luna e apresenta margens estreitas de ambos os lados. Parte da área de proteção do córrego encontra-se ocupada por construções irregulares e as demais construções do entorno são ocupadas por serviços e uso residencial.

Diretrizes para a Área 5 Elaboração: autoras

Apresenta diversas potencialidades urbanas e ecológicas e pode se tornar peça chave na recomposição da qualidade ambiental e urbana do bairro e da região configurando-se como mancha verde (DRAMSTAD; OLSON; FORMAN; 1996) de grande valor para a paisagem, contribuindo com o aumento da biodiversidade, aproximação entre moradores e natureza e podendo exercer importante papel no manejo das águas urbanas já que está muito próxima ao piscinão Cedrolân-dia e conta com área suficiente para criação de lagoas de detenção e tratamento de águas pluviais. Representa também papel importante na ligação entre os dois eixos de acesso ao bairro. (ver imagem ao lado) Potencialidades identificadas na área 5: • requalificação das margens do piscinão; • criação de área verde qualificada; • criação de wetlands e mirantes; • aproximação da população com os corpos d’água; • manejo das águas urbanas; • aumento da biodiversidade

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PROPOSTAS PONTUAIS

Para poder aprofundar as questões teóricas discutidas na disciplina “Estúdio de Infraestrutura Verde” os alunos se lançaram ao exercício projetual, redesenhando o espaço e investigando as possibilidades de aplicação dos elementos de IEV. Para esta apresentação, definiuse dois pontos para a ampliação da escala de trabalho e prosseguimento dos estudos até aqui apresentados. A escolha reflete a leitura feita do território escolhido e sua problemática. No entanto, essa discussão não está finalizada, é necessário a prática efetiva de tais ensinamentos pois apenas dessa forma teremos cidades mais resilientes e biofílicas. Que este trabalho seja apenas o começo de um novo olhar sobre a cidade. FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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4.1

ÁREA 1. PARQUE DAS NASCENTES

Vista da área do córrego ao lado do empreendimento da Cyrella Fonte: acervo próprio

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VERDE PROPOSTA – FLORESTA URBANA ÁREA PROTEÇÃO DE NASCENTES MIRANTE | CIRCULAÇÃO BACIA DE RETENÇÃO A SER CRIADA EQUIPAMENTOS PASSARELA HABITAÇÃO SOCIAL – RELOCAÇÃO MORADORES FAVELA

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CÓRREGO ABERTO CÓRREGO CANALIZADO ÁREA DE INTERVENÇÃO ACESSOS DIRETOS ACESSOS INDIRETOS

PARQUE DAS NASCENTES

HABITAÇÃO SOCIAL “VERDE”

Localização

LOCALIZAÇÃO QUNLI STORMWATER PARK TUREN SCAPE

Referência A

DIRETRIZES - PLANTA ESQUEMÁTICA

Implantação

1

Serpentine Gallery Pavilion 2013 Sou Fujimoto Referência B

2

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Forest Walk LOOK Architects

3

Referência C

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O Parque das Nascentes será implantado no interior de uma grande gleba limitada pelas ruas Dr. Luiz Migliano, rua José de Coimbra, rua João S. de Souza e rua José Arzão. Conforme descrito no item 3.2 essa área é formada por terrenos particulares e possui 4 das 9 nascentes que contribuem para a formação do córrego Pires. As principais diretrizes para esta área foram traçadas de modo a proteger os cursos d’água e as áreas de acentuada declividade, criando condições que favoreçam a recomposição do equilíbrio ecológico de toda a bacia. Conforme dito anteriormente, esta área está em processo de ocupação, com dois grandes empreendimentos sendo implementados nas cotas mais baixas e nas bordas da gleba. E apesar de respeitarem a legislação no que se refere a distância de corpos hídricos, a área restante será construída de acordo com os moldes tradicionais do mercado imobiliário, ou seja, sem considerar os processos sistêmicos ambientais daquele território. Frente ao impacto causado por tais empreendimentos, decidiu-se investigar a possibilidade de criação de um parque no interior dessa gleba que pudesse não apenas ser uma ação compensatória, mas que trouxesse à tona tais questões e, dessa forma, possibilitasse a discussão sobre os rumos do desenvolvimento urbano da região. Partindo dessa problemática, no intuito de amalgamar o planejamento ambiental ao planejamento urbano, optou-se por questionar a ocupação existente ampliando os limites do parque para as bordas da gleba proporcionando, assim, diferentes acessos de forma a facilita

