Modos de Ver a Escola

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Modos de ver a escola: a produção de subjectividades dentro de espaços educacionais. Catarina Martins, Inês Miguel, Catarina Almeida, Paulo Fernandes

"nós vivemos no espaço, nestes espaços, nestas cidades, nesta zona rural, nestes corredores, nestes parques. Tudo isto nos parece óbvio. Talvez deva mesmo ser óbvio. Mas não é óbvio, não apenas uma certeza. É real, obviamente, e como consequência grandemente racional”1 (Perec, 1999: 5).

Este paper é concebido pelos seus autores como um ensaio que surge a partir de um grupo de imagens mais abrangente do que o que aqui se reproduz. Nele, o texto não surge para ilustrar as imagens a partir das quais deriva, nem estas, no processo de serem capturadas, pretendem alguma vez justificar o que se diz. Muito pelo contrário, textos e imagens são aqui considerados como discursos: nunca as imagens adquirem o estatuto de prova da realidade, tampouco os textos são alguma vez encarados como legendas alargadas dessas imagens. Uns e outros são considerados acontecimentos e, por isso, quer na sua suposta origem, quer agora na escrita que se abre, não perdem o seu carácter objectual, aquele que determina a sua existência material. Há então que assinalar desde este início que o entendimento a que aqui se procede do discurso não vê nunca como possível desmascarar uma suposta pletora da linguagem por debaixo da qual se encontraria uma engrenagem capaz de explicar ponto por ponto os efeitos de poder que, quer o texto, quer o espaço, quer a imagem, operam sobre os sujeitos. Na inversa, consideramos que nada se esconde sobre o que é dito ou visto, e que o silêncio, a rarefacção, a prolixidade do discurso são modalidades a seu tempo diferentes mas que se aproximam em termos de operatividade nos processos de subjectivação. O que há que fazer, então, é aceder às regras de produção da racionalidade do discurso. Os quatro autores são professores, artistas e investigadores e assumem o desafio de escrever a múltiplas mãos a partir de um arquivo fotográfico que foram constituindo como o corpus de materialidade desta escrita. O acto da escrita é aqui tomado no sentido que lhe deram Deleuze e Guattari (2006) e por isso se imagina a si próprio longe do espaço da significação e bem perto do movimento de 'calcorrear' e de 'cartografar' mesmo aquilo que ainda se desconhece. Um dos grandes objectivos deste exercício é, então, o de indiferenciar a linha de separação entre teoria e prática, entre aquilo que habitualmente se designa por texto e essoutro local da prática que se dá por contexto. Os gestos da captura, da acumulação, da categorização e da ligação não são separáveis daquilo que, discursivamente, se designa por experiência, e muito menos da decisão da escrita. Neste sentido, propõe-se um mesclamento que abra outros espaços de acção através de uma crítica à racionalidade corrente. O exercício a que se procedeu pretendeu sempre ser, nas suas diversas modalidades, uma escrita em potência. Este posicionamento implicou um questionamento à familiaridade com que nos deparámos nos contextos 1

tradução do original


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