a fruição pública e, consequentemente, o uso do equipamento. O parque se caracteriza como floresta urbana e tem como uma de suas premissas básicas o expressivo aumento da arborização existente. Para que além das funções ecológicas o parque também possa cumprir com sua função social e cultural, propõese a criação de percursos elevados, no nível das copas das árvores, conectados a pequenos espaços de contemplação e estar. Esses percursos garantiriam a circulação uma vez que conectariam as ruas que ladeiam o parque e que atualmente não oferecem nenhum tipo de transposição. Conforme mencionado no item 3.2, é necessário um estudo aprofundado para verificar a viabilidade de cada uma dessas conexões. Para este exercício considerou-se possíveis as conexões em pontos ainda não edificados e entre condomínios quando estes apresentam áreas comuns ajardinadas, sem grandes obstáculos físicos à execução da proposta. Considerou-se também a possibilidade de criação de incentivos fiscais, contrapartida e permuta de área. Esse sistema suspenso também conta com praçasmirantes com espaços de estar, observação de pássaros e equipamentos voltados à educação ambiental que também serviriam de apoio administrativo. Foram previstas quatro edificações, sendo três delas situadas no parque propriamente dito e uma na transição entre o parque e os limites na intervenção 2 deste trabalho (Habitação Social “Verde”). Os três primeiros equipamentos abrigariam um centro de estudos de Educação Ambiental, uma biblioteca e o apoio administrativo do parque. O último equipamento seria voltado à geração de renda oferecendo cursos de jardinagem,

reciclagem e outros temas correlatos e serviria como centro de apoio à população da Favela Vila Praia. O intuito ao criar este quarto equipamento foi levar as questões aqui discutidas para a população residente na favela de forma que ela própria agregue o valor ecológico em seu dia-a-dia e passe a reivindicá-lo como direito. Adjacente ao sistema de passarelas suspenso propõe-se a criação de hortas/viveiros verticais, em sistema aramado e acessível apenas das passarelas. Salpicadas ao longo de todo o trajeto, as “nuvens”, como apelidadas essas estruturas, permitem o contato entre os moradores locais e gera oportunidade de aprendizado a respeito do funcionamento dos fluxos naturais e sua importância para a cidade. Esse contato é de grande importância pois é através dele que se pode gerar aceitação e utilização dos elementos de IEV pelas comunidades locais. O parque conta ainda com mirantes de transposição e trilhas no solo. Os primeiros são estruturas que fazem a integração entre os diferentes níveis de passarelas e se elevam acima destas para que se possa ter uma visão panorâmica de todo o conjunto. O segundo contempla rota ao nível do chão e está ligada ao curso de Educação Ambiental, para a observação de espécies vegetais nativas e aprendizados referentes ao ciclo hidrológico do córrego. O acesso a essas trilhas se dá apenas através dos mirantes de transposição. Pretende-se com esse projeto contribuir para a melhoria da qualidade ambiental da bacia do córrego Pires, minimizando problemas como ilha de calor, inundações e alagamentos, e incentivando práticas sustentáveis que visem a construção de um novo olhar sobre a paisagem da cidade.


Detalhe A

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Detalhe A

Implantação

Detalhe A

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4.2

ÁREA 5. PARQUE “WETLAND”

Vista da área do córrego Fonte: acervo próprio

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INSTITUCIONAL USO PROP. ALIMENTAÇÃO PASSARELA CONVÍVIO VERDE EXISTENTE VERDE PROPOSTO CÓRREGO RENATURAL. CÓRREGO ABERTO CÓRREGO CANALIZADO 30m ÁREA PROTEÇÃO NOVA CICLOVIA NOVO ACESSO

Localização

Referência A

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Implantação

LOCALIZAÇÃO

1

Referência B

DIRETRIZES - PLANTA ESQUEMÁTICA

2

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3

Referência C

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O Parque das Wetlands será implantado em área verde parte ocupada pela Praça Dr. Eryides Luz Angelini e parte formada por terrenos particulares, conforme descrito no item 3.2. Assim como o Parque das Nascentes, visa resguardar as características naturais locais, proteger seu curso d’água e criar condições de recomposição do equilíbrio ecológico e processos sistêmicos ambientais da área e arredores. Também tem como objetivo criar espaços multifuncionais e diversos que permitam ao usuário desenvolver diversas atividades, desde compras de alimentos, aulas, esportes e plantio de hortaliças a atividades esportivas, de lazer, convívio comunitário e contemplação da paisagem. Outras propósitos são aumentar a arborização, melhorando assim a qualidade e umidades relativas do ar e também diminuindo o fenômeno da ilha de calor, melhoria da acessibilidade, melhoria das condições de drenagem urbana, recuperação das águas do córrego Pires e incentivo a utilização de fontes alternativas de geração de energia. Para melhorar as condições de acessibilidade local foram criadas novas passagens de veículos e pedestres entre os dois lados do córrego, que se apresenta como um limite na composição da malha urbana. Duas passagens de veículos foram criadas entre as Ruas José Luna e Tomaso Albione, recompondo fraturas da rede viária e melhorando a acessibilidade geral da região, que apresenta poucas ligações entre as vias que correm paralelas ao curso d’água. Pontes de pedestres foram implantadas na continuação das vias perpendiculares ao

córrego, permitindo maior facilidade de fruição pública. Na área interna ao parque, que conta com grande declive, foram criadas passarelas de pedestres que, através de elevadores, permitem ao pedestre cruzar a área do parque e acessar área interna do bairro com maior facilidade. A ciclovia existente na Rua Luiz Migliano foi transferida para dentro o parque garantindo maior qualidade à mesma e possibilitando o contato com as águas do córrego e suas margens ajardinadas. Quatro edifícios de apoio foram implantados no projeto com previsão de usos diversos e que funcionem como administração do espaço e ofereçam serviços de cunho ambiental que ajudem a caracterizar a identidade do espaço e também promover sua aceitação e utilização pela comunidade local. Nesses prédios são previstos espaços para aulas, encontros e palestras, restaurantes, lojas e outras atividades. São projetados de forma que se destaquem na paisagem mas sem conflitar com a mesma e compõem com as passarelas de madeira que os interligam um sistema de travessias e circulação acessível que também permite ao transeunte usufruir da beleza da paisagem por cima do nível da copa das árvores. Outro ponto de destaque do projeto é a aposta na agricultura urbana. Duas áreas de plantio são previstas próximas aos edifícios de apoio permitindo aos moradores participar coletivamente dessa atividade. Essas áreas contam com caixas de compostagem, pergolados com sombrite, pomares e áreas de descanso. Em direção à Av. Guilherme Dumont Vilares, grande porta de entrada ao bairro, será implantada arquibancada e escadas que vençam o desnível entre a área

das hortas e a avenida e bancas de flores e frutas serão acomodadas em uma das entradas do parque, convidando quem passa à sua frente a adentrá-lo. As áreas ao redor das hortas serão vastamente arborizadas visando a recomposição da floresta urbana. O leito do córrego Pires terá suas margens alargadas e nelas serão criadas wetlands e áreas de extravasamento de águas na época de cheias. As wetlands e margens serão tratadas com vegetação ripária e de características filtrantes e permitirão que os usuários cheguem até suas bordas, propiciando amplo contato com as águas tratadas do córrego, contato esse que será intensificado através da implantação de piscina natural de uso público, com sistema de tratamento natural e fitossanitário. O parque também terá áreas de playground, grandes pergolados com mobiliário de estar, áreas para pic-nic, passeios pela mata e bicicletários.


Detalhe A

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Detalhe A

Implantação

Detalhe A

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto aqui apresentado faz uma leitura da bacia hidrográfica do córrego Pires, afluente do córrego Pirajuçara e através do reconhecimento desse território, de suas condicionantes e potencialidades, exibe sua contextualização urbana e ambiental na localidade onde está inserido. Destaca a questão principal que motivou o desenvolvimento do projeto, o enfraquecimento da relação entre homem e natureza, a natureza da cidade e coloca o conceito de infraestrutura verde como solução para restituir essa relação, bem como para recompor o equilíbrio dos processos naturais no contexto urbano. Elenca intervenções para áreas públicas e privadas, suas etapas de implantação e propõe um plano de infraestrutura verde para toda a bacia estudada. O estudo mais atento da região nos revela suas inúmeras potencialidades e desperta um novo olhar, carregado de motivação, capaz de antecipar a criação de uma nova condição para a comunidade local, uma nova realidade onde o bem-estar e a qualidade de vida sejam elementos chaves e norteadores de propostas de intervenção urbana. Desvela a possibilidade de implantação de um sistema de áreas verdes integrado ao tecido urbano da Vila Sônia, melhorando sua condição ambiental, social e econômica, estabelecendo uma condição de equilíbrio sistêmico que potencializa as condições necessárias para o desenvolvimento sustentável do bairro, maximizando seu índice de resiliência urbana. A proposta idealiza a implantação de um projeto único e pioneiro na cidade de São Paulo que possa funcionar como projeto piloto para o desenvolvimento de um estudo mais amplo e integrado que permita sua adaptação e implantação em outras áreas da cidade, confirmando a tese de que os elementos de infraestrutura verde são potenciais indutores de qualificação ambiental e urbana. FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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NOTAS [1] Embora a grafia com ss não esteja incorreta, para este trabalho optou-se usar a grafia com ç que remete a origem etimológica do seu nome em Tupi: “peixe escamoso”. Manteve-se a grafia ss apenas em citações diretas onde a grafia do nome do córrego é feita com ss. [2] Para análise preliminar e posterior recorte, considerou-se apenas a parcela pertencente ao município de São Paulo. [3] As escalas de abordagem utilizadas durante o processo que resultou neste trabalho são aquelas definidas pelo experimento Selo Labverde. Maiores informações podem ser encontradas no site http://www.fau.usp.br/ depprojeto/labverde [4] Segundo Diagnóstico elaborado pelo escritório Bast Arquitetura e Urbanismo para a PMSP no âmbito do concurso Renova São Paulo, em 2012. [5] O projeto é previsto para ser implantação em FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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etapas, iniciando com as diretrizes mais simples e de rápida construção, que geram menos impacto nas dinâmicas cotidianas dos habitantes do bairro e permitindo a preparação das etapas subsequentes. São 03 as etapas estabelecidas para finalização da implantação do projeto: - etapa 01: implantação imediata/ curto prazo: alteração e implantação dos novos percursos da ciclovia, construção dos jardins de chuva e biovaletas e implantação dos programas de educação ambiental nas escolas centros comunitários do bairro. Essa etapa também prevê a implantação das diretrizes previstas para a zona de amortecimento de impactos de forma que a mesma já esteja implantada e “funcionando” quando da aplicação das diretrizes do eixo central do projeto. - etapa 02: médio prazo: implantação das novas áreas verdes de lazer e dos projetos previstos para as áreas 01: Parque das nascentes, área 03: Educação ambiental, área 04: Ruas compartilhadas e área 05: Parque das wetlands. Nessa etapa também está prevista a construção dos equipamentos comerciais e de serviço nas fachadas cegas dos edifícios com grandes extensões de muro criando novas fachadas ativas no bairro. - etapa 03: longo prazo: prevê a implantação do projeto para a área 02: Habitação social verde na favela Vila Praia, a implantação do parque do Piscinão Cedrolândia e a conexão com áreas verdes externas à bacia do córrego Pires.

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REFERÊNCIAS BENEDICT, Mark A.; MCMAHON, Edward T. Green Infrastructure: Linking Landscapes and Communities. Washington: Island Press, 2006. CITY OF PORTLAND. Gateway green street: master plan. Right of Way Stormwater Management in the Gateway Urban Renewal Area. 2008. Disponível em: www.portlandoregon.gov. Acesso: 11 dez 2015. CITY OF PORTLAND Oregan - Stormwater Solutions Handbook. Disponível em: www.portlandoregon.gov/ bes/article/129057. Acesso: 11 dez 15. CORMIER, Nathaniel S; PELLEGRINO, P. R. M. Infraestrutura verde: uma estratégia paisagística para a água urbana. Paisagem e Ambiente, v. 25, p. 127-142, 2008. DRAMSTAD, Wenche E.; OLSON, James D.; FORMAN, Richard T. T. Landscape Ecology Principles in Landscape Architecture and Land-Use Planning. Cambridge: Harvard University Graduate School of Design, Island FAUUSP | AUP 5859 Estúdio de Infraestrutura Verde

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